gazeta rural nº 232

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Mel Doce e Afrodisiaco www.gazetarural.com Director: José Luís Araújo | N.º 232 15 de Setembro de 2014 | Preço 2,00 Euros

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O sector do mel está em destaque na edição nº 232 da Gazeta Rural. Na edição de 15 de Setembro pode ainda ficar a par dos últimos eventos de cariz gastronómicos, a Festas das Vindimas, em Viseu, os vinhos do Picoou uma entrevista a Carlos Lucas, a propósito das novas instalações da Magnum Vinhos, em Oliveira do Conde. Pode ainda ficar a par do rescaldo da Agroglobal, da Vindouro ou da Feira do Vinho do Dão, em Nelas, assim como outras notícias que fizeram a actualidade. Tudo para ler na versão online ou importando a versão PDF em: www.gazetarural.com Boa leitura.

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Page 1: Gazeta Rural nº 232

MelDoce e Afrodisiaco

w w w . g a z e t a r u r a l . c o m Director: José Luís Araújo | N.º 23215 de Setembro de 2014 | Preço 2,00 Euros

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29º CONCURSO NACIONAL DE OVINOS SERRA DA ESTRELA

19 DE SETEMBRO - SEXTA-FEIRA

PAVILHÃO DE CONCURSOS

08:00 h – Apresentação dos animais no local do concurso

10:00 h – Julgamento dos animais

14:00 h - Exposição dos animais concorrentes

AUDITÓRIO SEMINÁRIOPDR 2020

10:00h – Sessão de AberturaDirectora Regional de Agricultura e Pescas do CentroEng. Leonel Amorim - DRAPCEng. Pinto Sousa - DRAPCEng. Pedro Magalhães - ANCOSE

20 DE SETEMBRO - SÁBADO

10:00 h – Publicação dos Resultados

11:00 h – Sessão de EncerramentoPresidente da Câmara Municipal de Oliveira de HospitalPresidente da ANCOSE

11:30 h – Entrega de prémios

12:30 h - Almoço Convívio

Sum

ário 04 Achigã de regresso às mesas de Vila de Rei

05 Festival Gastronómico “Quilómetro Zero” mostra produtos do concelho

06 Oleiros promove primeira Conferência do Pinhal

07 Expodemo exalta a maçã e mostra vinhos da região

08 Vinhos do Pico duplicaram de preço em cinco anos

10 “O Dão precisa fazer coisas que os outros não fa-zem”, diz Carlos Lucas

12 Festa das Vindimas dá a redescobrir o Dão em Viseu

27 Agroglobal “é uma feira extraordinária”, diz Assun-ção Cristas

29 Vindouro Festa Pombalina fideliza públicos na XII edição

30 Feira de Vinhos do Dão foi um sucesso

32 Agricultores guardam abóboras à espera de melhor preço

38 Sandra Santos é a nova coordenadora da AGIM 13 a 26 Especial Mel

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4 www.gazetarural.com

O Festival Gastronómico do Achigã está de volta a Vila de Rei no final do mês de Setembro. A oitava edição do evento, organizado pela Câmara de Vila de Rei, fará com que, de 27 de Setembro a 5 de Outu-bro, o concelho se volte a encher de sabores e aro-mas que fazem as delícias dos visitantes.

Os amantes deste prato tradicional poderão, assim, experimentar os melhores pratos de achigã nos cinco restaurantes aderentes: Albergaria D. Di-nis (Vila de Rei), Churrasqueira Central (Vila de Rei), O Cobra (Vila de Rei), O Eléctrico (Relva) e Paraíso do Zêzere (Zaboeira).

O presidente da Câmara de Vila de Rei, Ricardo Aires, afirma que “a qualidade dos nossos restau-rantes é anualmente comprovada pelos milhares de pessoas que os visitam, com especial incidência du-rante os Festivais Gastronómicos do Concelho. Com a realização desta oitava edição do Festival Gastro-nómico do Achigã esperamos voltar a colocar a nos-sa gastronomia em grande destaque e a divulgar a cozinha tradicional da zona centro do País”.

Os festivais “Super Gastronómicos” conhecem novo capítu-lo, agora em Bragança, até 21 de Setembro. Durante uma dezena de dias (começou a 12 de Setembro), “Carne na Praça” vai eno-brecer a qualidade das carnes transmontanas, proporcionando a harmonização com cervejas artesanais.

Pernil cozido, pezinhos de coentrada, rojões da barriga, ro-jões do redenho, fumeiro, prego de vitela em azeite no pão e cal-deirada de cordeiro, entre outras, são várias as propostas que

De 27 de Setembro a 5 de Outubro

Achigã de regresso às mesas de Vila de Rei

Com as carnes transmontanas em destaque até 21 de Setembro

Festival “Super Gastronómicos” estreou-se em Bragança

os restaurantes Emiclau e Copinhos vão confeccionar no festival, de segunda a sexta-feira, das 18 às 23 horas, sábado e domingo, das 12 às 24 horas, a preços entre os 3 e os 13€.

“Carne na Praça” será também uma oportunidade de con-firmar o potencial de harmonização gastronómica das novas cervejas artesanais Super Bock Selecção 1927, elaboradas a partir de ingredientes de primeira grandeza. A Munich Dunkel é particularmente recomendada para combinar com sabores mais intensos e carnes grelhadas, por se tratar de uma cerveja muito cremosa, com um aroma rico a malte, chocolate, frutos secos e um fumado ligeiro, elegante, com final médio, frutado e ligeira-mente tostado.

Justa Nobre e Rodrigo Meneses no palco de Bragança

Os visitantes do festival “Carne na Praça” terão também a possibilidade de contactar com nomes bem conhecidos do pa-norama gastronómico português, que assumem o desafio de re-criar o receituário transmontano.

Justa Nobre, transmontana dos quatro costados que faz su-cesso em restaurantes de Lisboa, regressa a casa para encer-rar com chave de ouro o festival, dia 21, pelas 13 horas. Rodrigo Meneses, também transmontano, apresentador do 24 Kitchen, recupera as raízes da região no dia 20, pelas 20 horas. Óscar Gonçalves e Luís Portugal abriram o certame.

Os festivais Super Gastronómicos são uma organização Su-per Bock e EV-Essência do Vinho. “Carne na Praça”, que conta com o apoio especial da Câmara de Bragança, encerra o Verão, seguindo-se, em Outubro, a terceira edição do festival Francesi-nha na Baixa, no Porto.

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Nos fins-de-semana de 19 e 21 e 26 e 28 de Setembro, em Belmonte

Festival Gastronómico “Quilómetro Zero” mostra produtos do concelho

Andam zero quilómetros para chegar à sua mesa. Falamos de produtos e alimentos produzidos no con-celho de Belmonte. Ali pode provar a comida dali. Nos restaurantes aderentes sabem quem cultivou as couves, criou o cabrito e colheu a uvas que fazem o vinho.

O Festival Gastronómico “Quilómetro Zero”, que se realiza nos fins-de-semana de 19 e 21 e 26 e 28 de Se-tembro, é uma iniciativa da Câmara de Belmonte que visa promover o que por lá se faz, como se faz e onde se podem apreciar as qualidades da tradição gastronómica local, nos dois últimos fins-de-semana de Setembro. Pretende-se, assim, “dar um forte contributo para a economia local dos produtores do concelho, e chamar a atenção para o po-tencial agrícola do concelho”, refere a autarquia.

Os visitantes vão comer os produtos cultivados e criados no concelho. Esse é o lema do Festival Gas-tronómico “Quilómetro Zero”. “Não viajam, não andam qualquer quilómetro, são daqui”.

Cerveja artesanal assume protago-nismo no Festival do Caneco

Entretanto, a cerveja artesanal vai estar em desta-que no I Festival do Caneco, que decorre em Belmonte de 25 a 27 de Setembro. “Este evento enquadra-se den-tro da promoção de Belmonte, a par de outros cartazes como a Feira Medieval e o Mercado ‘Kosher’, que decor-reu no início deste mês referiu o presidente da Câmara de Belmonte.

António Rocha adiantou que o Festival do Caneco está aberto à região e vai ser “muito focado” no públi-co jovem. “Queremos que as novas gerações não olhem para nós apenas como uma terra de museus, de história, mas sim como uma terra de animação, de qualidade de vida, de futuro”, sublinhou.

O I Festival do Caneco - Festival de Cerveja artesanal e arte urbana é uma iniciativa da autarquia local. “Prepa-rámos um mercado de produtos locais e os restaurantes vão ter ementas com esses mesmos produtos”, sublinha o autarca de Belmonte. “É o conceito ‘Quilómetro zero’, produtos que não andaram qualquer quilómetro para chegar à mesa. As ementas terão um logótipo a dizer ‘Aqui – Daqui’ e o restaurante pode dizer quem plantou as couves, criou o cabrito ou colheu as uvas daquele vi-nho”, explica António Rocha.

Nesta primeira edição, vão estar presentes cerca de 90 “barraquinhas” de cerveja artesanal de expositores de Portugal e de Espanha e, a par destas, existe também um programa de animação.

Artesanato, gastronomia, animação de rua, pintu-ras de portas, dança contemporânea, desfile de moda, teatro de rua e feira de velharias juntam-se, durante três dias, na zona envolvente ao castelo de Belmonte. O fes-tival conta ainda com um encontro de escritores, onde vai estar presente Afonso Cruz, com o livro “Jesus Cristo bebia cerveja” e Gabriel Magalhães, com o livro “Restau-rante Canibal”.

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A Agim vai organizar um curso de aplicação de produtos fitofar-macêuticos, em horário pós-laboral, a ter início a 20 de Outubro nas instalações do Edifício VougaPark, em Sever do Vouga. O curso, que terá a duração de 35 horas e irá decorrer nos dias úteis das 19 às 22,30 horas e aos sábados, destina-se a agricultores e a outros inte-ressados que apliquem ou venham a aplicar produtos fitofarmacêuti-cos, nomeadamente pessoas ligadas de qualquer forma à actividade agrícola, além de outros empregados, desempregados e reformados.

Este curso é homologado pela Direcção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) e tem como objectivo promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos agricultores ou outros aplicadores que uti-lizam produtos fitofarmacêuticos.

O curso irá permitir ao formando obter o cartão de aplicador, que irá ser obrigatório para a aquisição e aplicação destes produtos quí-micos, de acordo com a legislação em vigor.

Para além da obtenção de um certificado de qualificações, o curso de aplicação de produtos fitofarmacêuticos possibilita ainda a obtenção de um certificado profissional de Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos, emitido pela DRAP, com acesso ao cartão de apli-cador.

Para inscrições e mais informações, os interessados podem con-tactar a Agim, no Edifício VougaPark, em Paradela do Vouga, pelo te-lefone 234597020, telemóvel 914101946 ou e-mail [email protected].

No próximo dia 19 de Setembro realiza-se no Auditório da Casa da Cultura, em Oleiros, a primeira Conferência do Pinhal, uma organização da Câmara de Oleiros e do Jornal do Fundão, com o apoio dos Municípios de Pampilhosa da Serra, Proença-a-Nova, Sertã, Castanheira de Pêra e Pedrógão Grande.

Esta conferência será constituída por três painéis de debate. O primeiro, dedicado ao estímulo dado pelo Estado aos produtores florestais, contará com a participação de Amândio Torres, do Ins-tituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que fará a sua intervenção sobre a protecção de incêndios; de Ricardo Tor-res, director florestal do Grupo ORYZON Energias, que falará sobre a florestação e sequestro de carbono. A finalizar este painel, Jorge Paiva, do Departamento de Biologia da Universidade de Coimbra, abordará o tema ‘fomento e biodiversidade’. No segundo painel, Patrícia Coutim, gestora da ProDeR, abordará as perspectivas de apoio comunitário à floresta.

O terceiro painel é dedicado à valorização das potencialidades da floresta, onde serão abordadas a temáticas “a madeira como fonte de energia”, por Gonçalo Alves, assessor de várias empresas privadas do sector da madeira; a “valorização da madeira dos pe-quenos e grandes diâmetros”, por João Gonçalves, presidente do Centro Pinus e do Portucel Viana, e por último Octávio Ferreira, do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), aborda-rá o tema da resinagem.

Esta conferência, para além de grandes nomes ligados a este sector, terá ainda como moderadores convidados os presidentes da Câmara de Pampilhosa da Serra, José Brito Dias, e Proença-a--Nova, João Paulo Catarino.

O director do Gabinete de Planeamento e Politicas do Ministé-rio da Agricultura e do Mar, Eduardo Luís, encerrará a conferência.

A ter início a 20 de Outubro, em Sever do Vouga

AGIM realiza curso de aplicação de produtos fitofarmacêuticos

A 19 de Setembro no Auditório da Casa da Cultura,

Oleiros organiza primeira Conferência do Pinhal

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A primeira edição do Douro Wine Fest arranca dia 18, em Peso da Régua, com provas de vinhos, demonstrações culiná-rias e duelos de chefes que pretendem atrair visitantes e animar a região durante a festa das vindimas. O evento, similar ao que já se realiza há três anos no Porto, sobe este ano pela primeira vez o rio Douro e instala-se no cais da Régua para promover a gastronomia e o vinho, um produto considerado “estratégico” para a região norte.

Organizado pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal e a

O maior evento da região já mexe. De 19 a 21 de Setembro a Expodemo anima a vila de Moimenta da Beira. São três dias em grande com um programa que inclui concertos, exposições, provas de maçã e de vinho, teatro e ópera de rua, espectácu-los multimédia, graffiters a trabalharem ao vivo, estátuas vivas, tasquinhas com gastronomia regional, televisão, com seis horas em directo no domingo à tarde, entre muitas outras propostas imperdíveis.

O certame, que tem a maçã como símbolo, abre agora as portas a outra marca forte da região: os vinhos de excelência produzidos nas melhores quintas. Doze produtores das regiões Távora-Varosa, Dão e Douro participam numa prova de vinhos no âmbito da Expodemo.

São quatro produtores de cada região. A Távora-Varosa estará representada pela Cooperativa Agrícola do Távora (Moi-menta da Beira); Quinta das Cepas (Sernancelhe); Casa dos Vis-condes da Várzea (Lamego) e Quinta da Ceara (Armamar); a re-gião do Dão pela Quinta da Boavista-Terras de Tavares (Penalva do Castelo); Quinta do Perdigão (Viseu); Quinta da Fata (Nelas) e Pedra Cancela (Viseu); e o Douro pela Quinta do Infantado (Pi-nhão); Quinta da Carregosa (Tabuaço); Quinta do Filoco (Tabua-ço) e Casa do Brasão (Tabuaço).

As provas vão decorrer junto ao Auditório Municipal com a presença dos produtores em vários momentos. A iniciativa con-tará também com a colaboração dos alunos do curso de “Res-tauração” da Escola Profissional de Moimenta da Beira.

De 18 a 21 de Setembro, no cais da Régua

Douro Wine Fest promove vinhos e gastronomia

De 19 a 21 de Setembro, em Moimenta da Beira

Expodemo exalta a maçã e mostra vinhos da região

Câmara do Peso da Régua, o Douro Wine Fest prolonga-se até domingo, dia 21 de Setembro, numa altura em que, um pouco por toda a região, se realizam as vindimas, aquela que é con-siderada a “festa” da mais antiga região demarcada do mundo.

A organização disse que o evento pretende “atrair visitantes ao território”, tendo ainda como objectivo contribuir para “di-namizar a economia local e regional”. Durante estes dias, o cais da Régua vai acolher vários stands para expositores, salas de provas e degustação, áreas lounge, zona para ‘showcookings’ e ‘workshops’ comentados, espaço para os mais novos, entre ou-tras valências dedicadas às artes e à cultura em geral.

Para os quatro dias de festival estão previstas cerca de 50 acções. O programa do Douro Wine Fest aposta nas acções víni-cas e gastronómicas, com provas comentadas, demonstrações culinárias, aulas práticas e duelos de chefes, onde se fará a liga-ção das receitas aos vinhos do Douro,

Estão ainda programados duelos de chefes inesperados e enólogos improváveis, iniciativas em que figuras públicas ou personalidades conhecidas do grande público vão vestir o pa-pel de chefe de cozinha ou de enólogo. Estão também previstos concertos diários de grupos da região, festival folclórico e pas-sagens de modelos de estilistas e criadores nacionais.

A entrada é livre, mas para aceder às provas de vinhos nos expositores, às provas comentadas e às acções gastronómicas, o visitante terá de adquirir um ‘voucher’, que custa cinco euros e contempla um copo oficial, cinco senhas de provas e três aces-sos às acções vínicas ou gastronómicas.

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2014 será, provavelmente, o pior de sempre

Chuva condiciona produção de vinhos dos Açores

As vindimas nos Açores estão a de-correr este ano de forma “atípica” de-vido à chuva que tem caído, o que se irá reflectir na produção dos vinhos, segun-do o presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores (CVRA). “A vindima está a ser bastante atípica porque tem chovido imenso. Praticamente todos os dias chove, e as uvas brancas, que são as que estão a ser colhidas nesta altura, apresentam um estado sanitário bastante fraco, muita podridão, apesar de não es-tarem completamente maduras”, afirmou Paulo Machado.

Os Açores possuem actualmente três zonas demarcadas de vinho, designa-damente as ilhas do Pico e da Graciosa e a zona dos Biscoitos, na Terceira. Em 2003, o Governo Regional criou a Indica-ção Geográfica Protegida (IGP) - Açores, destinada aos vinhos brancos e tintos que satisfaçam determinados parâmetros de qualidade e que, em alternativa, poderão usar a menção “Vinho Regional Açores”.

Paulo Machado frisou que as condi-ções climatéricas “inviabilizarão o ano de grande qualidade que se chegou a pers-pectivar”, recordando que o ano passado foi “excepcional”, embora não na quanti-dade. “Este ano havia muito mais uva, mas com a diminuição do que se consegue co-lher em perfeitas condições sanitárias, vai haver uma quebra”, frisou. O presidente da CVRA acentuou que 2014 “será, pro-vavelmente, o pior de sempre em termos qualitativos”.

Paulo Machado referiu que este cená-rio vai condicionar a produção do vinho, uma vez que se as uvas não chegam com qualidade às adegas, não poderão adqui-rir a excelência do ano anterior.

A paisagem da vinha do Pico é patri-mónio da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), estando dis-poníveis apoios aos produtores para a sua reconversão e reestruturação. Na últi-ma década, a área de produção da vinha na ilha do Pico passou de 100 para 200 hectares e, até 2016, vão surgir mais 100 hectares.

A vinha do Pico produz vários vinhos, entre os quais o verdelho, que já foi ser-vido à mesa dos czares da Rússia. Desde 1460 que as vinhas de verdelho são plan-tadas em solo batido de rochas vulcâni-cas da ilha do Pico, conferindo ao vinho características especiais.

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Vinhos do Pico duplicaram de preço em cinco anos

Os vinhos do Pico, nos Açores, mais do que duplicaram de preço em cinco anos, nos mercados para onde são escoados, segundo afirmou o presidente da associa-ção empresarial da ilha. “Neste momento, a grande aposta são os vinhos brancos. Nos últimos cinco anos, mais do que du-plicamos o preço dos vinhos. Ou seja, uma garrafa de vinho saía do produtor a pou-co mais de três euros e, agora, atinge seis euros, e algumas até sete euros”, disse Daniel Rosa.

O dirigente da ACIIP exemplificou que foi desenvolvido, no ano passado, um tra-balho com o enólogo António Maçanita, da empresa Fita Preta Vinhos, que produ-ziu um vinho que está ser comercializado a 60 euros, por garrafa, em restaurantes europeus com estrelas Michelin.

O empresário explicou que o papel da Associação Comercial e Industrial da Ilha do Pico (ACIIP) tem vindo a desenvolver é de promoção dos vinhos da “ilha mon-tanha” dos Açores no mercado nacional, realizando mostras e associando-os à

gastronomia, através de uma parceria com a Escola de Formação Turística e Ho-teleira de Ponta Delgada.

Daniel Rosa frisou que o objectivo é a “valorização dos vinhos”, que são produ-zidos numa zona classificada há dez anos como património da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). “Estivemos em Lisboa, há bastante pou-co tempo, numa prova cega em que es-tiveram presentes dos melhores enólogos e críticos de vinhos do país, e os nossos produtos saíram-se muito bem”, revelou.

Por seu turno, o presidente da Co-missão Vitivinícola Regional dos Açores (CVRA) destacou que os vinhos do arqui-pélago, que possuem “qualidade em to-das as ilhas” em que são produzidos, têm vindo a registar uma procura crescente em termos comerciais.

O dirigente acentuou que a maior procura é dos vinhos do Pico, devido à ex-tensão da zona de vinha, o que se traduz em maior volume de produção. “Os vinhos dos Açores são cada vez mais procurados devido à sua tipicidade, singularidade e ao facto de sermos uma região muito espe-

cífica, com castas próprias, com condi-ções de solo e clima singulares”, afirmou Paulo Machado, que considerou haver um “despertar por parte do consumidor mais atento e exigente para produtos diferen-tes”, como é o caso dos vinhos açoria-nos. “Este despertar é nacional e mesmo internacional. Nos últimos tempos, têm passado por cá pessoas de outros países, ligadas ao sector, que têm apreciado os nossos vinhos”, declarou.

O presidente da CVRA referiu que os vinhos brancos são os que registam me-lhor saída em termos comerciais, sendo produzidos com castas tradicionais da re-gião, como o Verdelho, Arinto dos Açores e Terrantez do Pico.

Neste momento, existem 25 marcas de vinho nos Açores, distribuídas pelos tintos, brancos, rosé e licores. Actual-mente, os vinhos do Pico, e açorianos em geral, são exportados para o denominado “mercado da saudade” dos EUA e Canadá, alguns países europeus e Macau, além de serem vendidos nos mercados regional e nacional.

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A Magnum Vinhos inaugurou recente-mente a nova sede em Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal. As novas instalações vão concentrar a actividade da empresa no Dão e foi o motivo da con-versa com Carlos Lucas, um dos rostos da empresa. Com larga experiência no sec-tor do vinho e um profundo conhecedor do Dão, Carlos Lucas concentra as suas ideias nos seus projectos. “Fazemos vinho por aproximação às pessoas, porque gos-tamos das pessoas e dos vinhos”, naquilo que é a ideia-chave da Magnum. Mas Car-los Lucas diz também que “o vinho é uma corrida de endurance”. Quanto ao Dão, o enólogo e empresário diz que precisa “mais de acção” e de “fazer coisas que os outros não fazem”.

Gazeta Rural (Inaugurou recen-temente um novo edifício sede da empresa, em Oliveira do Conde?

Carlos Lucas (CL): O edifício nasceu da nossa necessidade de termos uma sede com dignidade. A Magnum é uma empre-sa criada em 13 de Setembro de 2011. Fez agora três anos. Fundámo-la com a inten-são de fazermos uma empresa em que as pessoas e o vinho estivessem interligados, numa relação muito próxima. Vinho por

Carlos Lucas, à Gazeta Rural

“O Dão precisa de fazer coisas que os outros não fazem”

aproximação, quase, falando assim. Hoje estava com um cliente às oito da manhã e estava a dizer-lhe que fazemos vinho por aproximação às pessoas, porque gosta-mos das pessoas e dos vinhos.

Esta empresa é fruto de uma liga-ção forte, também, entre as pessoas. Eu, a Lúcia Freitas e o Carlos Rodrigues, que somos os principais interlocutores e que decidimos associar-nos para podermos fazer aquilo de que gostamos e de uma maneira, de facto, prazerosa. É uma em-presa que se quer pequena, que se quer no mercado a fazer o seu trabalho e que não pretende, de maneira nenhuma, fazer nem comparações, nem atentar contra o tra-balho da viticultura e da enologia, porque o que pretendemos é, apenas e só, pôr as nossas ideias a funcionar e contribuir para que o Dão, Douro e o Alentejo sejam cada vez mais internacionais.

GR: Pelo que acabou de dizer, a aposta na internacionalização tem que ser feita marcando a diferença. Da aproximação das pessoas ao vi-nho?

CL: Sim. Neste momento, damo-nos ao luxo de escolher os nossos clientes, porque eles também nos conhecem. Por-

tanto, há uma escolha e é quase como um namoro. As pessoas e o vinho têm de ser quase como um namoro. Tem dias maus e bons, obviamente. Qualquer namoro tem arrufos, tem declarações de amor, mas nós e vinho, as pessoas que trabalham no vinho, temos exatamente isso também.

No final temos que fazer o balanço do que é a actividade, mas que tem de ser prazerosa, tem de ser de muito prazer e muito gosto.

Temos de pensar que vinhos há muitos produtores a fazê-lo, mas temos de pen-sar também que o vinho é uma corrida de endurance. Portanto, não é fácil, porque alguns são velocistas e gostam de correr muito. Temos de pensar que o mundo do vinho é para gente do vinho e que está no vinho para estar e não para ganhar dinheiro e sair. Isso faz toda a diferença. Os projectos são conhecidos por isso. As pessoas do vinho são conhecidas e res-peitam-se uns aos outros. Nós temos a sorte de ser do vinho, de ser respeitados e de fazermos também respeitar os outros. Portanto, cá estamos para essa corrida de endurance.

GR: Um conhecido enólogo do Dão (Manuel Vieira – nr) disse-me que os vinhos querem tempo. As empresas do vinho também querem tempo?

CL: As empresas do vinho querem tempo e pessoas. Não é só tempo. O tem-po não faz nada. O tal velocista arranja um patrocinador , que vai deixando viver o corredor, mas se ele não tiver qualidade, não tiver jeito, vai ser sempre mais um e nunca vai passar daí. Não é o tempo que lhe vai trazer qualidade. Temos que ter essa capacidade, conhecimento e exper-tise para que as coisas aconteçam.

GR: Como olha hoje para a região e para os vinhos do Dão?

CL: Olho para o Dão com uma imagem de que está a fazer alguma coisa que o torna diferente. Mas, por outro lado, acho que o Dão precisa de deixar aparecer, cada vez mais, a diferença e esta, muitas vezes, é feita por pessoas que têm ideias.

Na Magum, em termos de equipa, sempre colocamos coisas novas no mer-cado, sempre fizemos coisas novas. Umas funcionaram, outras não, mas fomos fa-zendo coisas novas. Olho para o Dão e vejo alguns produtores que começaram muito bem e que fazem algumas coisas

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novas, mas vejo outros que começaram e que já estão só por ali, que já não fazem mais nada.

Acho que o Dão precisa ou que venha gente de fora ou que deixem os que estão dentro fazer coisas novas. Às vezes bate-mos nalgumas barreiras, que é, de facto, aquilo que melhor fazemos, que é a mes-quinhice. Muitas vezes criticamos e inibi-mos alguma coisa que podia ser, no futuro, uma modernice.

E eu lembro-me sempre do espuman-te, que quando começou a ser feito na re-gião do Dão foi muito criticado e veja-se que hoje é, assumidamente, um produto que faz a diferença. Nós, no Ribeiro Santo, fazemos um espumante que é, digamos, o nosso carro-chefe. Sentimo-nos or-gulhosos, porque uma empresa que tem três anos e que faz espumante como nós fazemos, acaba por ser merecedora de atenção.

Portanto, temos que fazer coisas dife-rentes que os outros não fazem, embora tenhamos alguma dificuldade acrescida, o que é sempre vantajoso e o Dão precisa disso. O Dão precisa fazer coisas que os outros não fazem, valorizando o Encruza-do e a Touriga Nacional. É batalhar com o Touriga Nacional e não porque um jorna-lista qualquer ou um expert qualquer disse que a Touriga Nacional é demasiado floral. Não faz mal. Há castas no mundo que são demasiado desagradáveis, mas que se im-põe, porque ninguém quer saber disso. A Touriga Nacional é nossa e é a nossa vai-dade que a vai impor.

Por exemplo, na Feira de Nelas vi mui-

tas poucas Tourigas Nacionais a serem dadas a prova. E digo, muito poucas en-garrafadas, quando dizemos que aqui é o berço. Já se vê Encruzado, porque está a passar uma imagem muito interessante. Mas a Touriga Nacional não está, quando é a nossa casta de eleição. Falamos nisso, mas depois, na prática, nada se faz. Per-gunto: Quando se faz uma feira da Touriga Nacional?

Quando falamos da casta rainha do Dão não lhe damos interesse nenhum. Por exemplo, não fazemos um Concurso de Touriga Nacional!

Mas ao lançar a ideia, alguém vai dizer que temos de ser mais abrangentes. Na verdade temos que fazer qualquer coisa de muito específico para chamar a aten-ção. E devíamos fazer isso, porque existem ideias, mas têm que as aproveitar.

GR: É isso que falta para marcar a diferença no mercado internacional?

CL: Faz muita falta e é exatamente isso, porque somos uma região que já foi conhecida por ser a principal exportadora de vinhos portugueses e, de repente, dei-xamos de o ser.

GR: O que faltou?CL: Falta muita coisa. Posso-lhe dizer

que, por exemplo, os organismos que nos rodeiam precisam de ter mais força. Pre-cisávamos de um Centro de Estudos que funcionassem e que tivesse peso em Lis-boa, no ministério da Agricultura. Depois, uma CVR que se impusesse e que não dei-xasse que os políticos fizessem o que lhes

apetecem. Depois, trabalharmos todos juntos, que era muito importante. Come-çam a ver-se agora algumas experiências, mas ainda não é suficiente. Os produtores em vez de ligarem com outros do Dão, vão juntar-se com gente do Douro ou do Alentejo.

Acho que devia haver mais união, mais concentração na região, de maneira a po-dermos exportar vinhos. Devíamos fazer mais loby para a ViniPortugal vir cá com jornalistas, fazer divulgação. Não fazemos isso. Eles vão ao Douro, ao Alentejo, mas ao Dão não vêm, porque não temos força suficiente para os trazer cá.

GR: Em que patamar coloca hoje os vinhos do Dão em relação aos de outras regiões?

CL: Nós trabalhamos com várias re-giões e eu faço vinho em todas as regiões do país. Gosto muito do Dão e sou um de-fensor do Dão. Numa frase, diria que o Dão precisa de gente a olhar para ele. O Dão precisa de se mostrar, porque se não for-mos vaidosos, se não formos inteligentes, não vamos conseguir pôr o Dão a funcio-nar.

O Dão, em relação ao Douro e ao Alentejo, devia afirmar-se pela diferença. Ainda há muito pouco tempo a Bairrada consegui fazê-lo, afirmando-se com meia dúzia de produtores e está a chamar as atenções todas. Na região do Dão andam divididos por causa de uma feira ou por causa de qualquer coisa muito política e há pouca acção.

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Entre 18 a 21 de Setembro

Festa das Vindimas dá a redescobrir o Dão em Viseu

O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Hen-riques, disse que a Festa das Vindimas, que vai de-correr de 18 a 21 de Setembro, naquela cidade, am-biciona fazer a assunção de Viseu enquanto destino vinhateiro. “Queremos que a ‘Festa das Vindimas’ se assuma como cartaz turístico de Viseu enquanto ci-dade vinhateira. Pretendemos que seja a assunção de Viseu como destino vinhateiro”, disse.

A ‘Festa das Vindimas’ integrada no programa do Município “Viseu & Vinho Dão Festa”, apresen-ta-se com um conjunto de eventos dedicados à enogastronomia, experiências de vindima, a I Meia--Maratona do Dão e ainda um concerto no centro histórico.

Almeida Henriques explicou que Viseu tem, à semelhança da cidade vinhateira francesa de Bor-déus, todo um património material e imaterial, his-tória e monumentalidade, que pode fazer com que se torne um destino vinhateiro. “O Dão precisa de ser afirmado também através desta lógica de cida-de com património, desta lógica de cidade vinhatei-ra”, justificou. A pensar nesta ambição, a ‘Festa das Vindimas’ foi preparada para agradar “a turistas, mas também a residentes, jovens e menos jovens, aos que preferem vindimar pela manhã, participar na Meia-Maratona do Dão ou os que querem par-ticipar no ‘Dão Party Irreverente’”.

“Tem também uma lógica educativa, que passa por levar cada vez mais a que a região tenha este sentimento de pertença em relação ao Vinho do Dão. Queremos que os mais pequeninos passem a ter consciência da riqueza que é o Vinho do Dão”, acrescentou.

Na tarde de sábado, o Mercado 2 de Maio aco-lhe a “Vindima Petiz”, com um programa que irá permitir aos mais novos ver transformar as uvas no sumo que dá origem ao néctar do Dão. “Cerca de 100 crianças terão a oportunidade de pisar as uvas e, ao mesmo tempo, vamos ter um laborató-rio para lhes explicar como o vinho se faz”, apontou. O autarca realçou ainda que a ‘Festa das Vindimas’ pretende trazer o mundo rural à cidade, tendo sido envolvidas seis quintas do concelho: Quinta de Reis, Quinta de Lemos, Quinta Vinha Paz, Quinta da Fa-lorca, Quinta da Turquide e Quinta Pedra Cancela. “Temos 150 vagas para a experiência das vindimas, desde a colheita até à pisa da uva”, informou. Tam-bém os restaurantes da cidade foram chamados a participar na Semana Enogastronómica, apresen-tando ementas essencialmente das Beiras.

“Vamos ter também o Entre Aduelas associado ao Mercado das Vindimas. Assim, quem faz a pro-va dos vinhos, tem também os queijos, enchidos e pão”, referiu. Do programa constam também um concerto com Luísa Sobral e a primeira Meia-Ma-ratona do Dão, onde se esperam “perto de 2.500 pessoas”.

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O mel é dos sectores emergentes nesta nova fase do sector primário em Portugal. Tal como noutros, o interesse pela apicul-tura cresceu, especialmente entre os mais jovens que, por falta de emprego ou de outras opções, optam por se dedicar às abe-lhas.

Todavia, nem tudo são rosas. Diz um velho ditado, que “a guitarra quer-se nas mãos de quem a saiba tocar”, o que nes-te sector se aplica por inteiro. Neste trabalho, a que daremos continuidade em próxima edição, um dos conselhos que é dado por apicultores com longa experiência vai no sentido de que os novos candidatos devem, em primeiro lugar, ter conhecimentos, teóricos, mas especialmente práticos, procurando os melhores do sector, com eles aprendendo como se faz. Este aspecto é fun-damental para que cada um possa depois criar os seus próprios métodos de trabalho para que tenham êxito nesta actividade. É claro que nem todos vingarão, mas para os melhores, os que estiverem mais preparados, o caminho será menos complicado.

Não encontrámos dados concretos recentes sobre o sec-tor. Todavia, e segundo a Federação do sector (dados de 2013), estima-se que existam em Portugal cerca 650 mil colmeias re-gistadas, com uma produção média de mel de 18 quilos cada, oito cooperativas e nove agrupamentos de produtores. O preço médio do mel rondou os 2,45 euros o quilo.

Olhando para estes dados, e sabendo-se que grande parte da produção nacional é exportada, o que demonstra a qualidade do mel por cá produzido, podemos ter uma noção do peso que o sector tem na economia nacional.

José Luís Araújo

Mel… doce mel!

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Com 360 associados e uma produção uma média de 40 to-neladas por ano, a Lousamel é uma das mais dinâmicas coope-rativas neste sector. Aproveitando a flora da Serra da Lousã, o mel ali produzido tem caracterizas diferenciadoras, como referiu o presidente da cooperativa. António Carvalho destaca o apa-recimento de novos projectos, para “reforçar a competitividade nacional” de um sector em crescimento.

Gazeta Rural (GR): O que diferencia o mel das Lousã do de outras regiões?

António Carvalho (AC): O mel Serra da Lousã DOP tem características muito particulares e que o distinguem de outros méis. A sua cor varia entre o âmbar a âmbar escuro, aroma a bosque e o sabor é marcado pela adstringência. É um mel de montanha, à base da flora espontânea da magnífica serra da Lousã. O néctar das urzes, castanheiro e algumas meladas com-põem a paleta de sensações que este mel proporciona a quem o prova.

Hoje está nos lugares cimeiros em termos comerciali-

Diz o presidente da Cooperativa, António Carvalho

Lousamel conta com os novos projectos para reforçar a competitividade nacional

zação de méis com denominação de origem protegida no nosso país. Além de índices de sacarose próximos ou iguais a 0, este mel tambem tem alto poder antioxidante compara-tivamente com outros. É um alimento, um aliado na saúde e, sem dúvida, um potenciador da gastronomia portuguesa.

GR: Como foi a campanha deste ano? AC: Foi um ano extremamente atípico, com produções mui-

to baixas ou nulas para alguns apicultores e excelentes para ou-tros. A qualidade está garantida, porque o período de floração da urze, matriz deste mel, foi muito longo. Em termos de quanti-dade espera-se na ordem das 30 toneladas.

GR: Há novos projectos de apicultura na região? AC: Sim. Contamos com esses novos projectos para re-

forçar a competitividade nacional, em termos de quan-tidade e qualidade de mel produzido, e para a profis-sionalização, cada vez mais, do sector. Tambem irão permitir reforçar o empreendedorismo e associativismo.

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Reza a lenda que, em tempos antigos, quando um homem se apaixonava por uma mulher, raptava a eleita numa noite de lua cheia. Durante um mês, bebiam uma mistura afrodisíaca, adocicada com muito mel. Resultado: paixão eterna.

Que o mel é um atentado à resistência do pecado da gula, já se sabe. Mas que já foi um poderoso “medicamento natural” para despertar avassaladoras paixões, isso, pelo menos nós, não sabíamos.

Mais um trunfo na manga para, quando depois de aplicadas todas as tácticas de sedução, o eleito ainda se mostra resis-tente. Colheradas fartas de uma só vez para dentro da boca. Lábios melosos, seguindo-se os “sintomas” pretendidos. Espe-ramos que ainda resulte.

A par da lenda, o cientificamente comprovado. É um dos alimentos mais ricos, a nível nutricional, do mundo. O útil e agradável, unidos no mesmo frasco. Saudável e bom. Deixe-se render!

O mel é um produto natural, utilizado desde tempos ime-moriais pelas suas propriedades curativas, digestivas e ener-géticas. Muito se deve ao facto de ser “elaborado” a partir do néctar de inúmeras flores, combinando propriedades benéficas encontradas nas mais diferentes espécies vegetais. De acordo com a sua origem floral e regional, este alimento pode variar de tonalidade, densidade e sabor. Em relação à cor, quanto mais escuro for o mel, mais sais minerais contém na sua composição.

Fonte: Sapo.pt

Comprovadas cientificamente

As diversas propriedades medicinais do mel

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A Associação de Apicultores do Litoral Centro (AALC), fundada a 16 de Novembro de 2001, tem as suas intalações nas traseiras da Junta de Freguesia do Luso. Neste momento com 430 associados, abrange 13 concelhos da região Centro (Coimbra, Mealhada, Cantanhede, Mira, Anadia, Penacova, Mortágua, Santa Comba Dão, Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Oliveira do Bairro, Águeda e Ovar), o que lhe permite produzir cerca de 200 toneladas de mel, das cerca de 11500 colónias. Para além da produção de mel, alguns associados produzem própolis, pólen e rainhas, refere João Cristóvão, presidente da Associação,

Criada com a finalidade de divulgar e promover o mel e seus derivados, provenientes das explorações dos seus associados, bem como a realização e a participação em actividades relacionadas com a apicultura, a AALC presta apoio técnico, dentro do Programa Apícola Nacional, a todos os seus associados.

O próximo passo será o de aderir ao sector cooperativo, possibilitando, dessa forma, absorver o mel dos seus associados e comercializá-lo, garantindo um melhor escoamento do produto.

“A vespa cabra é a praga que neste momento mais preocupa a associação�, refere Andreia Chasqueira, técnica da associação. Também a �loque americana é, na parte das doenças, a que mais aflige, pois a sua erradiação obriga à destruição das colmeias e a matar as abelhas”, acrescenta.

Colóquios, seminários, sessões de esclarecimento, cursos sobre apicultura e concursos de mel, constituem actividades regulares da AALC, além de todos os anos promover a Feira do Mel e do Pão do Luso, que ocorre a 15 de Agosto, o dia de referência, e que se estende por mais dois dias.

Um passo a dar a curto prazo

Associação de Apicultores do Litoral Centro pretende aderir ao cooperativismo

Daniel Ferreira Salazar venceu concurso do mel da Beira Litoral Centro

Daniel Salazar é associado e um dos maiores produtores da Associação de Apicultores do Litoral Centro. Com cerca de 321 colmeias, produz uma média de cinco toneladas de mel multifloral, na zona de Santa Comba Dão.

Instalado no Coval, onde reside, montou no rés-do-chão da sua habitação, com muito boas condições, uma sala de mel, cujas instalações mereceram inclusive a admiração da ASAE.

Aliado do mel, Daniel Salazar iniciou a produção de licores à base do mel.

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A apicultura na região do Barroso tem vindo a conhecer um significativo incre-mento, não só pela qualidade do mel que por ali se produz, mas especialmente pelas condições que a região oferece para esta actividade. “A apicultura, se for desenvol-vida correctamente pelo apicultor, com práticas de maneio adequadas, tem-se revelado uma boa oportunidade de fixar pessoas na nossa região”, afirma Albano Alvares, presidente da CAPOLIB - Coope-rativa Agrícola de Boticas, que aposta na inovação, apresentando um novo design para imagem do melo que produz.

Gazeta Rural (GR): O que carac-teriza o mel de Barroso?

Albano Álvares (AA): O “Mel de Barroso® - DOP” é produzido pela abelha Apis melífera (sp. Ibérica) nas regiões de cota mais elevada da região do Barroso. Atendendo às suas particularidades orga-nolépticas e ao maneio produtivo, o Mel de Barroso está demarcado pelo reco-nhecimento da Denominação de Origem Protegida (DOP), estando a certificação a cargo da SATIVA.

As suas características particulares resultam de um extraordinário manto ve-getal, composto maioritariamente de ur-zes, que além de proporcionarem um bom desenvolvimento das colónias das abe-lhas, originam o fabrico de um mel escuro, muito apreciado. Este mel contém uma infinidade de substâncias benéficas para o organismo humano (vitaminas, aminoáci-dos, proteínas, …), revelando-se uma ópti-ma fonte natural de saúde.

Os mais exigentes padrões de quali-dade estão associados aos processos de produção, extracção, processamento e embalamento. A segurança alimentar e a rastreabilidade do “Mel de Barroso® – DOP” são garantidas ao longo de toda a fileira produtiva, desde os apiários até ao consumidor final.

GR: Quantos associados apiculto-res tem a Cooperativa e qual a pro-dução anual estimada?

AA: Neste momento temos 160 Api-cultores, com aproximadamente 17000 colmeias e produção média anual de cer-ca de 322 toneladas de mel.

GR: O Mel de Barroso-DOP foi premiado em concurso na Feira Na-cional de Agricultura deste ano. O

Mel de Barroso DOP Best Selection com novas embalagens

CAPOLIB aposta na inovação e cria novo design para imagem de produto

que representam esses prémios?AA: Estes prémios são um orgulho e

representam um estímulo para a Coopera-tiva e para os associados do Agrupamento de Produtores de Mel de Barroso-DOP, in-citando a continuar a produzir e divulgar, cada vez mais e melhor, este produto da nossa região, cuja qualidade vem sendo cada vez mais reconhecida.

São também o reconhecimento de um esforço conjunto para levar até ao con-sumidor final um produto de excelência, mantendo a sua pureza e características originais, nunca descurando a higiene, se-gurança e rastreabilidade do mesmo, de forma a obter um mel de características excepcionais e propriedades terapêuticas particulares benéficas para a saúde, com-provadas cientificamente.

Além da aposta na qualidade, houve também um esforço de inovação da ima-gem do produto, com a criação das novas embalagens de Mel de Barroso DOP Best Selection, as quais se revelam requinta-das e elegantes, atraentes ao consumidor, procurando desta forma estar à altura dos exigentes e diversificados padrões dos mercados atuais.

Estes prémios conseguidos são uma mais-valia, tendo ajudado na divulgação da qualidade e imagem do nosso mel, ha-vendo cada vez mais interesse e procura deste produto por parte dos consumi-dores, quer nacionais quer estrangeiros, tendo-se reflectindo nas vendas que têm aumentado significativamente.

GR: O crescente aumento da pro-cura de mel no mercado europeu ajudou ao aparecimento de novos projectos apícolas?

AA: Os projectos apícolas na região de Barroso têm aumentado significativa-mente ao longo dos anos. Cada vez mais jovens apostam nesta actividade, porque se tem mostrado economicamente ren-tável, uma vez que da apicultura resultam vários produtos, para além do mel, apesar deste ser o mais conhecido e procurado. Actualmente, a actividade apícola tem sido cada vez mais explorada noutras vertentes, como por exemplo, a produ-ção de pólen, enxames, própolis e cera, havendo escoamento para todos estes produtos. Desta forma, a apicultura, se for desenvolvida correctamente pelo apicul-tor com práticas de maneio adequadas, tem-se revelado uma boa oportunidade de fixar pessoas na nossa região. Para isso contribuem as condições excelentes que a natureza oferece para a prática desta actividade e a elevada procura e retorno económico dos produtos resultantes da apicultura, sendo uma boa fonte de ren-dimento e oportunidade viável para quem quiser regressar às suas origens e retirar da sua terra o seu sustento.

Além das vantagens económicas que advêm da apicultura, esta actividade é muito importante para o equilíbrio do ecossistema pela, já amplamente, reco-nhecida função das abelhas na poliniza-ção, sendo por isso uma prática benéfica para a “saúde” do nosso planeta.

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A Associação de Apicultores da Beira Alta (AABA), criada em 24 de Janeiro de 1978, está sedeada desde 1994 na Zona Industrial de Coimbrões. Conta com 335 apicultores associados, produzindo anualmente cerca de 180 toneladas de mel, essencialmente multifloral, embora haja zonas onde predomina a urze.

Os associados podem contar com apoio técnico no que diz respeito a qualquer dificuldade em relação ao Programa

Já a partir do próximo ano

Associação de Apicultores vai criar rótulo para o mel da Beira Alta

Apícola Nacional ou outra qualquer situação pontual, bem como eventuais dúvidas no processo de produção do mel. A AABA dá também aconselhamento e divulga formas de evitar ou combater pragas e doenças que afectam as abelhas e os apiários.

Em parceria com a CONFAGRI, esta associação organiza cursos de iniciação à apicultura, muito solicitados, e aconselhável a quem queira apostar nesta actividade que, pode afirmar-se, pode dar sustento a quem procure voltar ao mundo rural ou esteja sem trabalho.

“A apicultura tem tido bastante adesão, pois há novos projectos, não só para a produção convencional, mas temos, neste momento, cinco projectos para a produção de mel biológico�, refere António Ferreira, secretário desta Associação.

Acrescenta este responsável que �os apicultores mais novos já começam a produzir propolis, pois é natural que haja uma maior tendência, por parte dos mais novos, de produzirem outros produtos derivados, pois que têm uma visão mais ambiciosa e mais actualizada sobre as potencialidades da apicultura”.

Em relação ao futuro, as perspectivas são excelentes. “Contamos no próximo ano criar um rótulo para escoar o mel dos nossos associados, sob a capa “Mel da Beira Alta”, e estamos a trilhar o caminho necessário para podermos prestar mais serviços, como analisar o mel que nos entregam�, refere António Ferreira.

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É um caso e, também, um exemplo. Rui Batista formou-se em Educação Física, mas 10 anos depois trocou o ensino pelas abelhas. Este ano, devido à dimensão que atingiu, criou a empresa MSM Apicultura, sedeada no concelho de Valpaços, dando seguimento à actividade que desenvolvia em nome individual comercializando o mel Santa Maria.

Rui Batista comercializa mel de ros-maninho, que produz na região de Miran-dela e Valpaços, mas também mel de urze, com colmeias na região do Barroso, em altitude.

À Gazeta Rural o gerente da MSM Api-cultura diz que os nórdicos gostam o mel de urze, que tem um paladar forte, sabor intenso, de cor muito mais escura. Por sua vez a produção de mel de rosmaninho se-gue toda para França.

Gazeta Rural (GR): Há quantos anos existe a empresa Mel Santa Maria?

Gerente da empresa MSM Apicultura, sedeada em Valpaços

Rui Batista trocou o ensino pela apicultura

Rui Batista (RB): A empresa tem um registo da marca já desde 1996. Mas só este ano foi criada a MSM Apicultura, em-presa que comercializa o mel Santa Maria.

Antes trabalhava como empresário em nome individual, mas depois foi neces-sário criar uma empresa, devido à dimen-são atingida.

GR: Quais as principais caracte-rísticas do mel nesta região?

RB: Estamos a produzir dois tipos de méis monoflorais. Temos colmeias a pro-duzir mel de rosmaninho, da região da Terra Quente, na zona de Valpaços e Mi-randela, que também se produz noutras zonas do Nordeste, como Alfandega-da--Fé, Moncorvo, Vila Flor e Carrazedo de Anciães, entre outros locais. Nós produ-zimos mel na região de Mirandela e Val-paços. As características são inigualáveis. É um mel suave, de cor bastante clara e muito bom.

Depois temos outro mel monofloral,

de urze, oriundo da região do Barroso, ou seja uma zona com altitudes acima dos 600 metros, onde o mel tem um paladar forte, sabor intenso, de cor muito mais es-cura. Trata-se de um mel muito aprecia-do nos países nórdicos. Relativamente ao mel de rosmaninho, já há alguns anos que estamos a vender toda a produção para a França.

GR: Quantas colmeias tem?RB: Temos cerca de 1150 colmeias.

Este é um registo incerto, pois há oscila-ções no sector da apicultura, porque há sempre uma ou outra baixa nas colmeias. Depois, fazemos a transumância de acor-do com o calendário. Neste momento es-tão todas em altitude.

GR: Face à necessidade de mel na União Europeia, a apicultura pode ser um modo de vida, especialmente para quem quiser e tiver gosto e co-nhecimento por esta actividade?

RB: Sem dúvida. Eu sou um exemplo dessa situação. Licenciei-me na Escola Superior de Educação de Viseu em Educa-ção Física, estive mais de uma década no ensino, e como estava dificil a efectiva-ção, dediquei-me à apicultura. Faço o que gosto, se bem que desde sempre lidei com as abelhas e já tinha alguma experiência.

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Novas cepas de bactérias resistentes a antibióticos têm alarmado a comunidade internacional. Em Abril deste ano, a Or-ganização Mundial de Saúde (OMS) classificou a existência de tais cepas como um dos mais urgentes desafios contemporâ-neos e alertou que, em pouco tempo, doenças como a tubercu-lose voltarão a matar. Contudo, um estudo feito na Suécia pode reverter esse cenário. Investigadores da Universidade de Lund descobriram um grupo de 13 bactérias ácido-lácteas encontra-das no estômago de mel das abelhas capazes de combater ce-pas de bactérias resistentes a antibióticos.

A bolsa de mel é um dos dois estômagos da abelha. Nela fica armazenado todo o néctar que as abelhas sugam das flo-res. Quando o néctar entra no estômago de mel, compostos microbianos activos, capazes de matar outras bactérias nocivas entram em acção, impedindo que o mel seja contaminado. Se-gundo especialistas, esse processo é essencial para o equilíbrio das colmeias. Porém, esses compostos microbianos já não estão presentes no mel comum, vendido em lojas.

Os investigadores testaram os compostos microbianos en-contrados na bolsa de mel e descobriram que eles têm uma ampla eficácia em combater bactérias que causam infecções graves em humanos. Até o momento foram realizados apenas testes em laboratório, mas os investigadores estão optimistas com os resultados e planeiam em breve realizar testes em hu-

Composto de bactérias acido-lácteas mostra resultados

Abelhas podem ter a solução contra bactérias resistentes a antibióticos

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manos. “Parece ter funcionado bem durante milhões de anos de protecção da saúde e do mel das abelhas contra outros micror-ganismos nocivos. No entanto, porque o mel comprado em loja não contém as bactérias lácticas vivas, muitas de suas proprie-dades originais foram perdidas nos últimos tempos”, adiantou Tobias Olofsson, autor do estudo.

In: Opinião e Noticia

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Produtor de mel, com a marca “Vale do Rosmaninho”, e criador de abelhas rainhas ibéricas na região de Castelo Bran-co, João Tomé diz que para se ser apicultor “é preciso ter pai-xão pelas abelhas” para se conseguir vingar nesta actividade. Já conheceu ‘outros mundos’ e atreve-se a dizer que “Portugal é o país da união europeia com maior potencial apícola, pois temos paisagens naturais únicas, que são compostas por uma grande diversidade floral. Não é por acaso que temos mais de 60.000 colmeias transumantes espanholas a produzir em Portugal e te-mos apicultores do norte da Europa a criar rainhas no nosso país para exportar para os países de origem”, refere o apicultor.

João Tomé é licenciado em Engenharia Florestal e elabora projectos na área apícola. Diz que esta é uma actividade “que pode gerar bons proveitos, garantindo um bom rendimento fa-miliar”. Mas, para isso, “é preciso trabalhar muito, ter espírito de sacrifício e, o mais importante, ter paixão pelas abelhas. É esta paixão que nos vai erguer nos momentos difíceis quando as coi-sas não correm como planeado”, sustenta.

Para os candidatos a apicultores, José Tomé deixa alguns concelhos. “Para se iniciar um projecto na área apícola é preciso ter muita atenção, pois, além do que já referi, os candidatos pre-cisam de visitar e conhecer o maior número de apicultores pro-fissionais, não só em Portugal, mas noutros países, e ver a for-

João Tomé é apicultor e deixa concelhos aos novos

“É preciso ter paixão pelas abelhas”

ma como trabalham, pois é um sector que está muito evoluído, sendo poucos em Portugal os que praticam uma apicultura de vanguarda. Ao visitarem um grande número de apicultores po-dem tirar ideias de todos e criar a sua própria metodologia de trabalho. Depois, é preciso estudar muito e estar bem informado acerca de novas técnicas e maneios, sendo os USA e a Austrália dois países de referência”.

Por isso, quando elabora os projectos João Tomé procura conhecer bem o cliente. “Os projectos são elaborados à medida de cada pessoa, tendo como base a experiência profissional da nossa exploração apícola, possibilitando aos jovens apicultores visitarem e trabalharem connosco, de forma a ganharem mais experiência neste sector. Além disso fazemos acompanhamento de projectos já instalados, bem como consultoria”.

Para além do trabalho na área atrás referida, João Tomé tem--se destacado na produção de material vivo seleccionado, “sen-do a criação de rainhas ibéricas seleccionadas o nosso principal produto e uma vez que a procura de enxames de abelhas supera a oferta, temo-nos dedicado à produção de enxames. Além de rainhas e enxames, produzimos também mel e pólen, sendo este ultimo um produto de destacar, pelas suas qualidades nutricio-nais ímpares”, refere o apicultor.

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Sedeada em Arganil e com 20 anos de experiência

‘A qualidade é durabilidade’ é o lema da Casa do Apicultor

Se para a produção de mel é necessá-rio um local e flora apropriados, a verdade que o primeiro passo a dar são as colmeias, cuja qualidade é importantíssima para o desenvolvimento da actividade por parte do apicultor, mas também a qualidade do produto final.

A Casa do Apicultor, sedeada em Ar-ganil, é uma empresa com 20 anos de experiência no fabrico e comercialização de colmeias e tem por lema ‘A qualidade é durabilidade’. Abel Pereira, gerente da em-

presa, sublinha à Gazeta Rural a importân-cia da qualidade da colmeia para um bom apiário, destacando o aumento de novos apicultores que olham para o sector como “uma forma de vida”.

Gazeta Rural (GR): O que é a Casa do apicultor? Quantas colmeias pro-duzem por ano?

Abel Pereira (AP): A Casa do Api-cultor é uma empresa com 20 anos de experiencia no fabrico e comercialização

de colmeias, contando com a ajuda indis-pensável de 30 colaboradores. Quantificar o que produzimos não é tarefa fácil, sendo que esta equipa tem cumprido sempre os prazos de entrega de todas as encomen-das que temos.

GR: Tem havido um aumento de

apicultores e projectos na região e, com isso, o aumento da procura de colmeias?

AP: Sim, desde há algum tempo a pro-cura tem aumentado. O Estado tem dado uma grande ajuda nesse sentido, aprovei-tando fundos comunitários para apoiar os apicultores a investirem de forma gradual nos novos apiários.

Também a conjuntura actual tem aju-dado, a falta de emprego de muitas pes-soas tem feito, com que a apicultura seja vista não como um hobby, mas como uma forma de vida.

GR: Como escoam a produção de

colmeias?AP: Temos uma loja de venda ao pú-

blico, que serve de apoio aos apicultores do concelho e concelhos limítrofes, onde comercializamos todo o material apícola necessário para desenvolver esta activi-dade. A produção anual é garantida com parcerias que temos com revendedores nacionais e internacionais.

GR: Há alguma especificação

das suas colmeias, alguns requisitos e cuidados a ter no fabrico de col-meias? Que conselho dá aos apicul-tores?

AP: A nossa empresa tem uma orga-nização que permite a todos os nossos colaboradores receberem instruções para o método de fabrico de cada componente que constitui uma colmeia. Todos os com-ponentes são revistos pelo controlo de qualidade, o que nos permite oferecer aos nossos clientes um produto fiável.

Temos também implementado o siste-ma de marcação fitossanitária (devido ao problema do nemátodo do pinheiro), em que todos os componentes de madeira produzidos tenham o carimbo com o nos-so número de operador autorizado pela DAGV.

Aconselhamos todos os apicultores a que no momento da compra não olhem só ao valor, mas também à qualidade. O nos-so lema é ‘Qualidade é Durabilidade!’.

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O secretário de Estado do Ordenamento do Territó-rio e da Conservação da Natureza revelou, em Penafiel, que neste mês de Setembro serão anunciadas “acções concretas” para monitorizar e controlar a vespa asiática em Portugal. “Esperamos apresentar as actividades que vão ter lugar no território”, explicou Miguel de Castro Neto, acrescentando que o Governo “está a acompa-nhar a situação”, num trabalho que envolve várias se-cretarias de Estado.

Miguel de Castro Neto admitiu a necessidade de “dar informação, segurança e proteger pessoas e bens”. De-fender a actividade económica associada, que é a api-cultura”, é outro objectivo do plano, assinalou.

Para o secretário de Estado, há o “risco grande” de as pessoas confundirem a vespa asiática com a vespa europeia, como aconteceu em França e em Espanha. Por isso, insistiu, há a necessidade de dar mais informa-ção.

A vespa asiática tem sido localizada, nas últimas se-manas, no Alto Minho, mas também em vários concelhos do distrito do Porto, como Amarante, Paredes e Marco de Canaveses. Em Celorico de Basto, no distrito de Bra-ga, também foram avistados vários ninhos. Os serviços de protecção civil daqueles municípios têm procedido à destruição dos ninhos.

Adiantou Miguel de Castro Neto

Governo anuncia plano de monitorização e controlo da vespa asiática

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A Associação de Produtores Florestais de Montemuro e Paiva (APFMP), sedeada em Castro Daire, tem cerca de 200 api-cultores entre os seus associados. Mónica Lopes, técnica apícola da APFMP, diz que a Associação quer criar uma cooperativa de modo a receber e comercializar o mel dos produtores da região, o que deverá acon-tecer em meados do próximo ano, assim como criar uma IGP “Mel Serra do Monte-muro”, para a qual já foram dados alguns passos.

Gazeta Rural (GR): Quantos api-cultores associados têm?

Mónica Lopes (ML): Somos uma associação que tem duas vertentes, a da floresta e a da apicultura. Na totalidade temos cerca de 260 associados. Cerca de 200 são apicultores, a quem damos as-sistência técnica, formação, efectuamos projectos, damos o auxílio que necessitam.

GR: Quantas colmeias têm e qual a produção de mel nesta região?

ML: Somos a entidade gestora de zona controlada de Montemuro e Paiva, que abrange os concelhos de Vila Nova de Paiva, Castro Daire e Cinfães. Nos 3 con-celhos temos apicultores associados, que têm perto de oito mil colmeias registadas.

A produção tem as suas oscilações, de acordo com vários factores, mas num ano médio produzem-se 20 a 25 quilos de mel por colmeia.

GR: Essencialmente mel multiflo-ral?

ML: Sim. Basicamente produz-se mel multifloral. Há muito poucos apicultores que produzam mel monofloral, porque não há condições para tal. A nossa principal floração é a urze e o castanheiro. A urze tem outras espécies ao redor e não con-seguimos obter somente o mel monofloral. É um mel mais escuro e espesso, com um travo amargo devido ao castanheiro e à urze, mas muito rico em proteínas.

GR: Para além do mel, há outros produtos, cada vez mais em voga, que são mais ricos e procurados. Os apicultores desta região também es-tão a enveredar por esse caminho?

ML: Sim. Na associação também te-mos apiários e colmeias e já produzir pó-

Com cerca de 200 associados na região

Associação de Produtores Florestais quer criar cooperativa e uma IGP

“Mel Serra do Montemuro”

len. Estamos a pensar também, pois houve uma proposta nesse sentido, para produzir própolis. Além disso, temos os cremes la-biais e os sabonetes que são feitos pela associação através do mel e da cera. Mas temos outras ideias, como associar o mel a outros produtos, nomeadamente com frutos secos, com canela e outras iguarias.

GR: Há uma crescente procura de mel no mercado internacional, mor-mente na Europa. Esta pode ser uma oportunidade para quem quiser ini-ciar-se nesta actividade?

ML: Não vou dizer que sim, pois de-pende também muito de quem o quer fa-zer, porque geralmente quando as pessoas regressam ao campo fazem-no sem os há-bitos do trabalho que o meio rural obriga. E a apicultora exige muito trabalho, muita dedicação e muito gosto. Agora, há pro-jectos e apicultores. A nível nacional não sei quantos vão enveredar pela apicultura e se vão viver somente desta actividade. Na associação, projectos nós temos, mas nenhum vive somente da apicultura.

GR: A Associação comercializa o mel dos seus associados?

ML: Somos uma associação e não po-demos comercializar o que não é nosso. Já

pensámos nesse assunto várias vezes e já estivemos para transformar a associação numa cooperativa. Apenas não o fizemos porque aguardamos pelo próximo quadro comunitário para apresentar uma candi-datura. Acreditamos que em meados de 2015 já o tenhamos conseguido. Ai sim, iremos ao produtor colher o produto e co-mercializá-lo em bruto. Neste momento, o mel que temos rotulado e enfrascado é da nossa produção.

GR: Há novos projectos de jovens agricultores na região?

ML: Na área da apicultura não vejo muito mais do que já temos. Há um ou ou-tro que anda a pensar, mas não sei algum vai enveredar por esta actividade, porque o número de colmeias são poucas, face ao projecto que vai fazer.

A associação tem outros projectos, além da zona controlada que já conse-guimos. Com a criação da Cooperativa podemos avançar para a criação de uma Indicação Geográfica Protegida (OIGP) Serra de Montemuro, para a qual já demos alguns passos. Daí podemos abranger um maior número de produtores. Vamos ino-var e criar a única IGP: a IGP da Serra de Montemuro.

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Situada na Zona Industrial de Chaves e fundada em 1988, a Montimel - Cooperativa de Apicultores do Alto Tâmega conta com mais de 100 associados, distribuidos pelos concelhos que abrange. “O sector do mel está francamente em expansão”, garante José Figueira, presidente da Montimel. Apesar de 2014 ter sido um ano atípico, pois as chuvas de Maio reduziram a produção, para a Montimel a aposta é, sobretudo, na qualidade e essa “está sempre garantida”, refere aquele responsável.

Dada a sua localização, a Montimel produz dois tipos de mel bem diferentes, uma vez que, por um lado, abrange zonas do Barroso, em altitude, mas também a zona do denominado

Aconselha o presidente da Montimel

“Formação e aprendizagem com apicultores experientes são importantes”

“mel da terra quente”, na região de Valpaços e Mirandela, daí a produção de mel de urze e de rosmaninho.

Segundo José Figueira, o mel “pode ser uma aposta interessante” para quem procure encontrar nesta actividade uma forma de vida. Todavia, alerta para a necessidade de se “apostar na formação”, pois “não basta fazer um projecto e começar a colocar colmeias, porque pode correr mal”. Por isso, acrescenta, “aconselho vivamente quem quiser iniciar esta actividade a contactar, e mesmo passar algumas semanas, um apicultor experiente”. É que, diz José Figueira, “há lugar nesta actividade para todos e serão benvindos, há espaço para todas as colmeias, mas, repito, aconselho informação e formação adequada”.

“Queremos que haja cada vez melhores apicultores, com mais colmeias e cada vez mais rentáveis e, se possível, diversificar os produtos da colmeia”, como o própolis, muito procurado pela medicina natural, e o pólen”, rematou José Figueira.

A Montimel pretende ainda começar a comercializar mel de castanheiro, mas este obriga os apicultores a aprender técnicas mais específicas para a sua produção. Refira-se ainda que mais de 95% do mel produzido pela Montimel é exportado para a Alemanha, França e Espanha, além de ser comercializado numa grande superfície nacional, que requer certificação do produto e que a cooperativa há algum tempo alcançou.

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Terminou a edição 2014 da Agroglobal - Feira das Grandes Culturas, que decorreu em Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo, em mais de 200 hectares de terreno junto ao Tejo per-tencentes ao Instituto Nacional de Investigação Agrária e Vete-rinária (INIAV).

O certame, que reuniu mais de 200 expositores ligados ao mundo agrícola demonstrou o potencial do sector e revelou-se mais um “enorme êxito”, o que deixou a Valinveste, empresa or-ganizadora do evento, com “responsabilidade acrescida” para próximas edições, como afirmaram alguns dos participantes no certame. A ministra da Agricultura disse que a Agroglobal é “uma feira extraordinária”. Já na sua página pessoal do Facebook, As-sunção Cristas acrescentou que “a feira está a crescer e é um excelente exemplo de demonstração do potencial do sector, ocupando uma área de exposição e de demonstração ao vivo das mais avançadas metodologias de cultivo”.

A ministra da Agricultura marcou presença no último dia da Agroglobal, na sessão comemorativa das ‘bodas de prata’ da Agro.Ges - Sociedade de Estudos e Projectos, uma das mais ex-perientes e conhecidas empresas de consultoria agrícola portu-guesas, fundada em 1989, celebrando agora os seus 25 anos ao serviço do sector agrícola e rural.

Na ocasião Assunção Cristas desafiou sector a ajudar a de-senvolver economia do mar. A ministra da Agricultura lançou um “desafio” àqueles que no sector estão “habituados a tra-tar com Bruxelas”, para que ajudem o Governo a desenvolver “uma nova economia” na área do mar. A governante afirmou que é necessária “garra” e “muita ajuda”, sobretudo técnica, de “quem conheça os fundos comunitários, que esteja habituado

Segundo a Ministra da Agricultura

A Agroglobal é “uma feira extraordinária”

a tratar com Bruxelas, a perceber Bruxelas”, para “desenvolver uma nova economia e essa é a área do mar”. Assunção Cristas afirmou que o fundo disponível para esta área, no valor de 400 milhões de euros, embora “mais modesto” do que o do sector agrícola (4,5 mil milhões), pode ser “casado” com os outros fun-dos, através da IPIMAR, e também com fundos da agricultura. “Há algumas interacções que podem ser interessantes. Sobre-tudo nesta área, o país precisa muito de vós”, declarou, pedindo que haja uma reflexão sobre este desafio.

Candidaturas ao PDR 2020 abrem a 15 de Novembro

Assunção Cristas anunciou que as candidaturas ao novo Programa de Desenvolvimento Rural, PDR 2020, poderão co-meçar a ser recebidas a 15 de Novembro, recordando que es-tão mais de 8.000 candidaturas em carteira. Por outro lado, sublinhou o facto de, apesar de o PDR 2020 ainda não ter sido aprovado por Bruxelas, existir já uma execução de 2%, estando o Governo a pagar “com dinheiro novo e regras antigas”, de for-ma a garantir que não exista “qualquer hiato” e que a transição se faça de forma “mais suave”. Assunção Cristas referiu ainda o facto de a execução do PRODER se situar actualmente em pra-ticamente 88%, considerando “realista” o objectivo de atingir os 92% até ao final do ano.

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Quem passa em Vila Flor e procura adquirir fumeiros regionais, as Alheiras Glória & Filho é uma casa de visita obrigatória. Trata-se de uma empresa familiar, onde toda a carne utilizada na produção artesanal dos fumeiros é de origem caseira.

Além das famosas alheiras, são referência a chouriça, o salpicão e a chouriça doce. “Chegamos a criar mais de 900 porcos para fazer este nosso fumeiro”, conta Glória Meireles. A produtora diz que este facto “a qualidade da carne é essencial”, mas o que faz mesmo a diferença são �os oito dias em molho de vinha d’ alho que a carne repousa para tomar o gosto, a lareira para fumar os enchidos que os torna únicos”.

O futuro está a ser já tratado. “Estamos a construiu um espaço maior, com cerca de 700 metros quadrados para aumentar a nossa produção, que ronda as 20 toneladas anuais. Entre Outubro e Maio, como “os meses de maior procura, conta-nos António, filho e sócio de Glória Meireles.

A produtora destaca, ainda, a importância dos eventos organizados pela Câmara onde os produtos da terra são divulgados, pois “trás gente nova de passagem pela terra, que acabam por provar os enchidos, gostam, levam e divulgam, o que atrai novos clientes, facto “essencial” para o sucesso da empresa.

Vila Cova à Coelheira a primeira edição da Feira das Tradições e Sabores, um certame promovido pelo Muni-cípio de Vila Nova de Paiva, em parceria com a ADDLAP e com o apoio da Junta de Freguesia e do Grupo Cénico, Cultural e Recreativo de Vila Cova à Coelheira.

Com esta iniciativa, o Município pretendeu relem-brar e reavivar tradições, sabores, usos e costumes que ainda se vão mantendo no concelho, para além de dar a conhecer as potencialidades e a riqueza do nosso meio rural. Os produtos endógenos, a gastronomia tradicio-nal, o artesanato típico com confecção ao vivo, aliados à arte de bem receber, foram os ingredientes essenciais desta feira.

A abertura das tasquinhas gastronómicas, do arte-sanato e da exposição relativa ao Ciclo do Pão contou com a presença do executivo autárquico, seguida de uma prova de bôlas típicas de carne, salpicão e sardi-nha, cozidas nos fornos comunitários. Os visitantes ti-veram a possibilidade de confeccionar as suas próprias bôlas nestes fornos de lenha, com a ajuda e sabedoria das mãos de quem os conhece bem.

Já com 15 anos de experiência e a ampliar as instalações

Alheiras Glória apostam na produção de fumeiro tradicional em Vila Flor

Promovida pelo Município de Vila Nova de Paiva

Vila Cova à Coelheira ‘concretizou’ I Feira das Tradições e Sabores

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A XII edição da VINDOURO – Festa Pombalina, que decor-reu em São João da Pesqueira, registou uma grande afluência de público, com a particularidade de ter recebido a visita de um maior número de importadores estrangeiros, sobretudo do mer-cado asiático. A Câmara de São João da Pesqueira, que organiza o evento, faz por isso um balanço muito positivo da iniciativa.

No Salão de Exposições da Pesqueira, o evento reuniu cerca de três dezenas de produtores de vinhos DOC Douro e Porto, que apresentaram os mais recentes lançamentos e rótulos emble-máticos da região, em prova livre.

Destaque para a maior adesão de público às provas para-lelas, conduzidas por Manuel Moreira, sommelier e crítico de vi-nhos da revista WINE - A Essência do Vinho, nomeadamente as “Conversas sobre Vinho” sob os temas “Vinhos do Douro para o dia a dia” e “Como harmonizar vinhos do Porto” e também uma prova de azeites.

Já pelo centro da vila não faltaram as habituais recriações históricas do século XVIII, destaque ainda para o Desfile Pom-balino, a Missa das Vindimas e o Leilão de Vinhos Generosos, tendo esta edição ficado particularmente marcada pelo Jantar Pombalino, realizado no Jardim do Cabo, com assinatura de Rui Paula. O chefe de cozinha inspirou-se nos tempos do Marquês de Pombal, surpreendendo os participantes com criações gas-tronómicas exclusivas, como “consommé de perdiz da Coutada Real”, “cachaço de reco bísaro e puré de aipo da Casa Real” e “sopa de eucalipto com fruta”. Do lado da música, Cuca Roseta, José Cid, Zé Perdigão, Banda Índice e ainda as DJ´s Su e Cherry Chick animaram as noites da Pesqueira.

Importadores de vinhos internacionais no evento

À semelhança da última edição, a Câmara de S. João da Pes-queira voltou a promover a visita de uma delegação de importa-dores internacionais à Vindouro que, na décima segunda edição, contou com um maior número de agentes asiáticos (China e Ma-cau). O crescente interesse destes agentes nos vinhos da região resulta de uma visita, em 2012, da Comendadora Rita Santos, secretária-geral adjunta do Fórum Macau, em parceria com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesá-rio, com o apoio da Câmara de S. João da Pesqueira, que possibi-litaram a abertura do mercado asiático aos produtores de vinho do concelho. À delegação juntou-se ainda um representante do Canadá, novo mercado estratégico para os vinhos da região.

O evento, que regressará em 2015, foi organizado pela Câ-mara de S. João da Pesqueira, com produção da EV – Essência do Vinho, Cryseia e Beira Douro.

Organização faz balanço positivo do evento que decorreu em São João da Pesqueira

Vindouro – Festa Pombalina fidelizou públicos na XII edição

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A XXIII edição da Feira do Vinho do Dão, que decorreu em Nelas, foi um sucesso. Este é o resultado visível do principal evento em termos da região demarcada do vinho do Dão, que reuniu mais de 40 produtores, inúmeros expositores de produ-tos regionais, entre os quais queijos e enchidos, doçaria, choco-late e artesanato. No final da noite de sábado, os produtores de vinho já tinham os seus stocks de venda directa na feira esgo-

Mais de 14 mil visitantes passaram por Nelas

Feira de Vinhos do Dão foi um sucessotados, sendo que, no domingo, muitos deles voltaram a esgotar!

Ao longo dos três dias passaram mais de 14 mil visitantes pela feira, um número muito acima das edições anteriores, e mais de 500 pessoas assistiram aos 17 workshops, showcookings com conceituados chefes de cozinha e pasteleiros, provas de vinhos e azeite pensados especialmente para o certame. Mais de 3000 refeições foram servidas na Praça de Alimentação, uma das no-vidades deste ano e, em todas as noites da feira, os Paços do Concelho ficaram apinhados para assistir ao espectáculo musi-cal “As Músicas que os Vinhos Dão”, de António Leal, com a pre-sença da fadista Cátia Garcia, do acordeonista João Gentil, além de cantores líricos e mais de 30 figurantes. Centenas de pessoas voltaram a Nelas de propósito para assistir duas e três vezes ao mesmo musical, com grande carga emocional e videomapping.

Outros dos momentos altos da feira foi a homenagem ao es-canção, a prova de Vinhos Velhos no Centro de Estudos Vitiviní-colas de Nelas, e a wine party proporcionada pela luz e som do Dj Gryzzler, pelos apontamentos gastronómicos coordenados pelo Chef Diogo Rocha e, sobretudo, pelo cocktail do Dão produzido especificamente para o momento pela Dão Sul.

A tarde de cantares do Dão teve sala cheia no auditório do edifício multiusos de Nelas, cujo grupo infantil do Bairro da Igreja interpretou uma música e letra originais de homenagem e hino ao Dão. Um jantar na Federação dos Vitivinicultores do Dão veio inaugurar um conjunto de eventos que a Câmara de Nelas vai passar ali a organizar. O programa contou ainda com actividades lúdicas, desportivas e de animação.

Com este evento o Município de Nelas deu um salto qualita-tivo e contribuiu decisivamente para a afirmação crescente dos vinhos do Dão, e outros produtos regionais, promovendo assim as potencialidades do concelho e da região.

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A Câmara de Miranda do Douro vai reactivar infraestrutu-ras com décadas de existência para incrementar a produção de animais de raça bovina mirandesa, no sentido de aumentar o efectivo de uma espécie autóctone “com potencial reconhe-cido”. “O que pretendemos é revitalizar os produtos endógenos e o concelho de Miranda do Douro é forte em raças autóctones, com potencial reconhecido, como é caso dos bovinos de raça mirandesa. Estamos dispostos a apostar forte no sector pecuá-rio”, afirmou o autarca de Miranda do Douro, Artur Nunes.

Um dos primeiros passos é a recuperação do centenário Posto Zootécnico de Malhadas (PZM), já que todo o processo de transferência dos terrenos e imóveis da unidade zootécnica para a autarquia se encontra em “estado avançado”. A unidade zootécnica foi criada em 1913 e está instalada numa área com cerca de 50 hectares, dotada de estábulos, uma unidade logís-tica constituída por dois edifícios, posto de recolha e análise de sémen, áreas de pastagem, entre outros equipamentos. O PZM esteve sob a tutela do Ministério da Agricultura até 1993, tendo passado para a gestão de duas associações de produtores pe-cuários da região, que se mantém até hoje.

Posto Zootécnico e mercado de gado de Malhadas são pontos de partida

Câmara Mirando do Douro tem novo projecto para promover raça bovina

A autarquia já se comprometeu a revitalizar as instalações do mercado de gado de Malhadas e instituir uma feira mensal para a compra e venda de animais de raças autóctones, como a bo-vina mirandesa, ou ovinos de raça churra mirandesa. “Com estes projectos, queremos dizer aos produtores pecuários que vale a pena apostar na raça bovina mirandesa e este trabalho terá de ser feito em conjunto com todas as autarquias que integram o Solar da Mirandesa tais como Bragança, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Vimioso e Vinhais”, sublinhou o autarca de Miranda do Douro.

Apoiar os produtores de raça bovina mirandesa continua a ser “uma das prioridades” da Câmara de Miranda do Douro no sentido de promover a “fixação” de jovens produtores pecuários na região do planalto mirandês, acrescentou.

O planalto foi desde sempre um território propício para a criação de animais de raça bovina mirandesa. No entanto, os agricultores garantiram que precisam de mais apoios para au-mentar o actual efectivo da raça, que ronda os 5.500 animais inscritos no livro genealógico e que esta a cargo da Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa.

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Os agricultores da região Oeste, com 74% da produção na-cional de abóboras, estão a armazená-las para serem vendidas de Inverno e assim combaterem os actuais preços baixos re-sultantes da oferta. “Ofereceram-me a quatro cêntimos o quilo e nos hipermercados é vendida a 60 cêntimos. Nem dá para o adubo. Há agricultores que não têm a noção daquilo que gastam e entregam o produto a qualquer preço e estão a dar cabo dos preços”, lamentou o produtor Adriano Lúcio.

À semelhança de Adriano Lúcio, também Carlos Malaquias optou por armazenar as abóboras para as escoar entre os me-ses de Novembro e Março, quando começam a escassear e têm saída para a exportação. Com a despesa de embalar e carregar a partir do armazém, “se [as conseguir] vender na ordem dos 20 cêntimos já é um bom negócio”, admitiu.

A elevada oferta, que justifica os baixos preços e quebras es-timadas de 20% nas vendas, acontece depois de 2013 ter sido um bom ano de colheita e de lucro, o que levou muitos agriculto-res a terem apostado na cultura, que aumentou em 20% a área de cultivo em apenas um ano.

De uma cultura secundária destinada à alimentação animal, tem vindo a conquistar os hábitos alimentares, ao ser usada so-bretudo na confecção de doces e de sopas, e a ganhar valor de mercado. 60% da produção é exportada para Inglaterra, França e Alemanha.

Adriano Lúcio, produtor há meia dúzia de anos, produz entre 300 e 400 toneladas numa área de 15 a 20 hectares. “Produzo abóbora para fazer a rotação das culturas e também vejo que é

Para combaterem os actuais preços baixos

Agricultores guardam abóboras à espera de melhor preço

uma das culturas mais rentáveis, desde que haja exportação”, explica o produtor.

Com 600 a 700 toneladas e 25 hectares, Carlos Malaquias é um dos maiores e mais antigos produtores. À medida que o pro-duto vai tendo procura no mercado da exportação, tem vindo a aumentar a área de cultivo e a diversificar as espécies. “Temos à volta de 15 hectares de abóboras manteiga, que são vendidas para Inglaterra. É o terceiro ano que estamos a apostar nessa variedade, aumentámos a área em 50% do ano passado para este ano em função das exigências do mercado”, refere o agri-cultor, para quem a abóbora já pesa 10 a 15% da sua facturação anual.

Por ser o concelho com a maior produção da região, a Lou-rinhã acolhe de 31 de Outubro a 02 de Novembro o I Festival da Abóbora, organizado pela União de Freguesias de Atalaia e Lou-rinhã. No pavilhão multiusos da Atalaia, o evento vai ter “chefs’ a trabalhar ao vivo, mostra de doçaria e pratos gastronómicos confeccionados a partir da abóbora, exposição de abóboras do “Halloween” pelas escolas e jornadas técnicas.

Na região Oeste, onde existe clima e solos propícios, a abó-bora tem vindo a ganhar expressão desde há uma década. Não só a produção aumentou vinte e cinco vezes mais para cerca de 2500 hectares e passou de três mil para 40 mil toneladas por ano, como rende 10 milhões de euros anualmente aos agricul-tores, de acordo com dados da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste.

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Uma das três da Europa classificada como região demarcada, a Aguardente da Lourinhã está a despertar a criatividade da economia local na criação de produ-tos, que estão a conquistar consumidores.

Pedro Ferreira, proprietário de uma pastelaria do centro da Lourinhã, tenciona alargar ao país e até in-ternacionalizar o negócio de venda do pastel de aguar-dente, cujo sabor da bebida e da amêndoa considera serem “inconfundíveis”.

Há ano e meio que decidiu, à experiência, confec-cionar uma receita antiga, que aperfeiçoou juntando alguns segredos à farinha, amêndoa, açúcar, ovos, margarina, coco, leite e aguardente e começou por dar a provar aos clientes. Mas rapidamente começou a comercializá-los, vendendo por dia uma centena de pastéis. “Não esperava que tivesse o impacto que teve. Há pessoas que não apreciam aguardente nem outras bebidas alcoólicas, sobretudo senhoras, mas gostam de comer um pastel de aguardente a acompanhar o café. De igual forma, quem conhece bem a aguardente vem também à procura do pastel”, conta o pasteleiro.

Além de vender ao balcão a turistas e imigrantes naturais do concelho, o comerciante recebeu pela In-ternet pedidos de encomenda para a França e para a Alemanha. “Tenho tido um bom retorno. Apesar da cri-se, este foi um dos melhores verões à conta dos pastéis. Produzimos dia sim, dia não”, sublinha Pedro Ferreira.

A aguardente despertou também a faceta em-preendedora e criativa de Sílvia Baptista, que, em oito meses, abriu actividade de venda ao público, criou duas marcas já registadas de bombons de chocolate, cujo recheio é feito a partir de aguardente, e de café, no caso de um deles, e vende já mais de uma dúzia de bombons diferentes. “Quando estive em casa de licen-ça de maternidade, decidi ir aprender e fazer uns bolos para ocupar o tempo. Quis aperfeiçoar e fui para a Aca-demia Profissional de ‘Cake Design’, onde aprendi a tra-balhar com o chocolate. Comecei a pensar no que po-dia fazer para divulgar a minha terra e aí surgiu a ideia de bombons de aguardente da Lourinhã”, explica. Após dar a provar a familiares e amigos, começaram a sur-gir encomendas e, por mês, confecciona cerca de meio milhar de bombons, cuja aceitação pelos consumidores é “muito positiva”.

Nos últimos dois séculos, a aguardente da Lourinhã era vendida para a produção do Vinho do Porto e era escolhida como digestivo pelos consumidores, antes da liberalização do mercado dos vinhos e da entrada do “whisky” nos mercados. Em 1992, viu a sua qualidade reconhecida, com a publicação de legislação que veio criar a respectiva Região Demarcada e a Denominação de Origem Controlada, única em Portugal e terceira na Europa, a par do “cognac” e do “armagnac”.

Nos últimos anos, passou a ser vendida nos prin-cipais hipermercados nacionais e há um ano interna-cionalizou-se com exportações regulares para Macau, mas está longe de ser conhecida dos consumidores como as concorrentes francesas.

Com a criação de produtos associados

Aguardente da Lourinhã está a despertar a criatividade da economia local

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Com a participação dos enólogos António Selas e Francisco Antunes e uma sala repleta, foi realizada mais uma conferência sobre o tema “Preparação da Adega e Controlo de Maturação”, promovida pelo Centro Ciência Viva da Floresta, em Proença-a--Nova.

Para a produção de um bom vinho é necessário e obrigató-rio recorrer a um conjunto de procedimentos técnicos rigorosos, quer na vinha, quer na adega, até mesmo para a produção de vinho caseiro.

Nesta conferência foram abordados vários assuntos como a importância do controle fitossanitário na vinha; do ciclo vegeta-tivo da videira e das intervenções culturais; da ida ao laborató-rio para avaliar o estado de maturação das uvas e da evolução dos mostos durante o processo de fermentação e da corretas higiene e desinfecção de todo o material que entra em contacto com a videira, com as uvas e, finalmente, com o vinho, pois são potenciais focos de infecção, podendo alterar profundamente a qualidade do vinho e até mesmo inutilizar todo um ano de es-forço.

A vitivinicultura actual é uma arte, mas requer um conjunto de tecnologias, conhecimentos científicos e métodos laborato-riais não só na investigação, mas também no controle de todo processo vínico, que se inicia com a instalação de uma vinha até ao produto final o vinho.

No momento da vindima, o vitivinicultor já despendeu de trabalho e de dinheiro para a obtenção de um produto de qua-lidade, por isso não pode desperdiçar, a partir desse momento, nenhuma oportunidade para a obtenção de um bom vinho. Daí

Descendentes de Caparrosa, no sopé da Serra do Caramulo, na década de 70 do século XX, os irmãos Oliveira (Raúl, Nélson e Alfredo) iniciaram um projecto de comércio de gado. Aos pou-cos esta actividade foi-se desenvolvendo e desencadeou outras actividades associadas, como comércio de carnes e enchidos. Lançaram-se, assim, em mais um desafio, indo buscar ao espólio familiar as melhores receitas de enchidos que transformaram em produtos “gourmet”, surpreendendo os palatos mais requinta-dos.

Neste momento, os Irmãos Oliveira, além de possuírem qua-tro talhos na cidade de Viseu, produzem os famosos “Enchidos Tradicionais de Viseu”, tal como fazem questão de salientar nos seus rótulos, para promover o que de melhor se faz naquela ci-dade. “Fazemos questão de colocar no rótulo, porque somos de Viseu, produzimos nesta cidade e gostamos de promover a nossa região”, refere Vítor Oliveira, responsável pela unidade de produção de enchidos em Caparrosa.

De todos os seus enchidos, há a destacar a chouriça, a mor-cela, a alheira e o salpicão, todos produzidos com carnes nacio-nais e sob elevados patamares de qualidade, o que contribuiu para a nomeações de PME líder e PME excelência, já alcançados.

Com uma produção superior a 300 toneladas de enchidos por ano, os Irmãos Oliveiras há muito que exportam para o de-

surge a necessidade de preparar adequadamente a adega e todo o material vínico interveniente, através da limpeza e de-sinfecção, para as vindimas que se aproximam. Os cuidados de limpeza começam antes da vindima, continuam na vinificação e prolongam-se até ao engarrafamento.

A marcação da data da vindima deverá ter em conta o es-tado de maturação das uvas, as variedades implantadas e as condições de clima da região em causa. Durante a fermentação é obrigatório vigiar de perto a temperatura, a acidez e a densi-dade do mosto e nos momentos certos realizar as trasfegas e as correcções adequadas até o produto final estar em condições de consumo.

A vitivinicultura está historicamente ligada a Portugal como uma actividade agrícola de relevante importância económica e social. No quadro do valor da produção do ramo agrícola nacio-nal, este sector representa cerca 14% do total, tomando como referência a média de 2002-2004. Em termos absolutos, consi-derando os valores gerados no último triénio, o sector vitiviníco-la contribuiu em média com mil milhões de euros/ano, a preços base, para o valor total da produção do ramo agrícola.

Fazer um bom vinho requer experiência e conhecimento que estão disponíveis no laboratório de vinhos do Centro Ciência Viva da Floresta, em Proença-a-Nova, que os coloca ao serviço da agricultura regional e para que se produza vinho de qualidade.

Victor Bairrada Coordenador do CCVFloresta

Uma iniciativa do Centro Ciência Viva da Floresta

Conferência debateu “Preparação da Adega e Controlo de Maturação”

Unidade de produção instalada em Caparrosa.

Família Oliveira produz “Enchidos Tradicionais de Viseu” há mais de 40 anos

nominado ‘mercado da saudade’, além de outros, não tanto re-presentativos como este. São um dos principais fornecedores da maior parte das grandes superfícies, instaladas nas regiões de Tondela e Viseu.

Recentemente apostaram na inovação, procurando um ni-cho de mercado em crescimento. Aliando a experiência na pro-dução de fumeiro, criaram a alheira de legumes e cogumelos, uma alheira vegetariana para os adeptos deste regime alimentar.

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O cultivo do milho predominou durante séculos nos campos de regadio de Portugal, mas uma variedade anã adaptada às terras de sequeiro continua a dar pão a pequenos agricultores da Serra da Lousã. Debaixo de sol, José Carvalho chega a casa esbaforido, ao fim da tarde, e vai direito à capoeira para tratar a sua galinha de pescoço pelado, que debica o denominado milho gatanho com avidez.

Logo abaixo, na Quinta da Cachaça, arredores da Lousã, não falta água para regar um extenso viveiro com milhares de ár-vores de frutos. Só que este operário da construção civil, de 51 anos, vive com a família num planalto árido.

Quando muito milho de regadio ainda está no campo, em meados de Setembro, José e alguns vizinhos do lugar da Rogela já colheram o congénere de sequeiro há mais de um mês. Trata--se de uma variedade de milho amarelo, rasteira, que só bebe água da chuva, se a houver, e que produz uma única espiga. “Por pouco que produza, sempre dá para sustentar as galinhas”, afir-ma José Carvalho, que cultiva este cereal há mais de 20 anos, seguindo uma tradição familiar.

Possui agora apenas uma galinha gorda de crista rubra, mas já teve dezenas de aves, alimentadas com este grão doirado e as couves do quintal. Lançado à terra em Março, a tempo de fruir da generosidade pluvial dos céus, o gatanho cresce no meio de uma vinha castigada pelo estio. “Eu não tenho hipótese de ter aqui outro milho. É uma maneira de aproveitar estes terrenos”, refere o produtor, ao defender que esta variedade deve ser pre-servada.

Idêntica opinião tem Filipe Seco, que abandonou o curso de Comunicação Social para se dedicar à agricultura biológica. O vegetariano Filipe Seco, de 34 anos, produz o seu próprio pão, a tradicional broa de milho, com a “boa farinha” do gatanho da sua exploração do Ribeiro Branco. “É uma variedade antiga que não se deve deixar cair no esquecimento. Por ser de sequeiro,

Variedade anã semeada em Março

Antigo milho de sequeiro continua a dar pão na Serra da Lousã

semeia-se um bocadinho mais cedo e não precisa de ser rega-da”, afirma.

Com esta e outras variedades tradicionais, “há aqui a própria semente”, destaca, ao admitir que, na cultura extensiva do milho, “as pessoas preferem semear um híbrido ou um transgénico” de-vido à elevada produção.

Membro da associação “Colher Para Semear”, rede por-tuguesa de variedades tradicionais, com sede em Figueiró dos Vinhos, Filipe Seco também aposta num milho de regadio, o pata-de-porco multicolorido, que garante produções mais van-tajosas. “Não semeio para vender. É para alimentar as minhas galinhas e para fazer o meu pão”, regozija-se.

Aos 78 anos, Maria Cortez mantém uma leira de milho gata-nho, onde obteve dez alqueires, 110 quilos, em Agosto. Já chegou a colher 50 alqueires deste milho, mas “o javali deu em comê-lo todo”, na zona da Rogela. “O milho híbrido dá muito, mas para broa não o quero. Este milho tem outro sabor”, revela Maria Cor-tez, que cultiva o gatanho com ajuda do filho, José Orlando, e do neto.

José Orlando Cortez, de 53 anos, aprecia a broa que a mãe coze no forno de lenha, bem como as papas de milho com sardi-nha assada. “E broa desta com um bocadinho de presunto ainda melhor”, graceja, ao mesmo tempo que exibe uma espiga abo-canhada pelo porco-bravo.

O investigador Louzã Henriques, que associa o “povoamen-to tardio” das terras altas da região à abundância de água e ao cultivo do milho, após os Descobrimentos, realça que os monta-nheses cuidavam cada pé de milho “como se fosse um filho”. Nos solos mais pobres da Serra da Lousã, “para ver se aquilo dava um bocadinho de pão”, semeavam centeio ou milho gatanho, segundo o etnólogo.

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Ano X - N.º 232Director José Luís Araújo (CP n.º 7515), [email protected] | Editor Classe Média C. S. Unipessoal, Lda.Redacção Luís Pacheco | Departamento Comercial Filipe Figueiredo, João Silva, Fernando Ferreira, José Martins e Helena MoraisOpinião Miguel Galante | Apoio Administrativo Jorge Araújo Redacção Praça D. João I Lt 363 Fracção AT - Lj 11 - 3510-076 Viseu | Telefones 232436400 / 968044320E-mail: [email protected] | Web: www.gazetarural.comICS - Inscrição nº 124546Propriedade Classe Média - Comunicação e Serviços, Unipessoal, Limitada | Administração José Luís AraújoSede Lourosa de Cima - 3500-891 ViseuDelegação Edifício Vouga Park, Sala 42 - Sever de VougaCapital Social 5000 Euros | CRC Viseu Registo nº 5471 | NIF 507021339 | Dep. Legal N.º 215914/04Execução Gráfica Sá Pinto Encadernadores | Telf. 232 422 364 | E-mail: [email protected] | Zona Industrial de Coimbrões, Lote 44 - 3500-618 ViseuTiragem média Versão Digital: 80000 exemplares | Versão Impressa: 2500 exemplaresNota: Os textos de opinião publicados são da responsabilidade dos seus autores

A Sub-região de Monção e Melgaço, uma das nove sub-re-giões da Região dos Vinhos Verdes, possui uma forte tradição na cultura do vinho e da vinha e uma relação umbilical com a casta Alvarinho, que se pretende manter e defender, e que muito contribuiu para o florescimento de uma fileira vitivinícola com grande potencial e para a produção de vinhos de elevada quali-dade, reconhecida nacional e internacionalmente e capazes de ombrear com os vinhos produzidos nas regiões vinícolas mais importantes e reconhecidas a nível mundial.

A tradição vitivinícola, com uma ligação histórica ao mundo rural, tem valorizado, nos últimos anos, as actividades produti-vas, económicas e socioculturais e tem afirmado este território como uma região vinhateira de excelência, onde já se podem experimentar vinhos de qualidade superior, inclusive, produzidos a partir de outras castas que não o Alvarinho.

Dada a importância da fileira do vinho para a economia destes dois concelhos, as Câmaras Municipais de Monção e

Região possui uma forte tradição na cultura do vinho e da vinha

Monção e Melgaço apresentam candidatura conjunta

à Cidade Europeia do Vinho 2015Melgaço decidiram unir esforços no sentido de apresentar uma candidatura conjunta à Cidade Europeia do Vinho 2015, promo-vida pela Rede Europeia das Cidades do Vinho (RECEVIN), que inclui mais de 800 cidades europeias de países como Portugal, Espanha, França e Itália entre outros.

Esta candidatura visa posicionar esta região no mapa euro-peu e mundial, como uma das regiões vitivinícolas de qualidade reconhecida e um símbolo da cultura do vinho enquanto parte integrante da sua identidade colectiva.

Para alcançar este desiderato, para além do óbvio, necessá-rio e crucial envolvimento dos actores privados da fileira, consi-deramos fundamental estabelecer uma forte e alargada base de apoio institucional que nos possibilite implementar um conjunto de linhas de trabalho com entidades locais, regionais, nacionais e internacionais, bem como como com os movimentos culturais e associativos.

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ÚLT

IMA

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Feira da Maçã 2014 em Armamar

A Feira da Maçã está de regresso a Armamar de 24 a 26 de Outubro. À semelhança do ano anterior a localização da feira será junto à praça em frente ao tribunal.

A VII edição da Feira anima o município e garante um vasto programa cultural. Os motivos de atracção são muitos, dos quais se destacam os espectáculos de variedades que vão desde a

Dia 20 de Setembro, em Guimarães

Espaço Visual dá a co-nhecer boas práticas da

produção de mirtilos

Iniciativa vai realizar-se a 18 de Outubro na Penoita

Vouzela vai receber maior acção de reflores-

tação ibérica de 2014O maior evento Ibérico de recuperação de ecossistemas

florestais de 2014 terá lugar em Vouzela, no dia 18 de Outu-bro. A iniciativa, promovida pelo Município de Vouzela e pela Fundação Floresta Unida, pretende recuperar uma vasta área de floresta na mata da Penoita que foi consumida pelo incên-dio que fustigou aquela zona, no verão de 2013, contribuindo assim para a regeneração de área ardida e combate à erosão e destruição dos solos.

A organização tem como objectivo a plantação de 20.000 árvores, garantir a protecção de mais 5.000, contro-lar plantas invasoras e muito mais, tudo num só dia.

À iniciativa irão juntar-se várias centenas de voluntários, empresas parceiras e personalidades.

As inscrições são obrigatórias e poderão ser efectuadas através do mail [email protected]

A consultora agrícola Espaço Visual, em parceria com as empresas de produção de pequenos frutos, BioBerço (Guimarães) e Kertropical (Moreira de Cónegos) vai realizar no próximo dia 20 de Setembro, entre as 14 e as 18 horas, nas instalações da BioBerço, na Rua da Indústria, Ponte, em Guimarães, um workshop sobre as boas práticas de produ-ção de mirtilos. Esta actividade empresarial tem vindo a conhecer um enorme incremento na região Norte, com particular incidência na zona do Minho, pelo que esta iniciativa surge num momento de-cisivo para o negócio dos pequenos frutos, no sentido de ajudar à tomada de decisão dos interessados (produtores/empresários/jo-vens agricultores) face ao novo quadro das ajudas ao investimento (PDR 2014/2020).

Para além de ficarem a conhecer a experiência de jovens pro-dutores de mirtilos, os interessados, que se devem inscrever até dia 19 de Setembro no site da Espaço Visual, terão a oportunidade de conhecer a realidade de duas explorações de pequenos frutos.

A Ministra da Agricultura vai marcar presença na abertura do ‘Encontro com o Vinho e Sabores – Bairrada 2014’ (EVSB), evento promovido pela Comissão Vitivinícola da Bairrada, pela Turismo do Centro de Portugal e pelo Município de Ana-dia pelo segundo ano consecutivo, no Centro de Alto Ren-dimento – Velódromo de Sangalhos, Anadia. A inauguração é na sexta-feira, dia 3 de Outubro, às 17 horas, seguindo-se a entrega de prémios do ‘Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada’, que vai acontecer pelas mãos de Assunção Cristas às 19,30 horas.

Com o objectivo de potenciar as fileiras da vinha, do vi-nho, da gastronomia e do turismo da região, o ‘Encontro com o Vinho e Sabores – Bairrada 2014’ vai ser palco da exposição de produtores de vinhos e sabores da região com degustação livre, provas de vinhos (‘Bairrada de Excelência – Espuman-tes’, ‘Os Bairrada que fizeram História – 1985 a 2011’ e ‘Bair-rada de Excelência – Brancos e Tintos’) e jantares temáticos

Em Anadia de 3 a 5 de Outubro

Assunção Cristas inaugura ‘Encontro

com o Vinho e Sabores – Bairrada 2014’

harmonizados com vinhos e espumantes da região (‘Sabores do Mar’ pelo restaurante Rei dos Leitões e ‘Sabores da Terra’ pelo restaurante Mugasa). As provas e os jantares vão ser co-mentadas por especialistas da Revista de Vinhos. O ‘Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada’ é a novidade desta edição.

O Velódromo de Sangalhos vai reunir uma mostra de pro-dutos, de onde se destacam os espumantes, os vinhos (tintos, brancos e rosés), as aguardentes, as águas, o leitão da Bair-rada, o pão da Mealhada, os ovos moles de Aveiro, os Amores da Curia, as queijadas de Águeda, o Folar de Vale de Ílhavo, entre muitos outros. Vai ainda haver espaço para a divulga-ção da oferta turística: enoturismo, turismo termal, hotelaria e restauração.

A entrada na feira é gratuita, sendo que a prova de vinhos implica a aquisição de um copo. O warm up para o ‘Encontro com o Vinho e Sabores – Bairrada 2014’ começa no dia 26 de Setembro com uma acção de promoção em mais de vinte restaurantes da região: Mealhada, Anadia, Coimbra e Aveiro. Os clientes destes espaços vão ser brindados com um flute de espumante Bairrada e um convite para o evento. Quem entrar no evento com convite, devidamente preenchido, habilitar--se-á a um fim-de-semana num hotel da região, uma inicia-tiva da Rota da Bairrada. No fim-de-semana que precede o EVSB estão igualmente previstas acções de animação de rua nas cidades de Coimbra e Aveiro, acompanhadas da distribui-ção de informação sobre o evento.

música popular ao folclore. Tasquinhas com petiscos e iguarias, feira de artesanato, recriações das muitas tradições populares e diversões fazem parte do programa de actividades.

A Feira da Maçã é já um dos pontos altos na região durien-se. Um evento organizado pela Câmara de Armamar em par-ceria com a Associação de Fruticultores de Armamar e com os vários agentes económicos, sociais e culturais do município.

A CP Comboios de Portugal associa-se ao evento e ela-borou os horários para o fim-de-semana da feira entre as cidades do Porto e Peso da Régua. A ligação a Armamar, de autocarro, é assegurada pela autarquia local.

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Sandra Santos é a nova coordenadora da Agim – Associação para os Pequenos Frutos e Inovação, tendo assumido o cargo a 9 de Setembro. A nova responsável tem de 33 anos, é licenciada em Comunicação Social e está na Agim desde Março de 2013, sendo agora responsável pelo Gabinete de Comunicação e Eventos.

O convite para assumir as responsabilidades como coordena-dora partiu da direcção da Agim. “Fiquei lisonjeada pelo convite, grata pela confiança e reconhecimento do meu trabalho e dedica-ção na Agim”, afirma Sandra Santos, que garante empenho ao novo desafio que tem pela frente.

Assumindo que o seu trabalho será de continuidade, Sandra Santos deixa uma palavra de agradecimento a toda a equipa coor-denada por Sofia Freitas pelo excelente trabalho desenvolvido nos últimos oito anos, ou seja, desde a sua fundação. “O trabalho feito até então é de louvar. A Agim, inevitavelmente, encontra-se asso-ciada aos pequenos frutos, quer no nosso país quer pelo exterior. Agora é continuar a trabalhar nesse sentido, com mais ações e promovendo um maior acompanhamento aos agentes que ope-ram nesta fileira”, refere a nova coordenadora da Agim. Em suma, Sandra Santos deixa uma garantia: a Agim vai continuar a traba-lhar na representação da fileira dos pequenos frutos, continuando a promover a formação, a divulgação e promoção dos mesmos. Será ainda responsável por colocar a marca “Sever do Vouga Capital do Mirtilo” no mercado nacional e internacional.

Assumiu o cargo no passado dia 9 de Setembro

Sandra Santos é a nova coordenadora da AGIM

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Organização: Parceiros:Patrocinador principal: Apoio:Patrocinador do Concerto:

Semana EnogastronómicaO melhor da gastronomia e dos vinhos do Dão nos restaurantes de Viseu.

De dia 18 a dia 21.

Meia Maratona do DãoVenha correr e redescobrir as paisagens de Viseu

Dia 21.

Vindimas nas QuintasDia 20.

Seis quintas de portas abertas à participação dos visitantes na festa do vinho.

Concerto com Luísa SobralSábado, 22 horas. Adro da Igreja da Misericórdia. Entrada livre.

Dia 20.

Dão Party IrreverenteSábado, 24 horas. Museu Grão Vasco.

18 a 21 setembroDão Festa