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Algodão e derivados

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  • CADEIA PRODUTIVA DA BIOENERGIA

    2009

    OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTO EM COTONICULTURA NOS

    VALES DO SO FRANCISCO E DO PARNABA

    PROJETO INTEGRADO DE NEGCIOS SUSTENTVEIS

  • Centro de Conhecimento em Agronegcios - PENSA

    PROJETO INTEGRADO DE NEGCIOS SUSTENTVEIS PINS

    CADEIA PRODUTIVA DE BIOENERGIA:

    OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTO EM COTONICULTURA NOS VALES DO SO

    FRANCISCO E DO PARNABA

    CODEVASF, Braslia, DF

    2009

  • PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Silva MINISTRO DA INTEGRAO NACIONAL Geddel Vieira Lima

    PRESIDENTE DA CODEVASF Orlando Cezar da Costa Castro

    DIRETOR DA REA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO E INFRA-ESTRUTURA Clementino de Souza Coelho DIRETOR DA REA DE GESTO DOS EMPREENDIMENTOS DE IRRIGAO Raimundo Deusdar Filho DIRETOR DA REA DE REVITALIZAO DAS BACIAS HIDROGRFICAS Ricardo Luiz Ferreira dos Santos

  • Equipe Responsvel CODEVASF Diretor da rea de Desenvolvimento Integrado e Infra-Estrutura Clementino de Souza Coelho Diretor da rea de Gesto dos Empreendimentos de Irrigao Raimundo Deusdar Filho Assessor da rea de Desenvolvimento Integrado e Infra-estrutura Alvane Ribeiro Soares Chefe da Unidade de Produo da rea de Gesto dos Empreendimentos de Irrigao Nair Emi Iwakiri

    PENSA Coordenador Prof. Dr. Marcos Fava Neves Gestor Executivo do Projeto Luciano Thom e Castro Gestor Executivo do Projeto Ricardo Messias Rossi Assistente Executivo do Projeto Marina Darahem Mafud

    Equipe Tcnica Pesquisador Responsvel Marco Antonio Conejero Pesquisador Assistente Mairun Junqueira Alves Pinto

    PARCEIROS (AGRADECIMENTOS)

    PROFISSIONAL CONSULTORIA

    (Adriano Lupinacci)

    NETAFIM (Nelson S)

    EMBRAPA ALGODO

    (Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira)

    DEDINI (Ernesto Del Vecchio)

    TECBIO (Robertta Mota)

    BUSA (Luiz Carlos Jnior)

  • Resumo Executivo

    Diversos so os direcionadores da ateno mundial para adoo dos biocombustveis. Preo do petrleo elevado, aquecimento global e crescimento na demanda internacional de energia figuram entre os principais. Dessa maneira, vrios pases realizam investimentos em sistemas de produo de bioenergia, enquanto institucionalizam programas de adio parcial entre 5% e 20% de biocombustveis no combustvel fssil comercializado. Entre as fontes de bioenergia est o biodiesel obtido dos leos vegetais, e que pretende substituir parte da energia consumida nos motores de ciclo diesel.

    A soja teve o papel de principal fornecedor de leo vegetal para as usinas

    brasileiras durante o primeiro momento do Programa Nacional do Biodiesel devido sua escala de cultivo j estabelecida. No falta, entretanto, interesse para a utilizao de outras culturas e fontes de leos que possuam maiores rendimentos e possibilitem uma matria prima a custos mais competitivos.

    A partir desse contexto, esse trabalho foca na cultura do algodo, tendo em

    vista as vantagens comparativas do biodiesel produzido a partir do leo de seu caroo, das condies edafoclimticas e de infra-estrutura disposta nos Vales do So Francisco e Parnaba para produo competitiva de fibras de boa qualidade e caroos com bom teor de leo. O objetivo final desse relatrio apresentar uma anlise de viabilidade econmica, com informaes detalhadas e crveis, a potenciais investidores, que desejam produzir algodo irrigado no Vales do So Francisco e Parnaba, aliando a segurana de negcios maduros (fibra e leo vegetal) com a oportunidade de captura de valor no mercado do biodiesel.

    A estrutura desse relatrio apresenta nos tpicos 1 a 3 uma breve descrio

    da CODEVASF, do PENSA e casos de sucesso na regio. No tpico 4 e 5 so apresentados o conceito do biodiesel e suas propriedades bem com uma caracterizao dessa nova cadeia produtiva. J os tpicos 6 e 7 destacam a cadeia produtiva do algodo, seu diferencial como fonte de oleaginosa para biodiesel e uma breve analise mercadolgica. No tpico 8, a atratividade dos Vales do Rio So Francisco e Parnaba para produo de biodiesel ressaltada com suas vantagens e potencial para produo agrcola. O tpico 9 traz o modelo de negcio proposto para a insero da cadeia do algodo no Vale do Rio So Francisco, enquadrado no modelo PINS (Projeto Integrado de Negcios Sustentveis), assim como todas as simulaes de viabilidade econmica realizadas. Por fim, no tpico 10 apresentado os passos necessrios para concretizar um investimento agroindustrial nos Vale do So Francisco e Parnaba.

  • Sumrio

    1. O PENSA e a CODEVASF .......................................................................... 7

    2. Caractersticas e Competitividade dos Vales do So Francisco e Parnaba 8

    3. Casos de Empresas da Regio ................................................................. 11

    4. Anlise do Sistema Agroindustrial e Atratividade dos Vales do So Francisco e

    Parnaba para Cotonicultura Irrigada ................................................................ 13

    4.1. O Sistema Agroindustrial (SAG) do Algodo ....................................... 13 4.1.1. A Cultura do Algodo ....................................................................... 13

    4.1.2. Beneficiamento ................................................................................ 14

    4.1.3. Extrao do leo de Algodo .......................................................... 15

    4.1.4. Biodiesel do Caroo de Algodo ...................................................... 17

    4.2. Atratividade dos Vales do So Francisco e Parnaba para o SAG do Biodiesel ....................................................................................................... 18

    5. Oportunidade de Investimento na Produo de Algodo nos Vales do So

    Francisco e Parnaba ....................................................................................... 20

    5.1. Introduo ao Negcio ........................................................................ 20 5.1.1. Sistema de Produo Agrcola ......................................................... 21

    5.2. Modelo de Negcio.............................................................................. 21 5.2.1. Responsabilidades ........................................................................... 22

    5.3. Anlises para a Viabilidade Econmica ............................................... 23 5.3.1. Premissas Utilizadas ........................................................................ 24

    5.3.2. Investimentos e Custos Operacionais .............................................. 26

    5.3.3. Resultados Econmico-Financeiros ................................................. 28

    6. Concluso .................................................................................................. 32

    Referncias ...................................................................................................... 34

  • 1. O PENSA e a CODEVASF A CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco

    e do Parnaba) um rgo pblico, vinculado ao Ministrio da Integrao Nacional do governo brasileiro, que visa o desenvolvimento da regio Nordeste por meio da Agricultura Irrigada. A CODEVASF atua nos Estados de Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe, perfazendo 640.000 km do Vale, nas regies do mdio, submdio e baixo So Francisco. De acordo com a Lei n 9.954, de 6 de janeiro de 2000, a CODEVASF passou a atuar tambm, no vale do rio Parnaba, numa rea de 340.000 km, abrangendo os Estados do Maranho e Piau.

    O PENSA (Centro de Conhecimentos em Agronegcios da USP) uma

    organizao que integra professores e pesquisadores dos departamentos de Economia e Administrao da FEA-USP (So Paulo e Ribeiro Preto). Sua finalidade promover estudos sobre o agronegcio brasileiro.

    O PENSA foi convidado a estudar a viabilidade de implementao de

    sistemas agroindustriais completos na rea de atuao da CODEVASF. O estudo foi realizado para abacaxi, apicultura, aves, banana, bioenergia, caprinos e ovinos, frutas secas, laranja, limo, piscicultura e vegetais semi-processados.

    O objetivo do projeto atrair empresas do setor de alimentos e fibras, com

    forte insero em mercados nacionais e internacionais, para ter nos produtores de permetros pblicos irrigados uma de suas fontes de suprimentos. Para isso, foi estabelecido o Projeto Integrado de Negcios Sustentveis; sendo que no P de Projetos, anlises tcnicas e de viabilidade econmica e financeira so desenvolvidas para empresas candidatas, no I de Integrao, mecanismos privados de contratos e relacionamentos entre agroindstrias e pequenos produtores so sugeridos, no N de Negcios, taxas interessantes de retorno s agroindstrias ncoras so calculadas, bem como a necessria renda interessante ao pequeno produtor familiar e, finalmente, no S de Sustentveis, a sustentabilidade, nas suas vertentes social, ambiental e econmica devem ficar evidentes.

    Os objetivos, como colocados pela companhia, so a gerao de emprego e

    renda, a reduo dos fluxos migratrios dos efeitos econmicos e sociais de secas e inundaes freqentes e, ainda, a preservao dos recursos naturais dos rios So Francisco e Parnaba, visando melhorar a qualidade de vida dos habitantes dessas regies. Para isso, a administrao da CODEVASF regionalizada e dividida em 7 superintendncias, denominadas superintendncias regionais, que atuam no mdio, submdio e baixo So Francisco. No mdio So Francisco, ficam localizadas as superintendncias regionais de Montes Claros (MG) (1 Superintendncia Regional) e a de Bom Jesus da Lapa (BA) (2 Superintendncia Regional). Em Montes Claros, foram instalados arranjos produtivos locais em apicultura, ovinocultura e piscicultura, sendo que o destaque produtivo est no projeto Jaba, com a fruticultura irrigada, principalmente de banana, manga e limo. Em Bom Jesus da Lapa, os projetos de irrigao em destaque so o Baixio do Irec, Barreiras do Norte e do Sul, Estreito e Formoso. Nesses permetros o destaque a fruticultura irrigada por meio do cultivo de banana e manga, bem como a produo de gros em Barreiras do Norte. Alm disso, a regio est desenvolvendo fortemente a aptido para a bioenergia por meio do etanol e do biodiesel.

  • Na regio do submdio do vale do rio So Francisco, esto localizadas as

    superintendncias regionais de Petrolina (PE) (3 Superintendncia Regional) e Juazeiro (BA) (6 Superintendncia Regional). A fruticultura irrigada muito desenvolvida nessa regio, com destaque para a manga, uva e coco. J na regio do baixo So Francisco esto as superintendncias regionais de Aracaju (SE) (4 Superintendncia Regional) e Penedo (AL) (5 Superintendncia Regional). Devido s condies de topografia plana, baixa altitude e da abundncia de recursos hdricos, a regio desenvolveu fortemente a rizicultura e est desenvolvendo sua vocao na piscicultura em tanques escavados, produzindo tambaquis e tilpias para o mercado regional. Por fim, na regio do vale do rio Parnaba a CODEVASF atua por meio da superintendncia regional de Teresina (PI) (7 Superintendncia Regional). Nessa regio o foco est no manejo da regio semi-rida, a fim de revigorar fauna e flora e desenvolver a apicultura e a pecuria caprina como atividades econmicas sustentveis. 2. Caractersticas e Competitividade dos Vales do So Francisco e Parnaba

    O Vale do So Francisco ocupa uma rea de cerca de 640 mil km2, dos quais 36,8% situam-se em Minas Gerais, 0,7% em Gois e Distrito Federal, e os 62,5% restantes esto nos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. O Vale do Parnaba est inserido no nordeste brasileiro abrangendo rea total de cerca de 330 mil km, dos quais 75,73% esto no Piau, 19,02% no Maranho, 4,35% no Cear e o restante em rea litigiosa. Figura 1: Localizao do Vale do So Francisco e Parnaba. Fonte: CODEVASF (2007).

    A populao1 do Plo de Petrolina e Juazeiro2 de aproximadamente 570 mil habitantes, sendo que 68% vivem na zona urbana e 32% na zona rural. Da populao domiciliada, 86% tm acesso energia eltrica3, 57% gua encanada e 85% tm coleta de lixo.

    1 Censo Demogrfico, 2000.

    2 Devido grande extenso de rea que engloba os Vales do So Francisco e do Parnaba, a regio de Petrolina e Juazeiro foi

    utilizada como referncia para apresentao de caractersticas de competitividade. 3 IPEA, 2000

  • Tabela 1: Resumo dos dados scio-econmicos.

    Municpio UF Populao PIB per Capita (em R$ 1,00)

    Petrolina PE 218.538 5.668

    Lagoa Grande PE 19.137 5.936

    Santamaria da Boa Vista PE 36.914 5.043

    Oroc PE 10.825 6.279

    Juazeiro BA 174.567 4.347

    Sobradinho BA 21.325 13.337

    Casa Nova BA 55.730 2.382

    Cura BA 28.841 3.196

    Fonte: IBGE (2008).

    Quanto educao, a taxa de alfabetizao de 74%, a expectativa de vida de 65 anos e a mortalidade infantil de 4,9%. Na regio, cerca de 37 mil alunos esto no ensino mdio e 7.000 no ensino superior. O PIB do Plo de Petrolina e Juazeiro de cerca de R$ 3 bilhes, levando a um PIB per capita mdio anual de cerca de R$ 6.500,00.

    O Plo de Petrolina e Juazeiro est localizado na latitude 8 S, a uma altitude

    mdia de 365 metros. O clima o semi-rido, quente e seco, com precipitaes mensais de 44 mm concentradas no primeiro semestre, a insolao de 3.000 horas/ano com 300 dias de sol por ano. Dessa forma a temperatura mdia mensal de 26C, com umidade relativa do ar de 67% e evaporao mdia mensal de 7,5mm.

    Os solos do Plo so planos com pequenos declives, com no mnimo 90 cm

    de profundidade. No projeto Pontal, os solos podem ser Podzlicos ou Latossolos. No projeto Salitre, os solos tm perfis pouco desenvolvidos com o predomnio de Cambissolos e Vertisolos.

    Alguns solos da regio de Petrolina e Juazeiro tero que contar com a

    implantao de sistema de drenagem subterrnea, a fim de se evitar que haja encharcamento do solo em perodos de muita chuva, reduzindo os riscos com salinizao de solos irrigados em regies semi-midas e semi-ridas.

    A fruticultura no vale do So Francisco tem experimentado, nos ltimos anos,

    um vertiginoso crescimento. A rea plantada atinge cerca de 100 mil hectares, incluindo as reas privadas e os permetros da CODEVASF, tendo essa atividade apresentado, nos ltimos trs anos, um crescimento mdio de 9 mil hectares ao ano.

    Tabela 2: Perfil da produo frutcola no Plo de Petrolina e Juazeiro.

    CULTURA PERMANENTE

    CULTURA PERMANENTE

    PRODUO (toneladas)

    REA (hectares)

    Manga 224.000 13.256

    Banana 186.060 9.083

    Uva 51.560 4.363

    Coco-da-Baa 129.597 3.964

    Goiaba 77.660 3.788

  • Mamo 10.459 521

    Limo 793 101

    Maracuj 3.859 627

    Abacate 96 8

    Laranja 60 10

    Fonte: Valexport (2007) e IBGE (2008).

    Como referncia, o custo da terra na regio de Petrolina e Juazeiro varia conforme a localizao geogrfica, a qualidade (fertilidade natural) do solo e das condies do lote. Lotes com a terra nua, ou seja, sem investimentos em equipamentos de irrigao e sem culturas instaladas, variam entre R$ 1.000,00 e R$ 10.000,00 / ha. Tabela 3: Dados para Anlise de Investimento na Regio de Petrolina e Juazeiro

    Item Homem-dia (campo) Terra Nua gua*

    Valor R$ 20,00 Entre R$ 1.000,00 e R$

    10.000,00/ha. R$ 71,42/ha/ano mais R$

    0,055/m3

    Fonte: Elaborado pelo PENSA. *Estimativa. Preo da gua distinto em diferentes projetos.

    Entre as opes logsticas, destacam-se as rodovias, os portos martimos e

    aeroportos. Tambm h opo para transporte ferrovirio e hidrovirio. Para o transporte rodovirio, h rodovias permitindo boa capilaridade. O transporte hidrovirio possibilita o escoamento da produo de gros do oeste baiano at os portos de Petrolina e Juazeiro. A hidrovia liga mais de 1.300 km, desde Pirapora MG at Santa Maria da Boa Vista (PE). Como referncia, o rio So Francisco navegvel por mais 100 km jusante de Petrolina e Juazeiro. Tabela 4: Custo e distncia do transporte rodovirio partir do Plo de Petrolina e Juazeiro.

    Porto Salvador Fortaleza Recife Rio de Janeiro So Paulo

    Distncia (km) 511 878 721 1.928 2.241

    Frete R$/t Convencional 47 64 65 160 186

    Refrigerado 56 77 78 192 223

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    No caso do transporte martimo, os maiores portos da regio Nordeste esto localizados em Salvador, Fortaleza, Recife, So Luis e Natal. As distncias so mostradas na tabela a seguir. Tabela 5: Distncia do plo de Petrolina e Juazeiro aos principais portos nordestinos.

    Porto Salvador Pecm

    (Fortaleza) Recife So Luis Natal

    Distncia 570 km 900 km 715 km 1200 km 850 km

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    Uma opo a Ferrovia Centro Atlntica, que liga Petrolina ao Porto de Salvador (570 km). H o projeto (PPP) de ligao da Transnordestina a Juazeiro, o

  • que possibilitar o acesso aos portos das cidades de Macei, Recife, Joo Pessoa, Natal, Fortaleza e So Lus, o que descongestionaria o porto de Salvador (estimativa de construo em 1 ano depois de aprovado o projeto).

    O Aeroporto Internacional de Petrolina possui uma pista que possibilita a

    operao de praticamente qualquer avio cargueiro, e devido sua localizao geogrfica, permite vos diretos para os EUA e a EUROPA, barateando o frete. Possui estrutura pronta para receber 100 mil caixas de frutas com ambiente climatizado, entre outras estruturas que possibilitam a exportao de alimentos perecveis. 3. Casos de Empresas da Regio

    O objetivo deste tpico apresentar algumas empresas da regio, no intuito

    de mostrar casos de sucesso presentes nos Vales do So Francisco e Parnaba. Casos de empresas emblemticas da regio auxiliam na anlise da competitividade, mostrando a necessria orientao empresarial de pequenos, mdios e grandes produtores.

    Localizada prxima a Petrolina e a Juazeiro, a empresa Suemi Special Fruit

    um exemplo de produo de frutas e exportao. Tendo sido iniciada como uma empresa com 12 hectares de produo, hoje possui mais de 500 hectares de produo de frutas com exportao para diversos pases e utilizao dos certificados de varejistas europeus e fiscais do USDA. A empresa conta com uma tima estrutura de packing house, empregando diretamente mais de 1000 empregados, e utiliza sua prpria marca no mercado internacional. Seus diferenciais tm sido o controle de qualidade e a capacidade de gesto comercial internacional.

    A empresa Amacoco se instalou na regio de Petrolina com o objetivo de

    aproveitar a produo local de coco para gua de coco. Hoje, compra cocos de diversos produtores independentes em cerca de 800 hectares e tambm investiu em reas prprias de produo. O grande desafio dessa empresa tem sido a construo de uma rede de fornecimento estvel, j que tem um trabalho excelente de escoamento de produo e gesto de produtos. A gua de coco tem tido boa aceitao nos segmentos de isotnicos, alm de ter conseguido sucesso em reas de cadeias de servios de alimentao. A capacidade produtiva da unidade em Petrolina de cerca de 70 mil litros de gua de coco ao dia.

    A Agrovale uma usina de cana-de-acar para produo de acar, lcool e co-gerao de energia. Sua produo se d em cerca de 20 mil ha, com cerca de 1,5 milhes de toneladas de cana sendo modas por safra. O plantio totalmente irrigado, atingindo produtividades superiores a 110 toneladas por hectare. A produo no semi-rido brasileiro quebra paradigmas pela diferena de manejo em uma produo irrigada. A usina est instalada em um projeto da CODEVASF, denominado Touro, na cidade de Juazeiro na Bahia. Toda sua produo destinada ao abastecimento do prprio estado baiano.

    Uma organizao importante em termos de coordenao do setor a

    Valexport Associao dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do So Francisco. Atualmente, cerca de 50 produtores e

  • exportadores so associados da Valexport, o que representa cerca de 70% da produo e 80% da exportao da produo da regio. O escopo de aes da organizao se d sobre aes de interesse comum em comunicao nacional e internacional, qualidade e eficincia de processos nas cadeias produtivas existentes. Esse fator de suma importncia porque aumenta a possibilidade de aes coordenadas e de inteligncia de mercado.

    Uma das organizaes fundamentais para o desenvolvimento do semi-rido brasileiro a Embrapa Semi-rido. Criada em 1975, a Embrapa Semi-rido busca viabilizar solues tecnolgicas, competitivas e sustentveis, para o agronegcio da regio no semi-rido do pas, em benefcio da sociedade. Um dos projetos essenciais da Embrapa a diversificao de culturas necessria regio. Culturas como oliveiras, pssego, citros, cacau, pra entre diversas outras so testadas e adaptadas. A Embrapa hoje uma referncia na regio como centro de pesquisa e apoio para os produtores.

    Outro caso de empresa instalada no Vale do So Francisco, que chama a

    ateno pelo sucesso de mercado e projeo para a regio, a Vinibrasil. Idealizadora do projeto Nova Latitude, Nova Atitude a empresa tem, juntamente com outras vincolas da regio, ajudado a construir a marca do Vale do So Francisco. Originria de Portugal, a empresa testou e desenvolveu variedades na regio, em fazenda prpria com cerca de 200 hectares e projeo de crescimento. Algumas das marcas que o Brasil e o mundo tm conhecido e apreciado so o Rio Sol e a Adega do Brasil.

    Uma cooperativa que traz um exemplo emblemtico de insero do pequeno

    produtor no agronegcio a Pindorama, localizada na regio do Baixo So Francisco, na cidade de Coruripe (AL). O modelo idealizado por Berthlet, um franco-suo que em 1956 trouxe-o com a misso de assentar famlias em lotes no modelo de colonato, com a produo voltada para o sistema da cooperativa inserida exclusivamente na produo de acar e lcool, derivados de coco, maracuj e acerola, alm da pecuria leiteira. O modelo especial no sentido de permitir a incluso sustentvel de pequenos produtores, e notvel por conseguir isso com a cultura de cana-de-acar.

    Outro exemplo de insero do pequeno produtor rural no agronegcio o

    caso da parceria da Itacitrus, empresa privada produtora e distribuidora de limo no mercado interno e externo, com a CentralJai, Central de Associaes dos Produtores Rurais do Projeto Jaba. A CentralJai fez uma parceria com a empresa Itacitrus no ms de agosto de 2007, com o objetivo de expandir o mercado de seus associados, comercializando o limo no mercado externo, alm de aumentar sua participao no mercado interno. A partir de novembro de 2007 quase todo o limo da CentralJai do mercado interno e todo o limo do mercado externo passou a ser comercializado pela Itacitrus, que se tornou responsvel, dentro da CentralJai, pela Gerncia Comercial (venda para o mercado interno e externo), pela Gerncia de Suprimentos (compra da produo) e pela Gerncia de Qualidade (verifica padro do limo para exportao ou para venda interna).

  • 4. Anlise do Sistema Agroindustrial e Atratividade dos Vales do So Francisco e Parnaba para Cotonicultura Irrigada

    4.1. O Sistema Agroindustrial (SAG) do Algodo

    4.1.1. A Cultura do Algodo

    O algodo (Gossypium hirsutum L.) uma planta exigente quanto qualidade do solo. So desfavorveis para o seu cultivo as glebas acentuadamente cidas ou pobres em nutrientes, as excessivamente midas ou sujeitas a encharcamento e os solos rasos ou compactados. Com respeito s condies climticas, a maioria dos cultivares exige um suprimento de 750 a 900 mm de gua, bem distribudos no perodo, para um ciclo de aproximadamente 160 dias, a depender do desenvolvimento e produo das plantas (IAC). Com os cultivares de ciclo curto (100-120 dias) e mdio (130-150 dias) desenvolvidos pela Embrapa Algodo com vistas produo no semi-rido nordestino, a necessidade hdrica da cultura cai para a faixa que varia de 450 mm a 700 mm. O perodo de maior demanda hdrica se estende da florao frutificao, quando o stress hdrico pode ocasionar em redues de produtividade de at 50% (Embrapa Algodo, 2003).

    Durante todo o ciclo, necessita de dias predominantemente ensolarados, com

    temperaturas mdias entre 22 e 26C. Satisfeitas tais condies, a cultura tem sido realizada com sucesso em altitudes variando de 200 at 1000m. Nas altitudes maiores o ciclo pode ser alongado em 30 dias ou mais. A cultura apresenta uma elevada exigncia nutricional, que suprida no momento do plantio com o auxlio de adubaes. Apesar de existirem variedades resistentes seca, mais de 60% do cultivo do algodoeiro no mundo em regime de irrigao. Isto explicado pelos altos ganhos em produtividade que esse sistema propicia, principalmente a irrigao do algodoeiro mecanizado que, segundo a Emprapa Algodo (2003), pode triplicar quando comparada produtividade do cultivo em sequeiro.

    No pas, o cultivo irrigado de algodo comeou a ganhar fora no fim da dcada de 1990, sendo que os mtodos mais utilizados so o de irrigao por superfcie e por asperso, embora a irrigao localizada (gotejamento) ganhe cada vez mais espao.

    Existem dois tipos de algodo: o Herbceo e o Arbreo, que se diferenciam

    pelas exigncias edafo-climticas, taxa de produtividade (ton/h) e qualidade final da fibra. No Cerrado Brasileiro, por exemplo, predomina o cultivo do algodo herbceo. No Semi-rido nordestino predomina o cultivo de algodo arbreo, sendo a produtividade significativamente menor. Contudo, os cultivares arbreos apresentam maior resistncia seca, fibras mais longas e de melhor qualidade, possibilidade de produo de fibras coloridas naturalmente e possibilidade de produo orgnica.

    Alm de aumentar a produtividade, investimentos na reduo de custos esto

    na pauta dos principais cotonicultores. Uma das sadas o sistema de manejo adensado. A tcnica, j utilizada com sucesso no Paraguai, Argentina e Estados Unidos, reduz a entrelinha das fileiras de plantio de 90 para 45 centmetros e encurta

  • em mdia 30 dias o ciclo de produo, o que tambm torna vivel o cultivo da fibra na safrinha.

    4.1.2. Beneficiamento O principal direcionador da demanda por algodo a indstria txtil que, por

    sua vez, tem sua dinmica atrelada ao crescimento econmico e distribuio da renda. O algodo atende aproximadamente 60% da demanda industrial interna por fibras e filamentos. Quando computadas apenas as fibras e filamentos naturais, a sua fatia sobe para mais de 97%. O consumo de fibras e filamentos de polister o que mais se aproxima, com 22% do consumo pela indstria (ABRAFAS, 2008).

    De 140 a 170 dias aps o plantio (dependendo do cultivar) realizada a

    colheita, feito mecanicamente nos dias de hoje. O algodo deve ser colhido seco e o mais limpo possvel, no o deixando a cu aberto no campo por mais de 10 dias, para no prejudicar a qualidade da fibra.

    Aps colhido, o algodo encaminhado s unidades beneficiadoras onde so

    realizadas operaes mecnicas que visam separar a fibra do caroo (semente). Alm da pluma e das sementes, h certa quantidade de outros materiais denominados, no conjunto, de impurezas (areia, terra, restos de folhas, frutos pequenos, sementes de plantas daninhas etc), que recebem a denominao trivial de quebra. Ela representa, em mdia, a 5% do produto bruto. A

    Figura 2 apresenta o processo de beneficiamento do algodo.

    Figura 2: Processo de beneficiamento do algodo Fonte: Elaborado pelo PENSA

    O produto principal do beneficiamento a pluma do algodo. Aps separada do caroo, esta passa pelo processo de classificao. Esta classificao feita em laboratrios especficos com o auxlio de equipamentos de alta tecnologia.

    A classificao universal composta de cinco dgitos numricos, sendo o

    primeiro dgito: tipo; segundo dgito: cor; terceiro dgito: folha; quarto e quinto dgitos: cdigo universal de comprimento. Por exemplo, a classificao universal (obtida no certificado de classificao) 41237, significa algodo tipo 4, cor branca, folha 2 e comprimento 37 (CONAB).

    As operaes de AGF (aquisies do governo federal) obedecem a Instruo

    Normativa MAPA n. 63, de 05 de dezembro de 2002, onde so aceitos, exclusivamente, algodo de colorao Branca e Ligeiramente Creme (CONAB).

    Piranha

    FARDO

    Limpeza e Secagem Descaroamento

    Caroo

    Pluma

    Armazenamento e transporte

    Limpeza final, e prensagem

    (fardos 200 kg) Desmancha o fardo

  • Segundo Freire (2005 apud MAPA, 2007), os produtores nordestinos teriam condies de se beneficiar de importantes diferenciaes no seu produto, com a valorizao de: a) at 20% acima do algodo de referncia (tipo 6) quando produzido tipos bons, colhidos mo e sem contaminantes externos; b) at 30% sobre o algodo de referncia quando obtidos tipos de fibras longas e extralongas (34-36 e 36-38 mm), e fibras finas (3,4 a 4,0 mm) e resistentes (acima de 32 a 34 gf.tex-1); e c) at 100% sobre o valor de referncia para tipos coloridos naturalmente (orgnico) e/ou com certificado de conformidade social.

    4.1.3. Extrao do leo de Algodo Outro produto oriundo do cultivo do algodo, que ganha cada vez mais

    importncia econmica o caroo do algodo. Por ser um subproduto da cadeia produtiva do algodo, o caroo se torna uma matria-prima vivel para a produo de leo vegetal, que entre outras coisas pode ser utilizado para a produo de biodiesel, e sua torta e farelo servem ainda para a indstria de rao.

    A semente (caroo) de algodo, sem a fibra, apresenta, em mdia, a seguinte

    composio: 12,5% de lnter, 15,2% de leo bruto, 46,7% de torta (resduo da extrao do leo), 20,7% de casca e 4,9% de resduos, produzidos no processo industrial (Embrapa Algodo).

    No processamento de extrao do leo, obtm-se os subprodutos primrios,

    que so: o lnter, a casca e a amndoa; os secundrios, farinha integral, leo bruto, torta e farelo; os tercirios, leo refinado, borra, farinha desengordurada (Embrapa Algodo). A figura 3 sintetiza os sub-produtos do algodo:

  • Figura 3: Sub-produtos do SAG do algodo Fonte: Elaborado pelo PENSA

    Na indstria de extrao do leo, o descascador, separada a casca da

    amndoa. A amndoa contm o embrio (que origina nova planta) e at 40% de leo.

    A casca tem em mdia 8,7% de gua, 2,6% de cinza, 3,5% de protena bruta,

    mais de 45% de carboidratos e - somente - em torno de 1% de lipdeos. A casca tem de 3 a 8% de lnter e fibras com tamanho inferior a 3 mm. Ela altamente digestvel e pode ser usada pura ou misturada com outros produtos na composio de raes, no necessitando de moagem, tendo de 44 a 48% de fibra bruta. Pode ainda ser usada como adubo e combustvel.

    O leo obtido no processo de extrao de colorao escura, provocada por

    pigmentos que acompanham o gossipol. A presena dessa toxidade leva necessidade de se proceder ao refinamento do leo para eliminao atravs do calor, uma vez que os mesmos so termolbeis (substncia que se decompe no aquecimento) e durante o refino so destrudos.

    O lnter extrado por um processo chamado deslintamento. classificado

    conforme o nmero de cortes processados no deslintamento, onde tem-se: lnter de primeiro corte, de segundo corte e de terceiro corte. O de primeiro corte, que apresenta fibras mais longas, usado para a fabricao de algodo hidrfilo

    Produtos

    Extrao

    Produtos

    Beneficiamentos

    Casca

    Amndoa

    Lnter

    Torta e Farelo

    leo Cru

    Alimento

    Fertilizante

    Farelo Fibra

    Pasta Algodo Absorvente para uso medicinal

    Fios

    Feltro

    Furfurol

    ALGODO SEMENTE

    FIBRA

  • (absorvente) e tecidos cirrgicos. O lnter de segundo corte usado para a fabricao de celulose, bem como o lnter de terceiro corte. Em geral, pode-se obter 50 kg de lnter por tonelada de semente (Embrapa Algodo).

    4.1.4. Biodiesel do Caroo de Algodo O processo de produo do biodiesel simples e de pleno domnio pblico.

    Basicamente consiste em colocar em contato o leo vegetal ou sebo animal com um lcool em um catalisador para que ocorra o processo de transesterificao, no qual separado o leo combustvel da glicerina. A figura 4 mostra o fluxograma do processo produtivo do biodiesel.

    Figura 4: Processo de produo do biodiesel Fonte: Governo do Estado da Bahia

    O biodiesel surge como uma nova fonte remunerativa para a cultura do

    algodo. No entanto, comparativamente a outras culturas, o caroo de algodo ainda tem um baixo rendimento em leo (15,2%). Assim, o rendimento do biodiesel do caroo do algodo fica na ordem de 160 litros por tonelada de matria prima (caroo) (Parente, 2003).

    No entanto, estudos desenvolvidos pela Embrapa Meio-Norte tambm

    comprovaram que o caroo de algodo a matria prima com maior potencial para a produo de biodiesel, conforme informa o pesquisador e coordenador da pesquisa Jos Lopes Ribeiro. Conforme experimentos no Piau e Maranho, o caroo do algodo, em geral, tem um teor de leo que varia entre 18% e 20% e a produtividade mdia de 4,2 toneladas de algodo em caroo por hectare.

    Segundo Catarina Riodrigues Pezzo, coordenadora de projetos do Plo

    Nacional de Biocombustveis (PoloBio) da Universidade de So Paulo (USP), o biodiesel mais vivel e barato no Pas o do caroo do algodo. O que sai da

    Torta

    leo Bruto

    BIODIESEL

    Unidade de Extrao Mecnica de leo

    Glicerina

    Purificada

    Unidade Refino do leo

    Unidade de Produo de Biodiesel

    leo Refinado

    Matria-Prima:

    Oleaginosas

    Catalizador

    NaOH ou KOH

    Glicerina

    Glicerina

    lcool: metanol

    ou etanol

    Unidade de Produo de Biodiesel

  • Regio Nordeste custa R$ 0,81 o litro. Em seguida o de soja, produzido na Regio Centro-Oeste, a R$ 0,90 o litro.

    A anlise do PoloBio foi feita em julho de 2007 com base comparativa nas

    cinco regies do pas e suas principais matrias primas tpicas: Regio Sul, girassol e soja; Regio Centro-Oeste, cana, algodo, soja e girassol; Regio Sudeste, amendoim, soja e girassol; Nordeste, mamona, soja e caroo de algodo; e Norte, dend e soja.

    Uma pesquisa similar, realizada pelo Centro de Estudos em Logstica (CEL) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concluiu que o biodiesel do caroo de algodo apresenta os custos mais baixos quando comparado com as principais oleaginosas. O estudo estabeleceu cenrios com diferentes nveis de integrao dentro das cadeias, considerando os custos de matria-prima, de produo, logsticos e tributrios, alm da receita advinda da comercializao dos subprodutos (glicerina, torta e farelo) (Benzecry, 2008). mo ilustrado pela tabela 6. Tabela 6: Custos das cadeias (R$/L)

    Nvel de integrao Soja Algodo Amendoim Girassol Mamona Dend

    Sem verticalizao 1,717 1,446 2,492 1,806 2,654 2,464

    Integrao agricultura + esmagadora 1,717 1,442 2,490 1,799 2,645 2,464

    Integrao esmagadora + usina de biodiesel 1,487 0,882 2,050 1,593 1,891 1,457

    Integrao agricultura + esmagadora + usina de biodiesel 1,348 0,881 1,890 1,725 1,828 1,302

    Fonte: Benzecry, 2008

    Quando no h integrao na cadeia, a grande vantagem do biodiesel de algodo o preo do leo, cuja mdia, durante o perodo considerado por Benzercry (junho de 2006 a abril de 2007) foi de R$ 968,00, enquanto o leo de soja custou em mdia R$1.304,00. J no caso da produo totalmente integrada, a receita oriunda da venda da pluma resulta em uma grande vantagem para o algodo frente s demais cadeias.

    4.2. Atratividade dos Vales do So Francisco e Parnaba para o SAG do Biodiesel

    Com o andamento dos projetos de infra-estrutura promovidos pelo governo

    brasileiro, os Vales do So Francisco e Parnaba torna-se um potencial plo de desenvolvimento para diversas cadeias do agronegcio. A seguir esto expostos os motivos que tornam o Vale especialmente atraente para a cadeia da bioenergia.

    O trabalho da Codevasf nos Vales do So Francisco e Parnaba, enquanto

    programa de desenvolvimento sustentvel, vem a estimular a produo de biodiesel e/ou leos vegetais na regio, principalmente pelos investimentos em infra-estrutura de irrigao, fomento pesquisa com culturas agrcolas adequadas regio, e fortalecimento das organizaes sociais.

  • Os investimentos na regio do Vale do So Francisco contam com boas condies de financiamento, colocadas disposio pelo Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), Banco do Brasil e BNDES, tanto para o desenvolvimento da regio, quanto para o estabelecimento da cadeia de bioenergia, tornando estes investimentos ainda mais atraentes devido ao razovel custo de capital e perodos de pagamento e carncia estendidos.

    A regio dos Vales do So Francisco e Parnaba apresenta boa estrutura de

    escoamento da produo regional para o abastecimento, tanto do mercado interno, como externo. Em termos de mercado domstico, a regio tem condies de atender todo o Nordeste, que apresenta uma das mais altas taxas de crescimento nacional nos ltimos anos, e deficitrio em produo de biodiesel. Em termos de mercado internacional, a regio se encontra em uma posio privilegiada, dada sua maior proximidade dos mercados europeu e americano.

    Para o escoamento de uma eventual produo de biodiesel, os Vales do So

    Francisco e Parnaba conta com privilegiada estrutura hidroviria, que atravessa todo o Estado da Bahia desde o norte de Minas Gerais, conectando-se rede Ferroviria Central Atlntica (FCA), que liga Petrolina e Juazeiro s capitais Salvador e Belo Horizonte, alm de ser uma forma de contato com a regio Sudeste do pas. Alm disto, So Francisco do Conde uma base primria de distribuio que se comunica com Juazeiro via ferrovia, e alimenta outras duas bases de distribuio por meio de dutos.

    O mais importante que os Vales do So Francisco e Parnaba oferecem

    terra frtil em abundncia, incluindo a disponibilidade de reas de sequeiro anexas a todos os projetos irrigados, e boas caractersticas climticas para culturas oleaginosas. Para culturas com maior necessidade hdrica, est posta disposio uma boa infra-estrutura para a irrigao, com segurana de abastecimento de gua de boa qualidade e energia eltrica.

    As qualidades edafo-climticas inerentes da regio, incluindo os estmulos federais proporcionados produo do biodiesel pela integrao social (tributos, linhas especiais de financiamento, selos sociais), permitem somar um grande leque de vantagens para iniciar uma produo de alta escala de biodiesel na regio do VSF. Dessa forma, gera-se a oportunidade de criar, em terras brasileiras, uma nova fronteira agrcola de produo sem onerar a produo de alimentos no Brasil.

    O quadro 1 mostra as vantagens para a implementao de sistemas

    produtivos de biodiesel no VSF.

  • Quadro 1: Vantagens para a implementao de sistemas produtivos de biodiesel nos Vales do So Francisco e Parnaba

    MODELO DE NEGCIO

    Concesso das terras para a empresa

    produtora

    Menor necessidade de investimentos para inicio das atividades

    Menor imobilizao de capital em ativos fsicos

    Menores barreiras de sada

    Coordenao de produo pela empresa

    investidora

    Garantia de abastecimento e melhor planejamento de processos

    Integrao de produtores livres

    No existncia de vnculos e encargos trabalhistas para com os produtores rurais

    TRIBUTOS

    Tributao preferencial para produtores de

    biodiesel que se abastecem por meio de pequenos produtores

    familiares

    Reduo de 31% do PIS/Cofins para produo no semirido com mamona, palma e pinho manso

    Reduo de 68% do PIS/Cofins para produo com agricultura familiar

    Reduo de 100% do PIS/Cofins para ambas a produo no Nordeste com agricultura familiar usando mamona, dend ou pinho manso

    PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO

    Taxas preferenciais para a produo de biodiesel

    Financiamentos com custo = TJLP (6,25%) + 1 a 3% (Selo Combustvel Social) para empresas produtoras de biodiesel

    Taxas preferenciais para investimentos que

    desenvolvam a regio do Nordeste

    Financiamentos com custo de at 3,5% ao ano para o mini-produtor rural do semi-rido

    Financiamento com custo de at 7,5% ao ano para mdias empresas no semi-rido

    Financiamento com custo de at 8,63% ao ano para grandes empresas no semi-rido

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    5. Oportunidade de Investimento na Produo de Algodo nos Vales do So Francisco e Parnaba

    5.1. Introduo ao Negcio

    O modelo de negcio objetiva a produo competitiva de pluma de algodo assim como a viabilizao da produo de biodiesel a partir da utilizao do caroo do algodo. Para tanto, os relacionamentos entre os produtores da matria prima, as unidades beneficiadoras, as extratoras do leo do caroo e, finalmente, as indstrias de biodiesel devem ser fortalecidos.

    No modelo de integrao promovido pela CODEVASF, a empresa investidora, denominada ncora, recebe a concesso do direito real de uso da terra (CDRU) do Governo Federal por um perodo de 15 a 30 anos, devendo introduzir agricultores familiares que sero integrados ao negcio. Os agricultores so selecionados pela empresa ncora e cada um recebe um lote que d garantia a uma receita mensal mnima sustentvel.

  • 5.1.1. Sistema de Produo Agrcola As decises referentes ao sistema de produo e estrutura de governana

    para a obteno da pluma e do caroo de algodo irrigado cabem exclusivamente ao investidor, desde que contemplada a integrao mnima de 25% da rea. Nesta seo, apresenta-se uma opo que viabilize essa condio, sendo este o modelo utilizado para a simulao de viabilidade econmico-financeira.

    A cotonicultura empresarial brasileira notadamente intensiva e tecnificada.

    Praticamente todas suas operaes so mecanizadas e os patamares de produtividade que a caracterizam so alcanados por meio de um grande nmero de aplicaes fito-sanitrias. Alm de demandar grandes investimentos em mquinas e implementos agrcolas e de gerar altos custos com insumos, tal sistema de produo implica em margens reduzidas e, conseqentemente, exige ganhos em escala.

    Mesmo que o agricultor familiar seja apoiado por uma cooperativa, conte com

    o suporte tcnico e administrativo da empresa ncora e disponha de acesso a crdito, a combinao entre altos custos e baixo valor agregado tende a inviabilizar a transposio desse sistema para pequenas reas.

    Assim sendo, faz-se apropriada a adoo de um sistema de produo

    baseado em uso menos intensivo de tecnologia, de modo a reduzir os custos, porm sem comprometer o fornecimento de matria-prima aos elos que se encontram a montante da cadeia. Portanto, prope-se um modelo que integre dois sistemas de produo distintos: um intensivo para o(s) cotonicultor(es) empresariais e um semi-intensivo para os cotonicultores familiares.

    Este estudo no difere as variedades de algodo cultivadas pelos grandes e

    pequenos produtores. Contudo, vale observar que a produo de algodo orgnico e de algodo colorido nas reas de integrao so opes de diferenciao que permitem, por um lado, agregar valor produo do pequeno e, por outro, abrir para a empresa ncora o acesso a nichos de mercado cada vez mais importantes.

    5.2. Modelo de Negcio

    No caso do negcio do algodo, a estrutura da cadeia indica que a empresa

    ncora deva ser um grande produtor, pois alm de possuir o know-how agrcola, este costuma verticalizar a fase agrcola e o processo de beneficiamento. A empresa pode, igualmente, ser formada por meio de uma associao entre produtores. Neste caso, formar-se-ia uma Sociedade de Propsito Especfico, aqui chamada de SPE (1), para gesto do negcio da algodoeira.

    empresa ncora caberia assistir os integrados em termos de produo,

    beneficiamento e comercializao. O modelo prope ainda a formao de uma cooperativa de produtores familiares que ter o papel de intermediar os relacionamentos entre estes e a empresa ncora.

    Na fase de transformao, o caroo de algodo oriundo da algodoeira

    adquirido por uma segunda SPE (2), qual pertence tanto a unidade extratora de leo vegetal quanto a unidade produtora do biodiesel. Esta SPE teria como scio

  • majoritrio, uma trading ou cooperativa agroindustrial, e como scio minoritrio, um fundo de investimentos, podendo este ltimo obter um pacote especial de financiamento para investimentos e custeio. A figura 5 ilustra o modelo de negcio:

    Figura 5: Modelo de Negcio Panorama Fonte: Elaborado pelo PENSA

    5.2.1. Responsabilidades

    A melhor forma de integrao entre a empresa ncora e os demais produtores a de parceria agrcola. Sob este tipo de contrato, os cooperados devem seguir o planejamento agrcola da ncora; recebem assistncia tcnica; utilizam o servio de beneficiamento da algodoeira; e podem utilizar financiamento de banco diretamente ou por intermdio da empresa integradora.

    Em contrapartida, a SPE-1 beneficia todo o algodo em caroo e comercializa

    a totalidade dos produtos agrcolas, o que gera vantagens de escala para os pequenos produtores no momento negociao desses produtos junto s indstrias de transformao. A receita proveniente das vendas da pluma, da fibrilha e do caroo, repassada aos integrados, abatendo do pagamento os gastos incorridos na assistncia a estes, uma taxa pelo servio de descaroamento do algodo, e parcelas de eventuais financiamentos. Alm de ter a garantia de que contar com os servios de beneficiamento e assistncia da empresa, a parceria com a empresa ncora pode facilitar o financiamento da produo dos integrados.

    Sob contrato de fornecimento, a SPE-1 comercializa a totalidade do caroo

    produzido junto SPE-2, a qual vende o leo e/ou o biodiesel produzido no mercado spot ou por meio de contratos futuros ou leiles pblicos. Aqui, como forma de diviso de riscos e benefcios, faz-se interessante atrelar o preo do caroo ao preo do leo de algodo.

    Entre as vantagens deste modelo podemos citar: (i) benefcios de uma

    integrao vertical, sem incorrer nos custos de imobilizao de capital em terras; (ii)

    ALGODOEIRA Empresrios

    Associados ou individualmente

    Produtor A

    Produtor B

    Produtor n

    Cooperativa Indstria de

    Extrao

    Indstria de

    Biodiesel

    Tradings/ Cooperativas Centrais + Fundos

    Fiao Tecelagem

    Contrato de Parceria Agrcola Beneficiamento do Algodo e Originao

    do Caroo

    Contrato de Fornecimento

    (caroo de algodo)

    Contrato de Fornecimento

    (pluma, fibrilha)

    Contratos financeiros

    Financiamentos

    Contratos futuros, Leiles Pblicos ou Mercado Spot

    (venda leo ou biodiesel)

  • coordenao das atividades agrcolas, com benefcio mtuo entre os agentes envolvidos; (iii) estmulo ao empreendedorismo dos agricultores familiares; (iv) produo de biodiesel em terras e com matrias primas que no competem com a produo de alimentos; e (v) sustentabilidade da produo, com o posicionamento da empresa frente a sua responsabilidade social e ambiental. Dessa maneira, as funes de cada um dos agentes detalhada no quadro 2. Quadro 2: Funes dos agentes

    Cooperativa Pequenos Produtores

    ncora Agrcola

    Extratora + Usina de Biodiesel

    Agente Financeiro

    - Integrados sob contrato de parceria com a ncora. - Consolida equipamentos e mo-de-obra dos produtores integrados. - Com o tempo, realiza atividades de compra e distribuio de insumos e assistncia tcnica ao produtor. - Gerencia atividades de plantio, tratos culturais e colheita. - Segue planejamento agrcola da ncora. - Possvel participao minoritria na algodoeira e lucros.

    - Recebe concesso de terras (CDRU). - Divide terra em lotes familiares e realiza a distribuio entre as famlias selecionadas. - Define o planejamento agrcola. - Realiza produo prpria. - Orienta formao da cooperativa. - Presta servio de assistncia tcnica ao produtor. - Pode auxiliar na compra de insumos e avalizar o financiamento agrcola. - Adquire e gerencia sistema de irrigao. - Beneficia e comercializa o algodo do integrado, repassando a receita j descontado os custos dos servios. - Fornece o caroo para indstria de leo e biodiesel.

    - Contrato de fornecimento de caroo com a ncora, sendo o preo fixado no valor do leo. - Fabricao de leo e/ou biodiesel. - Comercializao por meio de contratos futuros, leiles pblicos ou mercado spot (venda leo ou biodiesel)

    - Captao de recursos para financiar atividade agrcola (formao e custeio). - Financiamento de implantao das indstrias de processamento do leo vegetal e produo de Biodiesel. - Financiamento de sistemas de irrigao. - Possvel participao minoritria nas SPEs (algodeira/ extratora/usina de biodiesel) e lucros.

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    5.3. Anlises para a Viabilidade Econmica

    Esta seo apresenta os resultados econmicos e financeiros de uma simulao para a implantao do modelo de negcio proposto no Projeto Pontal, um permetro de irrigao da CODEVASF, localizado na cidade de Petrolina-PE, de aproximadamente 8.000 hectares de rea irrigvel. importante ressaltar que se trata de uma simulao e que os resultados aqui apresentados no so garantidos por nenhuma das partes envolvidas em sua elaborao.

  • 5.3.1. Premissas Utilizadas Antes de detalhar os resultados da simulao, vale pena destacar as

    premissas adotadas no estudo em termos de rea do projeto, produtividade e rendimentos, diferenciando os sistemas: empresarial e familiar.

    Com base em entrevistas com produtores de algodo irrigado da regio de

    Oeste da Bahia, dados da Embrapa Algodo e fornecedores de materiais de irrigao, conclui-se que as caractersticas edafoclimticas do Vale do So Francisco em conjunto com a utilizao de tecnologias modernas de cultivo, tornam perfeitamente plausveis produtividades que girem em torno de 400 @/ha de algodo em caroo para a cotonicultura empresarial e 200 @/ha para o sistema familiar.

    Para a necessria rotao de cultura, optou-se pela utilizao do milho

    safrinha. Alm de auxiliar no combate s pragas, essa opo uma alternativa de renda ao produtor para o perodo de entressafra do algodo, utilizando a mesma terra.

    Tambm foi considerado a necessria utilizao de culturas mais rsticas e

    de menor risco nos 3 primeiros anos de cultivo para o que se costumar chamar de abertura de rea agrcola. Por ser uma cultura exigente e de alto custo, torna-se invivel plantar algodo nos primeiros anos de produo em novas reas agrcolas. Em regies de cerrado, como no Oeste da Bahia, comum utilizar soja no primeiro ano, milho no segundo e terceiro, e algodo apenas no quarto ano. Tomando como base as informaes obtidas sobre os solos do Projeto Pontal, a abertura das reas do Vale do So Francisco para o plantio de algodo seguiria, provavelmente, o mesmo padro utilizado nos cerrados.

    As tabelas 7 e 8 trazem as premissas de produtividade e produo em funo

    da rea, adotadas no presente estudo. Os patamares de produtividade apresentados se referem utilizao da irrigao por gotejamento. Trata-se da tecnologia que permite os melhores ganhos de produtividade e o uso mais racional dos recursos hdricos. Alguns pases j utilizam a irrigao por gotejamento para o plantio comercial de algodo com sucesso. No Brasil, a Netafim tem obtido timos resultados em experimentos realizados com produtores da regio oeste da Bahia e do Mato Grosso. Nas reas familiares, os tubos gotejadores ficam na superfcie e devem ser recolhidos manualmente ou atravs de equipamento especializado antes de cada colheita. J nas reas empresariais, os tubos gotejadores devem ser enterrados, como acontece na cultura da cana-de-acar.

    Tabela 7: Algodo - Produtividade e Produo Agrcola

    ncora 1 hectare

    Total hectares

    6.000,00

    ton/ha @/ha Tons @

    Algodo em Pluma 2,28 152,00 13.680,00 912.000,00

    Caroo 3,18 212,00 19.080,00 1.272.000,00

    Algodo em Caroo 6,00 400,00 36.000,00 2.400.000,00

    Cooperativa 1 hectare Total

    hectares 2.000,00

  • ton/ha @/ha Tons @

    Algodo em Pluma 1,14 76,00 2.280,00 152.000,00

    Caroo 1,59 106,00 3.180,00 212.000,00

    Algodo em Caroo 3,00 200,00 6.000,00 400.000,00

    Produo Total Produtividade Mdia

    Total hectares

    8.000,00

    ton/ha @/ha Tons @

    Algodo em Pluma 2,00 133,00 15.960,00 1.064.000,00

    Caroo 2,78 185,50 22.260,00 1.484.000,00

    Algodo em Caroo 5,25 350,00 42.000,00 2.800.000,00

    Fonte: elaborado pelo PENSA com base em entrevistas com agricultores do Oeste da Bahia; Netafim e Embraba Algodo. No caso do milho safrinha, os recursos tecnolgicos do agricultor empresarial e do agricultor familiar, desde que auxiliado pela cooperativa e pela ncora, permitem os mesmos resultados de produtividade. Tabela 8: Milho Safrinha Produtividade e Produo Agrcola

    Fator Sacas de 60 kg Toneladas

    Produtividade (ha) 78 4,70

    Produo Total 2.256 37.600

    Fonte: elaborado pelo PENSA

    Quanto aos rendimentos industriais utilizado nesta simulao, foram obtidos dados junto Unidade de Produtos de Algodo da Aboissa leos Vegetais, bem como em entrevistas com profissionais que atuam nas diversas reas de beneficiamento e transformao dos produtos de algodo. Estas premissas so apresentadas na tabela 9.

  • Tabela 9: Algodo Rendimentos Industriais Composio do Algodo em Caroo

    Rendimento Pluma 38%

    Rendimento de Caroo 53%

    Impurezas "Quebra" 6,5%

    Fibrilha 2,5%

    Composio do Caroo de Algodo

    Rendimento em leo do Caroo 15,2%

    Residual de lnter 12,5%

    Rendimento em lnter 7%

    Rendimento em torta 46,7%

    Rendimento em casca 20,7%

    Rendimento em resduos 4,9%

    Rendimento do leo

    Densidade do Biodiesel (Kg/L) 0,88

    Taxa de convero leo / biodiesel 98%

    Fonte: elaborado pelo PENSA com base na Unidade de Produtos de Algodo da Abiossa e em entrevistas com profissionais de algodoeiras, unidades extratoras de leo e usinas de biodiesel.

    A tabela 10 traz os preos dos produtos utilizados no estudo. Todos estes representam mdias histricas das cotaes nas praas mais prximas ao Vale do So Francisco. O preo atribudo ao algodo em pluma foi obtido junto Secretaria da Agricultura, Irrigao e Reforma Agrria da Bahia (Seagri) e se refere mdia das cotaes semanais de janeiro de 2006 a dezembro de 2008 na cidade de Barreiras (BA). O preo do biodiesel representa a mdia dos preos mdios alcanados nos onze primeiros leiles realizados pela ANP. Os valores atribudos aos demais produtos foram obtidos atravs do clculo da mdia das indicaes mensais de mercado de setembro de 2006 a julho de 2008, fornecidos pela Aboissa leo Vegetal. Tabela 10: Fatores de Receita

    Produto Unidade Preo

    Pluma @ R$ 39,97

    Caroo Tonelada R$ 292,65

    Fibrilha @ R$ 15,83

    Torta Tonelada R$ 521,74

    leo bruto Tonelada R$ 1.329,96

    Lnter de 1o corte Tonelada R$ 904,84

    Glicerina bruta Tonelada R$ 141,67

    Biodiesel Litro R$ 2,13

    Fonte: Elaborado pelo PENSA com base em Seagri, Aboissa e ANP.

    5.3.2. Investimentos e Custos Operacionais

    O principal investimento on farm a aquisio do sistema de irrigao por gotejamento, estimado em R$ 6.800,00 por hectare, segundo levantamento junto Netafim. O outro investimento considerado nos estudos o de abertura da rea agrcola com culturas menos exigentes, tcnica necessria para o plantio de algodo

  • em reas nunca antes cultivadas. Para o primeiro ano de abertura, a soja foi a cultura utilizada, demandando um investimento estimado de R$ 1.571,47 por hectare.

    Em relao aos custos de produo, a base para os clculos de custos da

    diviso agrcola da empresa ncora foi o Anurio da Agricultura Brasileira (Agrianual, 2008), publicado pelo Instituto FNP, referente produo de algodo irrigado (ciclo de 160 dias) por piv central no estado da Bahia. Ento, os dados foram ajustados conforme os experimentos da Netafim para as condies de irrigao por gotejamento e os preos dos insumos foram atualizados aps entrevistas com produtores do Oeste da Bahia. Para o levantamento dos custos operacionais para o cotonicultor integrado, as operaes foram baseadas no levantamento realizado pela Embrapa Agropecuria Oeste para a safra de 2008/2009 em Itaquira (MS), onde predomina a produo por pequenos produtores e as operaes mecanizadas so terceirizadas (RICHETTI, 2008). A tabela 11 desmembra os custos agrcolas por hectare para a empresa ncora e para o produtor integrado. Tabela 11: Custo Operacionais Agrcolas

    Algodo Milho

    safrinha

    Operaes / Atividades ncora Integrado Todos

    A.1. Conservao do solo R$ - R$ - R$ 15,08

    A.2. Preparo do solo R$ 124,01 R$ 165,00 R$ -

    A.3. Plantio R$ 72,23 R$ 145,77 R$ 75,76

    A.4. Tratos culturais R$ 505,41 R$ 248,10 R$ 56,09

    A.5. Colheita R$ 411,70 R$ 480,00 R$ 80,64

    A.6. Irrigao R$ 442,45 R$ 442,45 R$ 442,45

    B.1. Fertilizantes/Corretivos R$ 1.524,29 R$ 418,50 R$ 411,60

    B.2. Sementes R$ 97,30 R$ 91,77 R$ 169,00

    B.3. Defensivos agrcolas R$ 1.448,45 R$ 175,00 R$ 105,88

    B.4. Outros insumos utilizados R$ - R$ - R$ -

    C Administrao R$ 68,28 R$ 52,14 R$ 89,29 D - Ps colheita R$ 884,00 R$ 442,00 R$ 181,37

    Custo Operacional (R$/ha) R$ 5.578,13 R$ 2.660,73 R$ 1.627,16

    Custo Operacional (R$/@ de algodo pluma e sc de milho)

    R$ 36,70 R$ 35,01 R$ 20,77

    Fonte: Elaborado pelo PENSA com base em Agrianual, Embrapa Agropecuria Oeste e entrevistas com produtores do Oeste da Bahia. As necessidades de investimentos foram levantadas junto s principais indstrias de bens de capital, dentro de seus respectivos setores, e tendo em vista suas capacidades produtivas. So estes investimentos: (a) algodoeira Busa de 30 fardos/hora (R$ 5,3 milhes); (b) Extratora TecBio de 100 toneladas/dia e deslintamento (R$ 6,7 milhes); e (c) Usina de biodiesel TecBio de 10 toneladas/dia (R$ 2,6 milhes). Os custos operacionais de cada uma dessas divises esto representados na tabela 12. Tabela 12: Custos operacionais das divises industriais Etapa Unidade Valor

    Descaroadora* Fardo R$ 4,00

    Extratora Tonelada de caroo R$ 19,52

  • Usina de biodiesel Litro de biodiesel R$ 0,30

    Fonte: Elaborado pelo PENSA com dados de Busa e Tecbio. *Inclui frete.

    5.3.3. Resultados Econmico-Financeiros

    A seguir so apresentados os resultados financeiros para os agentes envolvidos nos diferentes negcios aqui analisados: produo agrcola, beneficiamento do algodo, extrao do leo bruto e produo de biodiesel. Inicialmente estes so analisados individualmente e, em seguida, de maneira integrada.

    Para a produo de algodo nos 8.000 hectares do Projeto Pontal, simulou-se a integrao de 100 agricultores familiares a serem instalados em 25% da rea, enquanto o restante da produo ficaria sob controle da empresa ncora (aqui representada por um nico grande produtor). Dessa forma, cada uma dessas 100 famlias cultivaria 20 ha e o grande produtor produziria em 6.000 ha. A tabela 13 traz as simulaes de TIR (Taxa Interna de Retorno) e VPL (Valor Presente Lquido) para um nico agricultor familiar e para o grande produtor. Para o primeiro, a simulao considera o financiamento de todo o investimento junto ao Banco do Nordeste a uma taxa de 3,19% ao ano. J o grande produtor financiaria metade de seus investimentos em implantao da cultura e irrigao, tambm no Banco do Nordeste, mas a uma taxa de 4,20% ao ano. Em ambos os casos h carncia de quatro anos e prazo de pagamento de 12 anos. Tabela 13: Negcio agrcola Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Pequeno produtor 0,25%

    R$ 164.904,50 14% R$ 18.346,70

    Grande produtor 75%

    R$ 57.290.449,54 13,6% R$ 4.999.284,94

    Fonte: Elaborado pelo PENSA. Para o produtor integrado, faz-se interessante, tambm, analisar a renda mdia obtida. Os resultados mostram renda mdia anual em valores nominais de R$ 12.372,56.

    O grfico 1 traz as receitas versus os custos para a produo agrcola da empresa ncora. Aps o primeiro ano de investimentos (ano 0), as primeiras receitas so aquelas oriundas das vendas dos produtos das culturas de abertura de rea (soja e milho). Nos anos 1 e 2, as vendas de soja respondem pela maior parte da recita. medida em que a rea de soja substituda pela cultura de milho, este ganha em importncia, passando a ter maior peso que a primeira nas receitas j no ano 3, ano em que a receita da venda de pluma j passa a ser a de maior relevncia. A partir do ano 6 j no h mais o cultivo de soja e as receitas oriundas do milho safrinha e dos produtos de algodo se estabilizam.

  • Grfico 1: Produo de algodo - receita x custo (R$) Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    O negcio da algodoeira aqui considerado sob controle apenas do grande produtor. Assim como no caso da produo agrcola, os investimentos necessrios para este negcio so 50% financiados, aqui com taxa de 4,71% ao ano e os mesmos perodos de carncia e pagamento. Tabela 14: Negcio algodoeira Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Grande produtor 100% R$ 5.350.000,00 13% R$ 1.543.545,58

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    Alm de altos custos de processamento (45% da distribuio dos resultados anuais) frente receita proveniente do servio de descaroamento (53%), o negcio a algodoeira marcado por um grande investimento inicial. Como os primeiros trs anos so dedicados abertura e formao da rea agrcola, este investimento se d no ano 2 da simulao. O fluxo de caixa estabiliza-se acima de R$ 880.000 aps o ano 7 (grfico 2).

    $0

    $5.000.000

    $10.000.000

    $15.000.000

    $20.000.000

    $25.000.000

    $30.000.000

    $35.000.000

    $40.000.000

    Ano 0 Ano 3 Ano 6 Ano 9 Ano 12 Ano 15 Ano 18 Ano 21 Ano 24

    Pluma Fibrilha

    Caroo Soja

    Milho Custos com Insumos

    Custos com operaes e servios

  • Grfico 2: Algodoeira fluxo de caixa (R$) Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    O modelo, portanto, integra a produo agrcola do grande produtor (75%) e o negcio de beneficiamento do algodo. Assim sendo, esse produtor passa a beneficiar todo seu algodo a preo de custo. Por outro lado, a algodoeira, agora de sua propriedade, passa a contar apenas com a receita do processamento do algodo dos pequenos produtores (25%). Os resultados dessa integrao esto apresentados na tabela 15.

    Tabela 15: Negcio integrado

    Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Grande produtor 100% R$ 62.640.449,54 10,5% R$ 6.492.431,06

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    Como j foi visto na descrio do modelo de negcio, nas etapas de extrao de leo e produo de biodiesel temos dois novos agentes: uma cooperativa ou trading e um fundo de investimento. Tambm estas duas etapas so financiadas nos mesmos moldes da algodoeira: 50% do valor do financiamento, a 4,71% ao ano, carncia de quatro anos e prazo de pagamento de 12 anos. A tabela 16 ilustra os resultados dessas etapas.

    - R$ 6.000.000,00

    - R$ 5.000.000,00

    - R$ 4.000.000,00

    - R$ 3.000.000,00

    - R$ 2.000.000,00

    - R$ 1.000.000,00

    R$ 0,00

    R$ 1.000.000,00

    R$ 2.000.000,00

    Ano 0 Ano 3 Ano 6 Ano 9 Ano 12 Ano 15 Ano 18 Ano 21 Ano 24

    Fluxo de Caixa Algodoeira

  • Tabela 16: Negcio extratora Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Cooperativas/ tradings 51%

    R$ 3.410.421,00 36,9% R$ 8.100.049,09

    Fundos de investimento 49%

    R$ 3.276.679,00 36,9% R$ 7.782.400,11

    Fonte: Elaborado pelo PENSA. A extrao de leo de caroo de algodo mostra-se extremamente atrativa devido, sobretudo, recente valorizao do leo e da torta de algodo e, em menor grau, do lnter. Dessa forma, mesmo com os elevados preos do caroo de algodo, a extratora se mantm um negcio bastante atrativo. O grfico 3 traz as receitas versus os custos da extrao de leo de algodo.

    Grfico 3: Extrao de leo d;e caroo de algodo receita x custo (R$) Fonte: Elaborado pelo PENSA. Assim como a extratora, a usina de biodiesel apresenta uma elevada taxa interna de retorno (TIR). Sua estrutura segue a da extratora de leo, com os mesmos agentes e condies de financiamento (tabela 17). Tabela 17: Negcio usina de biodiesel

    Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Cooperativas/ tradings 51%

    R$ 2.638.716,63 28,9% R$ 4.152.625,68

    Fundos de investimento 49%

    R$ 2.535.237,55 28,9% R$ 3.989.777,62

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    $0

    $1.000.000

    $2.000.000

    $3.000.000

    $4.000.000

    $5.000.000

    $6.000.000

    $7.000.000

    Ano 0 Ano 3 Ano 6 Ano 9 Ano 12 Ano 15 Ano 18 Ano 21 Ano 24

    leo Torta Lnter Processamento (Extrao) Compra do caroo

  • Alm da recuperao do preo do biodiesel, o baixo investimento na planta

    industrial explica esse bom desempenho. O grfico 4 compara os investimentos necessrios em cada um dos negcios analisados.

    Grfico 4: Composio dos investimentos (R$) Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    A anlise dos negcios de extrao de leo e de produo de biodiesel analisada de forma integrada na tabela 18. Tabela 18: Negcio integrado

    Agentes Participao Investimento TIR VPL

    Cooperativas/tradings 51%

    R$ 2.638.716,63 26,4% R$ 7.876.178,20

    Fundos de investimento 49%

    R$ 2.535.237,55 26,4% R$ 7.567.308,46

    Fonte: Elaborado pelo PENSA.

    6. Concluso Para a realizao de um investimento em conformidade com o modelo PINS

    nas reas dos Vales do So Francisco e Parnaba, a primeira etapa o contato direto com a CODEVASF para a manifestao do interesse. A entidade, a partir de ento, oferecer orientaes e suporte para o direcionamento das etapas necessrias a consolidao do empreendimento. Estas etapas obrigatoriamente passaro por:

    -

    2.000.000,00

    4.000.000,00

    6.000.000,00

    8.000.000,00

    10.000.000,00

    12.000.000,00

    14.000.000,00

    16.000.000,00

    Extratora Usina de Biodiesel Algodoeira Sistemas Irrigao 2 mil ha

  • 1. Customizao do plano de negcio para a empresa: nesta fase onde o modelo de viabilidade econmica - financeira desenvolvido para o projeto adaptado de acordo com parmetros, condies e cenrios que o potencial investidor julgar pertinente.

    2. Negociao de um pacote especial de financiamento: nesta fase realizado uma anlise detalhada com o Banco do Nordeste (BNB), Banco do Brasil (BB), BNDES e Pronaf (MDA) para produtores familiares e para a empresa ncora de acordo com o plano de negcio elaborado.

    3. Definio de reas disponveis nos Permetros Pblicos de Irrigao (PPIs) e/ou concesso do direito de uso da terra em novos PPIs: delimitao das reas onde poderia ser implementado o empreendimento.

    4. Introduo do modelo de integrao: so acordadas as condies de integrao dos cooperados, bem como participao em porcentagem e responsabilidades de cada uma das partes na relao ncora-cooperado.

    5. Contato com os fornecedores de insumos, mquinas, equipamentos e instalaes: confirmao do oramento e das negociaes para o incio das obras. A CODEVASF pode auxiliar com informaes a respeito de condies business-to-business.

    6. Definio do cronograma de investimentos: importante etapa destinada coordenao das aes at a maturao do investimento.

    7. Seleo das famlias a serem integradas na produo: dever seguir os critrios da empresa ncora e ter o auxlio da CODEVASF.

    8. Definio dos modelos de contratos e pagamentos: previamente a todo investimento, ser estabelecido o contrato de compra da produo dos cooperados, da frmula para reajuste dos preos da fibra, do caroo e outros sub-produtos, do contrato futuro de venda para o Canal de Distribuio e demais ajustes contratuais.

    9. Coordenao e execuo do investimento: direcionado para a abertura de rea (com soja e milho) e realizao dos primeiros plantios (algodo e milho safrinha) e na construo das plantas de extrao e produo do biodiesel.

    Assim, para os investidores interessados, recomenda-se fortemente o contato

    com os agentes pblicos e privados envolvidos com o desenvolvimento dos Vales do So Francisco e Parnaba. Alm do mais, uma visita na regio ser extremamente elucidativa.

  • Referncias ABIODIESEL, Associao Brasileira da Indstria do Biodiesel. Disponvel em: . Acesso em: 13 mar. 2008. ANP, Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis. Disponvel em:. Acesso em 02 dez. 2008. BENZECRY, M. Mercado de Biodiesel: Atratividade e Perspectiva. In: Planejamento Estratgico Tecnolgico e Logstico para o Programa Nacional de Biodiesel.Salvador: 25 de maro de 2008. CEPEA, Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada. Anlise de Custos e de Tributos nas Cinco Regies do Brasil Suporte Tomada de Deciso e Formulao de Polticas. Maio de 2006. Disponvel em: . Acesso em: 21 mar. 2008. CEPEA, Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada. Agromensal Esalq / BM&F. Informaes de Mercado. Agosto de 2008. Disponvel em: . Acesso em: 03 out. 2008.

    CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento (2008). Conjuntura Semanal: Algodo. Disponvel em: . Acesso em: 28 set. 2008. EMBRAPA ALGODO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria. Cultivo do Algodo Irrigado. In: Sistemas de Produo, 2003. Disponvel em : . Acesso em : 21 mar 2008. MAPA, Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Disponvel em: . Acesso em: 02 dez. 2008. PROBIODIESEL, Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel (2007). Braslia: Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 24 abr. 2008. Revista Biodiesel (2008). Ribeiro Preto: Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 30 jun. 2008. Revista Biodiesel BR (2008). Curitiba: Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 30 jun. 2008. RICHETTI, A. Estimativa de custo de produo de algodo, safra 2008/2009, para Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Dourados: Embrapa Agropecuria Oeste, 2008. 13 p. (Embrapa Agropecuria Oeste. Comunicado tcnico, 149). Disponvel em: . Acesso em: 03 mar. 2009.