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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV TURMA B01 Profa. Ms. Carolina Chaves Soares Email: [email protected]

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE DIREITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV TURMA B01

Profa. Ms. Carolina Chaves Soares

Email: [email protected]

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PLANO DE ENSINO 2018-2

UNIDADE ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

COORDENAÇÃO DIREITO

DISCIPLINA DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV

CÓDIGO JUR 3314 CRÉDITOS 04

TURMA B01 2ª e 5ª, 13:30 – 15:00

PROFESSORA CAROLINA CHAVES SOARES

[email protected]

I. EMENTA

Processo Principal. Processo Cautelar. Poder Geral da Cautela. Medidas Cautelares

Nominadas e Inominadas. Procedimento da Ação Cautelar. Extinção da Medida Cautelar.

Reparação do Dano. Feitos de Procedimento Especial. Consignação em Pagamento. Ação

de Depósito de Contas. Ações Possessórias. Divisão e Demarcação de Terras. Ação de

Usucapião. Inventário e Partilha. Ação Monitória. Alienações Judiciais. Separação

Consensual. Curatela dos Interditos e Tutela dos Órfãos. Do processo nos Juizados

Especiais Cíveis. Procedimentos Especiais de Jurisdição voluntária.

II. OBJETIVO GERAL

Estudar a tutela provisória, como instrumento de efetividade processual, bem como

analisar as principais ações de procedimentos especiais, inclusive o procedimento dos

juizados especiais.

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Conceituar a tutela provisória e identificar suas características principais, bem como os

requisitos para a sua concessão.

- Comparar as tutelas de urgência e de evidência.

- Analisar os principais procedimentos especiais de jurisdição contenciosa e as linhas

gerais da jurisdição voluntária.

- Estudar os processos de conhecimento e de execução perante os juizados especiais

cíveis.

IV. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE I. DA TUTELA PROVISÓRIA

UNIDADE II. DA TUTELA DE URGÊNCIA

UNIDADE III. DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

UNIDADE IV. DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

UNIDADE V. DO PROCESSO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

UNIDADE VI. DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

UNIDADE VII. DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS

UNIDADE VIII. DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

UNIDADE IX. DA AÇÃO MONITÓRIA

UNIDADE X. DA OPOSIÇÃO

UNIDADE XI. DA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

UNIDADE XII. DA AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES

UNIDADE XIII. DA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE

UNIDADE XIV. DA HABILITAÇÃO

UNIDADE XV. DA HOMOLOGAÇÃO DE PENHOR LEGAL

UNIDADE XVI. DA RESTAURAÇÃO DE AUTOS

UNIDADE XVII. DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

UNIDADE XVIII - OUTROS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

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V. ATIVIDADE EXTERNA DA DISCIPLINA (AED)

Descrição da AED: participação no evento “30 anos da Constituição Federal” ou no IV

Congresso de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás ou em evento que tenha o direito

processual civil como objeto.

Cronograma:

- O evento “30 anos da Constituição Federal” acontecerá no dia 05 de outubro de 2018, a

partir das 8h. A forma de inscrição ainda será divulgada pela instituição.

- O IV Congresso de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás acontecerá entre 16 e 20 de

outubro de 2018. As inscrições são feitas no site da instituição.

Forma de Registro: A comprovação de participação em um dos eventos deve ser feita

até o dia 29 de novembro de 2018, mediante a apresentação do certificado.

Critério de Avaliação:

Serão atribuídas oito frequências ao aluno que apresentar a cópia do certificado de

participação no evento.

Na impressão do certificado, deve-se ter o cuidado para que apareça o código de

validação.

ATENÇÃO: o aluno que não apresentar o certificado terá 8 faltas acrescentadas.

VI. MATERIAL DE APOIO

Facebook: Direito em Cartaz.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. Salvador:

Juspodium, 2016.

Roteiro de aulas da disciplina, elaborado pela professora.

Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br

VII. METODOLOGIA

As atividades serão desenvolvidas mediante os seguintes procedimentos de ensino: aula

expositiva e dialogada; perguntas/ problematizações; estudos escritos; atendimento a

alunos; estudo de caso e pesquisa bibliográfica com resposta a questionário.

VIII. AVALIAÇÃO

N1:

- A 1ª N1 será aplicada em 03/09/18.

- A 2ª N1 será aplicada em 04/10/18.

- A N1 vale 10 pontos e tem peso 4.

N2:

- A 1ª N2 será aplicada em 05/11/18.

- A 2ª N2 será aplicada em 10/12/18.

- A N2 vale 10 pontos e tem peso 6.

- 1 ponto da média de N2 refere-se à nota da avaliação interdisciplinar.

Regras comuns às avaliações:

- A média para aprovação é 6,0 (seis).

- As avaliações serão feitas por múltiplos instrumentos, podendo conter questões

objetivas, discursivas e estudos de caso.

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- Tratando-se de prova sem consulta, será atribuída nota zero ao aluno que conversar,

consultar material ou portar qualquer aparelho eletrônico durante a avaliação.

- Eventual reclamação quanto à correção da prova deverá ser feita no dia da devolução

da atividade, que é sempre o 1º dia de aula após a sua realização.

- As datas acima previstas poderão ser alteradas em caso de imprevistos no calendário

acadêmico.

- O profissional do Direito precisa entender a sociedade na qual está inserido, devendo

estar informado sobre o que acontece em âmbito nacional e internacional. Assim, em

todas as avaliações haverá uma questão extra sobre atualidades/ conhecimentos

gerais.

- Essa professora somente aplica as avaliações descritas nesse plano de ensino (não há

trabalhos extras, prova de repescagem, etc.), devendo o aluno alcançar a média mínima

de 6,0 com essas atividades (a média não é 5,9 ou 5,95).

Prova substitutiva:

- Nos casos de deferimento de avaliação substitutiva, via processo administrativo, será

aplicada uma única avaliação para a N1, no dia 08/10/18, e outra para a N2, no dia

13/12/18. A prova conterá apenas questões discursivas e abordará todo o conteúdo dado

até o dia de sua realização.

Informes sobre a avaliação interdisciplinar:

- A prova será aplicada pela PUC-GO, em 08 de novembro de 2018.

- A avaliação conterá 40 questões, sendo 10 de formação geral e 30 de formação

específica.

- A avaliação interdisciplinar vale 1 ponto na média da N2.

Estudos interdisciplinares:

- Uma das questões da 2ª N2 será extraída das provas anteriores do Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes (ENADE).

Frequência:

- O aluno é reprovado se não obtiver 75% de presença na disciplina.

- Como já explicitado no tópico próprio, deverão ser desenvolvidas 8 horas-aula a título

de AED. O aluno que não fizer a AED terá acrescidas 8 faltas.

- é dever do discente se inteirar do Regimento Geral da PUC Goiás. Abaixo, seguem

normas importantes quanto à frequência.

Art. 130. Em conformidade com a legislação vigente, o estudante deve obter para aprovação, a frequência mínima de 75% (setenta e cinco por cento) das aulas e demais atividades escolares da disciplina. § 1º. Ao estudante ausente à aula ou atividade acadêmica será consignada falta, inexistindo o respectivo abono, por quaisquer motivos. § 2º. Nos casos previstos em Lei e na forma estabelecida nos art. 225 e 226 deste Regimento Geral, mediante prévia autorização da coordenação do curso, as faltas poderão ser compensadas mediante a realização de exercícios domiciliares. Art. 225. É concedido ao estudante regularmente matriculado o benefício do regime de exercícios domiciliares para compensar a ausência às aulas, nos termos do Decreto-Lei nº 1044, de 21/10/1969, em decorrência de doença adquirida ou incapacidade física relativa, de natureza isolada ou esporádica, que inviabilizou ou inviabilize a frequência às aulas ou às atividades, devidamente comprovada por atestado médico e com determinação expressa de repouso domiciliar ou internação em unidade hospitalar, desde que estejam preservadas as condições intelectuais e emocionais para o prosseguimento dos estudos. Art. 226. É concedido o benefício dos exercícios domiciliares, de acordo com a Lei nº 6.202, de 17/4/1975, à estudante regularmente matriculada, a partir do oitavo mês de

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gestação e durante o prazo de até 3 (três) meses, nas condições descritas neste Regimento Geral. Parágrafo único. Em casos excepcionais, devidamente comprovados mediante atestado médico, pode ser aumentado o período de concessão do benefício de exercícios domiciliares, antes e depois do parto, desde que não extrapole o fim do semestre letivo. Art. 227. No regime de exercícios domiciliares o estudante não é dispensado das avaliações que são realizadas nas datas definidas pelo docente, preferencialmente, com a turma regular. Parágrafo único. No caso de incapacidade, atestada por médico, de comparecer para realizar avaliação presencial no semestre vigente, o docente aplica outra modalidade de avaliação para ser realizada em domicílio. Art. 228. O pedido do estudante deve ser protocolado na Secretaria da Escola, contendo o atestado médico original, no prazo impreterível de 15 (quinze) dias letivos, contados da data inicial da determinação do repouso domiciliar ou internação em unidade de saúde. Parágrafo único. Os processos protocolados fora do prazo são indeferidos e arquivados. Art. 231. O benefício dos exercícios domiciliares não é concedido nos seguintes casos: I. afastamento das atividades acadêmicas em período menor ou igual a 10 (dez) dias corridos, ainda que determinado em atestado médico; II. para cursar componente curricular que seja indispensável a presença do estudante, tais como nas atividades práticas, laboratórios, campos de estágio e orientação de trabalho de conclusão de curso; III. descumprimento de quaisquer das exigências contidas nesta Subseção ou na legislação vigente. Art. 232. A concessão do benefício dos exercícios domiciliares para realização das atividades acadêmicas, incluindo as avaliações, cessa na data do encerramento do semestre letivo estabelecido no calendário acadêmico, ainda que o atestado médico determine repouso ou afastamento das atividades em prazo maior.

IX. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

DIDIER JÚNIOR, Fredie et al. Curso de direito processual civil. Salvador: Juspodivm,

2017. vol. 2 (apenas tutela provisória).

MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de direito processual civil moderno. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2017.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro:

Forense, 2017. vol. I e II.

X. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. São Paulo: Atlas,

2017.

MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Curso de Processo Civil. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2017. vol. 2 (apenas tutela provisória) e vol. 3 (apenas procedimentos

especiais).

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Salvador:

Juspodium, 2017.

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XI. OBSERVAÇÕES

1) Todas as informações relativas às aulas e às avaliações são dadas em sala de aula. É

responsabilidade do aluno se manter informado, principalmente se ele tiver faltado à

aula.

2) Em hipótese alguma essa professora aceita atividades fora do prazo.

3) Atividades plagiadas (da internet ou entre alunos) não serão valoradas.

4) O aluno deve obter sua nota no decorrer do semestre, realizando as avaliações

descritas acima. Não há outras atividades nem concessão de pontuação fora do

estabelecido nesse plano de ensino.

5) Os únicos critérios de aprovação são presença e nota. O aluno que é bolsista, que

depende de ajuda familiar para pagar o curso, que trabalha o dia todo, etc., deve ter

plena consciência de sua situação do início ao fim do semestre.

6) Conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o aluno pode faltar a

25% das aulas. Os acontecimentos da vida estão abrangidos nesses 25% de falta, ou

seja, não há abono em caso de aniversário, compromisso profissional, comparecimento a

eventos, ida a dentista, mal estar, etc.

7) A chamada será feita no início da aula. A professora não atribuirá presença ao aluno

que não responder a chamada no momento correto.

8) A professora não atribui falta ao aluno que responde à chamada. Assim, alegações do

tipo “mas eu não tive essas faltas” são inúteis, porque não haverá alteração do que foi

registrado.

9) É obrigatório levar o Código de Processo Civil em todas as aulas.

10) O estudo do direito processo civil exige a compreensão de uma sequência: cada aula

que o aluno falta ou chega atrasado interfere negativamente em sua aprendizagem.

11) Se o aluno tem compromissos no período de aula, deve se matricular em outro

horário.

12) Os livros constantes da bibliografia são uma indicação, mas o bom livro é aquele que

o aluno gosta de ler. Entretanto, resumos, sinopses e apostilas são obras destinadas a

recordação, não constituindo em fonte de estudo para o aluno de graduação.

13) O processo de ensino aprendizagem exige um ambiente próprio: evite conversas

paralelas, elas atrapalham os colegas e a professora. Da mesma forma, os aparelhos

eletrônicos devem ser utilizados apenas para fins acadêmicos.

14) Não há como aprender Direito sem ler! O aluno deve estudar o conteúdo da

disciplina através de livro doutrinário.

15) É importante que o operador do direito conheça a jurisprudência do STF e do STJ. O

site “www.dizerodireito.com.br” expõe o conteúdo dos informativos de jurisprudência

desses tribunais de forma bastante didática.

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ROTEIRO DE AULA1

1) TUTELA PROVISÓRIA – arts. 294 a 311 NCPC 1.1) Panorama geral A tutela jurisdicional pode ser definitiva ou provisória: - definitiva: funda-se em cognição exauriente e faz coisa julgada, - provisória: funda-se em cognição sumária, não faz coisa julgada e precisa ser confirmada por tutela definitiva. Também é possível classificar a tutela jurisdicional em: - satisfativa: certifica ou efetiva um direito, - conservativa: garante que, no futuro, o direito possa ser efetivado. A tutela provisória pode ser de: - urgência: baseia-se na probabilidade do direito e no perigo de dano/ risco ao resultado útil do processo. Se subdivide em antecipada/ satisfativa e em cautelar, - evidência: funda-se apenas na probabilidade do direito e somente pode ser satisfativa. 1.2) Finalidade Não existe processo instantâneo, todo processo implica em decurso de tempo. A expressão tutela provisória na verdade refere-se à antecipação provisória dos efeitos da tutela definitiva. Segundo Didier, a tutela provisória tem 2 finalidades: abranda os males do tempo e garante a efetividade da jurisdição. Ou, conforme Marinoni, ela redistribui o ônus do tempo do processo. 1.3) Características a) Cognição sumária: o julgador faz uma “análise superficial do objeto litigioso” (DIDIER, 2016). b) Precariedade – art. 296 CPC: - a tutela provisória pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo, - não havendo revogação/ modificação, a tutela provisória conserva sua eficácia ao longo do processo, inclusive no período de suspensão do processo, - a improcedência do pedido de tutela definitiva importa em cessação da tutela provisória. Didier sugere que a revogação conste expressamente da sentença. c) Não produção de coisa julgada: - apenas a decisão referente à tutela definitiva torna-se indiscutível pela coisa julgada.

1 Atenção: o estudo do direito deve ser feito por meio de livros e essa apostila não os

substitui. Esses apontamentos servem apenas para que o aluno acompanhe as aulas.

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1.4) Espécies e fundamento Tutela provisória de urgência: - exige probabilidade do direito + perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo – art. 300 CPC, - pode ser antecipada/ satisfativa ou cautelar.

Tutela provisória antecipada/ satisfativa: - dá eficácia imediata ao próprio direito afirmado, - ex.: concessão de alimentos provisórios em ação de alimentos; liminar para fornecimento de medicamentos; cancelamento de negativação no SPC, em decorrência de inexistência de débito, etc. Tutela provisória cautelar: - assegura o futuro resultado útil do processo, - ex.: cautelar de arresto, que visa proteger o resultado do processo de execução.

Tutela provisória de evidência: - exige que as afirmações de fato estejam comprovadas, evidenciando o direito (hipóteses do art. 311 CPC), - NÃO exige o requisito da urgência, - somente pode ser antecipada/ satisfativa (vide informações acima). 1.5) Regras gerais a) Momento de requerimento da tutela provisória A tutela provisória pode ser requerida em caráter antecedente ou incidente. Tutela provisória antecedente: - inicialmente, requer-se apenas a tutela provisória e, depois, a tutela definitiva, - aplica-se apenas à tutela provisória de urgência, - em razão da urgência, o autor pode, na petição inicial, pedir apenas a tutela provisória e, posteriormente, fazer o pedido da tutela definitiva de forma completa, - deve ser requerida ao juízo competente para conhecer do pedido principal – art. 299, caput, parte final, CPC. Tutela provisória incidente: - é requerida no mesmo momento em que se pede a tutela definitiva ou posteriormente, - aplica-se a todas as tutelas provisórias, - a tutela provisória requerida incidentalmente independe do pagamento de custas – art. 295 CPC, - é requerida ao juízo da causa – art. 299, caput, parte inicial, CPC. *Processo nos tribunais (ações originárias ou recursos): - a tutela provisória deve ser requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito recursal, - ex.: pedido de efeito suspensivo ao recurso de apelação – art. 1012, § 3º, CPC. b) Legitimidade Todo aquele que tem direito à tutela definitiva pode requerer a tutela provisória: autor, réu, terceiro interveniente, etc.

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Quanto à possibilidade de o juiz conceder a tutela provisória de ofício, o CPC menciona, em diversos dispositivos, que ela deve ser requerida. Assim, entende-se que não é possível a concessão sem requerimento do interessado, até porque, caso ela seja revogada, ele terá responsabilidade objetiva por indenizar os prejuízos causados.

• Obs.: a Lei 5478/68, que trata da ação de alimentos, prevê em seu artigo 4º que,

“ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem

pagos pelo devedor”.

c) Cabimento A tutela provisória é frequentemente utilizada no processo de conhecimento (seja o procedimento comum ou especial), mas também se aplica ao processo de execução.

• Alguns procedimentos especiais têm regra própria sobre tutela provisória e, nesse caso, a regra especial prevalece sobre a regra geral – ex.: ações possessórias (art. 562 CPC).

d) Momento de concessão A tutela provisória pode ser concedida a qualquer tempo.

• Liminar: tutela provisória concedida in limine, ou seja, no início da demanda.

• Liminar inaudita altera parte: tutela provisória concedida in limine e sem oitiva da parte contrária

• Exemplo de diferença entre liminar e liminar inaudita altera parte: art. 562 CPC.

• Tutela provisória concedida na sentença: nesse caso, eventual recurso de apelação não terá efeito suspensivo e a sentença produzirá efeito imediato (art. 1012, § 1º, V, CPC).

Havendo necessidade de produção de prova para obtenção da tutela provisória de urgência, é possível a designação de audiência de justificação prévia – art. 300, § 2º, CPC. O art. 298 CPC estabelece que a decisão relativa à tutela provisória precisa ser fundamentada, em clara reafirmação do texto constitucional. e) Recurso O recurso cabível da decisão referente à tutela provisória depende da forma pela qual ela é concedida: - por juiz de 1º grau, em decisão interlocutória: cabe agravo de instrumento (art. 1015, I, CPC), - por juiz de 1º grau, na sentença: cabe apelação (art. 1013, § 5º, CPC), - por tribunal, em decisão monocrática: cabe agravo interno (art. 1021, CPC), - por tribunal, em acórdão: pode caber recurso especial (pela sum. 735 STF, não cabe recurso extraordinário). f) Efetivação O art. 297 do CPC estabelece o “poder geral de efetivação da tutela provisória”: o juiz pode se valer de qualquer meio executivo, típico ou atípico, para efetivar a decisão. A efetivação da tutela provisória segue as normas do cumprimento provisório de sentença (arts. 520 a 522 CPC).

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O art. 301 CPC prevê que a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem ou qualquer outra medida idônea para asseguração do direito. Essas medidas exemplificadas no dispositivo legal eram cautelares típicas no CPC/1973.

• Arresto: tem por fim apreender judicialmente bens do devedor (indeterminados e que possam ser objeto de penhora), a fim de garantir execução de obrigação de pagar quantia.

• Sequestro: preserva a integridade de um bem objeto de disputa judicial, mediante a apreensão de coisa certa e determinada. Vincula-se à execução para entrega de coisa.

• Arrolamento de bens: visa conservar uma universalidade de bens que se encontre em perigo de extravio ou dissipação, através de sua descrição e depósito, para garantir futura partilha.

• Registro de protesto contra alienação de bens: evita a transferência indevida de um bem sujeito a registro. O objetivo é dar publicidade aos terceiros de boa-fé e evitar a transferência de bem.

A efetivação da tutela provisória pode causar danos à parte contrária. Tratando-se de tutela de urgência, o art. 302 do CPC prevê expressamente que o seu beneficiário responde pelos prejuízos que a efetivação causar à parte adversa.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INTERDIÇÃO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL LOCALIZADO EM SHOPPING CENTER. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONCEDIDA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELOS DANOS CAUSADOS PELA EXECUÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA. ARTS. 273, § 3º, ART. 475-O, INCISOS I E II, E ART. 811, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INDAGAÇÃO ACERCA DA MÁ-FÉ DO AUTOR OU DA COMPLEXIDADE DA CAUSA. IRRELEVÂNCIA. RESPONSABILIDADE QUE INDEPENDE DE PEDIDO, AÇÃO AUTÔNOMA OU RECONVENÇÃO. (...) 2. Recurso especial interposto por Mozariém Gomes do Nascimento: 2.1. Os danos causados a partir da execução de tutela antecipada (assim também a tutela cautelar e a execução provisória) são disciplinados pelo sistema processual vigente à revelia da indagação acerca da culpa da parte, ou se esta agiu de má-fé ou não. Basta a existência do dano decorrente da pretensão deduzida em juízo para que sejam aplicados os arts. 273, § 3º, 475-O, incisos I e II, e 811 do CPC. Cuida-se de responsabilidade objetiva, conforme apregoa, de forma remansosa, doutrina e jurisprudência. 2.2. A obrigação de indenizar o dano causado ao adversário, pela execução de tutela antecipada posteriormente revogada, é consequência natural da improcedência do pedido, decorrência ex lege da sentença e da inexistência do direito anteriormente acautelado, responsabilidade que independe de reconhecimento judicial prévio, ou de pedido do lesado na própria ação ou em ação autônoma ou, ainda, de reconvenção, bastando a liquidação dos danos nos próprios autos, conforme comando legal previsto nos arts. 475-O, inciso II, c/c art. 273, § 3º, do CPC. Precedentes. 2.3. A complexidade da causa, que certamente exigia ampla dilação probatória, não exime a responsabilidade do autor pelo dano processual. Ao contrário, neste caso a antecipação de tutela se evidenciava como providência ainda mais arriscada, circunstância que aconselhava conduta de redobrada cautela por parte do autor, com a exata ponderação entre os riscos e a comodidade da obtenção antecipada do pedido deduzido. 3. Recurso especial do Condomínio do Shopping Conjunto Nacional não provido e recurso de Mozariém Gomes do Nascimento provido. (REsp 1191262/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 16/10/2012)

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ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. RECEBIMENTO DE VALORES, POR FORÇA DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA, POSTERIORMENTE CASSADA. DEVOLUÇÃO AO ERÁRIO. POSSIBILIDADE. RESPEITO, TODAVIA, AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. I. In casu, pretende a União, na via administrativa, a repetição de valores pretéritos pagos a servidor público, por força de antecipação dos efeitos da tutela, posteriormente cassada, na sentença de improcedência do feito. O autor, ora agravado, ajuizou a presente ação para impedir a União de cobrar os valores recebidos, em virtude da antecipação dos efeitos da tutela, ulteriormente tornada sem efeito. II. A jurisprudência do STJ tem-se orientado no sentido de que, "tendo a servidora recebido os referidos valores amparada por uma decisão judicial precária, não há como se admitir a existência de boa-fé, pois a Administração em momento nenhum gerou-lhe uma falsa expectativa de definitividade quanto ao direito pleiteado. A adoção de entendimento diverso importaria, dessa forma, no desvirtuamento do próprio instituto da antecipação dos efeitos da tutela, haja vista que um dos requisitos legais para sua concessão reside justamente na inexistência de perigo de irreversibilidade, a teor do art. 273, §§ 2º e 4º, do CPC" (STJ, EREsp 1.335.962/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 02/08/2013). Em igual sentido: "A jurisprudência predominante do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de ser possível a devolução de valores pagos a servidor público em razão do cumprimento de decisão judicial precária. Enfocando o tema sob o viés prevalentemente processual, a Primeira Seção desta Corte no julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.401.560/MT, ocorrido em 12/2/2014, relator p/ acórdão Ministro Ari Pargendler, assentou a tese de que é legítimo o desconto de valores pagos aos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, em razão do cumprimento de decisão judicial precária posteriormente cassada" (STJ, AgRg no REsp 1.318.313/CE, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 06/03/2014). III. A 1ª Seção do STJ, ao julgar o REsp 1.348.418/SC, consolidou entendimento de que é dever do titular do direito patrimonial - naquele caso, titular de benefício previdenciário - devolver valores recebidos por força de antecipação dos efeitos da tutela posteriormente revogada (STJ, REsp 1.384.418/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 30/08/2013). IV. Por outro lado, é firme neste Tribunal o entendimento de que a Administração Pública, a fim de proceder à restituição de valores pagos a servidor público, ainda que por força de liminar posteriormente cassada, deve observar, previamente, o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório. Nesse sentido: STJ, AgRg no RMS 37.466/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 1º/04/2013; AgRg nos EDcl no REsp 1224995/CE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, DJe de 18/04/2011; AgRg no REsp 1.144.974/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe de 08/02/2010; RMS 18.057/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, DJU de 02/05/2006. V. Agravo Regimental provido, para dar parcial provimento do Recurso Especial, no sentido de reconhecer a possibilidade de a Administração proceder aos descontos referidos, desde que respeitado o contraditório e a ampla defesa. (AgRg no REsp 1301411/RN, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 03/09/2014)

O art. 300, § 1º, CPC prevê que o juiz pode exigir caução para conceder a tutela de urgência satisfativa (antecipada).

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1.6) Tutela provisória de urgência Como já visto, para a concessão da tutela provisória de urgência (satisfativa ou cautelar), o art. 300 CPC exige a presença de 2 requisitos: a probabilidade do direito e o perigo da demora. Probabilidade do direito: - plausibilidade do direito a ser satisfeito ou acautelado, - análise quanto à probabilidade dos fatos narrados terem ocorrido (verossimilhança fática) e quanto às chances de êxito do demandante (plausibilidade jurídica). Perigo da demora: - perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, - o perigo deve ser concreto (certo), atual (que está ocorrendo ou na iminência de ocorrer) e grave (intensidade média ou grave), - o dano deve ser irreparável (cujas consequências são irreversíveis) ou de difícil reparação (aquele que provavelmente não será ressarcido). Perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão: - requisito negativo da tutela de urgência de natureza satisfativa (antecipada) – art. 300, § 3º, CPC, - os efeitos da tutela provisória devem ser reversíveis, ou seja, deve ser possível retornar-se ao estado anterior se ela vir a ser modificada ou revogada, - a irreversibilidade não é absoluta: admite-se a antecipação de efeitos irreversíveis para evitar um dano maior (ex: irreversibilidade x direito à vida).

CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO DE PLANO DE SAÚDE. PLEITO PARA QUE REAVALIE A MOTIVAÇÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. IMPOSSIBILIDADE POR MEIO DO ESPECIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ. PRECEDENTES. 1. As instâncias ordinárias concederam a tutela antecipada em favor da vítima, que ficou desamparada material e financeiramente em decorrência do evento danoso, por reconhecerem o estado de urgência que se encontra e que este se sobrepõe à possível irreversibilidade da medida. Entendimento diverso por meio do especial demandaria o revolvimento do acervo probatório. 2. A demandada não apresentou argumento novo capaz de modificar a conclusão adotada, que se apoiou em entendimento aqui consolidado. Incidência da Súmula nº 7 do STJ. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 616.419/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/02/2015, DJe 23/02/2015) DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NECESSIDADE DE CONSIDERAÇÃO DA SITUAÇÃO INDIVIDUAL DE CADA EXEQUENTE PARA A APLICAÇÃO, EM PROCESSO COLETIVO, DA DISPENSA DE CAUÇÃO PREVISTA NO ART. 475-O, § 2º, I, DO CPC. No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do art. 475-O, § 2º, I, do CPC - que admite a dispensa de caução para o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado -, deve o magistrado considerar a situação individual de cada um dos beneficiários. Primeiramente, além de o STJ já ter admitido o cabimento de execução provisória no âmbito de processo coletivo, essa espécie de execução deve ocorrer nos termos da lei processual geral (CPC), diante da lacuna da legislação específica, o que implica possibilidade de aplicação das regras constantes do art. 475-O do CPC em processos coletivos. Nesse contexto, cabe mencionar que, nos termos da lei processual geral, a execução provisória

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depende, em regra, de caução prestada pelos exequentes (art. 475-O, III). Contudo, se atendidos os requisitos estabelecidos pelo § 2º, I, do art. 475-O - crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, crédito de até sessenta salários mínimos e exequentes em estado de necessidade -, a caução poderá ser dispensada. Desse modo, admitida a aplicabilidade do art. 475-O aos processos coletivos, pode-se aferir o modo de aplicação dessas referidas regras processuais - em especial, da regra do art. 475-O, § 2º, I, do CPC - a esse tipo de processo. Nessa conjuntura, à luz da interpretação sistemático-teleológica, a aplicação da regra constante do referido § 2º, I, do art. 475-O do CPC deve considerar a situação individual de cada um dos beneficiários do processo coletivo, e não apenas de um autor coletivo. Isso porque, se, em vez de uma execução provisória coletiva, fossem promovidas diversas demandas individuais, seria possível a cada um dos substituídos o cogitado levantamento de valores sem o oferecimento de caução, desde que atendidos os requisitos do referido artigo. Ora, se a aplicação do art. 475-O, § 2º, I, do CPC não considerar a situação individual de cada exequente, será mais conveniente, nesses casos, o ajuizamento de diversos processos individuais, e não de um único processo coletivo. Pelo contrário, a tutela coletiva deve ser prestigiada como forma de garantir a efetividade do acesso à justiça. Em situações como esta, não permitir o levantamento de valores em dinheiro sem contracautela, levando-se em conta a situação individual de cada beneficiário, implica conferir menor efetividade ao processo coletivo em relação ao individual, o que contraria os propósitos da tutela coletiva. De mais a mais, na ponderação entre o risco de irreversibilidade da medida de levantamento de quantias em dinheiro sem caução e o risco decorrente do não atendimento da necessidade alimentar dos destinatários da ação coletiva, deve prevalecer o interesse dos hipossuficientes. (STJ, REsp 1.318.917-BA, Rel. Min.Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013).

1.6.1) Tutela antecipada antecedente - arts. 303 e 304 CPC a) Petição inicial – art. 303 CPC - o autor irá formular apenas o pedido da tutela provisória, - requisitos da petição:

• indicação de que o autor pretende valer-se do benefício do art. 303 CPC,

• exposição da lide,

• probabilidade do direito,

• perigo da demora,

• pedido de tutela satisfativa (antecipada),

• indicação do pedido de tutela definitiva,

• valor da causa, considerando o pedido de tutela final. b) Não concessão da tutela provisória - art. 303, § 6º, CPC: - autor é intimado para emendar a petição inicial, no prazo de 5 dias, - se não houver a emenda, a petição inicial é indeferida e o processo é extinto sem resolução do mérito, - se houver a emenda, o processo prosseguirá pelo procedimento comum, sem o benefício da tutela. c) Concessão da tutela provisória - autor é intimado para aditar a petição inicial, no prazo de 15 dias ou em outro, maior, fixado pelo juiz (art. 303, § 1º, I, CPC), - aditamento: complementação da argumentação, juntada de novos documentos e confirmação do pedido de tutela final, - o aditamento é feito nos mesmos autos, sem pagamento de novas custas (art. 303, § 3º, CPC),

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- além de determinar a intimação do autor para aditamento, o juiz também determina a citação do réu para comparecer à audiência de conciliação/ mediação e sua intimação quanto à decisão concessiva da tutela provisória (art. 303, § 1º, II, CPC), - não havendo autocomposição, terá início o prazo para o réu oferecer contestação (art. 303, § 1º, III, CPC), com o prosseguimento do feito pelo procedimento comum, - se o autor não fizer o aditamento, o processo é extinto sem resolução do mérito (art. 303, § 2º, CPC). d) Estabilização da tutela satisfativa (antecipada) – art. 304 CPC A estabilização aplica-se somente à tutela antecipada (satisfativa)! Se o réu é intimado da decisão, mas não interpõe recurso, a decisão concessiva da tutela antecipada se torna estável e o processo é extinto. Estabilidade da decisão: - apesar de extinto o processo, a decisão continua surtindo efeito, - a estabilidade da decisão difere da coisa julgada:

ESTABILIZAÇÃO COISA JULGADA

Estabilizam-se os efeitos da decisão. O conteúdo da decisão faz coisa julgada.

Cognição sumária – decisão provisória. Cognição exauriente – decisão definitiva.

Não há efeito positivo. Há efeito positivo.

Ação autônoma de revisão, reforma ou invalidação.

Ação rescisória.

Havendo estabilização, a extinção do processo se dá sem resolução do mérito: o juiz não julgou a lide, pois o autor sequer formulou seu pedido de tutela definitiva. Para Didier (2015), se o réu não recorre da decisão, mas oferece contestação, também não há estabilização. Onde o art. 304 diz “se da decisão (...) não for interposto recurso”, lê-se “se não houver oposição do réu”. Havendo cumulação de pedidos, em que a tutela provisória refere-se a apenas um deles, haverá estabilização parcial, ou seja, a decisão concessiva da tutela antecipada se torna estável, mas o processo continua em relação aos demais pedidos. Ação autônoma de revisão da decisão judicial estabilizada: - qualquer das partes pode ajuizar ação autônoma com o objetivo de revisar, reformar ou invalidar a decisão que concedeu a tutela provisória satisfativa (antecipada), - prazo: 2 anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, - competência: prevenção do juízo que concedeu a tutela provisória. 1.6.2) Tutela cautelar antecedente - arts. 305 a 310 CPC a) Requisitos da inicial (art. 305 CPC): - requisitos genéricos do art. 319, I, II, V e VI CPC (endereçamento, partes e sua qualificação, valor da causa e provas), - indicação de lide e seu fundamento (causa de pedir referente ao processo principal), - exposição sumária do direito que se objetiva assegurar: antigo fumus boni iuris, - perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo: antigo periculum in mora.

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b) Concessão da tutela cautelar: - juiz determina o cumprimento da medida cautelar, - réu é citado para oferecer contestação ao pedido cautelar, no prazo de 5 dias (art. 306 CPC):

• se o réu for revel, haverá presunção dos fatos alegados pelo autor e o juiz deve proferir sentença no prazo de 5 dias,

• se o réu oferecer contestação, observa-se o procedimento comum. c) Efetivação da tutela cautelar: - deferida a medida cautelar, o requerente deve providenciar a efetivação da medida no prazo de 30 dias, - obviamente, o requerente não é prejudicado por atrasos imputáveis exclusivamente ao Judiciário, - se a efetivação da cautelar depender de ato a cargo do autor e ele não o providenciar, cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente – art. 309, II, CPC, - efetivada a medida cautelar, o autor terá o prazo de 30 dias para formular o pedido de tutela definitiva satisfativa (pedido principal), também sob pena de cessar a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente (arts. 308 e 309, II, CPC), - o pedido principal é apresentado nos mesmos autos em que houve o pedido cautelar, sem novas custas – art. 309, caput, CPC. d) Indeferimento da tutela cautelar: - não obsta que a parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o indeferimento decorrer do reconhecimento de prescrição ou decadência – art. 310 CPC. e) Regras gerais: - com a apresentação do pedido principal pelo autor, as partes serão intimadas para a audiência de conciliação ou de mediação – art. 308, § 3º, CPC, - não havendo autocomposição, o réu terá 15 dias para contestar o pedido principal – art. 308, § 4º, CPC, - se o pedido principal for julgado improcedente ou extinguir o processo sem resolução do mérito, também cessará a eficácia da tutela cautelar antecedente – art. 309, III, CPC, - em todos os casos em que houver cessação da eficácia da tutela cautelar, a parte não poderá renovar o pedido, salvo sob novo fundamento – art. 309, p. único, CPC. f) Fungibilidade entre tutela provisória cautelar e satisfativa: - art. 305, p. único, CPC, - fungibilidade progressiva: conversão da medida cautelar em satisfativa, - fungibilidade regressiva: conversão da medida satisfativa em cautelar. 1.7) Tutela provisória de evidência (art. 311 CPC) O fundamento da tutela provisória é a evidência do direito pretendido. Logo, a tutela de evidência independe de risco. A tutela de evidência pode ser: a) punitiva (inc. I): quando fica caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu, b) documentada (incs. II a IV): quando há prova documental das alegações de fato da parte. Tutela de evidência por ato abusivo ou protelatório: - conceitos indeterminados: devem ser preenchidos à luz do caso concreto (art. 489, §1º, II, CPC), - propósito protelatório: na realidade, não basta a intenção de protelar, é necessário que haja a prática de atos protelatórios (ou omissões). Refere-se a atos fora do processo,

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- abuso do direito de defesa: atos praticados dentro do processo, - a concessão da tutela de evidência punitiva pode ser cumulada com a multa por litigância de má-fé Tutela de evidência fundada em precedente obrigatório: - a parte requerente deve ter prova documental de suas alegações, - precedentes obrigatórios: súmula vinculante ou julgamento de casos recursos repetitivos:

• incidente de assunção de competência – art. 947 CPC,

• incidente de resolução de demandas repetitivas – arts. 976 a 987 CPC,

• recurso especial e recurso extraordinário repetitivos – arts. 1036 a 1041 CPC, Tutela de evidência fundada em contrato de depósito: - o novo CPC extinguiu a ação de depósito, que tinha procedimento especial (arts. 901 a 906 CPC 1973); agora, o procedimento é o comum, - pedido reipersecutório: visa a entrega de coisa, - o contrato de depósito deve ter forma escrita, - a mora na restituição da coisa ser comprovada pelo advento do termo ou por interpelação do devedor, - o juiz determina a entrega da coisa, cominando multa ou outra medida que entender adequada (art. 536 CPC). Tutela de evidência documentada, na ausência de contraprova documental suficiente: - causa em que a prova é documental, - os fatos constitutivos do direito do autor estão suficientemente comprovados por documentos ou não dependem de prova (fato notório, incontroverso ou confessado), - não há contraprova documental suficiente do réu, - na realidade, a situação é de julgamento antecipado de mérito (art. 355, I, CPC), cuja cognição é exauriente e a decisão definitiva. A concessão da tutela de evidência na sentença irá retirar o efeito suspensivo da apelação (art. 1012, § 1º, V, CPC). A tutela de evidência somente pode ser concedida sem a oitiva do réu nas hipóteses dos incisos II e III do art. 311 CPC. 2) JUIZADOS ESPECIAIS Normas aplicáveis: - art. 98, I, e § 1º, CF - Lei 9099/95 (juizados especiais cíveis e criminais – JEC), - Lei 10.259/01 (juizados especiais federais – JEF), - Lei 12.153/09 (juizados especiais das fazendas públicas – JEFP). Sistema dos juizados especiais: - os três juizados compõem um único sistema processual, uma vez que todos eles têm a mesma finalidade comum, qual seja, julgar as causas de menor complexidade, - entre eles, haverá aplicação integrativa dos diversos diplomas normativos. Em caso de omissão, aplica-se o Código de Processo Civil. Princípios informativos (art. 2º Lei 9099/95): - oralidade: pedido do autor, resposta do réu, mandato ao advogado, provas, embargos de declaração, etc.; - simplicidade: a fim de permitir que a parte postule sem estar representada por advogado; - informalidade: quanto aos atos processuais (art. 13 da Lei 9099/95), ao pedido inicial (art. 14, § 1º, Lei 9099/95) e às intimações (art. 19 da Lei 9099/95); - economia processual: minimização do procedimento; - celeridade: previsão de que o procedimento vai ser concluído rapidamente,

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- busca pela conciliação e transação. * Polêmica da aplicação do CPC 2015 aos juizados, quanto à contagem de prazos:

Enunciado 165 do Fonaje, sobre prazos nos juizados, deve ser cancelado 29 de agosto de 2017, 17h19 Por Luiz Henrique Volpe Camargo, Ricardo de Carvalho Aprigliano e Georges Abboud Nos dias 24 e 25 de agosto, sob a coordenação-geral do ministro Mauro Campbell Marques e coordenação científica geral do ministro Raul Araújo, o Superior Tribunal de Justiça e o Conselho Nacional da Justiça Federal realizaram a I Jornada de Direito Processual Civil. (...) Na oportunidade, fruto da fusão das ideias dos participantes condensadas pelos coordenadores da comissão, ficou aprovado que: “O prazo em dias úteis, previsto no art. 219 do CPC/2015, aplica-se também aos procedimentos regidos pelas Leis n.º 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009”. Tal aprovação merece aplausos e deve colocar pá de cal na lamentável situação de insegurança jurídica que se instalou Brasil afora sobre o assunto. A situação de incerteza sobre objeto tão sério e que diz respeito direto à tramitação de milhares de processos vem causando prejuízos aos jurisdicionados e problemas ao funcionamento de escritórios de advocacia, bem como aos membros da advocacia pública, com a imposição da responsabilidade de controle de dois regimes diversos na contagem de prazos: um em dias corridos, para os processos dos juizados, e outro em dias úteis, para os processos da Justiça comum. Até esse pronunciamento da I Jornada de Direito Processual Civil, no âmbito dos juizados especiais, a questão era orientada por enunciados contraditórios de agrupamentos da magistratura. É que enquanto, de um lado, o Enunciado 165 do Fonaje (Fórum Nacional dos Juizados Especiais) diz que “nos Juizados Especiais Cíveis, todos os prazos serão contados de forma contínua”, de outro, o Enunciado 45 da Enfam (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados) estabelece que “a contagem dos prazos em dias úteis aplica-se ao sistema dos juizados especiais”, e o Enunciado 175 do Fonajef (Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais) dispõe que, “por falta de previsão legal específica nas leis que tratam dos juizados especiais, aplica-se, nestes, a previsão da contagem dos prazos em dias úteis (CPC/2015, art. 219)”. A razão está com o texto consolidado na I Jornada de Direito Processual Civil do Superior Tribunal de Justiça e o Conselho Nacional da Justiça Federal, na esteira do que a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados e o Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais também definiram. Nenhum dos dispositivos das três leis que regem o sistema dos juizados especiais regula a forma de contagem de prazos. Diante desse cenário, não cabe ao juiz impor a contagem de prazos em dias corridos, criando a regra como se fosse legislador. Não é demais lembrar que, diferentemente do que acontece noutros países, no Brasil o juiz somente pode decidir por “equidade nos casos previstos em lei” (CPC, parágrafo único do artigo 140). Esse problema, aliás, está na base dos fenômenos de insegurança jurídica e imprevisibilidade que tanto mal fazem ao nosso sistema de Justiça. É preciso evoluir para soluções uniformes, não discricionárias, padronizar o entendimento acerca de temas de relevância prática e eliminar as incertezas que decorrem da consideração de que cada magistrado (ou juízo, ou colégio recursal) é livre para impor o seu próprio modelo de contagem de prazos. A chave da questão está no parágrafo 2º do 1.046 do CPC, que diz que “permanecem em vigor as disposições especiais reguladas por outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código”, o que significa dizer que as lacunas das leis 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009 devem ser preenchidas pelas disposições do processo civil comum. (...) Assim, em respeito ao princípio da legalidade (artigo 5º, II, da CF), naturalmente não é possível utilizar a forma de contagem em dias corridos prevista tão somente no Código

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revogado (artigo 178 da Lei Federal 5.869, de 1973), em detrimento do texto claro, expresso, cogente, do código em vigor (artigo 219 da Lei Federal 13.105, de 2015), que estabelece que no cômputo do prazo devem ser considerados apenas os dias úteis. Nem mesmo a invocação do princípio da celeridade (artigo 2º da Lei 9.099/95) para afastar a regra do artigo 219 do CPC nos juizados especiais é justificável, porque a alegação de que a contagem de prazos em dias úteis produz morosidade carece de comprovação por dados empíricos. Outrossim, a celeridade não pode ser critério normativo para invalidar a legalidade, isonomia e a segurança jurídica que impõe a observância do critério de dias úteis para contagem de prazo, tal qual estabelece a lei federal. A Lei Federal 9.099/95, ao delimitar a data da audiência de instrução como termo final para a apresentação da contestação, restringe-se a prever os seguintes possíveis prazos para as partes: cinco dias para embargos de declaração (artigo 49) e mais cinco dias para a resposta (CPC, parágrafo 2º do artigo 1023); 10 dias para o recurso inominado (caput do artigo 42) e mais 10 dias para contrarrazões ao recurso inominado (parágrafo 2º do artigo 42). Assim, no processo onde houver embargos de declaração, contrarrazões aos embargos de declaração, recurso inominado, contrarrazões ao recurso inominado, o tempo total de prazo em curso será de 40 dias (5+5+10+10). Se esses 40 dias forem computados em dias úteis, haverá um incremento, no máximo, de cinco finais de semana, ou seja, os 40 dias úteis corresponderão a 50 dias corridos. Aí vem a pergunta: esses 10 dias a mais que os advogados terão para cumprir os prazos processuais são capazes de desprestigiar o princípio da celeridade que orienta os juizados especiais? A resposta, evidentemente, é negativa. O relatório Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça divulgado em 2016, que teve por ano-base 2015, ao tempo em que vigorava o CPC/1973 e os prazos fluíam em dias corridos, demostra que, em média, no Brasil, o tempo de duração da fase de conhecimento de um processo nos juizados especiais estaduais é de 2 anos e 2 meses (...) O mesmo relatório ainda demonstra que o tempo médio para a prolação de sentença na fase de conhecimento nos juizados especiais estaduais é de nove meses: (...) Tudo isso está a revelar que a duração dos processos nos juizados especiais não é impactada pela forma de contagem de prazos — se em dias úteis ou em dias corridos —, mas, sim, pelo chamado tempo de prateleira, isto é, o tempo que o processo, por razões que não cabe investigar neste pequeno texto, aguarda o impulso oficial. Disso resulta que a contagem de prazos em dias úteis apenas proporcionará a troca do lugar onde o processo aguardará seu desfecho: em vez de ficar 10 dias nas prateleiras do juizado, ficará por esse tempo à disposição dos advogados das partes para o cumprimento dos prazos processuais com maior qualidade. (...) Diante do amadurecimento da questão e do pronunciamento substancialmente importante da I Jornada de Direito Processual Civil, é chegado o momento de, em respeito à legalidade, segurança jurídica e previsibilidade, o Fórum Nacional dos Juizados Especiais cancelar seu Enunciado 165. Prestará, com isso, um grande serviço ao país.

2.1) JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS – Lei 9099/95 a) Opção do autor pelos juizados especiais cíveis O autor, se quiser, opta pelo procedimento dos juizados (art. 3º, § 3º, Lei 9099/95 e enunciado 1 FONAJE). b) Cabimento (art. 3º) - causas de até 40 salários mínimos,

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- causas do art. 275, II, CPC/1973, apesar de o CPC/2015 ter extinguido o procedimento sumário (art. 1063 NCPC); - despejo para uso próprio, - ações possessórias sobre imóveis de valor não excedente a 40 salários mínimos, - execuções de títulos executivos extrajudiciais, no valor de até 40 salários mínimos, - execuções de seus próprios julgados.

PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR COM O FITO DE OBTER A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA RECURSAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. POSSIBILIDADE, DESDE QUE DEMONSTRADOS O PERICULUM IN MORA E O FUMUS BONI IURIS. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. COMPETÊNCIA. COMPLEXIDADE DA CAUSA. NECESSIDADE DE PERÍCIA. CONDENAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. POSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA. CONTROLE. TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. CABIMENTO. - A jurisprudência do STJ vem admitindo, em hipóteses excepcionais, o manejo da medida cautelar originária para fins de se obter a antecipação de tutela em recurso ordinário; para tanto é necessária a demonstração do periculum in mora e a caracterização do fumus boni juris, circunstâncias ausentes na espécie. - Não há dispositivo na Lei 9.099/95 que permita inferir que a complexidade da causa – e, por conseguinte, a competência do Juizado Especial Cível – esteja relacionada à necessidade ou não de perícia. - A autonomia dos Juizados Especiais não prevalece em relação às decisões acerca de sua própria competência para conhecer das causas que lhe são submetidas, ficando tal controle submetido aos Tribunais de Justiça, via mandado de segurança. Esse entendimento subsiste mesmo após a edição da Súmula 376/STJ, tendo em vista que, entre os próprios julgados que lhe deram origem, se encontra a ressalva quanto ao cabimento do writ para controle da competência dos Juizados Especiais pelos Tribunais de Justiça. - Ao regulamentar a competência conferida aos Juizados Especiais pelo art. 98, I, da CF, a Lei 9.099/95 fez uso de dois critérios distintos – quantitativo e qualitativo – para definir o que são “causas cíveis de menor complexidade”. A menor complexidade que confere competência aos Juizados Especiais é, de regra, definida pelo valor econômico da pretensão ou pela matéria envolvida. Exige-se, pois, a presença de apenas um desses requisitos e não a sua cumulação. A exceção fica para as ações possessórias sobre bens imóveis, em relação às quais houve expressa conjugação dos critérios de valor e matéria. Assim, salvo na hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95, estabelecida a competência do Juizado Especial com base na matéria, é perfeitamente admissível que o pedido exceda o limite de 40 salários mínimos. - Admite-se a impetração de mandado de segurança frente aos Tribunais de Justiça dos Estados para o exercício do controle da competência dos Juizados Especiais, ainda que a decisão a ser anulada já tenha transitado em julgado. Liminar indeferida. (STJ, MC 15465/SC)

Se o autor propuser nos JECs causa cujo valor seja superior a 40 salários mínimos, haverá renúncia tácita ao crédito excedente, exceto para fins de conciliação (art. 3º, § 3º). c) Não cabimento (art. 3º, § 2º): - causas de natureza alimentar, - causas falimentares, - causas fiscais e de interesse da Fazenda Pública (cabíveis nos JEF e JEFP), - causas relativas a acidente de trabalho (competência da Justiça do Trabalho quando o réu é o empregador ou da Justiça Federal, quando o réu é o INSS), - causas relativas ao estado e à capacidade das pessoas, - procedimentos especiais (en. 8 FONAJE),

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- causas de complexidade elevada (STF, RE 537.427).

• A maior ou menor complexidade é definida pelo objeto da prova, ou seja, se a prova é muito elaborada. O fato de não caber prova complexa não impede a comprovação de fato que dependa de conhecimento técnico, com base no art. 35 Lei 9099 (perícia simplificada).

COMPETÊNCIA – JUIZADOS ESPECIAIS – CAUSAS CÍVEIS. A excludente da competência dos juizados especiais – complexidade da controvérsia (artigo 98 da Constituição Federal) – há de ser sopesada em face das causas de pedir constantes da inicial, observando-se, em passo seguinte, a defesa apresentada pela parte acionada. COMPETÊNCIA – AÇÃO INDENIZATÓRIA – FUMO – DEPENDÊNCIA – TRATAMENTO. Ante as balizas objetivas do conflito de interesses, a direcionarem a indagação técnico-pericial, surge complexidade a afastar a competência dos juizados especiais. (RE 537427) Enunciado 54 - A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito material.

d) Competência territorial (art. 4º) A ação pode ser proposta: - no domicílio do réu, - no lugar onde a obrigação deva ser satisfeita, - no domicílio do autor ou no local do ato ou fato, nas ações de indenização. Art. 51, III: - aplica-se a todos os juizados, - a incompetência territorial no sistema dos juizados acarreta a extinção do processo sem julgamento do mérito. Reconhecimento de ofício da incompetência territorial: conflito entre os entendimentos do FONAJE e do STJ:

Art. 65 CPC. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Enunciado 89 FONAJE: a incompetência territorial pode ser reconhecida de ofício no sistema de juizados especiais cíveis. Conflito negativo de competência. Juizados Especiais Cíveis. Ação de cobrança. Diferenças não recebidas de cheque que não pode ser cobrado em agência bancária. Domicílio do réu. Competência relativa. I - Compete ao STJ decidir conflito de competência entre Juizados Especiais vinculados a Tribunais diversos (CF, art. 105, I, "d"). II. - A competência prevista no art. 4º da Lei dos Juizados Especiais segue a regra geral, qual seja, a do foro do domicílio do réu, seguindo os moldes tradicionais do Código de Processo Civil, prorrogando-se, todavia, quando não argüida incompetência pela parte contrária. III - "A incompetência relativa não pode ser declarada de oficio" (Súmula n.º 33 desta Corte). IV - Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito do Juizado Especial Cível da Comarca de Tubarão/SC, suscitado. (CC 30.692/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/11/2002, DJ 16/12/2002, p. 237)

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e) Partes (art. 8º) Legitimidade ativa: - pessoa natural capaz, - microempreendedor individual, - microempresa, - empresa de pequeno porte, - pessoa jurídica qualificada como OSCIP, - sociedade de crédito ao microempreendedor.

• O condomínio residencial pode ser autor nos juizados, para cobrar taxa condominial (enunciado 9 FONAJE).

Não podem ser autor: - sociedade de factoring (enunciado 146 FONAJE), - pessoa física cessionária de crédito da pessoa jurídica. Não podem ser autor ou réu: - incapaz, - massa falida, - preso, - insolvente civil, - pessoa jurídica de direito público e empresa pública. O espólio pode ser parte nos juizados, se não envolver interesse de incapazes (enunciados 148 FONAJE e 82 FONAJEF). Nos juizados, a pessoa natural deve comparecer pessoalmente às audiências; a pessoa jurídica pode ser representada por preposto (art. 9º, § 4º).

• Não é possível que o advogado cumule a função de preposto – enunciado 98 FONAJE.

f) Advogado (art. 9º) O mandato pode ser verbal. Nas causas de até vinte salários mínimos, as partes têm capacidade postulatória, não precisando de advogado.

• Segundo o enunciado 36 do FONAJE, mesmo nas causas cujo valor exceda 20 salários mínimos, a assistência por advogado tem lugar a partir da fase instrutória, não se aplicando para a formulação do pedido e a sessão de conciliação.

• Na fase recursal, a assistência por advogado é obrigatória, qualquer que seja o valor da causa.

Uma parte com advogado e a outra sem: a outra parte tem direito à assistência. g) Intervenção de terceiros (art. 10) Essa regra vale para todos os juizados. Não cabe intervenção de terceiros nos juizados, com exceção do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 1.062 CPC).

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h) Procedimento Petição inicial: - arts. 14 e 15, - deve constar o nome e a qualificação das partes, os fatos e fundamentos jurídicos e o pedido e seu valor, - não é requisito da petição inicial dos juizados a indicação das testemunhas, - é admissível o pedido genérico nos juizados (art. 14, § 2º), mas a sentença não pode ser ilíquida (art. 38, p. único). Citação (art. 18): - o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, - não cabe citação por edital no juizado.

Audiência de conciliação (arts. 21 a 23): - pode ser conduzida pelo juiz togado, por juiz leigo (preferencialmente advogado com mais de 5 anos de experiência) ou por conciliador (preferencialmente bacharel em Direito), - se houver acordo, esse será homologado pelo juiz togado, - ausência à audiência:

• se o ausente for o autor, o processo é extinto sem resolução do mérito, com condenação ao pagamento de custas (art. 51, I)

• se o ausente for o réu, há revelia (art. 20). Não havendo acordo, as partes podem optar pelo procedimento arbitral. Se não optarem, passa-se para a audiência de instrução e julgamento. Audiência de instrução e julgamento (art. 27): - nova tentativa de conciliação, - apresentação da defesa, - produção de provas, - sentença.

• As consequências da ausência à audiência de conciliação também se aplicam à audiência de instrução e julgamento.

Contestação: - apresentada até a audiência de instrução e julgamento, salvo se o próprio juizado indicar outro momento (enunciado 10 FONAJE), - pode ser oral ou escrita, - cabe pedido contraposto fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia. Provas: - poderes do juiz em relação às provas: art. 5o, Lei 9099/95, - oitiva de até três testemunhas para cada parte. Caso a parte queira que a testemunha seja previamente intimada, deverá solicitar em no mínimo cinco dias antes da audiência, - perícia: o juiz inquire técnicos de sua confiança e as partes podem apresentar parecer técnico, - o juiz pode realizar inspeção ou determinar que o faça pessoa de sua confiança. Sentença: - sem relatório (art. 38), - isenção de sucumbência em 1º grau (arts. 54 e 55). - não pode ser ilíquida (art. 38, p. único).

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2.2) JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS – Lei 10259/01 a) Obrigatoriedade do procedimento Na localidade em que os juizados especiais federais estiverem instalados, sua competência é absoluta – art. 3º, § 3º, Lei 10259/01. b) Cabimento (art. 3º): - causas de até 60 salários mínimos, - se o valor exceder a 60 salários mínimos, os autos são remetidos à justiça comum, - não há renúncia tácita nos JEF para fins de competência, mas pode haver renúncia expressa (enunciado 16 FONAJEF).

• No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de competência, deve ser calculado por autor (enunciado 18 FONAJEF).

• Parcelas vincendas: art. 292, § 2º, CPC, e enunciados 17 e 20 FONAJEF.

c) Não cabimento (art. 3º): - causas referidas no art. 109, II, III e XI, CF, - mandado de segurança, - desapropriação, - divisão e demarcação, - ação popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos (processo coletivo), - execução fiscal, - causas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais, - anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo de natureza previdenciária e de lançamento fiscal, - discussão sobre pena de demissão imposta a servidor público civil (todas as demais sanções pode) ou sobre sanção disciplinar aplicada a militar (não pode discutir nenhuma sanção), - procedimentos especiais que não puderem ser adaptados ao procedimento dos juizados (en. 9 FONAJEF).

d) Competência territorial Aplica-se o art. 109, § 2º, CF. Onde não houver vara federal, a causa poderá ser proposta no juizado especial federal mais próximo. e) Partes (art. 6º) Legitimidade ativa: - pessoa física, inclusive incapaz – enunciado 10 FONAJEF, - microempresa e empresa de pequeno porte – enunciado 11 FONAJEF, - espólio – enunciado 82 FONAJEF. Legitimidade passiva: - União, - autarquias federais, - fundações públicas federais, - empresas públicas federais.

• Em caso de litisconsórcio necessário, podem figurar no polo passivo pessoas físicas, pessoas jurídicas de direito privado e pessoas jurídicas de direito público municipal e estadual (enunciado 21 FONAJEF).

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A capacidade postulatória da parte não se limita a 20 salários mínimos: nos juizados federais, ela pode atuar sem advogado – art. 10 da Lei 10.259/01 e enunciados 67 e 83 FONAJEF. f) Regras próprias dos JEFs Não há prazo diferenciado para a Fazenda Pública (art. 9º Lei 10.259/2001) nem para a Defensoria Pública (enunciado 53 FONAJEF).

• Nos Juizados Especiais Federais, o procurador federal não tem a prerrogativa de intimação pessoal (enunciado 7 FONAJEF).

O ente público deve fornecer ao Juizado, até a audiência de conciliação, a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa. Exame técnico: o juiz nomeia uma pessoa habilitada, que apresenta o laudo até cinco dias antes da audiência (de conciliação ou de instrução). Não há reexame necessário da sentença. 2.3) JUIZADOS ESPECIAIS DAS FAZENDAS PÚBLICAS – Lei 12153/09 Tem regras bastantes semelhantes aos juizados especiais FEDERAIS. Legitimidade passiva: - Estados, - Distrito Federal, - territórios, - municípios, - autarquias estaduais ou municipais, - fundações públicas estaduais ou municipais, - empresas públicas estaduais ou municipais. 3) PROCEDIMENTOS ESPECIAIS O CPC prevê, no processo de conhecimento, os procedimentos: - comum, - especiais, os quais de subdividem em procedimentos de jurisdição contenciosa e de jurisdição voluntária.

• Também há procedimentos especiais previstos na legislação especial, como, por exemplo, na Lei de Mandado de Segurança.

Os procedimentos especiais são aqueles “destinados a orientar a tramitação judicial de certas pretensões que não encontrariam tratamento processual condizente dentro dos parâmetros do procedimento ordinário” (Humberto Theodoro Jr.). Medidas utilizadas para que os procedimentos especiais alcancem seus objetivos: - alteração de prazos, - alteração da sequência de atos, - eliminação de atos, - fusão de atos cognitivos e executivos, - delimitação do tema a ser deduzido na inicial ou na contestação, - etc.

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Aplicam-se aos procedimentos especiais, subsidiariamente, as regras do procedimento comum (art. 318, parágrafo único, CPC). 3.1) AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO Arts. 539 a 549 CPC e 334 a 345 CC. A lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também lhe assegura o direito de pagar. Por meio da consignação, ele faz o depósito da quantia ou coisa devida. Prestações passíveis de consignação: dinheiro ou coisa. Cabimento da consignação: art. 335 CC.

Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Juízo competente: o do local do pagamento (art. 540 CPC). Modalidades: extrajudicial ou judicial. Consignação extrajudicial (art. 539 CPC): - cabível para obrigação de pagar quantia, - é uma faculdade para o devedor, - o devedor vai a uma agência bancária, abre uma conta e efetua o depósito da quantia. Após, cientifica o credor, por carta com aviso de recepção, quanto à realização do depósito, - o credor tem o prazo de 10 dias para manifestar recusa o depósito, - a não manifestação por parte do credor libera o devedor da obrigação, - se houver recusa, que deve ser manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o devedor deve propor, em 1 mês, a ação de consignação de pagamento; se não o fizer, o depósito fica sem efeito, podendo o devedor levantá-lo. Procedimento da consignação judicial: Petição inicial (art. 542 CPC): - deve preencher os requisitos dos artigos 319 e 320 CPC, - o autor requer a realização do depósito e a citação do réu, - a não realização de depósito no prazo de 5 dias importa em extinção do processo sem resolução do mérito. Conduta do réu: - citado, o réu pode:

• permanecer inerte, o que acarreta a revelia e o julgamento antecipado do mérito,

• levantar o depósito, o que acarreta a extinção do processo com resolução do mérito,

• oferecer resposta, no prazo de 15 dias, caso não aceite o depósito, - matérias alegáveis na contestação: art. 544 do CPC (não é rol taxativo).

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Oferecida a contestação, a ação segue o procedimento comum.

• Quando o pedido é julgado procedente, a sentença declara extinta a obrigação e condena o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios (art. 546 CPC).

Prestações sucessivas (art. 541 CPC): - são depositadas no mesmo processo, em até 5 dias do respectivo vencimento, - em regra, admite-se a consignação das prestações sucessivas enquanto o processo estiver pendente. Alegação de insuficiência do depósito (art. 545 CPC): - se, na contestação, o réu alega a insuficiência do depósito, o autor pode complementá-lo, em 10 dias, salvo se o inadimplemento der causa à rescisão contratual, - o réu pode efetuar o levantamento do que foi depositado, prosseguindo-se o processo quanto à parcela controvertida, - a sentença que conclui pela insuficiência do depósito importa em condenação do autor à sua complementação (a diferença será estabelecida na sentença ou apurada em liquidação de sentença), - ação dúplice: a rejeição do pedido do autor importa em reconhecimento de direito ao réu, o qual não precisa formular pedido (contraposto ou em reconvenção). 3.2) AÇÕES POSSESSÓRIAS Arts. 554 a 568 CPC a) Espécies de possessórias (art. 1210 CC):

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. § 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Espécies: - ação de reintegração de posse: cabível quando há o esbulho da posse (perda violenta, clandestina ou precária da posse); - ação de manutenção de posse: cabível quando há turbação na posse (efetivo embaraço ao exercício da posse); - interdito proibitório: cabível, preventivamente, quando há ameaça ao exercício da posse, ou seja, ameaça iminente de turbação ou esbulho. Fungibilidade das ações possessórias: - também conhecido como “princípio” da reversibilidade do pedido (o pedido é um e o juiz dá outro), - ainda que haja erro quanto à ação proposta ou inovação na situação de fato, o art. 554 CPC permite que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal adequada. b) Ações de força nova e de força velha (art. 558 CPC) Ação de força nova: - a ação é proposta dentro de 1 ano e 1 dia da ofensa da posse,

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- procedimento especial, - liminar fundada nos arts. 561 e 562 CPC (independentemente de demonstração de periculum in mora). Ação de força velha: - a ação é proposta após o prazo de 1 ano e 1 dia da ofensa da posse, - procedimento comum, - cabe a tutela provisória geral do CPC.

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DECISÃO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. CABIMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA. POSSE VELHA. REQUISITOS. ART 273, CPC. POSSIBILIDADE. 1. (...) 2. Esta Corte, em sintonia com o disposto na Súmula 735 do STF (Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar), entende que, via de regra, não é cabível recurso especial para reexaminar decisão que defere ou indefere liminar ou antecipação de tutela, em razão da natureza precária da decisão, sujeita à modificação a qualquer tempo, devendo ser confirmada ou revogada pela sentença de mérito. 3. Hipótese em que se trata de violação direta ao dispositivo legal que disciplina o deferimento da medida (CPC, art. 273), razão pela qual é cabível o recurso especial. 4. É possível a antecipação de tutela em ação de reintegração de posse em que o esbulho data de mais de ano e dia (posse velha), submetida ao rito comum, desde que presentes os requisitos requisitos que autorizam a sua concessão, previstos no art. 273 do CPC, a serem aferidos pelas instâncias de origem. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1139629/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 06/09/2012, DJe 17/09/2012)

Obs:. O interdito proibitório é sempre ação de força nova, porque a ameaça é constante e deve ser sempre atual. c) Objeto das ações possessórias Só é cabível ação possessória para bens e direitos capazes de serem apreendidos fisicamente, isto é, para bens materiais (bens móveis, semoventes e imóveis).

• Sum. 228 STJ: não cabe ação possessória para a proteção do direito autoral.

• Sum. 415 STF: cabe possessória para defender servidão de passagem. d) Procedimento das possessórias Competência: - do foro do domicílio do réu, para bens móveis e semoventes (art. 46 CPC); - do foro da situação da coisa, quando se tratar de bem imóvel – competência absoluta (art. 47, §2º, CPC). Petição inicial: - além de a petição observar os requisitos do art. 319 CPC, o autor deve provar os fatos mencionados no art. 561 CPC, - o autor pode cumular ao pedido possessório aqueles previstos no art. 555 CPC (perdas e danos, cominação de pena e desfazimento de obras). Se quiser cumular outros, terá que seguir o rito comum. Tutela provisória: - arts. 562 e 563 CPC, - concessão liminar ou após audiência de justificação prévia,

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- sendo designada audiência, o réu será citado, mas não pode produzir provas, apenas contraditar e reperguntar as testemunhas do autor, - provado o esbulho ou a turbação, a liminar é deferida, expedindo-se mandado de reintegração ou de manutenção de posse, - no caso do interdito proibitório, determina-se ao réu uma obrigação de não fazer (abster-se de molestar a posse do autor), sob pena de incorrer em multa pecuniária – art. 567 CPC. Resposta do réu: - arts. 556 e 564 CPC, - o réu é citado contestar, no prazo de 15 dias, - sendo realizada audiência de justificação prévia, o prazo é contado da intimação da decisão que deferir ou não a liminar. Após o prazo da resposta, as ações possessórias seguem o procedimento comum (art. 566 CPC). e) Possessórias multitudinárias – art. 554 e 565 CPC Citação: - pessoal, dos ocupantes encontrados no local (são procurados apenas 1 vez), - por edital, dos demais. É necessário intimar o MP e, se a demanda envolver hipossuficientes econômicos, a Defensoria Pública. Publicidade quanto à existência da ação e dos respectivos prazos processuais: jornal, rádio, cartaz, etc. Audiência de medição: - litígio fundado em posse velha: antes de apreciar a tutela provisória, o juiz deve designar audiência de mediação, - também há audiência de mediação se a liminar não for executada no prazo de 1 ano, contado da distribuição, - intimação do MP e da Defensoria Pública, se envolver hipossuficientes econômicos, para a audiência, - possibilidade de comparecimento do juiz à área objeto do litígio, - intimação dos órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana para a audiência, - essas regras também se aplicam aos litígios coletivos sobre propriedade imóvel. 3.3) INVENTÁRIO E PARTILHA Arts. 610 a 673 CPC Inventário: procedimento pelo qual se procede à descrição e à avaliação do patrimônio (bens, direitos e obrigações) deixado por alguém que faleceu; partilha: divisão do acervo patrimonial entre os sucessores. O CPC 2015 não mais prevê a possibilidade de abertura de inventário de ofício. Conforme arts. 610 a 615 CPC, o inventário deve ser instaurado dentro de 2 meses, contados da abertura da sucessão. A punição pela não obediência ao prazo é pecuniária (deve ser prevista no Código Tributário Estadual):

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Art. 89 do Código Tributário de Goiás As infrações relacionadas com o ITCD são punidas com as seguintes multas: I - 10% do imposto devido pelo atraso na entrega da Declaração do ITCD causa mortis ou doação por mais de 60 (sessenta) dias; I-A - 20% do imposto devido pelo atraso na entrega da Declaração do ITCD causa mortis ou doação por mais de 120 (cento e vinte) dias;

a) Inventário extrajudicial: - art. 610, §§ 1º e 2º, CPC e Resolução CNJ 35/2007, - não é necessário seguir as regras de competência do CPC, - é uma opção, cabível quando: não há testamento, todos os sucessores são capazes e estão de acordo quanto à partilha, - é feito por escritura pública, lavrada em cartório de notas, - a assistência por advogado é indispensável. b) Inventário judicial Arts. 610 a 658 CPC. O inventário tem início mediante requerimento do administrador provisório (aquele que está na posse e na administração do espólio) ou de quaisquer das pessoas mencionadas no art. 616 CPC.

• Na petição inicial, basta informar a morte do autor da herança e a existência de bens

e herdeiros.

• Juízo competente: art. 48 do CPC. Ao analisar a petição inicial, o juiz nomeia o inventariante, o qual presta compromisso de bem e fielmente desempenhar sua função – arts. 617 a 619 CPC. Incumbe ao inventariante fazer as primeiras declarações (dados do falecido; dados do cônjuge/ companheiro e herdeiros; relação de bens) – art. 620 CPC. Citação de todos os interessados, que podem impugnar as primeiras declarações – arts. 626 e 627 CPC. Avaliação dos bens por avaliador judicial ou perito: arts. 629 a 635 do CPC. Últimas declarações: o inventariante pode emendar, aditar ou completar as primeiras declarações – arts. 636 e 637 CPC. Cálculo do ITCD – arts. 637 e 638 CPC.

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Art.78 CTE. As alíquotas progressivas do ITCD são: I - de 2%, quando o valor da base de cálculo for até R$ 25.000,00; II - de 4%, sobre o valor da base de cálculo que exceder a R$ 25.000,00 até R$ 200.000,00; III - de 6%, sobre o valor da base de cálculo que exceder a R$ 200.000,00 até R$ 600.000,00; IV - de 8%, sobre o valor da base de cálculo que exceder a R$ 600.000,00. Art. 79 CTE. São isentos do pagamento do ITCD: I - o herdeiro, legatário, donatário ou beneficiário que receber quinhão, legado, parte, ou direito, cujo valor seja igual ou inferior a R$20.000,00 (vinte mil reais); (...) VI - o herdeiro, legatário, donatário ou beneficiário que receber imóvel cujo valor seja igual ou inferior a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), desde que não possua outro imóvel.

Pagamento de dívidas deixadas pelo falecido: arts. 642 a 646 CPC. Partilha – arts. 647 a 653 CPC. Comprovação do pagamento do ITCD e juntada das certidões negativas para com a Fazenda Pública – art. 654 CPC. Sentença que decide a partilha. Após o trânsito em julgado, expede-se o formal de partilha ou a carta de adjudicação – arts. 654 e 655 CPC. 3.4) EMBARGOS DE TERCEIRO Arts. 674 a 681 CPC. a) Introdução Em regra, as decisões judiciais somente afetam as partes do processo (art. 506 CPC). Quando a atividade jurisdicional atinge bens ou direitos de terceiros que não guardam relação com o processo, eles podem valer-se dos embargos de terceiro. Conforme art. 674 CPC, os embargos de terceiro são: - um instrumento processual, - para quem não é parte no processo, - mas sofre constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, - requerer o seu desfazimento ou sua inibição.

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b) Requisitos: - constrição ou ameaça de constrição judicial, - ser proprietário ou possuidor de bem ou de direito apreendido ou ameaçado de apreensão, - qualidade de terceiro em relação ao processo do qual emanou a ordem judicial. c) Prazo (art. 675 CPC) Embargos opostos em relação a ato constritivo proveniente de: - processo de conhecimento: podem ser opostos enquanto a sentença não transitar em julgado, - processo de execução/ cumprimento de sentença: até 5 dias depois da expropriação (adjudicação, alienação por iniciativa particular ou arrematação), mas antes da assinatura da respectiva carta. d) Competência: do juízo que ordenou a constrição do bem (art. 676 CPC). e) Procedimento Petição inicial: - arts. 319, 320 e 677, CPC, - deve estar instruída com a prova sumária da posse ou do domínio e da qualidade de terceiro no processo, - quando for o caso, deve conter o rol de testemunhas, - pedido: cancelamento da constrição judicial, com o reconhecimento do domínio ou a manutenção da posse ou a reintegração do bem ou direito ao embargante (art. 681 CPC). Liminar: - art. 678 CPC, - deve ser concedida com a prova do domínio, da posse ou de outro direito (basta a probabilidade do direito, sendo desnecessário o perigo de demora), - não havendo prova documental, é possível designação de audiência preliminar (art. 677, §1º, CPC), - a liminar importa em suspensão da medida constritiva, - a ordem de manutenção ou reintegração provisória de posse poderá ser condicionada à prestação de caução, salvo se a parte for economicamente hipossuficiente. Citação: - art. 677, §3º, CPC, - quando o embargado tem procurador constituído na ação principal, o advogado é intimado, mediante simples publicação no diário da justiça, - na falta de procurador constituído, a citação é pessoal ao embargado.

Resposta do embargado: - arts. 679 e 680 CPC, - o embargado tem o prazo de 15 dias para oferecer defesa, - é possível deduzir qualquer matéria de defesa, salvo se o embargante for o credor com garantia real, pois nesse caso a defesa do embargado se limita à inexigibilidade da garantia (art. 680 CPC). Após o prazo da resposta do réu, segue-se o procedimento comum. f) Súmulas do STJ sobre embargos de terceiro Sum. 303 STJ: em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios.

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Sum 195 STJ: em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores. Sum. 134 STJ: embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação. Sum. 84 STJ: é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro. 3.5) AÇÃO MONITÓRIA Arts. 700 a 702 CPC. a) Noções gerais A ação monitória é considerada uma tutela diferenciada: para o legislador, pareceu injusto que o credor que tivesse prova escrita da obrigação tivesse que se submeter ao mesmo procedimento dos credores sem prova escrita. Por isto, criou o procedimento monitório, para permitir que o juiz pudesse, com cognição sumária formada a partir da prova escrita, determinar o cumprimento da obrigação antes da sentença final.

AÇÃO DE COBRANÇA AÇÃO MONITÓRIA EXECUÇÃO

Cabível quando o credor não tem prova escrita da obrigação.

Cabível quando o credor possui prova escrita da obrigação, sem eficácia de título executivo.

Cabível quanto o credor possui título executivo (arts. 515 e 784 NCPC).

Processo de conhecimento, pelo procedimento comum.

Processo de conhecimento, por procedimento especial.

Processo de execução.

CUIDADOS: - O ajuizamento da ação monitória é uma faculdade do credor. Se ele quiser, pode ajuizar ação de cobrança. - O STJ entende que o credor que possui título executivo extrajudicial pode ajuizar ação de conhecimento, visando obter um título executivo judicial, cujas medidas executivas são mais eficazes (Resp 435.319). Esse entendimento foi positivado no art. 785 NCPC.

b) Cabimento Segundo determina o art. 700 CPC, “a ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I - pagamento de quantia em dinheiro; II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer”. Prova escrita: - a prova deve ser documentada – e não documental, ou seja, pode ser prova oral documentada, - a jurisprudência brasileira é bastante liberal quanto à admissão da prova escrita para fins de ação monitória. O que importa é que o documento ofertado pelo credor sinalize, de modo verossímil, a existência da obrigação, - exemplos: contrato sem assinatura de duas testemunhas e título de crédito prescrito (sum. 299 STJ).

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PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA. A DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A ADMISSIBILIDADE TEM QUE SER IDÔNEA. APTA À FORMAÇÃO DO JUÍZO DE PROBABILIDADE ACERCA DO DIREITO AFIRMADO, A PARTIR DO PRUDENTE EXAME DO MAGISTRADO. 1. A prova hábil a instruir a ação monitória, a que alude o artigo 1.102-A do Código de Processo Civil não precisa, necessariamente, ter sido emitida pelo devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado. 2. Dessarte, para a admissibilidade da ação monitória, não é necessário que o autor instrua a ação com prova robusta, estreme de dúvida, podendo ser aparelhada por documento idôneo, ainda que emitido pelo próprio credor, contanto que, por meio do prudente exame do magistrado, exsurja o juízo de probabilidade acerca do direito afirmado pelo autor. 3. No caso dos autos, a recorrida, ao ajuizar a ação monitória, juntou como prova escrita sem eficácia de título executivo a própria nota fiscal do negócio de compra e venda de mercadorias, seguida do comprovante de entrega assinado e mais o protesto das duplicatas, que ficaram inadimplidas. A Corte local, após minucioso exame da documentação que instrui a ação, apurou que os documentos são suficientes para atender aos requisitos da legislação processual para cobrança via ação monitória, pois servem como início de prova escrita. A revisão desse entendimento, demanda o reexame de provas, vedado em sede de recurso especial (Súmula 7/STJ). 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 289660/RN, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/06/2013, DJe 19/06/2013) RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA. PROVA ESCRITA. JUÍZO DE PROBABILIDADE. CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA. E-MAIL. DOCUMENTO HÁBIL A COMPROVAR A RELAÇÃO CONTRATUAL E A EXISTÊNCIA DE DÍVIDA. 1. A prova hábil a instruir a ação monitória, isto é, apta a ensejar a determinação da expedição do mandado monitório - a que alude os artigos 1.102-A do CPC/1.973 e 700 do CPC/2.015 -, precisa demonstrar a existência da obrigação, devendo o documento ser escrito e suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado, não sendo necessário prova robusta, estreme de dúvida, mas sim documento idôneo que permita juízo de probabilidade do direito afirmado pelo autor. 2. O correio eletrônico (e-mail) pode fundamentar a pretensão monitória, desde que o juízo se convença da verossimilhança das alegações e da idoneidade das declarações, possibilitando ao réu impugnar-lhe pela via processual adequada. 3. O exame sobre a validade, ou não, da correspondência eletrônica (e-mail) deverá ser aferida no caso concreto, juntamente com os demais elementos de prova trazidos pela parte autora. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1381603/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 11/11/2016)

Obrigações exigíveis por ação monitória: - no CPC/1973, a monitória só tinha como objeto obrigação de pagar ou de entregar coisa, - no CPC, cabe ação monitória para qualquer tipo de obrigação, desde que o devedor seja capaz. c) Competência Será competente o foro do local do cumprimento da obrigação (art. 53, III, d, CPC), salvo se houver cláusula de eleição de foro no documento firmado entre as partes.

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d) Legitimidade Polo ativo: o credor da obrigação. Polo passivo: - o devedor capaz, - pessoa jurídica de direito privado, - a fazenda pública pode ser sujeito passivo na ação monitória (sum. 339 STJ).

PROCESSO CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. PROVA ESCRITA. O ato do Subsecretário de Recursos Humanos do Estado do Rio Grande do Norte, encaminhando para "restos a pagar", expediente que versa sobre o pagamento de diferenças de remuneração de servidor público constitui prova escrita hábil à propositura da ação monitória. Recurso especial conhecido, mas desprovido. (REsp 1320340/RN, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/02/2014, DJe 13/02/2014)

e) Procedimento Petição inicial: - deve observar os requisitos genéricos dos arts. 319 e 320 CPC, - obrigatoriamente, deve estar instruída com a prova escrita, - nos termos do §2º do art. 700, CPC, o autor deverá explicitar:

• a importância devida, instruindo-a com a memória de cálculo (o que já estava consagrado na doutrina), se tratar de obrigação da pagar,

• o valor atual da coisa reclamada, em caso de obrigação de entrega de coisa,

• o conteúdo patrimonial em discussão ou proveito econômico perseguido, no caso de obrigação de fazer ou não fazer,

- o valor da causa deve corresponder ao valor da obrigação cujo adimplemento se busca (art. 700, § 3º, CPC). Juízo de admissibilidade: - se o juiz entender que a prova documental não é idônea, determina que o autor emende a inicial, adaptando-a ao procedimento comum (ação de cobrança), - se o juiz entende que o direito do autor é evidente, determinar a expedição de mandado para o cumprimento da obrigação em 15 dias. Citação: - a citação é feita por qualquer meio previsto para o procedimento comum (art. 700, § 7º, CPC e sum. 282 STJ), - o réu é citado para cumprir a obrigação, no prazo de 15 dias, bem como para pagar honorários advocatícios de 5% sobre o valor atribuído à causa, ou oferecer embargos. Possíveis reações do devedor (art. 701 CPC): - cumprimento da obrigação no prazo legal, com pagamento de 5% de honorários: o réu fica isento do pagamento das custas processuais (§ 1º) – espécie de sanção premial, - solicitação de parcelamento do débito, previsto no art. 916 CPC (§ 5º), - oferecimento de embargos: a ação prossegue pelo procedimento comum, - inércia: a ordem para cumprimento da obrigação, que era provisória, se transforma em definitiva (constituição de pleno direito do título executivo judicial), passando-se ao procedimento do cumprimento de sentença (§ 2º).

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS MONITÓRIOS. INTEMPESTIVOS. CONVERSÃO EM MANDADO EXECUTIVO. OPE LEGIS. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO DECISÓRIO. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS. INVIABILIDADE. RECURSO PROVIDO.

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1. O procedimento monitório tem natureza peculiar, não se confundindo com mero procedimento de ação de conhecimento, porque não há dilação probatória nem se destina à produção de uma sentença de mérito. 2. A inércia do devedor no procedimento monitório tem por consequência limitar a atividade jurisdicional, convertendo-se o mandado monitório em mandado executivo ope legis, diferentemente da revelia, que tem efeitos restritos à distribuição do ônus probatório. 3. O despacho proferido em procedimento monitório que converte o mandado inicial em mandado executivo não detém natureza jurídica de sentença, tampouco é dotado de conteúdo decisório, não sendo passível de oposição de embargos de declaração. 4. A análise de matérias de mérito, ainda que conhecíveis de ofício, é obstada nas hipóteses de inércia do devedor no procedimento monitório. Isso porque a ausência de abertura do processo de conhecimento impossibilita a produção de contraprovas pelo autor monitório, essenciais ao exercício do direito fundamental de defesa, inviabilizando o aprofundamento do conhecimento da causa pelo Poder Judiciário. 5. Recurso especial provido. (REsp 1432982/ES, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe 26/11/2015)

Embargos à ação monitória (art. 702 CPC): - é o meio de defesa do devedor (não cabe contestação), - prazo: 15 dias, - não há necessidade de garantia do juízo, - são processados nos próprios autos, - a matéria de defesa é ampla (§ 1º), - não cabe impugnação genérica: o réu tem o dever de alegar o valor que entende correto e apresentar demonstrativo discriminado da dívida (§§ 2º e 3º), - opostos embargos, a decisão provisória de pagamento fica suspensa até o julgamento de 1º grau (§ 4º), - prazo para resposta aos embargos: 15 dias (§ 5º), - é cabível reconvenção, mas não reconvenção à reconvenção (sum. 292 STJ e § 6º), - embargos parciais: constituição do título executivo judicial quanto à parcela incontroversa (§ 7º), - rejeição dos embargos: constituição de pleno direito do título executivo judicial e passa-se ao cumprimento de sentença (§ 8º), - o provimento judicial que acolhe ou rejeita os embargos é classificado como sentença, recorrível por apelação (§ 9º). Tanto o ajuizamento de má-fé da ação monitória quanto o oferecimento de embargos abusivos devem ser sancionados com multa de até 10% sobre o valor da causa (§§ 10 e 11). f) Súmulas do STJ sobre ação monitória Súmula 531. Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. Súmula 504. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título. Súmula 503. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.

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Súmula 339. É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública. Súmula 299. É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito. Súmula 292. A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário. Súmula 282. Cabe a citação por edital em ação monitória. Súmula 247. O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.

• Obs.: Em 2013, o STJ entendeu que a Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza, circunstância que autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque especial. O título de crédito deve vir acompanhado de claro demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal, de maneira taxativa, a relação de exigências que o credor deverá cumprir, de modo a conferir liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e II, da Lei n. 10.931/2004) (REsp 1291575/PR, julgado pelo rito do art. 543-C do CPC/1973).

3.6) PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA a) Noções gerais – art. 719 a 725 CPC Segundo Câmara, tem-se jurisdição voluntária quando é necessário um ato judicial para aperfeiçoar a validade e eficácia de um negócio jurídico. Procedimento: - inicia-se por provocação do interessado ou do Ministério Público ou da Defensoria Pública; - todos os interessados devem ser citados; - o MP só intervém nos casos do art. 178 do CPC; - a Fazenda Pública será ouvida nos casos em que tiver interesse; - o prazo para resposta é de 15 dias; - o juiz pode decidir por critério de equidade; - cabe apelação da sentença. b) Alguns procedimentos especiais de jurisdição voluntária Divórcio consensual e extinção consensual de união estável: - arts. 731 e 732 CPC, - a petição inicial deve conter as disposições relativas a partilha de bens, pensão alimentícia e guarda/ visitas dos filhos, - a petição deve ser assinada pelos cônjuges ou companheiros, além do advogado, - o juiz profere sentença homologatória do acordo. Divórcio e extinção de união estável extrajudiciais: - art. 733 CPC e Resolução CNJ 35/2007, - é uma opção, cabível quando os cônjuges estão em consenso e não há nascituro ou filhos incapazes, - é feito por escritura pública, lavrada em cartório de notas, - a assistência por advogado é indispensável. Interdição: - arts. 747 a 763 CPC, - legitimidade ativa: arts. 747 e 748 CPC,

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- o MP só pode requerer a interdição em caso de grave doença mental, se houver inércia/ impossibilidade dos demais legitimados, - a inicial deve indicar os fatos que demonstram a incapacidade e qual o seu grau, bem como quando a incapacidade se revelou, - a inicial deve ser instruída com laudo médico, - ao apreciar a inicial, o juiz pode nomear curador provisório, em caso de urgência (tutela provisória), - o interditando é citado para comparecer em audiência, a fim de ser entrevistado pelo juiz. A entrevista pode ocorrer no local em que o interditando se encontra e pode ser acompanhada por especialista, - o juiz também pode ouvir parentes e pessoas próximas ao interditando, - o interditando tem o prazo de 15 dias, contados da entrevista, para impugnar o pedido, - se o interditando não constituir advogado, o juiz nomeia curador especial e seus parentes podem intervir como assistente, - há intervenção do MP como fiscal da ordem jurídica, - realiza-se perícia para analisar a existência de incapacidade e o seu grau, - é possível a produção de outros meios de prova, - o juiz profere sentença, que, se decretar a interdição, deve observar os requisitos do art. 755 CPC, - ao ser nomeado, o curador deve prestar compromisso, assumindo a administração dos bens do interditado – art. 759 CPC, - é possível levantar a curatela, se a causa que a determinou cessar – art. 756 CPC.