aerovisÃo nº 246 out/nov/dez 2015

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50 anos Santa Cruz Fumaça C-130 Hércules completa cinco décadas na FAB Base no RJ se prepara para as Olimpíadas Esquadrilha volta com novas aeronaves Melhor aproveitamento de recursos e mais eficiência: conheça a receita para fazer mais com menos NOVAS ROTAS DE GESTÃO DA FAB Out/Nov/Dez - 2015 Nº 246 - Ano 42

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NOVAS ROTAS DE GESTÃO DA FAB - Melhor aproveitamento de recursos e mais eficiência: conheça a receita para fazer mais com menos ( edição atualizada em 09/11/2015)

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50 anos Santa CruzFumaça

C-130 Hércules completa cincodécadas na FAB

Base no RJ se prepara para as Olimpíadas

Esquadrilha volta com novas aeronaves

Melhor aproveitamento de recursos e mais eficiência: conheça a receita para fazer mais com menosMelhor aproveitamento de recursos e mais eficiência:

NOVAS ROTAS DE GESTÃO DA FAB

Out/Nov/Dez - 2015 Nº 246 - Ano 42

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MÍDIAS SOCIAISMÍDIAS SOCIAIS

Edição nº 246 Ano 42Outubro/Novembro/Dezembro - 2015

Prepare seu plano de voo

Quer saber tudo que ro lo u na sexta edição dos Jogos Mundiais

Mil i tares? Confira o Força Aérea Blog.#MundialMilitar #ForçasnoEsporteAcesse: https://www.forcaaereablog.aer.mil.br

6º jogos mundiais militares

GESTÃO Mais com menosSaiba como unidades da FAB conseguiram tornar os processos administrativos mais ágeis.

DEFESAInvestimento com retornoEstudo revela que operações Ágata aumentam a arrecadação de impostos com o combate a crimes como o contrabando.

OPERACIONAL - Forças aéreas do Brasil e de países vizinhos treinam juntas para coibir os voos ilícitos em regiões de fronteira. Em 2015, as operações COLBRA e PERBRA exercitaram procedimentos para defesa da Amazônia e combate ao narcotráfi co.

ENTREVISTAEntre o possível e o necessárioChefe do Estado-Maior da Aeronáu-tica explica os projetos de melhoria de gestão para tornar a Força Aérea mais efi ciente.

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DEFESA

Veja a edição digital interativa

Expedição YanomamiForça Aérea Brasileira apoia organização não governamental Expedicionários da Saúde para levar atendimento médico a milhares de índios em tribos isoladas na Amazônia. 40AmAzÔNIA

FAB EM AÇÃOAssista à reportagem que mostra como é a rotina

dos soldados da Aeronáutica. Você vai conhecer as várias etapas da carreira desse militar, desde o in-gresso, a progressão, as atividades desenvolvidas e as oportunidades de preparação para o retorno ao mercado de trabalho.

CONEXÃO FABMensalmente, você pode acompanhar os prin-cipais acontecimentos da Força Aérea Brasileira. Em outubro, o Conexão FAB tira as dúvidas dos candidatos sobre como realizar o teste físico para ingresso na Força.

Veja na FAB TV (youtube.com/portalfab)

DEFESA AÉREAA casa da caçaCriada para defender áreas estratégicas do País, a Base Aérea de Santa Cruz se prepara para os Jogos Olímpicos de 2016.28

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Força Aérea é avião no céu, tropa em ação, controladores frente a painéis imensos e uma série de outras atividades onde decisões rápidas fazem parte do dia a dia. Mas é, também, tornar tudo isso possível. Falamos de um silencioso, planejado, repetitivo e criterioso trabalho realizado nos bastidores, quase sempre de forma anônima.

É esperado. Certamente não se tra-tam de atividades com o mesmo nível de emoção: com pessoas sentadas à frente de computadores, até as fotos são desinteressantes. Melhor seria se uma revista como a Aerovisão apenas retratasse mísseis e bombas, fizesse o leitor sentir o cheiro e o calor do com-bustível queimado nas turbinas. Mas sem uma gestão adequada de recursos, nada disso iria ocorrer. A Força Aérea poderia ficar no chão.

Antes mesmo da crise econômica vivida pelo Brasil em 2015, a Aeronáu-tica já estava focada em melhorar sua gestão. O objetivo é concentrar recur-sos nas atividades-fim, tornando os setores administrativos mais enxutos, menos burocráticos e mais eficientes.

Um desses exemplos acontece na cidade do Rio de Janeiro, onde uma só unidade absorveu os serviços admi-nistrativos de outras nove. O resultado é o foco na missão original, no caso, oferecer uma manutenção adequada a aeronaves como os caças A-1. Com me-nos burocracia e mais gente disponível para o trabalho de ponta, temos mais aviões no céu.

É assim que até hoje a frota de C-130 Hércules continua em operação, da Antártica à Amazônia, após 50 anos

de excelentes serviços. Uma gestão eficiente leva a uma manutenção efi-ciente e, por sua vez, permite termos uma Força Aérea presente na vida dos brasileiros com missões de grande relevância como transporte de ajuda humanitária e combate a incêndios florestais. Essa história você também confere neste número da Aerovisão.

Gerir os recursos com eficiência garante que, mesmo em período de cortes, a Força Aérea continue em ação. Nas fronteiras, exercícios binacionais firmam laços com países vizinhos para ajudar a combater os crimes transna-cionais. No mar, o P-95 modernizado garante a vigilância de nossas riquezas oceânicas. No Rio de Janeiro, a Base Aé-rea de Santa Cruz cumpre o seu papel de defender estruturas estratégicas e se prepara para os desafios dos Jogos Olímpicos. Na Amazônia, em parceria com a sociedade civil, a FAB ajuda a levar saúde para índios.

Por fim, amigo leitor, decidimos destacar o papel dos nossos militares da área administrativa porque eles trabalham com um profundo respeito a você. Quando cada centavo é bem gas-to, quando a busca pelo aprimoramento é constante, há um extremo respeito ao cidadão brasileiro. A nossa maneira de agradecer pelos recursos a nós confia-dos é saber fazer valer cada um deles. Obrigado pela confiança.

Boa leitura!

Brigadeiro do Ar Pedro Luís FarcicChefe do Centro de Comunicação

Social da Aeronáutica

Gerenciar para voar

Nossa capa: A arte, elaborada pelo Tenente Rachid Jereissati e pela Sargento Daniele Aze-vedo sobre fotografia do Cabo Vinícius Santos, representa todos os militares da Força Aérea Brasileira que atuam na área de gestão. Abaixo, três destaques sobre o objetivo final da área administrativa: aeronaves no céu.

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Aos Leitores

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ENTREVISTA

Entre o possível e o necessário

Ao mesmo tempo em que lida com os desafios do presente, de fazer mais com menos, a Aeronáutica planeja seu futuro

e se concentra cada vez mais na sua missão ins-titucional: “Manter a soberania do espaço aéreo nacional com vistas à defesa da Pátria”.

Quem explica é o Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), Tenente-Brigadeiro do Ar Hélio Paes de Barros Júnior. Ao longo de 45 anos de serviço, o militar acumula passagens por cursos de gestão em universidades do Bra-sil, do Canadá e dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que esteve à frente de Organizações Militares como o 1° Grupo de Defesa Aérea, a Base Aérea de Anápolis e o Comando-Geral de Apoio.

Entre os assuntos abordados nesta entrevista estão o novo Plano Estratégico Militar da Aero-náutica, a otimização dos serviços administra-tivos e os projetos de Parceria Público-Privada. Tudo para alcançar uma lição aprendida na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR): a busca pela qualidade.

GABRIÉLLI DALA VECHIA

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“Será preciso rever as nossas necessidades, tanto em termos de

infraestrutura quanto de recursos humanos, para fazer frente aos novos desafios que se

descortinam”

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Aerovisão - Segundo dados divul-gados pela Embraer, nos últimos anos, cada real investido em desenvolvimen-to de produtos de defesa gerou cerca de dez vezes esse valor em divisas de exportação. Como a Aeronáutica tem contribuído para a Base Industrial de Defesa (BID)?

Ten Brig Paes de Barros - Existem dois pontos que considero de grande importância no que tange ao desenvol-vimento da BID.

O primeiro foi a idealização do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, criado em 1946 em São José dos Campos e atualmente designado Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e a decorrente criação da Embraer, pois a partir de então o Brasil pôde adentrar em um clube de países produtores de aeronaves, tornando-se um dos maiores do mundo neste segmento de negócios. Para alcançar esse patamar, foram de suma importância os pro-jetos militares solicitados à Embraer, que, por meio de tecnologias duais, proporcionaram à Base Industrial de Defesa alçar voo em seus programas de cunho civil.

O segundo ponto, e não menos im-portante, foi que Força Aérea buscou incentivar o processo de manutenção de reparáveis no Brasil, ou seja, aque-les itens das aeronaves que necessitam de revisões periódicas. Assim, muitas vezes aproveitando as cláusulas con-tratuais de offset, as empresas nacio-nais buscaram e alcançaram níveis de excelência nesse tipo de serviço. Isso possibilitou às indústrias o domínio completo do ciclo de vida de um determinado projeto. Tais ações não só elevaram a capacidade profissio-nal brasileira, permitindo inclusive a venda desses serviços ao exterior, como também ofereceram ao País uma capacidade estratégica de durar na ação, ou seja, promoveram aumento no tempo de permanência da Aeronáutica em um conflito. É uma relação que considero benéfica para todos.

Aerovisão - O COMAER tem insis-tido bastante nos ganhos dos projetos estratégicos – como KC-390 e Gripen NG – para além dos benefícios imedia-tos. Tem se falado muito no incentivo à transferência de tecnologia, offset, geração de empregos, etc. Por que isso é bom para o País?

Ten Brig Paes de Barros - Há setores industriais no mundo, espe-cialmente o aeronáutico, nos quais o conteúdo tecnológico é vastíssimo e muito complexo, por isso seu valor agregado é muito alto. Sendo assim, torna-se extremamente difícil penetrar nestes mercados, seja pelas dificulda-des técnicas intrínsecas à atividade, ou mesmo pelas restrições do próprio mercado a outros competidores.

As cláusulas de compensação, também conhecidas como offset, são importantes para permitirem o acesso

a novas tecnologias, as quais, agrega-das à criatividade do povo brasileiro, fazem nascer projetos como o Em-braer 145, sucesso em toda a aviação regional mundial, além de aeronaves militares como o Super Tucano e, ago-ra, o KC-390. Esses projetos são fruto da genialidade nacional. Ademais, por trás dessas aeronaves, existem milhares de empregos de alto nível, melhores salários e, em decorrência, melhor qualidade de vida para os bra-sileiros. Isso é muito bom para o País.

Aerovisão - O foco da FAB, hoje, é ter menos aeronaves, porém, mais operacionais, certo? Na opinião do senhor, nossa frota está adequada às nossas necessidades?

Ten Brig Paes de Barros - Essa per-gunta me lembrou de nossa velha Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR),

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Aeronave Brasília sobrevoa a capital federal. O projeto desse avião foi um dos casos de sucesso da Embraer, assim como o Super Tucano e o Embraer 145.

cujo lema é non multa sed multum, signifi-cando que devemos buscar a qualidade e não apenas a quantidade.

Em primeiro plano, para dimen-sionarmos não só a nossa frota, como também toda a estrutura da FAB, nós de-vemos verificar onde queremos chegar, ou seja, o que queremos ser, mediante o estabelecimento de uma concepção estratégica da organização, que apresen-te a sua visão de futuro. Em seguida, é preciso verificar onde estamos, fazendo uma avaliação estratégica das condi-cionantes atuais, observando qual é a realidade atual e se ela está aderente ao modelo estabelecido na concepção estra-tégica. Vencida esta etapa, poderemos estabelecer os passos de nossa jornada.

Nesta direção, o EMAER prevê, até o final do ano 2015, apresentar uma revisão do Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER), mediante

a metodologia citada, o que irá permi-tir ao COMAER uma reordenação de suas prioridades e, em decorrência, de seus projetos e da aplicação de seus recursos. Não é tarefa fácil!

Retornando à pergunta, eu diria que estamos, nos dias atuais, em um processo de adequação. Há frotas de aeronaves que podem ser reduzidas, algumas que necessitam de moder-nização e outras que precisam ser adquiridas. O ponto certo será aquele em que você consegue estabelecer um equilíbrio entre aquilo que é possível e o que é necessário, pois, às vezes, ter mais do que se necessita pode implicar em não se investir naquilo que é essen-cial, e vice-versa.

Aerovisão - O que a Aeronáutica pode fazer para ter mais aeronaves disponíveis?

“Por trás

dessas

aeronaves,

existem

milhares de

empregos de

alto nível,

melhores

salários e, em

decorrência,

melhor

qualidade de

vida para os

brasileiros. Isso

é muito bom

para o País”

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“...a estrutura segue a

estratégia”

Ten Brig Paes de Barros -Essa tarefa já vem sendo feita. Ações como a busca de parcerias com a Base Industrial de Defesa, por meio de contratos baseados em cláusulas de performance ou pa-gamento por horas de voo, bem como a melhoria na capacitação de nossos recursos humanos vêm demonstrando que, com os mesmos recursos, temos atingido metas de disponibilidade cada vez melhores. O foco na atividade de logística também se modificou, locali-zando-se menos no serviço e mais no cliente. Parece uma mudança simples, todavia faz grande diferença.

Para acelerar este processo, não basta apenas ter bons gerentes e mão de obra capacitada. Em última análise, para incrementar a quantidade de ae-ronaves disponíveis, é preciso que haja recursos e, neste sentido, a logística tem recebido prioridade dentro do or-çamento da Aeronáutica, considerando o cenário vivenciado.

Aerovisão - A FAB está trabalhando na condução de uma Parceria Público--Privada (PPP) para a manutenção de boa parte da sua frota de aeronaves a partir de 2017. Que ganhos essa parce-ria deve trazer para a FAB? Que outras áreas/setores podem vir a se tornar objetos de PPP?

Ten Brig Paes de Barros - Dentre as várias vantagens da PPP, estão os contratos de longo prazo (30 anos), permitindo ao ente privado maior segurança nos seus investimentos em infraestrutura e, em contrapartida, via-bilizando a possibilidade de menores custos para o ente público.

A PPP permite, ainda, que receitas extras captadas pelo setor privado possam ser abatidas dos custos do contratante. Ao fim do contrato, todos os investimentos em infraestrutura realizados pela parte privada da PPP retornam à FAB.

No mesmo sentido, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) também propôs uma PPP, de maneira

a atender aos serviços de suprimento e manutenção dos equipamentos do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB).

Outros modelos de PPP ainda po-derão ser analisados e implementados na FAB, tais como hospitais, projetos da área de ciência e tecnologia e outros.

Aerovisão - Algumas organizações da FAB estão criando Grupamentos de Apoio (GAP) para centralizar as ativi-dades administrativas e permitir que as unidades se dediquem exclusivamente à sua atividade-fim. Quais as vantagens para a Força nessa mudança? Que uni-dades devem receber um GAP? Que atividades ele vai executar?

Ten Brig Paes de Barros - Ao longo do tempo, várias organizações, por ini-ciativa própria, iniciaram processos de centralização de atividades, utilizando--se de suas experiências profissionais locais. A partir de agora, mediante o estabelecimento de uma Diretriz do Comandante da Aeronáutica sobre o assunto, o objetivo é que toda a admi-nistração siga a mesma metodologia de implantação, fazendo com que tenhamos as mesmas regras, a mesma legislação e o mesmo modelo.

Todas as organizações do COMAER estão sendo apoiadas por um determi-nado GAP, fazendo com que elas pos-sam se dedicar integralmente às suas atividades-fim, enquanto o GAP tratará das atividades concernentes ao apoio.

Já foram criados o Grupamento de Apoio Logístico (GAL), o Grupamento de Apoio do Rio de Janeiro (GAP-RJ) e o Grupamento de Apoio da Saúde (GAPS), com características específicas. Agora, em uma primeira fase do traba-lho, serão criadas unidades de apoio de Anápolis (GO), do Sexto Comando Aé-reo Regional (VI COMAR, em Brasília), de Pirassununga (SP) e dos Afonsos (na cidade do Rio de Janeiro). Após a im-plantação dos quatro primeiros GAPs, serão elencadas novas localidades.

Os principais benefícios serão a eco-

nomia de meios humanos e financeiros, visto que a mudança deve reduzir sig-nificativamente a quantidade de servi-ços redundantes, o preenchimento das lacunas de recursos humanos, a padro-nização dos processos administrativos, como também e o mais importante, o foco na atividade operacional.

Nessa fase inicial, serão consoli-dadas as atividades de almoxarifado, fardamento, pessoal militar e civil, transporte de superfície, obtenção (licitações, contratos e pagamentos), protocolo e arquivo, tecnologia da informação (administrativa), subsistên-cia, prefeituras e pagamento de pessoal.

Para a consecução desse objetivo, é necessário que todo o efetivo tenha consciência da importância desse trabalho, amenizando as reações con-trárias e buscando soluções factíveis para vencer os obstáculos que poderão

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surgir, pois só assim poderemos ter no futuro uma gestão eficaz e uma gover-nança real das atividades do COMAER.

Aerovisão - O corte orçamentário em 2015 para a área de defesa foi de R$ 5,6 bilhões, passando de R$ 22 bi para R$ 17 bi, anunciado em maio. Como funciona esse repasse para as Forças? Qual foi o efetivo corte para a FAB?

Ten Brig Paes de Barros - É preciso destacar que o corte orçamentário foi aplicado somente sobre as Despesas Discricionárias (Outras Despesas Cor-rentes e de Capital - OCC), não sendo aplicável às Despesas Obrigatórias.

Neste sentido, o Ministério da Defesa estabeleceu um corte linear de 21 %, com base no Projeto de Lei de Orçamento Anual 2015 para cada Força e para a Ad-ministração Central, tendo preservado os recursos destinados ao investimento

do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Isso significou uma redução no orçamento do COMAER no valor de R$ 585,4 milhões.

Além da redução ocorrida em maio, houve um segundo corte em julho deste ano, no valor de R$ 108,6 milhões para o COMAER, equivalente a 4,94% sobre o valor remanescente do corte ante-rior. Dessa forma, a redução total, em relação ao valor inicial do orçamento do COMAER foi de aproximadamente 26%, o que equivale a um montante de R$ 694 milhões.

Já com relação aos projetos que fa-zem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (KC-390 e F-X2), foram realizados, em maio, cortes pelo Minis-tério da Defesa, priorizando aqueles considerados essenciais.

Como consequência, coube ao COMAER um corte orçamentário de

R$ 160 milhões no projeto de aquisição da aeronave KC-390, tendo sido preservados os recursos destinados ao desenvolvimento desta aeronave, bem como aqueles referentes ao programa da aeronave de combate F-X2.

Aerovisão - Como foram definidos os cortes no âmbito da FAB?

Ten Brig Paes de Barros-Em ra-zão do cenário orçamentário que foi estabelecido a partir de julho de 2015, o COMAER viu-se obrigado a aumen-tar as medidas de austeridade e de otimização do emprego dos recursos públicos, os quais atingiram todos os segmentos da Força (administrativos, técnicos e operacionais).

Nesse contexto, buscou-se pre-servar ao máximo os compromissos contratuais, de forma a não prejudicar a continuidade dos projetos em anda-

O COMAER investe em melhorias nos sistemas de gestão da Força para otimizar o uso de recursos públicos.

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mento. Contudo, foi necessário reduzir o esforço aéreo de 150.000 para 130.000 horas de voo, a fi m de se adequar aos recursos existentes, como também preservar o mínimo de treinamento e prontidão operacional da FAB.

Aerovisão - Em que mudanças efe-tivas o COMAER tem trabalhado para se adequar a esse momento sensível para a administração pública? Quais as principais estratégias de gestão a serem adotadas em momentos de contenção de gastos sem paralisar as atividades essenciais da Aeronáutica?

Ten Brig Paes de Barros - Ao longo desta entrevista, foram aborda-das diversas iniciativas e estratégias promovidas pelo COMAER para fazer frente às difi culdades orçamentárias, decorrentes da conjuntura econômica atual, de maneira a não interromper os grandes projetos da FAB, os quais têm importância relevante para o futuro da instituição, como também continuar provendo os recursos ne-cessários ao custeio das atividades

operacionais e administrativas.Neste foco, ressalta-se o aprimo-

ramento de processos, a centralização administrativa, a adequação da frota de aeronaves, a implementação de Par-cerias Público-Privadas, dentre outros.

Contudo, é importante verifi car que toda instituição é um organismo vivo que convive com infl uências internas e externas. Isso quer dizer que, embora tenhamos percalços de curto prazo, não devemos apenas observar a instituição em termos de cenário vigente. Desta maneira, dentro de uma visão de longo prazo, após o estabelecimento de nossa concepção estratégica, ou seja, defi nir para onde queremos ir, devemos esta-belecer o nosso caminho: o PEMAER.

Ao longo dos anos, o COMAER vem sofrendo diversas modifi cações na sua Estratégia, muitas delas decor-rentes da transferência de estruturas que faziam parte do antigo Ministério da Aeronáutica para outros setores do País, como o antigo Departamento de Aviação Civil (DAC), a Embraer e a Infraero, o que, de alguma forma,

sinaliza que precisamos, mais do que nunca, reorientar a nossa visão de futuro.

Sendo assim e considerando a frase do reconhecido professor de administração em Harvard, Alfred Chandler, quando cita que “a estru-tura segue a estratégia”, devemos buscar uma nova fase no COMAER, na qual será necessário rever as nos-sas necessidades, tanto em termos de infraestrutura quanto de recursos humanos, para fazer frente aos novos desafi os que se descortinam.

É de suma importância considerar que os novos vetores aéreos, tais como o KC-390 e o FX-2, mediante as tecnologias embarcadas, novos armamentos com extrema eficácia e ainda considerando a inserção de sistemas de manutenção altamente modernos, terão impacto decisivo na nova visão de futuro da Força Aérea Brasileira, bem como nos decorrentes modelos de infraestrutura de apoio. Certamente irão fazer a diferença no porvir da organização.

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HISTÓRIA

Em nome da inovaçãoEscola Superior de Guerra home-nageia patrono de Engenharia da Aeronáutica

Com o nome “Destinos do Brasil”, a turma de 2015 do Curso de Altos Estudos de Política e Es-

tratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra (ESG) escolheu como patrono o Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, idealizador do Instituto Tecno-lógico de Aeronáutica (ITA) e do atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

“A contribuição do Marechal Casi-miro à Ciência e Tecnologia do Brasil é evidenciada pelo atual parque indus-trial brasileiro”, explica o Coronel Avan-delino Santana Júnior, da Força Aérea Brasileira, um dos alunos da turma. “O modelo perseguido por ele se baseava na estratégia defi nida pela trilogia Ensi-no- Pesquisa –Indústria, pois imaginava ser primordial o preparo de uma base sólida de recursos humanos para a implantação e o desenvolvimento de uma indústria aeronáutica”, completa.

Nascido em 1904, Casimiro Monte-negro ingressou no Exército em 1923 e foi um dos pioneiros do primeiro voo

do Correio Aéreo Nacional entre o Rio de Janeiro e São Paulo, em 1931. Piloto e engenheiro, dez anos depois, com a criação da Aeronáutica, entrou na nova força. Depois de dois anos já ocupava o cargo de diretor técnico e começou a idealizar aquilo que um dia seria o ITA. Falecido no ano 2000, é hoje patrono da Engenharia da Aeronáutica Brasileira.

Com a homenagem, Casimiro Mon-tenegro integra agora o grupo de patro-nos homenageados por turmas da ESG desde 1950. Entre eles estão nomes como Barão do Rio Branco, Marechal Rondon, Duque de Caxias, Almirante Tamanda-ré, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Ana Nery e Juscelino Kubitschek.

Em dezembro de 1975, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Casimiro Mon-tenegro discursou sobre a importância de acreditar na coletividade. “Jamais acreditei em messianismo, estrelismo, concentração do poder e do mérito em um só indivíduo. Sempre trabalhei

em equipe. E se algum merecimento tenho, é o de ter sabido despertar em meus companheiros o entusiasmo, delegar-lhes autoridade com respon-sabilidade, exortá-los ao pleno uso de suas potencialidades e qualidades, em proveito do povo brasileiro”.

Formada por 32 integrantes de diver-sos setores da sociedade civil e 34 milita-res das Forças Armadas e estaduais, além de sete estrangeiros, a turma “Destinos do Brasil” é um desses exemplos de companheirismo visando ao interesse comum: estudar o Brasil.

Criada em 1949, a ESG é comandan-da por ofi ciais-generais dos últimos postos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em sistema de rodízio. Desde 1951, além de militares, os cur-sos oferecidos pela escola passaram a receber alunos civis. Após 66 anos de história, mais de oito mil pessoas já foram diplomadas pela ESG, incluin-do quatro Presidentes da República, Ministros de Estado e personalidades do cenário político brasileiro.

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GESTÃOGESTÃO

Mais com menosReorganização de unidades da FAB aumenta a eficiência e libera recursos para atividades-fim

HumBERTO LEITE

16 AerovisãoOut/Nov/Dez 2015

Responsável pelos serviços de manutenção de aeronaves como os cargueiros C-130 Hércules

e os caças A-1, o Parque de Material Aeronáutico do Galeão (PAMA-GL) é uma das unidades da FAB que passam por um processo de mudança de ges-tão para ampliar o foco na atividade--fim. Até 2013, o setor de finanças da Organização Militar concentrava dez militares responsáveis por dar apoio nas atividades de pagamento. Naque-le ano, porém, a sala foi fechada. O Comando-Geral de Apoio (COMGAP) concentrou em uma só unidade, o Gru-

pamento de Apoio Logístico (GAL), o trabalho da área de finanças de nove organizações localizadas no Rio de Janeiro (RJ), incluindo o PAMA-GL.

Hoje, uma única seção de finan-ças, com quinze membros, cuida de um efetivo total de 3.390 militares na cidade. Antes, só no PAMA-GL, eram dez responsáveis pelas atividades burocráticas para um total de 958. Em termos estatísticos, a proporção entre o pessoal de finanças e o total subiu de 95,8 para 226.

“A iniciativa da criação do GAL trouxe benefícios que vão além da

redução do efetivo, na medida em que a maximização da força de trabalho é consequência de uma melhor gestão do fluxo de processos, padronização de procedimentos e melhor controle e acompanhamento da rotina diária”, diz o Major Rodrigo Moro Loureiro. Foram concentradas no GAL as atividades de pagamento de pessoal, de licitações, de celebração de contratos e de execução orçamentária, financeira e patrimonial, além da tarefa de elaborar e gerar um único boletim interno.

A concentração de atividades sig-nificou ainda uma redução de 39,48%

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no número de documentos contábeis gerados, como Notas de Empenho e Notas de Serviço: de 58.752 baixou para 35.554. Outra comparação possí-vel está na execução orçamentária. Os quinze membros da equipe de finanças do GAL trabalharam com um total de R$ 239.581.016,96 em 2014, enquanto os dez da antiga seção do PAMA--GL trabalharam com um total de R$ 97.535.413,56. Ou seja, um efetivo 50% maior `lidou com volumes financeiros 145,63% maiores.

O trabalho unificado também fa-cilitou o trâmite entre o Comando da

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Aeronáutica e órgãos externos. É o caso da Consultoria Jurídica da União na ci-dade do Rio de Janeiro. Os 186 processos licitatórios e as 160 atas de registro de preço conduzidas pelo GAL foram en-caminhados de forma centralizada. “Em vez de recebermos inúmeros processos de várias unidades, o órgão especiali-zado encaminha apenas um processo, que atenderá às demandas e necessi-dades de diversas unidades”, afi rma a Consultora da União, Ana Valéria de Andrade Rabelo. Para ela, o GAL é uma unidade “extremamente produtiva, pois otimiza a contratação ao reduzir custos operacional e de pessoal”.

Busca pela primaziaOutra iniciativa para aumentar a

efi ciência das unidades foi a criação, em 2013, do Prêmio Gestão Contábil do Comando da Aeronáutica, que avalia mais de 50 Unidades Gestoras Execu-toras de acordo com o cumprimento do Roteiro de Acompanhamento Contábil, que seguem as diretrizes da Secretaria do Tesouro Nacional. Vencedor em 2015, o Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), órgão responsável pelo treinamento de controladores de trá-fego aéreo, alcançou 99,76% de média no grau de performance contábil entre julho de 2014 e junho de 2015.

Para o Secretário de Economia e Finanças da Aeronáutica, Tenente-Bri-gadeiro do Ar Antonio Franciscangelis Neto, a correção e a transparência são fundamentais para o relacionamento da Aeronáutica com o Governo Federal. “Além de motivar as pessoas que traba-lham na área, o prêmio tem também o objetivo de mostrar o compromisso com a transparência dos dados para a toma-da de decisões estratégicas”, ressaltou o ofi cial-general durante a entrega da premiação ao ICEA, em agosto.

Essas experiências foram compar-tilhadas em setembro durante o 1° Seminário de Custos do Comando da Aeronáutica, realizado em Brasília. Os palestrantes dos Ministérios da Fazen-

da e da Defesa, da Marinha e do Exér-cito, além da própria FAB, debateram sobre os aspectos da implantação e uso do sistema de informações de custos.

O Major Giovanni Magliano Junior, da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica (SEFA), apresentou a experiência da instituição na gestão de custos e destacou os principais benefícios da utilização do Sistema de Informações de Custos (SIC) do governo federal. “Um dos aspectos é a economia com os serviços públicos. Para controlar os gastos precisamos primeiro medi-los e depois planejar o investimento”, explicou o major.

A subsecretária de Contabilidade Pública da Secretaria do Tesouro Na-cional, Gildenora Batista Dantas Mi-lhomem, destacou o trabalho realizado pela Força Aérea Brasileira. “O trabalho passou por um amadurecimento e é uma das experiências de sucesso na administração pública”, disse. “Nós colocamos como benchmark da admi-nistração pública federal”, completou.

Base Aérea de SantosOutro projeto para redução de custos

com aumento da efi ciência acontece no litoral paulista. Em 2012, uma área de 1.533.675,84 m² da Base Aérea de Santos foi cedida à Prefeitura do Guarujá para a construção do Aeroporto Metropolitano da Baixada Santista. Do terreno restante, um total de 938.240,63 m², o objetivo é fi car com 191.017,59 m², o equivalente a 6,8% da área original. O restante deverá ser cedido, alugado ou vendido.

“O objetivo é ter uma base enxuta, mas plenamente capaz de cumprir a mis-são de apoiar unidades em operação na área”, explica o Comandante do Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), Major-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno. Livre da obrigação de cuidar de uma grande área patrimonial, o efeti-vo de 120 militares está agora focado na manutenção de estruturas operacionais, como o hangar, a pista de pouso e o pátio de estacionamento de aeronaves.

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Um C-105 Amazonas opera a partir da Base Aérea de Santos: a aeronave passa por revisões no Parque de Material Aeronáutico do Galeão, uma das unidades que teve suas atividades administrativas repassadas ao Grupamento de Apoio Logístico para poder se concentrar na manutenção da frota. Já a Base também passou por mudanças para poder apoiar melhor as operações aéreas e a um custo menor.

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Assista a reportagem sobre o Seminário de Gestão de Custos

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DEFESA

Operação na fronteira melhora contas públicasEstudo revela que atuação das Forças Armadas e de órgãos civis nas fronteiras aumenta a arrecadação de impostos no Brasil

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Operação na fronteira melhora contas públicas

Voltadas para o combate a crimes em região de fronteira, como o contrabando, as Operações

Ágata aumentam a arrecadação de tri-butos federais. É o que revela um estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvi-mento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), que observou uma relação direta entre a realização de operações nas fronteiras brasileiras e o aumento da arrecadação pública.

De acordo com o estudo, o custo médio de cada edição da Operação Ágata é de R$ 16,3 milhões, menos de 15% do retorno obtido na expansão da receita tributária. Há ainda outros be-nefícios não computados, como ações complementares de saúde, educação, cidadania e segurança.

Em 2011, quando ocorreram três

edições da Ágata, a média de arrecada-ção do Imposto de Importação foi de 7,71% sobre a receita tributária. Porém, nos meses da Operação, o índice subiu: 9,72%, em agosto; 9,39%, em setembro; e 9,84% em novembro. O mesmo fenôme-no ocorreu na arrecadação do IPI, com a média anual de arrecadação de 13,41% e a média dos meses de Operação sendo de 14,94% (agosto), 16,02% (setembro) e 14,84% (outubro).

“Quando se inibe o contrabando, consequentemente cresce a arrecadação de impostos e a indústria formal volta a ocupar seu lugar no mercado, contribuin-do com a economia e a geração de empre-gos”, diz Luciano Barros, presidente do IDESF. Segundo o Instituto, o País deixa de arrecadar em impostos nas regiões de fronteiras cerca de R$ 25 bilhões ao ano.

Foram analisados dados das oito edi-ções da Operação Ágata, realizadas entre 2011 e 2014. O Instituto verifi cou as recei-tas de arrecadação relacionadas com os dois principais impostos que produzem efeitos sobre os produtos importados: o Imposto de Importação e o Imposto de Produtos Industrializados. De acordo com o IDESF, a redução na oferta de produtos contrabandeados estimula o consumo de artigos fabricados no Brasil ou daqueles importados legalmente.

Para o conselheiro do IDESF, Fer-nando Bomfi glio, “o contrabando é um problema muito grave para a socieda-de brasileira porque traz criminalida-de; para o governo traz diminuição na arrecadação fi scal e para empresas traz instabilidade fi nanceira e desem-prego”, afi rmou.

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Forças Aéreas unidas nas fronteirasForça Aérea Brasileira realiza treinamentos com países vizinhos para coibir voos ilegais nas regiões de fronteira

HumBERTO LEITELORENA mOLTER

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Um avião de pequeno porte é detectado em voo ilegal em uma região de fronteira. Ca-

ças da FAB decolam para a intercep-tação, mas a aeronave irregular logo muda de rota e invade o espaço aéreo de outro país. Fim da interceptação? Se depender dos acordos entre forças aéreas da América do Sul, não.

Em julho e agosto, a FAB realizou os exercícios COLBRA e PERBRA, respectivamente com as forças aé-reas da Colômbia e do Peru. Nos dois casos, o objetivo foi aprimorar a coordenação dos chamados Tráfe-gos Aéreos de Interesse (TAI) para combater os crimes transnacionais, como narcotráfi co e contrabando.

Em resumo, a ideia é que se o sistema de defesa aérea de um país detecta uma aeronave em rota para o espaço do outro sem autorização, entrará em contato com seu órgão correlato na nação vizinha para ajudar na interceptação. Os exer-cícios serviram para treinar esse procedimento. “São dois países que têm uma fronteira bastante sensível,

onde ocorrem muitos ilícitos trans-fronteiriços, e têm grande interesse em mitigar esse volume de ilícitos”, explicou o Coronel Marcelo Alvim, diretor brasileiro da PERBRA.

A COLBRA aconteceu entre os dias 13 e 17 de julho e teve como sede as ci-dades de Letícia, na Colômbia, e de São Gabriel da Cachoeira (AM), no Brasil. Já a PERBRA ocorreu entre 24 e 28 de agosto a partir das cidades de Pucallpa, no Peru, e de Cruzeiro do Sul (AC), no Brasil.

Durante os dois exercícios, de um lado uma aeronave proveniente do país vizinho ingressava no espaço aéreo brasileiro, simulando ser um voo irregular. Cabia à FAB detectar a aeronave e coordenar a interceptação por caças A-29 Super Tucano e o pou-so obrigatório da aeronave invasora. Por outro, um C-98 Caravan da FAB saía do Brasil e ingressava no espaço aéreo estrangeiro e passava pelos mesmos procedimentos de intercep-tação e pouso obrigatório.

O desafio maior era garantir a atuação conjunta dos órgãos de controle e defesa do espaço aéreo.

Cabia ao Centro de Operação Militares (COPM) do Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV) trabalhar em sintonia com os órgãos dos países vizinhos. No caso da COLBRA, era o Grupo Aéreo do Amazonas (GAAMA), enquanto a PERBRA teve a atuação do Comando de Controle Aeroespacial (COMCA).

Para o Comandante do GAAMA da Força Aérea da Colômbia, Coronel Jairo Hernando Orjuela Arelavo, a COLBRA teve papel fundamental no combate ao narcotráfi co. “É um exercício operacio-nal bastante importante para a Força Aérea Colombiana, visto que, primeiro, nos deixa muito bem treinados contra o narcotráfi co e, segundo, porque adqui-rimos uma grande experiência, como a da Força Aérea Brasileira, em exercícios internacionais”, afi rmou.

Houve intensa troca de experiências entre os participantes. “Esse exercício combinado entre as forças aéreas do Brasil e do Peru é muito importante, sobretudo na parte operacional, para que os pilotos troquem experiências e

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Forças Aéreas unidas nas fronteiras

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estejam preparados para combaterem ilícitos e, neste caso, para combaterem o narcotráfi co”, afi rmou o Coronel Amé-rico Gonzales, da Força Aérea do Peru.

Aviadores brasileiros voaram a bordo dos jatos A-37 Dragonfly das forças aéreas do Peru e da Colômbia, enquanto controladores de tráfego aéreo acompanharam as operações a partir dos centros de controle estrangeiros. “Foi interessante observar pilotos militares que executam a mesma missão de defesa aérea, mas utilizam técnicas diferentes”,

disse o Tenente Leonardo Teixeira, do Esquadrão Escorpião (1º/3º GAV), que voou a bordo de um A-37 da Colômbia.

Os treinamentos são resultado de acordos de cooperação mútua assina-dos entre o Brasil e países vizinhos para estabelecer procedimentos específi cos de coordenação voltados para a defesa aérea na fronteira. A quarta edição da COLBRA e a sexta da PERBRA se in-serem em um planejamento maior de treinamentos que inclui a execução de outros exercícios da mesma natureza

com outros países da América do Sul (veja o infográfi co na página ao lado).

O Comando de Defesa Aeroespa-cial Brasileiro (COMDABRA) é respon-sável pelo planejamento, coordenação e supervisão desses exercícios. Para o comandante do COMDABRA, Major--Brigadeiro do Ar Antônio Carlos Egito do Amaral, os exercícios também serviram para mostrar a mobilidade da Força Aérea Brasileira. “É importante para marcar a presença da FAB nesse rincão do País”, afi rmou.

Assista a reportagens sobre o exercício PERBRA

para marcar a presença da FAB nesse

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Operações de fronteira da FAB

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DEFESA AÉREA

Guardiã do desenvolvimentoLocalizada no coração econômico do País, a Base Aérea de Santa Cruz é sede de unida-des de caça e se prepara para defender o céu do Rio de Janeiro durante as Olimpíadas

DANIELE GRuPPI

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Quatro horas da manhã. Dis-para o alarme do sistema de defesa aérea na Base de Santa

Cruz (BASC), na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O sinal é senha de uma possível ameaça ao espaço aéreo brasileiro. Minutos depois, militares do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) já estão a postos para decolar com caças F-5 e interceptar o intruso. A invasão do espaço aéreo brasileiro, no entanto, foi só uma simu-

lação para treinar a prontidão daqueles que zelam 24 horas pela segurança do território brasileiro.

Os acionamentos são imprevi-síveis e fazem parte da rotina de treinamentos dos militares. Tudo isso para manter a operacionalidade da unidade responsável pela defesa aérea do polo industrial do Sudeste, região que concentra 58% do Produ-to Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na área de atuação do 1º GAVCA estão

o eixo Rio-São Paulo e infrastruturas estratégicas como usinas nucleares, indústrias de alta tecnologia e as duas cidades mais populosas do País.

Para que o esquadrão cumpra com efetividade a missão, é imprescindível ter a BASC como sede. Partindo da base, os caças chegam a qualquer pon-to da cidade de São Paulo em exatos 20 minutos. Se o destino for Angra dos Reis, apenas cinco minutos. Já para Belo Horizonte, 35 minutos. Sobre o

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Guardiã do desenvolvimento

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centro do Rio de Janeiro, são dezenas de segundos após a decolagem.

A posição geográfi ca também jus-tifi ca a presença, na BASC, do Esqua-drão Adelphi (1º/16º GAV), preparado para atacar em vários pontos do País. “O caça A-1M pode decolar de Santa Cruz e fazer incursões próximas ao eixo Rio-São Paulo e retornar para a base sem a necessidade de reabaste-cimento”, explica o comandante do Esquadrão, Tenente-Coronel Roberto

Martire Pires. As missões de ataque também podem ocorrer sobre o mar, onde há campos petrolíferos, ativida-des pesqueiras e trânsito intenso de navios de carga.

Exercícios operacionaisAlém do Primeiro Grupo de Avia-

ção de Caça e do Esquadrão Adelphi, a infraestrutura da BASC também é utilizada para sediar treinamentos com a participação de outros esqua-

drões da FAB e até de outros países. O número de voos pode aumentar em 40% durante esses exercícios, se comparado com os dias normais.

Em novembro, a Base receberá o exercício operacional USABRA, que vai envolver os caças F-5 e A-1 da Força Aérea Brasileira e o porta-aviões USS George Washington (CVN-73) da Ma-rinha dos Estados Unidos, com caças F-18. “O objetivo é verifi car a pronti-dão da tripulação para o combate”,

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O esquema de segurança nos Jogos Olímpicos inclui caças, como o F-5, e Aeronaves Remotamente Pilotadas (acima). Os modelos de-vem ficar baseados em Santa Cruz, a poucos minutos das arenas.

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explica o comandante do 1º GAVCA, Tenente-Coronel Rubens Gonçalves.

O exercício será apenas mais um com sede na base. Em setembro, foi realizado a Orunganitas II, que contou, pela primei-ra vez, com o lançamento de bombas a partir da aeronave de patrulha marítima P-3AM Orion. Para o comandante do Esquadrão Orungan (1º/7º GAV), Te-nente-Coronel Antônio Ferreira de Lima Junior, a BASC é ideal para realizar o trei-namento. “Possui todos os equipamentos para armar a aeronave e é um aeródromo

totalmente militar. Não teríamos como fazer em outra base”, afirma

Não só a FAB, mas Marinha e Exér-cito também realizam missões em Santa Cruz. “Quando a Marinha treina no estande de tiros de Marambaia, ela rea-bastece as aeronaves e troca a tripulação na base. Já o Exército solicita apoio para as manobras de artilharia antiaérea”, conta o comandante da Base, Coronel Luiz Cláudio Macedo Santos.

De acordo com o Coronel, a BASC tem capacidade para absorver diversos

treinamentos. Com 2.300 hectares de área e o entorno pouco habitado, torna--se seguro utilizar aeronaves armadas. Além disso, o tráfego aéreo não sofre interferências de aeronaves civis.

A proximidade do estante de tiro localizado na restinga de Marambaia, a apenas 18 quilômetros de distância, também contribui para a realização de treinamentos a partir da BASC. Com alvos mais próximos, as aeronaves gastam menos combustível em cada missão de treinamento.

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Em agosto de 2016, os Jogos Olím-picos trarão para o Rio de Janeiro mais de dez mil atletas de 206 países, que irão disputar 306 medalhas em 17 dias de competição. Nos bastidores desse evento, muita movimentação e a montagem de uma estrutura especial para garantir que os holofotes captem somente o brilho dos competidores. Toda essa preparação também envolve a Base Aérea de Santa Cruz, que será uma das unidades militares responsá-

veis pela segurança do espaço aéreo durante o período.

Segundo o comandante da BASC, Coronel Luiz Cláudio Macedo Santos, a base receberá cerca de 250 militares de cinco esquadrões, que vão atuar em turnos, visando manter a soberania na-cional e a segurança dos voos durante 24 horas. Aviões de caça, transporte, helicópteros e Aeronaves Remotamente Pilotadas serão diretamente emprega-dos. “Os aviões e os militares começam

Base Aérea é peça-chave para segurança nas Olimpíadas

a chegar dois meses antes do evento e permanecem até dez dias depois. Como os Jogos Paraolímpicos ocorrem na sequência, a estrutura operacional será mantida. Assim, o envolvimento da base deve durar, aproximadamente, quatro meses”, explica.

A BASC também teve a mesma atu-ação em outros grandes eventos, como a Copa das Confederações, a Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa do Mundo.

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Ação socialO dia a dia da base, porém, não se

resume à atuação dos caças. Santa Cruz forma por ano de 70 a 120 soldados, nú-mero que varia de acordo com as vagas disponibilizadas no Batalhão de Infan-taria (BINFA) e, em funções auxiliares, nos dois esquadrões e nas outras duas unidades sediadas na BASC: o Primeiro Grupo de Comunicações e Controle (1º GCC) e o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Santa Cruz (DTCEA--SC). Para muitos jovens, ingressar como soldado é a oportunidade de ter uma formação para o mercado de tra-balho ou de seguir na carreira militar.

A comunidade também participa de eventos promovidos pela Base. As ações

cívico-sociais promovem atendimento médico e odontológico, além de ativi-dades educativas voltadas para a pre-venção de doenças. Há ainda palestras sobre cidadania para a juventude, que ocorrem várias vezes por ano. “A base tem essa preocupação de estar junto da população. Esses eventos mostram nosso trabalho e podem atrair os jo-vens para a carreira militar”, explica o comandante da BASC.

História Tombado pelo Instituto do Patri-

mônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o hangar de 274 metros de comprimento, 58 de altura e 58 de largu-

ra localizado ao lado da pista da BASC foi inaugurado em 26 de dezembro de 1936 para receber o dirigível Zeppelin. A operação civil durou pouco: já no ano seguinte a Alemanha encerrou os voos comerciais após a tragédia com o Hin-denburg. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, Santa Cruz se tornou sede do 1º Regimento de Aviação.

Durante a Segunda Guerra, a Base recebeu dirigíveis da Marinha dos Estados Unidos utilizados em missões de patrulha marítima. Após o confl ito, em 1945, a Base recebeu o 1° Grupo de Aviação de Caça, que combateu na Itália e até hoje está sediado na Base Aérea de Santa Cruz.

Veja o P-3AM Orion lançando bombas no estande de tiro

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Caças A-1 e F-5 em operação (acima), Ba-talhão de Infantaria em treinamento (ao lado) e técnicos da FAB prepa-rando uma bomba de treinamento para ser lançada por um avião P-3AM (abaixo).

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FLáVIA COCATEjuSSARA PECCINI

O show voltouA Esquadrilha da Fumaça está de volta. Com novas aeronaves, a apresentação conta também com o retorno de manobras

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ESQuADRILHA DA FumAÇA

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O show voltou

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36 Out/Nov/Dez 2015 Aerovisão

As plateias do Brasil e de todo o mun-do já podem novamente admirar e aplaudir as manobras da Esquadri-

lha da Fumaça. A reestreia, no dia 3 de julho, ocorreu de forma a preservar a sua missão his-tórica de motivar os cadetes da Aeronáutica. Foi uma demonstração na Academia da Força Aérea (AFA) para mais de duas mil pessoas, entre militares da FAB e seus familiares. Tam-bém já ocorreram apresentações em cidades de Goiás, do Paraná e de São Paulo, além de Brasília, no dia 7 de setembro.

Mais potentes e com uma pintura nas co-res da Bandeira do Brasil, os sete A-29 Super Tucano fazem uma apresentação composta de 50 acrobacias durante 35 minutos. Para cada uma delas há uma faixa de velocidade que varia entre 160 km/h e 540 km/h.

As manobras Chumboide e Lancevaque, que não eram executadas desde os anos 90, puderam ser retomadas com a nova aeronave. Ambas são realizadas pelo piloto da posição de número 7, o Isolado.

A adaptação da Esquadrilha da Fumaça ao novo modelo levou 27 meses de implantação operacional e logística. Foram 765 voos acro-báticos dedicados exclusivamente ao progra-ma. As manobras começaram a ser testadas a cinco mil pés de altura (1.524m) até serem executadas a 300 pés (91 m), como acontece nas demonstrações. “A condição para mudar de fase foi dominar o avião em toda a sua plenitude”, avalia o ofi cial de operações da Esquadrilha, Major Álvaro Escobar Veríssimo.

A substituição do T-27 Tucano envolveu 18 pilotos. O período de treinamento foi divi-dido em diversas etapas, como aulas teóricas sobre o novo avião – conhecidas como Ground School - e testes da execução das manobras em locais pré-determinados pelo País, escolhidos de acordo com os diferentes níveis de altitude e temperatura.

Além do processo de treinamento dos pilotos, o programa contou também com a capacitação de mecânicos de manutenção na nova aeronave e na preparação logísti-ca. Para o comandante da Esquadrilha da Fumaça, Coronel Marcelo Gobett Cardoso, “os processos desenvolvidos e a metodo-logia aplicada nos estudos e na atividade aérea foram fatores de extrema importância durante todo o programa”.

SustentabilidadeUma novidade adotada com os A-29 Super Tucano é que a fumaça

lançada pelas aeronaves é ecologicamente correta. Um novo óleo está sendo utilizado e sua queima não agride a camada de ozônio nem contribui para o aquecimento global.

“A fumaça é muito importante não só pelo traçado que faz durante as manobras realizadas pelas aeronaves - facilitando a visualização por parte do público - como também serve de referência para os pilotos que, em voo, têm a ajuda na identifi cação da posição dos outros aviões durante uma demonstração”, afi rma o chefe da seção de material, Major Márcio Aparecido Tonisso.

O desenvolvimento do sistema de fumaça para os Super Tucanos aconteceu em parceria com os mecânicos da Esquadrilha, do Parque Material de Aeronáutica de Lagoa Santa (PAMA-LS) e da Embraer, fabricante do avião. O projeto também inclui a criação de um softwa-re específico para a elaboração de escrita com a fumaça, seguindo a tradição iniciada em 1953, quando, sobre a Praia de Copacabana, o sistema de escrita no céu foi iniciado com apenas três letras: “FAB”.

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À esquerda, a manobra chumbóide. À direita, a lancevaque. Ambas voltaram a fazer parte da apresentação da Esquadrilha da Fumaça, que também inclui manobras com sete aviões simultaneamente.

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Como agendar a Fumaça? A conhecida Esquadrilha da Fumaça é chamada ofi cialmente de Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) e é uma unidade da Força Aérea Brasileira. As demonstrações do EDA são coordenadas pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) de acordo com critérios como importância do evento no cenário nacional/internacional, público estimado durante a apresentação e possibilidades logísticas.

Para solicitar uma demonstração, é necessário enviar um ofício assinado ao CECOMSAER (Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar CEP: 70045-900 - Brasília - DF) com antecedência mínima de quatro meses, mencionando nome, endereço, data do evento, telefone para contato e público estimado. Recomenda-se sugerir mais de uma data para a possível demonstração.

Vale lembrar que as exibições da Esquadrilha da Fumaça são demonstrações públicas, gratuitas e de caráter institucional, não cabendo, portanto, veiculações com propósito comercial ou de propaganda político-partidária.

Tecnologia Uma das novas possibilidades tecno-

lógicas recebidas com os A-29 Super Tu-cano foi o registro de dados de voo pelo computador de bordo, cujos arquivos podem ser interpretados pelo Sistema de Planejamento de Missões Aéreas (PMA). O PMA permite visualizar os dados em 2D e 3D, onde é possível ver a rota com as referências no solo. “O piloto consegue refazer o voo virtualmente, o que lhe permite lembrar os aconte-cimentos com mais detalhes para tirar lições. A ferramenta ajuda a reavivar a memória do piloto”, afi rma o Capitão Nilson Rafael Oliveira Gasparelo, piloto da posição Nº 5 - Ala Es-querda Externa da Fumaça.

Responsável por planejar os deslo-camentos do grupo para as apresenta-ções, o Capitão Gasparelo explica que o software gera economia de tempo e recursos humanos. “O trabalho que levava um dia para fazer manualmente, o programa nos ajuda a executar em aproximadamente uma hora, além de oferecer mais con-fiabilidade dos dados”, explica.

Veja uma apresentação pelas lentes da Esqua-drilha da Fumaça

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A ajuda do “buruburu”Como militares e civis unem forças para levar auxílio a índios em tribos isoladas na região de fronteira

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Onde normalmente só é possível ouvir sons da natureza e das tribos indígenas, a presença

de um helicóptero H-60 Black Hawk da Força Aérea Brasileira não poderia deixar de ser um marco. E durante a última se-mana de agosto, um “buruburu”, como os yanomamis chamam os helicópteros, pousou em aldeias para tornar possível um trabalho que envolveu civis e milita-res com o objetivo de levar qualidade de vida para os indígenas.

O trabalho, sem fins lucrativos, atingiu as marcas de 237 cirurgias e 1.273 consultas médicas realizadas em Maturacá, comunidade na fronteira do Brasil com a Venezuela, a mais de 850 km de Manaus. Os médicos voluntários da organização não governamental Ex-pedicionários da Saúde contaram com o apoio das Forças Armadas. Somente um helicóptero H-60 transportou mais

de 150 índios de aldeias mais distantes até o local de atendimento.

“Nós levamos cidadania para esse indivíduo. Além de o índio ser um yanomami, ele vai ter orgulho de ser um brasileiro”, explica o presidente da Expedicionários da Saúde, Ricardo Affonso Ferreira.

Chiquinho Yanomami foi um dos pacientes. Aos 20 anos, ele sofria com uma hérnia epigástrica e seus movi-mentos estavam limitados, além de ter dor intensa. De “buruburu” foi levado para o hospital montado em Maturacá e operado com sucesso.

Um dos médicos voluntários, Gui-lherme Carvalho, explica que naquelas comunidades a importância da cirurgia vai além da saúde. “Quem tem hérnia não consegue fazer força. E na população indígena quem não faz força, quem não trabalha, é excluído da tribo”, explica.

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A ajuda do “buruburu”

Voluntários, os profissionais da ONG Expedicionários da Saúde já realizaram 33 expedições e contam com o apoio da Mari-nha, do Exército e da Força Aérea Brasileira.

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equipamentos e outras sete de gêneros alimentícios, além de combustível para os geradores.

De Campinas, de onde partiram os voluntários, foram mais de três mil qui-lômetros de viagem. Primeiro, um jato C-99 da FAB, semelhante a modelos co-merciais Embraer 145, fez o traslado até a cidade de São Gabriel da Cachoeira. De lá, a viagem seguiu em um cargueiro militar C-105 Amazonas.

O isolamento é um desafi o até para a aviação. Diferentemente do que acontece em outras regiões do País, se o pouso não for possível, não há alternativas para chegar às localidades rapidamente. “Muitas vezes tem que tomar essa decisão em rota”, explica o Tenente Kayo Coelho, piloto do he-licóptero H-60 Black Hawk.

Apesar de a área estar sob a co-bertura de radares do Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV), que auxilia o voo de aeronaves comer-ciais a grandes altitudes, a região não conta com equipamentos de auxílio à navegação. Também não há como realizar pouso por instrumentos.

Nas aldeias, os tripulantes de he-licópteros sequer têm locais defi nidos de pouso: eles buscam qualquer área descampada onde é possível tocar o solo com segurança. “Muitas vezes, nós encontramos a região de areal, que exige técnicas de pouso direto.

A cirurgia mais executada foi a de catarata: foram 116 procedimentos oft almológicos ao todo. Como a po-pulação indígena fi ca muito tempo exposta ao sol e à fumaça, o apareci-mento dessa doença é comum.

A paciente Adelaide Yanomami já quase não conseguia mais enxergar, o que atrapalhava no trabalho. “Agora consigo fazer quase tudo. Antes estava difícil por-

que eu tropeçava”, comemora.“Nós devolvemos dignidade

a essas pessoas. Isso é mui-to especial”, afirma uma

das coordenadoras da ONG, Márcia Abdalah. Além dos médicos, o

agradecimento dos indígenas também vai para os militares. “Ter as Forças Arma-

das aqui é uma honra”, garante um dos líderes da

comunidade de Maturacá, Júlio Góes Yanomami.

Operação militarPara que os 45 profi ssio-

nais de saúde voluntários pudessem trabalhar

em Maturacá, uma verdadeira opera-

ção de guerra foi montada. Ao todo, a

Força Aérea Brasileira le-vou para lá quinze toneladas de

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Isso porque, no momento do pouso, o helicóptero eleva muita areia, mui-tos detritos. Temos que ter cuidado porque o sopro do helicóptero pode desmontar as malocas de palha”, res-salta o Tenente Coelho.

O esforço se justifi ca pela capacidade do Black Hawk. “O helicóptero consegue levar uma quantidade de pacientes que um avião de pequeno porte não conse-gue transportar”, explica Dea Tereza Torres, uma das médicas voluntárias.

Voar em missões desse tipo tam-bém exige planejamento no uso de combustível. Para tornar a Expedição Yanomami possível, a FAB levou para Maturacá um reservatório de combus-tível com 10 mil litros. O reabasteci-mento remoto é muito usado na região amazônica para dar mais autonomia às aeronaves.

missão é estratégica para a fronteira De acordo com o Tenente-Coronel

Rodrigo Fontes, especializado em ações

de Cooperação Civil-Militar, esse tipo de parceria entre as Forças Armadas e organizações civis é importante em todo o mundo. “Está presente em todos os lugares. Vemos jornais desde o apoio nos desastres naturais até o drama dos refugiados de guerras, como na Síria, diz. Segundo ele, nos confl itos atuais é necessário atuar em parceria com organizações presentes em lugares de conflito, e o trabalho realizado com a ONG Expedicionários da Saúde é uma mostra da capacidade da FAB de realizar esse tipo de cooperação e com benefícios reais. “Para nós, brasileiros, relativamente distantes dos confl itos ar-mados, a duradoura parceria na região amazônica entre as Forças Armadas e ONGs proporcionam um alento às comunidades isoladas e re-força a presença do Estado”, conclui.

O comandante do Pelotão Especial de Fronteira (PEF) do Exército Brasileiro em Ma-

turacá, Tenente Júlio César, concorda. Para ele, a parceria com os indígenas é fundamental para proteger a Amazônia. “Eles nos auxiliam com conhecimentos. São brasileiros que merecem todo nosso apoio e que também nos apoiam”, diz. Durante a ação dos Expedicionários da Saúde, o hospital de campanha da ONG foi montado ao lado do PEF.

Já para os voluntários, levar o aten-dimento médico ao lugar onde os índios moram é fundamental para preservar a Amazônia. Uma das fi losofi as do grupo é que enquanto os índios estiverem na fl oresta, a fl oresta estará em pé. “Por isso que nós não simplesmente levamos os pacientes para São Paulo. Os índios são os melhores zeladores da fl oresta”, explica Fábio Atuí, médico cirurgião.

Essa foi a 33ª expedição da organi-zação, criada em 2003. Até hoje, com o apoio das Forças Armadas, os voluntários já realizaram 5.221 cirurgias e 32.229 atendimentos em localidades isoladas.

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Acompanhe o apoio da FAB a essa missão

já realizaram 5.221 cirurgias e 32.229

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OPERACIONAL

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Maiores aeronaves em operação na FAB, os C-130 Hércules completam 50 anos de missões que vão da selva à neve, da paz à guerra

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50 anos de peso pesado

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Se a pintura diferente e a qualida-de das fotos deixam transparecer, a escrita de Força Aérea ainda

como “Fôrça” confi rma a idade da frota de C-130 Hércules da FAB. São 50 anos como a espinha dorsal da aviação de transporte militar do Brasil. E sua im-portância pode ser ilustrada com uma curiosidade histórica: antes mesmo do primeiro C-130 da FAB pousar no Brasil, uma missão real já havia sido realizada.

Era 14 de novembro de 1965. Dali a três dias, o primeiro C-130 iria decolar dos Estados Unidos para fi nalmente vir ao Brasil. Como os tripulantes ha-viam concluído o curso de formação realizado na cidade norte-americana de Mariett a menos de 24 horas antes, não “custava nada” dar um “pulinho” em Washington para carregar material solicitado pela FAB. Foi assim que, há 50 anos, quando o primeiro C-130 foi recebido em uma base aérea brasileira, o voo não foi um simples traslado: o seu compartimento de carga já estava

devidamente ocupado por material logístico.

Essa história mostra bem o papel da frota de C-130 Hércules ao longo de cinco décadas de operação. Da Amazô-nia à Antártica, no Brasil e no exterior, o quadrimotor capaz de levar 20 tone-ladas de carga é um “pau para toda obra”. Suas missões vão muito além do chamado “transporte aerologístico”. Também estão no rol de atividades o lançamento de paraquedistas, busca e salvamento, combate a incêndios florestais, reabastecimento em voo, lançamento de cargas em voo, evacu-ação aeromédica e o suporte à missão brasileira na Antártica.

Recebido na Base Aérea do Galeão (BAGL) no dia 19 de novembro de 1965, após uma escala na Base Aérea de Natal (BANT), o primeiro C-130 foi seguido de um total de 29, entregues à FAB entre 1965 e 2002. Foram onze entre 1965 e 1969, mais cinco em 1975 e 1976 e três em 1987. O último lote, de

dez unidades, foi composto por aero-naves usadas da Força Aérea Italiana, recebidas a partir de 2001.

Hoje, a frota é menor. As unidades mais antigas foram retiradas de voo e já há até um C-130 no Museu Aeroespa-cial (MUSAL), no Rio de Janeiro. Os 17 remanescentes foram concentrados na Base Aérea do Galeão, que hoje é a casa das unidades operadores do Hércules: o 1° Grupo de Transporte (1º GT) e o 1° Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT). Este último até 2013 estava na Base Aérea dos Afonsos (BAAF). Já o Esquadrão Carcará (1º/6º GAV), com sede na Base Aérea do Recife (BARF), operou o C-130 entre 1969 e 1987 na missão de busca e salvamento.

Essa atividade, por sinal, tem o C-130 como uma aeronave de capaci-dade única na FAB. Devido a acordos internacionais, o Brasil é responsável por missões de busca e salvamento até o paralelo 10. Ou seja, o limite da área de responsabilidade brasileira vai até

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Abaixo, três momentos históricos do C-130. Nos anos 60, ainda com a primeira pintura metalizada (1). Nos anos 70, o primeiro KC-130, pintado de branco, inaugurou as operações de reabastecimento em voo no Brasil, na época realizado exclusivamente pelo 1º Grupo de Transporte de Tropa (2). E entre 1969 e 1987, a partir do Recife, o Esquadrão Carcará reali-zava missões de reconhecimento e de busca e salvamento com seus três C-130 (3).

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aproximadamente 3.400 quilômetros em linha reta, saindo do Rio de Janeiro, mar adentro. Para se ter uma ideia, é a mesma distância de voar do Rio até Boa Vista (RR). Sem carga e mais leve, o C-130 faz esse trabalho com uma au-tonomia maior: seu recorde é a perma-nência no ar por 16 horas e 51 minutos, durante a busca a um navio de bandeira cipriota. A área total de busca e salva-mento sob responsabilidade brasileira totaliza mais de 22 milhões de km2.

A aeronave que realizou essa mis-são foi um dos dois KC-130. O K vem da palavra inglesa tanker e designa as aeronaves com capacidade de reabas-tecer outras em pleno ar. Nesse caso, o compartimento de carga está ocupado por dois tanques extras de combustível e cada asa leva um casulo de onde são estendidas as mangueiras de 25 metros de comprimento. O total de combustí-vel embarcado em um voo deste tipo

pode chegar aos 50 mil litros, a serem gastos pelo KC e pelas aeronaves rea-bastecidas. Hoje, no Brasil, podem ser reabastecidos em voo os caças F-5 e A-1 da FAB, os AF-1 da Marinha, além dos futuros Gripen NG, que estão sendo adquiridos pela Aeronáutica.

Uma curiosidade sobre esse sistema é a taxa de transferência de combustível. São 2.250 litros por minuto. É como se em 60 segundos fosse possível reabas-tecer uma frota de 46 carros Fiat Uno.

Apesar de a missão dos Hércules ser o apoio aos caças em situações de combate, foi um desses quadrimotores que acabou no meio do fogo. Era o ano de 1979. A guerra civil na Nicarágua havia se ex-pandido ao ponto de o governo brasileiro determinar o resgate do seu Embaixador na capital Manágua. O pouso, o resgate e a decolagem aconteceram com sucesso, mas não sem o C-130 voltar para o Brasil com marcas de tiro de fuzil na fuselagem.

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Assista ao FAB em Ação sobre a operação do C-130 na Antártica

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Não foi a única situação tensa no exterior. Em 1992, em Caputo, na An-gola, a missão de resgate de brasileiros em meio a outra guerra civil foi amea-çada. No solo, o avião foi cercado por guerrilheiros e liberado somente após muita diplomacia dos militares da FAB.

Com alcance máximo de 5.325 km, o C-130 foi, desde o início da sua car-

reira, um dos principais vetores da pre-sença do Brasil no exterior. Já em 1966, antes do seu aniversário de um ano na FAB, já apoiava as missões de paz no Suez e na República Dominicana. Vieram depois Líbano, Moçambique, Congo e Haiti. Naquele mesmo ano foi realizada a primeira volta ao mundo, em 103 horas de voo, com escalas.

No Haiti, em 2010, quando um terremoto devastou Porto Príncipe e matou mais de 100 mil haitianos, os C-130 foram utilizados em uma verda-deira ponte aérea montada pela FAB. Na ida, os aviões levavam bombeiros, material de apoio, comida, remédios e até água potável. A bordo dos C-130, foram enviados para lá a equipe de 114 militares e todo o material neces-sário para atuar durante 131 dias e atender 24.184 pessoas. Foram 36.028 procedimentos médicos, incluindo 1.145 cirurgias e 200 partos.

Com a aposentadoria dos KC-137, em 2013, os C-130 são hoje “únicos” em inúmeros sentidos. São os únicos a realizarem reabastecimento em voo, únicos a poderem cumprir missões de transporte logístico e de ajuda humani-tária para outros continentes, os únicos capazes de voar missões de busca e salvamento com mais de dez horas de duração, os únicos a chegarem à Antár-tica e os únicos a realizarem missões de combate a incêndio fl orestal.

Mas, nos próximos anos isso vai mudar. Já está em testes o novo avião de transporte da FAB, o KC-390.

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Os C-130 Hércules são os únicos aviões da FAB a pousarem na Antártica (foto acima), mas essa é a apenas uma das tarefas realizadas. A aero-nave tem capacidade de levar até 20 toneladas de carga (1). Também pode fazer o lançamento de paraquedistas ou de carga em voo (2). Na versão KC-130, o interior é ocupado por dois tanques de combustível (3) para operações reabastecimento em voo. Em ambientes hostis, os C-130 da FAB podem lançar “iscas” para enganar mísseis (4). A grande autonomia também é aproveitada para missões de busca e salvamento (5). Mais recentemente, os Hercules receberam o equipamento necessário para atuarem no combate a incêndios fl orestais (6).

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Veja imagens do primeiro voo do jato KC-390

KC -390 inicia testes

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Criado pela Embraer para cumprir todas as missões realizadas pelos C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira, o jato KC-390 começa em outubro a passar pela chamada fase de certifi cação. “A aeronave terá que cumprir todos os pré--requisitos estabelecidos, e para isso passará por uma série de testes”, explica o gerente executivo do projeto na FAB, Coronel Cláudio Evangelista Cardoso. O primeiro voo foi realizado em fevereiro, mas agora o KC-390 enfrentará testes que validarão todos os aspectos do projeto. A expectativa é de que a nova aero-nave, desenvolvida em parceria com Argentina, Portugal e República Tcheca, consiga realizar todas as tarefas, porém, com a vantagem de poder voar mais rápido e com maior capacidade de carga. A FAB já assinou o contrato para a aquisição de 28 aeronaves.E

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Detalhes do KC-390: motores turbofan (1), sistema para ser reabastecido em voo (2), com-partimento de carga sufi ciente para o embarque de blinda-dos (3), duas sondas para reabastecer outras aeronaves em voo (4) e cabine com alta tecnologia (5).

Propulsão: 2 x turbofan Pratt & Whitney Propulsão: 4 x turboélice Allison T 56-A-15

Velocidade máxima: 870 Km/h Velocidade máxima: 592 Km/h

Teto máximo: 11 000 m Teto máximo: 10 600 m

Carga úti l: 23 000 Kg Carga úti l: 20 000 Kg

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HISTÓRIA

Unidos pela HistóriaSociedade civil e militares se articulam para criar um museu de aeronáutica na maior cidade do Hemisfério Sul

São mais de onze mil pousos e deco-lagens por mês. E após 95 anos de funcionamento, o Campo de Marte

se prepara para adotar uma rota inédita: a preservação da sua história. Um grupo de civis e militares está atualmente engajado no projeto de criação do Museu de Aero-náutica de São Paulo, que será erguido na região central da capital paulista.

“Precisamos cuidar melhor da memória da aviação no Brasil. Nem parece o País de Santos Dumont!”. O desabafo é de quem desde 1966 trabalha no Campo de Marte e sente a necessidade de um espaço para preservar a história. Francisco Souto Emílio, presidente do Aeroclube de São Paulo, acompanhou aeronaves antigas darem lugar a modelos moder-nos sem que existisse uma preservação do patrimônio histórico do local.

A ideia é ambiciosa. Os primeiros esboços traçam uma área construída de

40 mil metros quadrados, mais 10 mil metros quadrados para um pátio de es-tacionamento de aeronaves e uma rota de acesso à pista de pouso do Campo de Marte. Os acervos serão provenientes da Fundação Santos Dumont, da For-ça Aérea Brasileira e do Museu TAM, localizado no município de São Carlos, a 250 quilômetros da capital.

A localização é uma das maiores apostas para o sucesso do novo mu-seu. Vizinho ao parque Anhembi, local que recebe mais de 30% das prin-cipais feiras e eventos de negócios do Brasil, o novo equipamento cultural estará a dois quilômetros de uma esta-ção de metrô e do terminal rodoviário do Tietê. Com estacionamento para 560 veículos, o Museu ficará próximo à Marginal Tietê e à Avenida Santos Dumont, vias que ligam as zonas Leste e Oeste, e Norte e Sul da capital paulista. São 24 quilômetros até o Ae-

roporto Internacional de Guarulhos e 16 até o de Congonhas.

De acordo com a Empresa de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, SPTuris, há “uma grande von-tade em ter tal museu em São Paulo”, informou, via nota. Não por acaso: o museu tem potencial de se tornar uma atração turística da cidade.

Para se ter uma ideia, em Paris, o Museu de Le Bourget recebe mais de 260 mil visitantes por mês. Em Washington, o National Air and Space Museum superou a marca de 8,2 milhões em 2012. No Brasil, o Museu Aeroespacial (Musal), no Rio de Janeiro, tem uma média anual de 60 mil visitantes, contudo, por estar localizado na Zona Norte da capital carioca, longe dos principais pontos turísticos, a própria diretoria do Musal pensa em descentralizar seu acervo. Já o Museu de Aeronáutica

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de São Paulo não terá esse problema. De acordo com o Comandante do

Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), Major-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, o museu irá ocupar uma área vizinha ao Hospital de Força Aérea de São Paulo. “Há que se ter uma melhor utilização dessa área e o negócio do Campo de Marte é a aviação”, afi rma. Segundo o militar, o museu terá exposição de aeronaves e também de uma grande quantidade de itens ligados à história da aviação. “Nós temos um acervo fabuloso”, afi rma.

O próximo passo é a Aeronáutica defi nir como seria a cessão da área. Há a possibilidade de ser transferida de forma não onerosa, desde que seja para uma Organização Social ou uma Fundação. Também há a ideia de ven-da para alguma empresa que tenha interesse em explorar economicamente o futuro museu. Por enquanto, as

articulações acontecem em reuniões no IV COMAR, com a participação de profi ssionais da área de aviação e de instituições como Infraero, TAM, Aeroclube de São Paulo, Associação

Brasileira de Aviação Geral e Helibras, dentre outras. “Nessa hora estamos todos juntos”, fi naliza Francisco Souto Emílio, presidente do Aeroclube (foto abaixo).

Os 40 mil metros quadrados planejados para o prédio principal do museu poderão abrigar aeronaves e peças históricas que ajudem a contar a história da aviação em São Paulo, como o primeiro voo do Correio Aéreo Nacional, que partiu do Rio de Janeiro e chegou à capital paulista em 1931. O equipamento cultural irá ocupar uma área da Aeronáutica ao lado da pista de pouso do Campo de Marte.

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A cidade de São Paulo não tem nenhuma Base Aérea nem esquadrões da Força Aérea,

mas é estratégica para a defesa do País. A explicação está no lado norte da pista do Campo de Marte. Ali está localizado o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, unidade da FAB responsável pela manutenção avançada dos caças supersônicos F-5.

“A defesa aérea do Brasil depende do PAMA-SP”, afirma o Tenente-Coro-nel Fábio Leite, do efetivo da unidade. Segundo ele, a cada 1.200 horas, os jatos F-5 vão para lá, onde são com-pletamente desmontados, revisados e remontados. “Sai semi-novo, pronto para mais 1.200 horas”, explica.

Nas oficinas do Campo de Marte são realizados testes como raio-X nas fuse-

Campo de Marte tem presença militar desde os anos 20

lagens dos caças e utilização de líquido penetrante para descobrir qualquer falha estrutural. Após mais de 40 anos de operação na FAB, a manutenção da frota de 57 aeronaves de origem norte--americana é totalmente dominada pelos militares brasileiros, que também realizam testes dos motores.

O PAMA-SP recebe ainda os helicóp-teros H-50 Esquilo e os motores dos H-60 Black Hawk e H-36 Caracal. A unidade é responsável também pela condução dos projetos de manutenção dos Veículos Aéreos Não Tripulados utilizados pela FAB, os Hermes 450 e Hermes 900.

O futuro caça da FAB, o Gripen NG, também deve contar com o traba-lho realizado no Campo de Marte pelo PAMA-SP. O Parque terá capacidade de fazer revisões das 36 aeronaves

e de alguns itens, em parcerias com empresas envolvidas no projeto.

E, para o Tenente-Coronel Fábio Leite, essa é exatamente uma das principais vantagens da localização do PAMA-SP no Campo de Marte. Estar na capital paulista significa fácil acesso ao parque industrial da região. No caso do Gripen NG, por exemplo, haverá participação de empresas brasileiras localizadas na sua maioria no Estado de São Paulo.

Logística O mesmo discurso é adotado pelo

Coronel Marco Antônio Monteiro. “Se você olhar nossos fornecedores, 80% es-tão na região”, afirma o militar do Cen-tro Logístico da Aeronáutica (CELOG), unidade responsável pelo suprimento para toda a Força Aérea Brasileira.

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Também localizado na área do Campo de Marte, só que na parte do Sul, mais próximo do futuro museu de aeronáutica, o CELOG adquire itens como combustível de aviação, além de trabalhar com projetos de naciona-lização de itens. Ao seu lado funciona ainda a Subdiretoria de Abastecimento, que cuida de suprimentos das áreas de saúde, fardamento e alimentação.

A presença da Força Aérea no Cam-po de Marte é completada ainda pelo Quarto Serviço Regional de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáu-ticos (SERIPA IV), com atuação nos estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, além de unidades de apoio do Comando da Aeronáutica.

Hoje responsável pela manutenção avançada dos caças F-5 da FAB, o PAMA-SP tem suas origens nos anos 20, ainda como parte da Aviação do Exército, quando era praticamente a única construção na área do Campo de Marte.

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do Sul, além de unidades de apoio do

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VALORES DA FAB

Sobreviver à queda de um avião não é algo que ocorre corriqueiramen-te. Se a queda acontecer em plena

selva amazônica, já é muito mais difícil. Mas, e sobreviver por duas vezes nessas condições? Com certeza, algo muito raro.

Agora, imagine sobreviver a duas quedas e ser resgatado pelo mesmo pilo-to, em um intervalo de apenas cinco anos. Pois foi exatamente isso o que aconteceu com o piloto civil Ruy Anselmo Garcia Cândido e com o atual Subcomandante da Base Aérea de Boa Vista, Tenente--Coronel Jorge Luís de Oliveira Sampaio.

Em 28 junho de 1999, às 7h, Ruy decolou com uma aeronave Cessna da cidade de Altamira (PA) com destino a Gurupi (TO), para fazer uma entrega de sementes de pupunha. Aos 45 minutos de voo, ele notou que o avião apresenta-va um vazamento de óleo, o que não lhe deu outra alternativa além de fazer um pouso forçado. As condições do local, em plena fl oresta Amazônica, exigiam técnica e um pouco de sorte para que o piloto sobrevivesse. O Cabo José Ivaldo Pinho da Silva, um dos participantes do resgate, observou que foi a experiência que salvou Ruy da morte.

“Olhei lá de cima e vi uma brecha, mas teria de passar entre várias árvores. O avião poderia explodir, mas não pen-sei nisso, só em escapar”, explica Ruy. A manobra deu certo. O avião bateu no chão, deslizando entre galhos de

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Salvo duas vezespelo mesmo heróiEle sofreu dois acidentes aeronáuticos na Amazônia e sobreviveu, sendo resgatado pelo mesmo militar da FAB

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Salvo duas vezespelo mesmo herói

árvores, mas não pegou fogo.O Esquadrão Falcão (1º/8º GAV),

foi acionado assim que Ruy pediu socorro pelo rádio. Eram 12h20min quando o helicóptero decolou da Base Aérea de Belém (BABE) com destino a Altamira, onde chegou às 14h, rea-basteceu e prosseguiu na busca. Por volta das 16h, o helicóptero H-1H, com o então Tenente Sampaio como um dos pilotos, estava sobre o local da queda, desembarcando a equipe de Busca e Salvamento (SAR).

Em vez do piloto, os resgateiros, militares que descem de rapel até o local do acidente para realizar o resgate das vítimas, encontraram um bilhete e um abrigo improvisado. “O militar, quando chegou ao solo, informou via rádio que havia encontrado uma carta do piloto, na qual ele dizia que havia deixado o local para buscar água. Nesse momento, nós tivemos a certeza de que ele estava vivo”, afi rma o Tenente-Coronel Sampaio.

As buscas permaneceram durante toda a noite, com os homens de resgate no solo. E no dia seguinte, pela manhã, o piloto foi encontrado, ileso.

Cinco anos após o episódio, em 24 de agosto de 2004, um novo acidente

aéreo levou o agora Capitão Sampaio a reencontrar Ruy. Por volta das 7h30min, a Força Aérea Brasileira foi acionada devido à queda de uma aeronave com quatro pessoas a bordo nas imediações de Altamira (PA). Mais uma vez, o Es-quadrão Falcão realizou as buscas, ao lado de aeronaves P-95 do Esquadrão Netuno (3º/7º GAV) e SC-95 do Esqua-drão Pelicano (2º/10º GAV).

Trinta horas após o acidente, a tripulação do H-1H avistou um sinal de fumaça no meio da fl oresta ama-zônica, porém, dali, não foi possível encontrar sobreviventes. Já em solo, a equipe de resgate localizou Julia da Silva Garcia e Neide Zanquet, fa-miliares de Ruy. Em seguida, foram resgatados também o próprio Ruy, que estava com as duas pernas e um braço fraturados, e o seu sobrinho, Gleidson Silva Garcia, com um tor-nozelo quebrado. Os quatro fi caram um dia e meio sem comida e água no meio da fl oresta amazônica.

“Esses dois salvamentos foram muito importantes, especialmente para mim, pois em 1999 eu tinha aca-bado de me formar na parte operacio-nal no Esquadrão Falcão e foi muito

gratifi cante cumprir essa missão. Em 2004, eu já tinha mais experiência. Então, nesse período, eu tive a grata satisfação de realizar esses dois res-gates, salvando o mesmo piloto, o comandante Ruy Anselmo”, conta o Tenente-Coronel Sampaio.

Valores da FABEssa história você confere em de-

talhes na série Valores da FAB, que mostra, em reportagens de vídeo, a vida e o trabalho de militares que são exemplo de superação e dedicação ao próximo. Assim como ocorreu em 2013 e 2014, a série será divulgada no mês de dezembro nos canais de comunicação da FAB.

Além desses resgates, outro caso que será apresentado é o de cinco pes-soas, entre elas um bebê com apenas doze horas de vida e uma mulher grá-vida de oito meses, que sobreviveram por seis dias na mata até a chegada do Esquadrão Harpia. Leia na próxima página a reportagem completa sobre essa história emocionante.

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Assista a esta e outras histórias emocionantes

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máRCIA SILVA RAQuEL SIGAuD

Bebê comemora aniversário de um ano depois de resgate histórico da FAB em Roraima. A caminho do hospital, o monomotor do SAMU caiu na selva com cinco pessoas a bordo

Um ano de vidaBuSCA E SALVAmENTO

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Um ano de vida

Talvez não sobre dinheiro para improvisar um bolo no aniver-sário do caçula quando outubro

terminar. “Tinha que fazer, né?”, diz meio sem jeito a mãe, Marinez, que cui-da de cinco fi lhos em dois cômodos de madeira, enquanto Raimundo, o pai, lida com a pesca no rio Branco, em Roraima. Certeza mesmo é que o primeiro ano de Ian Vitório será o assunto do dia na pe-quena Cachoeirinha, vila de 46 casinhas em meio à fl oresta Amazônica.

Também pudera. Mal nasceu na-quele 25 de outubro de 2014 e a vida foi mostrando que o mundo exige coragem, perseverança e resistência até dos recém--chegados. O primeiro problema foi com a mãe. A parteira não conseguiu retirar a placenta presa ao útero. A bordo do bar-quinho de alumínio com motor de popa, Marinez e o bebê enfrentaram duas horas de viagem durante a madrugada até o posto de saúde na comunidade vizinha. “Para sair de Cachoeirinha só assim, de voadeira ou avião”, explica a dona de casa. E telefone, tem? “Só um orelhão e vive quebrado”, lamenta.

De Santa Maria do Boiaçu, mãe e fi lho embarcaram em um Cessna do governo do Estado rumo à capital Boa Vista. O caso dela era cirúrgico. Enquanto Ma-rinez tomava soro deitada no avião, Ian foi acomodado nos braços de Françoisa, gestante de oito meses que pegava carona para fazer exames na cidade. Piloto, téc-nico de enfermagem do SAMU e os três passageiros voavam há uma hora e vinte minutos até que o motor simplesmente parou. O único jeito foi jogar o avião na primeira clareira vista lá de cima.

“Mal nasceu (...) e a vida

foi mostrando que o mundo

exige coragem, perseverança e

resistência”

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Por sorte, ninguém se machucou gravemente com o forte impacto. Depois de esperar no meio do nada por três dias, o grupo decidiu sair em busca de ajuda em direção ao rio.

Um bilhete deixado no avião indicava a rota dos sobreviventes. “Informamos mata perigosa com onça em volta”, escreveram em um pedaço de papel. A fralda de tecido transparente que protegia o rosto de Ian não foi capaz de evitar quei-maduras na pele do recém-nascido. Com o cansaço e o estresse, o leite da mãe secou. A medicação não conteve mais a hemorragia. A trilha de sangue chegou a atrair animais.

Ao longo da jornada, o grupo cavou para sorver um pouco da água mistura-da ao barro. Os homens beberam urina. Apesar de quase ter perdido os rins por causa da desidratação severa, coube ao enfermeiro Anderson Teixeira gerenciar a situação de riscos, vulnerabilidade e de-sespero. “Quando Ian começou a chorar de fome, perguntei à grávida Françoisa se ela aceitava amamentá-lo, para ele não morrer”, disse. “Mas expliquei que o estí-mulo da amamentação poderia provocar um parto precoce ali mesmo na mata”. Ela decidiu ser solidária. No quinto dia de caminhada, Marinês chega ao ápice da fraqueza por causa do sangramento e não consegue mais andar.

Os próprios sobreviventes fi zeram fotos no local do acampamento com seus aparelhos celulares.

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motivos para comemorar Enquanto o grupo lutava para so-

breviver, equipes de resgate da Força Aérea Brasileira vasculhavam a área com aeronaves SC-105 Amazonas e um helicóptero H-60 Black Hawk. Quando o monomotor foi localizado a 200 km de Boa Vista, nova rota de busca foi traçada por causa do bilhete deixado pelos sobre-viventes. Além da mensagem, o Sargento Douglas Gregório Peixoto guardou no uniforme um gorro de bebê deixado ao lado do Cessna. Resgateiro experiente, ele pressentia que, dessa vez, encontraria os ocupantes da aeronave com vida. “Liguei para minha mãe, naquela noite, e prometi que devolveria o gorro ao dono”, contou.

A promessa foi cumprida na ma-nhã seguinte, 31 de outubro. O grupo

respirou aliviado ao ver o Black Hawk pairar sobre eles. Na mesma hora, mais de cinco toneladas de metal se transfor-maram em puro sentimento. “A sensação de ver o helicóptero foi a mesma de uma criança ao ver o pai voltar depois de tê-la abandonado na casa de um estranho”, compara o enfermeiro. Enquanto o piloto mantinha o helicóptero pairado, as vítimas eram içadas uma a uma abra-çadas a Gregório. Subir a bordo com Ian protegido no peito foi especial. “Foi a missão da minha vida”, defi ne. Depois da saga, o bebê que seria chamado de Ian foi registrado como Ian Vitório. Um ano depois, pode até faltar dinheiro para comemorar o aniversário, mas não faltam motivos.

Abaixo, Sargento Gregório em dois momentos: em Manaus, na sede do Esquadrão Harpia, e du-rante o salvamento do bebê Ian, no dia 31 de outubro de 2014.

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Veja cenas impressio-nantes gravadas no momento do resgate

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Aviação, vida e poesiaLivro retrata crianças em tratamento contra o câncer e o voo com a libertação humana

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A aviação como instrumento de libertação, o imaginário infantil e a superação em nome da vida. São esses os principais elementos do livro

“Vida – Superação: Arte e Poesia”, lançado pelo artista plástico João Evangelista.

A obra é composta por 180 fotos de crianças internadas no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, para tratamento contra o câncer. O toque de poesia foi dado pela técnica de interferência de pintura a óleo sobre a fotografi a, além de textos refl exivos sobre a condição humana.

Com prefácio do Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito, ex-comandante da Aeronáutica, a obra propõe ainda um olhar sobre a paixão das crianças pela aviação. E nesse aspec-to foi baseada em fatos reais: em parceria com a FAB, crianças do hospital realizaram um voo sobre Curitiba.

Lançado em todo o País, o livro terá parte da sua renda revertida para o Hospital Pequeno Príncipe e outras institui-ções que tratam crianças com câncer.

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Aviação, vida e poesia

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NOVIDADENOVIDADE EXPEDIENTE

Publicação ofi cial da Força Aérea Brasileira, a revista Aerovisão é produzida pela Agência Força Aérea, do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER).

Chefe do CECOMSAER: Brigadeiro do Ar Pedro Luís Farcic

Edição: Tenentes Gabrielli Dala Vecchia e Humberto Leite (Jornalista Responsável - CE 0189JP)

Repórteres: Alexandre Gonzaga e Tenentes Daniele Gruppi, Emília Maria, Flávia Cocate, Gabrielli Dala Vechia, Humberto Leite, Íris Vasconcellos, Jussara Peccini, Lorena Molter, Márcia Silva, Raquel Sigaud e Saulo Vargas.

Editoração/infográfi cos/arte: Tenentes André Eduardo Longo e Rachid Jereissati de Lima, Subofi ciais Cláudio Ramos e Edmilson Alves Maciel, Sargentos Daniele Azevedo, Ednaldo da Silva, Emerson Linares, Lu-cemberg da Silva, Marcela Cristina Santos e Santiago Moreira, e Cabo Pedro Bezerra.

Fotógrafos: Tenente Enilton Kirchhof, Su-bofi cial Rogério Prada, Sargentos Bruno Batista, Eloísio Januário (DECEA), Johnson Barros, Mar-co Ribeiro (EDA), Paulo César Ramos Rezende, Tiago Rosa (2º/7°GAV), Wellington Simo e Wil-son Alves (PAMA-GL), e Cabos André Feitosa, Edésio Júnior, Silva Lopes e Vinícius Santos.

Contato:[email protected] dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar CEP: 70045-900 - Brasília - DF

Tiragem: 26 mil exemplares

Período: Outubro/Novembro/Dezembro - 2015 - Ano 42

Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais das matérias, desde que mencionada a fonte.

Distribuição GratuitaAcesse a edição eletrônica: www.fab.mil.br

Impressão: Gráfi ca Editora Pallott i

A Força Aérea Brasileira recebeu, no dia 15 de se-tembro, a primeira unidade modernizada do P-95 Bandeirante Patrulha, aeronave utilizada para

missões de monitoramento do mar territorial brasileiro, busca e salvamento, vigilância da área econômica exclusiva e combate a crimes como pesca ilegal, pirataria e poluição do meio ambiente. O primeiro avião já opera a partir da Base Aérea de Florianópolis. Um total de oito unidades serão modernizadas.

O processo de modernização, realizado no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF), ampliou a capacidade operacional do avião fabricado pela Embraer. Agora o P-95M, sua nova denominação, conta com o radar Seaspray 5000E e tem condições de detectar navios de grande porte a até 370 quilômetros de distância.

O P-95M também consegue acompanhar até 200 alvos simultaneamente, realizar mapeamento de terrenos e de-tectar aeronaves, entre outras funcionalidades. Os sistemas de comunicação também foram substituídos.

O projeto de modernização, que também inclui 42 aeronaves C-95 Bandeirante, envolve ainda a revitalização estrutural das aeronaves.

As aeronaves devem ser operadas pelos esquadrões Phoenix (2º/7°GAV) e Netuno (3º/7°GAV), sediados em Flo-rianópolis (SC) e Belém (PA), respectivamente. As missões de patrulha marítima são complementadas pelos P-3AM do Esquadrão Orungan (1º/7°GAV), sediado em Salvador (BA).

“O novo P-95 reafi rma a projeção de ponta dessa aviação, que está na vanguarda da patrulha marítima na América do Sul”, avalia o comandante da Segunda Força Aérea (FAE II), Brigadeiro do Ar Roberto Ferreira Pitrez.

Força Aérea recebe seu primeiro P-95 Bandeirante Patrulha modernizado. Com novos radares, oito aeronaves vão atuar em missões como a vigilância do mar territorial

Tecnologia sobre o mar

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