a omc – organização mundial

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    A mais importante conseqncia desse novo cenrio o fim das fronteirasentre polticas domsticas e polticas externas, principalmente a de comrcio externo.Tal fato exige que o comrcio de bens e servios e o investimento passem a ser

    coordenados em nveis multilaterais e que as regras de conduta dos parceiroscomerciais passem a ser controladas e arbitradas tambm em nvel internacional.

    1.2 A OMC Organizao Mundial do Comrcio

    Dentro do contexto internacional, a OMC, criada em janeiro de 1995, acoluna mestra do novo sistema internacional do comrcio. A OMC engloba oGATT, o Acordo Geral de Tarifas e de Comrcio, concludo em 1947, os resultados

    das sete negociaes multilaterais de liberalizao de comrcio realizadas desdeento, e todos os acordos negociados na Rodada Uruguai, concluda em 1994.O Acordo que estabelece a OMC determinou os objetivos da nova

    organizao. Os termos negociados foram os seguintes: As Partes reconhecemque as suas relaes na rea do comrcio e das atividades econmicas devem serconduzidas com vistas melhoria dos padres de vida, assegurando o pleno empregoe um crescimento amplo e estvel do volume de renda real e demanda efetiva, eexpandindo a produo e o comrcio de bens e servios, ao mesmo tempo quepermitindo o uso timo dos recursos naturais de acordo com os objetivos do

    desenvolvimento sustentvel, procurando proteger e preservar o ambiente e reforaros meios de faz-lo, de maneira consistente com as suas necessidades nos diversosnveis de desenvolvimento econmico (GATT 1994).

    Ponto bsico para a consecuo desses objetivos a liberalizao docomrcio de bens e, agora, de servios, principalmente atravs do desmantelamentodas barreiras impostas nas fronteiras ao comrcio entre os pases.

    A OMC tem basicamente quatro funes (GATT 1994): 1 facilitar aimplantao, a administrao, a operao e os objetivos dos acordos da RodadaUruguai, que incluem: setores diversos como agricultura, produtos industriais eservios; regras de comrcio como valorao, licenas, regras de origem,antidumping, subsdios e salvaguardas, barreiras tcnicas, e empresas estatais;superviso dos acordos regionais e sua compatibilidade com as regras do GATT;propriedade intelectual; e novos temas como meio ambiente, investimento econcorrncia; 2 constituir um foro para as negociaes das relaes comerciaisentre os estados membros, com objetivo de criar ou modificar acordos multilateraisde comrcio; 3 administrar o Entendimento (Understanding) sobre Regras eProcedimentos relativos s Solues de Controvrsias, isto , administrar o tribunal

    da OMC; 4 administrar o Mecanismo de Reviso de Polticas Comerciais (TradePolicy Review Mechanism) que realiza revises peridicas das Polticas de ComrcioExterno de todos os membros da OMC, acompanhando a evoluo das polticas eapontando os temas que esto em desacordo com as regras negociadas.

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    Com tais objetivos e funes, o sistema multilateral de comrcio vem seconsolidando nos ltimos anos, atravs da OMC, que conta atualmente com 132membros e cerca de 30 membros em processo de acesso. As atividades vm se

    desenvolvendo dentro de 4 conselhos, cerca de 35 comits, alm dos grupos deacesso de novos membros.

    1.3 Dos objetivos de liberalizao do comrcio aos objetivos de competio

    internacional

    Os objetivos da OMC/GATT, ao longo das cinco dcadas da sua histria,sempre enfatizaram a liberalizao do comrcio atravs do estabelecimento e

    aplicao de regras para a remoo de barreiras nas fronteiras. No entanto, taisobjetivos vm sendo questionados diante do novo contexto mundial. Atualmente,as polticas nacionais esto sendo cada vez mais influenciadas pelos acontecimentosinternacionais, as empresas transnacionais esto desempenhando papel cada vezmais importante no comrcio, e a estratgia da globalizao est, agora, ditando asregras de investimento e de avanos tecnolgicos.

    Diante desse contexto, surgem novas discusses sobre o papel que a OMCdeve desempenhar, e quais novos objetivos deve perseguir. Tais discusses jabrangem uma abordagem mais ampla para a OMC, no s de liberalizao do

    comrcio, via o exame dos instrumentos de poltica comercial, mas de uma novaanlise que incluiria os instrumentos das diversas polticas econmicas e seusimpactos sobre a competio internacional, alm do modo de operao dosmercados (Feketekuty, Rogowsky, 1996).

    Dentre as razes apontadas para a necessidade de uma nova abordagemesto os mtodos de produo dirigidos globalizao e ao consumidor, que acabaramcom a distino entre as estratgias de comrcio e de investimentos. Antes, comrcioe investimento eram considerados atividades alternativas para se penetrar nomercado externo. Agora, na era da globalizao, as empresas tratam comrcio einvestimento como atividades complementares. Cada vez se torna mais difcilimplantar regras sobre a troca de bens que envolvam origens nacionais distintas.Na rea de servios, temas como comrcio, investimento e movimento dosprovedores so pontos bsicos das negociaes sobre liberalizao.

    No contexto da globalizao, a identidade nacional dos produtos e dasempresas que os fornecem fica cada vez mais difcil de ser identificada. Comoconseqncia, as novas regras para o comrcio internacional devem enfocar oimpacto de todas as polticas econmicas sobre o funcionamento dos mercados

    globais, sujeitas s exigncias econmicas de melhor eficincia, e sujeitas sexigncias polticas de tratamento justo por parte dos governos aos interesses deoutros pases. Tratamento no discriminatrio para produtos e para empresas, sejamnacionais ou estrangeiros, passou a ser um dos grandes temas do momento atual.

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    O processo de globalizao tem resultado em um aprofundamento daespecializao internacional e na interpenetrao das economias nacionais. Istosignifica que os interesses econmicos das naes passaram a se interpenetrar, de

    modo a tornar sem significado a tradicional distino entre instrumentos de polticaeconmica domstica e instrumentos de poltica econmica internacional. Assim,toda medida que tenha impacto na deciso de produo de bens ou servios deuma empresa globalizada se tornou tema de interesse para o governo de outrospases e para a comunidade internacional, tanto do lado do produtor quanto do ladodo consumidor.

    Diante dessas consideraes que se tem advogado uma nova posturapara o comrcio internacional, at agora sob uma abordagem de simples liberalizao

    das fronteiras, para uma abordagem mais ampla, orientada para a competiointernacional. As razes defendidas so de que tal abordagem enfocaria maisdiretamente os impactos das medidas sobre o funcionamento eficiente dos mercadosglobais, bem como passaria a incluir um conjunto mais amplo de instrumentos depolticas que afetassem a competio internacional. Com a nova abordagem, todaa argumentao de defesa da liberalizao do comrcio internacional permanecevlida, mas ampliada.

    Com o fortalecimento do processo de globalizao, todo o sistemamultilateral do comrcio deveria passar por profundas modificaes, caso uma

    nova abordagem orientada para a competio internacional se impusesse aoprocesso de liberalizao do comrcio internacional. Os objetivos do sistemamultilateral de promover a eficincia econmica e o crescimento econmico, agoradeveriam tambm incluir polticas e instrumentos que permitissem maior competiointernacional entre as empresas, de modo a garantir uma alocao de recursoseconomicamente eficiente, tanto em termos estticos quanto dinmicos. Taisobjetivos passariam a exigir acesso equivalente a insumos e consumidores, etratamento equivalente sob a regulamentao domstica, no importando a origemda empresa.

    Nesse novo cenrio, as novas negociaes multilaterais de comrcio teriam,necessariamente, que incluir novos temas como: polticas e medidas quediscriminassem entre empresas com base na nacionalidade dos detentores do capital;leis e medidas que impedissem ou distorcessem desnecessariamente a operaodas foras do mercado, ou limitassem a entrada e sada das empresas; e polticase medidas essenciais para o funcionamento eficiente do mercado global. Cadagoverno nacional manteria o seus direitos de estabelecer e atingir seus objetivossociais nas reas da sade, segurana, igualdade social e ambiente (Feketekuty,

    Rogowsky, 1996).Dentro dessa nova abordagem, as futuras negociaes internacionaiscontinuariam o processo de desmantelamento das barreiras j identificadas comotarifas, quotas, barreiras tcnicas, subsdios, dumping, prticas das empresas

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    estatais, barreiras no comrcio de servios e de padres de propriedade intelectual.Mas novos temas seriam includos, como: medidas que afetam os investimentos,prticas comerciais restritivas ou medidas que distorcem a concorrncia, medidas

    ambientais que afetam o comrcio, e padres trabalhistas, dentre outros. A razoseria de que qualquer prtica discriminatria em qualquer dessas polticas poderiaafetar os objetivos estabelecidos de se assegurar a competio global.

    Diante do novo contexto internacional de globalizao do sistema produtivoe de prestao de servios, que tem dado sustentao ao crescimento dos fluxosde comrcio e de investimentos, importante ter em mente a ampliao do papeldo pilar central de todo o sistema multilateral do comrcio que a OMC.

    A OMC j iniciou a discusso sobre diversos dos novos temas que vm

    afetando o comrcio internacional, com a criao de novos comits ou grupos detrabalho para analisar seus impactos e discutir a necessidade de se ampliar asatividades da OMC com a negociao de novos acordos sobre o comrcio. Dentreeles, investimentos, concorrncia e meio ambiente. Paralelamente, vem seguindoas discusses sobre o tema padres trabalhistas na OIT Organizao Internacionaldo Trabalho e refletindo sobre as conseqncias de tambm inclu-lo no mbitoda OMC.

    As atividades de todos esses comits e grupos de trabalho se revestem demaior importncia ainda diante das presses polticas e econmicas de se iniciar

    mais uma rodada multilateral de negociaes, ou de forma restrita aos temas jprevistos na Rodada Uruguai, e que incluiriam agricultura, servios e propriedadeintelectual, ou, de forma mais ampla, agregando todas as reas relacionadas aocomrcio, dentro de uma nova rodada, a j mencionada Rodada do Milnio.

    1.4 Objetivos do presente artigo

    Os objetivos do presente artigo so o de analisar dois dos novos temas docomrcio internacional: comrcio e meio ambiente, e comrcio e padrestrabalhistas. Examinar, ainda, algumas implicaes desses temas para orelacionamento do MERCOSUL com dois de seus mais importantes parceiros, aCE e o NAFTA, diante do processo de integrao econmico mais amplo que seest estabelecendo entre o MERCOSUL e o NAFTA dentro da ALCA e entre oMERCOSUL e a CE dentro do Acordo Inter-regional.

    Tais temas foram abordados de forma a evidenciar suas evolues dentrodo sistema multilateral, desde o marco histrico na Carta de Havana de 1948. Asdiscusses desses temas dentro de algumas organizaes multilaterais so

    examinadas, para se chegar a atual discusso dentro da OMC. Devido a suaimportncia poltica, os dois temas j foram includos em acordos de integraoregional, como na CE e no NAFTA, antecipando-se s aes da prpria OMC.Sendo assim, essas experincias tambm foram mencionadas.

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    A meta aqui visada a de dar uma abordagem bastante ampla de como osnovos temas evoluram, como esto sendo tratados em diferentes forosinternacionais, e como vm sendo discutidos dentro da OMC, para ento se concluir

    da necessidade, ou no, da incluso de tais temas em novos acordos comerciais.Diante desse quadro, os atores dos atuais processos de integrao do

    MERCOSUL com o NAFTA e com a CE podero ter uma viso mais ampla decomo os novos temas esto sendo discutidos nos diversos foros internacionais,bem como dentro da prpria OMC. Finalmente, esses atores podero ter umaidia mais clara da oportunidade, ou no, de incluir tais temas nas futurasnegociaes que envolvem o MERCOSUL.

    2 Comrcio internacional e meio ambiente

    2.1 Meio ambiente e poltica de comrcio externo

    O debate que vem surgindo sobre comrcio e meio ambiente envolve oconflito entre duas polticas com objetivos distintos, a do comrcio externo e a demeio ambiente. A Poltica de Comrcio Externo objetiva a liberalizao do comrciointernacional, enquanto que a Poltica de Meio Ambiente defende a preservaodo ambiente em termos fsicos, a sade e a segurana humana, a proteo ao

    consumidor e o tratamento dado aos animais.As discusses sobre meio ambiente se ampliaram durante a Confernciado Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992. A conferncia consagrouo conceito de desenvolvimento sustentvel, que se tornou o conceito bsico detodas as futuras negociaes internacionais sobre meio ambiente. Tal conceitoimplica a introduo de consideraes de ordem ambiental no processo de decisoeconmica com vistas ao desenvolvimento, atravs do uso racional dos recursosnaturais, de forma a evitar comprometer o capital ecolgico do planeta. Os trabalhosda conferncia incluram questes sobre: atmosfera, qualidade do ar e da gua,

    destruio da camada de oznio, mudana do clima, oceanos, lagos, uso e proteodo solo, espao exterior, diversidade dos recursos biolgicos, ecosistemas, poluio,controle de substncias txicas, administrao de dejetos e do lixo, e proteo dasespcies, dentre alguns dos mais importantes temas (Conferncia das NaesUnidas, 1992).

    A preocupao com o tema tem levado multiplicao de acordos eentendimentos de vrios tipos e de mbitos diversos, com a concluso de acordosbilaterais, regionais, plurilaterais e multilaterais. Algumas estimativas chegam acalcular em cerca de 150 o nmero de acordos que envolvem diretamente o meio

    ambiente.Uma importante dimenso do problema ambiental seu impacto

    transfronteirio, o que permite que medidas tomadas em um pas tenham reflexosem outros pases. Nesse contexto que se vem levantando toda uma discusso

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    sobre poltica de comrcio externo e meio ambiente. O debate tem se centrandoem duas grandes correntes: uma dos ambientalistas e outra dos defensores do livrecomrcio. Muitas vezes, tal discusso toma coloraes do conflito entre pases

    desenvolvidos e pases em desenvolvimento, na medida em que os primeiros queremimpor seus padres de proteo ambiental sobre os segundos, e estes consideramtal atitude como protecionista (Shaw, Hanson,1996).

    Em sntese, medidas de poltica comercial podem ser tomadas com objetivosambientais. Dentre os exemplos mais relevantes temos (Hudec, 1997): medidas que visam impor compromissos ambientais negociados

    internacionalmente, como a proibio de comercializao de produtos deespcies em extino;

    medidas que visam persuadir outros governos a alterarem seus comportamentosambientais, impedindo a importao de produtos considerados poluentes, ouproduzidos atravs de processos considerados poluentes;

    medidas para proteger a indstria domstica, impedindo a importao deprodutos produzidos com padres ambientais menos exigentes, o que afetariaa competitividade dos produtos domsticos;

    medidas que visam dissuadir a importao de certos produtos que soconsiderados ameaadores ao ambiente, como no caso da importao parareciclagem de dejectos perigosos;

    medidas comerciais, de padronizao de produtos ou de mtodos produtivos, ede investimentos com objetivos ambientais especficos, e que procuram impedira relocalizao de indstrias nos membros com leis ambientais menos exigentes,como os existentes em diversos acordos regionais como a CE e o NAFTA.

    Dos cerca de 150 acordos internacionais de carcter ambiental, foramidentificados 19 que contm medidas comerciais, e mais 5 acordos bilateraisnegociados pelos EUA tambm com medidas comerciais (Hudec, 1997). Osexemplos mais citados incluem: Conveno sobre Comrcio Internacional deEspcies em Extino da Fauna e da Flora Silvestre (CITES), Protocolo de Montrealsobre Substncias que Afetam a Camada de Oznio, e Conveno da Basiliasobre o Controle do Movimento Transfronteirio de Dejetos Perigosos.

    2.2 A questo da diversidade ou harmonizao das leis ambientais

    Com o crescimento das presses polticas para que os governos tomemmedidas mais fortes em defesa do meio ambiente, certo que a rea do comrcioser cada vez mais afetada. A discusso que ento se impe se as polticas

    ambientais dos diversos pases devem ser harmonizadas. De um lado, aharmonizao satisfaz aos ambientalistas ao garantir, pelo menos, a negociao deobjetivos e padres comuns, e, por outro, nivela o quadro de competitividade entreos pases, impedido o surgimento de parasos de poluio (SELA, 1992).

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    Mas a questo da harmonizao envolve vrios problemas, uma vez que acapacidade de absorver poluio difere de pas para pas, impedindo odesenvolvimento de nveis comuns de medidas antipoluio. Ainda, os diversos

    nveis de desenvolvimento dos pases implicam diversos nveis da qualidade deambiente desejada, e avaliaes diferentes para seus recursos naturais.

    Outra dimenso do problema sobre comrcio e meio ambiente tem a vercom a percepo dos diferentes pases a respeito da questo do acesso a mercadose a questo da competitividade. No caso do acesso a mercados, os defensores dolivre comrcio esto preocupados com o desenvolvimento de padres ambientaispara produtos e como tais padres podem servir como barreiras ao comrcio. Jos ambientalistas esto preocupados com os compromissos de abertura de mercados

    e de como eles podem ser utilizadas de modo a impedir o desenvolvimento denovos padres ambientais. No caso da competitividade, teme-se que diferenasinapropriadas nos nveis de exigncias ambientais, especialmente nos padres queregulam os mtodos de produo, possam criar distores na concorrncia e darincentivos para a relocalizao industrial (Esty e Geradin, 1997).

    Uma forma de se examinar a questo da harmonizao dos padresambientais abord-la de forma flexvel. Assim, a harmonizao pode ser analisadadentro de um espectro que vai desde a harmonizao total, com a uniformidade depadres, a fases intermedirias, com o estabelecimento de padres mximos ou adefinio de padres essenciais, ou se chegar apenas a fase de padres mnimosou padronizao segmentada por setores, ou, ainda, a de estabelecimento apenasde convergncia dos padres.

    2.3 A CE e a Poltica de Meio Ambiente

    O Tratado de Roma de 1957 que criou a CEE no menciona o tema meioambiente. Entretanto, a CE desenvolveu um conjunto de regras sobre o tema a

    partir do incio dos anos 70, que chegou a cerca de 300 diretivas e regulamentos,abarcando todas as reas da proteo ambiental (Douma, Jacobs, 1997).

    O tema ambiente introduzido formalmente no Tratado sobre a UnioEuropia de 1992, onde a Comunidade Europia passa a ter como misso, atravsda criao de um mercado comum e de uma unio econmica monetria, promovero desenvolvimento sustentvel das atividades econmicas (...) , e um nvel alto deproteo e melhoria da qualidade do ambiente (Artigo 2).

    A Poltica sobre Meio Ambiente introduzida nos Artigos 174, 175 e 176

    (ex-130 R, S e T). Assim, os objetivos da Comunidade so de: preservao, proteoe melhoria da qualidade do ambiente, proteo sade humana, utilizao prudentee racional dos recursos naturais, e promoo de medidas destinadas a enfrentar osproblemas regionais ou mundiais, no plano internacional. A poltica da Comunidade

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    visa um nvel de proteo elevado, tendo em conta a diversidade das diferentesregies da Comunidade. Deve ser baseada nos princpios da precauo e da aopreventiva, da correo na fonte dos danos causados, e do poluidor pagador. As

    exigncias de proteo ambiental devem ser integradas na definio e aplicaodas demais polticas comunitrias.

    O problema da harmonizao se impe Comunidade porque pelo Artigo95 (ex-100.4) relativo ao Mercado Interno, este permite que os Estados membrosapliquem medidas mais restritivas que as comunitrias, quando for necessrio paraatender as necessidade de proteo da vida humana, animal e vegetal, e as relativas proteo do ambiente. Ainda, pelo Artigo 176 (ex-130 T), as medidas de proteoadotadas no impedem que cada Estado membro mantenha ou introduza medidas

    de proteo mais elevadas, que devem ser compatveis com o Tratado e notificadas Comisso. Tal harmonizao construda a partir dos chamados Programas deAo Ambiental.

    Papel importante na rea ambiental desempenhado pela Corte de Justia,atravs de suas decises judiciais (judicial bounding), onde a Corte interpreta ostratados e exerce um papel regulador na discrio dos Estados membros quanto aproteo ambiental, impedindo medidas de carcter protecionista, e que distorcemo comrcio.

    Assim, com relao s questes de comrcio e ambiente, a CE utiliza dois

    caminhos diversos. Por um lado, harmonizao e, por outro, a interpretao daCorte de Justia (Douma, Jacobs, 1997).

    Em termos de comrcio com pases terceiros, a CE introduziu uma clusulaambiental no seu SGP Sistema Geral de Preferncias , que concede tratamentopreferencial aos pases menos desenvolvidos. Assim, a partir de janeiro de 1998,foi prevista a concesso de preferncias aduaneiras extras importao de pasesque forneam produtos cujas caractersticas e os mtodos de produo tenhamsido internacionalmente acordados, especialmente se para se ajustar s normasestabelecidas pela Organizao Internacional de Madeiras Tropicais relativas gesto de florestas tropicais.

    2.4 O NAFTA e a poltica de meio ambiente

    No incio das negociaes, o NAFTA seria criado como um tratado apenascomercial. No entanto, com o crescimento das presses ambientais, o texto doacordo do NAFTA de 1992 acabou incluindo o tema meio ambiente, ao permitirvrias excees liberalizao do comrcio para acomodar medidas de proteo

    ambiental.O Prembulo do acordo coloca o objetivo da liberalizao comercial nocontexto do desenvolvimento sustentvel, afirmando que o desenvolvimento docomrcio mundial deve acontecer de maneira consistente com a proteo e

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    conservao ambiental. No Artigo 1114, as partes reconhecem que inapropriadoencorajar o investimento atravs do enfraquecimento de medidas relativas a sade,segurana e ambiente. No Artigo 104, no caso de uma inconsistncia dos dispositivos

    do Acordo com relao a um certo nmero de Acordos Multilaterais Ambientais,estes tero precedncia sobre o NAFTA. Nos Captulos 7B e 9, referentes amedidas sanitrias e fitossanitrias e medidas sobre padres, cada parte tem odireito de estabelecer seus prprios nveis de proteo e de aplic-los sob certascondies.

    As instituies do NAFTA no so supranacionais e no podem criarlegislao prpria. Assim, cada parte do acordo deve adotar sua legislao internae regras para dar efeito aos compromissos assumidos. Disputas sobre medidas

    ambientais so levadas ao mecanismo de soluo de controvrsias previsto noacordo.Pressionados por grupos ambientalistas e pela opinio pblica, e visando a

    aprovao do Congresso, um acordo lateral sobre ambiente foi acrescentado aoNAFTA, em 1993, o North American Agreemnent on Environment Cooperation NAAEC. Tal acordo estabelece como objetivos a proteo e a melhoria do ambienteno territrio das partes, com maior cooperao para conservar, proteger e melhoraro ambiente e, assim, evitar as distores do comrcio e o estabelecimento denovas barreiras (Artigo I). O acordo inclui clusulas de compromisso de educao

    sobre ambiente, estudos de impacto ambiental, e a promoo de instrumentoseconmicos de regulao ambiental (Artigo II). Cada parte do acordo deve garantirque suas leis e regulamentos estabeleam nveis mais altos de proteo ao ambiente,e o contnuo aperfeioamento dessas leis, mas cada parte tem o direito de estabelecerseus nveis prprios de proteo ambiental (Artigo III). Cada parte deve fazercumprir efetivamente suas leis e regulamentos atravs de aes de governoapropriadas, incluindo o uso de licenas e permisses especiais (Artigo V). Nocaso de conflito, qualquer pessoa interessada pode requerer das autoridades deuma das partes a investigao de uma possvel violao das leis domsticas (ArtigoVI). No caso de um padro persistente de no cumprimento de uma lei ambientalpor alguma das partes, o acordo prev um mecanismo de soluo de controvrsias.Se o painel de peritos conclui pelo no cumprimento, as partes devem concordarcom um plano de ao mutuamente satisfatrio. Se no for possvel um acordo, ouse o plano no for cumprido, o painel determina ento uma multa ou autoriza asuspenso das concesses comerciais obtidas no NAFTA.

    O NAAEC estabelece quatro instituies para a cooperao sobre oambiente: a Comisso sobre Ambiente que inclui o Conselho de Ministros, o

    Secretariado e o Comit Assessor.Assim, com relao a questes do meio ambiente, o NAFTA reflete onvel de interesse das partes no tema, onde cada pas mantm o controle sobre aslegislaes nacionais. O objetivo a ser atingido o de cooperao.

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    2.5 O GATT/OMC e as disposies relacionadas ao meio ambiente

    Medidas comerciais com fins ambientais tm sido abordadas dentro do

    GATT atravs de trs reas diversas (GATT,1994): princpios da no discriminao e de tratamento nacional, que impem condies

    sobre a imposio de medidas ambientais. Assim, pelo Artigo I, um pas nopode aplicar medidas comerciais de forma discriminatria contra outros pases.Um pas importador no tem permisso para aplicar um tipo de padroambiental para um pas e um outro tipo diferente para outro pas. Pelo ArtigoIII, toda vez que medidas ambientais forem impostas a produtos importados,elas no podem ser mais exigentes que as aplicadas aos produtos domsticos;

    excees gerais dentro do Artigo XX, que determina quando as regras geraisdo GATT podem deixar de ser aplicadas, impedindo, assim, a importao deoutro pas, de modo a garantir a adoo de medidas: necessrias para aproteo da vida ou sade de homens, animais e vegetais (XX.b), conservaode recursos naturais exaurveis, desde que tais medidas sejam estabelecidasem conjunto com restries a produo ou consumo domstico (XX.g). Taismedidas, no entanto, no podem ser aplicadas de maneira a constituir umaforma de discriminao arbitrria ou injustificada entre pases onde existamas mesmas condies, ou uma restrio disfarada sobre o comrciointernacional. O artigo permite, assim, a imposio de restries comerciaisde forma unilateral quando estiverem em causa certas medidas de polticaambiental. O ponto mais controvertido do artigo a sua abrangnciaextraterritorial, e toda a questo dos mtodos de produo que podem terefeitos alm da fronteira do pas produtor;

    barreiras tcnicas ao comrcio, atravs do Acordo sobre Barreiras Tcnicase o Acordo sobre Medidas Sanitrias e Fitossanitrias, onde esto estabelecidosuma srie de regras que impedem que padres tcnicos sejam transformados

    em barreiras comerciais. O GATT aceita a adoo de padres que sejamestabelecidos em nvel internacional, e a adoo de padres mais elevadosprecisam ser justificados.

    O GATT e, agora, a OMC tm estado presentes na rea de meio ambienteatravs do Mecanismo de Soluo de Controvrsias, onde so estabelecidos painispara analisar a compatibilidade de medidas comerciais relacionadas ao ambientecom as regras do GATT. Desde 1980, cerca de 10 painis foram estabelecidos,envolvendo EUA, Canad, Tailndia, Venezuela e Brasil, e analisado regras

    que incluam os seguintes produtos: vrios tipos de peixes, crustceos, tartarugase golfinhos, taxas sobre petrleo, automveis e cigarros, e padres sobregasolina.

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    2.6 O Comit de Comrcio e Meio Ambiente da OMC

    O tema Comrcio e Meio Ambiente foi introduzido no GATT em 1992 atravs das

    discusses e recomendaes do Grupo sobre Medidas Ambientais e ComrcioInternacional, e do Subcomit sobre Comrcio e Meio Ambiente subordinado aoComit Preparatrio da OMC.

    O Comit de Comrcio e Meio Ambiente foi estabelecido pelo ConselhoGeral da OMC em janeiro de 1995. O Comit teve seu mandato e termos dereferncia determinados na Deciso Ministerial de Marraqueche de abril de 1994,e teve seu trabalho e suas recomendaes avaliados pela Conferncia Ministerialde Cingapura.

    A participao nas reunies do Comit est aberta para todos os membrosda OMC e para observadores governamentais e de organizaesintergovernamentais quando convidados. Os trabalhos foram desenvolvidos emtorno dos itens listados no mandato do Comit.

    Os termos de referncia do Comit foram estabelecidos na DecisoMinisterial sobre Comrcio e Meio Ambiente de Marraqueche, que se baseou noprembulo do acordo de criao da OMC, e que determinava que as relaesentre os membros na rea do comrcio e atividades econmicas devem serconduzidas com vistas melhoria dos padres de vida, ...ao mesmo tempo que

    permitindo o uso timo dos recursos naturais, de acordo com os objetivos dodesenvolvimento sustentvel, procurando proteger e preservar o ambiente e reforaros meios de faz-lo, de maneira consistente com as suas necessidades nos diversosnveis de desenvolvimento econmico (GATT,1994).

    Ainda, a Deciso reafirmou o desejo de coordenar as polticas no campodo comrcio e meio ambiente, sem exceder a competncia do sistema multilateraldo comrcio, a qual limitada a polticas comerciais e aos aspectos relacionadosao comrcio das polticas ambientais que possam resultar em efeitos significativosao comrcio. Os termos de referncia incluam ainda (Ministerial Decision onTrade and Environment, 1994):

    - identificar as relaes entre as medidas comerciais e medidas ambientais,de forma a promover o desenvolvimento sustentvel;

    - fazer recomendaes apropriadas caso sejam requeridas modificaesnos dispositivos do sistema multilateral de comrcio, e que sejam compatveis coma natureza do sistema de ser aberto, equitativo e no discriminatrio. Em particular,levar em considerao as necessidades de regras para fortalecer a interao positivaentre o comrcio e as medidas ambientais para a promoo do desenvolvimento

    sustentvel, em especial as necessidades dos pases em desenvolvimento. Evitarmedidas comerciais protecionistas e favorecer a adeso disciplina multilateralefetiva para garantir respostas do sistema multilateral do comrcio aos objetivosambientais estabelecidos na Agenda 21, Princpio 12, da Declarao do Rio de

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    1992. Finalmente, realizar o monitoramento de medidas comerciais usadas comfins ambientais, de medidas ambientais que tenham impacto significativo nocomrcio, e a implantao efetiva das disciplinas multilaterais com a finalidade de

    controlar tais medidas ambientais.O Comit vem considerando os seguintes 10 itens (Report of the Committe

    on Trade and Environment, 1996): Item 1 Relaes entre os dispositivos do sistema multilateral de comrcio e

    as medidas comerciais com fins ambientais, incluindo aquelas existentes nosacordos ambientais multilaterais.

    Item 2 Relaes entre polticas ambientais relevantes para o comrcio emedidas ambientais com efeitos comerciais significativos e os dispositivos do

    sistema multilateral de comrcio. Item 3 Relaes entre os dispositivos do sistema multilateral de comrciocomo: impostos e taxas com fins ambientais; requisitos para fins ambientaisrelacionados aos produtos, incluindo padres e regulamentos tcnicos,embalagem, rotulagem e reciclagem.

    Item 4 Dispositivos do sistema multilateral de comrcio com relao transparncia das medidas comerciais usadas com fins ambientais, e medidasambientais e requisitos com efeito significativo no comrcio.

    Item 5 Relaes entre os mecanismos de soluo de controvrsias no sistema

    multilateral de comrcio e aqueles encontrados nos acordos multilaterais sobreambiente.

    Item 6 Efeitos de medidas ambientais sobre o acesso a mercados,especialmente em relao aos pases em desenvolvimento, e sobre os benefciosambientais advindos com a remoo das restries e distores ao comrcio.

    Item 7 Exportao de bens proibidos domesticamente. Item 8 Dispositivos do Acordo sobre Direitos da Propriedade Intelectual

    Relacionados ao Comrcio relativos ao meio ambiente, incluindobiodiversidade.

    Item 9 Programa de trabalho para as relaes entre comrcio de servios emeio ambiente.

    Item 10 Termos dos arranjos para as relaes com organizaesintergovernamentais e no governamentais.

    O Comit vem considerando os 10 itens e, aps dois anos de trabalhos,elaborou um relatrio de concluses e recomendaes que foi apresentado Conferncia Ministerial em Cingapura em 1996 (Report of the Committee on Tradeand Environment, 1996).

    As discusses demonstram a natureza ampla e complexa dos itens cobertosno programa de trabalho, os quais refletem o interesse da OMC em construir umarelao construtiva entre o comrcio e as preocupaes ambientais. Ainda, que osistema multilateral de comrcio tem a capacidade de integrar as consideraes

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    ambientais e fortalecer sua contribuio para a promoo do desenvolvimentosustentvel sem enfraquecer seu carcter aberto, equitativo e no discriminatrio.

    As discusses do Comit foram guiadas pela considerao de que a

    competncia do sistema multilateral de comrcio limitada a polticas comerciais,e aos aspectos relacionados ao comrcio das polticas ambientais, que podem causarimpacto significativo no comrcio. Para atingir os objetivos dos membros da OMCnas reas de comrcio, meio ambiente e desenvolvimento sustentvel, o trabalhorequer uma abordagem coordenada que se baseia na especializao interdiciplinar,com destaque para o papel de coordenao de polticas entre os funcionrios decada membro.

    Os governos dos membros da OMC, segundo o relatrio, esto

    comprometidos a no introduzir restries ao comrcio ou medidas compensatriasque sejam incompatveis com as regras da OMC, ou protecionistas, de modo acompensar qualquer efeito adverso econmico ou competitivo na aplicao depolticas ambientais. Do mesmo modo, os governos tm o direito de estabelecerseus padres nacionais sobre o ambiente, de acordo com as suas condies,necessidades e prioridades ambientais e de desenvolvimento, e seria inapropriadorelaxar os padres nacionais existentes de forma a promover o seu comrcio.

    As discusses do Comit continuam, mas nenhum consenso tem sidoconseguido sobre a forma como o tema deve ser integrado OMC. Os debates,

    no entanto, tm apontado que algumas solues poderiam ser viveis, como porexemplo, incluir o item sobre rotulagem ecolgica dentro das regras do Acordo deBarreiras Tcnicas. Ainda, incluir o item sobre o controle de clusulas comerciaisdentro dos acordos ambientais ou como uma derrogao (waiver) s regras doGATT/OMC, dentro do Artigo IX do Acordo sobre a Criao da OMC, ou comoexceo geral, acrescentando o tema meio ambiente, junto com outras reas deexceo como sade humana e segurana, dentro do Artigo XX.

    Apesar dos escassos resultados, a prpria criao do Comit pelaConferncia Ministerial de Cingapura representa um importante fato, j queinstitucionalizou o tema dentro da OMC.

    2.7 Implicaes para as relaes do MERCOSUL com a CE e com o NAFTA

    O tema comrcio e meio ambiente ainda est em uma fase inicial dentrodo MERCOSUL, com a aprovao das Diretrizes Bsicas em Matria de PolticaAmbiental (Resoluo 10/94).

    No entanto, o Brasil j tem experincia de como suas exportaes para os

    EUA e a CE podem ser afetadas quando a proteo ambiental entra em cena,como nos casos de exportaes de lagostas e camares pescados sem redes deproteo a tartarugas, gasolina produzida fora das especificaes sobreantipoluentes, ou ainda, papel produzido fora dos critrios exigidos pelo selo ambiental.

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    Novamente, a participao dos membros do MERCOSUL nos diversosforos que discutem comrcio e meio ambiente essencial, no s para que seapreenda o que est sendo discutido, mas, tambm, para que a participao de

    representantes dos pases membros impeam que sejam adotadas regras quedefendam exclusivamente os interesses dos pases mais desenvolvidos e comcondies ambientais diferentes, o que poder acarretar a excluso de nossosprodutos desses mercados.

    As presses polticas e econmicas de grupos de interesse certamentefaro do tema meio ambiente um ponto sensvel nas negociaes do MERCOSULcom a CE e com o NAFTA, o que implica uma anlise mais aprofundada dosimpactos da introduo de medidas ambientais nas relaes comerciais e de

    investimento, dentro desses processos de integrao. Uma das questes em pauta a relocalizao de empresas para os pases com padres ambientais menosexigentes.

    Paralelamente, as discusses sobre meio ambiente dentro da OMCpermitem que se fortalea um foro adequado para a anlise de outro tema de igualrelevncia, qual seja, a transformao de medidas ambientais em medidasprotecionistas, um limiar de difcil definio e de extrema sensibilidade poltica. tambm a OMC o foro adequado onde a discusso sobre a manuteno dadiversidade de padres ou a harmonizao de padres ambientais deve ter lugar,

    permitindo a negociao de padres mnimos de proteo ambiental e um programaambicioso de cooperao tcnica entre pases desenvolvidos e em desenvolvimento.

    A questo que ento se coloca a da necessidade de se introduzir ou noa clusula ambiental nos acordos regionais do MERCOSUL com a CE e com oNAFTA, clusula que v alm da simples cooperao e troca de experncias, emquais termos e sob que condies. As opes que se apresentam so de negociarregras sobre comrcio apenas dentro dos acordo internacional sobre meio ambiente,ou, ento, no mbito da OMC, ou ainda, paralelamente dentro desses vrios foros.

    3 Comrcio Internacional e Padres Trabalhistas

    3.1 A questo dos padres trabalhistas no comrcio internacional

    O tema conhecido como padres trabalhistas, ou clusula social, e suarelao com o comrcio internacional tm se convertido em um ponto polmiconos ltimos anos. Existe no cenrio mundial uma presso crescente para a introduode alguns pontos bsicos dos direitos dos trabalhadores nos acordos de comrcio

    internacional, como no NAFTA e no SGP Sistema Geral de Preferncias dosEUA e da CE.O tema controvertido porque envolve dois pontos de vista antagnicos

    (Leary,V., 1997). De um lado, os contra, que se opem incluso dos padres

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    trabalhistas no comrcio, argumentam que, com base na Teoria Econmica, aintroduo no comrcio internacional de temas no relacionados ao comrcio iriaafetar a liberalizao e, assim, a promoo da riqueza, uma vez que as exportaes

    seriam afetadas, o que impactaria negativamente no desenvolvimento econmico.Em sntese, o tema padres trabalhistas seria uma forma de proteo por parte dospases desenvolvidos s importao dos pases em desenvolvimento. Os principaisatores dessa posio so os governos dos pases em desenvolvimento, economistasque defendem o livre comrcio e as empresas dos pases desenvolvidos.

    De outro lado, os a favor, que defendem a idia de que as exportaesde bens produzidos em ms condies de trabalho uma forma de competiodesleal de comrcio. Em sntese, a defesa dos direitos dos trabalhadores uma

    reao contra as ms condies de certos pases, e a preocupao de que, dealguma forma, tais condies iriam afetar os ganhos conquistados pelos pasesdesenvolvidos. Os principais atores dessa posio so o governo dos EUA, algunsmembros da CE, organizaes trabalhistas e ativistas de Direitos Humanos.

    De modo geral, polticos e economistas esto conscientes de que ascondies dos trabalhadores so o resultado do nvel de renda do pas. No entanto,so importante fator nos termos de troca dos pases menos desenvolvidos, e noacesso aos mercados de seus produtos de exportao. Da a interface do tema napoltica mundial de comrcio.

    O tema padres trabalhistas no um tema novo. Na verdade, tem maisde 150 anos e data da Revoluo Industrial, e sempre se enquadrou na discussode se manter as vantagens competitivas dos pases. Nessa fase, a questo era dese melhorar as condies de trabalho. Agora, a questo a de se manter ascondies j conquistadas.

    3.2 A Carta de Havana e os padres trabalhistas

    O tema condies de trabalho e comrcio constava da Carta de Havanaassinada em 1948, que pretendia criar a OIC Organizao Internacional deComrcio. O objetivo da Carta era enquadrar o comrcio internacional dentro deum amplo contexto, e no tom-lo isoladamente. A Carta negociou temas queincluam emprego e atividade econmica, desenvolvimento econmico ereconstruo, prticas comerciais restritivas, acordos sobre commodities,investimento, e padres trabalhistas (Havana Charter, Final Act, 1948).

    No seu Artigo 7, intitulado Padres Justos de Trabalho, membrosreconheciam que medidas relativas ao emprego deveriam levar em considerao

    os direitos dos trabalhadores dentro de declaraes intergovernamentais,convenes e acordos. Membros reconheciam que todos os pases tm interessecomum na realizao e manuteno de padres justos de trabalho relacionados produtividade, e, assim, na melhoria de salrios e condies de trabalho, tanto

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    quanto a produtividade o permitir. Membros reconheciam que condies injustasde trabalho, particularmente na produo para a exportao, criariam dificuldadesno comrcio internacional, e, assim, cada membro deveria tomar qualquer ao

    que se fizesse apropriada e factvel para eliminar tais condies, dentro de seuterritrio. Estava ainda previsto cooperao entre a nova organizao e a OICsobre esse tema.

    3.3 A OIT e a dimenso social da liberalizao do comrcio

    O grande marco na luta por melhores condies de trabalho foi a criaoda Organizao Internacional de Trabalho OIT em 1919. A OIT uma

    organizao tripartite, formada por governos, empregadores e trabalhadores, ebaseia suas atividades na negociao de convenes sobre o trabalho atravs deconferncias mundiais. Dispe de mecanismos de controle para supervisionar aimplantao de tais convenes dentro de seus membros. No entanto, no existemecanismo de sano, como na OMC, uma vez que se baseia na presso polticainternacional contra os membros que desrespeitam as convenes aprovadas. Oprincipal rgo da OIT o Conselho de Administrao, composto de 56 membros,sendo 28 de governos (10 permanentes), 14 de trabalhadores e 14 de empregadores.

    At o momento, a OIT j aprovou 175 convenes sobre as condies do

    trabalho e seus membros esto em diferentes fases de ratificao de tais convenespor seus corpos legislativos.

    O tema padres trabalhistas e comrcio internacional no foi includo naOIT, at o momento, por haver desacordo entre as trs partes envolvidas. Umadas questo bsicas que os direitos dos trabalhadores so problemas entreempresas e trabalhadores, e devem constar de acordos para o estabelecimento deprincpios comuns. Por outro lado, a liberalizao do comrcio contribui para odesenvolvimento econmico, conseqentemente para a melhoria dos padres detrabalho e para o aumento do emprego. O dilema da OIT de como defender aequalizao dos custos sociais entre seus membros, e o grande problema, no casodo comrcio internacional, seria de como aplicar sanes aos membros queviolassem tais princpios, uma vez que a organizao est baseada na cooperaoentre seus membros e no na coero.

    Reagindo s presses que se iam acumulando e existncia de acordosinternacionais que incluam a padres trabalhistas como o NAFTA e os SGP dosEUA e CE, bem como ao incio das discusses na OMC, a OIT comeou tambma discutir o tema em 1994. Foi criado um Grupo de Trabalho sobre as Dimenses

    Sociais da Liberalizao do Comrcio Internacional aberto aos 56 membros doConselho de Administrao.A OIT empreendeu uma srie de aes visando a aprovao dos direitos

    considerados fundamentais por todos os membros da organizao, e que esto

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    includos em suas convenes. So eles: liberdade de associao e direito denegociaes coletivas, proibio de trabalho forado, remunerao igual parahomens e mulheres, no discriminao no emprego, e proibio de trabalho infantil.

    Para tanto, a OIT lanou uma campanha de promoo desses 5 direitos bsicos, erealizou um levantamento entre seus membros sobre a situao de ratificao dasconvenes pertinentes, com o objetivo de definir os problemas existentes e darapoio tcnico ou jurdico aos membros que necessitarem.

    Finalmente, a OIT est negociando a aprovao de uma DeclaraoSolene, onde os membros da OIT reconheceriam esses 5 direitos bsico,enquadrando-os dentro dos Direitos Humanos, e com mecanismo deacompanhamento atravs de relatrios e exame por grupos de peritos.

    3.4 A CE e a poltica social

    O debate sobre Poltica Social na CE pode ser sintetizado por duas correntes: ados pessimistas e a dos otimistas. Os pessimistas sempre insistiram nos perigos daliberalizao do comrcio na presena de diferenas das condies sociais entreos Estados membros, considerando tais diferenas injustas, o que levaria necessidade de harmonizao social, de modo a prevenir o dumping social. Osotimistas vem as diferenas sociais como conseqncia das diferenas das

    condies econmicas, o que levaria o mercado comum a reduzi-las, conduzindo harmonizao das condies sociais (Sapir,1996).

    O Tratado de Roma que criou a, ento, CEE contm vrios dispositivosrelativos harmonizao das polticas sociais, com o objetivo de diminuir asdisparidades do mercado de trabalho dos diversos Estados membros, e estabelecercondies de concorrncia dentro da Comunidade.O Artigo 96 (ex-101) estabelece a aproximao das leis necessria para equalizaras condies de concorrncia. Mas sua aplicao deve estar sujeita a vriascondies cumulativas: deve haver uma diferena entre as regras nacionais; estadiferena deve estar distorcendo as condies de concorrncia; e a distoro deveser suficientemente severa de modo que tenha de ser eliminada. O procedimentoa ser adotado a Comisso consultar os Estados membros e negociar um acordopara eliminar a distoro. Na ausncia de um acordo, medidas apropriadas soadotadas pelo Conselho de Ministros. O Artigo se aplica a todas as medidas nacionaisque distoram a concorrncia dentro do mercado comum, a includa a polticasocial.

    Os Artigos 136 a 145 (ex-117 a 122) definem os objetivos da CE na rea

    social. Os Estados membros concordam com a necessidade de promover melhorescondies de trabalho e um melhor padro de vida para os trabalhadores, de modoa tornar possvel sua harmonizao. Tal harmonizao realizada pelofuncionamento do mercado comum e atravs da aproximao das legislaes

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    nacionais. Algumas reas so destacadas do Tratado: igualdade de pagamentos,frias remuneradas, e no discriminao entre homens e mulheres.

    Com o agravamento da crise social na dcada dos 70, uma srie de diretivas

    foi adotada com o objetivo de pressionar pela harmonizao das polticas sociais.Com a necessidade de se dar um novo impulso Comunidade, em 1986, foi lanadoo programa do Mercado nico, que cria um espao econmico nico naComunidade, o que fez surgir novas presses para o estabelecimento paralelo deum espao social.

    Assim, o Artigo 138 (ex-118 A) determina que os Estados membros devemestabelecer como seus objetivos a harmonizao das condies nas reas da sadee segurana do trabalho, atravs de diretivas do Conselho, que devem determinar

    os requisitos mnimos para sua gradual implementao. O Artigo 139 (ex-118 B)introduz a noo de dilogo social, solicitando Comisso para desenvolver umdilogo entre a administrao e o trabalho, em nvel europeu, e que conduza aoestabelecimento de um acordo na rea social. A introduo do tema atravs deiniciativas dos Estados membros, no entanto, demonstrava a falta de consensoentre eles, o que levou alguns Estados a resistir harmonizao desejada em nveleuropeu.

    Novo esforo da Comisso conduziu adoo pelos Estados membros,em 1989, da Carta da Comunidade sobre os Direitos Sociais Fundamentais dos

    Trabalhadores, da qual no participou o Reino Unido. A Carta Social umadeclarao solene, e no tem conseqncias legais, mas representa um quadro dereferncia para princpios que estabelecem direitos bsicos. Ainda, a Cartadetermina que a Comisso deve submeter iniciativas para a adoo de medidasespecficas, e um programa de ao com cerca de 50 medidas.Durante as negociaes do Tratado de Maastricht, que criou a Unio Europia eque foi assinado em 1992, a Comisso tentou incorporar uma parte social ao novotratado, de modo a reforar a dimenso social da nova unio. Por objeo doReino Unido, o texto foi removido do tratado e incorporado em um protocolo e umacordo anexados ao tratado, que tambm excluem o Reino Unido. O Acordo sobrePoltica Social declara que a Comunidade e seus Estados membros devem tercomo objetivos a promoo do emprego, a melhoria das condies de vida e detrabalho, a proteo social, o dilogo entre administrao e o trabalho, odesenvolvimento dos recursos humanos, e o combate excluso social. AComunidade deve apoiar e complementar as atividades dos Estados membros nocampo social, incluindo sade e segurana do trabalho, condies de trabalho,informao e consulta aos trabalhadores, e igualdade entre homens e mulheres. O

    Conselho , assim, autorizado a adotar, atravs de diretivas, os requisitos mnimospara a sua gradual implementao (Artigos 1-3, Agreement on Social Policy).Em sntese (Sapir, 1996), a CE vem passando por um lento processo de

    evoluo em sua rea social. Apesar do Tratado de Roma estabelecer a igualdade

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    de pagamento, ele no obriga a harmonizao das polticas sociais de forma distintaou anterior ao processo de liberalizao dentro do mercado comum. Mas mudanasocorreram, pressionadas pelo alargamento da CE, pelos custos de mo-de-obra

    diferentes, por altos nveis de desemprego e pela estagnao dos nveis salariais.Os avanos da CE na rea social evidenciam um importante progresso

    em termos de adoo de princpios bsicos sobre condies de trabalho, mastambm uma clara resistncia a qualquer processo de harmonizao dessascondies. No entanto, a CE vem apoiando o desenvolvimento social, atravs demedidas redistributivas como os fundos estruturais para regies menos desenvolvidase a noo de coeso econmica e social, que d a base legal para se reduzir asdisparidades entre as regies.

    Com relao ao comrcio internacional e ao tema padres trabalhistas, aCE vem adotando uma poltica social atravs do seu SGP Sistema Geral dePreferncias que concede acesso preferencial nas importaes dos pases emdesenvolvimento (Reg. 3281/94 e Reg.1256/96). A participao no programa estcondicionada concesso da preferncia a um certo nmero de exigncias deordem social. Algumas prticas como explorao social, dentre elas, trabalhoescravo ou de priso, se utilizadas na produo de produtos exportveis, implicama remoo dessa preferncia.

    Por outro lado, inaugurando uma prtica de no s punir como tambm

    recompensar, a CE est desenvolvendo um programa para encorajar avanos sociaisnos pases em desenvolvimento. Assim, a partir de janeiro de 1998, se um pasdemonstrar a conformidade das suas prticas trabalhistas com determinadasconvenes da OIT, tal pas ser recompensado com preferncias adicionais, almdas preferncias bsicas, de modo a recuperar os custos mais elevados, ocasionadospelas novas regulamentaes na produo de determinados bens exportados.Dentre as convenes em pauta, a do direito de organizao de associaes detrabalhadores, negociao coletiva, e idade mnima para o trabalho de crianas.

    3.5 O NAFTA e a poltica social

    O tema direitos sociais e comrcio internacional tem uma longa tradionos EUA. Em 1890, os EUA proibiram a importao de bens produzidos em prises,e, em 1930, a legislao foi ampliada para trabalho forado. Historicamente, osEUA vm condicionando programas de comrcio preferencial e de ajuda econmicaao reconhecimento de padres trabalhistas internacionalmente reconhecidos. Dentreeles, o SGP (1984), a Caribbean Basin Initiative (1983) e a OPIC OverseasPrivate Investment Corporation. O objetivo o de melhorar as condies dos

    trabalhadores em pases que no reconhecem os direitos bsicos e, assim, combatero dumping social.

    As condies dos trabalhadores em outros pases tambm objeto doUS Trade and Competitiveness Act de 1988, que classifica a recusa, por parte

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    padro persistente de erro (persistent pattern of failure) e o pas no implementaras recomendaes dos especialistas, uma multa pode ser determinada, e utilizadapela parte denunciante para melhorar a aplicao das leis trabalhistas em seu pas.

    Se a multa no for paga, a parte prejudicada pode suspender os benefcios tarifrioscom o aumento de direitos aduaneiros. Casos j levados a exame incluem vriastransnacionais que se instalaram no Mxico, e a questo diz respeito ao direito delivre associao, o que no reconhecido no Mxico se a associao no estiverdentro do partido poltico dominante.

    O Acordo tambm estabelece uma Comisso Trilateral sobre Cooperaodo Trabalho para promover atividades relacionadas aos temas trabalhistas, atravsde seminrios, pesquisa e assistncia tcnica. A Comisso composta de um

    Conselho Ministerial, um Secretariado e um escritrio administrativo em cada pas.3.6 O GATT/OMC e o tema padres trabalhistas

    O tema padres trabalhistas voltou discusso durante a Rodada de Tquio,sem sucesso, trazido pelos nrdicos. Novamente, foi levado Rodada Uruguaicom o apoio dos EUA e de alguns membros da CE. O tema foi bloqueado pelospases em desenvolvimento, que argumentavam que a padres trabalhistas eramuma forma de protecionismo, j que iriam erodir a vantagem comparativa dos seus

    custos de trabalho. Ainda, que a melhor forma de proteger os trabalhadores seriaa liberalizao do comrcio e o desenvolvimento.

    Durante a Conferncia Ministerial de Marraqueche em abril de 1994, queaprovou os resultados da Rodada Uruguai, os EUA e a Frana voltaram carga,pressionados por associaes de trabalhadores e organizaes no governamentais.O tema foi includo apenas nos Comentrios Finais do Presidente do Comit deNegociaes de Comrcio que propem o exame das relaes entre comrcio evrios outros temas, inclusive padres trabalhistas. Dentre eles concorrncia,financiamentos, investimento, poltica monetria, dvida externa e pobreza.

    Na Conferncia Ministerial de Cingapura, em dezembro de 1996, a primeiraaps a criao da OMC, durante os trabalhos preparatrios, EUA e Noruegaapresentaram papis defendendo a incluso do tema padres trabalhistas dentroda OMC, atravs da observao, por parte dos seus membros, de alguns princpiostrabalhistas bsicos. No entanto, o tema foi bloqueado pelos pases emdesenvolvimento, que conseguiram a aprovao de uma declarao especfica,onde se devolvia a responsabilidade de seu tratamento para a OIT.

    O tema foi includo na Declarao Final da Conferncia com os seguintes

    termos: Ns Ministros, renovamos nosso compromisso para o cumprimento depadres trabalhistas bsicos internacionalmente reconhecidos. A OIT o rgocompetente para estabelecer e lidar com tais padres, e afirmamos nosso apoiopelo seu trabalho em promove-los. Acreditamos que o crescimento econmico e o

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    desenvolvimento suportados pelo aumento do comrcio e a sua liberalizaocontribuem para a promoo desses padres. Rejeitamos o uso de padrestrabalhistas com fins protecionistas, e concordamos que a vantagem comparativa

    dos pases, no deve, de maneira alguma, ser colocada em questo. A OMC e aOIT continuaro a sua colaborao mtua (Singapore Ministerial Declaration,1996).

    Apesar dos constantes bloqueios por parte dos pases em desenvolvimento introduo da padres trabalhistas na OMC, j existem vrias propostas de comoo tema poderia ser includo nas regras da OMC. Dentre as vrias propostas citadas,a ausncia de padres trabalhistas bsicos poderia ser considerada como (ILO,GB.261,WP/SLD1, 1994):

    antidumping dentro do Artigo VI do GATT 1994 como uma forma deintroduzir o produto em um membro, com preos abaixo do valor normal, e,assim, de forma considerada desleal;

    anti-subsdio dentro do Artigo VI e XVI do GATT 1994 como uma formade subsdio do governo, ao permitir condies trabalhistas em nveis muitobaixos;

    exceo s regras gerais dentro do Artigo XX do GATT 1994 como umaexceo s regras gerais de restrio s importaes, a ser includa nos casos

    j previstos de: proteo vida humana, animal ou vegetal, segurana, trabalho

    de presidirios, e conservao de recursos exaurveis; anulao ou prejuzo de benefcios dentro do Artigo XXIII do GATT 1994

    sob a alegao de que os benefcios derivados de uma negociao esto sendoanulados ou prejudicados.

    Alguns autores defendem o Artigo XXIII porque ele um mecanismomultilateral dentro da OMC, que exige um processo de soluo de controvrsias,com consultas entre as partes e consultas dentro da OMC. Incluiria, assim, umainvestigao, uma recomendao e, se for o caso, uma retaliao autorizada pelaOMC. Como a OMC, dentro do esprito do Artigo XXIII, deve consultar outrasinstituies, a participao da OIT no processo estaria assegurada. Como a OITtem procedimentos para a determinao de violao de obrigaes via a Comissode Inqurito e Grupo de Peritos, seria apoiado nesse trabalho que o processo dentroda OMC poderia ser baseado.

    A grande questo que se coloca diante de toda a discusso de se introduzir,ou no, o tema padres trabalhistas dentro da OMC poderia ser resumida em doispontos. Primeiro, seria o de avaliar os custos e benefcios de se sobrecarregar todoo sistema de soluo de controvrsias da OMC e transform-lo em um tribunal de

    cunho mais poltico e social do que comercial. No se pode desprezar o grau decomplexidade j introduzido na OMC com a negociao de acordos sobrepropriedade intelectual e servios, alm de outros acordos em negociao comoinvestimentos, concorrncia e compras governamentais. Segundo, seria analisar

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    as vantagens de se transformar a OMC na guardi de temas no diretamenterelacionados ao comrcio, como meio ambiente e padres trabalhistas.

    Uma outra alternativa, que tem sido fortemente considerada, dar mais

    fora poltica prpria OIT, que j vem desenvolvendo um longo trabalho nessarea, e que a nica organizao internacional tripartite, com a presena degovernos, empresrios e trabalhadores. A grande questo como dar os dentesdo GATT OIT, isto , a capacidade de se abrir um processo, onde partes emconflito so ouvidas por um painel de especialistas, e a parte ganhadora poderetaliar comercialmente a parte perdedora, se essa no adequar as suas prticascomerciais s recomendaes do painel.

    Uma forma a ser analisada seria dar ampla divulgao aos resultados das

    investigaes realizadas pela OIT, e, assim, dar elementos ao consumidor paraexercer seu direito de soberania, neste caso, boicotar produtos exportados e quesejam produzidos por condies trabalhistas consideradas injustas.

    O tema est longe de estar esgotado, e novas iniciativas j esto previstaspara os prximos encontros ministeriais da OMC.

    3.7 Implicaes para as relaes do MERCOSUL com a CE e com o NAFTA

    Padres trabalhistas so, dentro dos chamados novos temas, uma das reasmais sensveis em termos de suas relaes com o comrcio, no s porque serefere a seres humanos, mas porque inclui julgamento de padres morais, quandose analisa os casos de trabalho infantil e trabalho forado.

    A discusso sobre o tema padres trabalhistas, tambm como meioambiente, esto apenas em fase inicial no MERCOSUL, dentro do Subgrupo deTrabalho, Emprego e Seguridade Social (DEC 11/91), e dentro do Foro ConsultivoEconmico e Social, o que torna o acompanhamento dos debates sobre essa questoem outros foros um elemento essencial para se compreender suas implicaes na

    rea comercial.O tema dumping social tem uma longa histria, e o Brasil tem sentido

    seus efeitos na rea comercial, efeitos relacionados s suas exportaes de acar,sisal e calados, onde presses contra o trabalho infantil se fazem sentir de formacada vez mais fortes.

    Presses sociais e polticas esto transformando a incluso desse temaem ponto dos mais sensveis dentro das negociaes do MERCOSUL com a CE ecom o NAFTA, o que torna o seguimento da experincia dos demais acordos de

    integrao j existentes cada vez mais importante. Existem vrias opes em pauta,desde a simples cooperao entre autoridades da rea, como definida no NAFTA,at o processo de harmonizao como dentro da CE. Uma soluo dentro desseespectro tambm pode ser encontrada.

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    No mbito multilateral, as negociaes se aceleram na OIT para a adoode uma declarao solene sobre os padres trabalhistas considerados fundamentais.O acompanhamento de tais negociaes importante, porque elas se do de forma

    paralela s discusses dentro da OMC, que no tem, como no caso de meioambiente, um comit que coordene as discusses. Quanto menos ambiciosos foremos resultados dos trabalhos da OIT, maiores sero as presses para que o temaseja discutido dentro da OMC. Com o aumento do desemprego na Europa e apresso de exportaes derivadas das desvalorizaes cambiais dos pasesasiticos, as presses polticas e sociais aumentaro para que sejam estabelecidasmedidas protecionistas. A defesa dos direitos fundamentais dos trabalhadores setornar, sem dvida, um tema de alta sensibilidade, o que transformar a OMC em

    foro privilegiado para discutir as questes que afetem o comrcio.A questo que ento se coloca a da necessidade de se introduzir ou noa clusula sobre padres trabalhistas nos acordos regionais do MERCOSUL coma CE e com o NAFTA, em quais termos e sob que condies. As opes que seapresentam so de negociar regras sobre padres trabalhistas em termosmultilaterais, ou no mbito da OIT, ou no mbito da OMC, ou ainda, nos dois forossimultaneamente.

    4 Concluses

    Os membros do MERCOSUL, no momento atual, tm a sua frente umgrande desafio, qual seja, o de definir suas posies diante do importante jogointernacional que consiste na abertura simultnea de vrias frentes de negociaopoltica e econmica, e posicionar o MERCOSUL como parceiro comercial compeso especfico, dentro de um contexto internacional extremamente complexo. Talcomplexidade derivada do jogo atual que se desenrola simultaneamente emdiversas frentes envolvendo parceiros diferentes, e em diversos nveis, seja dembito regional, inter-regional, plurilateral ou multilateral.

    O primeiro desafio o de definir estratgias internas diante do contextointernacional atual. De um lado, existem presses para que as economias nacionaisse adaptem s novas estratgias de globalizao e de abertura de seus mercados,o que exige pronta resposta das empresas fornecedoras de bens e servios e dosgovernos reguladores das atividades econmicas. Por outro lado, a desaceleraoeconmica de vrios pases faz ressurgir o problema do desemprego estrutural eda deflao, que aliado crise financeira e de desvalorizao cambial em outrospases, faz renascer o problema da invaso de importaes a preos reduzidos, do

    impacto dessas importaes sobre a indstria domstica, e a conseqenteexacerbao das presses por medidas protecionistas.Na atuao do MERCOSUL como parceiro do jogo internacional, o quadro

    est montado para que se inicie uma partida simultnea em diferentes nveis. Em

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    um primeiro nvel, o MERCOSUL enfrenta o desafio de continuar ou no o processode integrao, passando de uma unio aduaneira para um verdadeiro mercadocomum, com todas as implicaes da harmonizao de polticas econmicas e da

    perda de liberdade de tomar decises individuais. Ainda, enfrenta a questo doaprofundamento em paralelo questo do alargamento com outros pases daAmrica do Sul.

    Em um segundo nvel, o MERCOSUL se defronta com o desafio de entrarem negociaes sobre processos de integrao econmica com dois dos seus maisfortes parceiros internacionais, a CE e o NAFTA, enfrentando todas as implicaesdas vantagens de acesso a importantes mercados, contrapostas aos custos deadequar suas economias a uma concorrncia mais acirrada.

    Em um terceiro nvel, o MERCOSUL enfrenta o desafio de coordenarposies e estar presente nos diversos foros internacionais da rea econmica,que incluem a OMC, Banco Mundial, FMI, OCDE, OIT e UNCTAD. Na rea docomrcio internacional, a ao se concentra atualmente na OMC e na OCDE,onde Brasil e Argentina so observadores, e agora tambm na OIT.

    Dentro da OMC, o desafio no menor, e a maior presso derivada danecessidade de se adequar a qualidade das respostas s diversas solicitaes criadaspelas atividades normais da organizao, o que envolve o trabalho de representantesdos diversos ministrios encarregados das reas econmicas dos governos, bem

    como representantes das associaes empresariais, uma vez que esto em jogotemas de alto grau de complexidade e de exigncia tcnica.

    No contexto internacional e, principalmente, com o processo de globalizaodas economias, a OMC vem sofrendo forte presso para se adequar s exignciasdo mundo atual, o que se consubstancia no desafio de enfrentar uma novanegociao multilateral, no limiar do ano 2000, seja ela em reas definidas comoagricultura, servios e propriedade intelectual, seja ela em maior dimenso,englobando todos os temas tradicionais, alm dos novos temas, que, certamente,sero includos nas negociaes. Ainda, o contexto internacional est exigindotoda uma discusso sobre os objetivos da OMC, at agora baseados no aumentodos nveis de riqueza atravs da liberalizao do comrcio, para a necessidade dese ampliar tais objetivos, passando a base-los no aumento dos nveis de riquezaatravs da liberdade para a competio internacional, o que acarretaria a ampliaodas atividades da OMC para incluir regras de concorrncia, investimentos, meioambiente e padres trabalhistas.

    Diante do quadro de abertura de futuras negociaes que cresce aimportncia de se analisar os impactos dos novos temas sobre o comrcio do

    MERCOSUL com seus parceiros internacionais, em todos os nveis onde ocorre ojogo comercial, isto , dentro do MERCOSUL, diante de eventuais acordos regionaisde integrao com a CE ou com o NAFTA, e dentro das organizaes que negociamacordos internacionais sobre esses temas como OMC, OCDE e OIT.

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    O grande desafio a enfrentar o da deciso de como atuar nas diversasfrentes de negociao, se de forma simultnea, abrindo negociaes regionais,inter-regionais e multilaterais, e usando avanos e recuos em uma frente como

    ttica para obter vantagens em outra frente, ou, ento, optar pela abertura defrentes de negociao de forma seqencial, enfrentando as negociaesmultilaterais, e adiando as negociaes regionais para o futuro.

    Qualquer que seja a opo adotada, os novos temas do comrciointernacional estaro presentes, o que implica a necessidade do MERCOSUL seaprofundar sobre eles: comrcio e meio ambiente e comrcio e padres trabalhistas.Os dois temas em questo pressupem um mesmo debate, qual seja, dentro docontexto atual, da necessidade de se manter a diversidade dos padres e regras,

    respeitando os diferentes nveis de desenvolvimento dos pases, ou de se partirpara um processo de harmonizao desses padres e regras, respeitando padresmnimos aceitveis por todos, e um processo de convergncia a mais longo prazo.O problema a ser enfrentado, que a disparidade de tais padres e regras podecriar srias barreiras ao comrcio, ou ainda, pode ser usada como forma disfaradade proteo.

    Uma das questes centrais na discusso desses temas a necessidade dese dispor de um mecanismo de soluo de controvrsias, com fora poltica paradeterminar sanes contra as infraes s regras negociadas, o que existe na

    OMC, mas no existe na OIT, e que poder no existir em uma futura OrganizaoMundial do Ambiente.

    Um importante ponto a destacar, no caso dos futuros acordos de integraodo MERCOSUL, o tratamento dspar que esses temas esto tendo nasnegociaes do MERCOSUL com a CE e com o NAFTA.

    A avaliao que se pode fazer no momento atual que os temas meioambiente e padres trabalhistas j chegaram aos foros internacionais com forapoltica para criar srios problemas, se no devidamente equacionados. No casodos padres trabalhistas, a existncia de uma organizao internacional como aOIT consegue canalizar as presses, e realizar um trabalho importante de supervisoe controle dos avanos conseguidos. Neste caso, o papel da OMC deve ser o deacompanhar a evoluo do tema de forma que ele no se converta em barreiras aocomrcio. Ainda, a OMC pode ter papel de destaque como foro no processo desoluo de controvrsias sobre questes que envolvam comrcio e padrestrabalhistas, uma vez que, como se diz em linguagem corrente, a OIT no tem osdentes da OMC. Atividade de destaque ser a de acompanhar o desenrolar dasexperincias sobre cooperao dentro da manuteno da diversidade como no

    caso do NAFTA, ou a harmonizao das regras sobre padres trabalhistas comono caso da CE.J no caso do meio ambiente, a no existncia de uma organizao que

    reuna os mais de 150 acordos sobre meio ambiente, principalmente os com clusulas

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    comerciais, certamente oferece maiores problemas. A experincia est madurapara se pensar seriamente na criao de uma organizao mundial sobre meioambiente para congregar, coordenar e supervisionar a implantao dessa

    multiplicidade de acordos. Novamente, caberia OMC, em colaborao com anova organizao, trabalhar para que as regras ambientais no se convertam embarreiras comerciais, bem como servir de foro para a soluo de controvrsiasoriginadas nos casos de interseo de comrcio e meio ambiente. Novamenteaqui, a OMC forneceria os dentes para a nova organizao. Trabalho importanteser, tambm, o de acompanhar as experincias sobre a cooperao dentro dorespeito diversidade ou aquela de harmonizao das regras sobre o meio ambienteque ocorrem nos acordos regionais.

    Algumas derradeiras questes em aberto dizem respeito, tanto nasnegociaes regionais quanto nas multilaterais, a se o interesse dos pasesdesenvolvidos em incluir novos temas poder ser adequadamente compensado poroutros temas de interesse dos pases em desenvolvimento como o de melhor acessoa mercados, atravs de reduo de picos tarifrios, reduo das escalonagenstarifrias, alm de maior acesso a produtos tradicionais como alimentos e txteis.

    Em sntese, os desafios no so poucos. Resta saber se os membros doMERCOSUL tero condies de enfrent-los, e saber colocar o MERCOSULem posio de destaque na frente dessas negociaes, ou optar pela posio de

    mero observador, deixando que esse jogo internacional seja conduzido por outrosparceiros mais audaciosos.

    Maio 1998

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    Resumo

    Este artigo a continuao do trabalho da autora sobre os novos temasem discusso na OMC. No momento em que o MERCOSUL se posiciona paramais uma rodada de negociaes multilaterais no mbito da OMC, alm das

    negociaes j iniciadas com a CE dentro do acordo inter-regional e com o NAFTAdentro do ALCA, dois dos novos temas do comrcio internacional se revestem degrande interesse: meio ambiente e padres trabalhistas. O artigo analisa como taistemas evoluram no cenrio internacional desde a Carta de Havana, passando pelaUNCTAD, OCDE, e OIT, para, finalmente, chegarem OMC. O objetivo doartigo dar elementos para a discusso desses temas nas negociaes futuras doMERCOSUL.

    Abstract

    This is the second part of the authors article dealing with WTOs newthemes. MERCOSUL is positioning itself to start negotiations in several fronts:

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    inside WTO in the next round of multilateral negotiations, with the EU in a inter-regional agreement and with NAFTA inside the FTAA. Two themes are relevantto these negotiations: environment and labor standards. This article analyses the

    evolution of these themes in the international context from the Havana Charter,through UNCTAD, OECD and ILO to arrive in the WTO. The objective of thisarticle is to give some elements for the discussion of these two themes in Mercosulsfuture negotiations.

    Palavras-chave: OMC. Comrcio. Meio ambiente. Padres trabalhistas.Negociaes multilaterais.

    Key-words: WTO. Trade. Environment. Labor standards. Multilateral negotiations.