reações adversas a medicamentos

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N° 1 – agosto de 2008 – Farmacovigilância: Farmacovigilância: Farmacovigilância: Farmacovigilância: Reações Adversas a Medicamentos Disponível em: http://www.ufrgs.br/boletimcimrs 1 BOLETIM INFO BOLETIM INFO BOLETIM INFO BOLETIM INFORMATIVO DO CIM MATIVO DO CIM MATIVO DO CIM MATIVO DO CIM-RS RS RS RS Reações Adversas a Medicamentos Vamos Notificar? Glossário: 1. Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos: responsável por receber as notificações de RAM, situado na Unidade de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e membro do Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos, coordenado pelo The Uppsala Monitoring Center 1 . 2. Efeito colateral: qualquer efeito não intencional de um produto farmacêutico que ocorra em doses normalmente utilizadas em humanos relacionado com as propriedades farmacológicas do fármaco 2 . O efeito colateral é um tipo de RAM previsível. 3. Evento adverso ou experiência adversa: definidos como qualquer ocorrência desfavorável passível de ocorrer enquanto o paciente está utilizando o medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com o tratamento 2,3 . O ponto básico é a coincidência no tempo, sem suspeita de relação causal 2 . 4. Evento adverso grave é qualquer evento que apresente algum dos seguintes requisitos: ser fatal; ameaçar a vida; ser incapacitante de forma permanente ou significativa; requerer ou prolongar a hospitalização; causar anomalia congênita; requerer intervenção para prevenir incapacidade ou dano permanente 2 . 5. Notificação de caso: notificação relativa a um paciente com um evento clínico adverso (ou anormalidade em teste de laboratório) suspeito de ter sido induzido por um medicamento 4 . 6. Notificação espontânea: sistema no qual relatos de casos de reações adversas são voluntariamente submetidos à autoridade nacional reguladora pelos profissionais da saúde e indústrias farmacêuticas 4 . É atualmente a principal fonte de informação em farmacovigilância 4 e é considerado o método mais eficiente para a identificação dos riscos associados aos medicamentos não conhecidos 5 . 7. Queixa técnica: Notificação feita pelo profissional de saúde quando observado um afastamento dos parâmetros de qualidade exigidos para a comercialização ou aprovação no processo de registro de um produto farmacêutico 6 . 8. Reação adversa a medicamento (RAM): qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não-intencional a um medicamento, que se manifesta após a administração de doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doença ou para modificação de função fisiológica 7 . É importante considerar que se refere à resposta individual 2 .

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N° 1 – agosto de 2008 – Farmacovigilância:Farmacovigilância:Farmacovigilância:Farmacovigilância: Reações Adversas a Medicamentos

Disponível em: http://www.ufrgs.br/boletimcimrs

1

BOLETIM INFOBOLETIM INFOBOLETIM INFOBOLETIM INFORRRRMATIVO DO CIMMATIVO DO CIMMATIVO DO CIMMATIVO DO CIM----RSRSRSRS

Reações Adversas a Medicamentos

Vamos Notificar?

Glossário:

1. Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos: responsável por receber as notificações de

RAM, situado na Unidade de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

e membro do Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos, coordenado pelo The Uppsala

Monitoring Center 1 .

2. Efeito colateral: qualquer efeito não intencional de um produto farmacêutico que ocorra em doses

normalmente utilizadas em humanos relacionado com as propriedades farmacológicas do fármaco 2. O

efeito colateral é um tipo de RAM previsível.

3. Evento adverso ou experiência adversa: definidos como qualquer ocorrência desfavorável passível de

ocorrer enquanto o paciente está utilizando o medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação

causal com o tratamento 2,3. O ponto básico é a coincidência no tempo, sem suspeita de relação causal 2.

4. Evento adverso grave é qualquer evento que apresente algum dos seguintes requisitos: ser fatal; ameaçar

a vida; ser incapacitante de forma permanente ou significativa; requerer ou prolongar a hospitalização;

causar anomalia congênita; requerer intervenção para prevenir incapacidade ou dano permanente 2.

5. Notificação de caso: notificação relativa a um paciente com um evento clínico adverso (ou anormalidade

em teste de laboratório) suspeito de ter sido induzido por um medicamento 4.

6. Notificação espontânea: sistema no qual relatos de casos de reações adversas são voluntariamente

submetidos à autoridade nacional reguladora pelos profissionais da saúde e indústrias farmacêuticas 4. É

atualmente a principal fonte de informação em farmacovigilância 4 e é considerado o método mais

eficiente para a identificação dos riscos associados aos medicamentos não conhecidos 5.

7. Queixa técnica: Notificação feita pelo profissional de saúde quando observado um afastamento dos

parâmetros de qualidade exigidos para a comercialização ou aprovação no processo de registro de um

produto farmacêutico 6.

8. Reação adversa a medicamento (RAM): qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não-intencional a

um medicamento, que se manifesta após a administração de doses normalmente utilizadas no homem para

profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doença ou para modificação de função fisiológica 7. É importante

considerar que se refere à resposta individual 2.

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9. Reação adversa inesperada: uma reação adversa de natureza e gravidade não consistente com a bula ou

autorização de comercialização, ou que não seria esperada pelas características do medicamento 2.

10. Sinal: conjunto de notificações sobre possível relação causal entre um evento adverso e um medicamento,

sendo a relação desconhecida ou documentada 2,6 previamente 2, mas de maneira incompleta 2,6.

Geralmente, é necessária mais de uma notificação para gerar um sinal, dependendo da gravidade do

evento e da qualidade das informações 2,6 e estabelecer a importância clínica (gravidade e impacto de

saúde pública) e o potencial do sinal para a adoção de medidas preventivas 6.

11. The Uppsala Monitoring Center: centro colaborador da Organização Mundial da Saúde, localizado na

Suécia. Sua principal função é administrar a base de dados internacional de notificações de RAM

recebidas dos centros nacionais 8.

Introdução:

Os medicamentos se tornaram uma

importante ferramenta terapêutica, auxiliando na

melhoria da qualidade e expectativa de vida da

população. Entretanto, para que a farmacoterapia

tenha êxito e produza os resultados esperados, é

indispensável que os medicamentos tenham

qualidade, segurança, eficácia, e que sejam

prescritos e utilizados adequadamente 9. Nas últimas

décadas, alguns estudos têm mostrado que a

morbidade e a mortalidade associadas ao uso de

medicamentos constituem um importante problema

de saúde e começam a ser percebidas pelos

profissionais e pelo público 2.

É importante considerar que a ocorrência de

reações adversas constitui-se em fator intrínseco ao

próprio uso do medicamento 9. Estudos

epidemiológicos realizados nos Estados Unidos

indicam que as RAM ocorrem em

aproximadamente 10 10 a 20% dos pacientes

hospitalizados, são causa de 3% a 6% das admissões

hospitalares 9 e estão entre as maiores causas de

mortalidade naquele país 2,10. Os serviços para

tratamento de RAM sobrecarregam os gastos com

saúde chegando a 15-20% do orçamento dos

hospitais em alguns países. Além de RAM, outros

problemas relacionados a medicamentos incluem

abuso, mau uso, intoxicação, falha terapêutica e

erros de medicação 2.

A relação entre os padrões de utilização de

medicamentos e a freqüência de RAM é pouco

estabelecida, porém é cada vez mais claro que o

perfil de segurança está diretamente relacionado a

fatores sócio-políticos, econômicos e culturais, que,

por sua vez, afetam o acesso, padrões de consumo e

a percepção da população sobre os medicamentos 8.

A relação entre número de fármacos

consumidos e incidência de efeitos adversos é bem

documentada. A porcentagem de pacientes com

RAM aumenta aproximadamente de 10% com o

consumo de um medicamento para 100% com uso

de 10 medicamentos 1, 7.

As informações coletadas durante o período

de desenvolvimento do medicamento, na fase de

pré-comercialização são, inevitavelmente,

incompletas em relação a possíveis RAM 2 por

fatores relacionados ao processo de

desenvolvimento *:

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* Norman S. Marks, M. D. – FDA’s MedWatch Program: Outreach to Healthcare Professionals and the Public, material impresso [2005-6].

• Testes em animais são insuficientes para

prever a segurança em pacientes humanos 2;

• O número de pacientes nos estudos, em geral,

é limitado (raramente envolve mais que 3000

pacientes);

• Pacientes submetidos a ensaios clínicos são

selecionados; as condições do teste diferem

daquelas da prática, excluindo pacientes com

condições clínicas complicadas e

polimedicados;

• Até o registro do medicamento, a exposição de

menos de 5.000 indivíduos a um medicamento

permite apenas a detecção das RAM mais

comuns 2. Por exemplo, para se ter certeza de

que foram registrados todos os casos de uma

RAM, cuja incidência seja de 1 em 10.000

indivíduos expostos, 30.000 pessoas

precisariam ser tratadas 2;

• Informações sobre reações adversas raras,

porém graves, toxicidade crônica, utilização

em grupos especiais como crianças, idosos 2 e

mulheres grávidas, ou interações

medicamentosas são freqüentemente

incompletas ou não estão disponíveis 2;

• A duração dos ensaios é limitada 2; os estudos

muitas vezes não duram mais do que 6-12

meses, excluindo assim a identificação de

reações relacionadas ao uso por longos

períodos ou efeitos latentes. Os efeitos

secundários raros e/ou de longo prazo podem

não ser descobertos antes de o produto ser

aprovado.

Esses dados demonstram que os estudos de

vigilância pós-comercialização são importantes para

permitir a detecção de RAM menos comuns, mas,

algumas vezes, bastante graves 2, 7. Por isso é

importante desenvolver uma cultura de notificação

de RAM 4 e eventos adversos 12 entre os

profissionais da saúde, de forma que isto se torne

uma rotina aceita e compreendida 4 . A efetividade

de um programa nacional de vigilância pós-

comercialização depende diretamente da

participação ativa dos profissionais de saúde por

estarem em melhor posição para notificar suspeita

de RAM 2 .

Monitoração da segurança pós-comercialização:

É consenso, atualmente, que parte do

processo de avaliação da segurança dos

medicamentos precisa ocorrer na fase pós-

comercialização 8.

A análise da relação risco/benefício muda ao

longo do tempo, pois novas informações (em

especial sobre segurança) se tornam disponíveis e

novos tratamentos são introduzidos constantemente 13.

A monitoração da segurança não deve estar

limitada aos novos medicamentos ou avanços

terapêuticos, mas contemplar o perfil de segurança

dos já disponíveis 8.

Sem informação sobre o uso e o padrão de

consumo, as notificações espontâneas não

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possibilitam determinar a freqüência de uma RAM

atribuível a um produto ou sua segurança em relação

a um produto comparável 8. Métodos

epidemiológicos sistemáticos e consistentes que

avaliem as limitações da notificação espontânea

precisam ser incorporados aos programas de

vigilância pós-comercialização 8.

Há outros aspectos da segurança de

medicamentos, que deveriam ser incluídos na

monitoração dos efeitos latentes e de longo prazo

dos medicamentos:

• Identificação das interações do medicamento;

• Medição do impacto ambiental dos medica-

mentos utilizados em grandes populações;

• Avaliação da contribuição dos componentes

inativos (excipientes) para o perfil de segurança;

• Comparação de perfis de segurança de

medicamentos da mesma classe terapêutica;

• Vigilância dos efeitos adversos à saúde humana

de resíduos de medicamentos em animais, por

exemplo, de antibióticos e hormônios 8.

Quanto mais estruturado for o sistema

nacional de farmacovigilância e de notificações,

maior a probabilidade de ocorrer decisões

regulatórias adequadas previamente à liberação de

novos medicamentos. Por exemplo, a exigência de

haver farmacovigilância nos primeiros anos após

liberação do medicamento para o mercado 8.

Educação, capacitação e acesso a informações confiáveis:

Os profissionais da saúde devem estar

conscientes sobre a importância da notificação para a

saúde da população e para sua prática profissional 12.

Para isso, deve ocorrer a mudança de cultura, que é

obtida pela educação destes profissionais com

relação à importância da notificação 12.

O uso equivocado de medicamentos é

geralmente causado pela baixa qualidade e

inacessibilidade às informações sobre medica-

mentos disponibilizadas aos profissionais da saúde e

pode ser agravado por 8:

• Publicidade e divulgação imprecisas;

• Utilização por pacientes não-informados;

• Demanda por medicamentos mais recentes.

A comunicação entre os pacientes e

profissionais da saúde é fundamental para que haja

avaliação concreta dos benefícios, dos riscos e da

efetividade do tratamento. Fatores que podem

reduzir significativamente os riscos e a gravidade

dos efeitos adversos são 8:

• Anamnese farmacológica do paciente;

• Prescrição e dispensação racionais;

• Orientação adequada;

• Fornecimento de informações claras e

compreensíveis sobre medicamento.

A aprendizagem sobre a incidência,

gravidade, prevenção e manejo das RAM deveria

começar na formação profissional. A monitoração da

segurança estimula os profissionais da saúde a

assumir responsabilidade integral pelos

medicamentos que utilizam, melhorando a

efetividade clínica e aumentando a confiança na

prescrição e utilização 8.

As RAM podem auxiliar na compreensão da

relação estrutura-atividade do fármaco, dos fatores

farmacocinéticos, farmacodinâmicos e genéticos

envolvidos 8 e sinalizar outras indicações de uso. Por

isso é importante que seja evitada a conotação

negativa de uma RAM, e que sejam desenvolvidos

sistemas para possibilitar que as informações

farmacêuticas, clínicas e químicas melhorem o

entendimento sobre a ação dos medicamentos 8.

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Para identificar as RAM com real

importância, é necessário que os profissionais da

saúde estejam capacitados para diagnosticá-las,

gerenciá-las e preveni-las. Nem todos os sinais são

tão específicos e facilmente diagnosticados como

foram a focomelia e micromelia causadas pela

talidomida. O reconhecimento de efeitos adversos

menos óbvios requer atenção e compreensão dos

princípios de avaliação da causalidade 7, 8.

A disponibilidade de informação avaliada e

qualificada sobre medicamentos melhora os padrões

de uso e reduz a freqüência das reações adversas. Os

centros de informações sobre medicamentos, aliados

aos profissionais da saúde e instituições de

capacitação, desempenham papel central nesse

contexto, com o estímulo da inclusão dos princípios

e métodos da farmacovigilância e do estudo de

doenças iatrogênicas nos cursos de graduação e pós-

graduação na área da saúde 8. Fornecer um grande

volume de informações ao invés de comunicação

efetiva de informação crítica pode servir como

barreira ao uso racional 8, 9.

Reconhecimento de RAM:

Como as reações adversas a medicamentos

podem se manifestar através dos mesmos

mecanismos fisiológicos e patológicos de diferentes

doenças, torna-se difícil e, às vezes, impossível

distingui-las 1,2. A observação dos passos descritos

abaixo pode ser útil na avaliação 2:

1. Assegurar-se de que o medicamento solicitado

corresponde exatamente ao medicamento

recebido e realmente utilizado pelo paciente, na

dose recomendada 2;

2. Verificar se o início da RAM suspeita ocorreu

antes ou após o medicamento ter sido

administrado 1,2;

3. Determinar o intervalo de tempo entre o início

do tratamento e o início do evento 1,2;

4. certificar-se de que as propriedades

farmacológicas do medicamento podem explicar

a reação adversa 1;

5. Acompanhar o estado do paciente após a

descontinuidade do uso do medicamento ou da

redução da dose. Se for apropriado, reiniciar o

tratamento e monitorar a recorrência de

quaisquer eventos adversos 1,2;

6. Analisar causas alternativas (outras que não o

medicamento suspeito) que poderiam, por si só,

causar a reação 1,2;

7. Observar se houve em exposições anteriores

ao mesmo medicamento, ou a similares,

episódios iguais ou semelhantes ao atual 1;

8. Verificar se há dados a respeito de níveis

plasmáticos do medicamento, provas

diagnósticas específicas, confirmação do

diagnóstico inicial que motivou a administração

do fármaco suspeito e possibilidade de

interações medicamentosas 1;

9. Usar literatura relevante e atualizada 1,2,

juntamente com a experiência de profissional da

saúde para verificar se existem registros sobre

essa reação. Os centros de informações sobre

medicamentos são fontes importantes para

obtenção destas informações 2;

10. Notificar suspeita de RAM ao profissional

designado para esse fim na sua instituição ou,

diretamente, ao Centro Nacional de

Monitorização de Medicamentos 2.

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Casos passíveis de notificação:

RAM 2 :

• Em se tratando de medicamentos novos, todas

as reações suspeitas, incluindo-se as não-

graves. Em muitos países, os medicamentos

são considerados novos até cinco anos após

seu registro;

• Em se tratando de medicamentos bem

conhecidos, todas as suspeitas de RAM graves

e as incomuns;

• Aumento da freqüência de determinada

reação;

• Todas as suspeitas de RAM associadas a

interações entre medicamento e medicamento,

medicamento e alimento, medicamento e

suplementos alimentares, plantas e medicina

alternativa;

• Reações adversas a medicamentos em

situações específicas como gravidez e

lactação.

A farmacovigilância se preocupa,

principalmente, com produtos farmacêuticos

(incluindo meios de contraste radiológico, vacinas e

produtos para diagnósticos); as reações adversas

associadas à medicina considerada alternativa têm

sido pouco investigadas 14.

Queixa técnica:

Também é recomendada a notificação de

perda de eficácia e de desvios da qualidade

especialmente quando há a possibilidade de

problemas de fabricação, medicamentos falsificados

ou de desenvolvimento de resistência (por exemplo,

antibióticos).

Erros de Medicação:

É qualquer evento evitável que, de fato ou

potencialmente, contribui para o uso inadequado do

medicamento, estando o produto sob o controle do

profissional de saúde ou do paciente. Por sua vez, o

uso inadequado pode ter conseqüências negativas

para o usuário 15.

O erro pode estar relacionado a produtos

usados na área da saúde (rótulos, embalagens,

nomes) ou à prática profissional (problemas de

comunicação, prescrição, preparação, dispensação,

distribuição, administração, educação,

monitoramento e uso de medicamentos) 15.

Centros Nacionais de Farmacovigilância e a comunicação com os profissionais da saúde:

A vigilância pós-comercialização de

medicamentos é coordenada, principalmente, pelos

centros nacionais de farmacovigilância. Em

colaboração com o Uppsala Monitoring Center, os

centros nacionais obtiveram conquistas quanto à

coleta e análise das notificações de casos de RAM,

identificação de sinais, decisões reguladoras na fase

de fortalecimento de sinal e alerta aos prescritores,

fabricantes e ao público sobre novos riscos de

reações adversas 8.

Uma estratégia para integrar a

farmacovigilância à prática clínica é a criação de

linhas de comunicação e colaboração mais amplas

entre profissionais da saúde e centros nacionais. Para

que isto ocorra, o centro nacional ou os regionais

precisam ser preparados de forma que a

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comunicação entre os profissionais da saúde e a

equipe profissional do centro seja facilitada e

recíproca. Os centros de informações sobre

medicamentos são locais ideais para esse propósito,

uma vez que muitas informações de medicamento

são, na realidade, relacionadas a reações adversas a

medicamentos, e suas equipes estão em posição ideal

para apoiar o trabalho da farmacovigilância 8, 9.

Os centros de farmacovigilância devem

propiciar acesso imediato ao conhecimento clínico e

compartilhar os recursos, até mesmo as bases de

dados. Os materiais de comunicação desenvolvidos

pelos centros de informações sobre medicamentos

e intoxicação, com inclusão de boletins informativos

e outras publicações, podem ser utilizados para

disseminar alertas sobre medicamentos e outras

informações de segurança aos profissionais 8, 9.

Manejo das RAM:

Embora haja reações imprevisíveis, a

maioria das reações adversas a medicamentos é

evitável 3, 11. Elas podem ser prevenidas pelo:

� Uso das menores doses possíveis 3: dentro

dos intervalos de administração preconizados,

respeitando o quadro fisiopatológico do

paciente e situações clínicas associadas;

� Individualização das doses 3: é considerada a

melhor forma de prevenção para reações

dependentes de dose. É processo simples

quando se tem parâmetros clínicos específicos

ou teste laboratorial de fácil aplicação, o que

permite avaliar o efeito da medicação e serve

de indicador para ajustes de dose;

� Anamnese cuidadosa 3,11: especialmente para

reações que não dependem de dose, atentando

para história de hipersensibilidade ou prévias

manifestações indesejáveis.

Reações adversas podem estar associadas a

características específicas dos pacientes, e estes,

por desconhecê-las, podem estar expostos a riscos

maiores. Paralelamente, como efeitos indesejáveis

podem advir de fatores ambientais ou de interações

medicamentosas, automedicação responsável e

cuidados básicos de saúde são temas a serem

enfatizados junto aos pacientes. A educação dos

pacientes sobre sua terapia farmacológica pode

auxiliar na prevenção ou minimização de reações

adversas. Esta iniciativa pode ser dispendiosa,

porém compensada pela economia obtida em longo

prazo com a redução de efeitos adversos,

morbidade e, até mesmo mortalidade.

Dependendo do mecanismo envolvido e

gravidade, o tratamento de RAM envolve 3:

1. Manejo das manifestações provocadas pelo

medicamento;

2. Redução de dose;

3. Aumento de intervalo de administração;

4. Suspensão da administração, de forma

temporária ou definitiva;

5. Administração de outros medicamentos ou

instituição de medidas terapêuticas que

reduzam ou anulem os efeitos adversos,

como antagonistas específicos ou antídotos,

agentes capazes de acelerar a eliminação

do medicamento, hemodiálise ou diálise

peritoneal;

6. Estabelecimento de medidas gerais de

suporte, como manutenção de vias aéreas e

de parâmetros cardiovasculares, correção

de distúrbios eletrolíticos ou ácido-básicos.

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Formulário de Notificação de Suspeita de Reações Adversas a Medicamentos:

No Brasil, o Formulário de Notificação de Suspeita de Reações Adversas a Medicamentos pode ser

obtido na página eletrônica da ANVISA 16. É importante ressaltar que os caminhos para acesso ao sistema da

NOTIVISA e modelos de formulários utilizados pela ANVISA podem sofrer alterações. O centro nacional de

monitoração preserva a confidencialidade dos dados do paciente e do profissional de saúde (notificador).

1. Acesso ao Formulário para quem não possui cadastro prévio:

- Acessar http://www.anvisa.gov.br;

- Clicar NOTIVISA (ícone à esquerda da tela);

- Acessar Cadastro:

- Localizar Profissionais da Saúde / Clicar Acesso ao Cadastro;

- Preencher e enviar o cadastro:

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- Informar e-mail e senha, e Acessar;

- Clicar Notificar (ícone à esquerda na tela): após identificar Produto Motivo da Notificação,

responder Sim em Houve dano à saúde? - Avançar:

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- Preencher o restante dos campos, e Enviar:

2. Acesso ao Formulário para quem já possui cadastro prévio:

- Acessar http://www.anvisa.gov.br;

- Clicar NOTIVISA (ícone à esquerda da tela);

- Clicar Acesso ao Sistema (canto superior direito na tela);

- Informar e-mail e senha, e Acessar;

- Clicar Notificar (ícone à esquerda na tela): após identificar Produto Motivo da Notificação,

responder Sim em Houve dano à saúde? – Avançar;

- Preencher o restante dos campos, e Enviar.

É possível também notificar desvios de qualidade de medicamentos e de outras categorias de produtos

passíveis de registro na ANVISA, preenchendo o Formulário de Queixa Técnica de Medicamentos 16.

Para localizá-lo, seguir os passos descritos anteriormente até:

- Clicar Notificar (ícone à esquerda na tela): após identificar Produto Motivo da Notificação,

responder Não em Houve dano à saúde? – Avançar;

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- Preencher o restante dos campos, e Enviar:

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15. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacovigilância. Disponível em: http://anvisa.gov.br/farmacovigilancia/

erro/definicao.htm. Acesso em: 22 ago. 2008.

16. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos: consulta a bancos dados. Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br . Acesso em: 22 ago. 2008.

Elaborado por: acadêmico de Farmácia Ramon Vinícius Formighieri, Farm. Maria Isabel Fischer e Alexandre A.T. Sartori. Revisado por: Professora Isabela Heineck (FAC FAR UFRGS).