razões do recurso especial

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  • 8/16/2019 Razões Do Recurso Especial

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    PROCURADORIA DE JUSTIÇA DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

    Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente da Seção de

    Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo.

    Recurso Especial no Agravo de Instrumento nº 420.250.5/1-00

    Décima Primeira Câmara da Seção de Direito Público

      OMinistério Público do Estado de São Paulo,

    pela Procuradoria de Justiça de Interesses Difusos e Coletivos, nos

    autos do Agravo de Instrumento no 420.250.5/1-00, não se

    conformando com o acórdão de fls. 107/114 proferido pela

    Colenda Décima Primeira Câmara da Seção de Direito Público

    deste Egrégio Tribunal de Justiça, que proveu o recurso interposto

    por Waldemar Bauab, vem, respeitosamente, à presença de Vossa

    Excelência, com fundamento artigo 105, inciso III, alínea “a”, da

    Constituição Federal, interpor o presenteRecurso Especialao

    Colendo Superior Tribunal de Justiça, ao fundamento de que a

    decisão contrariou o disposto nos artigos 535, inciso II, do Código

    de Processo Civil, e 5º da Lei Federal no 8.429/92.

      Requer seja o mesmo admitido e processado com

    as razões inclusas, com provimento do pedido.

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    São Paulo, 8 de setembro de 2006.

    Nilo Spinola Salgado FilhoPromotor de Justiça Convocado em Segundo Grau

    Recurso Especial no Agravo de Instrumento nº 420.250.5/1-00

    Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

    Recorrido: Waldemar Bauab

    Razões de Recurso Especial

    1 - A hipótese em exame

    EMINENTE  DESEMBARGADOR  PRESIDENTE  DO

     TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE S ÃO P AULO,

    EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,

    COLENDA TURMA JULGADORA,

    DOUTA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA:

    1 - A hipótese em exame

      O Ministério Público do Estado de São Paulo,

    provocado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região,

    legitimado pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal,

    artigo 25, inciso IV, letra “b”, da Lei Federal no 8.625/93, e artigo

    5º, “caput”, da Lei Federal no 7.347/85, e com fundamento no

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    artigo 37, inciso II, e § 2º, do mesmo dispositivo constitucional,

    ajuizou em face de Waldemar Bauab ação civil visando sua

    responsabilização por danos causados ao erário decorrentes da

    contratação de servidores sem concurso público, conforme

    discriminado na petição inicial.

    Realizado o procedimento preliminar instituídopela Medida Provisória nº 2.225- 45, de 4 de setembro de 2001,

    que acrescentou os §§ 7º a 10 ao artigo 17 da Lei Federal no

    8.429/92, o MM. juiz de primeiro grau recebeu a petição inicial

    determinando a citação do réu Waldemar Bauab, que, irresignado,

    interpôs agravo de instrumento com fundamento no § 10 do artigo

    citado, provido pela Décima Primeira Câmara de Direito Público do

     Tribunal de Justiça por meio do acórdão assim ementado:

    “Agravo de Instrumento.

    Processual civil. Ação de Improbidade

    administrativa (artigo 84, §2, do !PP, com a

    redação dada pela "ei no #$.%28&2$(#2'.

    A competncia para processar a ação em

    desta)ue *, originariamente, do +u-o deprimeiro grau de urisdição, ante a interpretação

    sistem/tica do ple0o normativo.

    Prescrição da ação na 1orma do artigo 2 da "ei

    n. 8.423&32.

    /5se provimento ao recurso.6

    O v. acórdão reconheceu a prescrição da ação

    pelos seguintes fundamentos:

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    “a prescrição.

    7 1ato enseador da ação civil, como

    antes observado, constitui in thesis,

    improbidade administrativa ("ei 8.423&32'.

    A lei de regncia da ação civil de

    improbidade administrativa não se con1unde a

    ação civil pblica, )ue ostenta 1oco certo de

    atuação, na 1orma da legis#aço original e dainovação do !9digo de e1esa do !onsumidor,

    com a ação, de nature-a civil, de improbidade

    administrativa, )ue, a seu turno, igualmente

    possui incidncia tpica prevista nos artigos

    3, #$ e ##, da lei pr9pria disp:e,

    e0pressamente sobre o pra-o prescricional (!1.

    artigo 2, inciso #', para os ocupantes de

    cargos eleitos e comissionados, assinando opra-o de cinco anos a contar do t*rmino do

    e0erccio do mandato ou d.o cargo em

    comissão ou de 1unção de con;ança, o )ue

    não * a1etado pela ressalva contida no

    par/gra1o ederal? “A lei estabelecerá os prazos de

    prescrição para ilícitos praticados por

    qualquer agente, servidor ou não, quecausem prejuízos ao erário, ressalvadas

    as respectivas ações de ressarcimento.”

    @m primeiro plano, cumpre recordar )ue

    o treco suso transcrito da Be0ta !arta

    Cepublicana * a)uele original da promulgação

    de $< de outubro de #.388, pelo )ue, at*

    então, não so1reu inovação por nenuma

    emenda constitucional, o )ue * de relevo,

    inclusive, para melor compreensão.

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    Ao tempo da. promulgação da ltima

    !onstituição Cepublicana a denominada

    improbidade administrativa era tratada,

    apenas e tão5somente, pela "ei Dilac Pinto,

    cuo campo de atuação, como not9rio, era

    restrito, possibilitando o ingresso no universo

     urdico de legislação mais moderna e com

    visão larga acerca da improbidade

    administrativa, cua motivação )uiç/ tena

    berço na veri;cação da multiplicidade dos atos

    danosos E Administração Pblica sob todos os

    aspectos.

    Fesse diapasão, a "ei de Improbidade

    Administrativa cumprindo o preceito

    constitucional assinou o pra-o de prescrição

    espec;co para os tipos nela de;nidos,marcando o lustro como tempo ra-o/vel de

    conduta positiva de reprimenda.

    esta !orma, proposta a ação de

    improbidade administrativa não pode ser

    seguido prazo prescricional outro, que

    não aquele inserto no artigo "#, não se

    podendo alegar imprescritibilidade no

    que toca ao ressarcimento do dano aoerário, com base na ressalva

    constitucional. (original não ressaltado'

    $om e!eito, o ressarcimento do dano

    da %ei de &mprobidade encontra'se

    intimamente ligado, inclusive

    quantitativamente e qualitativamente

    aos tipos da lei, em con!ormidade com o

    artigo (", não se tratando, portanto, de

    simples reparação de dano que, !oi

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    ressalvada pelo legislador “constituinte”

    ) não !oi convocada Assembl*ia

    $onstituinte, mas trans!ormando o poder

    derivado em poder originário por ato do

    +ecutivo, o que de maneira ideal, !ere o

    -el retrato da constituinte, mantendo

    apenas !ormal moldura se reporta aos

    prazos prescricionais do $digo $ivil, que

     já tratava em (./(0 do instituto etintivo

    do direito de ação para aquela do naipe

    comum do ressarcimento, de tal arte que

    para ação de reparação de dano 1á prazo

    prescricional, na !orma da legislação

    civil, não 1avendo nen1um motivo lgico

    para asseverar a imprescritibilidade.

    (original não ressaltado'$ontudo, de toda !orma, a ação

    proposta não * singela de ressarcimento,

    tanto que o 2romotor de 3ustiça

    4-ciante, subscritor da petição inicial

    postula, epressamente, a condenação

    do agravante nas sanções do artigo (",

    inciso &&, da %ei n. 5.6"/7/", ante a

    perpetração de atos de improbidade quese subsume ao artigo (8, caput  e inciso

    &9 da lei de reg:ncia., a;orando, daí, a

    condenação de ressarcimento, imposta

    pelo artigo (". (original não ressaltado'

    Por oportuno, deve ser sublinado o 1ato

    de )ue o ressarcimento de dano pela "ei de

    improbidade Administrativa * mero

    consect/rio da observação de incidncia do

    tipo ao facere  ou non facere do agente, não

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    avendo previsão legal de possibilidade de

    rompimento de liame entre um e outro e,

    muito menos, de aplicação da prescrição para

    algumas das penas previstas, )uando a lei não

    prev e, nem tampouco, a norma

    constitucional autori-a tal entendimento, em

    especial pelo 1ato de )ue o par/gra1o

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    natureza sancionatória, esta sim alcançada pela prescrição

    qüinqüenal estabelecida pela Lei de Improbidade Administrativa

    (art. 23, inc. I).

      Os embargos não foram acolhidos ao

    entendimento de que revestidos de “Verdadeiro pedido de novo

    exame da matéria de fundo”, e de que “O julgado, demais, não

    precisa observar todos os argumentos, nem tampouco responder a

    todas as questões” (fls. 134).

    2 - Cabimento do Recurso Especial

      Nenhum obstáculo impede a admissão deste

    recurso. O reclamo está sendo interposto em tempo hábil, valendo

    lembrar que o recorrente tem a seu favor a regra do artigo 188 do

    Código de Processo Civil.

      A par disso, evidente se mostra o interesse em

    recorrer do Ministério Público pelo desacolhimento de sua

    pretensão e pela manifesta afronta ao artigo 535, inciso II, do

    Código de Processo Civil, e do artigo 5º da Lei Federal no 8.429/92.

      Superados os requisitos subjetivos e objetivos

    acima delineados, cuida-se agora de se desenvolver melhor o

    pressuposto relativo ao cabimento.

      O v.acórdão recorrido, ao prover o agravo de

    instrumento interposto por Waldemar Bauab e negar acolhida aos

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    embargos declaratórios, aplicando no caso concreto o teor do

    artigo 23, inciso I, da Lei Federal no 8.429/92, não se pronunciou

    sobre a autonomia da ação de ressarcimento do patrimônio

    público e, se o fez, implicitamente, negou vigência ao disposto no

    artigo 5º, da Lei Federal no 8.429/92.

      O recorrente procurou de todos os meiosprequestionar o tema, debatendo-a na petição de recurso, no

    parecer de segunda instância e nos Embargos de Declaração,

    ensejando a apreciação das questões atinentes às normas federais

    pela Colenda Câmara Julgadora. Com isso, o prequestionamento

    está caracterizado, como já afirmado.

      Nesse contexto, o recurso encontra perfeita

    adequação ao disposto no artigo 105, inc. III, alínea “a” da

    Constituição Federal, que diz competir ao Superior Tribunal de

     Justiça o julgamento, mediante recurso especial, julgar, em

    recurso especial, as causas decididas, em única ou última

    instância, pelos tribunais dos Estados quando a decisão recorrida

    contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência.

    3 -  A contrariedade e negativa de vigência do art. 535, II, do

    Código de Processo Civil

      No tocante à apontada violação do art. 535, II,

    do Código de Processo Civil, o Ministério Público almeja a

    anulação total do acórdão para que outro seja proferido para que

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    o Tribunal decida sobre a autonomia e adequação da ação civil

    pública destinada ao ressarcimento dos danos causados ao

    patrimônio público.

      Conforme previsto no artigo 535 do Código de

    Processo Civil, os embargos de declaração têm como objetivo

    sanear eventual obscuridade, contradição ou omissão existente nadecisão recorrida, ocorrendo omissão quando o Tribunal não se

    pronuncia de forma clara sobre a questão posta nos autos.

      O julgado atacado foi omisso no que concerne à

    autonomia da ação civil destinada ao ressarcimento, cuja natureza

     jurídica não é a de sanção e como tal sujeito ao qüinqüídio

    prescricional estabelecido no artigo 23, inciso I, da Lei Federal no

    8.429/92.

      Os embargos declaratórios não veicularam

    pedido de novo exame da matéria de fundo, mas aclarar as

    omissões apontadas.

     A afirmação segundo a qual o julgado não

    precisa observar todos os argumentos expendidos pelas partes,

    tampouco responder a todas as questões suscitadas não pode

    servir de fundamento para a rejeição de todos e quaisquer

    embargos, pois o juiz tem sim o dever de analisar - e se entender

    afastar - os argumentos que por si se contraponham ao seu

    convencimento.

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      Neste caso, pediu-se o aclaramento da decisão

    por conta do entendimento de que a prescrição estabelecida pelo

    artigo 23, inciso I, da Lei Federal no 8.429/92, não alcança o

    ressarcimento do dano, seja porque este não se constitui sanção,

    mas dever geral imposto a quem agindo contra o direito causa

    danos a outrem, seja porque a Lei de Improbidade Administrativa

    possibilita o ajuizamento de ação autônoma para este fim em seu

    artigo 5o.

      Esse dispositivo, portanto, foi objeto de decisão

    no acórdão hostilizado e apesar de interpostos embargos de

    declaração pelo recorrente com vistas à manifestação do Colegiado

    a quo a respeito, remanesceu a omissão.

      Os embargos de declaração, nos seus rígidos

    contornos processuais, consoante disciplinado pelo artigo 535, do

    Código de Processo Civil, exigiam acolhimento posto que atendiam

    aos seus pressupostos legais de cabimento.

    O E. Tribunal de Justiça, examinando osembargos de declaração, esquivou-se de enfrentar às questões

    levantadas na fase recursal, e essa persistência na omissão ofende

    a regra processual insculpida no artigo 535, inciso II, do Código de

    Processo Civil, segundo o qual “Cabem embargos de declaração

    quando for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz

    ou tribunal”, de modo a autorizar o Recurso Especial, conforme

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    precedente deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça neste

    sentido:

    “PC7!@BB7 !IGI" @ AHIFIBCAIG7. AJK7

    P7PL"AC. @HPCMBIH7B DAF!NCI7B. !7F@FAJK7

    !7FI!I7FA". B@F@FJA. GI7"AJK7 A7 AC.

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    autos, assim como E parte ter analisado os 1atos

    postos ao e0ame do Poder +udici/rio.

    . !aracteri-ação de omissão no ulgamento do

    v. decisum a quo.

    4. Cecurso provido, por violação ao art.

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    1undamentação os pontos obetivamente postos

    pelos embargos de declaração, sendo

    insu;ciente a a;rmação gen*rica sobre a

    ausncia de omissão (C@sp n %#.8

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    8.429/92, como também do artigo 37, inciso II, Constituição

    Federal.

      O ato ímprobo não perde este atributo pela

    declaração da prescrição com fundamento no art. 23 da lei

    8.429/92, pois continuará a ser ilícito e assim gerar o dever de

    reparação por quem o praticou.

      Nesses termos, diferentemente do que afirma o

    acórdão, uma vez identificada a causa jurídica da ilegalidade do

    ato, existe o dever de reparação o dano, que não pode ser

    considerado apenas como mais uma das sanções previstas na lei

    8.429/92, de modo a permitir, inclusive, a indefensável

    interpretação segundo a qual “essa sanção” poderia deixar de ser

    aplicada ao ato reconhecido como ímprobo nos termos da lei

    8.429/92.

      A verdade é que a reparação do patrimônio

    público lesado é um dever, é indisponível, e não apenas uma das

    sanções estabelecidas na lei 8.429/92.

      Nesse sentido, é preciso reconhecer que a Lei

    Federal no 8.429/92 estabelece dois instrumentos hábeis à

    recomposição do patrimônio lesado. O primeiro decorrente da

    conjugação dos arts. 5º e 18 que refletem a regra geral segundo a

    qual aquele que causar lesão ao patrimônio das entidades

    mencionadas no art. 1º da Lei, tem o dever de indenizar:

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    “Art.

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      Com efeito. Ao exigir o uso da via adequada

    como pressuposto para o reconhecimento do interesse processual,

    e assim atender uma das condições de existência da ação, o direito

    processual objetiva assegurar, acima de tudo, segurança jurídica e

    a integridade do direito substancial.

      Pois bem. Uma vez descritos na petição inicial osfatos ilícitos que comprometam a moralidade administrativa e que

    este comprometimento resulte em lesão ao patrimônio público, que

    pode decorrer da própria imoralidade, o direito (ordem exterior) não

    pode ser negado e o instrumento da sua afirmação deverá ser a Lei

    Federal no 8.429/92 se os fatos a ela se subsumirem,caso

    contrário à Lei Federal n

    o

     7.347/85 ou mesmo a ação deresponsabilidade por ato ilícito fundada no Código Civil,com base

    na Constituição Federal,que no artigo 37, § 2º, expressamente

    dispõe que “ A não observância do disposto nos incisos II e III

    implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade

    responsável, nos termos da lei”.

       A adequação da ação civil pública baseada na

    Lei Federal no 7.347/85 é reconhecida por este E. Superior

     Tribunal de Justiça, conforme o seguinte precedente:

    “PC7!@BBLA" !IGI" @ AHIFIBCAIG7. AJK7 !IGI"

    P^D"I!A. IHPC7DIA@ AHIFIBCAIGA.

    A@YLAJK7. C@!LCB7 @BP@!IA" PAC!IA"H@F@!7FU@!I7 @, F@BBA PAC@, @BPC7GI7.

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    (...'4. 7 entendimento maorit/rio da doutrina e da

     urisprudncia admite a

    ade)uação\compatibilidade do aui-amento de

    ação civil pblica ("ei =.4=\8

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    açes de responsabilidade por danos causados8a qualquer outro interesse difuso ou coletivo8#

     =plicam-se, portanto, as normas da !ei n;

    #$%

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    ressarcimento de 2%$ (du-entos e sessenta'sacos de cimento, al*m da cominação das

    penas de suspensão de direitos polticos e

    proibição de contratar com o Poder Pblico ou

    de receber bene1cios ou incentivos ;scais ou

    creditcios pelo pra-o de cinco anos. Interposta

    apelação pelo e05pre1eito, o +HO deu5le

    parcial provimento por entender )ue aspenalidades por atos de improbidade

    administrativa ão de ser aplicadas levando5se

    em conta a gravidade do ato punvel e a

    amplitude de seus e1eitos danosos, devendo ser

    mantida apenas a obrigatoriedade do

    reembolso. Cecurso especial do Hinist*rio

    Pblico de Hinas Oerais alegando violação doart. #2 da "ei n 8.423\32, em ra-ão da

    proibição de aplicação isolada da obrigação de

    ressarcimento do dano pelo citado dispositivo,

    pois al*m de ressarcir o dano, o administrador

    mprobo deve ser punido pela conduta

    desonesta. !ontra5ra-:es sustentando a

    necessidade de aplicação do princpio daproporcionalidade nas sanç:es previstas na "ei

    de Improbidade. Parecer do Hinist*rio Pblico

    >ederal pelo provimento do apelo.

    2. Fão se vislumbra nenuma ilegalidade no

    1ato de o recorrido, e05pre1eito, ser compelido a

    ressarcir o preu-o econ[mico )ue causou ao

    Hunicpio de Iaci\HO, do )ual, note5se, era oce1e do Poder @0ecutivo, al*m de receber

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    sanç:es de direito de nature-a pessoal, taiscomo a suspensão dos direitos polticos e as

    restriç:es no relacionamento com o Poder

    Pblico, medidas )ue o artigo #2, I, da "ei

    8.423\32, com clare-a, autori-a serem

    aplicadas.

    . Cecurso especial conecido e provido para o

    e1eito de )ue seam impostas ao recorrido as

    sanç:es de suspensão dos direitos polticos pelo

    pra-o de cinco anos, a partir do trnsito em

     ulgado, bem como a proibição de contratar

    com o Poder Pblico ou de receber bene1cios ou

    incentivos ;scais ou creditcios, direta ou

    indiretamente, ainda )ue por interm*dio de

    pessoa urdica da )ual sea s9cio maorit/rio,

    al*m da obrigação de ressarcir ao @r/rio o

    preu-o de 2%$ (du-entos e sessenta' sacos de

    cimento, consoante o disposto Es s. da

    sentença.

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      Isso porque há que se reconhecer a

    imprescritibilidade das ações voltadas ao ressarcimento do

    patrimônio público, à luz do disposto no artigo 37, § 5º, da

    Constituição Federal, segundo o qual “a lei estabelecerá os prazos

    de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor

    ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as

    respectivas ações de ressarcimento”.

      Nesse sentido a doutrina é unânime:

      Para Pinto Ferreira, “as ações de ressarcimento

    ou as ações de responsabilidade civil, contudo, são imprescritíveis.

    Não se submetem ao disposto no artigo 177 do Código Civil,

    determinando que as ações pessoais prescrevem em vinte anos e

    as ações reais em dez anos. Não ocorrendo prescrição, o direito do

    Estado é permanente para reaver o que lhe for ilicitamente

    subtraído”1.

      Ao analisar o dispositivo constitucional em

    comento, Manoel Gonçalves Ferreira Filho assevera o seguinte:

    “Prescrição. Parecem deduzir-se duas regras deste texto mal

    redigido. Uma, concernente à sanção pelo ilícito; outra, à

    reparação do prejuízo. Quanto ao primeiro aspecto, a norma

    “chove no molhado”: prevê que a lei fixe os respectivos prazos

    prescricionais. Quanto ao segundo, estabelece-se de forma

    1 Comentários à Constituição Brasileira. Ed. Saraiva, vol. II, p. 396 .

    23

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    tangente a imprescritibilidade das ações visando ao ressarcimento

    dos prejuízos causados”2.

      É a mesma posição de Celso Bastos ao referir-se

    ao artigo 37, § 5º, da Constituição Federal: “Este parágrafo é

    suscetível de abordagem sob três óticas diferentes no que respeita

    à responsabilidade: a penal, a funcional e a civil. Com relação àsduas primeiras, a Constituição quer deixa claro que é a lei que

    fixará os prazos prescricionais dos ilícitos praticados pelos

    agentes, que o Texto não estabelece explicitamente, mas que se

    dessumem serem públicos, não importa de que categoria: se

    servidor, se contratado ou até mesmo político. Todos estão sujeitos

    aos prazos, tanto penais quanto administrativos, que a lei

    determinar pelos ilícitos que causarem prejuízo ao erário. Note-se

    que no caso de atentado ao direito penal a competência normativa

    será exclusivamente da União. Já se de infração administrativa se

    cuidar, a lei poderá ser tanto federal quanto estadual ou

    municipal, visto que cuida ela de matéria de natureza

    administrativa. No que tange aos danos civis, o propósito do Texto

    é de tornar imprescritíveis as ações visando ao ressarcimento do

    dano causado. É de lamentar-se a posição do constituinte por essa

    exceção à regra da prescritibilidade, que é sempre encontrável

    relativamente ao exercício de todos os direitos”3.

      Para José Afonso da Silva: “A prescritibilidade,

    como forma de perda da exigibilidade de direito, pela inércia de2 Comentários à Constituição Brasileira de 1988 . São Paulo: Saraiva, v. I, p. 260.3 Comentários à Constituição do Brasil , São Paulo: Saraiva, v. 3, t. III, p. 167.

    24

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    seu titular, é um princípio geral de direito. Não será, pois, de

    estranhar que ocorram prescrições administrativas, sob vários

    aspectos, quer quanto às pretensões de interessados em face da

     Administração, quer quanto à desta em face de administrados.

     Assim é especialmente em relação aos ilícitos administrativos. Se a

    administração não toma providência à sua apuração e à

    responsabilização do agente, a sua inércia gera a perda do seu “ius

     persequendi”. É o princípio que consta do artigo 37, § 5º, que

    dispõe: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos

    praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem

    prejuízo ao erário, ressalvadas as respectivas ações de

    ressarcimento. Vê-se, porém, que há uma ressalva ao princípio.

    Nem tudo prescreverá. Apenas a apuração e punição do ilícito,não, porém, o direito da Administração ao ressarcimento, à

    indenização do prejuízo causado ao erário. É uma ressalva

    constitucional e, pois, inafastável, mas, por certo, destoante dos

    princípios jurídicos, que não socorrem quem fica inerte

    (dormientibus non sucurrit ius). Deu-se assim à Administração

    inerte o prêmio da imprescritibilidade na hipótese considerada”4.

    Nesse mesmo sentido Celso Antonio Bandeira de

    Mello5e Maria Sylvia Zanella Di Pietro6.

    Este Superior Tribunal de Justiça já decidiu que

    “É imprescritível a Ação Civil Pública visando a recomposição do

    4 Curso de Direito Constitucional . 9ª ed., Malheiro, p. !74.! Curso de Direito Administrativo. Malheiros. 18ª ed., 2005, p. 299.

    6  Direito Administrativo, 1"ª ed., #tla, p. 734.

    25

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    patrimônio público (artigo 37, § 5º, CF⁄88)”7, existindo precedentes

    no sentido de que a falta de regulamentação do dispositivo

    constitucional conduz a que se reconheça o prazo prescricional

    estabelecido para as ações de cunho pessoal:

    “PC7!@BB7 !IGI". AOCAG7 C@OIH@FA".

    C@!LCB7 @BP@!IA". GI7"AJK7 7 AC.

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    instituto da prescrição V art. 2, inciso I, da "ei

    n. 8.423\32 V melor sorte não assiste ao

    recorrente, pois ;lio5me E e0egese adotada no

    voto5vista do aresto impugnado no sentido de

    )ue o disposto no mencionado dispositivo V

    prescrição )in)enal V regulamentou

    especi;camente a primeira parte do § ederal? Xa lei estabelecer/os pra-os de prescrição para ilcitos praticados

    por )ual)uer agente, servidor ou não, )ue

    causem preu-os ao er/rioX, ou sea, Xde;ne os

    ilcitos praticados por agentes pblicos e trata

    dos respectivos pra-os prescricionaisX (. #$8'.

    estarte, por carecer de regulamentação

    a segunda parte do § rancisco

    >alcão, in verbis?

    XAHIFIBCAIG7 @ PC7!@BBLA" !IGI".C@!LCB7 @BP@!IA". AJK7 !IGI" P^D"I!A.

    AF7 A7 @CNCI7 P^D"I!7. HIFIBMCI7

    P^D"I!7. "@OIIHIA@. PCA]7

    PC@B!CI!I7FA" GIF@FNCI7. AC. #==, 7

    !!D. C@OCA O@CA". >A"A @ IFI!AJK7 7B

    IBP7BIIG7B GI7"A7B. B^HL"A F 284\B>.

    IG@CO`F!IA FK7 !7F>IOLCAA. C@@SAH@

    @ PC7GAB. B^HL"A $=\B+.

    27

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    I 5 M pac;co o entendimento desta !orte

    no sentido de ser o Hinist*rio Pblico

    legtimo para propor ação civil pblica na

    ip9tese de dano ao @r/rio.

    II 5 Fa ação civil pblica aplica5se o pra-o

    prescricional vinten/rio do art. #==, do

    !9digo !ivil, como regra geral, devido E

    1alta de lei )ue regule a mat*ria, não sendocaso de incidncia dos pra-os trienal ou

    )in)enal, por incompatibilidade dos

    dispositivos )ue os prevem.

    III 5 M de;ciente a 1undamentação do

    recurso especial no )ual não / a indicação

    dos dispositivos legais tidos como violados.

    Bmula n 284\B>.

    IG 5 M inadmissvel o apelo especial

    mani1estado pela alnea XcX do permissivo

    constitucional )ue dei0a de demonstrar a

    e0istncia de suposta divergncia

     urisprudencial, nos moldes estabelecidos

    pelo art. 2

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    @BA7. @B!7FBILIJK7 APTB 7 CFBI7

    @H +L"OA7. P7BBIDI"IA@. !7IBA +L"OAA

    >7CHA".

    5 A sentença )ue omologa transação

    reali-ada entre o @stado e o particular, com

    o obetivo de abreviar li)uidação de

    sentença, não 1a- coisa ulgada material,

    podendo ser desconstituda por açãodiversa da )ue 1oi e0tinta.

    5 A pretensão intentada pelo @stado,

    atrav*s de ação civil pblica, obetivando a

    anulação de transação de car/ter

    eminentemente privado, tem a incidncia

    do art. #==, caput, do !9digo !ivil,

    sobrevindo prescrição vinten/ria, ao

    contr/rio da pretendida prescrição

    )in)enal.

    5 Cecurso especial improvidoX (C@sp n.

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    patrimônio público pelo recorrido, prosseguindo-se a ação nesse

    sentido.

    São Paulo, 8 de setembro de 2006.

    Nilo Spinola Salgado Filho

    Promotor de Justiça Convocado em Segundo Grau

    RECURSO ESPECIAL Nº 1.090.530 - SP (2008/0204807-0)

    RELATOR: MINISTRO HUMBERTO MARTINS

    RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO

    PAULO

    RECORRIDO : WALDEMAR BAUAB ADVOGADO: LILIA DE PIERI E OUTRO(S)

     ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – IMPROBIDADE

     ADMINISTRATIVA – RESSARCIMENTO DE DANOS – ALEGAÇÃO

    DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC – AUSÊNCIA DE OMISSÃO,

    OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO – DIVERGÊNCIA

     JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA, POR AUSÊNCIA DE

    COTEJO ANALÍTICO – PRESCRIÇÃO – ART. 23, INCISO I, DA LEI

    N. 8.429/92 – INAPLICABILIDADE – PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA –

     ART. 177 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 – RECURSO ESPECIAL

    CONHECIDO EM PARTE E PROVIDO.

    DECISÃO

     Vistos.

    30

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    Cuida-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO

    PÚBLICO DO ESTADO DESÃO PAULO, com fundamento no art.

    105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal de 1988,

    em face de acórdão do Tribunal de Justiça daquele Estado (fls.

    108/118) assim ementado:

    "Agravo de Instrumento. Processual Civil. Ação deimprobidade

    administrativa (art. 84, § 2º, do CPP, com a redação dada pela Lei

    n. 10.628/2002). A competência para processar e julgar a ação em

    destaque é, originariamente, do Juízo de primeiro grau de

     jurisdição, ante a interpretação sistemática do plexo normativo.

    Prescrição da ação na forma do artigo 23 da Lei n. 8.429/92. Dá-

    se provimento ao recurso."

    Opostos embargos de declaração, o Tribunal a quo rejeitou-os (fls.

    134/137).

    O recorrente alega, preliminarmente, violação do art. 535, inciso

    II, do Código de Processo Civil, e, no mérito, violação do art. 5º da

    Lei n. 8.429/92, sustentando a tese de que o disposto no art. 23

    do mesmo diploma legal não se refere ao dever de indenizar, não

    estando prescrita, portanto, ação civil pública ajuizada. Nestemesmo sentido, alega a existência de divergência jurisprudencial

    entre o acórdão hostilizado e diversos julgados desta Corte

    Superior.

     Juízo de admissibilidade negativo da instância de origem (fls.

    172/173).

    31

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    Este Relator houve por bem dar provimento ao agravo de

    instrumento, para determinar a subida do presente recurso

    especial.

    É, na essência, o relatório.

    O recurso não merece ser conhecido pela violação do art. 535 do

    Código de Processo Civil.

    Ipso facto, inexistente a alegada violação do art. 535 do CPC, pois

    a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão

    deduzida, conforme se depreende da análise do acórdão recorrido.

    Na verdade, a questão não foi decidida conforme objetivava a parte

    embargante, ora recorrente, uma vez que foi aplicado

    entendimento diverso. É cediço, no STJ, que o juiz não fica

    obrigado a se manifestar sobre todas as alegações das partes, nema ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um

    a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo

    suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu.

    Ressalte-se, ainda, que cabe ao magistrado decidir a questão de

    acordo com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos,

    provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da

    legislação que entender aplicável ao caso concreto.

    Nessa linha de raciocínio, confira-se o disposto no art. 131 do

    Código de Processo Civil:

     Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos

    fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não

    alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os

    motivos que lhe formaram o convencimento.

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    Em suma, nos termos de jurisprudência pacífica do STJ, "o

    magistrado não é obrigado a responder todas as alegações das

    partes se já tiver encontrado motivo suficiente para fundamentar a

    decisão, nem é obrigado a ater-se aos fundamentos por elas

    indicados" (REsp 684.311/RS, Rel. Ministro Castro Meira,

    Segunda Turma, julgado em 4.4.2006, DJ 18.4.2006, p. 191),

    como ocorreu na hipótese ora em apreço.

    Nesse sentido, confiram-se, ainda, os precedentes:

     TRIBUTÁRIO – COFINS – SOCIEDADES CIVIS DE PRESTAÇÃO DE

    SERVIÇOS PROFISSIONAIS – ISENÇÃO – MUDANÇA DE

    ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL NÃO FUNDAMENTA

    EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AUSÊNCIA DE OMISSÃO,OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO.

    1. A oposição de embargos declaratórios se faz apropriada quando

    o pronunciamento judicial padecer de ambigüidade, de

    obscuridade, de contradição ou de omissão, os quais inexistem

    neste caso. Em contrapartida, sabe-se que o tribunal não está

    compelido a manifestar-se sobre todas as questões suscitadas pela

    parte, principalmente se o acórdão contém adequado fundamento

    para justificar a conclusão perfilhada.

    2. Nítido é o caráter modificativo que a embargante, inconformada,

     busca com a oposição dos embargos declaratórios, uma vez que

    pretende ver reexaminada e decidida a controvérsia de acordo com

    sua tese.

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    3. A mudança de entendimento jurisprudencial sobre a matéria

    não autoriza o manejo dos embargos de declaração com pretensão

    de efeitos infringentes. Esta inferência decorre do disposto no

    artigo 535, do Estatuto Processual Civil.

    Embargo de declaração rejeitados. (EDcl no AgRg no REsp

    456.674/RS, relatado por este Magistrado, Segunda Turma,

     julgado em 26.9.2006, DJ 10.10.2006, p. 291.)

    PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – IMPOSTO DE RENDA

    SOBRE VERBAS INDENIZATÓRIAS – REPETIÇÃO DE INDÉBITO –

    FORMA DE DEVOLUÇÃO – RETIFICAÇÃO DA DECLARAÇÃO

     ANUAL – DESVIRTUAMENTO DO PEDIDO: IMPOSSIBILIDADE.

    1. Inexiste violação do art. 535 do CPC se as teses suscitadas pelaparte são implicitamente rejeitadas no aresto impugnado,

    restando, portanto, prequestionadas.

    2. Aplica-se o teor da Súmula 211/STJ às teses não

    prequestionadas.

    3. Se na inicial é formulado pedido de repetição de indébito do

    imposto de renda, descabe ao Tribunal modificá-lo, determinandoa retificação da declaração anual e a compensação com o imposto

    de renda porventura devido.

    4. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte,

    parcialmente provido. (REsp 853.102/SC, Rel. Ministra Eliana

    Calmon, Segunda Turma, julgado em 19.9.2006, DJ 3.10.2006, p.

    201.)

    34

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     Tampouco pode ser conhecido o presente recurso pela alínea "c" do

    permissivo constitucional, pois a recorrente não realizou o

    necessário cotejo analítico, bem como não apresentou,

    adequadamente, o dissídio jurisprudencial, pois, apesar da

    transcrição de ementas, deixou de demonstrar as circunstâncias

    identificadoras da divergência entre o caso confrontado e os

    arestos paradigmas.

    Nesse sentido manifesta-se a doutrina:

    Não basta a mera indicação do repositório de jurisprudência ou a

    simples transcrição de excerto do acórdão paradigma. É

    necessário demonstrar analiticamente que os arestos divergiram

    na aplicação da lei em casos análogos, diante de fatos análogos.

     Apenas excepcionalmente tem sido dispensada a demonstraçãoanalítica da divergência, quando o dissídio ostenta-se notório.

    (CARNEIRO, Athos Gusmão, "Admissibilidade do Recurso

    Especial" in "Aspectos Polêmicos e Atuais dos Recursos Cíveis de

     Acordo com a Lei 9.756/98", coordenação de Teresa Arruda Alvim

     Wambier e Nelson Nery Júnior, 1ª edição, 2ª tiragem, Editora

    Revista dos Tribunais, 1999, p. 116.)

    No mais, merece ser conhecido o recurso, uma vez que

    devidamente prequestionada a matéria federal suscitada.

    No mérito, o recurso merece ser provido.

    O art. 23 da Lei n. 8.429/92 regula, tão-somente, a primeira parte

    do § 5º do art. 37 da Constituição Federal de 1988, referente à

    punição pelos atos ilícitos praticados por agentes públicos, leia-se,

    improbidade administrativa.

    35

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    Por seu turno, a segunda parte do aludido dispositivo

    constitucional, referente à cobrança dos prejuízos causados,

    carece de regulamentação, discutindo-se, inclusive, a possibilidade

     jurídica da imprescritibilidade da ação de cobrança, tendo em

     vista o princípio da segurança jurídica.

    No entanto, na falta de regulamentação específica acerca do prazo

    prescricional da ação de cobrança, deve-se aplicar à espécie a

    prescrição vintenária prevista no art. 177 do Código Civil de 1916,

     vigente à época dos fatos, não estando, portanto, prescrita tal

    ação, que pode ser instrumentalizada pela própria ação civil

    pública por ato deimprobidade administrativa, nos termos do

    seu art. 5º:

    "Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão,dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral

    ressarcimento do dano".

    Neste sentido é a jurisprudência da Segunda Turma desta Corte

    Superior:

     ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

    PRESCRIÇÃO.1. "A norma constante do art. 23 da Lei n. 8.429 regulamentou

    especificamente a primeira parte do § 5º do art. 37 da

    Constituição

    Federal. À segunda parte, que diz respeito às ações de

    ressarcimento ao erário, por carecer de regulamentação, aplica-se

    a prescrição vintenária preceituada no Código Civil (art. 177 do

    36

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    CC de 1916)"- REsp 601.961/MG, Rel. Min. João Otávio de

    Noronha, DJU de 21.08.07.

    2. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 993.527/SC, Rel.

    Min. Castro Meira, julgado em 19.8.2008, DJe 11.9.2008.)

     ADMINISTRATIVO.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DANO AO

    ERÁRIO. MULTA CIVIL. DANO MORAL. POSSIBILIDADE.

    PRESCRIÇÃO.

    1. Afastada a multa civil com fundamento no princípio da

    proporcionalidade, não cabe se alegar violação do artigo 12, II, da

    LIA por deficiência de fundamentação, sem que a tese tenha sido

    anteriormente suscitada. Ocorrência do óbice das Súmulas 7 e

    211/STJ.2. "A norma constante do art. 23 da Lei nº 8.429 regulamentou

    especificamente a primeira parte do § 5º do art. 37 da

    Constituição

    Federal. À segunda parte, que diz respeito às ações de

    ressarcimento ao erário, por carecer de regulamentação, aplica-se

    a prescrição vintenária preceituada no Código Civil (art. 177 do

    CC de 1916)" – REsp 601.961/MG, Rel. Min. João Otávio de

    Noronha, DJU de 21.08.07.

    3. Não há vedação legal ao entendimento de que cabem danos

    morais em ações que discutam improbidade administrativa seja

    pela frustração trazida pelo ato ímprobo na comunidade, seja pelo

    desprestígio efetivo causado à entidade pública que dificulte a ação

    estatal.

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    4. A aferição de tal dano deve ser feita no caso concreto com base

    em análise detida das provas dos autos que comprovem efetivo

    dano à coletividade, os quais ultrapassam a mera insatisfação com

    a atividadeadministrativa.

    5. Superado o tema da prescrição, devem os autos retornar à

    origem para julgamento do mérito da apelação referente ao

    recorrido Selmi José Rodrigues e quanto à ocorrência e

    mensuração de eventual dano moral causado por ato de

    improbidade administrativa.

    6. Recurso especial conhecido em parte e provido também em

    parte. (REsp 960.926/MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em

    18.3.2008, Dje 1.4.2008.)

    PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

    RESSARCIMENTO DE DANOS. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA.

    1. A norma constante do art. 23 da Lei n. 8.429 regulamentou

    especificamente a primeira parte do § 5º do art. 37 da

    Constituição

    Federal. À segunda parte, que diz respeito às ações deressarcimento ao erário, por carecer de regulamentação, aplica-se

    a prescrição vintenária preceituada no Código Civil (art. 177 do

    CC de 1916).

    2. Recurso especial provido. (REsp 601.961/MG, Rel. Min. João

    Otávio de Noronha, julgado em 7.8.2007, DJ 21.8.2007, p. 175.)

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  • 8/16/2019 Razões Do Recurso Especial

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    PROCURADORIA DE JUSTIÇA DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

    Portanto, à luz da legislação pertinente e da jurisprudência acima

    colacionada, a ação de ressarcimento dos danos eventualmente

    causados pelos supostos atos deimprobidade administrativa, se

    efetivamente comprovada a sua prática no bojo do processo, não

    está prescrita.

    Por outro lado, ainda que verificada a prática de ato qualificável

    como deimprobidade administrativa, em razão dos mesmos

    fundamentos apresentados até aqui, qualquer possibilidade de

    punição já está prescrita, como, aliás, reconhece o próprio Parquet

    no seu pedido de reforma da decisão vergastada.

     Ante o exposto, com fundamento no art. 557, caput e § 1º-A, do

    Código de Processo Civil, conheço em parte do recurso especial e

    lhe dou provimento, para afastar a prescrição da ação de

    ressarcimento dos eventuais danos causados ao erário pelos

    recorridos, através da prática dos atos de improbidade

    administrativa a eles imputados.

    Publique-se. Intimem-se.

    Brasília (DF), 24 de outubro de 2008.

    MINISTRO HUMBERTO MARTINS

    Relator