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Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.451 R$ 4,00 Fundador: Edmundo Bittencourt Fundado em 15 de junho de 1901 EDIÇÃO ESPECIAL DE FIM DE ANO 2020: o ano do Mr. Guedes Página 2 Página 2 Página 2 Página 4 2º Caderno - Páginas 26 e 27 Marilene Dabus, a moça do Flamengo, e suas memórias Alguns desafios do Brasil para o próximo ano O potencial do governador Wilson Witzel Proposta de Moro não tem nada de ação anticrime RUY CASTRO JOSÉ A. MIGUEL ARISTÓTELES DRUMMOND JÂNIO DE FREITAS RICARDO CRAVO ALBIN Lucio Rangel, o magnífico: 40 anos sem ele NINA KAUFFMANN A programação de fim de ano no Fasano Rio 2º Caderno - Página 25 Nicole Tamborindeguy Rocha fala sobre o significado do Natal LILIANA RODRIGUEZ 2º Caderno - Páginas 20 e 21 ANNA RAMALHO Ex-primeira-dama do estado sofre intervenção cirúrgica 2º Caderno - Páginas 14 e 15 Flamengo/Divulgação Página 6 Carlos Monteiro Nesta edição, o CORREIO DA MANHÃ publica um suplemento especial de fim de ano com a retrospectiva de 2019 e as perspectivas para o ano e a década que se iniciam nos vários segmentos da cultura. PERSPECTIVA 2020 RETROSPECTIVA 2019 2º CADERNO RIO.20 11. DESBUROCRATIZAÇÃO DO SETOR DE EVENTOS 12. REFORMA DO SAMBÓDROMO 13. REABERTURA DA NIEMEYER 14.REATIVAÇÃO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS 15. REABERTURA DO MIS 16. 70 ANOS DO MARACANÃ 17. EDITAL DO TREM BALA RIO-SÃO PAULO 18. FINAL DA LIBERTADORES NO MARACANÃ 19. REGULAMENTAÇÃO DO AIRBNB 20. INÍCIO DAS OBRAS DO AUTÓDROMO RAZÕES PARA ACREDITAR EM 2020 1. CAPITAL MUNDIAL DA ARQUITETURA 2. MAIS TURISTAS ESTRANGEIROS 3. LIBERAÇÃO DO JOGO 4. MAIS SEGURANÇA 5. NOVOS VOOS INTERNACIONAIS 6. REAQUECIMENTO DO MERCADO IMOBILIÁRIO 7. PRIVATIZAÇÃO DO SANTOS DUMONT 8. REVITALIZAÇÃO DO PORTO MARAVILHA 9. ELEIÇÕES MUNICIPAIS 10. CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CRIATIVA Página 8 Página 7 Dias difíceis na América Latina Temporada em vermelho e preto Chile, Venezuela, Argentina e Bolívia protagonizaram um ano turbulento. Crises econômicas e divergências políticas provocaram distúrbios de rua, mortos e feridos. O Uruguai, por sua vez, foi às urnas e deu forte guinada para a direita. Depois de dois vice-campeonatos brasileiros e seguidas eliminações na Libertadores, 2019 foi o ano perfeito para o Flamengo. Sob as bençãos do treinador português Jorge Jesus, o rubro-negro ganhou padrão de jogo digno de um au- têntico campeão. As taças foram só uma questão de tempo: cam- peão brasileiro, da América do Sul e finalista do Mundial de Clubes. Carlos Monteiro

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Page 1: RAZÕES PARA ACREDITAR EM 2020 · razÕes para acreditar em 2020 1. capital mundial da arquitetura 2. mais turistas estrangeiros 3. liberaÇÃo do jogo 4. mais seguranÇa 5. novos

Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.451 R$ 4,00

Fundador:Edmundo Bittencourt

Fundado em15 de junho de 1901

E D I Ç Ã O E S P E C I A L D E F I M D E A N O

2020: o ano do Mr. Guedes

Página 2

Página 2

Página 2

Página 4

2º Caderno - Páginas 26 e 27

Marilene Dabus, a moça do Flamengo, e suas memórias

Alguns desafios do Brasil para o próximo ano

O potencial do governador Wilson Witzel

Proposta de Moro não tem nada de ação anticrime

RUY CASTRO

JOSÉ A. MIGUEL

ARISTÓTELES DRUMMOND

JÂNIO DE FREITAS

RICARDO CRAVO ALBIN

Lucio Rangel, o magnífico: 40 anos sem ele

NINA KAUFFMANN

A programação de fim de ano no Fasano Rio

2º Caderno - Página 25

Nicole Tamborindeguy Rocha fala sobre o significado do Natal

LILIANA RODRIGUEZ

2º Caderno - Páginas 20 e 21

ANNA RAMALHO

Ex-primeira-dama do estado sofre intervenção cirúrgica

2º Caderno - Páginas 14 e 15

Flam

engo

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ção

Página 6

Carlos Monteiro

Nesta edição, o CORREIO DA MANHÃ publica um suplemento especial

de fim de ano com a retrospectiva de 2019 e as perspectivas para o

ano e a década que se iniciam nos vários segmentos da cultura.

PERSPECTIVA2020

RETROSPECTIVA2019

2º CADERNO

RIO.2011. DESBUROCRATIZAÇÃO DO SETOR DE EVENTOS

12. REFORMA DO SAMBÓDROMO

13. REABERTURA DA NIEMEYER

14.REATIVAÇÃO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS

15. REABERTURA DO MIS

16. 70 ANOS DO MARACANÃ

17. EDITAL DO TREM BALA RIO-SÃO PAULO

18. FINAL DA LIBERTADORES NO MARACANÃ

19. REGULAMENTAÇÃO DO AIRBNB

20. INÍCIO DAS OBRAS DO AUTÓDROMO

RAZÕES PARA ACREDITAR EM 20201. CAPITAL MUNDIAL DA ARQUITETURA

2. MAIS TURISTAS ESTRANGEIROS

3. LIBERAÇÃO DO JOGO

4. MAIS SEGURANÇA

5. NOVOS VOOS INTERNACIONAIS

6. REAQUECIMENTO DO MERCADO IMOBILIÁRIO

7. PRIVATIZAÇÃO DO SANTOS DUMONT

8. REVITALIZAÇÃO DO PORTO MARAVILHA

9. ELEIÇÕES MUNICIPAIS

10. CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CRIATIVA

Página 8

Página 7

Dias difíceis na América Latina

Temporada em vermelho e preto

Chile, Venezuela, Argentina e Bolívia protagonizaram um ano turbulento. Crises econômicas e divergências políticas provocaram distúrbios de rua, mortos e feridos. O Uruguai, por sua vez, foi às urnas e deu forte guinada para a direita.

Depois de dois vice-campeonatos brasileiros e seguidas eliminações na Libertadores, 2019 foi o ano perfeito para o Flamengo. Sob as bençãos do treinador português Jorge Jesus, o rubro-negro ganhou padrão de jogo digno de um au-têntico campeão. As taças foram só uma questão de tempo: cam-peão brasileiro, da América do Sul e finalista do Mundial de Clubes.

Carlos Monteiro

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2 De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

OPINIÃO

Direção Executiva: Cláudio Magnavita (Editor Chefe) Fernando Vale Nogueira (Editor Executivo) [email protected]ção: Marcelo Perillier, Pedro Sobreiro, Gustavo Barreto, Marcio Corrêa, Ive Ribeiro, Guilherme Cosenza, Affonso Nunes e Cesar Ferreira. Estagiário: Gabriel Moses Serviço noticioso Folhapress e Agência BrasilProjeto Gráfico e arte: Leo Delfino (Designer)

[email protected]ção: (21) 2042 2955 | Comercial: (11) 3042 2009 whatsapp (21) 97948-0452

Av. João Cabral de Mello Neto, 850 Bloco 2 Conj 520 - Rio de Janeiro - RJ CEP: 22775-057

www.jornalcorre iodamanha.com.br

Fundado em 15 de junho de 1901

Edmundo Bittencourt (1901-1929)Paulo Bittencourt (1929-1963)Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1963-1969)

Os artigos publicados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a opinião da direção do jornal.

Os resultados serão perce-bidos muito em breve, disse o ministro na entrevista.

Mas uma questão que deve ser reforçada, neste momento de discussões abertas e redes so-ciais ativas: não basta o governo agir sozinho, como se fosse um organismo independente da população. Bolsonaro, Guedes & equipe estão tocando o barco de maneira legítima, sob o aval dos seus milhões de eleitores. O trabalho, entretanto, é geral.

É por isso que os cidadãos também têm seu papel a cum-prir, sobretudo porque, em 2020, o país terá eleições para as prefeituras e para as câmaras municipais. Esse poder rami-ficado tem a tarefa alinhar as diferentes esferas políticas com foco no crescimento geral, não apenas local.

Da população, pede-se ape-nas uma coisa: o voto conscien-te, racional, longe das paixões de ocasião, inócuas e típicas da adolescência.

Em entrevista à GloboNews na quarta-feira (18), o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou claro que 2019 foi um ano “difícil, mas produtivo” para o governo Bolsonaro. As mudanças no país já começa-ram, mas elas ganharão força agora, em 2020.

Com ou sem ajustes, não dá mais para recuar da rota es-tabelecida nos últimos meses, e os ventos estão a favor dos planos de Guedes. Esse cená-rio otimista é demonstrado nas contas públicas, nos índices de desemprego, na queda gradati-va da taxa básica de juros e na balança comercial, entre outros fatores positivos.

Guedes também está costu-rando com os líderes do Sena-do e do Congresso a reforma tributária, que sugere alíquotas com viés de baixa, assim como o alívio da carga sobre a folha de pagamento, além de revigo-rar consumo, movimentando a economica em geral.

O arquiteto da mudança

EDITORIAL

Quando vejo hoje as repór-teres à beira do gramado nos jogos de futebol –o que já não era sem tempo–, pergunto-me quantas sabem o que devem a Marilene Dabus, a primeira a fa-zer isso, em 1969. Marilene fora uma sugestão de Danuza Leão a Samuel Wainer, dono do jornal carioca Última Hora, ao vê-la respondendo sobre o Flamengo num programa de TV. Samuel a contratou como repórter e não se arrependeu: Marilene marcaria época nos anos seguintes, com inúmeras notícias em primeira mão, nem todos de agrado dos clubes.

Posso imaginar o choque de sua chegada ao campo do Fla-mengo, seu clube de coração, na Gávea, para cobrir um treino –”menina Zona Sul, cílios posti-ços, cabelos Jambert, minissaia e salto alto”, segundo ela própria. As ruas estavam cheias de moças assim, mas o futebol não, daí os jogadores, dirigentes e até jorna-listas, a princípio, a olharem com estranheza. Mas Marilene, filha de pai rico, tirava de letra as can-

tadas e piadas. De uma piada ela gostou: um amigo a chamou de “as melhores pernas do futebol brasileiro” – o que ela era.

Marilene fez a primeira entre-vista com Zico quando ele ainda jogava nos juniores do Flamen-go; soube antes de todo mundo da demissão de João Saldanha da seleção brasileira e apontou um presidente do Flamengo como corrupto (foi processada e ga-nhou). Tudo isso em 1970. Anos depois, foi quem sugeriu Marcio Braga como presidente para o grupo que viria sanear o Flamen-go. E assessorava Marcio quando ele conseguiu com que a TV pas-sasse a pagar royalties aos clubes.

Há dias, Marilene lançou seu livro de memórias, “A Moça do Flamengo”. Mas, adoentada, em casa, não pôde comparecer ao seu próprio lançamento, no salão nobre do clube.

Magicamente, no entanto, era como se estivesse lá, autogra-fando seu livro para os amigos. E, na verdade, estava, em cada me-tro quadrado do Flamengo, que ela representa como ninguém.

Ruy CastroA moça do Flamengo

revela que está tudo 100% er-rado aí. Enfim: não pode nada, mas aconteceu tudo, no negó-cio montado entre Lulinha e a Oi/Telemar – Oi/Telemar, mas podem me chamar de Andrade Gutierrez, afirma J. R. Guzzo. É fato que entre 2004 e 2016 a Oi/Telemar pagou R$ 132 milhões à Gamecorp/Gol, a empresa do filho, por “servi-ços prestados”. É fato que em 2008 o presidente Lula assinou o decreto 6.654, dando à Oi/Telemar o direito de comprar a Brasil/Telecom. Resumo - A Oi deu mais de R$ 130 milhões a Lulinha, e Lula assinou o pa-pel que deu à Oi exatamente o que ela queria. Resta, enfim, mais uma constatação de gran-de simplicidade: o silêncio da imprensa sobre histórias como essa faz o caso desaparecer do noticiário, mas não dos autos. (...) (O Estado de S. Paulo) 5) Pesquisador do What-sApp bolsonarista relata ame-aça e foge do Brasil - David Nemer estava em São Paulo e aproveitou para ir a um parque da cidade. No sábado passa-do (14/12/19), ele afirma ter recebido um email anônimo, dizendo que sabiam onde ele estava e recomendando que ele tivesse “cuidado”. Em anexo, enviaram uma fotografia do professor no parque. O UOL obteve a imagem, mas não a divulga para preservar as in-vestigações da polícia. Foi o quarto email com ameaças em quatro meses, de acordo com o pesquisador. (...) (UOL)

1) Gerar empregos é o desa-fio que se apresenta para 2020. O crescimento econômico sem criação de empregos é efêmero, desalinha a sociedade e gera o fenômeno de incluídos e exclu-ídos, diz Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco. O traba-lho é uma atividade produtiva e muito mais. É um exercício libertador, um meio de se inse-rir na sociedade e o veículo para cada um encontrar o seu lugar. É componente fundamental da vida desde tempos primórdios. (...) (O Estado de S. Paulo)

2) Congresso aprova mínimo, sem ganho acima da inflação. Salário mínimo deve passar de R$ 998 para R$ 1.031. Valor não tem ganho real, apenas au-mento pela inflação, com base na previsão do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consu-midor). Reajuste ainda pode mudar, porque valor é determi-nado por decreto presidencial, escreve Ricardo Marchesan. (...) (UOL) 3) Reprovação a deputados e senadores volta a subir e atinge 45%, diz Datafolha. Índice dos que consideram ruim ou péssi-mo o trabalho de congressistas era de 35% no final de agosto, escreve Ranier Bragon. São dez pontos percentuais a mais do que no final de agosto. (...) (Fo-lha de S. Paulo) 4) Lulinha - Essa história das transações entre um dos filhos do presidente e uma gigante do mundo das comunicações

6) É preciso dizer o óbvio: o Brasil está doente. E digo isso com olhos de observador exter-no, afirma Fabio Giambiagi. Fui embora com menos de 1 ano de vida, quando voltei, na adoles-cência, foi como se chegasse pela primeira vez. A prosperi-dade é incompatível com nosso grau atual de polarização. Sem resgatar o diálogo, o futuro do país será feito de fúria, tristeza e sombras. (...) (O Globo) 7) “Se sumir carteira, já sei quem é”, diz Bolsonaro ao ver flamenguista. O presidente Jair Bolsonaro parou na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para tirar foto com turistas e eleitores na tarde de sábado (14). Ele se negou a responder as perguntas da imprensa, mas não perdeu a oportunidade de fazer uma brincadeira quando viu um flamenguista: “Se su-mir a carteira de alguém já sei quem que é, hein”, disse. Veja o vídeo, exclusivo. (...) (Con-gresso em Foco) 8) É pertinente ser pes-simista com o Brasil, es-creve Luís Costa Pinto. Intelectual, o professor Anco Márcio, de Pernambuco, an-tevê tempos obscuros, escreve Luís Costa Pinto. Anco Már-cio vê o país a caminhar cele-remente para longo período de ostracismo e isolamento no plano internacional. Quadra essa que será também, prediz, de perseguições e de punições às minorias resilientes aqui de dentro. A ausência de um jor-

nalismo aplicado, independen-te e aguerrido, catalisador dos escândalos da Era Collor, é ou-tro dos fenômenos que situam o Brasil de hoje a anos-luz do país que tínhamos há quase 30 anos. (...) (Poder360) 9) Sem provas, desembar-gadora reafirma que Marielle trabalhava com aval do CV, escreve Lola Ferreira. Embora negue a acusação de calúnia, desembargadora do TJ-RJ Ma-rília de Castro reafirmou que a vereadora do PSOL trabalhava com a autorização do Coman-do Vermelho em favelas do Rio de Janeiro. Ela assumiu que re-almente não tinha ou teve pro-vas sobre o que reproduziu: “Eu não tenho prova nenhuma. Eu reproduzi comentários que es-tavam sendo feitos na internet.”. (...) (UOL) 10) Bumba-meu-boi - A Or-ganização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cul-tura, Unesco, inscreveu a mor-na de Cabo Verde e a tradição brasileira Bumba-meu-boi na lista de Patrimônio Imaterial da Humanidade. (...) (ONU News)

O desafio do Brasil para 2020

(*) José Aparecido Miguel, jornalista, diretor da Mais Comunicação-SP

(http://www.maiscom.com), trabalhou em todos os grandes jornais brasileiro - e em todas as mídias. Foi editor-executivo do Jornal do Brasil, no Rio, de

2007 a 2009. (http://www.outraspaginas.com.br) E-mail -

[email protected]

OUTRAS PÁGINAS JOSÉ APARECIDO MIGUEL (*)

O CORREIO DA MANHÃ NA HISTÓRIA * POR BARROS MIRANDA

HÁ 100 ANOS: JOSÉ BEZERRA TOMA POSSE EM PE

O noticiário do COR-REIO DA MANHÃ nos últi-mos dias de dezembro de 1919, além das festividades do Natal e do Ano Novo, tinha como destaques nacionais a posse de José Bezerra como novo gover-nador de Pernambuco, as co-

berturas dos comícios de Ruy Barbosa na Bahia e o Senado aprovar o aumento de salário dos funcionários públicos e militares. Já no internacional, o Conselho Nacional de Fiume ratificou aprovação do acordo proposto pelo governo italia-no e a Alemanha anunciou a criação de uma linha aérea en-tre o país e a América do Sul.

HÁ 75 ANOS: JUBILEU DE 25 ANOS DO ARCEBISPO DO RIO

Já em 1944, os destaques foram as vitórias dos avia-dores brasileiros contra as ofensivas alemães na Itália, a tomada da Hungria pelas tro-pas soviéticas e o jubileu de 25 anos do arcebispo do Rio, D. Jaime de Barros Camara.

Opinião do leitor

NANI

A história de nossa cidade é incrível

Excelente a reportagem sobre o novo livro do jornalista e escritor Ruy Castro publicada recentemente. Um verdadeiro desfile

de personagens marcantes da história de nossa cidade, entre os quais o próprio CORREIO DA MANHÃ. A vontade de ir à livraria e

comprar um exemplar foi instantânea.

José Carlos Mesquita Rio de Janeiro

ARISTÓTELES DRUMMOND

O governador do Rio, Wilson Witzel, está sendo pragmático e acertando em cheio em dar prio-ridade à segurança pública, visivel-mente a mais presente dos últimos governos. A polícia é vista por toda parte e os índices diminuí-ram, como tem sido publicado. Finalmente se percebe que bandi-do é bandido e policial é policial.

Sem dinheiro para outros in-vestimentos, parece que não está atrapalhando e até mesmo faci-litando projetos privados, como os dois de Maricá – o terminal portuário e o resort – e o apoio ao Porto Maravilha e outros.

Peca pela falta de experiência política, ao se precipitar e colocar seu nome na sucessão presiden-cial, que vai ocorrer daqui a três anos. Suas chances passam pelos resultados de seu governo. Sua ambição maior neste momento deveria ser o de atender a popula-ção, arrumar as contas estaduais. Para fazer um bom governo preci-sa ter relações próximas e cordiais com o presidente Bolsonaro, que é político fluminense e pode viabi-lizar soluções. Esta briga não tem o menor sentido.

Vaidoso e audacioso, o gover-nador acaba se prejudicando des-necessariamente. No mais, apesar de ter ocupado um vácuo eleito-ral inédito e se elegido, precisa re-conhecer que ainda é desconhe-cido das forças vivas da sociedade fluminense, que, em condições normais, sempre tiveram peso importante nas eleições. Ficar envolvido num mundo político divorciado da sociedade como o fluminense não é de todo reco-mendável. Tem de se identificar

com a vontade popular. Ainda na área da segurança,

precisa implantar logo o bloqueio eficiente de celulares nos presídios – Israel tem tecnologia de ponta – e adotar armas com pontaria a laser para diminuir significativa-mente as “balas perdidas”, assim como tentar entregar à Aero-náutica o policiamento interno e externo dos aeroportos, em com-binação com a Polícia estadual. As calçadas e saguões dos dois aeroportos andam ocupadas por engraxates e menores pedintes. E modernizar a gestão da saúde, que, moralizada, tem recursos para bem atender, se bem geridos.

Precisa ainda diminuir a folha estadual, inchada visivelmente, e tentar controlar o orçamento do Judiciário que parece despropor-cional à crise que o país e o Esta-do vivem. Nestas medidas deve ter a cobertura de uma eficiente e experiente assessoria, para ser entendido e apoiado.

Nada de brigas desnecessá-rias, de fechar portas. O Rio já so-fre com a imobilidade na gestão da capital, que mal toca as obras que encontrou iniciadas. O pre-feito do Rio prova que não bas-ta ser eleito, tem de ser eficiente. Este parece que tornou inviável qualquer aspiração majoritária, a começar pela reeleição mais do que improvável.

Neste mundo político em que vivemos, o governador do Rio é o que parece mais habilitado a cres-cer, fazendo o Estado se desenvol-ver e atender a população. Tem de se esforçar para reverter atritos.

Se assim for, melhor para ele e para a população.

O potencial de Wilson Witzel

MAIS CHARGES DE NANI NO CADERNO ESPECIAL RETROSPECTIVA

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3De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

OPINIÃO

Delação Cabralina

Invicto Queda livre

Crescem os cuidados com a segu-rança do ex-governador Sérgio Ca-bral no ambiente presidiário, depois que detalhes da sua delação come-çam a vazar para a imprensa.n Coloca no chinelo até a explo-siva delação do Lélis Teixeira, da Fetranspor. Ele mira em setores até então preservados, principalmen-te o Judiciário.n A riqueza de detalhes pode ser atribuída à formação de jornalista do ex-governador, capaz de colocar no papel os detalhes que não poupam nenhum dos poderes, principalmente - mais uma vez - o Judiciário.n Na Bahia, as últimas ocorrências policiais envolvendo o Judiciário causaram um terremoto, com novos capítulos a cada dia. O temor é a re-edição carioca da lava-toga baiana. O problema maior são os nomes de Brasília na delação do ex-governa-dor do Rio.

O governador João Do-ria coloca como ativo do seu governo o fato de não ter trocado nenhum secretário da sua equipe em 2019.n O governo paulista mantém a mesma cara da posse. A formação seguiu um critério tec-nico e na equipe vários ex-ministros que já ti-nham trabalhado juntos.

O ex-secretário de Cul-tura Ruan Lira foi do céu ao inferno em pou-cos meses.n O garoto chegou a alimentar o sonho de concorrer à Prefeitura em 2020. Perdeu prestí-gio com o chefe depois uma polêmica soleni-dade para receber o Sambódromo. Alertado, Crivella caiu fora.

Foto Erno Schneider

Fotos CM

Foto histórica tirada no almoço de antigos colaboradores do CORREIO DA MANHÃ no Bar Brasil. Para aplausos, o clique foi feito por Erno Schneider, um dos maiores fotógrafos brasi-leiros, quebrando o jejum de anos. Ele registrou este colunista e o veterano Idalício Filho.

Durante vários anos, a chama do CORREIO DA MANHÃ foi mantida viva por um grupo de jornalistas apaixonados pelo jornal. No último dia 14, eles se reuniram no Bar Brasil em um encontro de fim de ano. Na foto acima, Aziz Ahmed, ladeado por Ruy Castro e Affonso Nunes

Adotado?

Cadê a ética, Alexandre Freitas?

Será que foi feito exame de DNA no Marcelo Bahia Odebrecht, ex-presi-dente do grupo que deflagrou uma guerra aberta contra seu pai?n Durante anos, a diferença física entre Marcelo e o clã Odebrecht era tanta que, na companhia, corria um rumor de que haveria um processo de adoção feito de forma superdis-creta e a que poucos teriam acesso.n Muitos, porém, apontam a sua semelhança bem mais com a família materna do que com o DNA alemão da família paterna. Com o racha, a sombra da adoção voltou à tona.

Ao votar pelo adiamento do PL que regulamenta a obrigatoriedade do registro de hóspedes do AirBnb no Rio, o deputado Alexandre Freitas, do partido Novo, fez questão de não esconder que votava em interesse próprio.n Confessou possuir unidades locadas pelo sistema do AirBnb e a sua preferência para manter o anonima-to dos hóspedes, desobrigando o preenchimento da ficha de identificação. A mudança conta com adesão de síndicos e associações de moradores, assusta-dos por ter ilustres desconhecidos nas áreas fre-quentadas por crianças e adolescentes.

Nota zero para RuanNa Zona Sul, duas carcaças de equi-pamentos culturais do estado são um atestado da incompetência do gestor que estava à frente da Secre-tária estadual de Cultura.n O Teatro Villa-Lobos, construído na gestão de Adolfo Bloch à frente dos teatros públicos, era o único a ter fosso para orquestra e urdimento para movimentar cenários de gran-des espetáculos.n A sua reforma estava quase no final quando um novo incêndio con-sumiu tudo em poucos minutos. O Villa-Lobos é uma joia esquecida e fundamental para o polo cultural da Zona Sul, repleta de hotéis e carente de uma grande sala.n Outro ponto negativo é a carca-ça do Museu da Imagem e do Som, construído para ser uma grande atração de Copa e inexplicavelmente inacabado. A verba do BID foi arrestada e, para completar, falta muito pouco.

TROCA-TROCAO governador Wilson Witzel termina o ano com um número recorde de troca de cadeiras entre os novos dirigentes estaduais eleitos em 2018.n Ele trocou 40% dos titulares de Secretaria que foram empossados em janeiro. O gover-no chega ao final de ano com um rosto bem diferente do que começou. n Os motivos de mudança foram os mais diversos, mas com um elo em comum: o de-sejo de Witzel pela Presidência da República. Saíram do governo WW: Gutemberg Fonseca, Eduardo Lopes, Horácio Guimarães, José Luiz Zamith, Fabiana Bentes, André Andrade, Major Fabiana e Ruan Lira.

Ilha Pura é a melhor opçãoUma tradição do Norte e Nordeste é ter uma segunda casa no Rio. Um reflexo do período do Rio capital.n Outro hábito era o de enviar os filhos para estudar no Rio e, por isso, ter um imóvel na cidade virou objeto do desejo.n O Ilha Pura está realizando este dese-jo e oferecendo uma qualidade de vida só encontrada nos condominios de maior luxo dos Estados Unidos. Quem estiver de férias, vale visitar o Ilha Pura e se surpreender pelas condições oferecidas.n O interesse de argentinos também sur-peende. Com a valorização do dólar, os pre-ços ficaram ainda mais vantajosos.

Fotos Reprodução

O charme está de volta às bancasRevista que marcou época na maior parte do século XX, ‘O Cruzeiro’ ganha nova roupagem Por Barros Miranda

A revista mais tradicional do Brasil está de volta. Chega às bancas, neste finzinho de dezembro, o número 2.522 de “O Cruzeiro”, que dominou o mercado editorial entre as dé-cadas de 1920 e 1970. Fora de circulação os anos 1980, a revis-ta ganhou roupa nova, mas sem perder o charme que a caracte-rizou desde sempre, dando des-taque a reportagens e a artigos opinativos sobre personagens marcantes da sociedade.

“O Cruzeiro” começou a circular em 10 de novembro de 1928, sendo precedida por uma agressiva e original campanha promocional: para anunciar a chegada da nova publicação, quatro milhões de prospectos foram jogados do alto dos pré-dios da Cinelândia, Rio Branco e Ouvidor, no Centro do Rio.

Com tiragem inicial de 50 mil exemplares, a revista rapida-mente conquistou seu público, graças à variedade de assuntos e ao tratamento fotográfico ino-vador para a época. Uma das suas melhores características era o olhar global, apoiado por agências de notícias nas maiores cidades do Brasil e por corres-pondentes internacionais em Lisboa, Paris, Roma, Madri, Londres, Berlim e Nova York. Era um luxo só - ainda hoje re-plicado na imprensa.

Revista de variedades, as matérias de “O Cruzeiro” tra-tavam de temas como esporte, moda, literatura, cinema, colu-nismo social, charges e carica-turas. Ela comentava também acontecimentos e fatos da se-mana, além de promover con-cursos de fotografia.

A publicação teve entre seus colaboradores nomes de peso

nas áreas de literatura e das artes plásticas, como Manuel Bandeira, Davi Nasser, Edmar Morel, Carlos Castelo Branco,

com seu eterno personagem O Amigo da Onça, que retrata-va com humor e irreverência a alma carioca.

Cândido Portinari, Anita Mal-fatti, Di Cavalcanti e Otto Ma-ria Carpeaux, entre outros. O chargista Péricles ficou famoso

Toda essa história teve como condutores jornalistas de primeira linha, como Accioly Netto, que esteve à frente da revista durante décadas.

O sucesso editorial podia ser medido pelas suas tiragens. Dos 200 mil exemplares, ainda nos anos 1940, a revista atingiu a média de 550 mil na década de 1950, patamar mantido até o início dos anos 1960. O re-corde de 700 mil exemplares seria atingido na edição que cir-culou dois dias após o suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954.

Agora publicada pelo mes-mo grupo que edita o COR-REIO DA MANHÃ, a nova revista chega às bancas, men-salmente, como herdeira desse legado e com a responsabilida-de de levar aos leitores a mesma alegria e leveza que marcou ge-rações de leitores do país.

Dois momentos de ‘O Cruzeiro’: em 1954 e na mais recente edição, com a diva Fernanda Montenegro na capa

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4 De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

BRASIL

Expectativa de vida no país segue em alta Tábua de Mortalidade do IBGE comprova: Brasil ficou mais idoso

A cada ano o Brasil torna-se um país mais idoso. Números que comprovam que a expec-tativa da população aumentou em três meses e quatro dias, de 2017 para 2018, alcançando 76,3 anos. Desde 1940, já são 30,8 anos a mais que se espera que a população viva. Os dados são das Tábuas Completas de Mortalidade, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geogra-fia Estatística (IBGE).

Para as mulheres, espera-se uma longevidade maior: 79,9 anos. Enquanto a dos homens ficou em 72,8 anos. Mas essa diferença, chamada de “sobre-mortalidade masculina”, é mais acentuada conforme a faixa etária. Um homem de 20 a 24 anos tinha, em 2018, 4,5 vezes menos chances de chegar aos 25 anos do que uma mulher.

- Esse fenômeno pode ser explicado por causas externas, não naturais, que atingem com maior intensidade a população masculina - explica o pesqui-sador do IBGE Marcio Mina-miguchi, ressaltando que, em 1940, não havia essa discrepân-cia evidente entre os sexos nos grupos mais jovens.

- A partir de meados da década de 1980, as mortes as-sociadas às causas externas pas-saram a desempenhar um papel de destaque. É um fenômeno

menta Minamiguchi.Quanto aos estados, a me-

nor taxa de mortalidade infan-til foi encontrada no Espírito Santo: 8,1 óbitos de crianças menores de 1 ano para cada mil nascidos vivos. Já a maior foi a do Amapá, com 22,8 por mil.

A mortalidade das crianças menores de 1 ano é um impor-tante indicador da condição de vida socioeconômica de uma região. As taxas no Brasil estão melhorando gradativa-mente, mas ainda estão longe das encontradas nos países mais desenvolvidos do mundo, mesmo nos estados do Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Pau-lo, com índices abaixo de 10 por mil. Japão e Finlândia, por exemplo, possuem taxas abaixo de 2 por mil. Dentre os países que compõem os Brics, o Bra-sil está mais próximo da China, que tem mortalidade infantil de 9,9 por mil.

proveniente da urbanização e inclui homicídios, acidentes de trânsito e quedas acidentais, en-tre outros - completa.

DOIS EXTREMOSPara ambos os sexos a maior

esperança de vida ao nascer é observada em Santa Catarina: 79,7 anos. Outros estados com valores elevados, acima dos 78 anos, são o Espírito Santo, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. No outro ex-tremo, está o Maranhão, com a expectativa em 71,1 anos, e o Piauí, em 71,4 anos. Ou seja, uma criança nascida no Mara-nhão, conforme a taxa de mor-talidade observada em 2018, esperaria viver em média 8,6 anos a menos que uma criança nascida em Santa Catarina.

Cabe ressaltar que a expec-tativa de vida muda conforme o ano de nascimento da pessoa e o sexo. Por exemplo, quem está com 30 anos agora terá um

tempo médio de vida diferente de quem acabou de nascer, é a chamada projeção de sobrevida.

A pesquisa mostra também que as taxas de mortalidade in-fantil mantiveram a tendência de queda. O número de mortes antes de completar 1 ano de idade caiu de 12,8 a cada mil nascidos vivos em 2017 para 12,4 por mil em 2018. Já até os 5 anos de idade, o índice decli-nou 3,4%, de 14,9 por mil para 14,4 por mil.

- A mortalidade infantil tem causas normalmente evitáveis e, principalmente nesses primei-ros anos de vida, está muito re-lacionada às condições em que a criança vive. Conforme melho-ram as condições de saneamento básico da população e o acesso a vacinas e atendimentos de saúde, diminuem os índices de morte infantil. Se conseguirmos redu-zir a taxa atual pela metade, isso significará menos 15 a 20 mil mortes de crianças por ano - co-

Arquivo/Agência Brasil

Levantamento do IBGE indica que a longevidade média dos homens é 72,8 anos; a das mulheres é de 79,9

U PACOTE

Janio de Freitas

Aui no chão, o massacre na favela paulistana de Parai-sópolis fazia ecoarem, mais uma vez, os adjetivos usuais contra a barbaridade policial. Nas mordomias palacianas, o responsável primeiro e úl-timo pela política policial de São Paulo recitava, como um manequim falante, a defesa imediata dos assassinos, para desdizer-se quando viu os protestos.

No paraíso mais autêntico, a Câmara e o Senado encon-travam a melhor oportunida-de para aprovar o que restou de um papelório perpetrado por Sergio Moro, sob o batis-mo de “pacote anticrime”.

Se já vigente antes do assal-to policial a Paraisópolis, o “pa-cote anticrime”, fosse em suas propostas originais ou pós-var-redura parlamentar, não teria impedido, dificultado, nem ao menos desestimulado o mas-sacre. O crime encontraria o mesmo caminho aberto.

O “anticrime” proposto por Moro tratou só de mais anos na pena máxima, ins-tância de julgamento, ino-centação prévia de policiais matadores, arquivos de crimi-nalidade, penalizações de cri-mes pelas redes. Nada de ação anticrime. Tudo referente ao pós-crime, voltado mais para o Judiciário e os códigos de processo penal. Muito mais voltado para o criminoso consumado do que para o cri-me e sua facilidade atual. No entanto, esta diferenciação preliminar e leiga, indispen-sável e urgente, ainda não se mostrou nos saberes do juiz Sergio Moro.

Que influência pode ha-ver, para quem está na crimi-nalidade, se a pena máxima a que se sujeita for de 30 ou, como aprovada agora, de 40 anos? Em grande número, esses fora da lei começaram no crime, muito jovens, como meio de sobrevivência no país hostil aos pobres. O país onde a imensa massa de meios fi-nanceiros e materiais nunca se desviou, em dimensão efetiva, das classes rica e média-alta para fazer, por dever de justi-ça cívica e por inteligência, o que até resultaria em preven-ção da criminalidade.

A geração de lucro tem precedência, no Brasil, sobre

qualquer outra destinação possível do dinheiro públi-co-privado. Quem luta pela permanência do socialmente frutífero Minha Casa, Mi-nha Vida, por exemplo, são os construtores e seus lucros potenciais.

É a regra do capitalismo duro, ultraliberal, exclusivis-ta no sentido de excluidor e concentrador. Quanto à polí-cia? A matança é nos bairros da pobreza. A cada onda de protesto, retiram-se da rua os policiais acusados (não para a cadeia, porém), compram-se algumas centenas de equipa-mentos, mudam-se dois ou três comandos. Agora, gover-no novo, de justiceiros: nesse caso, um pacote – obtuso, in-constitucional, ineficaz.

Submeter as polícias à lei, treiná-las muito bem para a ação técnica, e não mais homici-da por finalidade. Despovoá-las dos marginais, e então tratá-las como profissionais competen-tes devem ser tratados.

O tempo para medidas as-sim práticas não é muito, con-sideradas as levas de jovens lançadas, pela economia do desemprego e das carências, na subvida do submundo. E vista, ainda, a crescente ca-pacidade de fogo disponível para esses maltratados. A ver-dade é que as polícias estão derrotadas, incapazes de reter a ação e o crescimento dos seus adversários. E derrota continuada termina por ser derrota definitiva.

A situação atual já é um capítulo sem precedente: a expansão do que está à mar-gem da lei deixou de ser ape-nas horizontal para ser tam-bém vertical. Os impasses e obstruções do caso Marielle Franco, o intocável Fabrício Queiroz, a intrigante sinuo-sidade do Ministério Público na investigação de Flávio Bol-sonaro e seu gabinete, o po-der miliciano e suas conexões com o poder.

Mas, como parte disso, a proposta do ministro da Jus-tiça foi o tal “excludente de ilicitude”, que deixa de consi-derar ilícito o assassinato por policial “sob violenta emo-ção”. Derrubada pelos parla-mentares, Moro e Bolsonaro pretendem restaurá-la. Afi-nal, a situação já é outra.

Proposta de Moro não tem nada de ação anticrime

Por Agência Brasil

O Supremo Tribunal Fede-ral (STF) proferiu 110.965 de-cisões ao longo de 2019. Ainda que o total seja menor que as 124.975 decisões de 2018, foi um resultado suficiente para a Corte atingir o menor estoque de processos à espera de julga-mento dos últimos 20 anos.

- Foi um ano difícil e os nú-meros comprovam isso - disse o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, no cargo desde 2018.

Uma das explicações para o menor número de decisões proferidas foi a ênfase nos jul-gamentos colegiados, ou seja, pelas turmas e pelo plenário. Mais complexas, essas decisões exigem mais tempo e atenção dos ministros.

Em 2019, as decisões co-legiadas somaram 16.600 dos 110.965 processos julgados -

um resultado 18% maior que as 14.508 decisões colegiadas re-gistradas em setembro de 2018.

MODERNIZAÇÃO- Nenhuma Corte consti-

tucional do mundo julga tama-nho número de processos - ar-gumenta Toffoli, que atribui à modernização administrativa, ao aprimoramento da gestão do acervo de processos e à ampliação do plenário virtual, entre outros fatores, a redução do número de processos em tramitação entre o fim de 2018 e dezembro de 2019: de 38.533 para 30.662.

- Vamos continuar dando cabo deste acervo, que é imen-so - antecipa o ministro, desta-cando que o “avanço no sentido da eficiência” ocorreu apesar da redução do orçamento da Corte. O STF recebeu 20% a menos de recursos da União, se comparado a 2009.

Supremo proferiu 110 mil decisões ao longo de 2019

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5De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

RIO

A capital mundial da arquitetura

é aquiCongresso da União Internacional de Arquitetos coloca

o Rio no centro das discussões globais sobre urbanismo

Por Affonso Nunes (texto) e

Carlos Monteiro (fotos)

Obra-prima quando o assunto é natureza, a cidade mais bonita do mundo tem mais um motivo para se orgulhar. Em 2020, o Rio de Janeiro será oficialmente a capital mundial da arquitetura. Por deci-são da Unesco, a partir de agora, as cidades que sediarem o Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos, realizado a cada três anos, serão também designa-das pelo organismo internacional como capitais da arquitetura.

Mas o título não é apenas hono-rífico: as cidades tornam-se respon-sáveis pela organização de eventos relacionados às questões urbanas ao longo de todo o ano. Por isso, em julho, será realizado o Congresso Mundial da Arquitetura, que terá como tema “All the worlds. Just one world” (“Todos os mundos. Apenas um mundo”, em tradução livre).

Para o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo de Andrade, a escolha da cidade para sediar um evento dessa relevância é natural pelo fato do Rio ser referên-cia da arquitetura – é a terra de ar-quitetos e paisagistas mundialmente conhecidos, como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Lucio Costa.

- São nomes que ajudaram a construir a paisagem urbana do Rio - comenta.

A cidade também é reconheci-da por abrigar dois sítios do Patri-mônio Mundial Cultural: “Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar” e “Sítio Arque-ológico Cais do Valongo”.

REFERÊNCIAAndrade observa que a cidade é

referência de desafios contemporâ-neos para os arquitetos e de experi-ências positivas no campo do urba-nismo, a exemplo dos programas de urbanização de comunidades.

- O Rio sintetiza características encontradas em cidades não só do Brasil, mas de diversos países.

A Prefeitura vê a condição de ca-pital mundial da arquitetura como um marco na história da cidade.

- Além da visibilidade internacio-nal, teremos a oportunidade de am-pliar a relação de pertencimento dos moradores da nossa cidade com o seu patrimônio histórico e arquitetônico, difundindo e preservando esse acervo. A arquitetura do Rio reflete a riqueza de culturas que formam a sociedade brasileira, por ter sido porto e capital do Brasil por mais de dois séculos – lembra o prefeito Marcelo Crivella.

Mas os desafios são grandes. Do tamanho das contradições da cidade. Espremido entre a mon-tanha e o mar, o Rio de Janeiro forjou-se como uma metrópole derrubando morros, avançando

sobre aterros, abrindo grandes avenidas no coração da velha cida-de e erguendo colossos arquitetô-nicos como o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Mara-canã, o Sambódromo e o Museu do Amanhã. Sua arquitetura rica e complexa atravessa importantes períodos estilísticos, mas a pólis ainda tem um dever de casa por fazer: oferecer espaços inclusivos, racionalizar o uso do solo, ser sus-tentável e promover políticas pú-blicas justas nas áreas de habitação e mobilidade.

No campo das políticas globais, eventos como o Congresso da UIA reforçam a necessidade de cumpri-mento de duas importantes agen-das de desenvolvimento das Nações Unidas: a principal delas, a Agenda 2030, sobretudo em seu Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que tem como foco as cidades e os assentamentos humanos.

Há também a Nova Agenda Urbana, documento firmado du-rante a realização da Habitat III, em Quito (Equador), em 2016. “Até 2050 espera-se que a popula-ção urbana quase duplique fazen-do da urbanização uma das mais transformadoras tendências do Século XXI. À medida que a po-pulação, as atividades económicas, as interações sociais e culturais, assim como os impactos ambien-tais e humanitários estão cada vez mais concentrados nas cidades, constituem-se desafios de susten-tabilidade massivos em termos de habitação, infraestrutura, serviços básicos, segurança alimentar, saú-de, educação, empregos decentes, segurança, e recursos naturais, en-tre outros”, destaca o texto oficial.

DESAFIOSA diretora da Unesco no Brasil,

Marlova Jovchelovitch Noleto, res-salta que “a cultura e a arquitetura são fundamentais para a superação de desafios e soluções inovadoras para os espaços urbanos em áreas como cultura, planejamento urba-no, mobilidade, obras públicas que tornem as cidades mais inclusivas para suas populações”.

O Comitê Executivo do Con-gresso Mundial da UIA, que chega à 27ª edição, é presidido pelo ar-quiteto Sérgio Magalhães.

- Arquitetos e urbanistas, aca-dêmicos, estudiosos e produtores de cultura de todo o mundo esta-rão reunidos no Rio em 2020 para chamar a atenção da sociedade e dos governos sobre questões ur-banas de interesse global a fim de construir uma agenda positiva para os próximos anos. Conhecendo o valor e os desafios do espaço urba-no, podemos alcançar respostas e soluções capazes de conduzir a um futuro mais justo - acredita.

O Museu da Amanhã, símbolo da revitalização da zona portuária

O Morro da Providência, onde nasceu a primeira favela da cidade

Teatro Municipal: marco das construções de inspiração eclética

O imponente palácio mourisco que abriga a sede da FiocruzMeca do futebol, o Maracanã é um dos símbolos do Rio no mundo

Moldado entre o mar e a montanha, o Rio de Janeiro foi se desenhando de forma peculiar

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6 De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

ECONOMIA

Sinal verde para o crescimentoApós o cenário de incertezas que atravessou 2019, economistas adotam discurso otimistaPor César Ferreira

O ano de 2019 foi marcado por altos e baixos no âmbito econômico. As taxas de juros sofreram drásticas reduções e a cotação do dólar alcançou um patamar histórico, ao ultrapas-sar a marca dos R$ 4,19. Apesar da inflação estar sob aparente controle, o recente aumento da carne bovina para o con-sumidor final alterou hábitos de consumo tradicionais e faz soar o sinal de alerta na equipe econômica. Pode-se dizer haver um quase consenso dos econo-mistas em relação à capacidade de recuperação da economia brasileira em 2020. Será um processo lento. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta um crescimento de 2,1% da atividade econômi-ca para o próximo ano.

Depois de um cenário de in-certezas no início, a economia brasileira mostrou algum pro-gresso no decorrer de 2019. Se-gundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), a atividade industrial fechou o segundo trimestre com uma alta de 0,4%. Com base nis-so, o crescimento econômico brasileiro projetado pelo setor industrial ficou em 0,9%. Ob-viamente, um índice aquém das expectativas, mas que sinaliza boas perspectivas para 2020.

PREVISÔES DO FMIAntes mesmo da posse da

nova equipe econômica, tra-zida pelo governo Bolsonaro, o Fundo Monetário Interna-cional (FMI) previa um cres-cimento na faixa dos 4% para países de economia emergente em 2019. Mas esse otimismo da entidade não chegava ao Brasil, limitando-se basicamente às economias dos países asiáticos.

Os técnicos do FMI pre-viam modestos 0,6% para as economias dos países latino americanos. E, de acordo com a análise do Fundo, a econo-mia do continente estagnou ou regrediu devido essencial-mente ao que estava ocorrendo no Brasil.

Esse pessimismo estava li-gado às incertezas dos agentes econômicos globais quanto à aprovação de reformas tida como essenciais para tirar o Brasil do cenário de crise, apon-tando para a retomada de um ciclo de desenvolvimento.

O cenário de incertezas re-

fletiu-se no consumo, pois o brasileiro passou a pensar duas vezes antes de comprar um de-terminado produto. A produ-ção acompanhou esse ritmo de queda e a realização de novos investimentos estancou.

A queda nos níveis de consu-mo manteve os índices inflacio-nários sob estabilidade até o fim do primeiro semestre. Segundo

dados do IBGE, o índice de in-flação registrado em julho deste ano se limitou a 0,19%.

O novo fôlego para econo-mia se deu a partir do envio da proposta da reforma da Previ-dência ao Congresso no segun-do trimestre, quando passou a se verificar um aumento dos níveis de investimento. Na comparação com os primeiros três meses do

registro histórico, já que o índi-ce de aplicações financeiras no país ficou acima dos 26,2%.

Em recente consulta feita pelo Banco Central, as institui-ções financeiras aumentaram a estimativa de inflação e cresci-mento da economia para 2019. A projeção para o Índice Na-cional de Preços ao Consumi-dor Amplo (IPCA – a inflação

ano, o crescimento fora de 3,2%. E na comparação com o segundo trimestre de 2018, a alta ultrapas-sou a margem de 5,2%. Ou de 4,3% no acumulado dos últimos 12 meses até então.

É importante destacar que, de forma ampla, o nível de in-vestimento no Brasil é inferior ao que se verificava em 2013. Naquele ano, houve o chamado

oficial do país) subiu de 3,84% para 3,86%.

Para 2020, a estimativa de inflação se mantém há sete se-manas em 3,60%. A previsão para os anos seguintes também não teve alterações: 3,75% em 2021, e 3,50% em 2022.

ABAIXO DA METAAs projeções para 2019 e

2020 estão abaixo do centro da meta de inflação que deve ser perseguida pelo Banco Central. A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Na-cional, é 4,25% em 2019, 4% em 2020, 3,75% em 2021 e 3,50% em 2022, com intervalo de tole-rância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, atualmente definida em 4,5% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

De acordo com as insti-tuições financeiras, no fim de 2020, a expectativa é que a taxa básica também esteja em 4,5% ao ano. Para 2021, as instituições estimam que a Selic encerre o período em 6,13% ao ano. A estimativa anterior era 6,15% ao ano. Para o final de 2022, a previ-são segue em 6,5% o ano.

Quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o cré-dito fique mais barato, com incentivo à produção e ao con-sumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a ativi-dade econômica.

CONTER DEMANDAJá no cenário de aumento da

taxa básica de juros, o objetivo do Copom é conter a deman-da aquecida e isso causa refle-xos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. A ma-nutenção da Selic indica que o Copom considera as alterações anteriores suficientes para che-gar à meta de inflação.

A projeção para a expan-são do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – subiu de 1,10% para 1,12%, neste ano. As estimativas das instituições financeiras para 2020 variaram de 2,24% para 2,25%. Para os anos seguintes, não houve alteração em relação à pesquisa anterior: 2,50% em 2021 e 2022.

Fotos Arquivo/Agência Brasil

Consumidores diminuíram as compras em boa parte do ano de 2019. A reação natural da indústria foi dar uma freada no ritmo de produção. As seguidas reduções na taxa Selic jogam os juros para baixo, o que pode fazer o consumo voltar a registrar crescimento

Leilão do pré-sal ficou abaixo do esperado. Mas ajudou Desde o início do governo,

a equipe econômica anunciou que promoveria o maior leilão de petróleo do mundo, com ar-recadação recorde estimada em R$ 106 bilhões. O resultado, no entanto, frustrou as expectativas do próprio Poder Executivo. O otimismo da União acabou sen-do compartilhado por estados e municípios, que passaram a imaginar um aporte adicional de recursos para socorrer seus combalidos cofres.

Durante o leilão, os campos de Búzios e Itaipu foram arre-matados por R$ 69,96 bilhões - 34% menos das previsões ofi-ciais. Desta forma, descontada a parcela da Petrobras, estados e municípios tiveram perda ainda maior, em torno de 50%, mesmo percentual destinado à União. Trocando em miúdos, os governos estaduais dividirão um bolo de R$ 5,3 bilhões, va-lor idêntico ao que será rateado

pelos municípios. Na condição de estado produtor, o Rio de Janeiro terá um bônus de R$ 1 bilhão contra os R$ 2,1 bilhões inicialmente previstos.

O reforço de caixa foi rece-bido com desânimo por gover-nadores e prefeitos, muito em função das expectativas geradas pelo discurso oficial.

Apenas na véspera do cer-tame que a direção da Agência Nacional do Petróleo (ANP). admitiu que a meta não seria atingida e que poucas empre-sas participariam do leilão - as gigantes do setor petroleiro não enviaram representantes. Nem o presidente Jair Bolsonaro nem o ministro da Economia, Paulo Guedes, foram ao Rio como se imaginava.

Mas Décio Oddone, o dire-tor-geral da ANP, considerou o positivo o saldo do leilão

- Foi um sucesso. Foi o maior leilão já realizado. Le-

Petrobras/Divulgação

Dois campos de petróleo não arrematados em 2019 irão a novo leilão

vantou o maior bônus do mun-do. Foi capaz de destravar um conjunto de investimentos e isso vai permitir que as riquezas venham - disse, comentando que os valores obtidos não esta-vam fora do esperado.

Poucos dias após o leilão, o Ministério das Minas e Energia sinalizou que as áreas não arre-matadas no leilão - Sépia e Ata-pu - serão oferecidas em novo certame em 2020.

O modelo, no entanto, seria diferente do regime de partilha.

- Essas áreas serão leiloadas no ano que vem. Vamos ana-lisar agora qual será o regime. E ver o que for melhor para a união e vamos viabilizar. Não sei se no regime atual. Vamos estudar e analisar - disse o mi-nistro Bento Albuquerque em 6 de novembro.

A mudança, porém, precisa ser validada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

- Vamos fazer com gover-nança e segurança jurídica - acrscentou o ministro.

O fato é que o governo peci-sa rever metodologias e enten-der porque as garndes empresas do setor não se sentiram atraí-das pelos campos petrolíferos colocados à venda.

O Relatório de Acompa-nhamento Fiscal (RAF). divul-gado pela Instituição Fiscal In-dependente (IFI), indicou que governo federal fecharia 2019 com déficit de R$ 95,8 bilhões, mais de R$ 40 bilhões a menos que a meta fixada, de rombo de R$ 139 bilhões. O resutado positivo se deu justamente em função do leilão do pré-sal.

“Do lado das receitas, desta-ca-se a arrecadação extraordiná-ria que passa a ser contemplada. Os leilões do pré-sal melhora-ram expressivamente as proje-ções para as contas de 2019”, destaca o relatório. (C. F.)

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7De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

INTERNACIONAL

Casa Branca/Shealah Craighead

Donald Trump encontra Kim Jong-Un na zona desmilitarizada

O ano de 2019 teve seus altos e baixos, sendo os altos momentos realmente histó-ricos, e os baixos foram ge-radores de tensão. Agora, as incertezas rondam o futuro e não há mais nenhuma pre-visão que possa ser feita com facilidade.

Titã quase incontestá-vel na Ásia - e no mundo - a China apresentou uma diminuição aparente, mas não preocupante de seu cres-cimento. Sua caçada ao topo da economia mundial, ainda ocupada pelos Estados Uni-dos, deve permanecer como objetivo primário de Pequim, bem como o de ressaltar seu poderio na região com altos investimentos militares.

Um pouco mais ao norte, a Rússia deve achar novas for-mas de reinventar sua diplo-macia. Tendo o ano de 2019 marcado por desistências de importantes tratados de segu-rança e embates com políticas ambientais, os russos devem investir mais em políticas conciliadoras, até mesmo em conflitos nos quais já estejam envolvidos como mediadores.

Porém, é importante res-saltar que é pouco provável a ocorrência de um recuo em seu complexo indústrial-mi-litar - de grande importância tanto política quanto cultural.

O próximo ano dos rus-

O ano de 2019 se encerra com grandes episódios histó-ricos da política global, com direito a encontros inéditos entre importantes lideranças internacionais e a dissolução de acordos diplomáticos até então duradouros.

TRUMP E KIM No contexto do desar-

mamento nuclear da Coreia do Norte, o tão aguardado encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o ditador norte-coreano Kim Jong Un foi postergado mais de uma vez.

Uma relação que inicial-mente se mostrou hostil, sen-do marcada por comentários de Trump contra o ditador por meio das redes sociais e a exi-bição de testes nucleares norte--coreanos em águas próximas do Japão.

Em 2019, eles se econtra-ram em Hanoi, Vietnã, para uma nova rodada de negocia-ções acerca do programa nu-clear da Coreia do Norte.

Em junho, ambos volta-riam a se encontrar na zona desmilitarizada que divide as duas Coreias e, em seguida, foram para a localidade norte da região, tornando Trump o primeiro chefe de Estado americano a pisar em solo norte-coreano.

sos deve ser caracterizado por uma dicotomia entre ações di-plomáticas amigáveis e divul-gações públicas de testes en-volvendo a fabricação de novas armas de destruição em massa.

ELEIÇÕES NOS EUAOs Estados Unidos pro-

vavelmente são a nação que mais gera expectativas e es-peculações acerca de 2020, uma vez que, nesse período, o país terá novas eleições para presidente que podem mudar os rumos isolacionis-tas adotados pela adminis-tração Trump.

Ao mesmo tempo, o pró-prio presidente Trump deve enfrentar em 2020 a segunda etapa do processo de impe-chment aberto pelos demo-cratas do congresso. Até o momento sem previsão para ocorrer, o julgamento no se-nado pode afastar o presiden-te do cargo e, caso não ocor-ra na última parte de 2020, minar o sonho republicano de garantir a permanência na casa branca pelos próximos quatro anos.

Já o Oriente Médio difi-cilmente terá um ano está-vel. Esperam-se novos episó-dios de problemáticas entre Irã e ocidente/Israel, insta-bilidade política no Iraque e Sudão, além da presença do ISIS. (G. B.)

FRACASSO NA ONU O encontro anual dos países membros das Nações Unidas visava uma extensa agenda acerca de propor formas mais efetivas de controle climático.

Porém, os anseios do se-cretário-geral da entidade, António Guterres, foram sendo minados conforme os líderes mundiais se pronun-ciavam nos debates. Ao final, o saldo manteve a continui-dade do atual cenário, com países europeus na ponta do leme de controle ambiental e outros, como os Estados Uni-dos, afastando-se mais e mais dos princípios contidos no Acordo de Paris.

IRÃ EM PÉ DE GUERRA

Desde 2018 as relações entre EUA e Irã já vinham se desgastando com a sa-ída americana do acordo nuclear. Em maio de 2019, um navio petroleiro saudi-ta sofreu uma abordagem de supostas forças de segu-rança do iranianas no es-treito de Ormuz.

A narrativa ganhou força quando Donald Trump acu-sou publicamente o Irã de prejudicar o fornecimento global de petróleo, e os dois países estiveram próximos de uma guerra. A diploma-cia venceu. (G. B.)

Mistérios e incertezas que rondam o ano de 2020

Em 2019, a diplomacia se fortaleceu e diminuiu

Brexit: vitória conservadora

América do Sul vive ano turbulentoCrises políticas, manifestações e resultados eleitorais marcam 2019 caótico

Por Gustavo Barreto

O governo de Boris John-son obteve grande vitória na última eleição geral. A conquis-ta conferiu ao Partido Conser-vador 80 assentos (com a por-centagem de votos favoráveis atingindo a marca de 43,6%) no parlamento, adquirindo consequentemente a maioria na Câmara dos Comuns.

Já o desempenho dos tra-balhistas, liderados por Jeremy Corbyn, foi creditado como um dos mais pobres na história re-cente. Tendo vencido a última eleição geral em 2017, o Labour Party perdeu 60 assentos, humil-des 32,1% de votos favoráveis.

A vitória conservadora tam-bém acarreta toda uma nova perspectiva para o projeto do Brexit, cuja execução se mostra-va inviável desde 2016, com a sugestão do plebiscito durante o governo de David Cameron.

O primeiro-ministro Boris Johnson enfatizou que a vitó-ria nas eleições gerais “esmagou um enorme obstáculo” e que tal momento representa “um dia glorioso e um novo amanhecer com um novo governo”.

A expectativa no nº 10 da Downing Street (sede do go-verno) é a de que a renovação do parlamento - que era o prin-cipal empecilho para a execu-ção do Brexit - não interfira na

Por Gustavo Barreto

Chile e Venezuela viram-se frente a frente com o caos social, enquanto as eleições na Argenti-na e Uruguai foram ditadas pe-las crescentes diferenças socioe-conômicas que se propagaram na região nos últimos anos.

Após ter elevado o preço da passagem do metrô para 30 pesos, o governo do presidente Sebastián Piñera enfrentou on-das de protestos que, não se con-tentando em ficar nas palavras, atacaram locais como pontos de ônibus e estações de metrô.

A facilidade de convocação proporcionada pelas redes so-ciais possibilitou a aglomeração de milhões de pessoas e, em res-posta, o governo assinou o esta-do de emergência ao colocar mi-litares nas ruas pela primeira vez desde 1990. Foram onze pessoas mortas e outras 1.462 presas, além de denúncias internacio-nais contra Piñera por violações dos direitos humanos.

A Venezuela enfrentou o segundo ano de crise. O que co-meçou inicialmente como movi-mentos de insatisfação contra o governo de Nicolás Maduro, em 2019 tornou-se um movimento

terferência no poder de compra da população a longo prazo.

Um dos pontos mais alar-deados ainda durante o refe-rendo de 2016 foi a questão da imigração. Ela foi um elemento significativo para mobilizar se-tores da população a votar pela saída do bloco.

Um levantamento reali-zado pela “London School of Economics and Political Science” sobre o impacto do Brexit na migração estabele-ceu que entre 1995 e 2015, o número de imigrantes prove-nientes de países membros da UE vivendo no Reino Unido triplicou, de nove mil para 3,3 milhões. Deles, 44% possuem nível superior, comparados com 23% de ingleses que tam-bém possuem.

Outro elemento de preo-cupação exibida pelo cidadão inglês é o medo de que o fluxo de imigrantes tire oportunida-des de trabalho. Segundo a pes-quisa, os imigrantes consomem bens e serviços que eventual-mente aumentam as oportuni-dades de emprego.

De acordo com o cenário de um acordo amigável, mais pos-sível com o novo parlamento, estabelecido pelo “The Balan-ce”, informa que os três milhões de europeus que já residem no país não serão afetados pela de-cisão dos britânicos.

Lacalle Pou marcou o retorno de um partido de direita ao poder. Ainda assim, a apertada diferen-ça de 37 mil votos entre os candi-datos indica que Lacalle Pou não será figura incontestável.

A Bolívia também não es-capou à sombra de 2019. O polêmico resultado das eleições garantiram um novo mandato a Evo Morales, porém membros do legislativo não reconheceram o resultado. Evo buscou asilo no México e depois Argentina. Com o vácuo de poder, a senadora Jea-nine Añez assumiu o comando.

data final anunciada por John-son para a saída do Reino Uni-do: 31 de janeiro de 2020.

Conforme prometido pelo mandatário, o Reino Unido sairá desse episódio mais forta-lecido e dono de suas políticas econômicas, geográficas e mi-gratórias do que nunca. Mas novas pesquisas ressaltam que a confirmação do Brexit vai acar-retar em graves consequências.

PESO NA ECONOMIAEm pesquisa sobre os efei-

tos que o saída do Brexit pode ter sobre a economia britânica, a OCDE afirma que o fato de ter sido membro da União Eu-ropeia foi extremamente bené-fico para a economia britânica. Segundo a pesquisa, por volta de 2020 o PIB inglês deve apre-sentar um queda de 3%.

Previsões elaboradas por en-comenda do governo em 2018 reconheceram que se o Reino Unido permanecesse na União Europeia, sua economia cresce-ria 1,5% por ano nos próximos quinze anos. Em contrapartida, no cenário do Brexit, a econo-mia britânica ficaria 7,7% me-nor do que em comparação com um cenário de permanência.

Uma outra pesquisa, da “Oxford Economics”, estabele-ce dois cenários: um positivo e outro negativo, em que os im-pactos do Brexit podem causar por volta do ano de 2030.

Em um panorama favorável, o Brexit acarretaria em uma perda não tão pequena no PIB de 0,1%. Por outro lado, um cenário negativo poderia indi-car uma perda de 3,9% do PIB, resultando também em uma in-

de divisão nacional. Ao passo que Maduro anunciava um novo mandato, o presidente da antiga Assembleia Nacional (dissolvida por Maduro), Juan Guaidó, autoproclamou-se presidente interino e decla-rou o atual governo ilegítimo. Mesmo recebendo o reconhe-cimento oficial de diversos países, o fato de haver dois mandatários causou profundas rupturas no país.

Os protestos geraram cho-ques entre as forças de segu-rança e população, resultando

em mortos e feridos. As recla-mações iam desde a crise eco-nômica que assola o país até a defesa do ideal chavista defen-dido por Maduro.

Na Argentina, a vitória do peronista Alberto Fernández sobre o então presidente Mau-ricio Macri ocorreu principal-mente pelo fracasso das políti-cas econômicas do governo em conter o aumento da inflação e da parcela de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.

Já no Uruguai foi o inverso, a ascensão à presidência de Luis

Jessica Taylor/House of Commons

Reprodução

Boris Johnson mostra-se contente com o Parlmaento

Mais de 800 mil manifestantes se reúnem no Centro de Santiago em 25 de outubro

Nada de novo sob o sol britânicoO Brexit não é uma novida-

de para os ingleses. Foi em 5 de junho de 1975 que a relação en-tre o Reino Unido e a Comuni-dade Econômica Europeia (pre-decessora da União Europeia) foi posta em xeque pela primeira vez. Tendo entrado no bloco europeu inicialmente em 1973, o Reino Unido passou por pelo menos dois ensaios fracassados de se juntar à Comunidade Eco-nômica Europeia lá nos anos 60.

Na primeira vez, os ingleses recusaram o convite feito pelo

então primeiro grupo europeu, a Comunidade Europeia do Car-vão e do Aço, ainda em 1952. À época, o primeiro-ministro trabalhista Clement Attlee ex-pressou sua preocupação em entregar a gerência da comba-lida economia britânica do pós guerra nas mãos do novo grupo.

Durante os anos 70, a econo-mia britânica viveu um momen-to completamente à parte do resto do mundo. Enquanto ou-tras nações se viam com graves recessões financeiras, o Reino

Unido vivia o chamado “milagre do emprego”.

Em 1974, a taxa de desem-prego se manteve fixada em 3,8%, mesmo que a inflação média estivesse em 16,04%. A ideia, portanto, de colocar o Reino Unido junto a Comuni-dade Econômica Europeia par-tiria justamente de um governo conservador, em uma compara-ção irônica ao Brexit de 2016, conduzido pelos conservadores, comandado pelo então primei-ro-ministro Edward Heath.

O governo Heath, no entan-to, não duraria muito. Em 1974, assumiria o trabalhista Harold Wilson. A então jovem líder do Partido Conservador, Margaret Thatcher, promoveu campanhas pela permanência do país com o slogan “Keep Britain in Europe”.

Sob discursos de efeitos apo-calípticos que viriam tanto se permanecesse quanto se saísse, o referendo de 1975 terminou por definir a estadia do Reino Uni-do no bloco, com 67% dos votos a favor da permanência. (G. B.)

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8 De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Athletico-PR também brilha

ESPORTES

Um ano em vermelho e pretoConquistas do Brasileiro e da Libertadores confirmam o grande momento do FlamengoPor Ive Ribeiro

O ano de 2019 decretou o fim das “viúvas de 1981”, ou seja, aquela geração inteira de rubro-negros que vivia às sombras das histórias contadas pelos pais e avós sobre o time de Zico e companhia, que con-quistou a América e o Mundo. Agora, as viúvas finalmente puderam viver emoções seme-lhantes, sem intermediários.

O ano começou chaman-do a atenção pelos R$ 137 mi-lhões (números que constam no balancete do clube nos três primeiros meses do ano) in-vestidos em contratações de peso, como Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol e Rodrigo Caio. Investimentos que, se por um lado renovaram a esperança dos torcedores, por outro, au-mentaram ainda mais o medo de mais um ano de muitos re-forços e nenhum título. Para a torcida, a pecha do “cheirinho” precisava acabar.

Isso porque, desde que o clu-be se reestruturou a ponto de reduzir as dividas e aumentar o poder de investimento, processo que começou em 2013 na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo brilhou muito mais administrativamente do que dentro de campo. Até as con-quistas em 2019, nesta “nova era” de reconstrução adminis-trativa e econômica, o clube da Gávea venceu apenas três Cam-peonatos Cariocas e uma Copa do Brasil, acumulando frustra-ções em vices de Copa Sul-ame-ricana e Copa do Brasil, além de ser superado duas vezes (2016 e 2018) pelo Palmeiras na corrida pelo título do Brasileirão.

Já utilizando as planilhas, o resultado foi positivo. A dívida reduziu de R$ 750,7 milhões,

em 2013 (números da auditoria Ernst & Young, contratada pelo próprio clube), para R$ 455 milhões ao fim de 2018. Já o fa-turamento anual, passou de R$ 273 milhões ao fim de 2013 para R$ 538 milhões em 2018. Neste ano, a expectativa é de que o clu-be supere seu maior faturamen-to na história - R$ 620 milhões, em 2017. Segundo o economis-ta Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, há a expectativa de o Flamengo ultrapassar R$ 1 bi-lhão de faturamento.

O desafio de equilibrar su-cesso esportivo com o finan-ceiro sempre foi o principal objetivo do presidente Rodol-fo Landim e sua diretoria, que tomou posse este ano. Mas apesar da conquista do Cam-

peonato Carioca, o ano pare-cia que seria novamente frus-trante para os rubro-negros. O técnico Abel Braga não encantava a torcida, e o clube por pouco não foi novamente eliminado na fase de grupos da Libertadores.

E foi a partir da troca de co-mando técnico que o ano do Flamengo começou a mudar de direção. Com a vinda do portu-guês Jorge Jesus e de novos joga-dores, como Rafinha, Filipe Luís, Gerson e Pablo Marí, a equipe se acertou e começou a jogar um futebol empolgante. Na primei-ra partida no Maracanã - sempre lotado em 2019 -, Jorge Jesus e seus comandados aplicaram uma goleada de 6 a 1 diante do Goiás pelo Campeonato Brasileiro.

garantiram não só a vaga na final, mas a alcunha de me-lhor time do país. O adversá-rio, todavia, era o River Plate (ARG), campeão da compe-tição em 2018, mas com dois gols nos minutos finais, o Fla-mengo dominou a América pela segunda vez. E 23 horas depois o Brasileiro também foi ganho, fechando o final de semana mais importante da história do clube.

Da Libertadores, o mais querido partiu para o Mun-dial de Clubes, em Doha. No fechamento desta edição, já tinha garantido presença na final - e justamente contra o Liverpool, Será que, para ale-gria da torcida, a história vai se repetir?

Entretanto, a eliminação na Copa do Brasil para o Athleti-co-PR e a derrota para o Eme-lec (COL) na Libertadores, minaram mais uma vez a con-fiança dos torcedores em um ano vitorioso. Principalmente na Copa Libertadores, compe-tição que passou a ser sinônimo de vexame dentro da Gávea.

A vitória nos pênaltis, porém, anunciou que os tempos tinham mesmo mudado. E o futebol ofensivo do “Mister” conquistava a cada rodada mais a torcida ru-bro-negra, que entoava a canção relembrando os feitos do time da década de 80, pedindo aos joga-dores de 2019 “o mundo de novo”

Já na Libertadores, as vi-tórias sobre os gaúchos Inter e Grêmio (este por 5 a 0),

O ano foi vermelho e preto em todo o país. Sem o glamour e o inves-timento do Flamengo, o também rubro-negro Athletico-PR teve mais um ano vitorioso, acu-mulando as conquistas do Campeonato Parana-ense e das inéditas Copa Levain (antiga Copa Su-ruga, que reúne o cam-peão da Sulamericana contra o campeão Liga de futebol japonesa) e Copa do Brasil.

O clube paranaense desponta, mais uma vez, como uma das princi-pais equipes brasileiras, fato impensável nos anos 1990, por exemplo.

Estas conquistas e o atual patamar do clube são consequências de um projeto de reestrutu-ração a longo prazo que visa, entre outras coisas, investimento e confian-ça nos jovens revelados na base do clube.

Isso porque o Athle-tico disputa, desde 2013, o campeonato pa-ranaense com uma equi-pe sub-23, fazendo com que os principais joga-dores realizem uma pré--temporada mais longa e adequada às competi-ções mais importanrtes. Além disso, permite o surgimento de jovens promessas que possam ser aproveitadas no elen-co principal. (I. R.)

Flamengo/Divulgação

Ao contrário do Campeonato Brasileiro, conquistado com 16 pontos de vantagem, a Libertadores só veio nos acrescimos, após dois gols de Gabigol

A aprovação do Conselho Deliberativo para o Botafogo ser gerido como clube-empre-sa é o pontapé inicial para uma alternativa às dívidas homéricas causadas por anos de gestões ruins nos clubes brasileiros.

O projeto prevê que o de-partamento de futebol funcio-ne como a Botafogo S/A, sem envolver a parte social do clube. Dessa forma, os investidores vão trabalhar para sanar a dívi-da do Alvinegro, que está cada vez mais próxima do bilhão.

Conseguindo equacionar as dívidas e ir resolvendo essas questões financeiras, a ideia é que o Botafogo possa enfim voltar aos seus tempos de gló-ria, como um dos times mais competitivos e tradicionais do Brasil. Espera-se que o projeto esteja em curso até o meio da próxima temporada.

Já o Bragantino, que agora é controlado pela Red Bull, vem para a Série A do Brasileirão como forte candidato a sensa-ção do campeonato.

APOSTASCom um aporte de até R$

200 milhões de investimento e uma filosofia de contrata-ções fantástica, o time do in-terior paulista vem com tudo para 2020. O primeiro sinal disso são as contratações. Apenas jogadores com poten-cial de crescimento, trazidos com contratos de cinco anos e muito jovens.

Esses dois são os times mo-delo para a possível entrada de empresas na gestão do futebol brasileiro. Vale muito a pena fi-car de olho no desempenho dos dois na temporada 2020, que será histórica. (P. S.)

Clubes-empresas começam a surgir no horizonte de 2020

Vítor Silva/Botafogo

Rafael Ribeiro/Vasco da Gama

Mailson Santana/Fluminense FC

Conselho Deliberativo comemora a aprovação da Botafogo S/A

O apoio do torcedor foi fundamental para o êxito do Vasco no ano

O presidente Mário Bittencourt usou 2019 para resolver dívidas

Por Pedro Sobreiro

Nem o mais otimista tor-cedor do Vasco poderia pre-ver o que seria o ano do clube. Após um 2018 desastroso, em que escapou do rebaixa-mento graças a incompentên-cia dos rivais diretos, o Vasco iniciou 2019 sob comando do técnico Alberto Valentim, que pouco conseguiu fazer com o elenco que, apesar de limitado, estava longe de ser um dos piores.

A conquista da Taça Gua-nabara veio de um lance de bola parada e da ineficácia ofensiva do Fluminense de Fernando Diniz. Mas ali foi o primeiro grande sinal de uma força colossal que viria a ser importantíssima na reta final do Brasileirão: a torcida. Qua-se 30 mil vascaínos, sem a cer-teza de conseguirem entrar no Maracanã - graças a polêmica entre Fluminense, Vasco e Ferj, envolvendo o setor Sul do está-dio - correram até o Maior do Mundo e foram permitidos de adentrar a final apenas no se-gundo tempo de jogo.

Depois de perder as finais da Taça Rio e do Carioca para o Flamengo e praticamente ser eliminado da Copa do Brasil, Valentim foi demiti-do. E enquanto um substi-tuto não era encontrado, o

técnico do Sub-20, Marcos Valadares, assumiu como in-terino, mas não conseguiu dar padrão de jogo.

SURPRESANo Brasileiro, o Vasco

conquistou apenas 2 pontos nos cinco primeiros jogos. Então, o técnico Vanderlei Luxemburgo foi chamado para assumir e logo conquis-tou a torcida, corrigindo erros e barrando o craque do time, o argentino Maxi López, até que ele entrasse em forma. O atacante não gostou e rescindiu o contra-to. Com uso dos meninos da base, incluindo a descoberta da joia Talles Magno, Luxa colocou o time nos trilhos e

classificou o Vasco para a Sul--Americana.

Se o time respondia em campo, a torcida abraçava a ideia fora das quatro linhas. Além de ter lotado as redes sociais com a palavra “Vasco”, levando o time aos trending topics do Twitter, a torcida deu show lotando São Janu-ário, doando dinheiro para o CT e transformando o Vasco no quinto clube com mais só-cios no mundo.

Para 2020, a meta é resol-ver as finanças e torcer para o trabalho de Abel Braga ser me-lhor que suas apagadas passa-gens por Flamengo e Cruzeiro. A torcida do Vasco mostrou que pode seguir apoiando, mas quer resultados.

Torcida abraçou o Vasco em campanha inéditaApoio popular foi o grande reforço do clube em 2019

Foi sofrido até o final, mas o Fluminense conseguiu não apenas escapar do rebaixamen-to, mas também conquistar uma vaga na Copa Sul-Americana. Se dentro de campo os resultados foram ruins, fora dele a direto-ria, eleita e empossada no meio do ano, resolveu buscar formas de resolver os conhecidos pro-blemas financeiros do clube. Em menos de seis meses, a gestão de Mário Bittencourt pagou cerca de R$ 77 milhões de salários atrasados e dívidas.

Além disso, a diretoria fe-chou com a inglesa Umbro para fornecer material esportivo na próxima temporada e o projeto de reforma do histórico estádio das Laranjeiras, para eventos e jogos de pequeno porte, está cada vez mais próxima. Outro projeto é chegar aos cem mil sócios no próximo ano e inves-tir esse dinheiro na melhoria do CT Carlos Castilho e levar toda a estrutura do futebol para a Barra da Tijuca. (P. S.)

Tempo para arrumar casa no Fluminense

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Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020 - Nº 23.451

EDIÇÃO ESPECIAL DE FIM DE ANO

PERSPECTIVA

RETROSPECTIVA

2020

2019Um balanço do que melhor se produziu em cinema, teatro, música, literatura e artes plásticas - e um panorama do que podemos esperar para o ano e a nova década

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32.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

POUCAS PALAVRAS * POR CARLOS MONTEIRO (FOTOS E TEXTOS)

Um novo dia desponta na Cidade Maravilhosa. Os primeiros raios do astro rei, os primeiros brilhos por entre as nuvens, o primeiro canto do sabiá-

laranjeira, do bem-te-vi e das maritacas espalhafatosas, pássaro da manhã. Sonolenta, desperta em luz, lembra do mestre Nelson Cavaquinho: “O sol há de brilhar mais uma vez...”. Preguicenta espera a primeira fornada, o jornal e suas manchetes. Os automóveis começam a disputar espaço, em frenesi, pelas ruas. Homens, mulheres e crianças, num vai e vem apressado, se adiantam em seus afazeres – escola, academia, caminhada, pedalada – e assim caminha, ou quem sabe corre, mais um dia...

Nas praias começam a chegar os primeiros banhistas, e “Olha o Biscoito Globo salgado e doce”, “Ó o mate, ó limonada gelada!”,

“Sanduíííííííícheeeeeeee naaaaaaaturaaaaaaaal!”. Tem coalho na brasa, tem biquíni, tem bronzeador nessa babel democrática que é a praia carioca. Copacabana, Ipanema, Leblon até o Pontal, já disse o rei do swing, Tim Maia: “...Não há nada igual!”. O Rio é assim singular em sua pluralidade, ímpar com seus pares. Um Rio de janeiro a janeiro, fevereiro, março... Eu rio porque sou do Rio.

“Volta do mar ar, desmaia o

sol/E o barquinho a deslizar...”, Menescal e Bôscoli, naquela inspiração típica dos cariocas, contam, cantam, encantam em verso o início da tarde e... “A tarde cai, o barquinho vai”, os aviões e helicópteros de carreira, aeronaves do porvir, se recolhem, o vendedor, os turistas, uma última selfie diante de imensa beleza. A noite chega e, com ela, os carros, ainda em frenesi, retornam aos seus lares, exaustos, bravos guerreiros

A Garota de Ipanema, Os Inocentes do Leblon, o Menino do Rio. Esta cidade, um misto de Vininha e Drummond, caetana e embala a

noite em canções de ninar e, já na alta madrugada, depois do deleite de encantos mil, o poeta retorna com seu violão, o boêmio, já cansado em tantas serenatas, volta, a bailarina já dorme, abraçada às sapatilhas, e o funcionário acorda para mais um pão nosso de cada dia. O Rio flui, o Rio amanhece. É outro dia. “O sol há de brilhar mais uma vez...”

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4 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

A despedida de Star WarsA saga que mudou a história do entretenimento chega ao fim em 2019Por João V. Ferreira e Pedro Sobreiro

O final de uma trilogia “Star Wars” é sempre um mar-co geracional. As pessoas que hoje se despedem de Rey, Finn & amigos já passou pelo adeus a Luke, Han, Leia e muitos ou-tros personagens fantásticos que revolucionaram a história do cinema. Tudo por conta da saga começada há 42 anos pelo visionário George Lucas.

Nerd e fanático por ficção científica, George começou nos cinemas com o apoio do grande amigo Steven Spiel-berg, que já era famoso por “Tubarão”. A ideia era criar seu próprio universo de fantasia espacial.

Porém, como todo aspiran-te a cineasta, faltava dinheiro. Lucas, então, entra da forma mais indie possível, confiando na história e usando a pouca verba como incentivo para a criatividade. O filme teve uma produção sofrida e demorada, perdendo o prazo de lança-mento - no Natal de 1976 -, que foi remarcado para 4 maio de 1977, data que está gravada na história da cultura pop.

Apesar do baixo orçamen-to, o filme apresentava efei-tos especiais revolucionários, o tema antológico de John Williams e uma mixagem de som perfeita. Com isso, o su-cesso foi instantâneo, mesmo sendo lançado em pouquíssi-mas salas dos EUA.

A modesta verba de US$

11 milhões gerou um retorno de US$ 775,5 milhões, equi-valente a US$ 2 bilhões na inflação atual. Valor esse im-pensável para um filme inde-pendente. Assim, os padrões do que é um “Blockbuster” foram redefinidos.

Outra cartada de mestre de George Lucas foi saber como lucrar em cima da paixão dos fãs. Ele foi o primeiro a lançar linhas de produtos licenciados do filme. A estratégia de venda de bonecos, camisas, canecas e tudo relacionado a Star Wars rendeu um verdadeiro império financeiro para ele, que lucra

com isso até os dias de hoje.Star Wars foi revolucioná-

rio ao lançar uma trama sim-ples e de fácil identificação. Saiu o herói fortão dos filmes de ação e entrou o adolescente magrinho e inseguro.

Estruturados pela clássica “Jornada do Herói”, que ditou os rumos de todas as trilogias da saga, os três filmes originais inseriram na trama analogias geniais a assuntos polêmicos na sociedade, como a fé, o dil-mea do jovem, o embate entre a tirania das ditaduras e a re-volta democrática.

A segunda trilogia resolveu

Reprodução

Os filmes envolvendo as tramas dos lendários Han Solo, Leia, Luke e Chewbacca levaram milhões de fãs à loucura ao longo dos últimos 42 anos

O Imperador Palpatine volta para o episódio IX após seu fim misterioso

C I N E M A

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52.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

contar a história da transfor-mação de Anakin Skywalker, pai de Luke e Leia, em Darth Vader. Ela foi muito importan-te para a evolução dos efeitos especiais, já que foi quase toda gravada em estúdio, consoli-dando o Chroma Key e o CGI como ferramentas essenciais na magia do entretenimento.

Além do mais, ela assumiu um viés político ainda mais forte ao abordar a ascensão de um império ditatorial coman-dado pelo Imperador Palpati-ne. Os conceitos de ódio, da raiva e do medo fortalecerem o mal; no outro lado, a paciên-

cia, o foco e a coragem eram a base do lado da luz. Esse jogo moldou a vida de milhões de pessoas pelo mundo.

Com a nova trilogia, agora comandada pela Disney, hou-ve um resgate da inocência dos filmes originais, trazendo um ar esperançoso e jovial para a nova geração. A expectativa de um novo Star Wars fez “O Des-pertar da Força” passar de U$ 2 bilhões em bilheteria pelo mundo e aqueceu o coração dos fãs. O episódio VIII - “Os Últimos Jedi - foi controverso ao tentar quebrar paradigmas de que não há ninguém 100%

Disney/ Divulgação

‘A Ascensão Skywalker’ marca a última aparição de Carrie Fisher nos cinemas. A atriz faleceu em 2016

Os protagonistas da nova franquia se despedem após quatro anos e três filmes que dividiram os fãs

O fim da saga dos Skywalker vai emocionar fãs de todas as idades

bom ou mau na galáxia. O público não respondeu bem a isso, então a Disney colocou o diretor do Ep. VII, J.J. Abrams, para encerrar a trilogia.

A expectativa para “A As-censão Skywalker” é que encer-re a trajetória de personagens amados - e odiados - de forma honrada. É um último adeus para ícones de milhões de in-fâncias pelo mundo. E mesmo que seja o fim dos Skywalker, os fãs podem ficar tranquilos, porque Star Wars é algo que nunca terminará. Enquanto os fãs seguirem apoiando, a fran-quia será eterna.

CRÍTICA/A ASCENSÃO SKYWALKER

Por Pedro Sobreiro

Após dois filmes que dividiram opiniões, a nova trilogia de Star Wars che-ga ao fim para encerrar não apenas o arco de Rey, Finn e Poe, mas também da família mais famosa da galáxia, os Skywalker.

Para conduzir essa aven-tura final, o diretor do pri-meiro capítulo dessa trama moderna, “Star Wars: O Despertar da Força” foi chamado. Dessa forma, J.J. Abrams teve a dura missão de concluir as sagas depois das escolhas de Rian John-son, que comandou o episó-dio VIII.

J.J. Abrams deu preferên-cia por escolhas de seguran-ça e deixou de lado cerca de 90% dos conceitos introdu-zidos por Rian no filme an-terior, dando a sensação de que “A Ascensão Skywalker”

é uma sequência direta de “O Despertar da Força”,

O elenco continua dando seu máximo. Daisy Ridley é perfeita, mostrando muita garra e emoção enquanto busca a verdade sobre seus pais. Adam Driver mostra muitas camadas no confuso Kylo Ren. E o Finn de John Boyega enfim se consagra como herói de guerra.

A General Leia, por sua vez, aparece pouco, mas é fundamental na trama.Sua participação foi feita apro-veitando-se materiais des-cartados do primeiro filme, já que Carrie Fisher faleceu em 2016. E há algumas par-ticipações surpresas.

O roteiro é previsível, mas a execução é linda e honra o legado da saga nos cinemas. O final perfeito para os personagens mais amados do mundo.

Nota: 9

O final perfeito para os Skywalker

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6 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

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72.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

C I N E M A

Entre alegorias, fórmulas de gênero e muita coragem, o cine-ma coroou as novas vozes do fe-minino e do movimento negro, dando a filões desgastados pelo politicamente correto, como os filmes de ação, uma injeção de ânimo. Confira, a seguir, dez filmes que tornaram este um ano de caminhos abertos para a linguagem cinematográfica.

Era uma vez em Hollywood, de Quentin Ta-rantino: Chama-se “metanar-rativa” o exercício de se usar o próprio audiovisual como se fosse o referencial factual da História, o que dá a um diretor a chance (e a liberdade) de re-escrever o Passado a seu gosto. Só que nenhum cineasta faz isso de modo mais poético (e visualmente possante) do que o realizador de “Pulp Fiction”.

Alfazema, de Sabrina Fidal-go: Todo ano, um curta-metra-gem fura a bolha dos holofotes restritos a longas e filmes feitos para streaming e se impõe por sua estrutura estética ou seu combativismo político. O novo curta da realizadora de “Rai-nha” deu um banho de confete, de axé, de afirmação racial ne-gra e de empoderamento femi-

Oscar em excelência visualNa era do streaming, cinema coroou grandes autores e revelou talentos

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Baby Yoda, o erê da franquia “Star Wars” que pode, à luz da Força Jedi, fazer o recém-chegado Dis-ney+ virar o rival n. 1 da Netflix, aplaudiria a potên-cia plástica que marcou o cinema mundial em todos os cantos do mundo, referendando mestres e revelan-do novos talentos. Nada do que se viu em 2019 nas telas chega aos pés da força trágica de “O Irlandês”

(“The Irishman”), mais silencioso e ruminante dos longas-metragens de Martin Scorsese, que marcou a retomada de sua dobradinha com Robert De Niro, estagnada desde “Cassino” (1995).

No papel do assassino Frank Sheeran, que alega ter matado o sindicalista Jimmy Hoffa (papel dado a Al Pacino), De Niro espanou a poeira da repetição

que se depositava, há anos, sobre seus ombros. Em paralelo, o Brasil fez um de seus melhores filmes

desta e de muitas décadas: “Bacurau”, que deixou Cannes com o Prêmio do Júri. Kleber Mendonça Filho dirigiu em parceria com Juliano Dornelles este “nordestern” que escancarou o atual medievalismo nacional - e nossa sub-serviência aos EUA de Trump - para o mundo.

nino por onde passou. Retrato de uma jovem em

chamas, de Céline Sciamma: O prêmio de melhor roteiro em Cannes e a Queer Palm (a láurea LGBTQ+ da Croiset-te) foram reconhecimentos obrigatórios diante da exce-lência de dramaturgia deste ensaio sobre a sororidade.

A vida invisível, de Karim Aïnouz: Ao atribuir o Prix Un Certain Regard de Cannes a esta plasticamente fervorosa

adaptação do livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, a diretora libanesa Nadine La-baki deu um presente de ouro ao Brasil e à tradição do melo-drama. Em seu trabalho mais maduro, celebra o gênero e o poder sagrado da fraternida-de, de carona na saga de duas irmãs que se amam acima de qualquer sexismo.

Parasita, de Bong Joon--Ho: Palma de Ouro do ano, esta comédia torta é o mais

agudo retrato da peleja de clas-ses neste mundo de lacrações.

Coringa, de Todd Phillips: Há eras o Leão de Ouro do Fes-tival de Veneza não cravava suas garras em um filme tão necessá-rio, que simboliza toda a força estética (e ética) dos longas baseados em HQ. Em uma atu-ação desconjuntante, Joaquin Phoenix dá vida ao palhaço do crime de Gotham City, ex-plorando o quanto a sociedade pode suicidar uma psiquê.

Vitalina Varela, de Pedro Costa: Um dos diretores mais admirados do planisfério ci-néfilo na atualidade, o diretor português que deu voz à popu-lação negra imigrante de Cabo Verde que foi invisibilizada pelo Estado em Lisboa chega aqui a seu apogeu plástico.  

John Wick 3: Parabellum, de Chad Stahelsk: Em meio às comemorações dos 20 anos de “Matrix”, Keanu Reeves não apenas consolidou o prestígio popular de mais um persona-gem icônico - antes, ele era “o” Neo - como ganhou uma fama quase messiânica por seus tra-balhos humanitários e sua ge-nerosidade.

Graças a Deus, de Fran-çois Ozon: Visto por 700 mil pagantes em sua França de origem, o filme mais político (e mais bem urdido formal-mente) do diretor de “Den-tro da Casa” (2012) saiu de Berlim com um merecido Grande Prêmio do Júri, por sua ousadia. Campeão de bi-lheteria no cinema europeu, o diretor francês escancara a negligência da Igreja com os crimes sexuais de padres que abusam de crianças.

Divulgação

“Bacurau”, o nordestern de Kleber Mendonça Filho, escancarou a subserviência da elite brasileira aos EUA

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8 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

A N I M A Ç Ã O

Por Pedro Sobreiro

Previsto para chegar ao Brasil em 5 de março, o mais novo filme da Disney-Pixar é uma aventura fantasiosa sobre a passagem da adolescência para a vida adulta, tendo como base as experiências de infân-cia do diretor Dan Scanlon, que perdeu o próprio pai com apenas um ano de idade.

Ambientado em um uni-

verso alternativo em que as criaturas mágicas povoam o planeta, os irmãos Ian e Barley Lightfoot vivem como ado-lescentes normais – dentro do conceito de normal desse universo – que vivem seus dias com sua mãe, Laurel, e estão prestes a ter que conviver com o novo namorado dela, um centauro policial. Tudo muda, porém, quando ela entrega para os filhos um presente que

o pai deixou para eles antes de morrer: um cajado mágico com um feitiço para trazê-lo de volta a vida por um dia. Só que as coisas dão errado e eles acabam trazendo apenas as pernas do pai de volta. Então, juntos, os dois irmãos saem em uma jornada fantástica para conseguirem trazer a parte de cima do pai antes que o perío-do de 24 horas acabe.

Em seu painel na CCXP19,

o diretor Dan Scanlon mos-trou cenas inéditas para o público e comentou sobre as escolhas do filme, como a rela-ção dele com os personagens e como foi a escolha de elenco.

Se a dinâmica entre os ir-mãos é incrível, muito disso vem da própria vida do diretor, que teve a ideia de fazer o fil-me após ver umas fotos de sua infância e ouvir a voz do pai, que faleceu quando ele tinha

um ano de vida, pela primeira vez em um áudio, no qual ele falava “oi” e “tchau”. Era uma expectativa muito grande para algo simples, pela metade.

Sobre o elenco, Dan es-calou o ator Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia”, para dar vida ao irmão mais velho saudosista e bobão, Barley Li-ghtfoot. Ele contou que Chris realmente incorporou o perso-nagem de irmãozão passou o

‘Dois Irmãos’: uma jornada mágica sobre o crescimento Próximo filme da Pixar se inspira no universo do RPG para contar uma história sobre família

Disney/Divulgação

Tom Holland e Chris Pratt dão voz aos protagonistas do mais novo filme da Disney - Pixar, que promete misturar drama com comédia e fantasia em um longa espetacular de animação

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92.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Por Pedro Sobreiro

Seis anos após o sucesso estrondoso de seu antecessor, Frozen II chega aos cinemas brasileiros com a promessa de conquistar a criançada mais uma vez e emplacar suas músi-cas nas principais rádios do país. Lá fora, o filme estreou em no-vembro e a bilheteria mundial já passa a casa do bilhão de dólares.

O 58º filme animado da Disney já se provou um fe-nômeno no exterior e agora vem para o Brasil com a mis-são de ser ainda mais popular que “Frozen – Uma Aventu-ra Congelante”. O antecessor entrou na cabeça de crianças e adultos como há muito tempo um filme com prin-cesas não fazia. Além, claro, da música chiclete “Let it Go/ Livre Estou”, que deu

pesadelos em muitos pais ao redor do país.

A sequência evolui de for-ma competente tudo que foi visto no original. A rainha Elsa (Idina Menzel) está aprenden-do a governar Arendelle, mas tudo muda quando ela passa a ouvir uma voz e tem que esco-lher entre seguir sua intuição ou ignorá-la e continuar gover-nando como se não houvesse nada. Junto a ela, a irmã Anna (Kristen Bell) está aprovei-tando as belezas de ter o reino aberto de novo, enquanto seu namorado, Kristoff (Jonathan Groff ) vive as incertezas de pe-dir sua amada em casamento.

A vontade de evoluir o filme é tão grande que até mesmo a can-ção “Let It Go” ganha uma conti-nuação, chamada “Into The Unk-nown”, que deve ficar na mente dos pequenos por um bom tem-

po. Porém, mais uma vez, o gran-de destaque do filme é o boneco de neve Olaf (Josh Gad, dublado no Brasil pelo comediante Fábio Porchat). Ele tem as melhores piadas e falas geniais. Em seu retorno às telonas, Olaf está ten-tando entender o mundo ao seu redor e a sua própria existência. É um personagem fantástico e explorado de uma maneira que não o faz parecer forçado. Bola dentro da Disney.

Apesar de ter bons per-sonagens, o filme acaba se perdendo um pouquinho no segundo ato e dá um certo can-saço, mesmo tendo apenas 103 minutos de duração. Não che-ga a ser melhor que o original, mas é uma continuação digna com mais aventura, mais ação e mais reviravoltas. É como dizem: às vezes, menos é mais.

Nota: 7

tempo todo fazendo graça, mas sempre disposto a aju-dar seu “irmão” de tela, Tom Holland. Vale lembrar que Chris Pratt já tinha bastante experiência nas animações por conta da franquia “Uma Aventura Lego”, na qual ele é o protagonista.

Falando em Tom Holland, o atual Homem Aranha dos cinemas, Dan Scanlon falou que o jovem ator britânico era a “esco-lha óbvia para o papel”. Ele definiu Ian Lightfoot como um adolescente atrapalhado, inseguro, mas fofo. E Tom Holland faz esse tipo como ninguém.

O visual é diferen-te de tudo que a Pixar fez até agora. A cidade New Mushroomton foi toda ima-ginada com a perspectiva de ser funcional para criaturas mágicas, sem perder a o ar

de cidade grande. E o filme brinca com vários paradig-mas desse universo, como os unicórnios, que são fo-fos na concepção humana, mas, nesse universo, são uma espécie que deixou de es-tar ameaçada de extinção e passaram a “ser vistos como guaxinins”, revirando lixo e comendo porcarias nas ruas.

A trama é toda baseada nas “quests” do fenômeno mundial de RPG, “Dunge-ons & Dragons”. Ou seja, é uma ótima pedida para os fãs do jogo. Mas também deve conquistar àqueles que não estão familiarizados com os tabuleiros.

Tudo isso com o primor das animações digitais da Pixar. O filme é a principal aposta do estúdio para a res-saca do carnaval e já surge como favorito ao Oscar de Melhor Animação em 2021.

C R Í T I C A F I L M E / F R O Z E N I I

Mais épico, mas não tão bom quanto o original

Reprodução

Disney/Divulgação

Anna e Elsa retornam para uma aventura rumo a uma floresta mágica que esconde segredo sobre Arendelle

A dupla de ‘Vingadores: Guerra Infinita’ se reúne em ‘Dois Irmãos’

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10 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

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Tempos interessantes e abertos à energia criativa

Hoje, em todo o plane-ta vivemos um perí-odo de turbulência e

incerteza pois, na verdade não sabemos bem para onde esta-mos indo. A revolução digital ocasionou uma mudança irre-versível da sociedade, desorga-nizando profissões e relações, e, naturalmente, as artes plásticas não escaparam impunes. Basta lembrar o lema escolhido para a Bienal de Veneza de 2019: “May you live in interesting times” (Que você viva em tempos inte-ressantes), expressão inglesa que evoca tempos desafiadores.

No Brasil a incerteza global foi acrescida de uma profunda crise econômica, que já perdu-ra há alguns anos, sucedida por uma dramática transformação de estruturas que pareciam oferecer alguma segurança aos produtores culturais, como a Lei de Incentivo à Cultura, o

pelos centros culturais e pelo mercado de arte.

Driblando as dificulda-des os museus cada vez mais se organizam em torno de eixos curatoriais elaborados por equi-pes próprias, garantindo uma programação consistente que contempla exposições temporá-rias de artistas significativos, re-leituras de acervo e outras ações. No Rio de Janeiro é o caso do MAM-RJ e do MAR, em São Paulo, do Masp e da Pinacote-ca, assim como a Fundação Ibe-rê Camargo em Porto Alegre, o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, o Museu de Arte Mo-derna, em Salvador, entre outros.

Ministério da Cultura e o Insti-tuto Brasileiro de Museus. Além disso assistimos a constantes ar-bitrariedades, como o descaso com o MAR- Museu de Arte do Rio ou a demissão do diretor da EAV do Parque Lage, entre muitas e muitas outras.

Dentro desse quadro as pers-pectivas para as artes plásticas em 2020 não parecem exata-mente brilhantes, mas é preciso ter em mente que mudanças positivas existem e que, apesar de tudo, elas estão em curso em todo o Brasil. De maneira gené-rica podemos dizer que o circui-to de arte é hoje composto por um tripé formado pelos museus,

Podemos incluir dentro desse mesmo contexto as Bienais de São Paulo, Curitiba e Mercosul, hoje curadas por profissionais brasileiros e estrangeiros.

Os centros culturais, sem o compromisso de manuten-ção de acervo e até agora mais voltados para a obtenção de grandes sucessos de público, especialmente com mostras internacionais, se viram pro-porcionalmente mais abalados com a situação financeira do país. Alguns fecharam, como o Centro Cultural da Caixa, no Rio de Janeiro, outros aboliram patrocínios, adotando a cessão de espaço como norma, caso do Centro Cultural Correios, e outros ainda, como o CCBB investindo mais em nomes bra-sileiros, diante da cotação proi-bitiva do dólar.

O mercado de arte também mudou radicalmente, sobretu-do com o crescimento das feiras de arte, e, para enfrentar a crise econômica do país, as galerias de arte brasileiras encontraram a saída no aeroporto. Elas agora participam anualmente de feiras internacionais como a Art Ba-sel, e o volume de exportações de arte contemporânea brasilei-ra aumentou exponencialmen-te, levando inclusive, em alguns casos à instalação de um posto avançado no exterior.

Assim, se a expressão “tem-pos interessantes” evoca a ideia de tempos ameaçadores, de peri-go e incerteza; eles também são de fato “interessantes”, abertos à energia criativa e a oportunida-des, que podem surgir inespera-damente, de formas inovadoras.

Denise MattarCuradora e crítica de arte

Reprodução

É preciso ter em mente que mudanças positivas existem e que, apesar de tudo, elas estão em curso em todo o Brasil”.

A R T E S P L Á S T I C A S

As melhores exposições de 2019Por Affonso Nunes

Apesar de todo o cenário de incertezas no âmbito da cultura, o ano de 2019 proporcionou ao público algumas exposições me-moráveis. Numa breve lista dos principais eventos promovidos nas principais capitais brasileiras, vale destacar no Rio “O ano de Carlos Vergara – Prospectiva”, em cartaz no Museu de Arte Moderna; “Egito antigo: do co-tidiano à eternidade”, que vem levando milhares de pessoas ao Centro Cultural Banco do Bra-

sil; “Maxwell Alexandre - Pardo é Papel”, que pode ser vista até março no Museu de Arte do Rio.

Outra exposição que mere-ceu destaque na programação do ano que se encerra é a mostra do artista plástico Glauco Ro-drigues, na Danielian Galeria. A criatividades de artistas bra-sileiros no campo da produção iconográfica pôde ser conferida em “Duplo olhar – pintura e fo-tografia modernas brasileiras”, na Casa Roberto Marinho.

Em São Paulo, entre as mos-tras que merecem menção estão

“Rosana Paulino - A costura da memória”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo; “Entre-vendo Cildo Meireles”, no Sesc Pompéia; “Tarsila Popular”, no Museu de Arte de São Paulo; e “Tony Cragg”, no Museu Brasi-leiro da Escultura.

No circuito nordestino, o grande destaque foi “Adriana Va-rejão - por uma retórica canibal”, que esteve nos Museus de Arte Moderna de Salvador e de Reci-fe. No Sul, destaque para “Wes-ley Duke Lee”, na Fundação Ibe-rê Camargo, em Porto Alegre.

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112.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

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12 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

L I V R O S

F I C Ç Ã O

O irlandês Oscar Wil-de é leitura o b r i g a t ó -ria (1854-1900). É um grande observador

do cotidiano, com a prosa pe-culiar, temas polêmicos e inte-ligência lá no alto. Daí o peso desta bela caixa da Editora Nova Fronteira. Além de “O retrato de Dorian Gray”, seu únicos romance, o box traz três peças geniais e uma seleção de seus contos. Vale quanto pesa.

Entre tan-tas obras geniais, o arg entino Julio Cor-tázar (1914-1984) criou um livro

que pode ser lido de inúmeras maneiras. Além, naturalmente, de ler na sequência correta, você pode começar pelo capítulo 1, pular pro 15, saltar para o 120, voltar para o 42... e assim vai. É um trabalho engenhoso de um dos grandes mestres latino-ame-ricanos da literatura.

Sérgio Ro-drigues tem coleciona-do prêmios com seus livros. Nos contos de “A visita

de João Gilberto aos Novos Baianos”, Sérgio mostra no-vamente sua habilidade em inventar novas possibilidades de existência sem se distanciar do real. Nem tudo, afinal, deve ser obrigatoriamente igual ao que realmente existiu. Com-pliquei? Então leia.

J o s e p h C o n r a d teve uma vida agita-da. Nasceu na Polônia então ocu-pada pela

Rússia, teve o pai condenado a trabalhos forçados na Sibé-ria, começou sua vida de mari-nheiro aos 17 anos, e por aí foi. Essas experiências certamente o ajudaram a criar um estilo forte com histórias densas e irresistíveis. A edição, da Edi-tora Ubu, é um luxo.

Tem algo na água que o Chico Bu-arque bebe. Só isso ex-plica como consegue se expressar tão

bem tanto na música quanto a literatura. Não é sempre que isso acontece as almas criativas. Com “Essa gente”, Chico apro-veita seu espírito crítico afiado e o talento com as letrinhas para fazer um retrato nada otimista sobre os dias de hoje. Dá vonta-de de sair correndo do país.

Por Nelson VasconcelosEspecial para Correio da Manhã

Quem compra livros acre-dita piamente que também está comprando o tempo ne-cessário para ler tudo o que gostaria. Pena, mas não é bem isso o que acontece. Em geral, as pilhas de livros crescem sem piedade - para desespero do leitor e a alegria das traças e da poeira (pois livro junta poeira, segundo dizem). Mas qual lei-tor fica realmente preocupado com isso?

Certo é o seguinte: vamos ler para não emburrecer, para não ficar por fora, para crescer, para compartillhar. Como o tempo de todos está cada vez mais curto, é bom pegar dicas de leitura com alguém que tem dedicado sua vida a ler um pou-co de quase tudo. No caso, eu.

Letras para todos os gostosAno difícil para o mercado editorial. Sobram obras de mimimi, mas algo sempre se salva

Eis, então, vinte títulos que fizeram minha cabeça ao lon-go de 2019. São dez de ficção, dez de não-ficção, com pena de deixar muita coisa boa fora da lista. Alguns são relança-mentos bem-vindos, como “O jogo da amarelinha”, que estava

fora das prateleiras há tempos - o que era um pecado. Outros títulos estão aqui pela bela edi-ção, como no caso de “Cora-ção das trevas”, ou porque fo-ram lançados este ano.

Como em toda lista, esta aqui fica meio perneta. Haverá

alguém, por exemplo, critican-do a falta dos manifestos femi-nistas e de outros segmentos que têm inundado as livrarias. São todos muito semelhantes, então é difícil identificar al-gum que tenha se sobressaído. Tudo vira mercado, afinal.

Alguém sentirá falta de romances policiais, ou de in-dicações infantis. Não dá para contemplar todo mundo.

Também deixei de fora al-guns livros que já mereceram destaque aqui no CORREIO. É o caso do “Metrópole à bei-ra-mar”, do nosso colunista Ruy Castro. Lançado há me-nos de um mês, o livro sobre o Rio dos anos 1920 já se tornou um clássico - e obrigatório.

Importa é que, sendo lis-ta pessoal porém transferível, você acredite que poderá ficar horas e horas para mergulhar em todas essas obras. E talvez até atravesse o ano inteiro fa-zendo isso - que foi, de certa foma, o que aconteceu co-migo. Foi bom porque, neste momento tão difícil para todo mundo, o ano acabou passan-do bem rapidamente.

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132.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

N Ã O F I C Ç Ã O

Ana Paula Maia é pro-vavelmente a melhor escri-tora brasilei-ra em ativida-de. Costumo dizer que ela

escreve com faca nos dentes, com garra, sem mimimi. Seus personagens são tão brutais quanto verdadeiros, com tra-mas nada impossíveis neste país... brutal. Qualquer livro dela merece sua atenção. Não é à toa que Ana Paula ganha espaço no mundo do cinema.

Raul Seixas (1945-1989) c o n s t r u i u umas das mais mar-cantes obras da MPB. Cronista de-

veras sagaz a respeito das nos-sas crises cotidianas, pregava a existência de uma sociedade al-ternativa, onde poderíamos ser mais felizes. Nos anos 60 e 70, isso tudo era coisa de maluco. E ainda é. Esta biografia é um trabalho digno da grandeza do Raul. A gente se diverte.

O português Fernando Pes-soa é muito querido por aqui, mas es-p e cia lmente pela sua poesia e por seus he-

terônimos. Só que ele escrevia compulsivamente, sobre qual-quer coisa que aparecesse, e tem também vasta produção em prosa. Este box da Nova Fronteira, “Percurso em pro-sa”, apresenta parte dessa obra desconhecida, que serve como inspiração para novas viagens.

Jared Dia-mond é autor do b e st- s e l l er “Armas, ger-mes e aço”. Agora, mos-tra que as

nações só conseguem se desen-volver se passarem por um in-tenso processo de autocrítica e, claro, determinação para to-car adiante. Diamond parte de exemplos reais de países como EUA, Finlândia, Japão e Indo-nésia, entre outros. Melhor de tudo: nada é delírio.

L i n d s e y Fitzharris é doutora em história da ciência. Ela traz aqui a b i o g r a f i a do médico

inglês Joseph Lister (1827-1912), que revolucionou a medicina numa época em que mal havia anestesia ou assepsia decente. Os cirurgiões eram bárbaros - ou quase isso. É um livro muito enriquecedor, mas não é para os fracos, porque tem muito sangue.

H e r m a n n H e s s e ( 1 8 7 7 -1962) ga-nhou Nobel de Literatu-ra em 1946 e continua

sendo uma ótima leitura para quem gosta de repensar na vida, de vez em quando. Em “Sidarta”, que ganha agora bela edição em capa dura, Hesse se baseia na história de Buda para criar a história de um “sujeito” em busca de autoconhecimen-to e da felicidade. Imperdível.

Você já re-parou que as cidades mais anti-gas sempre têm uma p r a c i n h a com uma

igreja, ou não? É um costume antigo - que, segundo o histo-riador escocês Niall Ferguson, simboliza a ascendência da re-ligião sobre o mercado. Não é poesia. É um ensaio fascinante sobre a civilização, assinado por um dos historiadores mais respeitados na Europa.

O filósofo Fr i e d r i c h Nietzsche ( 1 8 4 4 -1900) não tem sosse-go. Ainda bem, por-

que sua obra é, de fato, revo-lucionária – e tem tudo a ver com sua vida, aqui apresentada brilhantemente por uma bi-ógrafa experiente. Ela mostra como a obra do Nietzsche está profundamente ligada às suas experiências pessoais. Texto fluido, sem complicação.

A edito-ra Todavia acertou em cheio quan-do comprou os direitos de p u b l i c a ç ã o da polonesa

Olga Tokarczuk para o Bra-sil. Em novembro, ela acabou recebendo o Prêmio Nobel de Literatura. Coisa fina. “Sobre os ossos dos mortos” consegue ser profundo, bem-humora-do e medonho. A gente ri de nervoso... Só conferindo. Vale cada página.

Fascinante. Peter Frank- opan conta com muito talento e pro-fundidade a história da região co-

nhecida por ser um barril de pólvora em permanente agi-tação. Das conquistas de Ale-xandre às cruzadas, passando pelas duas grandes guerras e desaguando na atual disputa pelo petróleo, o livro é uma baita aula de história, geopolí-tica e vida real.

O ator Pe-dro Cardo-so, aquele que ficou fa-moso viven-do o taxista Ag ostin ho Carrara, da

saudosa “A grande família”, mostra-se um talentoso ani-mador de plateias virtuais. Neste livro, reproduz posts e comentários que publicou em suas redes sociais - sempre batendo de frente com o con-servadorismo mais idiota e o fascismo que ronda o país.

Numa bela jogada, a In-trínseca está republicando parte da obra do Kurt Von-negut (1922-2007). Pri-

sioneiro na Alemanha durante a Segunda Guerra, tornou-se um escritor libertário, com influência sobre a juventude americana dos anos 60. Em “Matadouro cinco”, passeia en-tre a ficção e sua própria histó-ria para mostrar os horrores da guerra. E não falta humor.

Um dos li-vros mais in-teligentes do ano. Ganha a gente ao abrir um mundo tão gigante quanto des-

conhecido. Stefano Mancu-so apresenta as plantas como seres capazes de aprender e se comunicar, o que explica sua resistência a mudanças am-bientais e sua longevidade. Mais que isso, mostra como elas podem mudar o futuro deste planeta tão burro.

Laurentino Gomes é um jornalis-ta brasilei-ro que fez seu nome assinando alguns dos

melhores livros de história do país. Sua prosa clara e a apura-ção rigorosa são responsáveis pelo sucesso de seus títulos. Aqui, Laurentino vai fundo na história insana da escravidão, que provocou e ainda provoca dores e distorções sociais e po-líticas no Brasil. Obrigatório.

Émile Ajar é pseudônimo de Romain Gary, herói da resistên-cia francesa, diplomata e mulherengo

que virou referência nos anos 1950 e 1960. Aqui, conta a vida de um garoto árabe aco-lhido por uma ex-prostituta na Paris pós-guerra. A história é surpreendente. Tanto que So-phia Loren até suspendeu as férias para filmar nova adapta-ção do romance para o cinema.

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14 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

A reunião do grupo forma-do por ex-alunas do Colégio Santa Úrsula teve um sabor especial neste fim de ano. No encontro, cada uma das 33 integrantes ganhou um exem-plar de “Ursulindas” (como elas próprias se denominam), livro-recordação com memó-rias e depoimentos de cada uma sobre o tempo passado naquela instituição. A inicia-tiva foi de Thereza Rocque da Motta, ex-aluna e hoje à frente

da Ibis Libris, e marca os 50 anos de amizade e os 15 anos desse reencontro.

Um registro na edição deixou as amigas especial-mente comovidas: a ima-gem na qual as então alunas cercam Madre Xavier, então madre superiora da insti-tuição (foto). O registro foi feito em 1970 por Antonio Guerreiro, que gentilmente cedeu a imagem ao saber da iniciativa.

Adriana Ancelmo passou por cirurgia: diz a quem se interessa que estava sofrendo de incontinência urinária.

Como ela é ainda muito jovem para esse tipo de achaque, o pro-cedimento tem outro nome - trata-se de uma plástica de períneo, muito utilizada por mulheres que tiveram filhos e ainda mantêm ativa a sua vida sexual. Ativa e prazerosa, por supuesto.

Amir Haddad co-meçou a escrever o livro "A história do TUCA carioca", que relata a cria-ção do Teatro Universi-tário dos Estudantes no Rio de Janeiro, no início dos anos 60, e o fecha-mento do grupo, em 1968, por perseguições do governo militar.

Miguel Proença, 80, de-mitido da presidência da Funarte por ficar a favor de Fernanda Montenegro, can-celou todos os projetos e vai ficar quieto no final do ano.

- Eu e o pianista Nelson Freire, de 75 (que levou um tombo recentemente em

uma calçada esburacada do Rio), tivemos acidentes re-centes nas ruas da cidade. Vamos passar o Natal jun-tos, na casa de minha filha, a atriz Laura Proença - disse Miguel, que ainda se recupe-ra de uma queda no Centro da cidade.

Miguel Proença ficou de-cepcionado com Osmar Terra. Desabafou:

- Éramos amigos desde o Rio Grande do Sul, somos gaúchos. Ele sempre ia à mi-nha casa e pegava meus CDS para levar aos amigos, antes de

virar ministro do Bolsonaro. No episódio de minha demis-são, anunciada por Onix Lo-renzoni e não por ele, Osmar Terra silenciou e não me de-fendeu. Nem deu explicação. Uma amizade desfeita por cau-sa do governo Bolsonaro.

Produtor e roteirista de espe-táculos que marcaram a história do Golden Room, no Copaca-bana Palace, e de boates famosas

como a Sucata e a Night and Day, entre outras, Haroldo Costa , 89, deu o ponto final em seu mais novo show, “Rio que eu amo”.

Além de exaltar a “Cidade Maravilhosa”, o escritor e produ-tor vai homenagear Tom Jobim - morto há 25 anos -, que com-pôs, junto com Billy Blanco, a “Sinfonia para o Rio de Janeiro”. Também serão lembrados Ary Barroso, autor de “Aquarela do Brasil”, e o poeta Vinicius de Mo-

raes. Haroldo Costa vai negociar o show para que ele seja exibido em grandes hotéis do Rio.

Tomara que consiga: o Rio nunca precisou tanto da beleza e alegria das eternas canções da MPB.

Quer maneira mais bela de esquecer o nefasto Crivella?

Aos 84, Rosamaria Mur-tinho vai estrear no primeiro semestre de 2020, no Canal WEB, o programa “Dicas da Rosa”. A ideia surgiu depois que a atriz passou a ser ques-tionada pelo público o sobre suas roupas, bijuterias, bolsas, sapatos, cremes e maquia-

gem. Vai continuar na vida real o que foi mal explorado em seu personagem na no-vela A Dona do Pedaço, que só dava like pra chata da Vivi Guedes.

No programa, ela dará dicas de estilo e, também, de como comer sem engordar.

Belo registro de uma época

Ex-primeira dama sofre intervenção cirúrgica

Resistência e memória

Cultura em baixa

Fim da amizade

Paixão pelo Rio

No espetáculo...

Digital influencer

Antonio Guerreiro/Reprodução

[email protected]

[email protected] com Luiz Claudio de Almeida

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152.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Noite de autógrafosFotos Rogério Fidalgo

André Resende, Isis e Rael Luiza Valdetaro e Vanessa GiácomoIsis Valverde e Jessika Alves

Minha amiga me telefona aflitíssima, o que não é seu na-tural. Desabafa:

- Estou vivendo um infer-no por causa da bendita ceia de Natal!

- Ué, mas por quê? Não é a turma de sempre, família e alguns amigos antigos? - res-pondo de cá.

- Tudo igual, as posições políticas é que mudaram...

***Aí entendo tudo. E faço

meu exercício de imaginação, eu que em tempos passados reunia meus amigos desgarra-dos – solteiros, divorciados, gays sem família, viúvos, ado-lescentes na fossa – para ani-madíssimo almoço de Natal no meu apartamento da Barra. Cada um levava uma comida, uma bebida, um presente ca-fona para o concurso e a festa rolava animadíssima.

Se fosse hoje...Que cores usaria para en-

feitar a casa? Bom, Natal é a

e, pior, as novas cores do novo partido do Bolsonaro. Verme-lho e verde também remetem ao Fluminense, que caiu em desgraça. Só ia servir para atiçar comentários desairosos dos justamente orgulhosos flamenguistas - mas, apesar de ser Natal, não tô muito a fim de elogios rubro-negros no meu almoço.

Tem que tomar cuidado com as comidas também. Se for peru recheado, bacalhau,

***Para os anfitriões que este

ano tiverem a desgraça de abri-gar sob seus tetos convidados com posições políticas dife-rentes, todo cuidado é pouco.

Por essas e por outras, aqui em casa, este ano, nadica de nada. Aliás, já transferi ao meu filho e minha nora a co-memoração dos Natais. Passo na melhor das companhias e me poupo daquela trabalhei-ra insana. Numa reunião tão pequena de família, nem ra-banada voa. Nada como ceia de Natal familiar para uma boa brigalhada, né, não?

***Torço para que todos

possamos ter um Natal de paz. O dia do nascimento de Jesus não é dia de arrumar briga e confusão, e ainda por cima por políticos da quinta categoria.

É hora de pedir a Deus e a seu filho recém-nascido que tenhamos PAZ, prosperidade, progresso.

hora do vermelho. Não pode, vermelho é coisa de comunista e petista. Papai Noel - apren-dam crianças - este ano, nem de brincadeira. Pode desen-cadear a fúria daquele amigo, que a vida inteira endeusou o PT, mas agora só quer saber da nova ordem. Só falta bater continência no lugar dos dois beijinhos de praxe.

E o verde? Só se for o ver-de sozinho. Com branco e azul, vira bandeira do Brasil

tender com fios d’ovos, mousse de camarão e outra de haddo-ck, salada de frutos do mar – um menu básico no escaldante verão carioca – é coisa de rico deslumbrado. Ainda mais se for regado, comme il faut, a um bom champagne, ou vá lá um belo espumante, que vive-mos tempos de crise, apesar da alardeada bonança.

Coisa de direitista rico, di-zem os “vermelhos”.

A ala, digamos, mais pro-gressista, se banqueteia com tudo isso, tudo igual, mas só nas internas. Pra exibir pra ga-lera, é chester, farofa, maionese e muita, muita cerveja. Para arrematar, uma boa sidra bem geladinha tá de bom tamanho. Um bom pudim de leite, um panettone Bauducco e muita rabanada. Assunto Natal re-solvido pra turma esquerdista e para os populistas de plantão, inclusive os de direita, volver.

É o Natal tipo me engana que eu gosto, espalham os ola-vetes e bolsonetes.

Feliz Natal?CRÔNICA DA SEMANA

Há mais de uma década que a atriz Isis Valverde escreve poemas e narrativas poéticas que estão reunidas no livro “Camélias em

mim”, lançado pela atriz na Li-vraria da Travessa, do BarraSho-pping. Vários famosos marcaram presença na noite de autógrafos.

Papai Noel explica às crianças que, no Brasil, este ano, até ele pode ser chamado de comunista por usar vermelho

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16 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

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172.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

M Ú S I C A

Por Affonso Nunes

Um dos momentos mais polêmicos da cena musical no Brasil se deu em setem-bro de 2019, quando Milton Nascimento declarou, em entrevista à jornalista Mô-nica Bergamo, que a música brasileira “está uma merda”. Impulsionada por comparti-lhamentos nas redes sociais, a opinião do cantor e compo-sitor mineiro ganhou adep-tos e opositores em minutos.

O próprio Milton, que es-teve o ano inteiro envolvido com uma bem-sucedida tur-nê relembrando o repertório

do Clube da Esquina, apres-sou-se em dizer que não esta-va referindo-se à MPB como um todo, mas à música feita no mainstream da indústria fonográfica brasileira, o que não chega a ser novidade.

Nisso Milton está mais do que certo, pois a qualidade média da chamada música co-mercial piora a cada ano, num estado de indigência sonora.

Mas isso quer dizer que a produção musical vai de mal a pior no Brasil? Não neces-sariamente.

Assim como acontece no resto do mundo, o formato de distribuição de música

força total, sendo lançados em quantidades incontáveis de bytes diários na grande rede. Será que essa onda de lançamentos, um atrás do outro, está tirando o espaço dos álbuns?

Não. Se depender dos ar-tistas. Aqueles que têm algo a dizer não se contentam em lançar canções para serem candidatas ao hit da próxima estação. E, de single em sin-gle (ou não), vão construin-do seus álbuns que refletem suas visões de mundo.

Sejam megaídolos da mú-sica ou aspirantes ao sucesso, os artistas seguem criando

por meio de gravadoras per-de espaço, tudo dentro do contexto da revolução di-gital iniciada lá atrás, com o advento do CD e agora, numa etapa mais ampla, com a música digitalizada e distribuída em plataformas de streaming.

Novos hábitos se conso-lidaram para os amantes da música. O que era analógi-co tornou-se digital, novos recursos técnicos e estéticos foram incorporados, e hoje a música é consumida em mi-lhões e milhões de audições nas plataformas digitais.

Os singles voltaram com

suas formas de expressão, explorando sonoridades em ritmos dos mais diversos nos formatos álbum que são como seus filhos.

Os álbuns não morrem. Pelo contrário. Estão mais vivos do que nunca. A mí-dia pode ter mudado, mas os “discos” ainda existem sejam eles em acetato, policarbona-to ou bytes.

A seguir listamos os dez melhores álbuns de 2019 nas categorias nacional e estran-geira. Nosso critério foi o de considerar inovações de esti-lo ou a consolidação de ten-dências.

Trabalho autoralainda contaEra do singles e do streaming não afeta o velho álbum

O S 1 0 M E L H O R E S Á L B U N S N A C I O N A I S D E 2 0 1 9 ( P O R O R D E M A L F A B É T I C A )

Entre xotes e reaggaes, o compositor paraibano segue na linha iniciada com “Estado de poesia”. Arranjos criativos e uma poética antenada com questões da alma e cidadania.

Atuando em quarteto, o bandolinista exibe em seu 38º álbum toda versatilidade do instrumento com arranjos que homenageiam de Jacob do Ban-dolim a Milton Nascimento.

Musa de um samba mo-derno já nos anos 1960, Elza se firma como uma diva pop e dialoga com as novas gerações num álbum contagiante que enaltece a força da mulher.

Com dez anos de estrada, o Baiana System chega a seu ter-ceiro álbum com linguagens musicais provocativas, que unem tradição africana com os ritmos eletrônicos.

Chico CésarO amor é um ato revolucionário

Hamilton de HolandaHarmonize

Elza SoaresPlaneta fome

BaianaSystemO futuro não demora

“Humana” marca uma inte-ressante reviravolta na carreira de Fafá, que mostra-se mais contemporânea do que nunca e se reinventa intepretando can-ções em variados estilos.

Fafá de BelémHumana

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18 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

O S 1 0 M E L H O R E S Á L B U N S I N T E R N A C I O N A I S D E 2 0 1 9 ( P O R O R D E M A L F A B É T I C A )

A vencedora do Grammy de Melhor Álbum Pop em 2018 se-gue em sua melhor forma. Essa artista pop bebe da fonte do r&b com brilho e se firma como uma das grandes vozes da atualidade.

Homenageada pela verde--e-rosa com um enredo (cam-peão) em 2016, Bethânia de-volve o mimo à escola com um álbum de sensibilidade imensa, do tamanho de sua voz.

Parte de um projeto que inclui documentário, “Western stars” não abre mão da mescla de rock e cou-ntry que fez Bruce ser chamado de “Voz da América”. The Boss sem-pre entrega trabalhos bem feitos.

“Descontrução”, de Tiago Iorc, foi um dos maiores desta-ques da MPB em 2019, tanto que rendeu ao artista uma das duas poucas indicações gerais no último Grammy Latino.

“Ghosteen” encerra a trilogia iniciada em 2015 com “Skeleton tree”, após a morte trágica do filho do artista. Uma imersão profunda e sincera de Nick Cave em seus mais caros conflitos.

O primeiro disco de estúdio da banda em 13 anos entra na lista dos melhores de 2019. Pete Townshend e Roger Daltrey assi-nam algumas canções que entra-rão para a história do grupo.

A voz é rouca como a de ou-tra Billie, a Holiday. Eilish fez do ábum de estreia um fenômeno com várias faixas indo parar na Bill-board simultaneamente, um feito raro. Uma voz de novos tempos.

O coco, a roda de embo-lada e toda variação de ritmos nordestinos emolduram o ter-ceiro álbum solo do ex-líder do Mestre Ambrósio. Um traba-lho pleno de brasilidade.

O nome já revela: uma he-rança da tradição da soul music, mas com elementos contempo-râneos e urgentes como a ques-tões raciais e feministas bem co-locadas pela artista.

Yamandu começou a carrei-ra cantando, mas foi deixando o microfone de lado para fir-mar-se como um virtuose do violão. Aqui, resgata seu passa-do num álbum de excelência.

O sexto álbum mostra Lana mais madura musicalmente. A versão de “Doin’ time”, hit do Sublime, com citações do clássico “Summertime” já vale pelo ál-bum inteiro. Mas ainda tem mais.

O sempre “maldito” Jards Macalé mostra o lado escu-ro que tomou conta do país em faixas como “Vampiro de Copacabana”, uma espécie de “Gotham City” atualizada.

Descendente de imigrantes turcos, a britânica Nilüfer Yanya junta ritmos orientais e o rock alternativo com elementos pop e clássicos. Seu timbre é peculiar. Anotem este nome!

“Fear inoculum” carrega con-sigo todo o DNA do Tool sem, no entanto, parecer um cover de si mesmo. Continua moderno, provocante e surpeendente em cada acordes. Discaço!

O maior mérito deste rapper é justamente estar se afastando do hip hop. Batidas repetitivas de MPC dão lugar a instrumenta-ções inspiradas na riqueza meló-dica e rítmica da black music.

Ariana Grandethank u, next

Maria BethâniaA menina dos meus olhos

Bruce SpringsteenWestern stars

Tiago IorcDesconstrução

Nick Cave and the bad seedsGhosteen

The WhoWho

Billie EilishWhen we all fall asleep...

SibaCoruja muda

Jamila WoodsLegacy! Legacy!

Yamandu CostaVento sul

Lana Del ReyNorman Fucking Rockwell!

Jards MacaléBesta fera

Nilüfer YanyaMiss Universe

ToolFear inoculum

Tyler, The CreatorIgor

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192.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

A música não tem como função principal se-mear egos ou plantar

famas. Ela é dom do criador emprestado a sua própria cria-ção para, como segmento so-cial, defender ou acalmar os povos. Em tempos terríveis e cruéis, como os que testemu-nhamos nos dias atuais, ela se torna a arma pacífica do músi-co, compositor e poeta.

Ela é a resistência através do som e da palavra. É ela que deve tomar para si a função da denúncia contra as injustiças, as crônicas para exposição da violência e a truculência da imbecilidade, quando as mes-mas torturam e violentam os mais humildes e as minorias. A delação das intenções malditas e sórdidas dos venais poderes,

e sempre à defesa das liberda-des e direitos dos negros, dos índios, LGBTs... Enfim, dos pensamentos.

Que ela continue lou-vando Deus, Oxalá, Allah, Maomé, Jeová com as lágri-mas de qualquer homem do povo, sem qualquer repressão religiosa ou imposição de go-vernos.

Venho, orgulhosamente, de uma geração de composi-tores que ofereceu sua criação para o front das defesas de nossa nação.

A música é a arma pacífica do artistaPaulo César Feital

Cantor e compositior

Silvio Almeida

É preciso achar um apaixonamento perdido pelo Brasil. É necessária uma fragrância de Dorival. Uma gota de Ari Barroso. Grãos de Chico Buarque.”

É hora de essa mesma gera-ção levantar-se de cima de sua própria obra e dar a mão para a geração que aí está, solitaria-mente querendo lutar. Tenho medo de que a admiração que ela tem pela nossa possa trans-formar-se em vazio e desilusão.

Ainda há tempo, ainda há um brilho no olhar dos meni-nos, ainda há uma força nos nos-sos velhos corpos e uma música

inédita no dia a dia dos nossos jovens e eternos espíritos.

É preciso achar um apai-xonamento perdido pelo Bra-sil. É necessária uma fragân-cia de Dorival. Uma gota de Ary Barroso. Grãos de Chico Buarque. Temperos de Pauli-nho Pinheiro. Estilhaços de um Vandré esquecido. Bater tudo em um liquidificador da esperança com todo o sumo juvenil de Lucas Bueno, Nina Virti, Rabello, Vidal Assis e tantos outros para que a mú-sica volte a ocupar o seu lugar missionário.

E unamo-nos para que, quando os tempos dos amores voltarem, possamos, juntos e românticos, cantar: “Já podeis, da pátria filhos, ver contente a mãe gentil”.

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20 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

O Rio que acontecen Neste dezembro de grandes desafios, de an-

seios, expectativa por melhores momentos, a cidade se entregou à magia do Natal. E em particular, a histórias bacanas, e de tempo para os amigos...

O Coletivo de “mulheres maduras”, EU-MAISSET, criado pela empresária Priscila Bentes, reuniu-se na Gávea para seu evento de fim de ano, com renda revertida para o OBRA DO BERÇO. A fashion designer Luiza Bomeny ofereceu a bela casa, para o encontro, que teve workshops de gastro-nomia, design floral, make up e outras sur-presinhas. Uma troca de energia, de talen-tos do nosso Rio e formadoras de opinião. A arrecadação para as crianças foi de três mil e quinhentos reais.

Com Jacyra Lucas

[email protected]

Fotos Cristina Lacerda

Isabela Francisco,artista plástica Luiza Bomeny, fashion designer

Esta colunista

Carla Pimentel Nelle, paisagista

Kiki Gouvêa, jornalista Nina Kauffmann, relações públicas Kika Gama Lobo, jornalista Ana Cecilia Chaves, advogada

Priscila Bentes, empresária

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212.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

QUEM PRODUZ...

COMPARTILHANDO...

n Nicole Tamborindeguy Rocha é jornalista e paisagista. Aberta às novas tendências do mercado, lançou há três anos a MyBloom (minha flor). A marca, que desenvolve pro-jetos de paisagismo, criou, para este Natal, arranjos românticos e superelegantes.

n Em outro ponto da cidade, no Flamengo, a ceri-monialista Cristina Aboin, montou um cenário natalino, literalmente, na casa toda. E recebeu em vários momentos, grupos diferentes...

n Das inúmeras fotos anônimas que circulam por aí na internet, a coluna escolheu essa para divi-dir com vocês... Do nosso Rio, lindo demais! Feliz Natal!

Fotos Bruno Ryfer

Fotos Thiago Oliveira

Andréia Rapsold e Bayard BoiteauxMarco Rodrigues e Alicinha Silveira

Cristina e Cláudio Aboin

Liberato Júnior e Silvia de Castro

Lili: Qual o significado do Natal para você?Nicole: Significa um momento de acolher aqueles que não têm família, de exercitar o amor, a compaixão ao próximo. L: Você está criando árvores diferen-tes das tradicionais, com plantas...

N: O diferente é algo de que sempre gostei e procuro estar sempre inovando...L: Os arranjos são um bom presen-te nesta época do ano? N: Flores e plantas além de presentear, causam sensações boas em quem recebe. Sempre é uma experiência diferente.

L- Como fazê-los durar? N- Regando bastante e com muito amorL- O que espera do Natal ? N-Que seja um momento que todos sintam e desejem mais amor ao pró-ximo.

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22 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

A R T E S C Ê N I C A S

O teatro está em crise?

Monólogos extrapolam, mas saldo da produção cênica de 2019 foi positivo

Por Sérgio Fonta

O teatro tem uma curiosa sintonia com o mito da fênix: quanto mais se pensa ou se diz que ele está mal, mais ele levanta o peito, sacode as cinzas e abre suas enormes asas sobre o má-gico tablado da arte. O ano de 2019, apesar de todas as crises, trouxe espetáculos bastante sig-nificativos em diversos gêneros. É bem verdade que a quantida-de de monólogos extrapolou.

A tal citada crise, que im-põe a busca pela solidão cênica, é economicamente viável: ape-nas uma pessoa em cena, um mínimo de gastos com produ-ção, o apelo ao crowdfounding, possibilitam montagens quase sempre modestas. Mesmo as-sim, alguns monólogos com-provaram que, quando se tem um bom ator, um bom texto e uma boa direção, Dionysos aparece e até compra ingresso.

Um exemplo disso é “Diá-rio do farol - uma peça sobre a maldade”, baseado na obra ho-mônima de João Ubaldo Ribei-ro (1941-2014), adaptado pelo diretor Fernando Philbert e pelo ator Thelmo Fernandes. A mon-tagem coloca Fernandes num pa-tamar de atuação brilhante.

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Um dos grandes atores brasilei-ros, Pedro Paulo Rangel (ao lado, à esquerda)brilha em ‘O ator e o lobo’, texto do português António Lobo Antunes); De Natal (RN), veio a ótima ‘Meu Seridó’ (acima); ‘Oboró’ (ao lado, à direita) aborda o universo masculino sob a ótica do homem negro

Outro momento de puro teatro é o solo “A ira de Narci-so”, de Sergio Blanco, direção de Yara de Novaes e uma inter-pretação vulcânica de Gilberto Gawronski. E mais: a atuação de Kiko Mascarenhas em “Todas as coisas maravilhosas”, e “Cálculo ilógico”, escrito e interpretado por Jéssika Menkel, revelando uma ótima atriz. Já Pedro Paulo Rangel comemorou cinco déca-das de carreira e talento com o solo “O ator e o lobo”, inspirado na obra do português António Lobo Antunes; e Ricardo Ko-sovski, atuou em montagem despojada e firme de Moacir Chaves, com “Maracanã”. A diversidade também disse pre-sente em maneiras de tocar no assunto como no texto e atu-ação de Leonardo Netto e no monólogo “Eu sempre soube”, texto e direção de Marcio Aze-vedo, espetáculo tocante, com a atriz Rosane Gofman.

Bem, poderia se escrever um artigo inteiro sobre mo-nólogos, mas o teatro não é só isso. Sua raiz primeira sempre foi e sempre será o diálogo. Fe-lizmente, 2019 colocou muita gente em cena. Desde duplas, como a bonita relação entre as atrizes Inez Viana e Débora

Lamm em “Por favor, venha voando”, como o rigor corporal em “Jogo de damas”, do Amok Teatro, e a relação conflituosa sobre ética entre as duas médi-cas de “Relâmpago cifrado”, de Gustavo Pinheiro, com Ana Beatriz Nogueira e Alinne Mo-raes. Ou o trio de “As crianças”, direção de Rodrigo Portella, com Analu Prestes, Stela Frei-tas e Mário Borges, de “Nava-lha na carne”, clássico de Plínio Marcos, direção de Gustavo Wabner, protagonizado por Luisa Thiré, ou a mesma Dé-bora Lamm, em “A ponte”, de Daniel MacIvor, ao lado de Bel Kowarick e Maria Flor, direção de Adriano Guimarães, ou ain-da o quarteto de “40 anos esta

noite”, de Felipe Cabral, dire-ção de Bruce Gomlevski, argu-mento de Gisela de Castro, que discute a nova família através de dois casais homoafetivos.

Alguém poderá perguntar: e na comédia, nada? Tudo. Algu-mas foram bastante expressivas, entre elas “Sísifo”, de Gregório Duvivier e Vinicius Calderoni; “Recital da onça”, direção de Estevão Ciavatta e Hamilton Vaz Pereira, com Regina Casé, autora da dramaturgia junto com Hermano Viana; Marcelo Médici, em dupla com Ricardo Rathsam em “Teatro para quem não gosta” e o retorno de “O mistério de Irma Vap”, direção de Jorge Farjalla, com Mateus Solano e Luis Miranda. Houve

também um autor francês, Flo-rian Zeller, que ocupou o espaço em duas peças: “A verdade” e “A mentira”, com craques da co-média como Miguel Falabella, Diogo Vilela e Zezé Polessa. O Nordeste esteve bem represen-tado com o humor popular de “Furdunço no fiofó do Judas”.

E aí o palco vai ficando mes-mo povoado, com experiências estéticas de Tchekhov é um cogumelo, direção e adaptação de André Guerreiro Lopes, a partir de “As três irmãs” (He-lena Ignez, Djin Sganzerla e Michele Matalon), experiências provocadoras como Menines, de Márcia Zanelatto, e políticas, como “Prova de amor”, de Pedro Kosovski. Também de Kosovski

NÃO!

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232.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Bruno Martins/Divulgação

Bia Chaves/Divulgação Bia Chaves/Divulgação

Crédito

Gregório Duvivier traz uma temática contemporânea ao mito grego em “Sísifo” (acima); Jéssica Menkel revela-se uma ótima atriz e autora no monólogo “Cálculo ilógico”

é a adaptação de “Eu, Moby Dick”, espetáculo instigante de Renato Rocha, com uma sen-sacional instalação-cenário de Bia Junqueira ao transformar cadeiras de plástico em espinha dorsal de uma baleia. Autores consagrados entraram em cena, como Bertolt Brecht com “Luz nas trevas” e Maquiavel com “A mandrágora”, ambas do Arma-zém da Utopia, sob a direção de Luiz Fernando Lobo. Mais uma vez os russos chegaram ao palco no espetáculo “Nastácia”, dra-maturgia de Pedro Brício num recorte sobre o romance “O idiota”, de Dostoiévski. Tivemos também o intenso triângulo amoroso vivido no período da II Guerra Mundial como em “Fim

de caso”, direção de Guilherme Piva, e “Folhas de vidro”, de Phi-lip Ridley, em uma demolidora relação familiar dirigida por Mi-chel Blois e Alexandre Varella.

O movimento negro teve inúmeras e criativas montagens, como “Reza”, concepção de Carmen Luz, da Cia. dos Pretos Novos, ao falar das condições da mulher negra nas periferias, e “Oboró – masculinidades negras”, de Adalberto Neto, di-reção de Rodrigo França. Nove atores negros em cena expõem religiosidade e beleza seus dile-mas, ambições e paixões.

Houve espetáculos que po-deríamos chamar de híbridos, porque fogem um pouco do previsível, seja pela simplici-

dade como “Na casa do Rio Vermelho - O amor de Zélia e Jorge”, direção e texto de Rena-to Santos, que conta a vida do casal baiano através do traba-lho de Luciana Borghi e Pedro Miranda; como na sofisticação itinerante de “Romola & Ni-jinsky”, concepção, texto e di-reção de Regina Miranda pelo casarão do Castelinho do Fla-mengo, ou “François Truffaut – o cinema é a minha vida”, a peça-filme de Rodrigo Fonse-ca, direção dele e de Cavi Bor-ges, com Patrícia Niedermeier.

E, claro, os musicais. Embo-ra o centenário da cantora Lin-da Batista tenha sido lembrado nos solos de Adriana Quadros e Mona Vilardo, este gênero,

a princípio, congrega equipes numerosas, como em “As co-madres”, supervisão artística de Ariane Mnouchkine, com mais de 20 atrizes (!) em revezamen-to a cada semana. Voltaram ao palco, depois de uma ausência de muitos anos, “Cole Porter - ele nunca disse que me amava” e “O despertar da primavera”, ambos com a dupla Charles Möeller/Cláudio Botelho; e “Company”, direção de João Fonseca. Mais uma vez o mo-vimento negro marcou presen-ça com “Gota d’água (preta)”, projeto de Jé Oliveira, fundador do grupo Coletivo Negro. Tam-bém “A cor púrpura”, espetácu-lo de Tadeu Aguiar, versão de Artur Xexéo, colocou 17 atores

negros em cena e muita qualida-de musical. O Nordeste de novo e bem, diretamente de Natal (RN): “Meu Seridó”, direção de Cesar Ferrario e dramaturgia de Felipe Miguez, multicolorido, divertidíssimo e crítico.

Quatro espetáculos mobi-lizaram o espectador com suas propostas: “Por que não vive-mos - uma desconstrução de Platonov”, primeira peça escrita por Tchekhov, direção de Mar-cio Abreu com Camila Pitan-ga; “Estado de sítio”, fábula de Albert Camus sobre totalitaris-mo, direção de Gabriel Villela; “Angels in America”, retrato im-placável do surgimento da aids em uma Nova York no final dos anos 1980, mas que permanece atual na montagem de Paulo da Armazém Companhia de Teatro; “Roda Viva”, de Chico Buarque, com o Grupo Oficina, que circula entre o radicalismo, o sentimento e a celebração do teatro – ninguém passa incólu-me às encenações de José Celso Martinez Corrêa; e “Grande sertão: veredas”, encenação de Bia Lessa a partir do roman-ce icônico de Guimarães Rosa (1908-1967). A montagem de Bia é um dos mais arrebatadores momentos teatrais dos últimos tempos, com atuação impecá-vel do elenco e a proeza de fazer brotar no palco toda a essência “roseana”.

Diante de todo esse panora-ma de opções e realizações – e olha que está faltando muita gente ainda – pode-se dizer que o teatro está em crise? Não. A sociedade pode estar crise, nós podemos estar em crise, mas o teatro, não. Ele sobrevive a tudo. Às comparações, às idios-sincrasias do sistema, às polari-zações, à falta de verba. Ele só não pode ter é falta de sonhos. Sonhos, no entanto, ele tem de sobra. E voa, renascido sempre, como a mais bela ave de que já se ouviu falar.

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24 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Duas grandes carac-terísticas estão mu-dando o presente e

o futuro das artes dramáticas. Drama, palavra grega para ação, vai além, atualmente, de se contar uma história, com personagens definidos, que dialogam em cima de um pal-co ou em uma arena.  O cerne de ação está em trazer para o contato pessoal as contro-vérsias de uma sociedade em mudança que as artes refletem. Aumentará ainda mais a ten-dência que comportamento, linguagem e ideias  que antes eram consideradas inadequa-das para o desempenho pú-blico são o espectro pelo qual circulam a maior parte dos es-petáculos.

  Se o público é inevitavel-mente a razão de ser do teatro, sem espectadores simples-mente não há evento teatral; a razão de ser do público em geral é o permanente contato com as chamadas mídias digi-tais sociais. O chamado teatro participativo,  expoente dos anos 60 e 70, no qual se inclui pessoas da plateia no desenro-la, hoje há que dialogar  com o hipertexto, a comunicação instantânea. A mudança de cenários fixos para projeções em enorme telões, em múlti-plos locais, com novos pontos de narrativa estabelecem na amplitude a mesma  relação em que se vê, esteja onde esti-ver, coisas que se sucedem em uma tela.

Também de um movimen-to iniciado há décadas,  a for-

mação universitária em teatro, surge um movimento  que se fortalece a cada ano. Grupos que se juntaram ou trabalha-ram em escolas como CAL, UNI-Rio, Martins Pena agora se profissionalizam e criam dra-maturgias de acordo com a for-ça de suas origens. A Definitiva Cia. de Teatro, formada por  alunos da UNI-Rio que mis-turam canto, dança, tradições brasileiras.  O grupo  Impulso Coletivo de Teatro, oriundo da CAL, busca na vivência de seus participantes, a maioria vinda das áreas de risco do Rio, a fon-te de suas atuações.

  E hoje abrem-se novas  fronteiras para o Teatro, quan-do se derruba a quarta parede

não em uma casa tradicional, mas  fazendo com que as nar-rativas sejam adequadas ao espaço. Sem necessidade de cenografia   construída, o que  tecnicamente  se denomina si-te-specific é a forma que  existe e, mais do que um encontro, uma troca com o público, transforma o local pelo qual se  movem e locomovem  atores e plateia para obter o significado nos próprios locais e nos itine-rários  que se adequam. Casa-rões, hotéis,  palácios, galerias de arte,  ruas, largos, parques e praças são o novo palco do qual a arte extrai o seu sentido.

Derrubam-se as fronteiras de espaço físico, mas também começam a não se ter demar-

cação entre as diversas artes. Instalações, performances, ar-tes plásticas, visuais,  cinema, animação se integram e criam espetáculos nos quais aban-dona-se qualquer passividade,  leitura literal, primado da nar-rativa tradicional ao se optar pela procura do conceito per-feito na integração entre voz, corpo, objetos, representações. É a arte em estado bruto, em sua capacidade de radicalizar que a arte é aquilo que o artista determina, diz o que é e qual é o seu sentido.

  Ah! E os musicais? Vão acabar? O stand-up, o monó-logo, as peças praticamente sem cenário? Todas as mani-festações  cabem em um mo-

mento em que o crowfunding, a colaboração, crescem, se desenvolvem em novos meca-nismos e desdobramentos. A maior tendência é  a de que o teatro não é mais um palco,  a apresentação de uma história com começo/meio/fim, pes-soas com um determinando figurino falando um texto de um autor ausente. A palavra de ordem é presente. Na inte-gração com o público,  no es-tabelecimento de que palco é onde se representa. Estar pre-sente também nas esculturas, nas instalações, nas imagens projetadas. É se estar cada vez mais junto e em conjunto com as plateias. Estejam  elas onde estiverem.

Tudo pelo público, que é a razão de ser do teatroClaudia Chaves

Doutrora em Letras pela PUC-Rio, jornalista e crítica teatral

Dan Coelho/Divulgação

Cena de ‘Cole Porter’: os musicais, os monólogos, stand-ups e outros espetáculos ganham novo fôlego com formas criativas de financiamento

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252.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

RICARDO CRAVO ALBIN

Nesta edição espe-cial de fim de ano do CORREIO DA

MANHÃ, proponho abaixo o resgate de uma memória tão preciosa quanto esquecida. De fato, pouquíssima gente, espe-cialmente os jovens, se acodem de um nome, um personagem decisivo no Rio intelectual. Portanto, chamo a atenção de vocês para uma figura, como verão abaixo, a ser mais reve-renciada.

Esta adorável criatura cru-zou minha vida desde o come-cinho do Museu da Imagem e do Som, em 1965. Meu Deus, são tantos eventos, alegrias, ensinamentos e originalidades que Lucio me fez viver, que acho melhor enumerar alguns, ao menos uns poucos, para o embaçamento da memória não me provocar a perda dos principais.

Primeiríssima nota: sai-bam – o que é essencial – que o crítico, escritor, historiador e homem de vasta cultura foi o primeiro grande persona-gem ligado à música popular carioca a ser escolhido por mim e Ary Vasconcellos para integrar o Conselho Superior de MPB. Que criamos para definir a escolha dos que de-veriam merecer a honra de “depor para a posteridade” no novíssimo MIS. Por que Lu-cio? Pela veemência de paixão esgrimida pelo crítico aos seus mitos da MPB.

Segunda nota – Lucio, so-brinho de Sergio Porto, também conselheiro, ao ver Jacob do Ban-dolim tomar assento na salinha do estúdio do Museu como con-selheiro, bradou em voz alta:

Lucio Rangel, o magnífico – 40 anos sem ele

– Não acredito que vejo aqui o maior músico brasileiro, depois de Pixinguinha, é claro. E que ostenta o mesmo título que eu. O de conselheiro. Jacob não pode ser conselheiro, nem aqui, nem em lugar nenhum. Ele é rei, o rei do bandolim.

Terceira nota – O acima ci-tado Pixinguinha visitava o MIS com alguma frequência, vindo do Bar Gouveia (já embalado por muitos copos de uísque). Ao adentrar o Museu, Lucio o conduzia pela mão. E, invaria-velmente, introduzia o grande músico na nossa salinha de reu-nião. Antes, contudo, alertava:

– Meus amigos. Todos de pé, que entra nesta sala o pai da música deste país, o supre-mo Alfredo da Rocha Vianna Filho, o divino Pixinguinha. Palmas, palmas. E podem tam-bém dar alguns gritinhos!

Quarta nota – Quando em determinada sessão um conse-lheiro pediu à mesa que se dis-cutisse (e se teorizasse) sobre a Bossa Nova, então no auge, Lucio levantou-se solenemente e vociferou:

– Não há nada a se comen-tar. Comentar o quê? Se as can-torinhas da Bossa não cantam, cacarejam? Se os homens não

têm voz, parecem uns travestis imitando Nora Ney?

Instalou-se um silêncio constrangedor na sala. De pronto o conselheiro Vinicius de Moraes pediu a palavra:

– Ninguém tem mais ca-rinho pelo Lucio Rangel que eu. Mas quero defender aqui a Bossa Nova.

E, ao citar Nara Leão e João Gilberto, Lucio Rangel levan-tou-se, empertigou-se e gritou:

– Quero declarar que não falo mais com o senhor Vi-nicius de Moraes e prometo uma eternidade, não falo até...até...amanhã!

E escondendo com as mãos a boca entreaberta em um sorriso, levantou-se e abandonou a sessão.

Comentário do poeta, logo a seguir:

– Ficar sem Lucio até ama-nhã é muito tempo. Vou ligar pra ele ainda esta noite. E convidá-lo para derrubarmos uma garrafinha de Chivas Re-gal, 12 anos, que o Tom me trouxe de Nova York.

Quinta nota – Quando es-crevi e dirigi o primeiro show montado para narrar em palco a vida de Ismael Silva, fiz uma lon-ga temporada de mês e meio no teatrinho do Senac em Copaca-bana. Ismael era acompanhado pela cantora Carmem Costa e ainda pelo violonista Codó da Bahia. Além de mim, nar-rando-lhe em cena vida e obra. Quando abri a cortina, um som estridente se fez ouvir no centro da primeira fila. O que se repeti-ria todo santo dia, até o final da temporada. Era Lucio envergan-do um trombone imaginário, a tocar apenas “Se você jurar”, clássico maior do Ismael.

Encerro este preito de amor ao meu querido Lucio Rangel propondo uma com-paração, quase literária, entre Lucio Rangel e Jayme Ovalle, ambos boêmios e amantes do Rio. O poeta Ovalle não pre-cisava fazer livros de poesia, ele já era a própria poesia em pessoa. Ao músico e trombo-nista Lucio Rangel tampouco carecia fazer música, muito menos tocar trombone, ele já era a música em pessoa, como também era o próprio trom-bone, que se corporificava em suas mãos e na sua garganta.

Reprodução internet

Ao músico Lucio Rangel tampouco carecia fazer música. Ela já era a música em pessoa

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26 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Celebrando a chegada do ve-rão carioca, o Fasano Rio abre seu exclusivo rooftop para uma programação especial. A noite de 10 de desembro foi um preview, para convidados, do que vem por aí. Às quintas, o saxofonista Ro-drigo Sha e o cantor e violinis-ta Mauricio Pessoa trazem o melhor da Bossa Nova para o Viva Ipa.O tradicional La Notte retor-na às sextas, com o saxofonista e DJ Ryon, e aos sábados, com Luis Tepedino no comando das pick-ups.E, aos domingos, Julio Estre-la e convidados promovem a roda de samba Céu & Mar, inédita no Fasano Rio.A programação de verão do Fasano Rio acontece até o Carnaval, de quinta a domin-go, às 19h.

Fasano Rio abre seu rooftop para uma programação de verão

[email protected]

Fotos Bruno Ryfer

Dudu Melo e Thay Saraiva Karen Junqueira e Hugo Bonemer Maria Fernanda Costa e Maria Luiza TchucaFlavia Leite e Amanda Cassaniga

Tay Freitas, Isa Salmen, Luana Tavares , Anna Medrado e Juliana Miranda Mauricio Pessoa e Rodrigo Sha

Rafael Vasconcelos e Bernardo Barroso Ana Ju DorigonDiógenes e Narcisa Tamborideguy

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272.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Fabulous Agilità celebra10 anosda marca

Fotos Divulgação

Isabela Aziz Maria Manuella AlmeidaLari Duarte

Dandynha Barbosa Thássia NavesAgnes Crocchi, Lucinda Aziz e Vania Almeida

Marina Ruy Barbosa e Paula Aziz

Paula Aziz, diretora criativa da marca Fabu-lous Agilità, organizou almoço para celebrar seu aniversário, na terça-feira (10), para amigas próximas, no Jardim Botânico, no Rio. A data também foi escolhida para celebrar os 10 anos da marca Fa-bulous.

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28 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

E L E S D E I X A R A M S A U D A D E

Baiano que revolucionou a música brasileira, João Gilber-to teve participação ativa na elaboração da Bossa Nova, ao utilizar harmonia e batidas de violão influenciadas pelo jazz. Entre suas interpretações mais famosas estão “Garota de Ipa-nema”, “Quando ela sai”, “Che-ga de saudade/Bim-Bom” e “Lobo bobo/Maria Ninguém”. Avesso a entrevistas, viveu re-cluso no Leblon durante suas últimas décadas.

Beth Carvalho iniciou sua trajetória durante a ex-plosão da Bossa Nova, nos anos 60. Em pouco tempo se converteu em um dos sím-bolos do samba, contribuin-do não só na composição de sucessos como “Coisinha do Pai”, mas também revelando nomes que mais tarde seriam de grande importância para a MPB, como Zeca Pagodi-nho, Jorge Aragão e Arlindo Cruz, entre muitos outros.

Ricardo Boechat foi o principal do nome do jorna-lismo na Band por treze anos. Com passagens por Rede Glo-bo, Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil ele consolidou seu nome como um dos grandes expoentes do jornalismo bra-sileiro. Sempre afiado em suas críticas não poupava ninguém, por mais poderoso que fosse. Da mesma forma, populari-zou-se também por expor os males sociais no telejornal.

Filha de Procópio Ferreira, um dos mestres do teatro bra-sileiro, Bibi estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de vida, na peça “Manhãs de Sol” - e nunca mais os deixou. Pas-saria parte de sua vida numa companhia de teatro espanho-la. Entre os anos 60 e 90, fez carreira como apresentadora de televisão em programas como “Brasil 60”. Trabalhou freneti-camente até o fim da sua vida, sempre com plateia lotada.

JOÃO GILBERTO (MÚSICO)

10/6/1931 - 6/7/2019BETH CARVALHO (CANTORA)

5/5/1946 - 30/5/2019 WAGNER MONTES(POLÍTICO)

18/7/1954 - 16/01/2019

PETER MAYHEW(ATOR)

19/5/1944 - 30/4/2019

FÁBIO BARRETO(CINEASTA)

6/6/57 - 20/11/2019

GORDON BANKS(ATLETA)

30/11/1937 - 12/2/2019

MC SAPÃO(CANTOR)

15/11/1978 - 19/4/2019

ANNA KARINA (ATRIZ)

22/9/1940 - 14/12/2019KARL LAGERFELD (ATOR)

10/9/1933 - 19/11/2019

RAFAEL HENZEL (RADIALISTA)

25/8/1973 - 26/3/2019PAULO HENRIQUE AMORIM (JORNALISTA)

22/2/1943 - 10/7/2019

FERNANDA YOUNG (ROTEIRISTA)

1/5/1970 - 25/8/2019REINALDO GONÇALVES ZACARIAS (MÚSICO)

9/11/1954 - 18/11/2019

RICARDO BOECHAT (JORNALISTA)

13/7/1952 - 11/2/2019BIBI FERREIRA (ATRIZ E CANTORA)

1/6/1922 - 13/2/2019

Apresentador de telejornal e deputado que se popula-rizou por sua energia e vi-talidade.

Ator britânico que ficou conhecido por interpretar o wookie Chewbacca na saga Star Wars.

Cineasta brasileiro indi-cado ao Oscar de melhor filme estrangeiro com “O Quatrilho”, de 1995.

Goleiro titular da seleção inglesa durante a copa de 1970. Fez a famosa “defesa do século” contra Pelé.

Cantor e compositor que foi sensação nos anos 2000 com os hits “Diretoria” e “Eu tô tranquilão”.

Washington Possato/DivulgaçãoMauricio Pessoa/Divulgação

Divulgação/Facebook William Aguiar/Divulgação

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292.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

Famoso dirigente que co-mandou o Vasco da Gama, Eu-rico Miranda se tornou figura folclórica entre os torcedores cariocas por seu jeito arro-gante e sem papas na lígnua. Enquanto era vice-presidente, esteve presente na maior con-quista da história do clube (a Libertadores de 1998), na vitória no Campeonato Bra-sileiro de 1997, na Copa João Havelange de 2000 e na Copa Mercosul de 2000.

Um dos nomes mais re-conhecidos da era de ouro de Hollywood, Doris Day se nota-bilizou não só por suas atuações mas também por sua voz. Den-tre seus filmes mais famosos es-tão “O Homem Que Sabia De-mais” (1956) e “Romance em Alto-Mar” (1948). Em 1960, foi indicada para o Oscar de Melhor Atriz por seu papel em “Confidência à Meia-Noite”. Em 2008, ganhou um Grammy em homenagem à sua carreira.

O paraense Lúcio Mauro foi um dos principais atores e comediantes do cenário cul-tural brasileiro a partir dos anos 60. Sua fama cresceu ao interpretar o personagem Aldemar Vigário no progra-ma “Escolinha do Professor Raimundo”, além de parti-cipações nos seriados “Os Trapalhões”, “Chico Anysio Show”, “Sai de Baixo” e “ A Grande Família”.

Jorge Fernando se notabili-zou como um dos grandes no-mes da Rede Globo por seus tra-balhos como diretor e ator em diversos programas. Dono de um sorriso inconfundível, Jorge atuou em programas como “Ci-randa, Cirandinha” (1978) e di-rigiu novelas como “Guerra dos Sexos” (1983 e 2012) e “Que Rei Sou Eu?” (1989). Nos cine-mas, foi diretor de “Sexo, Amor e Traição” (2004) e “Xuxa Gê-meas” (2006).

EURICO MIRANDA (DIRIGENTE DE FUTEBOL)

7/6/1944 - 12/3/2019DORIS DAY (ATRIZ)

3/4/1922 - 13/5/2019 GUGU LIBERATO(APRESENTADOR DE TV)

10/4/1959 - 22/11/2019

SERGUEI(CANTOR)

8/11/1933 - 7/6/2019

RUBENS EWALD (CRÍTICO DE CINEMA)

7/5/1945 - 19/6/2019

CAIO JUNQUEIRA(ATOR)

20/11/1976 - 23/1/2019

BRUNO GANZ(ATOR)

22/3/1941 - 16/2/2019

GABRIEL DINIZ (CANTOR)

18/10/1990 - 27/5/2019ANTUNES FILHO (ATOR E DIRETOR)

12/12/1929 - 2/5/2019

CLÓVIS ROSSI (JORNALISTA)

25/1/1943 - 14/6/2019DICK DALE (MÚSICO)

4/5/1937 - 16/3/2019

RUTGER HAUER (ATOR)

23/1/1944 - 19/7/2019NIKI LAUDA (PILOTO DE F1)

22/2/1949 - 20/5/2019

LÚCIO MAURO (ATOR)

14/3/1927 - 11/5/2019JORGE FERNANDO (ATOR E DIRETOR)

29 de março de 1955 - 27 de outubro de 2019

Considerado sucessor de Silvio Santos, Gugu mar-cou época na televisão com seu programa de auditório.

Precursor do visual andró-geno, Serguei se tornou uma lenda do rock nacio-nal.

Rubens Ewald Filho foi, por décadas, um dos mais respeitados críticos de ci-nema do Brasil.

Famoso por seu trabalho em “Tropa de Elite”, Caio Junqueira era um ator ver-sátil e talentoso.

O ator suíço ficou imorta-lizado no cinema por sua interpretação de Hitler em “A Queda”.

DivulgaçãoDivulgação/Vasco

Divulgação/Globo Divulgação

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30 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

N A N I

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312.º CADERNODe 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020

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32 2.º CADERNO De 20 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro de 2020