rasto atrÁs

8/13/2019 RASTO ATRS

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RASTO ATRSRASTO ATRS

JORGE ANDRADE


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PERSONAGENSPERSONAGENS

VICENTELAVNIA, mulher de VicenteJOO JOS, !"i de VicenteELISA#RA, m$e de Vicente

%ARIANA, m$e de J&$& J&'(ETELVINA, )ilh" de %"ri"n"JES#NA, )ilh" de %"ri"n"ISOLINA, )ilh" de %"ri"n"

PAC*ECO, !retendente de Je'u+n"%ARCELO, "mi& de Vicente%ARIA, e-.n&i/" de Vicente%ARIETA, m$e de Eli'"ur"

DO#TOR 0RAN1A, %(dic& d" S"nt" C"'"VA2#EIRO, "nti& em!re"d& d" )"m+li"

J#PIRA, um" !r&'titut"

%AR#CO, /ended&r de d&ce'%ORO3ONI, c"nt&r" de ire4"

E#G5NIA, c"nt&r" l+ric"JO3INA, um" /i6inh"

GALVOPOETA

PRE0EITOJORNALISTA

DRA%AT#RGOANI%ADOR

PADRE, um !r&)e''&rAL#NOS DO GINSIO

%7SICOS E POVO DA CIDADE NATAL DE VICENTE

...POIS CARECIA QUE UM DE NS NOS RECUSASSE PARA MELHOR SERVIR-NOS...

PRI%EIRA PARTEPRI%EIRA PARTEPOCA: DE 1922 A 1965.CENA: QUANDO SE ABRE O PANO, ALGUNS CASAIS ESTO SENTADOS EM UMCINEMA: ENTRE ELES, VICENTE E LAV!NIA. OUVEM-SE ASSOBIOS DE PROTESTOS.

VO3ES- Acenda a luz! Eta galinheiro. Pardieiro. Miauauuuuuu! u, u, u, u! 8Risadas9

Miauauuuuuu! Larga o osso!VICENTE

- Deve ter faltado luz.LAVNIA

- o cinea "ue n#o $resta. Eu "uis assistir esse file "uando estava no centro. %odoundo dizia "ue era &tio. 'oc( n#o "uis.VICENTE

- )#o tive te$o.

LAVNIA- Estou co dor de ca*e+a.


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LAVNIA- ue anda es"uecer os &culos.

"SUBITAMENTE, UMA GRADE TELA ILUMINADA, ONDE EST# SENDO PRO$ETADOO %ILME &AS AVENTURAS DE TOM $ONES'. PASSA-SE A CENA DA CA(ADA. DE

REPENTE, VICENTE, A%LITO, LEVANTA-SE)VICENTE

- 'aos e*ora, Lavnia!LAVNIA- Mas, 'icente...

VICENTE- )#o "uero ver ais.

LAVNIA- Estou gostando. )#o ve/o nunca u file at0 o fi.

VICENTE81rita9- Ent#o, fi"ue! 82ai9

LAVNIA82ai atrs9- 'icente! ue foi, 'icente3

VICENTE8Aflito9- )#o sei.

VO3ES- Psiu! Psiu! 4ale a *oca! 5ora! Miauuu!

"NO MOMENTO EM QUE A CA(A P*GA PELOS CACHORROS, A CENA DO %ILMEDESAPARECE, ENQUANTO VEMOS VICENTE ENTRANDO EM PRIMEIRO PLANO,CARREGANDO UMA MALA DE VIAGEM. LAV!NIA VEM ABRA(ADA A ELE, COM

E+PRESSO PREOCUPADA. O %ILME, DE UMA GRANDE ESTA(O DE ESTRADA DE%ERRO, ONDE H# MUITO MOVIMENTO DE PASSAGEIROS E DE TRENS QUE CHEGAM

E PARTEM, PRO$ETADO TOMANDO TODO O %UNDO E AS LATERAIS DO PALCO.)VO3ES

- 4arregador3 4arregador3 %6i3 uer t6i3 7os$ede-se no 7otel 8oa 'iage.4arregador3 %6i3 %6i3VICENTE89lha $ara trs $reocu$ado9

- Eu disse a voc( $ara na trazer as crian+as.LAVNIA

- Marta est co eles no carro. 8Aconchega-se a ele, carinhosa9ueria "ue levasse, covoc(, a iage das carinhas.VICENTE

- Assi, voc( faz as coisas ais difceis. Lavnia.LAVNIA

- %enho receio dessa viage.VICENTE- Preciso encontrar eu $ai. Ele est $erdido no eio da ata, no norte de Mato 1rosso. 7

"uase vinte anos. necessrio "ue eu co$reenda de ua vez $or todas o "ue se $assou entre n&s.LAVNIA8Algo retesada9

- o "ue dese/o acia de tudo.VICENTE

- terrvel $ertencer a u eio , e conseguir fugir dele Lavnia.LAVNIA

- )#o foi o "ue se$re "uis3VICENTE

- 2onhei co isto ainda adolescente.LAVNIA- 'oc( conseguiu, 'icente.

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VICENTE- Mas, ficara, escondidos e i, atos "ue n#o e dei6a viver e $az, e atorenta.

9 fracasso da inha $e+a n#o e agoa ais. Mas, 0 ele "ue est levantando u $assado... "ue$ensei ter es"uecido $ara se$re.LAVNIA

- 2ua $e+a n#o fracassou. 2& $or"ue eia d;zia de idiotas n#o co$reendeu voc(, n#o

/ustifica "ue /ulgue seu tra*alho u fracasso.VICENTE- 'oc( est invertendo os dados, Lavnia. 5oi eia d;zia "ue e co$reendeu. E inha

$e+a contava verdades de nossa gente. 'erdades "ue $resenciei "uando orava na fazenda. 4ada$essoa "ue saa do teatro, fazia-e sentir coo se o eu tra*alho fosse gratuito, in;til. Parecia "uehavia destrudo u undo e i, e n#o conseguira su*stitu-lo. Eu sei "ue o fracasso ta*0 0

$ositivo, as "uando se te corage de voltar-se $ara dentro de si eso e avaliar os erros "uecoeteos. Deve a$roveit-lo $ara entender-e... e criar algua coisa. Para isto, $recisoco$reender esse $assado e e li*ertar.LAVNIA

- E voc( n#o est criando3 9 "ue est fazendo, ent#o3

VICENTE- Pensei "ue tivesse encontrado a e6$lica+#o de inha ang;stia, de inha vida. Agora, ve/o

"ue tenho entido. A $ior coisa "ue $ode acontecer a u autor, Lavnia, 0 $erce*er "ue ente e n#osa*er coo sair da entira.LAVNIA

- Pronto!


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JOO JOS- )e eu. 8Pausa9Minha #e costuava dizer= $ra catingueiro, s& ca+ador atreiro.?

"QUANDO $OO $OS PRONUNCIA A PALAVRA &ME', ILUMINA-SE O QUARTO DACASA A RUA 10, ONDE MARIANA, DEITADA, %UMA EM UM CACHIMBO DE BARRO.

MARIANA TEM MAIS OU MENOS QUARENTA E CINCO ANOS, %ORTE E TEM UMAE+PRESSO UM POUCO MASCULINA. OS CABELOS SO PU+ADOS PARA A NUCA EM

GRANDE COQUE. PERCEBE-SE QUE ELE NO CONHECE A VAIDADE, A NO SERCOMO COISA CENSUR#VEL NOS OUTROS. AS SOBRANCELHAS SO GROSSAS, ASMOS #SPERAS E TEM BU(O LIGEIRAMENTE ACENTUADO.)VA2#EIRO

- 2 Mariana sa*ia o "ue falava. 89*serva


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SAPATOS DE BICO %INO. PACHECO APIA-SE EM UMA BENGALA E A ROUPA NITIDAMENTE DO COME(O DO SCULO. ESTO TODOS ENTRE SESSENTA ESETENTA ANOS. TANTO ELES QUANTO MARIANA, PARECEM %IGURAS DE UMQUADRO ONDE OS CONTORNOS NO ESTO BEM DE%INIDOS.)JOO JOS

- A$osto "ue est#o sentadas na sala, conversando co o Pacheco. 2e 0 "ue ele ainda vive.

VA2#EIRO- 7oe so*er*o, a"uele.JOO JOS

- E ainda est#o falando e lord Astor.VA2#EIRO

- ue 0, co$adre3 ingl(s do frigorfico3JOO JOS

- )#o. Morreu nu *arco chaado %itanic.VA2#EIRO

- 4oitado!JOO JOS

- )#o agento a"uilo dois dias 8Encerra o assunto9'aos ca+ar!"$OO $OS LEVANTA-SE. AS PERNEIRAS DE COURO, PRESAS CINTA, AUMENTAMO SEU PORTE DESEMPENADO. O SORRISO TORNA SEU ROSTO SERENO, COMQUALQUER COISA DE IN%ANTIL.)JOO JOS81rita, co grande for+a de vida9

- 8ra;na! 5anfarra! Melindrosos! %oca a *uzina, co$adre! 8ota esses cachorros $ratra*alhar 8'a"ueiro sai, *uzinando9 'aos ensinar $ra esse velhaco "ue correr rasto atrs 0artianha "ue ca+ador atreiro conhece..."$OO $OS P#RA, SUBITAMENTE, LEVANDO A MO AO PEITO E APOIANDO-SE

#RVORE. VICENTE "5 ANOS) APARECE ATR#S DA #RVORE E CAMINHA, ADMIRANDOA LUA.)VICENTE8C anos9

- Pa$ai! Por "ue a lua est "ue*rada3JOO JOS8Muda o to9

- )#o estou vendo lua nenhua no c0u, 'icente.VICENTE

- Eu vi no livro.JOO JOS

- desenho, eu filho.VICENTE

- 'i ta*0 no c0u e estava "ue*rada. Por "ue, $a$ai3

JOO JOS- )#o sei.

VICENTE8u $ouco aflito9- Por "ue a lua fica "ue*rada3 ue sa*e3 )ingu0 sa*e3

JOO JOS- 'icente!

VICENTE- 2enhor!

JOO JOS- 'oc( / sa*e la+ar3

VICENTE- )#o.JOO JOS

F


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- La+ar 0 ais i$ortante do "ue sa*er $or "ue a lua fica "ue*rada.VICENTE

- Por "u(3

JOO JOS- Por "ue 0. uer a$render3

VICENTE8Afastando-se, at0 desa$arecer9- 2e o senhor e e6$licar $or "ue a lua fica "ue*rada, a$rendo a la+ar ta*0. 82ai9VA2#EIRO8'olta correndo9

- ue foi co$adre3 a"uela dor novaente3JOO JOS

- )#o foi nada.VA2#EIRO

- Est $ensando no enino, co$adre3 Estava falando sozinho outra vez! 'aos see*ora, co$adre! Pelo aor de Deus!JOO JOS

- Dei6a de *esteira, 'a"ueiro. 4orre! ue est es$erando3 A"uele velhaco vai e*arcar no

rio.VA2#EIRO

- 'oc( est *o eso, co$adre3JOO JOS

- Mais fire do "ue esta rvore. fgado. 7eran+a de falia. L ecasa, todo undo sofria do fgado."$OO $OS E VAQUEIRO, ALEGRES, SAEM CORRENDO. DESAPARECEM OS&SLIDES'. VAQUEIRO SAI TOCANDO A BUINA, QUE VAI SE DISTANCIANDO E SECON%UNDINDO AO APITO DO TREM QUE REAPARECE. MARIANA, ISOLINA, $ESU!NA

E PACHECO MOVIMENTA-SE. O APITO DO TREM PASSA DA SALA PARA O QUARTOEM TONS DI%ERENTES: M#QUINA ELTRICA E DA DCADA DE VINTE. PACHECOOLHA O RELGIO. MARIANA, RECOSTADA NOS TRAVESSEIROS, %UMA ESPALHANDO

A %UMA(A COM AS MOS. PERCEBE-SE QUE ELA EST# IRRITADA COM A CAMA. NASALA, $ESU!NA E ISOLINA %AEM CROCH*. AS MOS DE ISOLINA TRABALHAMAUTOMATICAMENTE. ISOLINA TEM O PENSAMENTO LONGE. $ESU!NA ENROLA AL, ENQUANTO PACHECO SEGURA O NOVELO. NO MOMENTO EM QUE A SALA SEILUMINA, V*-SE PACHECO, COM DI%ICULDADE, PEGANDO O NOVELO NO CHO.$ESU!NA SUSPIRA, ENLEVADA COM A AMABILIDADE DE PACHECO. QUANDO %ALA,PACHECO NO ENCARA AS PESSOAS, VIRANDO A CABE(A LIGEIRAMENTE PARACIMA. %ALA MAIS PARA SI MESMO DO QUE PARA OS OUTROS. OS TR*S CONVERSAM,

DANDO A IMPRESSO DE QUE OS ASSUNTOS $# %ORAM MILHARES DE VEES

REPETIDOS.)JES#NA89uvindo o a$ito do tre9- )#o est atrasado o tre, senhor Pacheco3

PAC*ECO81uarda o rel&gio9- 4oo se$re.

JES#NA- Ggualzinho ao nosso rel&gio. 2& te taanho. Pensei "ue o servi+o houvesse elhorado.

PAC*ECO- 9 "ue nasce torto n#o te conserto.

JES#NA

- De $rieiro, andvaos de trole e havia te$o $ra tudo. 7 tanta velocidade $erigosa $ora, e ningu0 acha te$o ne $ara visitar os outros.PAC*ECO

H


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- As estradas de ferro se$re fora uito al organizadas. 5alta de gente es$ecializada.JES#NA

- )#o sa*e ne es$erar ua senhora descer. 89lha Pacheco9Antigaente sa*ia es$erare ainda dava a #o I gente.PAC*ECO

- Delicadezas!

JES#NA- Mios! Mios, senhor Pacheco!

ISOLINA8'oltando de seus $ensaentos9- )#o se salvou ningu0 3

PAC*ECO- )ingu0. Gra divina.

JES#NA- Por "u(3

PAC*ECO- As /&ias, a ri"ueza e o orgulho "ue havia dentro do navio, $esava ais do "ue ele. %inha

"ue ir ao fundo.ISOLINA

- Dissera "ue ne Deus afundaria o %itanic. 'igia!PAC*ECO

- Presun+Jes.JES#NA

- Ri"ueza s& traz infelicidadeK e a vaidade e a *eleza, castigo de Deus. ue vale a *eleza,n#o 0, senhor Pacheco3 A$ar(ncias.ISOLINA

- Lord Astor $arecia u $rnci$e encantado.JES#NA89lha Pacheco9

- @ olhar $rofundo, agn0tico!ISOLINA

- Delicado, gentil. Le*rava u $ouco o doutor 5ran+a.PAC*ECO

- A esa fronte altiva.ISOLINA

- Por0, $erdia $ara o doutor 5ran+a. Lord Astor era a$enas u hoe de escol. 5ran+a eraua grande 0dico, hoe caridoso $erdido neste sert#o. 4ientista!PAC*ECO

- ue foi feito de 5ran+a3

JES#NA- 'oltou $ara 8ahia.ISOLINA82us$irante9

- Morreu nua cidade solitria do interior.PAC*ECO

- Mgoas insondveis.ISOLINA

- Ainda se ulher. t#o triste u hoe se co$anheira.PAC*ECO

- Ga t#o *e a"ui. Por "ue $artiu da"uele /eito, da noite $ara o dia3JES#NA89lha ligeiraente Gsolina9

- 4oisas de a#e.PAC*ECO- Levei-o I esta+#o, as n#o e disse nada.


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ISOLINA82orri a Pacheco, agradecida9"OS TR*S T*M UM MOMENTO DE EVOCA(O. MARIANA AGITA-SE NA CAMA)%ARIANA

- Doutor 5ran+a! Doutor 5ran+a!0RAN1A8A$arece I $orta, todo de *ranco9

- Est sentindo algua coisa, dona Mariana3

%ARIANA- 4laro "ue n#o. )#o 0 necessrio u e6ae rigoroso, doutor. 8Algo enigtica9Ainda sefosse e Gsolina. Etelvina 0 forte coo u *oi de carro.0RAN1A

- 9 "ue te Gsolina3%ARIANA

- Anda co tanta sus$ira+#o. 8Gntencional9Gsolina n#o sa*e se "uei6ar de nada. )unca sei o"ue sente. 9 senhor 0 0dico, "ue sa*e $ode desco*rir. De$ois, 0 ua filha e6e$lar. De $rendasraras.


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PAC*ECO- Esse neg&cio de $oesia nunca deu nada $ra ningu0.

JES#NA85aceira9- Ah, senhor Pacheco! uanta desilus#o!

PAC*ECO- A verdade 0 "ue ho/e e se$re, "ue "uer a o+a, e6e co o $0 e a *olsa.

ISOLINA- Por isto n#o se casou3PAC*ECO84oo se / es$erasse a $ergunta9

- 9 fogo nasceu da $edra, a $edra nasceu do ch#o, fireza nasce dos olhos, o aor docora+#o. )#o nasceu.JES#NA

- Mas isto 0 $oetar, senhor Pacheco!PAC*ECO

- 2i$les trovar.JES#NA

- 2& teos aor ua vez na vida. Ma#e dizia= "ue casa co "ual"uer u, aceita

"ual"uer sorte.PAC*ECO

- Mulher de carter, dona Mariana.ISOLINA

- Mas, uito in/usta.JES#NA

- 9ra, Gsolina!ISOLINA

- Era eso. Ggual a ela s& eso


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"ETELVINA ENTRA EN+UGANDO AS MOS NO AVENTAL. EMBORA SE$A A MAISMO(A DAS IRMS, ETELVINA TEM A CABE(A COMPLETAMENTE GRISALHA. SEUROSTO, PORM, MO(O E CURTIDO DE SOL, REVELANDO SER A NICA QUE %ATRABALHOS %ORA DE CASA. A MAIS PARECIDA COM MARIANA.)ETELVINA

- )#o ouvira *ater I $orta3

ISOLINA- )#o!ETELVINA

- Preciso largar a cozinha e atender! E voc(s sentadas a"ui.ISOLINA

- )#o ouvios, Etelvina.ETELVINA

- se$re assi!JES#NA

- )#o sou co$eira.ETELVINA

- )e eu, cozinheira. Mas, se n#o cozinho, voc(s orre de foe. 8Etelvina sai9JES#NA

- 4oer 0 t#o $rosaico!PAC*ECO

- 5astidioso! 8Etelvina volta9ISOLINA

- ue foi, Etelvina3 Por "ue est assi3

ETELVINA8Mostra o telegraa, eio $assada9JES#NA

- %elegraa3! Para n&s3!ETELVINA

- Est e seu noe, Gsolina.ISOLINA8)ervosa9

- Ent#o, a*ra, Etelvina!JES#NA

- )#o gosto de telegraas, senhor Pacheco. 2& traze notcias s.PAC*ECO

- Mensageiros funestos!ETELVINA

- Morte n#o $ode ser. )#o conheceos ningu0 fora da"ui.

JES#NA- Est se es"uecendo de


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ETELVINA- 9 5ilho de 4hegarei "uarta-feira tre das nove. Ansiosos rever falia. A*ra+os so*rinho 'icente.?

ISOLINA84oovida e ansiosa9- Est co saudade da falia. Ele te falia! 2oos n&s! 2oos n&s, Etelvina!

JES#NA- 4laro "ue soos n&s. Est vendo, Etelvina3 'oc( vivia acusando o coitado. Estava

tra*alhando, estudando, ilustrando-se, honrando o noe da falia.PAC*ECO

- Da counidade!ETELVINA

- Podia ter nos visitado, andado ua cartinha de vez e "uando. Para i 0 coo sefosse u estranho.ISOLINA8%erna9

- 'icente era uito solitrio.JES#NA

- @ $ouco neurast(nico.ISOLINA

- Gnco$reendido, nada ais!"ILUMINA-SE UMA VITROLA, ONDE VICENTE "2 ANOS) EST# SENTADO, OUVINDO

EM GRANDE CONCENTRA(O, MARIA CANIGLIA CANTANDO &VISSI D3ART', DAPERA TOSCA DE PUCCINI. POR UM MOMENTO, TODOS %ICAM EVOCATIVOS COMO

SE ESCUTASSEM A MSICA. ARREBATADO, VICENTE %ECHA OS OLHOS, SEGUINDOCOM AS MOS O MODULAR DA VO. QUANDO TERMINA A MSICA, VICENTE

DESAPARECE.)ETELVINA

- Mais do "ue u estranho. @ enino "ue nunca consegui co$reender.ISOLINA

- %#o fcil.ETELVINA

- Mas, era u *elo enino! Perguntador e es$reitador, s& ele!JES#NA

- A$osto "ue agora as sirigaitas v#o nos visitar.ETELVINA82aindo9- Preciso ver o "ue teos na des$ensa.

ISOLINA- 'aos rece*er uitos convites!

JES#NA- )ossa casa vai ficar cheia de gente outra vez!

ISOLINA- Podeos dar reuniJes, fazer se+Jes literrias.

JES#NA- 4onvidaos o $oeta do /ornal..

PAC*ECO- u *ardo e tanto!JES#NA

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- ... a cantora da atriz, o doutor 1alv#o...PAC*ECO

- 7oe de todas as luzes!JES#NA

-...e...e... enfi, as $essoas cultas do lugar.

PAC*ECO- 9s hoens grados!ISOLINA

- 9 filho da coadre Eullia est co ais de cin"enta anos, Gsolina, e 0 notrio.ISOLINA8Desolada9

-


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- Parece.%ARIANA89*serva 5ran+a9

- ue idade te doutor30RAN1A

- uarenta e seis.%ARIANA

- Est na hora de se casar.0RAN1A-


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0RAN1A- 2uas filhas s#o si$ticas, dona Mariana.

%ARIANA8R$ida9- Por "ue, ent#o, n#o se casa co ela3

0RAN1A- Por"ue n#o caso co "ue, dona Mariana3

%ARIANA- Gsolina! Ela gosta uito do senhor. 1aranto "ue 0 ua o+a sadia. )#o te doen+a

nenhua.0RAN1A

- Dona Mariana!%ARIANA

- ua &tia enina. 8o! )#o 0 t#o enina assi!... as ser ua *oa co$anheira.0RAN1A

- )#o duvido. Mas, n#o $retendo e casar ais.%ARIANA

- )#o diga isto, doutor. 7oe solteiro 0 traste.0RAN1A

- verdade. )#o gosto de Gsolina $ara casar.%ARIANA

- E


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- 9ra, $or "u(3%ARIANA

- Para "ue u hoe "uer ua flauta30RAN1A

- A vida n#o 0 feita s& de tra*alho, dona Mariana!%ARIANA

- A inha, foi. A dele, n#o.0RAN1A- @ hoe "ue tinha trinta il al"ueires...

%ARIANA- E trinta il dvidas.

0RAN1A- A senhora est aarga, ho/e.

%ARIANA- verdade. A vida era assi. os hoens a$rendia a andar de$ois "ue sa*ia ontar a

cavalo. Passava a vida correndo atrs das ca+as. En"uanto isto, n&s, ulheres, olhvaos asfazendas e as dvidas aontoava.

0RAN1A- 9nde est a flauta3

%ARIANA- )a fazenda. @ dia, eu dou sui+o nela. 1uardei s& $ara n#o e es"uecer dos neg&cios

do eu arido. Para cada co$adre "ue vendia ua fazenda, dava duzentos e trezentos al"ueires de$resente. Recolhia e casa todo undo "ue via. >A huanidade 0 uito sofredora, Mariana!?, dizia.%a*0!...era s& ele virar as costas, eu $unha tudo $ra andar. 8Pausa9 ua $ena, doutor.0RAN1A85oge ao assunto9

- A senhora est ais forte do "ue Etelvina.

%ARIANA- Eu sei. 2& vou deitar $ra orrer.

0RAN1A- Ent#o, $or "ue andou e chaar3

%ARIANA- Gsolina! Minhas filhas n#o t( nenhua iniciativa. Pensa e voc(s e fala da lua.

Gsolina vai gostar do senhor e sil(ncio at0 o t;ulo. Mulher 0 o *icho ais *o*o "ue Deuses"ueceu no undo! 8Pausa9Etelvina ser o hoe da falia. 2e ela orre, as outras est#o

$erdidas.0RAN1A

- uanta aargura! A senhora est doente, as 0 da ala.

%ARIANA- Eu sei, doutor 5ran+a. 2into a"ui dentro. 4o a $artida deste tre, uita coisa vai aca*ar.0RAN1A

- Estrada de ferro 0 $rogresso, dona Mariana. 2& $ode trazer coisas *oas.%ARIANA

- E s. 9*rigada, doutor 5ran+a. 84haa9 Etelvina! Etelvina! Aco$anhe o doutor5ran+a.0RAN1A

- A senhora e $erite3%ARIANA

- 9 "u(3

0RAN1A- 1ostaria de *ei/ar sua #o.%ARIANA

F


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- Pra "u(30RAN1A

- Adiro uito as senhora.%ARIANA

- )#o gosto de *ei/a+#o. At0 logo, doutor.0RAN1A82orri9

- At0 a vista. 82ai9"PERCEBE-SE A PRO%UNDA PREOCUPA(O DE MARIANA. $ESU!NA E ISOLINAENTRAM, VINDAS DA RUA VESTIDAS NO RIGOR DA MODA, MAS TRAENDO PANOAMARRADO CABE(A. AS DUAS %ORMAM CONTRASTE ACENTUADO COMETELVINA. ESTA E+AMINA AS IRMS COM ADMIRA(O SECRETA.)JES#NA

- Ah! *o dia, doutor 5ran+a.ISOLINA

- 8o ida.0RAN1A

- 8o dia. 4oo v#o3

JES#NA- Muito *e.

0RAN1A- Es$erei-as, as agora $reciso ir.

JES#NA- Mae $ensa "ue ainda estaos na fazenda, "uando a visita do 0dico era a$roveitada at0

$ara as vacas!ETELVINA

- 9nde fora3JES#NA

- Arruar a igre/a.

ISOLINA- Est linda! @ ninho de flores!

0RAN1A- Ent#o3 %udo $ronto $ara as *odas3

JES#NA- %udo.

ETELVINA- E


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ETELVINA- Mas, #e est doente!

JES#NA-


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0RAN1A- De "ual"uer aneira ela $assa.

JES#NA- Pode $assar e atitudes naoradas!

ISOLINA84o ais evid(ncia do "ue $ensa9- 4heia de afetos!

0RAN1A- 9u de es$inhos.

JES#NA- 2#o os afetos "ue n#o dei6a os es$inhos nascere.

0RAN1A- Alguns / nasce conosco.

ISOLINA85also horror9- Meu Deus! uanto desengano.

JES#NA- 9 seresteiro da oda vai cantar na esta+#o.

ISOLINA- 9 1ondoleiro do Aor.

0RAN1A- )#o 0 ua can+#o i$r&$ria $ara o oento3

JES#NA- a ;nica "ue ele canta.

ISOLINA- 2a*e "ue a 4orina vai recitar, doutor3

0RAN1A- 9utra vez3!

JES#NA- A Morte da guia! 'issi dOarte, vissi dOaore?.

0RAN1A- Ela canta *e.

ISOLINA- 'ai cantar e cia da $latafora da "uina. Gagine, doutor! 84o fragilidade u

$ouco acentuada9Eu orreria de edo!0RAN1A

- %e corage. 8o! Es$ero "ue ningu0 toe o tre se "uerer.ISOLINA89uve-se a *anda "ue se a$ro6ia e $assa9)e ao casaento o senhor vai30RAN1A

- A 2anta 4asa e es$eraQJES#NA

- )e todas as $essoas de "ue o senhor deve cuidar, est#o na 2anta 4asa, doutor.ISOLINA

- Doutor 5ran+a $arece n#o gostar de cerionias latinas. )unca o veos I issa.0RAN1A

- 2ou descrente.ISOLINA85aceira9

- DesilusJes30RAN1A- 2ou livre $ensador.

N


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ISOLINA- Ah! "ue coisa ais feia, doutor!

JES#NA- 9s hoens s#o assi eso. )#o acredita e nada!

0RAN1A- A$enas disse "ue fa+o $ensaduras. 4urativos.

ISOLINA- @ /ogo de e"uvocos30RAN1A8Penalizado9

- 2i. De e"uvocos.JES#NA

- %rocadilhista3 Mais ua $renda de es$rito "ue n#o conhecia no senhor.0RAN1A

- %enho uitas... ocultas. At0 logo. Divirta-se!JES#NA

- At0 logo.ISOLINA82ussurro9

- Adeus! 85ran+a sai9JES#NA84orre e olha-se no es$elho9

- )#o agentava ais inha cara.ISOLINA8%riste9

- Muita gente vai se ralar de inve/a.

JES#NA- 2e vai! 82u*itaente9'oc( notou algua coisa, Gsolina3 )o doutor 5ran+a3 Estava co

u ar isterioso. Pareceu-e t#o es"uivo!ISOLINA

- 4ientista! 2#o isteriosos coo os $oetas.JES#NA

- Deve aar ta*0 coo eles= e sil(ncio!ISOLINA8Perdida9

- 2#o os ais sinceros. Duradouros!JES#NA

- 9 eu Pacheco n#o 0 $oeta, as ta*0 se ant0 e sil(ncio.ISOLINA

- sentir difcil de esse e6ternar.JES#NA

- Mas desco*ri o eio de fazer Pacheco se declarar.

ISOLINA- 3 4oo3

JES#NA- 'ou entir "ue seguirei na $rieira viage.

ISOLINA- ue &tio! 'ai ficar aterrado.

JES#NA- 2u*irei na $latafora, $roetendo escrever e "uando ele ficar desolado, recitarei=Da *oca, farei tinteiro.Da lngua, $ena afiada.

Dos dentes, letras i;das.Dos olhos, cartas gravadas!JES#NA


22/82

- A ele se declara... e $artireos /untos! Partir! $artir! ue sensa+#o deleitosa! Partir $ara"ual"uer lugar 89lha-se no es$elho9ISOLINA89lha-se no es$elho9

- )avegar e transatlnticos!JES#NA89lha-se no es$elho9

- 4onvivendo co lordes!

ISOLINA89lha-se no es$elho9- ue 0 a"uela rainha da oda, co*erta de arinho3ISOLINA89lha-se no es$elho9

- 4o vestido $erl( e lindas aigrettes!JES#NA89lha-se no es$elho9

- 2#o as duas ir#s isteriosas!... fa*ulosaente ricas!... "ue esaga cora+Jes!ISOLINA82u*itaente9

- 'oc( vai ago-lo,


23/82

- 5ica feio, a#e!%ARIANA

- ue i$orta.


24/82

"ISOLINA E $ESU!NA APARECEM PORTA, NOVAMENTE COM OS PANOS NACABE(A.)ISOLINA8Disfar+a, for+ando naturalidade9

- A igre/a est linda, a#e!JES#NA

- Enfeitara todos os altares!

%ARIANA8Des$eitada9- Es*an/aento!ISOLINA

- 4o*rira a nave co $0talas de flores, Etelvina!

%ARIANA8Ri, aliciosa9- 1ostaria de ver


25/82

- Mentiu! 2ei uito *e o "ue es$era voc(s.ETELVINA8Pedindo9

- Ma#e!JES#NA

- 9 "u(3 9 "ue 0 "ue nos es$era3%ARIANA

- 'oc( 0 uito feia, inha filha.ETELVINA- )#o diga isto, a#e!

%ARIANA- Pode ir, Etelvina! Preciso falar co Gsolina e


26/82

- )#o $reciso ais da sua autoriza+#o. Para nada!%ARIANA8Possessa9

- 'oc(s n#o s#o ra$arigas!JOSE0INA

- Ma#e! )#o diga isto!%ARIANA

- Minha casa n#o 0 *ordel! 2aia da inha frente co essa cara de ulher I-toa!ISOLINA- a cara "ue a senhora nos deu. )ingu0 nos $rocura, nenhu o+o serve $ara n&s...

%ARIANA- %a*0 n#o a$arece nenhu!


27/82

- ua coisa "ue n#o entendo, Maruco! 9 filho de


28/82

ETELVINA84oovida9- 9*rigada!

%AR#CO- )on $arlare. )on $arlare.

"ISOLINA E $ESU!NA ENTRAM MUITO E+CITADAS.)JES#NA

- %elegrafaos $ara


29/82


30/82


31/82

ELISA#RA88ei/a a #e9- )#o $recisa teer. 9 aor odifica tudo.

%ARIETA- Deus "ueira.

ELISA#RA- Eu "uero. Agora... u sorriso. Este 0 o dia ais feliz da inha vida. )#o teo nada,

a#e. Rui co ele, uito $ior se ele. Eu gosto uito do


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- 2er "ue n#o sai dos trilhos3 Est $egando fogo! assi eso! Est $egando fogo!5eche as /anelas! 5eche!! 'ai $artir! 4uidado! 9lha as crian+as! 4uidado! 4redo! 5eche as

/anelas!%ARIETA

- Elisaura! Elisaura, inha filha! Adeus! )#o a*ra a /anela! 2e/a feliz!JES#NA

-


33/82

%ARIANA- 5rates suus ones?...%ARIANA

- ue 0 isto3

ETELVINA- 2oos todos ir#os..%ARIANA

::


34/82

- Ah!ETELVINA

- ... "ue vai si*olizar ao vivo, a e6ist(ncia e cou dos naturais do lugar, co hoensde todas as $roced(ncias do undo, "ue dese*arcar#o e nossa ur*e.%ARIANA8%riunfante9

- )#o falei, Etelvina3 L se foi o sossego $ara se$re. E outras coisas ta*0!

ETELVINA- 9s aviosos e afinados acordes da 2ociedade Euter$e Musical, a fina voz dee6traordinrio so$rano e os a$itos "ue re*oara $elo nosso sert#o, coeorara os felizes eventos."OUVEM-SE OS APITOS DAS M#QUINAS 4 ELTRICA E DA DCADA DE VINTE. UM SE

DISTANCIA, OUTRO SE APRO+IMA.)%ARIANA84o tristeza9

- 2& "uero ver o "ue vai sair. 8oa coisa n#o ser!"SUBITAMENTE COMOVIDA, ETELVINA SE VOLTA E SAI. DESAPARECE A CENA

LENTAMENTE, ENQUANTO VICENTE "0 ANOS), CARREGANDO SUA MALA, ENTRANO CEN#RIO, E+AMINANDO SUA VOLTA. VOLTAM, POR ALGUNS MOMENTOS , OSLATIDOS DE CES E OS SONS DE BUINAS. &SLIDES' COM CORES SOMBRIAS,

SUGERINDO A EVOCA(O TORTURADA DE VICENTE, DO CENA UM E%EITOE+PRESSIONISTA. A E+PRESSO DE VICENTE DE EVOCA(O INTENSA. ELERECUA, COMO SE RELUTASSE CHEGAR, ENCOSTANDO-SE BOCA DE CENA.OLHANDO %I+AMENTE PARA A %RENTE, UMA IMAGEM VIVA DA SOLIDO, DA

DESESPERAN(A. ILUMINA-SE A SALA ONDE ISOLINA, $ESU!NA E ETELVINA,VESTIDAS DE %ILHAS DE MARIA, AGUARDAM SUA CHEGADA. EST#TICAS, ELAS

PARECEM SUSPENSAS NO ESPA(O. AS E+PRESSES, AS MEDALHAS GRANDES,PRESAS EM %ITA LARGA E AUL, A IMOBILIDADE ANSIOSA, TUDO NELAS PRO%UNDAMENTE COMOVENTE. O GAROTO ENTRA, ADMIRANDO O RIO)VICENTE8C anos9

- 9 rio est cheio de igara$0s! 9lha, $a$ai! uantos! A lua "ue*rada est *oiando nele!"VICENTE "15 ANOS), AGITADO, SURGE AO %UNDO. VICENTE "0 ANOS) SE CONTRAI

AINDA MAIS.)VICENTE8C anos9

- Por "ue se encarni+a tanto contra i3 2er "ue n#o $ode co$reender3VICENTE8C anos. A*re os *ra+os e anda, e"uili*rando-se9

- Preciso $erguntar $ra vov&... coo 0 "ue gente grande 0K $or "ue chora escondidosde*ai6o da angueiraK $or "ue n#o res$onde inhas $erguntas...!%ARIANA8A$enas a voz9

-


35/82

%ARIANA- )&s soos assi. $ra "ue serve ua igre/a co*erta de flores se cada

ulher "ue nasce 0 otivo de tristeza3 Lua 0 lua, flor 0 flor, rio 0 rio. )o fundo s& te lodo!VICENTE8C anos. 4ainha transfigurado9

- )#o diga isto, vov&! A lua ora nas nuvens, as flores s#o lindas!... e os rios est#o se$recainhando, co*ertos de flores e de luas! 89s tr(s 'icentes, cainha, desa$arecendo9

%ARIANA- Mergulhe nu $ra ver! 8Revoltada9 a"uela flauta! %a*0... virou $enico de soldado narevolu+#o de :! 8'olta e sai9"VICENTE "0 ANOS) DOMINA-SE, PEGA A MALA E ENTRA NA SALA. DESAPARECEMOS &SLIDES', VOLTANDO A LU %RIA QUE CARACTERIA AS CENAS DAS TIAS.VICENTE P#RA E VIRA O ROSTO, NO PODENDO SUPORTAR A VISO DAS TIAS.

ESCONDE O ROSTO, ENQUANTO SACUDIDO PELOS SOLU(OS. SUBITAMENTE, NOAG/ENTANDO MAIS, ISOLINA ADIANTA-SE.)ISOLINA

- 'icente! 'oc( est chorando3 Meu filho...!"ISOLINA E VICENTE SE ABRA(AM. ETELVINA E $ESU!NA EN+UGAM OS OLHOS.)

SEG#NDA PARTESEG#NDA PARTECENA: QUANDO SE ABRE O PANO, AS TIAS, AMIGOS, AUTORIDADES E

INTELECTUAIS, REALIAM SE(O LITER#RIA EM HOMENAGEM A VICENTE.SENTADO ENTRE AS TIAS, VICENTE OBSERVA OS PRESENTES. EUG*NIA MUITOBRANCA, COM VESTIDO DE BABADOS E RENDAS QUE LEMBRA UM POUCO VIOLETAVALER, CANTA A #IA DA TRAVIATTA: &AH, %ORS3 LUI'. AS E+PRESSES

REVELAM ENLEVO SINCERO. $ESU!NA E ALGUNS DOS PRESENTES SONDAMVICENTE, TENTANDO DESCOBRIR O QUE ELE SENTE. VICENTE PARECE PERDIDO

EM SI MESMO. ISOLINA, POSSESSIVA, ACARICIA A MO DE VICENTE. H# UMACUMPLICIDADE A%ETUOSA E EVOCATIVA ENTRE OS DOIS. SUBITAMENTE, TODOS%ICAM E+T#TICOS, ENQUANTO A VO DE EUG*NIA VAI SUMINDO, LENTAMENTE,

AT %ICAR QUASE INAUD!VEL. AS LUES ABAI+AM, DEI+ANDO A SALA NAPENUMBRA. SOMENTE ISOLINA %ICA ILUMINADA. VICENTE "2 ANOS) SURGE AO%UNDO, PASSA ENTRE OS CONVIDADOS E VEM SE SENTAR EM PRIMEIRO PLANO,

E+AMINANDO ATENTAMENTE O LIVRO QUE TRA NAS MOS.

ISOLINA8En"uanto 'icente $assa9-


36/82

ue sou eu3 ue3 Era o canto "ue coe+ava. Ent#o, inha verdade saiu da terra, cresceu eultra$assou a ata. Perce*i... coo devia ser aravilhosos co$reender, inter$retar e transitir!Partir da inha casa, inha gente, de i eso... e chegar ao significado de tudo, tendo cooinstruentos de tra*alho a$enas as $alavras e a vontade. )#o usar nenhu suor, a n#o ser o eu.

)enhu *ra+o, al0 dos eus. )enhua intelig(ncia, e6ceto a inha. Gsto era ser livre eu ecounicaria! 2eria tudo! De re$ente, u tiro ecoou na ata. Pa$ai veio ao eu encontro, sorridente,

segurando sua $resa. Eu, fui ao encontro dele co a inha *e fire nas #os, sentindo "uevoltaria ao alto da rvore novaente.

ISOLINA84o incentivo o*sessivo9- 'oc( vai se realizar, 'icente!

VICENTE8: anos. Levanta-se, revoltado9- Realizar coo... levando a vida "ue levo3 82ai9

ISOLINA84arinhosa e convicta9- 4onfie e si eso! 'oc( ainda vai ser i$ortante!

"QUANDO VICENTE DI &EU ME COMUNICARIA', COME(A-SE A OUVIR UMA MSICAPOPULAR MODERNA. LENTAMENTE, &SLIDES' DE MULHERES E HOMENS A RIGOR,

COBREM AS PAREDES DA CENA. DURANTE AS PALMAS, O ANIMADOR ADIANTA-SE.AGORA, SOMENTE VICENTE "0 ANOS) %ICA ILUMINADO: A REMEMORA(O DELE.)ANI%ADOR- E agora!...o $r(io de elhor autor. Devo adiantar "ue esse $r(io veio criar u $ro*lea dedecora+#o $ara a ulher do autor, $ois 0 o "uarto "ue ele rece*e. 82u*itaente9 Melhor autornacional do ano... VICENTE!

"VICENTE SE ADIANTA. LAV!NIA SURGE, AO %UNDO, MUITO BEM VESTIDA.)

LAVNIA88ei/a 'icente9- 2atisfeito3 Agora... u $r(io e cada estante!

VICENTE8B: anos. A*ai6a a voz9- E u $a$agaio e cada 8anco.

LAVNIA- )#o recoece, 'icente.

VICENTE- o resultado de cinco $e+as $rontas "ue ningu0 "uer encenar.

LAVNIA- Pra "ue tanta aargura, 'icente3

VICENTE89lha o $r(io e suas #os9

- 4o esse, s#o oito e eu escrit&rio... e estou s& diante deles. E coo eu, uitos! 4oencena+Jes "ue n#o o*edece a nenhu o*/etivo, ningu0 $ode se sentir realizado. 4ada es$etculose transfora e "uestJes de lucros e $erdas! 4oo u autor $ode criar, se $recisa $ensar en;ero de $ersonagens, teas $roi*idos, censura, intolerncia $oltica...3LAVNIA

- 'icente! Por favor!

VICENTE84o o*sess#o9- E6iste, nesta cidade, cinco ilhJes de ha*itantes! 4oo levar a eles, o "ue 0 $reciso

dizer3 82enta-se9"LAV!NIA SAI E OS &SLIDES' DESAPARECEM. A VO DE EUG*NIA SE ELEVA

NOVAMENTE, TERMINANDO A #RIA DA TRAVIATA. VOLTANDO A SI, VICENTE "0ANOS) OBSERVA ISOLINA, DIS%AR(ADAMENTE, E SORRI, RECONHECIDO EA%ETUOSOS. ISOLINA, COMPREENSIVA, ACARICIA A MO DE VICENTE.)

:


37/82

VO3ES- Muito *e! ue voz! 8e cantado! A %raviata 0 %raviata! Para*0ns! 9*rigado!

ISOLINA- Linda! )#o achou3 'oc( $arecia t#o distante!

VICENTE- Ainda a"uela ania horrvel de e ausentar, de re$ente.

ISOLINA84;$lice9- Eu $erce*i.JES#NA

- ueraos "ue Eug(nia cantasse >'issi dOarte?, as...E#G5NIA

- )#o 0 $ara o eu registro.GALVO

- 'oc( devia ter feito carreira.E#G5NIA

- Pa$ai n#o dei6ou, doutor 1alv#o.JO3INA

- 4o certeza ficou $reocu$ado. 'ida de artista 0 t#o $erigosa!ISOLINA89fendida9

- Perigosa, $or "u(, Al0 de cantora, ainda "uer fazer o $a$el de ra$ariga3 9nde est co aca*e+a3 9 "ue n#o v#o $ensar de i3? Perdi a o$ortunidade.

ISOLINA89lha 'icente9- 9s artistas s#o t#o al co$reendidos!PAC*ECO

- %eria sido ais ua con"uista artstica a"ui da terra.PAC*ECO8R$ido9

- A, trou6era a estrada de ferro e aca*ara co a inha co$anhia de troles. E diga-sede $assage, *e ais eficiente do "ue isto "ue est a. Ent#o, resolvi co$rar uas terras e $lantarcaf0= o governo $roi*iu a $lanta+#o de caf0. 'endia as terras= o governo andou "ueiar o dinheiro.>Esse governo est co $reven+#o contra i?, $ensei. @ dia, co$rei uas va"uinhas. Pu!Proi*ida a atan+a de vacas. Ah! 0 coigo eso. Larguei #o. ue havia de fazer3 'iver de uns

/urinhos. o "ue fa+o.

JES#NA- )ossos governos nunca tivera vis#o nenhua. )#o dei6a o $ovo tra*alhar.GALVO

:F


38/82

- 'i grandes cantatrizes orrere divinaente na %raviata. uando era estudante no Rio de


39/82

JORNALISTA- Agora, vaos ouvir nosso caro 'icente.

VICENTE- )#o sei falar. Descul$e-e.

POETA- uereos ouvir ua de suas $oesias.

VICENTE8A$avorado9- )unca escrevi $oesia.JES#NA

- )e diga isto!ISOLINA8Tntia9

- Pensa "ue e es"ueci3 >%eu sil(ncio ser tua oita!? Era ua $oesia linda, 'icente!VICENTE8E6$ress#o de desgosto9JORNALISTA

- )&s sa*eos "ue voc( 0 u grande $oeta.PRE0EITO

- @ $uro-sangue da arte.

VICENTE- A$enas escrevo $ara teatro e n#o sei ler o "ue escrevo.

PRE0EITO- E "ue escreve teatro n#o 0 $oeta3 E o grande UaVes$ir3 89lha $ara o /ornalista satisfeito

$or ter se le*rado do noe9JES#NA

- Diga, 'icente!ISOLINA

- )#o se/a odesto, eu filho. 8A*ai6a a voz9Proetido a eles "ue voc( recitaria.VICENTE

- 2& ua vez escrevi $oesia $ara ua das $e+as. uere ouvir esta3ISOLINA8E6citada9

- uereos!"TODOS, E+CITADOS E ANSIOSOS, PREPARAM-SE PARA OUVIR. TROCAM DE LUGAR,

PROCURANDO MELHORES POSI(ES. AO MESMO TEMPO, ILUMINA-SE O QUARTO,ONDE ELISAURA, NOS LTIMOS TEMPOS DA GRAVIDE, EST# LENDO. ETELVINA

ENTRA COM UMA +!CARA DE CH#.)ETELVINA

- %oe, Elisaura!ELISA#RA

- )#o "uero.

ETELVINA- 'oc( $recisa $ensar e seu filho. 8e*a!ELISA#RA

- )#o tenho foe.ETELVINA

- Essa tristeza faz al $ra voc(.ELISA#RA

- Eu sei o "ue e faz al, Etelvina!ETELVINA

- Eu guardo, voc( toa de$ois. 82ai co a 6cara9"VICENTE VAI %ICAR QUASE ENCOSTADO EM ELISAURA. ELISAURA SORRI

ENTERNECIDA, SENTINDO O %ILHO ME+ER EM SEU VENTRE)VICENTE- Pra "ue o enino nasceu3

:


40/82

9 enino nasce4ainhando, falou!9 enino cresceu5alando, cantou!9 enino sofreu4antando, aou!

9 enino viveuAando, sonhou!9 enino orreu2onhando, aca*ou!Pra "ue o enino nasceu3

"%ICAM TODOS UM POUCO CON%USOS. ELISAURA ROMPE EM SOLU(OS. ISOLINA EVICENTE TROCAM UM OLHAR DE COMPREENSO PRO%UNDA.)JES#NA

- 4ontinue, 'icente!

VICENTE8Disfar+a9

- )#o terinei ainda de escrever.JES#NA

- Ah! as, voc( deve terinar! )#o 0, senhor Prefeito3PRE0EITO

- %e sustncia!POETA

- $oesia oderna, n#o 03VICENTE

- n#o sei.POETA

- %enho lido uito!"APAGA-SE A IMAGEM DE ELISAURA. ETELVINA ENTRA COM UMA BANDE$A COM

+!CARAS E UMA TRAVESSA CHEIA DE BISCOITOS E BREVIDADES.)JES#NA

- 'aos toar caf0 co *revidades.ETELVINA

- 4oo voc( gostava, 'icente."SUBITAMENTE, NUM GESTO, O POETA BATE NO BRA(O DE ETELVINA,

DERRUBANDO A TRAVESSA. POR UM MOMENTO, AS IRMS %ICAM HIRTAS,OLHANDO PARA $OINA.)JO3INA

- Ah! eu Deus! A travessa "ue co$rei de voc(s.ETELVINA- Poreos outra no lugar.

JO3INA- uero ent#o a"uela azul.

ETELVINA8)ervosa9- A/ude-e,


41/82

- Mas, esta era inha!"AS TR*S IRMS %ICAM EM VOLTA DA TRAVESSA QUEBRADA. AS OUTRAS PESSOAS

SAEM.)VICENTE

- ue foi, tia3JES#NA

- )ada, 'icente.Etelvina 0 uito nervosa.ETELVINA- 'aos dei6ar de entiras,


42/82

"O APITO DO TREM TORNA A ATRAVESSAR A CENA. ISOLINA COM OS OLHOSMARE$ADOS, LEVANTA A CABE(A, ENQUANTO VEMOS DOUTOR %RAN(A PASSARCOM UMA MALA ACOMPANHADO POR PACHECO. LOGO DEPOIS DESAPARECEM.)ETELVINA

- 9s aigos fora desa$arecendo, u a u! A $o*reza aca*ou levantando ua cerca dees$inhos e volta desta casa. 9 lugar... onde deora as o+as da rua "uatorze. ue direito te

voc( de vir $edir "ue sofraos ais ua vez, huilha+Jes, ang;stias e vergonhas tantas vezessofridas3 Era $reciso tra*alhar e es"uecer. 2& isto! %ra*alhar e rezar. )oite e dia! )#o havia outrasada $ara n&s. Rezei! Rezei $ra n#o orrer. Eu era a *urra de carga. 5orte coo ua colona..

$re$arada $ara a"uilo "ue sou ho/e= o hoe da casa."SUBITAMENTE, ETELVINA COME(A A SOLU(AR. VICENTE VAI SE A%ASTANDO,

ENQUANTO AS TR*S IRMS CATAM OS CACOS DA TRAVESSA. DESAPARECE A CENA.ILUMINA-SE O QUARTO DE ELISAURA.)%ARIANA

- A sua infelicidade 0 "ue 0 sensvel deais. 4hora I toa.

ELISA#RA

- )#o estou chorando.%ARIANA

- 2e tivesse ficado na fazenda, n#o viveria longe de seu arido. )e ele longe de fazenda,onde 0 o lugar dele.ELISA#RA

- A senhora conhece seu filho elhor do "ue eu. 2a*e "ue n#o tenho cul$a.%ARIANA

- 2ei o "u(3ELISA#RA

- A verdade. ue n#o i$orta orar l ou n#o. )#o 0 isto "ue est errado.%ARIANA

- 9 "ue est errado, ent#o3ELISA#RA8)ervosa9

- Pra "ue conversar so*re isto3%ARIANA

- Por"ue eu "uero.ELISA#RA

- Mas, eu n#o "uero.%ARIANA

- Pode conversar, *rigar I vontade. 1ravidez n#o 0 doen+a. %ive todos os eus filhos,sozinha na fazenda, s& co ua colona.

ELISA#RA- Eu n#o sou a senhora.%ARIANA

- )unca ouviu dizer "ue as ulheres grvidas arcas os filhos co suas $reocu$a+Jes3ELISA#RA

- 9nde a senhora "uer chegar3%ARIANA

- ue, se continuar assi, seu filho vai sair u chor#o, s& $ensando e coisas dedelicadeza. uando eu estava es$erando


43/82

- 2e gosta de ler, escolha livros "ue no fa+a voc( chorar.ELISA#RA

- 4o esta$as de goia*as, ilhos, tachos e $anelas3%ARIANA

- 2eria ais ;til.ELISA#RA

- 9 rosto de "ue a senhora "uer "ue eu ve/a3 )#o *asta os "ue e rodeia3%ARIANA- 9 nosso, n#o. Eu seu "ue soos feias.

ELISA#RA8Aarga9- 2e de$ender da $resen+a, eu filho n#o ter nada do $ai.

%ARIANA-


44/82

- Wnias, argaridas... flores de todas as cores $ara inha av&! Wnias, ziiinias, ziiiinas,znias...!VICENTE8B: anos9

- ue cuida dos t;ulos de a#e e vov&3ISOLINA

- 2eu $ai dei6ou dinheiro s& $ara isto.

JES#NA- Precisaos $lantar argaridas. Elas dura *astante.VICENTE8B: anos. Distante9

- E znias!"SUBITAMENTE, O LIVRO E A CARTA CAEM NO CHO. ELISAURA. COM OS OLHOS

ESGAEADOS, REVELANDO ESPANTO E IRA, PARECE INDE%ESA, %R#GIL.)ELISA#RA82ussurro doloroso9

- Meu Deus!%ARIANA

- Elisaura...!ELISA#RA8Profundaente ferida9

- ue i$iedade!%ARIANA8Preocu$ada9

- ue foi, Elisaura3ELISA#RA82u*itaente, contorce-se9

- Meu filho... eu filho!%ARIANA8A*ra+a Elisaura9

- Eu a/udo voc(.ELISA#RA8E$urra Mariana e sai ca*aleando9%ARIANA8Aflita9

- Etelvina! argola de la+o? chegar, "ue "uero ensinar ele."ENQUANTO ELISAURA SAI SE CONTORCENDO, ILUMINA-SE A BEIRA DO RIO, ONDE

$OO $OS EST# DIANTE DE DUAS VARAS DE PESCAR: UMA MAIOR E OUTRAMENOS. &SLIDES' COLORIDOS ONDE PERCEBEMOS, VAGAMENTE, DIVERSAS LUAS,MISTURADOS AOS &SLIDES' DA %LORESTA, ILUMINAM TODO O PALCO.)JOO JOS

- 'icente!VICENTE8C anos9- 2enhor.

JOO JOS- 'enha, eu filho! %e la*ari e6endo na vara.

VICENTE8C anos9-


45/82

- E a, co$adre3JOO JOS

- A, eu $ensei= esse ladino vai e*arcar no rio. 2e deu essas volta e veio aoitar nori*eir#o do Rosrio, "uando levantar vai coo ua flecha no rio. Mas o safado, nua atreiricedesusada, levantou, correu rato atrs e $erdeu. % danado! E agora3VA2#EIRO84onhecedor9

- Era cair e cia do rasto!JOO JOS8e6$ress#o atreira9- 4laro! Eu tinha ua escrita antiga co ele. A velhacaria dele / tinha enchido u

*orrador. 4haei a La*isg&ia, a 5anfarra e a 8ra;na o trio tira-$rosa e ca e cia do rasto dovelhaco. Pulou a"ui, $ulou ali, fez "ue foi as n#o foi, deu ua enganada... e foi aoitar nuaunha-de-gato. 'i raste/ando co as cachorras e dei co os olhos do *icho. 9lhou $ra i e deuua a*anadinha de orelha, o atrevido! 8A*ai6a a voz, nua risadinha cas"ueira9'ai ser I unha,

$ensei.VA2#EIRO8E6$ress#o astuta9

- Ah, eu l!JOO JOS

- De re$ente, o *icho es$irrou e eu gritei= vai anhosos... filho da $uta!7o/e, n&s vaos fechar nossa escrita!VA2#EIRO

- E foi no rio, o alicioso3JOO JOS

- 5icou s& na inten+#o. uando ele es$irrou na vrzea, eu e a La*isg&ia es$irraos /untos.Eh((((!... co$adre! 9 lo*o da cachorra foi esticando, esticando... achatou no ch#o e "uando vi osdois rolara. 9 velhaco deu o ;ltio *erro, vidrou os olhos / nesses *ra+os.VA2#EIRO89*serva


46/82

JOO JOS- 'oc( veio $escar ou n#o3

VICENTE8B: anos. 2enta-se diante deles e os o*serva9VICENTE8C anos. Meio sonhador9

- Pa$ai!JOO JOS8Atento I $escaria9

- ue 03VICENTE- Por "ue a gua corre $ra l3

JOO JOS- Por causa da "ueda.

VICENTE- Acho "ue devia correr ao contrrio.

JOO JOS- Mas n#o corre.

VICENTE- 2eria ais *onito. Passaria $rieiro na"uela rvore cheia de.. "ue rvore 0 a"uela $a$ai3

JOO JOS- 5igueira *ranca. Padr#o de terra *oa, filho.

VICENTE- A raiz $arece escada no *arranco. ue 0 a"uilo $endurado na figueira, $a$ai3

JOO JOS- )inhos de guachos.

VICENTES- Parece $acotes de *alas.

JOO JOS- Pescaria e6ige sil(ncio, eu filho.

VICENTE8Pausa9- )unca $assou tanto igara$0 florido, coo ho/e!

JOO JOS- Assi, voc( n#o $esca, 'icente.

VICENTE- @ rio de flores e de luas! Pa$ai! Por "ue os igara$0s desce o rio3

JOO JOS- Por "ue as guas arranca das argens.

VICENTE8Aflito9- Pa$ai!

JOO JOS- 5ica "uieto, 'icente!VICENTE

- 9lha $a$ai!JOO JOS

- 2er $ossvel "ue n#o $ode calar essa *oca3VICENTE

- @a trara est coendo u la*ari!JOO JOS

- 9 "ue 0 "ue voc( $ensa "ue trara coe3 P#o-de-"uei/o3VICENTE

- 2alva ele! 2alva, $a$ai!

JOO JOS

B


47/82

- Assi, voc( cai no rio, enino!VICENTE8Agarra-se Is $ernas de


48/82

JOO JOS8Retesado9- )#o.

VICENTE- Por "u(3

JOO JOS8E6$lode9- Larga #o dessa $orcaria de lua, 'icente!

VICENTE- uando eu for hoe grande... eu ca+o, viu $a$ai. uando ficar grande, vou ser coo osenhor... e vou desco*rir $or "ue a lua fica "ue*rada. Montarei no eu corcel e descerei $elasri*anceiras. 82a*oreando a $alavra9 Ri*anceiras! RG8A)4EGRA2! 'ou ca+ar as negras alas,sulfurosas...82ai98DE2APARE4EM 92 >2LGDE2?. JOO JOS 2E DGRG1E PARA 9 5@)D9 D9 PAL49,2AG)D9. VICENTE 8B: A)929 A49MPA)7A-9 PERDGD9 EM 2G ME2M9. LAVNIA2@R1E, A%ARE5ADA, 2E1@GDA P9R @M 1AR9%9 DE MAG2 9@ ME)92 2E%E A)92. 91AR9%9 )X9 APARE4E DE 5RE)%E, MA2 LEM8RA M@G%9 9


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%ARIANA8Passa ao fundo, atarefada9-


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- 'ivo eso. Mas ne $or isto dei6o de ser feliz.VICENTE

- a inseguran+a "ue eu...!LAVNIA84orta9

- Minha $reocu$a+#o aior 0 "ue voc( se/a felizK $ossa tra*alhar e soss(go.VICENTE8A*ra+a Lavnia9

LAVNIA- Para "ue se atorentar tanto, 'icente3 'oc( se$re diz "ue "uer viver s& de seu tra*alho!Eu ta*0 acho "ue deve ser assi.VICENTE8Afasta-se, agitado9

- Este 0 o $ro*lea, Lavnia. %enho estado $reso nu crculo vicioso. Preciso $assar novehoras no 1insio, dando aulas...!LAVNIA

- 'oc( ficou t#o feliz co a rea+#o dos alunos no 1insio, n#o ficou3VICENTE

- Muito! Mas, 0 "ue n#o e so*ra te$o $ara escrever. E o "ue consigo escrever, n#o nos$erite viver. Estaos sendo isolados cada vez ais. Esta 0 a verdade.

LAVNIA- Gsolados, $or "u(3

VICENTE- Por"ue nesta situa+#o, n#o 0 $ossvel criar nada!

LAVNIA- E n#o est criando3 'oc( escolhe seus teas, 'icente, e escreve coo "uer!

VICENTE- E de$ois guardo nas gavetas.

LAVNIA- )#o v#o encenar ais a $e+a3

VICENTE- )#o.

LAVNIA8Preocu$ada9- Mas, n#o $edira a voc( "ue escrevesse3

VICENTE- Pedira. Dissera-e, inclusive, "ue n#o e $reocu$asse co nada, dei6asse a

iagina+#o correr. Agora, v( e dizer "ue o es$etculo vai ficar nua f*ulaK "ue teatro neste$as, 0 divers#o $ara ua elite "ue n#o est interessada e resolver $ro*leas... e $or a afora.8Aargo99 $ior 0 "ue eles t( raz#o. 4o os $re+os "ue s#o o*rigados a co*rar...!LAVNIA8Disfar+ando a $reocu$a+#o9

- 2ua $e+a 0 linda, 'icente. @ dia, ser encenada.VICENTE- Preciso viver da inha $rofiss#o, Lavnia. )#o $osso es$erar... u dia!

LAVNIA- uer "ue a/ude3 Posso tra*alhar ta*0!

VICENTE- E co "ue fica nossos filhos3

LAVNIA- %ra*alho a"ui! 7 uita coisa "ue ua ulher $ode fazer, se sair de casa. 4osturar,

fazer tricS...VICENTE84orta9

- Por favor, Lavnia. )#o vaos voltar a este assunto.LAVNIA8Pausa. 4o esfor+o9- uer "ue fale co $a$ai3 Ele $ode nos a/udar.

CN


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VICENTE82eco9- )#o. 9 $ro*lea 0 $rofissional, n#o de a/uda.

LAVNIA- 'oc( e seu orgulho!

VICENTE8G$aciente9

- Mas, n#o se trata disto. En"uanto n#o se encarar o teatro coo anifesta+#o cultural, serse$re assi. n#o $osso rece*er a/uda a via inteira. )e $osso ver voc( e cia de ua "uina.82u*itaente, atorentado9


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- )#o entendo o "ue a"uele su/eito fala. Ele e d sono. 2& sei "ue cigarra 0 *icho daninho.)unca vi cigarra cantando dentro de livro, Elisaura!

ELISA#RA- 5ale *ai6o! Pode nos escutar.

JOO JOS

- Pois "ue escute.ELISA#RA- 5a+a a inha vontade! 8Gnsinua97o/e, 0 u dia uito i$ortante.

JOO JOS82e co$reender a insinua+#o9- 9 sa$ato est e a$ertando. )#o su$orto gravata! 2into-e coo se estivesse arreado,

ua *esta de carga.ELISA#RA

- )#o *rigue coigo.JOO JOS

- Ma, "ue 0 "ue est *rigando3ELISA#RA

- 'oc( 0 s$ero, n#o 0 ca$az de ser avel.JOO JOS

- eu /eito, Elisaura.

ELISA#RA- 5re"ento tudo sozinha co suas ir#s. Afinal, n#o sou vi;va, ne des"uitada.

JOO JOS- 5ale *ai6o, Elisaura! Pra "ue fizer essas coisas3

ELISA#RA- )#o $ode gostar ne u $ou"uinho do "ue gosto3

JOO JOS89lha a sua volta, co certo receio de ser ouvido9- 1osto de voc(. 2& de voc(.

ELISA#RA84oovida, a*ra+a


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JOO JOS- Estou satisfeito, Elisaura! Pode ficar. 'oc( est co inhas ir#s. Es$ero voc( e casa.

'ou contar $ros aigos. Ah! vou tirar o $a$o do Augusto. Meu filho veio $rieiro do "ue o dele.8Ri9ue n#o d no couro, 0 ele. 8'ai sair e $ra9uando voltar dos ca$os gerais, Elisaura, voutrazer $ra eu filho as ais *elas ca*e+as de cervo.


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- A$enas ler.%ARIANA

- )#o h ais lugar nesta casa $ra nada.ISOLINA

- Estaos forando nossa *i*lioteca.%ARIANA

- Pra "ue isto3 Livro a gente l( e "ueia.ISOLINA8Ggnora Mariana9- 2oos autodidatas, n#o 0, 'icente3

%ARIANA8Desconfiada9- 9 "ue 0 isto3

VICENTE82orri9- Pessoas "ue a$rende se $rofessores, vov&.

%ARIANA8Maliciosa9- Pesados, s#o! 8ons $ra acender fogo.

VICENTE- Est a a e6$lica+#o= a senhora "ueiou os "ue estava e eu guarda-rou$a3!

%ARIANA- A"ueles era indecentes. 9nde se viu livro co ulher $elada na ca$a3 Gngl(s se

vergonha! )a sua idade, eu sei $ra "ue serve livro co ulher $elada! )#o 0 I toa "ue se$redesconfiei desta inglesada do frigorfico.ISOLINA

- )#o adianta, 'icente. Ela n#o entende.

%ARIANA- )#o entendo eso. Logo chega a 0$oca das tachadas de goia*ada. 'ou $recisar de uito

$a$el.


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VICENTE- A/uda, n#o 0 *e o "ue $a$ai es$era de i. 2e gostasse de ca+ar e e contentasse co

ua rocinha a"ui e outra li, ia tudo *e.%ARIANA

- 4a+ar 0 o divertiento "ue seu $ai a$rendeu.ISOLINA

- A senhora esa vive chaando da"uilo?. 8De$reciativa9>Penas de $rata!? Pena "ue conhe+o 0 $ena eso.

CC


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VICENTE8Gndignado9- A senhora e6eu e inhas coisas3

%ARIANA- Me6o e tudo a"ui. ue n#o gostar "ue coa enos. De $rata, *asta a"uela flauta.

voc(, Gsolina , "ue anda $ondo essas *esteiras na ca*e+a de 'icente. ue ningu0 se atreva a falare viagens e inha $resen+a. 8Arrua-se97o/e 0 dia de novena no ceit0rio. 'enha! 8'olta-se

$ara 'icente9ue aconteceu entre voc(s, eu filho3 Por "ue esta raiva3 'oc( e seu $ai n#o trocaeia d;zia de $alavras se se agredir!VICENTE

- )#o sei. Pergunte a ele!%ARIANA8%eerosa9

- 2e continua assi, onde v#o $arar3VICENTE

- 9nde ele "uiser!"DIVERSOS TMULOS SO PRO$ETADOS NA PAREDE DA ESQUERDA. MARIANA,

LADEADA PELAS %ILHAS, ANDA NO MEIO DELES, REANDO. CONCENTRADAS EHIER#TICAS, ELAS CAMINHAM COM E+PRESSO DE REVER*NCIA PRO%UNDA.

VICENTE "0 ANOS) SE APIA EM UM DOS TMULOS E %ICA OBSERVANDO.)%ARIANA

- Padre Eterno, n&s ofereceos o sangue $reciosssio de )osso 2enhor


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- a inha vez! 81rita9Me d ua $assage. Eu vou e*ora. 'ou tra*alhar e estudar.)#o "uero orar na fazenda. Largue-e! Dei6e-e! A"ui, n#o consigo viver! )#o $osso ser o "uesou! '#o e ferir...! $or favor..!"OUVEM-SE OS APITOS DE PARTIDA. VICENTE CORRE NA DIRE(O DA

LOCOMOTIVA, ENQUANTO ESTA PARTE, CRESCENDO EM SUA DIRE(O COMO SE%OSSE PASSAR POR CIMA DELE. O APITO VAI SE DISTANCIANDO AT SUMIR.

VICENTE "15 ANOS) %ICA PARADO EM GRANDE SOLIDO. O SOM DO APITO VAI SECON%UNDINDO COM O SOM DE UMA %LAUTA. HUMILHADO, VICENTE SE A%ASTA,AT DESAPARECER. VICENTE "0 ANOS) OS SEGUE, SENTINDO A MESMA SOLIDO.)VICENTE8B: anos. reeora, $rofundaente ferido9

- 2eria elhor... "ue n#o tivesse nascido!"SUBITAMENTE, VICENTE SE VOLTA, A%LITO. LENTAMENTE, $OO $OS, SENTADO

E PERDIDO EM PENSAMENTOS, ILUMINADO. PERCEBE-SE QUE SEUSPENSAMENTOS O TORNARAM, QUE DVIDA HUMILHANTE LHE CORRI A ALMA.)%ARIANA8Entra e $ra enraivecida9

-


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- 5alando o "u(,


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- 4oo vencer esse hoe "ue e *arra todos os cainhos! Estou coe+ando a duvidar dei eso, tia.ISOLINA8Preocu$ada9

- 9 "ue 0 "ue voc( es$era, 'icente3VICENTE8E6alta-se9

- Esca$ar deste undo, caduco $ara i, e e counicar... de ua aneira ou de outra.

Deve haver u eio!"ISOLINA SENTA-SE, ABRA(ADA A VICENTE. ENQUANTO %ALA, ACARICIA OSCABELOS DELE COM GRANDE TERNURA, TENTANDO ACALM#-LO. O SOM,

DISTANTE, DE UMA %LAUTA ACOMPANHA A CENA. ISOLINA PERDE-SE NUMAREMEMORA(O REPLETA DE AMOR.)ISOLINA

- 'oc( e le*ra uito $a$ai. verdade! Ele nos co$reenderia! Pa$ai era lindo. Pareciau $oeta. %inha ala de $oeta. Era inteligente, no*re, sensvel... sentia $ena de todo undo. >Ahuanidade 0 uito sofredora?, dizia. E recolhia todo undo e casa. Ao entardecer, sentava-se noal$endre e tocava ;sicas $ara n&s. Ele ta*0 gostava de olhar as estrelas. 4ontava ua hist&rialinda so*re a luta da %erra co a Lua $or causa do sol. A lua $erdia e, envergonhava, ocultava a face

iluinada, ostrando a face o*scura. Era assi "ue nos e6$licava as fases da Lua. Le*ro-e de"ue ele dizia "ue a#e era coo a terra= generosa, as i$iedosa. E n&s, as filhas, 0raos as tr(sMarias! 82orriso doloroso92e$re /untas e u c0u li$o! Assi seria nossa vida! 85ica $erdida,co os olhos are/ados9VICENTE8B: anos. Perdido e sua reeora+#o9

- )ingu0 se co$reende, se counica...!VICENTE8C anos. Preocu$ado e carinhosos9

- %ia!... tia Gsolina!ISOLINA82u*itaente, levanta-se9

- )#o fi"ue nesta casa, 'icente. '#o ferir voc(. 84ala, as deterinada9' e*ora eufilho, antes "ue o $ior aconte+a. )#o v#o entender voc( nunca!"VICENTE "15 ANOS) E VICENTE "0 ANOS) CAMINHAM NA MESMA DIRE(O,

ENQUANTO ISOLINA SE A%ASTA, DESAPARECENDO. SUBITAMENTE, DOMINADOPOR AGITA(O CRESCENTE, VICENTE "0 ANOS) SE VOLTA, SOLTANDO UMA PRAGA.LAV!NIA ENTRA, PREOCUPADA E NERVOSA. VICENTE "15 ANOS SAI.)VICENTE8B: anos9

- Maldita condi+#o! 2er $ossvel "ue ningu0 co$reende!LAVNIA

- ue foi, 'icente3VICENTE

- )#o sei coo vencer essa inco$reens#o.

LAVNIA- ue inco$reens#o3VICENTE

- )o governo $assado, eu era aristocrata... u facista! Agora, sou su*versivo! Minhao*riga+#o, coo escritor, 0 denunciar o "ue est errado, 0 dizer a verdade, Lavnia. Doa a "ue doer.Escrevi so*re u fato $u*licado nos /ornais, e todas as revistas. ue "uere ais3LAVNIA

- 2e$re o fracasso desta $e+a! Es"ue+a isto, 'icente, $elo aor de Deus.VICENTE

- Es"uecer coo3 Ele e6$lica tudo!LAVNIA

- E6$lica ta*0 "ue vive socado na"uele escrit&rio, de$ois de $assar o dia inteiro no1insio, es"uecendo-se de "ue te falia3VICENTE

C


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- E6$lica isto ta*0, $or"ue ela de$ende de i... e eu estou nu *eco se sada.LAVNIA

- 'oc( $odia ter feito o $rograa da televis#o, 'icente! A/udaria!VICENTE

- 9 "ue eles "ueria era deais! Gnaceitvel! 8Gndignado9)#o $odeos fazer tudo "ue o$;*lico "uer, Lavnia.

LAVNIA- Devolvera seu tra*alho3VICENTE

- )#o. 4ontratara ua $essoa $ara reescrev(-lo... e eu n#o aceitei. )#o assino tra*alho deningu0. )#o $erito "ue assine o eu. 2a*e3 ue anda 0 o n;ero de cartas "ue o $rograarece*e. 2e o $;*lico n#o gosta de ua $ersonage, eles si$lesente corta! Acha "ue $odiaaceitar ua coisa assi3LAVNIA

- 2e$re o seu tra*alho!... a honestidade artstica! ... a coer(ncia! E sua falia3 'oc( alconversa co seus filhos. 'ive $erdido no undo das suas $ersonagens... e ne sa*e coo s#o eles.8rincar, ent#o, ne se fala.

VICENTE- ue 0 "ue voc( "uer3 ue dei6e eu tra*alho, nas $oucas horas "ue tenho, $ara ir

*rincar3LAVNIA

- 5aria *e a voc(!VICENTE8s$ero9

- ue "uer dizer3LAVNIA8E6alta-se9

- ue vive o*cecado, "uerendo $rovar algua coisa a u $ai "ue n#o v( nunca!VICENTE8Agressivo9

- )#o 0 verdade!LAVNIA

- 2e te o seu undo, eu tenho o eu... "ue ta*0 0 seu. disto "ue se es"uece. 'oc( sefecha... e nos dei6a de fora. Passa os olhos $or n&s, as n#o nos v(... coo se eu e Martiniano n#otiv0sseos rosto.VICENTE8AtSnito9

- assi "ue te se sentido3!LAVNIA8Magoada9

- E n#o 0 verdade3VICENTE82u*itaente, a*ra+a Lavnia9

- Lavnia!

LAVNIA8Entrega-se, aorosa9- 'icente!VICENTE

- 4o$reenda, eu *e! Estou co ais de "uarenta anos e ainda lutando $ara erealizar. Preciso e counicar... de ua aneira ou de outra! Mas, sinto "ue falta sentido e tudo!82u*itaente, atorentado e consigo eso92er "ue estou no cainho errado, Lavnia3 'iveosnua sociedade e crise, de estruturas a*aladas, valores negados, solu+Jes salvadoras "ue n#olevara a nada! 89*sessivo9ual o cainho certo3 9nde achar res$osta3 )o $resente3 )o $assado32er "ue fi"uei a$enas e laenta+Jes so*re a decad(ncia... se ter sado dela3LAVNIA

- 'oc( est no cainho certo, 'icente! 2e n#o vencer seus fantasas, n#o ter $az.

VICENTE8Perdendo-se cada vez ais9

N


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- )#o $osso $assar a vida, $erguntando "ue sou eu! 82u*itaente, ateorizada92er "ue ainco$reens#o te sido inha3 A verdade / estar solta nas ruas... e eu n#o estou vendo3 Acreditare "u(... neste vazio3 8A*ra+a-se I Lavnia99 "ue est errado coigo, Lavnia3 A/ude-e!LAVNIA8Preocu$ada9

- 'olte a


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VA2#EIRO- )e ca+ar a gente te ca+ado, co$adre!

JOO JOS- )unca cacei tanto e inha vida! Dia e noite...!

VA2#EIRO- 9 senhor n#o te sado deste tronco de rvore!

JOO JOS- 2a*e o "ue o 'icente e disse ua vez3 >7 outros cainhos, outras atas onde uhoe $ode se $erder!? Deve haver ca+as "ue a gente n#o $ega nunca...VA2#EIRO8Mais $reocu$ado9

- 4o$adre!JOO JOS

- ... ue aoita...! 8Agitado, $assa a #o $elo $eito. Elisaura surge, ao fundo 92ai da"ui,'a"ueiro! )esta ca+ada voc( n#o entra.ELISA#RA

- o filho "ue vou dar a voc(! 5i"ue coigo!JOO JOS8Doinado $or u $ensaento o*sedante.9

- Anda, 'a"ueiro! )#o volte a"ui en"uanto eu n#o chaar. 8'a"ueiro sai9"ETELVINA, $ESU!NA, ISOLINA E MARIANA ENTRAM E SAEM RAPIDAMENTE,

REPETINDO AS %RASES %ORA DA CENA.)%ARIANA

- Dei6e o enino,


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%ARCELO- L ve voc( co suas frases.

VICENTE- )#o $osso ver a"uelas caras...

%ARCELO8Ri9- )a hora >ag?... a gente vira o rosto!

"ELISAURA VAI SE A%ASTANDO AT DESAPARECER. COMO QUE ATRA!DO, $OO$OS DESAPARECE NA MESMA DIRE(O.)VICENTE8Agarra-se a Marcelo9

- 2a*e "ue gosto de sua ir# Maria3 Doingo, na issa ela contou "ue sonhou coigo!%ARCELO

- Ent#o foi u $esadelo.VICENTE

- Escrevi $ra ela=Assi coo vou e seus sonhos,Meu aor 0 t#o grande, eu *e,ue as *risas e *ailados risonhos,

%raze voc( e eus sonhos ta*0!%ARCELO

- )unca ouvi $iores. 2e $retende ser $oeta, desista de cara.VICENTE

- 'ou aar Maria a vida inteira.%ARCELO

- A ve a sua $araguaia. 5ire, ra$az!VICENTE82e ruo9

- ue $araguaia...3"$UPIRA %ANTASIADA DE BONECA ENTRA E P#RA, OBSERVANDO VICENTE COM

DESGOSTO)%ARCELO8Entrega o dinheiro a


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- Eu "uero aca*ar co elas, voc( n#o dei6a.VICENTE8: anos9

- 'oc( acha "ue casaento funciona coo a$agador e "uadro negro3%ARIA

- E $or "ue n#o3 ua vida ais i$ortante "ue coe+a.VICENTE

- A$enas ais coisas ser#o escritas. G$ortantes, eu sei. Mas, n#o a$aga nada.%ARIA- Estaos noivos e n#o casaos nunca. o "ue ve/o escrito h dois

anos.VICENTE

- )#o solucionaos a vida, a$enas casando. 7 outras coisas $recisando de solu+#o.G$ortantes ta*0.%ARIA8Magoada9

- Mais do "ue eu, n#o 03VICENTE

- 9 $ro*lea n#o 0 este. 4ada cisa te sua i$ortncia, Maria. 2ou eu "ue $reciso

ser...algu0 "ue voc( res$eite e eus filhos adire.%ARIA

- Mas, ser "ue3VICENTE

- )#o sei. 1ostaria de via/arK tenho necessidade de sa*er... de e counicar. Precisoescrever, Maria!%ARIA

- Escrever3 Escrever o "u(3VICENTE

- 7 tanta coisa errada I nossa volta. %anto sofriento in;til!%ARIA

- s& escrever.VICENTE

- )#o 0 t#o fcil assi.%ARIA

- Por "ue n#o3VICENTE

- %enho $rocurado res$osta e n#o encontro. De tanto viver $erguntas se res$ostas, vouaca*ar andando I inha volta... e n#o chegarei nunca a ua solu+#o.%ARIA85echando-se9

- 2olu+#o do "u(3

VICENTE- Acho "ue... esca$ar desse dia a dia "ue n#o uda nunca. 9 largo, a igre/a, o cinea, avizinha... se$re atrs das cortinas de fil0, es$reitando cada $asso "ue a gente d. Minha av&...vendo a fazenda sair $or entre os dedos. 9s colonos... se nenhua sada, o*tusos, e$aredados,sonhando co o Paraso. Parece "ue n#o fa+o outra coisa, "ue assistir I agonia da inha gente, detudo! Deve haver u eio de esca$ar , de lutar, de ser algu0.

%ARIA- E de$ois de dois anos "ue ve e dizer isto3

VICENTE84ai e si9- 2& $reciso de u $razo aior, Maria... $or"ue "uero $ra voc( u undo "ue se/a eu,

"ue s& eu $osso con"uistar. @ undo diferente deste "ue nos rodeia, "ue n#o te ais sentido.Para isto, $reciso e realizar.%ARIA

B


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- E serei ua noiva eterna, coo sua tia3 'icente! 9u ser agora, ou nunca.VICENTE

- 'oc( acha "ue ser feliz assi3 casada co u hoe "ue ainda n#o encontrou averdade dele3 ue n#o sa*e o "ue 03%ARIA

- ue i$ortncia te, 'icente3

VICENTE- 2e e casar agora, terei de orar na fazenda, Maria. E eu n#o sou fazendeiro. 2eria infelize a faria infeliz ta*0.%ARIA

- %ra*alha-se e "ual"uer lugar.VICENTE

- )#o 0 "uest#o de tra*alhar. 2er "ue viver $ra voc( 0 s& casar, $Sr filho no undo, coidana esa e dinheiro no 8anco3 o "ue es$era de i, Maria3%ARIA

- 9 "ue ais $osso es$erar3VICENTE8)u grito9

- %udo!%ARIA

- %udo o "u(, 'icente3!VICENTE8Deses$erado, a*ra+a Maria9

- )#o sei. A/ude-e!%ARIA

- 9 caso 9$$enheier?. 9nde $araos3AL#NO ;

- Pgina seis. 9$$enheier fala so*re Einsteins.VICENTE

- Paraos a, $ara "ue ficasse *e claro a i$ortncia desta fala, diz 9$enheier= >Rece*iuns cinco ou seis telefoneas. Einstein e disseK se eu $udesse escolher outra vez, iria ser funileiroou vendedor a*ulante, $ara gozar, ao enos, de u odesto "uinh#o de inde$end(ncia?. Lus5ernando. ue conclus#o voc( tira desta fala3

AL#NO


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VICENTE- 2o*retudo, ela "uer dizer "ue $odeos fazer co nossas $r&$rias #os as aras "ue

$ode destruir a $ersonalidade fazendo de cada u, u instruento cego.AL#NO

rasto atrÁs

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