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RAMANA MEU MESTRE Índice Introdução 13 I - Ramana Meu Mestre 19 II - Felicidade: o estado natural de ser 73 III - A arte de dissipar a ilusão 81 IV - O mundo 112 V - Erudição: apenas um reflexo da mente 131 VI - O ego profanador 142 VII - A mente opressora 156 VIII - A morte aparente 172 IX - Renúncias 187 X - O Ser que somos 201 XI - Só o Mestre pode conduzir para a autoconscientização 217 XII - O Mapa Astrológico de Ramana 233 XIII - Meditação Iniciática 242 XIV - Conscientização da Verdade Absoluta 268 Introdução Bhagavan Sri Ramana é reconhecido como um Grande Mestre por todos os que tiveram contato com ele, diretamente ou através de seus ensinamentos. Não há, em torno dele, discordâncias quanto à sua autenticidade. A benevolência que emana de seu rosto enternece a todos. No entanto, tal doçura contrasta com a maneira incisiva de ensinar: não há meio- termo, não há como se desviar do caminho direto. Os ensinamentos de Sri Ramana eram transmitidos diariamente no Ashram onde ele vivia, e foram anotados por muitas pessoas. Posteriormente esses ensinamentos foram reunidos e divulgados em forma de diálogos. Na obra RAMANA MEU MESTRE os ensinamentos estão sendo apresentados de maneira nova: foram agrupados em capítulos, girando cada um deles em torno de um tema central. Os diálogos foram mantidos, porém se desenvolvem em uma situação real, permeados de vida, profundos, universais e, ao mesmo tempo, matizados pela cor local do Ashram. O autor, Sri Maha Krishna Swami, que viveu durante alguns anos no Ashram, recria em cores vivas o cenário onde se desenrolou um dos mais belos espetáculos de todos os tempos, tão majestoso e tão simples: a sabedoria, encarnada em forma humana, transmitindo os mais profundos ensinamentos, da maneira mais singela e natural. Somos conduzidos para o local e sentimo-nos, a princípio, espectadores da ação, mas as palavras do Sat Guru envolvem-nos irresistivelmente, e passamos de espectadores a participantes: é a cada um de nós que o Mestre fala; é a nossa compreensão que ele desperta; é a nossa sensibilidade que é tocada; é o nosso entendimento lógico, ocidentalizado, que ele desafia e, mais que isso, transforma em nada, antes mesmo que possamos formular um argumento para contestar. E como contestar? A sabedoria de Sri Ramana é insofismável, por ser a expressão da vida, da verdade de ser. Sua sabedoria não está presa às palavras; ela toca a essência de cada um: é a força do silêncio, a Upadesa Sharanam, que irradia de Bhagavan Sri Ramana para todos e vai impregnando cada pessoa que se abre para seus ensinamentos. RAMANA MEU MESTRE torna-se uma obra dirigida a

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RAMANA MEU MESTRE

Índice Introdução 13 I - Ramana Meu Mestre 19

II - Felicidade: o estado natural de ser 73

III - A arte de dissipar a ilusão 81

IV - O mundo 112

V - Erudição: apenas um reflexo da mente 131

VI - O ego profanador 142

VII - A mente opressora 156

VIII - A morte aparente 172

IX - Renúncias 187

X - O Ser que somos 201

XI - Só o Mestre pode conduzir para a

autoconscientização 217

XII - O Mapa Astrológico de Ramana 233

XIII - Meditação Iniciática 242

XIV - Conscientização da Verdade Absoluta 268

Introdução

Bhagavan Sri Ramana é reconhecido como um Grande Mestre por todos os que tiveram

contato com ele, diretamente ou através de seus ensinamentos. Não há, em torno dele, discordâncias quanto à sua autenticidade. A benevolência que emana de seu rosto enternece a todos. No entanto, tal doçura contrasta com a maneira incisiva de ensinar: não há meio-termo, não há como se desviar do caminho direto.

Os ensinamentos de Sri Ramana eram transmitidos diariamente no Ashram onde ele vivia, e foram anotados por muitas pessoas. Posteriormente esses ensinamentos foram reunidos e divulgados em forma de diálogos. Na obra RAMANA MEU MESTRE os ensinamentos estão sendo apresentados de maneira nova: foram agrupados em capítulos, girando cada um deles em torno de um tema central. Os diálogos foram mantidos, porém se desenvolvem em uma situação real, permeados de vida, profundos, universais e, ao mesmo tempo, matizados pela cor local do Ashram. O autor, Sri Maha Krishna Swami, que viveu durante alguns anos no Ashram, recria em cores vivas o cenário onde se desenrolou um dos mais belos espetáculos de todos os tempos, tão majestoso e tão simples: a sabedoria, encarnada em forma humana, transmitindo os mais profundos ensinamentos, da maneira mais singela e natural.

Somos conduzidos para o local e sentimo-nos, a princípio, espectadores da ação, mas as palavras do Sat Guru envolvem-nos irresistivelmente, e passamos de espectadores a participantes: é a cada um de nós que o Mestre fala; é a nossa compreensão que ele desperta; é a nossa sensibilidade que é tocada; é o nosso entendimento lógico, ocidentalizado, que ele desafia e, mais que isso, transforma em nada, antes mesmo que possamos formular um argumento para contestar. E como contestar? A sabedoria de Sri Ramana é insofismável, por ser a expressão da vida, da verdade de ser. Sua sabedoria não está presa às palavras; ela toca a essência de cada um: é a força do silêncio, a Upadesa Sharanam, que irradia de Bhagavan Sri Ramana para todos e vai impregnando cada pessoa que se abre para seus ensinamentos. RAMANA MEU MESTRE torna-se uma obra dirigida a

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cada um, em particular. Quando dizemos “Meu Mestre”, esquecemo-nos de que é Sri Maha Krishna Swami quem o diz. Ramana é o Mestre de cada um de nós. Só podemos concordar com o autor: Ramana é meu Mestre. Somos docemente embalados pelos ensinamentos que são, cada um deles, completos, perfeitos. Temos impressão de que nada mais há para se dizer, nada mais pode ser acrescentado. É então que Sri Maha Krishna Swami intervém, conduzindo-nos a um novo compartimento da Verdade Absoluta. Vemos desfilar diante de nós as mais variadas faces do ensinamento fundamental de Sri Ramana: “Somos o Ser”.

Ramana, ao mesmo tempo que aniquila os valores tão caros aos homens, extirpando-lhes o ego, tirando-lhes o solo onde se apóiam, é o bálsamo e o consolo para essa mesma dor. Aliás, nem é dor, porque ele mostra que até mesmo a dor é irreal, não passando de uma ilusão. Os homens colocaram em sua verdadeira essência várias máscaras, e estas se colaram em sua carne. A retirada dilacera-lhes o próprio rosto: tal dor lhes é insuportável, e eles preferem permanecer presos à máscara. Sri Ramana retira também a dor – que é, igualmente, uma máscara. Ser absoluto, íntegro, real, é simplesmente ser natural.

O homem é como uma ave de asas poderosas, destinada ao vôo livre, mas que se acredita um réptil preso ao solo. Bhagavan Sri Ramana desfaz a ilusão, faz-nos alçar vôo majestoso, onde nossa visão se torna ampla, e podemos contemplar a unidade deixando para sempre a ilusão de um mundo dual, onde rastejamos no pó de valores mesquinhos e falsos. Contemplamos a unidade, livres, conscientes de nossa própria natureza. Voar não é doloroso. Alçar o vôo não porque é; deixar a falsa pele de réptil não o é.

Neste livro não temos apenas o Mestre Ramana para admirarmos, mas a experiência viva de quem esteve com ele, vivificou em si próprio os ensinamentos e é, por isso, capaz de transmiti-los de maneira a tocar-nos profundamente. Sri Ramana deixou de ser apenas um admirável Mestre da Índia, que comoveu a todos que estiveram em Arunachala, diante de sua figura ímpar: tornou-se vivo, dinâmico, atual. Saltou dos quadros que enfeitam os altares dos templos para dentro de nossa existência. Foi trazido por sua própria vontade, que é a vontade do Ser Supremo – pois Ramana e Ser são a mesma e indissolúvel unidade – quando ordenou a Sri Maha Krishna Swami que fizesse, no Ocidente, a Grande União entre os homens, que tornasse conhecida e acessível a todos a verdade de ser. Foi por vontade de Ramana que Sri Maha Krishna Swami instalou-se no Brasil, a terra apontada pelo Sat Guru como o local onde seriam guardados os sagrados ensinamentos de todos os Grandes Mestres e – melhor que guardados – seriam vivificados, tornados acessíveis a todos que a eles quisessem chegar, a todos que se dispusessem a se livrar dos ilusórios e densos véus enredados pelo falso conhecimento e mergulhar num oceano de paz, na mesma paz que irradia constantemente de Sri Ramana.

Ele está em nós. É aqui, na Terra do Cruzeiro, que se sente a plenitude de sua força. Essa afirmação não é vã, não se trata de palavras sensacionalistas. Para se comprovar esse fato, é só deixar que Sri Ramana impregne cada fibra do coração espiritual, e todo o peso do mundo moderno, que as pessoas sentem tão caótico, deixa de perturbar. Sri Ramana nos ensina a viver, porque a vida é algo de que nos esquecemos, tão envolvidos que estamos com a sobrevivência.

Por que o Brasil? Por que não o Brasil? Não há justificativas, não há argumentos. Só há uma Verdade a ser sentida: é aqui, é no Brasil, que está a plenitude da força do Bem-aventurado Bhagavan Sri Ramana, trazida através de seu discípulo Sri Maha Krishna Swami.

I

RAMANA MEU MESTRE

Bhagavan Sri Ramana Maharshi foi o Mestre que revelou de forma clara e definitiva a mais pura essência de ser. Seus ensinamentos, simples e incontestáveis, mostram a sabedoria milenar dos Mestres do Oriente. Porém, Ramana não pode ser rotulado como mais

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um dos Mestres do Oriente, limitado a um tempo e a um espaço: final do século XIX até a metade do século XX, Índia. Seus ensinamentos estão além do tempo e das palavras.

Sri Ramana, desde muito jovem, foi reconhecido como um grande Avatar por todos os sábios e pelas pessoas que o visitavam. Na Índia, pelas características do povo, há maior facilidade para se reconhecer um Mestre, um ser iluminado. No Ocidente, devido ao grande interesse por bens materiais, os Mestres eram vistos apenas como figuras singulares, interessantes para se conhecerem numa viagem turística e pertencerem a um álbum de fotografias esquecido. Porém com Sri Ramana aconteceu um fato diverso: sua presença impressionava profundamente a quem dele se aproximava para ouvir seus ensinamentos, e todos sentiam nele uma força, ou uma paz, ou uma luz, enfim, algo maravilhoso que transcende as palavras. Seu olhar e seu sorriso mudaram para sempre a história dos homens.

Sri Ramana ensinou que não há mistérios para serem desvendados, não há enigmas para serem decifrados, não há graus para serem atingidos. Tudo é simples e natural. Somos o que somos. Simplesmente somos o Ser. As explicações complexas, os estudos misteriosos, as dificuldades quase intransponíveis para a autoconscientização podem ser definitivamente abandonados devido aos ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana. O caminho do autoconhecimento trazido por ele não é novo, por ser a revelação daquilo que sempre fomos. Sua clareza e simplicidade são surpreendentes. Se tudo é tão simples e claro, como pôde haver tantos equívocos, durante tanto tempo, no conhecimento da Verdade?

Bhagavan Sri Ramana, o sábio dos sábios, vivia em constante união com o Ser Supremo. Quando ministrava seus ensinamentos, fazia-o afirmando com muita simplicidade. Não havia qualquer dúvida sobre o caminho direto da autoconscientização por ele ensinado. Não existia problema com relação à revelação da Verdade, pois quem fazia revelação a quem, num estado muito além da forma? Todo ensinamento do Mestre Ramana é uma manifestação divina. Lembro-me, uma vez, que um de nós perguntou se ele sabia tudo sobre a manifestação, e Bhagavan Sri Ramana respondeu sorrindo: “Eu não sei nada, apenas sinto”.

Bhagavan Sri Ramana tornou-se bastante conhecido no Ocidente nas últimas décadas, após o interesse que passou a existir pelo Oriente, quando os valores ocidentais começaram a ser contestados. A partir da década de sessenta, esse interesse intensificou-se, e o milenar conhecimento dos Mestres passou a ser estudado por pessoas das mais diferentes categorias. Esse conhecimento veio, porém, revestido de roupagem extravagante e misteriosa, inacessível à maioria das pessoas. Muitos dos que aderiram ao pensamento oriental tentaram criar em torno de si um ambiente que imitava os costumes, a alimentação, as vestimentas do Oriente. Na maioria dos casos, essas pessoas acabavam desistindo de sua busca, julgando-a impossível ou ilusória. O que houve, porém, é que o Oriente foi imitado na sua aparência exterior. A essência dos sagrados conhecimentos, da sabedoria dos Grandes Mestres, foi apenas levemente tocada, superficialmente aprendida, e ainda de forma imperfeita e cheia de equívocos. Como pode o conhecimento absoluto ser limitado a determinados ambientes, a condições externas, a costumes específicos de alguns povos? O Absoluto, por sua própria natureza, é onipresente, pairando acima de costumes. Só é necessário conscientizar-se dele, senti-lo.

Com o advento desse novo interesse, muitos se apresentaram como Mestres. Tudo é uma questão de oferta e procura, sempre existindo os intermediários, aqueles que se aproveitam da oportunidade para oferecer mercadorias exóticas, geralmente falsas. Muitos líderes fundaram novas religiões, seitas, e propuseram uma infinidade de caminhos filosóficos. Estabeleceram novos padrões de comportamento, novos caminhos aos que desejavam seguir os ensinamentos dos Grandes Mestres. Porém, esses caminhos criados só afastaram cada vez mais as pessoas do verdadeiro objetivo espiritual, porque são revestidos de símbolos e parábolas estranhas que têm significação apenas externa e em nada ajudam no processo da autoconscientização. A Verdade Suprema foi omitida justamente porque tais

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líderes a desconhecem, a nível de vivência. Revestiram de formas confusas os ensinamentos simples, promovendo cada vez mais a confusão nessa área.

A afirmação constante de que somos o Ser e a plenitude dos ensinamentos de todos os Grandes Mestres não nos dá a chance de errarmos. Estarmos com o sábio Bhagavan Sri Ramana é estarmos no Ser. Com sua orientação, podemos perceber aquilo que somos. Essa é a grande força do caminho direto que esse grande Avatar nos trouxe. Mostrou-nos tudo o que somos e o que não somos. Em nenhum outro caminho pode-se notar tão clara e coerentemente o que se é e o que não se é. O caminho direto ensinado por Sri Ramana é supremo. Ele veio para findar este ciclo e iniciar outro. Para quem quer libertar-se de toda ignorância do não-ser e tornar-se consciente do Ser Absoluto esse é um caminho completo. Não há outro mais direto, mais simples. É assim que Bhagavan Sri Ramana e todos os outros Grandes Mestres indicam, abrindo essa porta para que os homens retornem ao estado natural de ser.

Quando alguém nos chama e pergunta por nós, todos tendemos a dizer “eu” e, ao dizermos “eu”, automaticamente apontamos o peito. Isso é uma forma espontânea, natural, de apontarmos onde se reflete a consciência de ser. Por isso, Sri Ramana aconselha sentir o lado direito do peito, porém sem definições, sem pensar, sem analisar. Nisso consiste toda a técnica de autoconhecimento indicada por ele. Como sempre acontece, as coisas mais importantes são as mais singelas. O difícil é tornar práticos os ensinamentos. E é difícil porque o homem é complicado. Não que a Verdade seja complicada, confusa ou abstrata demais para ser percebida, mas porque a mente pensante, em cada homem, é que o induz a imaginar assim e a se escravizar pela manifestação temporária. A muitos pode parecer estranho que somente com essa técnica, de certa maneira simples, seja possível encontrar a solução para os problemas fundamentais existentes no planeta.

Bhagavan Sri Ramana ensina que devemos importar-nos em apenas procurar nossa real identidade, a divina, pois somos divinos em essência. O homem ignora-se como o Ser Supremo e confunde essa sua natureza divina com o ego profano, com a mente pensante. Quando alguém diz “eu”, que é que se quer dizer? Quem é realmente esse “eu”? De onde ele surge? Se o homem deseja conhecer a Verdade Absoluta, ele primeiramente deverá adquirir o conhecimento básico de si mesmo, isto é, desse “eu” a que ele se refere constantemente.

Para o conhecimento de si mesmo é suficiente que o homem se proponha a identificar-se, de modo incessante, com a Verdade Suprema e que, ao fazer isso, sinta o lado direito do peito, pois é nessa região que o Ser Absoluto se reflete. Essa técnica simples é o primeiro passo em direção à autoconscientização, embora tal possibilidade dependa totalmente da graça de se encontrar um Mestre e receber dele a sagrada iniciação. Tive a felicidade de passar por essa experiência. Convivi com meu Mestre, Bhagavan Sri Ramana, de quem assimilei toda a técnica de autoconscientização.

BHAGAVAN SRI RAMANA

Bhagavan Sri Ramana nasceu no sul da Índia, no ano de 1879, numa aldeia chamada Tiruchuzhi, e recebeu o nome de Venkataraman. Aos quatorze anos de idade preparava-se para entrar na universidade de Madras. Até então, ninguém poderia suspeitar que ali estava aquele que mais tarde iria tornar-se o sábio dos próprios sábios. Ele era um rapaz cheio de saúde, amava os esportes e os exercícios físicos. A única característica que se destacava, referente aos seus estudos, era uma surpreendente memória que lhe permitia um aproveitamento brilhante, repetindo de cor a lição ouvida apenas uma vez. No entanto, Ramana sentia que aqueles estudos não tinham qualquer utilidade para ele. Queria um outro tipo de sabedoria, pois a sabedoria do mundo material não podia torná-lo consciente da verdade de ser nem dar-lhe o poder de vencer a ignorância espiritual.

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A única obra espiritual que impressionou Ramana foi o relato da vida do grande Mestre Kabir e as suas descrições da vida dos sessenta e três santos do culto de Shiva. Com esse livro estabelecia-se em Ramana a plena felicidade por perceber que o divino pode manifestar-se na Terra. Foi impregnado de uma auto-segurança e fervor divino tão intenso, que sentiu inspirar-se nele a procura do Ser Supremo. Ressoava no seu interior a palavra “Arunachala”, que é o nome de uma montanha sagrada, num lugar chamado Tiruvannamalai. Ele sentia que ali poderia ser o local adequado para dedicar-se exclusivamente à meditação, para conscientizar-se da Verdade Suprema.

Algum tempo depois, teve uma experiência extraordinária. Estava em seu quarto quando, subitamente, sentiu que se integrava no universo. A sua reação foi totalmente indiferente perante esse sentir. Não pediu auxílio a ninguém, apenas deitou-se no assoalho observando-se a si mesmo: o corpo se havia tornado estático e, de certa maneira, rígido. Ele perguntou: “Quem sou eu? Minha consciência não é atingida absolutamente”. Então compreendeu que era completamente independente do corpo físico, da mente pensante e dos sentidos. Sentia apenas o pulsar cósmico e concluiu: “Sou Consciência”. Ramana teve também a sensação de que seu corpo estava queimando. Lembrou-se dos ensinamentos de Krishna: “As chamas do fogo podem queimar meu corpo, mas não podem queimar minha existência”. Nesse mesmo momento, sentiu a presença de Sri Krishna em todo o seu esplendor dizendo para ele: “Você não é o corpo, nem a mente pensante. Você não nasce, nem morre. Você é eterno e presente. Você é imortal. A destruição do corpo não é a sua destruição. As armas não podem cortá-lo, as chamas do fogo não podem queimá-lo, o vento não pode secá-lo, a água não pode molhá-lo e a morte não pode matá-lo”.

Pouco depois disso, Ramana abandonou o seu lar sem indicar seu destino. Deixou apenas um bilhete à sua família pedindo que não se preocupassem em procurá-lo, pois seu propósito era honesto. Levou consigo apenas o dinheiro suficiente para a passagem com destino a Tiruvannamalai.

Permaneceu nessa região toda a sua vida. Primeiro instalou-se em várias cavernas e templos. Esteve por alguns anos numa gruta, em Arunachala, chamada Virupaksha, onde permanecia inconsciente de seu corpo, em profunda meditação. Mesmo após haver aniquilado a mente pensante, o ego e os sentidos e estar em plenitude de conhecimento e consciente do Ser Supremo, Sri Ramana continuou vivendo na gruta. Como chegaram muitos discípulos, mudou-se então, definitivamente, para um Ashram que foi construído ao pé de Arunachala. Nesse local vinham pessoas de todas as partes do mundo para aprender com ele.

Apesar de Arunachala ser vista materialmente como uma massa de rochas, seu nome reflete a força do Ser Supremo e ajuda aqueles que se dedicam à conscientização espiritual. Isso porque a simples repetição da palavra Arunachala neutraliza a mente pensante, dando paz àqueles que se voltam para ela.

Na época em que Bhagavan Sri Ramana morava em Tiruvannamalai, a montanha Arunachala era considerada um dos mais sagrados locais da Índia. Sua paisagem tem conformação agreste e chega a lembrar o cerrado brasileiro. Por toda parte vêem-se grandes pedras, separadas do corpo principal da montanha, espinhos e sebes de cactos, campos ressequidos pelo Sol. Ao mesmo tempo, há árvores frondosas ao longo das estradas, e ao redor dos poços de água crescem campos de um verde muito vivo. Embora não seja um monte muito alto, domina toda a paisagem.

Sri Ramana não teve Mestre, pois era Mestre de si mesmo. Ele vivia na mais absoluta identificação com tudo e com todos os seres existentes. O povo o adorava como alguém inspirado pelo divino e o aclamava como Bhagavan Bhagavan (o iluminado está entre nós), mas ele repelia qualquer manifestação desse tipo. Um grupo de discípulos começou a formar-se ao seu redor. Encaravam o Mestre com uma fé muito simples e voltavam-se para ele quando surgiam grandes dificuldades ou quando seus pedidos eram atendidos. Grandes

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dificuldades e doenças desapareciam. E ele sempre dizia: “Tão logo se devociona ao Ser Supremo, a divina atividade automaticamente começa a agir”. Bhagavan Sri Ramana jamais fez demonstrações de poderes, nem sequer tinha interesse por eles. Sempre ensinou que tais poderes não são nada além de fúteis e nocivas distrações no caminho direto da autoconscientização.

Um dia chegou até ele um grande sábio, Ganapati Mouni, que fez perguntas ao jovem Ramana e recebeu respostas cuja sabedoria o assombrou imensamente. Continou a fazer perguntas referentes aos problemas filosóficos, religiosos e sobre a conscientização da Verdade Suprema. Ajoelhou-se perante o jovem Mestre, pedindo para ser aceito como discípulo.

Vivia nas redondezas do Ashram um outro sábio chamado Seshadri Swami, muito conceituado e respeitado por todos. Considerado profundo conhecedor das escrituras, dominava várias línguas e era constantemente procurado por aqueles que desejavam esclarecer as questões mais intrincadas referentes aos ensinamentos deixados pelos Grandes Mestres. Ouvindo sobre Ramana, desejou conhecê-lo. No encontro de dois seres tão afamados, todos esperavam ouvir demoradas discussões sobre o conteúdo das escrituras, longas explanações a respeitos dos sagrados ensinamentos espirituais. Entretanto, Seshadri Swami chegou até Sri Ramana e, curvando-se, perguntou se podia servir o Mestre cuidando da porta do Ashram.

Bhagavan Sri Ramana abriu para a humanidade o eterno caminho da Verdade Suprema de forma nova, conveniente às condições de nossa época. Esse caminho direto tem por objetivo essencial ajudar a todos aqueles que querem vencer a poderosa ilusão do ego profano e da mente pensante, de maneira a permanecer no estado natural do Divino Ser. Ao codificar o caminho da autoconscientização, Sri Ramana criou, efetivamente, a solução para todos os que buscam o autoconhecimento. Até então, o acesso à sabedoria dos Mestres era exclusivo dos reclusos do silêncio. Ramana mostrou um caminho possível de ser trilhado livremente, conforme as condições da vida moderna.