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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Out/Nov/Dez 2010 - Edição 7 Os destaques do ano PRÊMIO RAIO-X. Os sete professores que fizeram a diferença no ensino médico em 2010. Ufes pune dois professores de Medicina com demissão MedUfes surpreende até debaixo d’água nas OREM Lissa Sakugawa ganhou 4 medalhas nas Olímpiadas Regionais dos Estudantes de Medicina. Confira o relato do nosso enviado especial. 50 ANOS Entrevista com o médico e professor Fausto Edmundo Lima Pereira abre, em grande estilo, a cobertura especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes. MedUfes •• Os neurocirurgiões Pedro Motta e José Carlos Saleme cometeram a mesma infração: “abandono do cargo”. Ambos negam serem “fantasmas” e já recorreram da decisão na justiça. Atraso de 663 dias na obra da prefeitura de Vitória •• Em Maruípe, obra do Ele- fante Branco se arrasta a mais de dois anos e segue longe do fim. RAIO-X teve acesso ao contrato assinado entre a Ufes e a Prefeitura de Vitória. Paulo Merçon ÁREAS BÁSICAS Crispim Cerutti MEDICINA SOCIAL Marcelo Muniz CLÍNICA MÉDICA Gustavo Peixoto CLÍNICA CIRÚRGICA Ana Daniela PEDIATRIA Marize Neves GINECO/OBSTETRÍCIA Diusete Pavan MEDICINA ESPECIALIZADA Mameri quer Casagrande mais perto do Hucam A convite de RAIO-X, o governador eleito Renato Casagrande e o diretor do Hucam Emílio Mameri fazem tour pelo hospital. “Querem PSF sem médico”, diz presidente do CFM •• Em entrevista exclusiva, Roberto Luiz d’Ávila, presi- dente do Conselho Federal de Medicina, diz que “os outros profissionais de saúde querem acabar com o poder médico”. Justiça manda Ufes contratar 688 servidores para Hucam •• A Justiça Federal determi- nou que a Ufes realize concur- so para a contratação de 688 funcionários para o Hucam. As vagas deverão estar preenchidas até dezembro do ano que vem.

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 7: Out/Nov/Dez 2010

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Page 1: Raio-X, nº 7

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Out/Nov/Dez 2010 - Edição 7

Os destaques do ano PRÊMIO RAIO-X. Os sete professores que fizeram a diferença no ensino médico em 2010.

Ufes pune dois professores de Medicina com demissão

MedUfes surpreende até debaixo d’água nas OREM Lissa Sakugawa ganhou 4 medalhas nas Olímpiadas Regionais dos Estudantes de Medicina. Confira o relato do nosso enviado especial.

50 ANOS

Entrevista com o médico e professor Fausto Edmundo Lima Pereira abre, em grande estilo, a cobertura especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes.

MedUfes

•• Os neurocirurgiões Pedro Motta e José Carlos Saleme cometeram a mesma infração: “abandono do cargo”. Ambos negam serem “fantasmas” e já recorreram da decisão na justiça.

Atraso de 663 dias na obra da prefeitura de Vitória •• Em Maruípe, obra do Ele-fante Branco se arrasta a mais de dois anos e segue longe do fim. RAIO-X teve acesso ao contrato assinado entre a Ufes e a Prefeitura de Vitória.

Paulo MerçonÁREAS BÁSICAS

Crispim CeruttiMEDICINA SOCIAL

Marcelo MunizCLÍNICA MÉDICA

Gustavo PeixotoCLÍNICA CIRÚRGICA

Ana DanielaPEDIATRIA

Marize NevesGINECO/OBSTETRÍCIA

Diusete PavanMEDICINA ESPECIALIZADA

Mameri quer Casagrande mais perto do Hucam A convite de RAIO-X, o governador eleito Renato Casagrande e o diretor do Hucam Emílio Mameri fazem tour pelo hospital.

“Querem PSF sem médico”, diz presidente do CFM •• Em entrevista exclusiva, Roberto Luiz d’Ávila, presi-dente do Conselho Federal de Medicina, diz que “os outros profissionais de saúde querem acabar com o poder médico”.

Justiça mandaUfes contratar 688 servidores para Hucam•• A Justiça Federal determi-nou que a Ufes realize concur-so para a contratação de 688 funcionários para o Hucam. As vagas deverão estar preenchidas até dezembro do ano que vem.

Page 2: Raio-X, nº 7

Caro leitor,

EXPEDIENTE. RAIO-X O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Publicação do Diretório Acadêmico de Medicina da UFES. Editor Wagner Knoblauch Textos Wagner Knoblauch (T80), Leonardo Tafarello (T80), Victor Cobe (T80), Jequélie Cássia (T80), Constan-ce Dell’Santo (T80), Gustavo Franklin (T83), Luana Gaburro (T79), Ivan Nogueira (T82) Crédito das fotos Equipe RAIO-X, Arquivo e Internet Diagramação Equipe RAIO-X Impressão Gráfica UFES Tiragem 500 exemplares Fale com o editor (27) 8153-3178 - [email protected]

Redação. Mande sua sugestão de reportagem, crítica ou comentário para [email protected] e ajude a fazer o RAIO-X.

•• Informar a verdade. Essa é a função primordial do jornalismo. A presente edição de RAIO-X, última do ano, traz pautas polê-micas, entrevistas exclusivas e reportagens especiais que con-

firmam esse princípio. Duas ma-térias, que ganharam destaque na capa, falam sobre o mesmo assunto: professores. Uma, do Prêmio RAIO-X, mostra o reco-nhecimento dos alunos a sete do-centes, os “Destaques do Ano”, pela dedicação ao ensino. Coube a uma comissão de 35 estudan-

Informe. Toda quarta-feira, as 12h30, tem reunião no DAMUFES. Participe!

•• O cardiologista Roberto Luiz d’Ávila, 58 anos, preside o Conselho Federal de Medicina (CFM) desde outubro do ano passado e veio a Vitória em no-vembro, a convite do CRM-ES, para participar do 1º Fórum Mé-dico de Defesa Profissional. No evento, Roberto d’Ávila disse que o silêncio em relação ao pro-jeto de lei do Ato Médico, que tramita no Senado, é “estratégi-co” e que há “intensa atividade nos bastidores”. Após a palestra, o presidente concedeu uma en-trevista exclusiva ao RAIO-X.

O ano foi marcado pela in-tensa atuação das entidades médicas, que culminou com a manifestação pelas ruas de Brasília em 26 de outubro. Qual o balanço que o senhor faz do movimento médico em 2010? O movimento médico está cada vez mais maduro. Acabou a lamentação. Paramos de apenas nos queixar que a situação está ruim e passamos para uma ati-tude propositiva. Agora, vamos aos ministérios e ao Congresso Nacional praticamente toda se-mana. Antes, conversávamos apenas com os parlamentares médicos. Um equívoco estraté-gico. Hoje, conversamos com todos os deputados e senadores, médicos e não médicos, e tam-bém abrimos diálogo com outros setores, como a magistratura e o Ministério Público. Essa mudan-ça de atitude que marcou o ano de 2010 também se deve à fase atual de harmonia entre as três entidades médicas, CFM, AMB e FENAM. No passado, perde-mos muito tempo com vaidades e personalismos. Essa bobagem acabou.

A categoria médica é desuni-da? Não. A categoria é muito mais alienada do que desunida. Médicos são perfeccionistas, estudiosos, têm sempre com-promissos e responsabilidades. Isso nos isola e nos torna per-sonalistas, autosuficientes, in-dependentes. Temos dificuldade de agregação. Aquele que sonha em fazer medicina liberal, ter seu consultório, tem dificuldade de lutar pelo piso salarial, pela carreira de estado. Falta consci-ência social. Mesmo quem tra-balha no SUS, e sofre com essa realidade social, adota uma pos-tura de lamentação. Perdemos a identidade no sentido de abraçar o paciente, de lutar pelos direi-tos dele e pelos nossos também. Os outros profissionais vão às ruas e fazem greve. Os médicos são contra greve porque acham que não fica bem para a catego-ria. Estamos pagando os erros do passado, mas essa realidade começa a mudar.

Hoje, fala-se que os médicos vêm perdendo o respeito e a credibilidade perante os pa-cientes, a sociedade e os outros profissionais de saúde... Isso é relativo. Não é verdade que a so-ciedade tenha perdido o respeito por nós. Quem nos desrespeita hoje não são os pacientes, são os nossos patrões: as operadoras de planos de saúde e o Estado, nas três esferas. A sociedade reconhece nosso trabalho, mas não aceita, com razão, aquele médico que ganha pouco, seja no serviço público ou privado, e atende rápido e mal por cau-sa disso. É inaceitável. Médico é médico em qualquer lugar e o paciente merece sempre toda

África subsaariana, onde faltam médicos, você capacita o pajé, o agente de saúde. No Brasil, onde há médicos em quantidade adequada, esse é um equívoco. Cresce no país uma parceria do Ministério da Saúde com a En-fermagem para excluir o médico da atenção básica. Querem PSF sem médico. Com a aprovação do Ato Médico, o CFM lançará uma campanha, respeitando as outras profissões, mas de braços dados com a sociedade, contra os gestores públicos que não são sérios, e contra as operadoras.

O Conselho é a favor da re-criação da CPMF? Somos contra a criação de um imposto para a saúde. Mais da metade do dinheiro da CPMF foi desviado para outros programas. O que re-solve a questão do subfinancia-mento da saúde é o comprome-timento do orçamento da União, dos Estados e das prefeituras, como está definido na Emenda Constitucional 29, que aguarda regulamentação desde 2000. A gestão dos recursos também pre-cisa melhorar.

No Estado, foram abertas três escolas médicas recentemente e o número de egressos vai sal-tar de 200 para 500 daqui dois anos. O Conselho reprova essa situação? Claro. Até porque estamos questionando a forma-ção, não somente técnica, mas a ética e humanista. Não adianta ser bom tecnicamente apenas. A medicina não é só ciência, é também arte. As pessoas estão carentes de atenção e cuidado. O bom médico é aquele que une ciência e arte e respeita o doen-te. É preciso rever a formação, a abertura indiscriminada de escolas médicas e a ausência de professores experientes, de ver-dadeiros mestres.

Presidente do CFM fala sobre avanços e desafios da profissão

nossa atenção. O médico que não está satisfeito não deve aceitar essas condições e lutar por melhorias, ou então muda de profissão. O Conselho quer que o médico se auto-respeite e também respeite a profissão. E para as operadoras e os ges-tores públicos, devemos dizer que não aceitamos trabalhar por salários baixos. Em relação aos outros profissionais, eles esta-riam, em tese, nos desrespeitan-do. É uma questão estratégica, ideológica. Eles querem acabar com o poder médico. Nas equi-pes, sempre tivemos o poder, até porque fazemos o diagnós-tico e tratamento das doenças, e porque a responsabilidade é proporcional à autoridade, capa-cidade e competência de decidir. Eles defendem a idéia de que todos os profissionais são iguais e podem fazer tudo, inclusive diagnóstico e tratamento. Na

“Os outros profissionais de saúde querem acabar com

o poder médico. É uma questão ideológica. (...)

Defendem a ideia de que todos podem fazer tudo,

inclusive diagnóstico e tra-tamento. (...) Querem nos excluir da atenção básica. Querem PSF sem médico”

ROBERTO D’ÁVILA

tes, incluindo os “repórteres” do jornal, a missão de escolher ape-nas sete professores em um uni-verso de aproximadamente 140. Outra reportagem, porém, reve-la os bastidores da demissão de dois docentes do departamento de Clínica Cirúrgica. Ser demi-tido de um cargo público é fato

raro, e por isso merece atenção. Os médicos em questão foram punidos por “abandono do car-go”, isto é, eram servidores fan-tasmas. Boas ou más, notícias de interesse público, especialmente acadêmico, tem espaço nas pági-nas de RAIO-X. Boa leitura!

Wagner Knoblauch

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Políticas.Bancada do esteto Dos 513 deputados federais eleitos em todo o país, 23 são médicos (18 a menos que na eleição passada). Destes 23, cinco compõe a bancada capi-xaba: Lelo Coimbra (PMDB), Paulo Folleto (PSB), César Colnago (PSDB), Jorge Silva (PDT) e Manato (PDT). Os ou-tros cinco deputados federais pelo Estado, Audifax Barcelos (PSB), Sueli Vidigal (PDT), Rose de Freitas (PMDB), Iriny Lopes (PT) e Lauriete (PSC), apesar de não serem médicos, também prometem priorizar a luta por melhorias na saúde.

Trio do jaleco Até duas semanas após o 1º turno, a nova composição do plenário da Assembléia Legis-lativa do Estado contava com três médicos entre os 30 elei-tos: Hércules Silveira (PMDB), Nilton Baiano (PP) e Henrique Vargas (PRP).

Dr. Nilton taí?Mas Nilton Baiano perdeu sua vaga para Solange Lube (PMDB), que se “elegeu” após o TSE validar os votos de Luiz Carlos Moreira (PMDB). A explicação passa pelo sistema proporcional de eleição. Nilton e sua coligação não obtiveram o número suficiente de votos para elegê-lo.

Ato Médico no Senado Os três senadores pelo Estado a partir de 2011, Ricardo Fer-raço (PMDB), Magno Malta (PR) e Ana Rita Esgário (PT), divergem sobre o projeto de lei do Ato Médico, que define as atividades privativas dos mé-dicos. Ricardo ainda não bateu o martelo, mas é provável que seja favorável ao Ato. Procu-rado pelas entidades médicas locais, Magno manifestou ser contrário ao Ato Médico e dis-se que vai votar contra o proje-to. Ana Rita disse ainda não ter opinião formada, porque des-conhece detalhes do texto.

Ricardo pró-Hucam Em solenidade organizada pela direção do Hucam, no último 26 de agosto, o senador eleito Ricardo Ferraço (PMDB) se comprometeu a lutar por au-mento da verba oriunda dos cofres estaduais para custeio do hospital universitário.

•• Com 82,3% dos votos váli-dos, Renato Casagrande (PSB) foi um dos governadores eleitos com maior votação proporcional do país. Nascido no interior de Castelo (ES), o socialista exer-ceu mandatos de deputado, vice-governador e senador. Em en-trevista exclusiva ao RAIO-X, por email, o governador eleito admite que a área de saúde “é a mais desafiadora”, apresenta propostas e promete “manter o nível de desembolsos financei-ros” para o setor. Casagrande também fala da importância do Hucam no sistema estadual de saúde e afirma que “o governo federal precisa fortalecer institu-cionalmente o hospital”.

O senhor pontuou durante a campanha eleitoral e reiterou logo após o anúncio do resul-tado da eleição que a área de saúde será um setor estratégi-co do seu programa de gover-no nos próximos quatro anos. Qual o maior desafio da saúde hoje, na sua avaliação? A saú-de, como tema de política gover-namental, é a mais desafiadora para os formuladores de ações públicas. Isso é dado pela sua complexidade, seja por envolver muitos agentes públicos e priva-dos, seja por ser muito dinâmica a evolução dos procedimentos recomendados para a área, seja pelas muitas inovações em rela-ção a equipamentos, pelas novas demandas e, também, por atra-sos históricos em investimentos e em capacitação de pessoal. Neste cenário, entendemos ser necessário reforçar a capacida-de de o Estado ser regulador e financiador da prestação de ser-viços de saúde, considerados em todas as dimensões, prevenção médica, odontológica, psico-lógica, urgência, média e alta complexidade, etc. No plano mais imediato, consideramos que o desafio da implantação dos programas de saúde da fa-mília – ampliação da cobertura do programa e capacitação de profissionais para esta visão de medicina – é o que deve merecer nossa maior atenção. Além dis-so, temos que aumentar a oferta de consultas e exames especiali-

zados; humanizar o atendimento aos cidadãos, pois quem procura um atendimento médico, nor-malmente está muito fragilizado e precisa de uma atenção espe-cial. Também temos em vista o apoio aos municípios, reforçan-do a descentralização do atendi-mento, ampliando as unidades de pronto-atendimento e melho-rando o atendimento primário. Em resumo, quais serão suas primeiras ações para este se-tor? O senhor pretende dar continuidade às ações e aos projetos que já estão em an-damento? Sem dúvida vamos dar continuidade aos projetos em andamento. Em paralelo, precisamos redesenhar o pla-no estadual de saúde, para que o mesmo possa compreender a dinâmica atual da população e a respectiva demanda regiona-lizada dos serviços. Da mesma forma, também criar inovações no campo do financiamento, da

regulação, da ampliação do qua-dro de profissionais capacitados para que possamos aumentar a oferta, bem como avançar muito na prevenção, conforme já sina-lizei na resposta anterior.

Quem será o próximo secre-tário estadual de saúde? Há chances de o atual secretá-rio Anselmo Tozi continuar na pasta? Nós estamos ainda a poucos dias da conclusão do processo eleitoral. Já anunciei que tratarei deste assunto so-mente em dezembro. Na sua visão, qual a impor-tância do Hucam para sistema estadual de saúde? O Hucam é importante sobre muitos aspec-tos. Podemos falar de sua capa-cidade resolutiva, de sua escala de atendimento em relação à rede local e, talvez o mais espe-cial, que é sua contribuição para formação de profissionais muito qualificados. Porém, sabemos que o governo federal precisa fortalecer institucionalmente o hospital, com mais investimen-tos e recursos humanos. O senhor pretende elevar a aplicação de recursos esta-duais no Hucam? Nós vamos manter o nível de desembolsos financeiros para a área de saúde, o que já inclui a ampliação das ações em parcerias com hospi-tais da rede filantrópica e públi-ca, como é o caso do Hucam.

Caso não tivesse se candidato ou não tivesse vencido as elei-ções, o senhor seguiria como senador por mais quatro anos. O projeto de lei do Ato Mé-dico, que define as atividades privativas do médico, tramita atualmente no Senado. O se-nhor é a favor ou contra o pro-jeto? Esse é um projeto polêmi-co, defendido ferrenhamente por alguns profissionais da área de saúde e criticado por outros com a mesma intensidade. O melhor é buscar o consenso e caberá a vocês, futuros médicos e os mé-dicos em exercício, dialogar com a nova bancada capixaba para chegarem a um equilíbrio, que caminhe para atender a todos.

Casagrande: “Governo federal precisa fortalecer o Hucam”Exclusivo. Ao RAIO-X, Renato Casagrande diz que área de saúde “é a mais desafiadora”.

“O Hucam é importante sobre muitos aspectos. (...) O governo federal

precisa fortalecer institucionalmente o hospital, com mais

investimentos e recursos humanos”

RENATO CASAGRANDEGOVERNADOR ELEITO

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PS do Hucam pode fechar Nem em Bagdá“Se a situação permanecer como está, serei obrigado a re-tirar os alunos e residentes de medicina do Hucam. Porque, nas atuais condições, eles es-tão aprendendo como não fazer medicina. Lembrem-se que eles serão os médicos de amanhã. Como é possível fazer um toque de abdomen em um paciente que está sentado numa cadeira porque não tem um leito dis-ponível? Como examinar um paciente que está deitado no chão? Estamos sendo obriga-dos a conviver com situações que talvez não estejam aconte-cendo nem em Bagdá”

Desafio eterno. A crise no atendimento aos pacientes do pronto-socorro do Hucam é apresentada, tanto na foto quanto no texto, exatamente da mesma forma. Eles se completam. No entanto, há uma distância de tem-po de mais de 7 anos entre os dois. A foto é recente. Foi retirada em novembro de 2010. O texto é, na ver-dade, um desabafo feito em abril de 2003 pelo então diretor do Centro Biomédico da Ufes, Wilson Zanotti, durante uma audiência pública na Assembléia Legislativa. O médico é o atual diretor clínico do Hucam.

•• O pronto-socorro (PS) do Hucam corre o risco de reduzir drasticamente o atendimento aos pacientes ou até mesmo fechar as portas a partir de março do ano que vem. Os profissionais que atuam na unidade são man-tidos por meio de um acordo entre o hospital e a Prefeitura de Vitória. O contrato, que já exis-te há quase 20 anos, termina em dezembro e não será renovado. A direção do Hucam calcula que será possível bancar esses salá-rios somente por dois meses após o encerramento do convênio. A direção negociou nos últimos meses com representantes do governo da capital e até com o próprio prefeito João Coser, mas o município manteve-se irredu-tível na decisão de não renovar o contrato. Essa decisão está, inclusive, registrada em ata do Conselho Municipal de Saúde. A prefeitura alega que falta recurso. “Nos reunimos com o prefei-to João Coser e ele foi enfático ao dizer que o convênio acaba em 31 de dezembro e não será renovado por falta de recurso”, explica Emílio Mameri, diretor superintendente do Hucam. O custo anual do convênio gira em torno de oito milhões. O pagamento dos funcionários é feito através da Fahucam (Fun-dação de Apoio ao Hucam). De acordo com Emílio Mame-ri, a prefeitura de Vitória renova-ria o contrato de manutenção do pronto-socorro caso o dinheiro para pagar os salários dos fun-cionários saísse dos cofres do Es-tado. Sem alternativas, a direção apelou para o governo estadual. Em visita ao Hucam no últi-mo 8 de novembro, o governa-dor eleito Renato Casagrande se comprometeu a conversar com o prefeito João Coser para discutir o convênio. “Os doentes não são do governo federal, estadual ou municipal. São nossos e temos que dar conta deles”, disse. Casagrande preferiu não pro-meter repasses. “Não vou me comprometer com nada enquan-to não tiver tomado pé de todas as questões financeiras do Estado”. O pronto-socorro do Hucam atende apenas pacientes referen-ciados de outros serviços, espe-cialmente de pronto-atendimen-tos. Em 2009, foram registrados 5.479 atendimentos. (Wagner Kno-blauch, Victor Cobe e Leonardo Tafarello)

A convite de RAIO-X, Casagrande realiza tour pelo Hucam

•• O governador eleito se reuniu com a direção do Hucam em no-vembro. Em seguida, a convite do jornal, Casagrande fez uma caminhada pelo hospital. Na reunião, o diretor Emílio Mame-ri destacou “o maior desafio”: o déficit de quase 800 funcioná-rios. Por conta disso, cerca de 100 dos 320 leitos estão desati-vados. “O quadro atual é para tocar 150 leitos”, lamenta o dire-tor. O novo governador Renato Casagrande sinalizou interesse em fortalecer a parceria do go-verno estadual com o hospital, mas ponderou: “É preciso achar o caminho que dê ao gestor es-tabilidade jurídica no repasse de recurso para a contratação de pessoal para o Hucam”.

Parceria. Casagrande visitou as obras do novo Instituto de Oftalmologia e ouviu reclamações e o pedido de apoio da médica Diusete Pavan, chefe do serviço. No percurso, o governador eleito fez questão de cumprimentar pacientes e funcionários.

“O maior desafio do Hucam é déficit de pessoal. O quadro de funcionários é para tocar 150 leitos. Hoje,

quase 100 dos 320 leitos estão desativados”

EMÍLIO MAMERI DIRETOR DO HUCAM

“É preciso achar o caminho que dê ao gestor

estabilidade jurídica no repasse de recurso para a contratação de pessoal

para o Hucam”RENATO CASAGRANDE

GOVERNADOR ELEITO

Em prol do Hucam. Emílio Mameri, diretor superintendente, Renato Casagrande, governador Emílio Mameri, diretor superintendente, Renato Casagrande, governador eleito, Bartolomeu Martins, do Ministério da Saúde, e Wagner Knoblauch, editor de RAIO-X.

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Justiça manda Ufes contratar 688 funcionários para o Hucam•• A Justiça Federal determinou que a Ufes realize concurso para a contratação de 688 servidores para o Hucam. A decisão, que julgou proce-dente a ação civil pública mo-vida pelo Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES), destaca que a contratação é necessária para a reativação dos serviços paralisados do hospital. Com aproximadamente 900 servidores hoje, o hospital con-tinua com o mesmo quantitati-vo de 15 anos atrás. “O déficit de recursos humanos é o maior desafio do Hucam”, aponta o diretor superintendente Emílio Mameri. A ação civil pública foi ajuiza-da no dia 2 de fevereiro de 2009 pelo procurador da República André Pimentel Filho. Ele usou como base dados de duas audi-torias realizadas no Hucam em 2008, uma pelo Ministério da Saúde e outra pela Secretaria de Estado da Saúde. De acordo com o procurador, há muito a União e a Ufes dei-xaram de lado a realização de concurso para o preenchimento dos cargos previstos em lei para a estrutura do hospital. “O Hucam sempre fica à mer-cê de soluções paliativas que duram somente até a eclosão da próxima crise. (...) Os recursos estadual e municipal são des-viados para a manutenção de um hospital federal. (...) O fato é que a União vem se omitindo gravemente no enfrentamento do problema”, diz o procurador André Pimentel na ação. A setença, do juiz Francisco de Assis Basilio de Moraes, é do último dia 25 de outubro. A Justiça Federal deu um prazo de 90 dias, a partir da intimação, para que a União e a Ufes deem início ao procedimento adminis-trativo para a contratação dos novos servidores. De acordo com a decisão, o que está em jogo é “o direito à saúde da população que utiliza ou que potencialmente pode uti-lizar o Hucam”. Segundo consta no texto da sentença, todas as 688 vagas de-verão estar preenchidas até 31 de dezembro de 2011.

As vagas para cada cargoO cálculo do déficit de 688 servidores no Hucam, indica-do pela ação do MPF/ES, foi obtido com base nos dados de duas auditorias realizadas no Hucam em 2008, uma pelo Mi-nistério da Saúde e outra pela Secretaria de Estado da Saúde. Administrador: 10Almoxarife: 5Analista de tecnologia da informação: 3Arquivista: 2Arquiteto e urbanista: 1Assistente em administração: 60Assistente social:10Atendente de consultório:15Auxiliar de anatomia e necrópsia: 6Auxiliar de enfermagem: 25Auxiliar de laboratório:12Auxiliar em administração: 60Biólogo: 1Contador: 2Costureiro: 3Enfermeiro: 56Engenheiro: 2Farmacêutico: 5Fisioterapeuta: 2Fonoaudiólogo: 2Médico: 50Motorista:10Operador de Caldeira: 5Operador de máquina de lavanderia:10Operador de máquinas agrícolas: 2 Perfusionista: 4Programador de computador: 2Psicólogo: 5Secretário executivo: 2Técnico de tecnologia da informação: 2 Técnico de equipamento médico odontológico: 2Técnico de anatomia e necrópsia: 2Técnico de laboratório: 5Técnico em arquivo: 2Técnico em assuntos educacionais: 2 Técnico em contabilidade: 2 Técnico em edificações: 2 Técnico em enfermagem: 283 Técnico em radiologia: 11

Mameri: “Só vou acreditar na hora que acontecer”

•• O diretor do Hucam, Emílio Mameri, comemorou com cau-tela a decisão judicial que obriga a União e a Ufes a contratar 688 servidores para o hospital. “A notícia é excelente, mas só vou acreditar na hora que as contra-tações acontecerem”, pondera. Mameri lembra que o déficit de pessoal aumentou. “O cálculo de 688 servidores foi feito há dois anos. Hoje, nosso déficit gira em torno de 800 funcionários”. O diretor explica que o hospi-tal deveria ter 1600 profissionais para garantir o funcionamento de todos os setores. “O ideal é ter 5 funcionários para cada lei-to. O Hucam tem 320 leitos, por isso são necessários 1600 servi-dores no total”. O médico lamenta o alto nú-mero de leitos em desuso: “Nos-so quantitativo atual é para tocar 150 leitos. Por conta do déficit de pessoal, quase 100 dos 320 leitos do Hucam estão desativados”.

Ufes vai aguardar autorização do governo federal

•• A Ufes informou que foi no-tificada e irá cumprir a decisão judicial. No entanto, a Reitoria só deve autorizar os concursos após emissão de parecer favorá-vel da Procuradoria Federal. Esta, por sua vez, quer que a Justiça forneça maiores esclare-cimentos em relação à decisão. O objetivo é saber se a Ufes pode realizar o concurso de imediato, sem autorização de Brasília. O procurador André Pimentel Filho disse ao RAIO-X que os ministérios da Educação e do Planejamento terão que cumprir a ordem do juiz e abrir as vagas.Na avaliação do procurador, a União pode recorrer, mas não suspender a decisão. Os editais dos concursos de-vem ser divulgados, portanto, assim que o governo federal acatar a decisão judicial. Todas as 688 vagas deverão estar pre-enchidas até dezembro de 2011, segundo diz a sentença.

“Será que algum representan-te dos entes litigantes (União e Ufes) usa ou já usou os serviços do Hucam para consultas ou ou-tros serviços?”

“Desde a promulgação da Carta Política de 1.988, a carga tributá-ria aumentou, as despesas públi-cas aumentaram, mas é visível o colapso na saúde pública do País. (...) Precisaria de muitas folhas de papel para dissertar sobre as falhas da gestão da saúde públi-ca, que saltam aos olhos de qual-quer cidadão”

“A contratação de mais servido-res, via concurso público, com certeza, levará o Hucam a um-padrão de excelência equivalente aos de grandes hospitais da rede privada. (...) É o que a população anseia (...). Se há previsão le-gal dos cargos, se há orçamento contemplado para o provimento dos mesmos, por que a Admi-nistração Pública Federal reluta

em cumprir o seu compromisso constitucional? Será que é o bi-zarro contingenciamento orça-mentário? O acúmulo de superá-vit primário nas contas públicas é mais importante que as vidas que podem ser salvas pelos pro-fissionais do Hucam?”

“O Hucam dispõe de uma estru-tura inadequadamente instalada e mal equipada para atender os pacientes do SUS, além de, ab-surdamente, não contar com os indispensáveis recursos huma-nos para a consecução da sua atividade fim. Os dois recursos (materiais e humanos) são inter-dependentes. Um não funciona sem o outro. Sem os dois recur-sos combinados nada poderá ser feito pela saúde da população do SUS e/ou pelos professores/es-tudantes que dependem da real capacidade de funcionamento dessas áreas para viabilizar ao mesmo tempo o ensino/aprendi-zado prático”

O que diz a sentençaRAIO-X analisou a íntegra da sentença do juiz Francisco de Assis Basilio de Moraes, que julgou procedente a ação movida pelo MPF/ES. Veja trechos:

Page 6: Raio-X, nº 7

O senhor se lembra da primei-ra aula que deu na Ufes? A pri-meira aula que dei foi de patolo-gia geral em 1966 para a terceira turma de medicina. Também dei aula de anatomia patológica des-de o início.

Na década de 60, a biologia molecular, que é seu foco de estudos hoje, era uma realida-de distante... A bioquímica es-tava explodindo e a imunologia moderna, começando. As infor-mações de ciências básicas para explicar a patogênese das doen-ças era bastante limitada.

Não é exagero dizer que o se-nhor viu o nascimento da bio-

logia molecular. Exatamente. Acompanhei o impacto da bio-química, imunologia e biologia molecular na patologia. Não só na patogênese das doenças, mas também nas intervenções tera-pêuticas.

Como avalia essa evolução? Que grandes impactos o se-nhor viu de perto? A cada dé-cada que passa, ou até a cada ano que passa, a velocidade com que o conhecimento das ciências básicas chega à prática médica aumenta de modo espantoso. Descobertas que ocorreram na década de 60 só foram incor-poradas à medicina na década seguinte. Mas muitos conheci-mentos descobertos na década de 70 já foram aplicados no ano seguinte. O grande impacto é esse. E sempre chamo a atenção dos estudantes para este fato.

O estudo das moléculas en-trou em sua vida pela força do trabalho ou por interesse pessoal? O patologista é um dos profissionais que mais necessita de conhecimento das ciências básicas, sobretudo morfologia. Como gosto muito de patologia geral, talvez por influência do professor Bogliolo, tenho muita necessidade dos conhecimentos básicos: bioquímica, imunolo-gia, microbiologia, parasitologia e biologia molecular. Não tra-balho diretamente com biologia molecular, mas estudo e uso essa ferramenta.

Apesar de sua importância, a biologia molecular é ainda pouco atrativa entre os alunos. Acredito que os estudantes não se sintam atraídos principalmen-te pela forma como é ensinada. A bioquímica, por exemplo,

geralmente é ensinada como bioquímica pura, sem contexto, como se o corpo humano não existisse. Se os estudantes uti-lizassem o conhecimento das moléculas para entender os pro-cessos biológicos provavelmen-te se sentiriam mais atraídos. No nosso currículo existe uma dis-crepância entre o estudo das cé-lulas e o das moléculas. O aluno vê primeiro a célula, depois as moléculas. Não há ligação entre as disciplinas.

A que se deve essa discrepân-cia? Nosso currículo é clássico, onde o ensino é feito através de disciplinas sequenciais. Há cer-ta hierarquia, pré-requisitos. Na morfologia, por exemplo, a cito-logia vem antes da histologia. É o mesmo currículo de 100 anos atrás. O ciclo básico dos cursos de medicina classicamente in-clui morfologia, fisiologia e pa-tologia. Hoje, o ensino por dis-ciplinas isoladas não funciona bem. Primeiro: a quantidade de conhecimento em cada discipli-na é enorme, sendo impossível o aluno assimilar tudo. Segun-do: Na medida em que a ciência avança o limite entre as discipli-nas desaparece. Atualmente, os profissionais das áreas básicas usam as mesmas ferramentas, e entre elas está biologia mole-cular, como a técnica do PCR (Polymerase Chain Reaction). Por isso, o ensino integrado é mais adequado. Essa integração se dá de diversas maneiras. Por exemplo, é possível criar um módulo para estudar o corpo hu-mano normal, subdividindo por funções. O ensino global favore-ce a retenção do conhecimento e desperta o interesse do aluno.

Nesse sentido, o método PBL

seria, então, uma alternativa? Sim. O método da resolução de problemas, conhecido por PBL (Problem-Based Learning), é uma proposta muita discutida. O PBL elimina o ensino por disciplinas. O aluno é instruído a resolver problemas. Em se-guida, aprende a obter informa-ções para solucionar problemas médicos, que devem ser muito bem construídos. Na resolução, o estudante adquire, progressi-vamente, conhecimentos sobre o corpo humano, o diagnóstico das doenças e as intervenções terapêuticas. Hoje, a Organi-zação Mundial de Saúde con-sidera o PBL o método mais eficiente para formar médicos. Isso porque o PBL exige que a escola médica esteja inserida na comunidade e utilize o sistema de saúde local como campo de aprendizado. O estudante passa, então, do atendimento primário ao terciário. Aqui está a grande diferença do PBL para o mé-todo tradicional, que trabalha com hospital-escola. O ensino integrado, e até o nosso ensino clássico, podem ser associados à resolução de problemas, que não precisa ser formalmente o PBL. A melhor maneira de tor-nar o ensino das ciências básicas mais interessante é torná-lo útil, com aplicação prática. Por isso, o estudante de medicina deve estar em contato com problemas médicos desde o primeiro dia de aula, e não a partir do 3º ano, como ocorre hoje na Ufes.

Como um dos maiores críticos do nosso currículo, o senhor tentou implantar mudanças na época que esteve na direção do Centro... O primeiro grande movimento de mudança curricu-lar ocorreu quando Tomaz Tom-

“Não vou deixar de ensinar”

•• Fausto Edmundo Lima Pe-reira faz 70 anos no dia 25 de novembro de 2010. Para o mé-dico, porém, a data marca uma despedida. É que Fausto deixa o cargo de professor, por conta da aposentadoria compulsó-ria do serviço público. Mas a declaração destacada no título desta entrevista deixa claro o desejo do patologista. Formado em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 1965, Fausto, que é casado e tem três filhos, chegou em Vi-tória quando a primeira turma do curso de medicina da Ufes estava no 3º ano. Apaixonado pelas ciências básicas, o mestre garante que, por enquanto, não pensa em se aposentar. Fausto recebeu RAIO-X em sua sala no Núcleo de Doenças Infec-ciosas da Ufes no início da noi-te, após mais um dia normal de expediente. A entrevista que se segue abre a cobertura especial dos 50 anos do curso de medi-cina da Ufes, comemorados em abril de 2011.

ESPECIAL 50ANOS MEDUFES

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masi era o diretor, e eu o vice. O professor Jader Bispo Cruz foi enviado pela Ufes aos EUA para analisar currículos de diversas escolas. A primeira proposta, na década de 70, previa algumas alterações, tais como uma maior integração entre os ciclos básico e clínico e a extinção de disci-plinas muito específicas. Foram 10 anos de discussão mas a ten-tativa fracassou porque houve grande resistência nos depar-tamentos. Eu apresentei outra proposta: expandir o calendário acadêmico. Naquela época, o es-tudante de medicina tinha aula o dia inteiro e não sobrava tempo para estudar, como é até hoje. O objetivo era concentrar as aulas no período da manhã. Isso foi testado, funcionou, teve aprova-ção dos alunos, mas os professo-res questionaram. Também pro-pus a integração curricular, com a fusão das disciplinas básicas em dois grupos: corpo humano normal e agressão/defesa. A re-sistência foi brutal. Acho que só eu acreditava no projeto, e ainda julgo viável. Há quatro anos, a odontologia adotou o módulo agressão/defesa. Hoje, as difi-culdades vêm dos estudantes, que não se preparam para as au-las e são refratários à discussão. Eles querem receber o conheci-mento mastigado. O currículo médico atual da Ufes é tão ou mais desinte-grado do que há 50 anos. O senhor tem esperanças de que vá mudar? Tenho. Gostaria até de viver o suficiente para ver a mudança. Vai mudar por pres-são externa. Apesar de vagas, as diretrizes curriculares do MEC para o curso de medicina, que devem ser seguidas por todas as escolas, deixam claro que a integração curricular precisa ser concebida em todos os níveis, associada ao sistema de saúde. O senhor acha que a Ufes deve adotar o PBL? Se me fosse dado o poder de alterar o currículo, não mexeria em sua estrutura. Manteria todas as disciplinas, mas proporia uma nova forma de ensinar, com integração. Me-xer nas disciplinas implica em mexer em territórios de profes-sores. Os departamentos são se-tores burocráticos, e não unida-des de ensino e pesquisa. Não há a preocupação com a forma de ensinar. É difícil aplicar o PBL em uma universidade federal e em um curso já instalado.

Que críticas faz aos alunos de medicina? Os estudantes de me-dicina da Ufes são muito bons, representam uma elite intelec-tual. O grande problema é que eles vieram de um sistema de aprendizado que ensina a passar no vestibular, memorizando as-suntos para responder questões. Nos cursinhos, os professores entregam todo o conteúdo mas-tigado. Isso é ruim, porque os alunos querem esse padrão de aula na universidade. O correto é ensinar a buscar o conheci-mento, em fontes confiáveis. É obrigação de todo professor, não de uma disciplina específica, mas não vejo essa preocupação no curso. Também considero indispensável que o estudante domine o inglês, pelo menos lei-tura e compreensão. Tenho a im-pressão que o estudante entra no curso sem sofrer nenhum impac-to. Ninguém explica “o que é ser médico?” e “o que fazer para ser um bom médico?”. Talvez isso seja reflexo da escassez de pro-fessores médicos no ciclo básico.

Todos os professores do curso deveriam ser médicos? Todos não, mas é necessário que te-nham médicos. O professor de anatomia não precisa ser médi-co, mas os professores de semio-logia, clínica médica e cirurgia deveriam lecionar algumas aulas na morfologia. Os departamen-tos do Básico precisam de pes-quisadores de várias áreas. Ob-viamente, a medicina não é uma profissão isolada na área da saú-de. A integração é feita natural-mente no decorrer do curso, até mesmo porque estamos inseridos no Centro de Ciências da Saúde.

Nesse sentido, o senhor se posiciona a favor ou contra o projeto de lei do Ato Médi-co? Não é questão de ser a fa-vor ou contra. A medicina é a única profissão de saúde ainda não regulamentada. O projeto delimita o campo de atuação do médico: diagnóstico e indicação do tratamento das doenças. Não há como ser contra isso. A po-lêmica surge porque os outros profissionais querem atuar no campo médico. O projeto não desagrega a área de saúde.

Na sua opinião, nosso curso forma bons médicos? Sim. Costumo dizer que, com bons alunos, as coisas funcionam com, sem ou apesar dos profes-sores. Mesmo com problemas, o Hucam ainda é um bom hospi-tal. Faço muitas críticas porque acho que podemos melhorar o ensino.

E o que podemos comemorar nos 50 anos do curso? A exis-tência dos 50 anos, em primeiro lugar. O curso está muito melhor do que quando começou. O pro-gresso é grande. Mas não pode-mos nos acomodar. Podemos e devemos melhorar. O desejo é que nosso Centro acompanhe a evolução das ciências da saúde. A comemoração é também uma boa oportunidade para que os estudantes resgatem a história do curso.

O senhor chegou a atuar na prática médica? Atuei como patologista por muitos anos, in-clusive no serviço do Hucam. Fui me afastando dessa área e hoje atuo na pesquisa e docência.

Com a aposentadoria com-pulsória, o senhor passa a se dedicar apenas à pesquisa? Não vou deixar de ensinar. Devo continuar como professor visi-tante nos próximos dois anos. Dar aula na graduação é muito estimulante. Esse contato com jovens é que mantém minha ati-vidade intelectual.

O senhor não pensa em se apo-sentar? Por enquanto, não. Se tenho saúde, consigo vir à Ufes, ler e estudar, não tenho motivos para parar.

Mas o senhor tem desejo de realizar algo, um sonho? Tudo. Estou sempre tentando realizar as coisas. Nunca parei. Meu de-sejo é que meus alunos progri-dam. Quando achar que não pos-so fazer alguma coisa, eu paro.

Fora da Ufes e da medicina, quais são seus hobbies? Gosto de arte, cinema, visitar museus, viajar, cuidar das minhas plan-tas.

Por que escolheu ser médico? As opções que tinha quando criança eram: médico, dentista, advogado e engenheiro. Quando estava no antigo ensino médio, pensei em estudar agronomia. Meu pai tinha fazenda. Como era uma profissão desconhecida, preferi optar pela medicina. Meu tio era médico. Sempre gostei de estudar biologia. Entrei na facul-dade e fui atraído pelas discipli-nas básicas. Quando terminei o primeiro ano, tornei-me monitor de histologia. Também comecei a ver necropsias e me aproximei da patologia.

Bagunça organizada. Livros, pastas, papéis, computador e até um microscópio “decoram” a sala do médico e professor Fausto Edmundo Lima Pereira. Com dois doutorados em patologia, pela UFES e pela UFMG, e quase 40 anos de dedicação ao curso de medicina, Fausto não pensa em parar de trabalhar tão cedo.

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Após greve, residentes ganham só R$ 1,50 a mais por hora de trabalho

Sem residentes, leitos ficam vazios•• O efeito da greve dos residen-tes no funcionamento do Hucam passou despercebido pela maio-ria dos funcionários e pacientes. Poucos notaram, por exemplo, que o setor de cardiologia pas-sou exatos 10 dias com apenas um paciente internado. São 9 leitos, ao todo, sendo que um de-les está ocupado pelo Seu Lino, que não é paciente, mas “mora” no Hucam há 18 anos. Dos oito leitos restantes, sete ficaram vazios do dia 4 ao dia 13 de setembro, segundo mo-nitoramento feito por RAIO-X. A greve dos médicos-residentes começou no dia 17 de agosto e, no caso do Hucam, os profissio-nais voltaram oficialmente ao trabalho no dia 21 de setembro. Conclusão: o período de leitos vazios – situação provavelmen-te inédita no Hucam – ocorreu dentro do momento de greve dos residentes. Coincidência? Não. A greve teve pouca adesão no Estado, mas boa parte dos resi-dentes da Clínica Médica, que atua na cardiologia, permaneceu de braços cruzados. A ausência desses profissionais explica, então, o esvaziamento dos lei-tos. Situação grave e irregular. Segundo RAIO-X apurou, du-rante os cinco dias do feriadão da Independência (de 4 a 8 de setembro), nenhum médico apa-receu para dar assistência às três enfermarias de cardiologia, no 2º andar do hospital. Procurada pela reportagem, a direção do Hucam se limitou a dizer que a confecção da escala dos médicos é de responsabili-dade da chefia de cada serviço. Sérgio Hatab, atual chefe do se-tor, e também professor da Ufes não foi localizado para comentar o assunto.

Com nariz de palhaço, alunos e residentes fazem ato público tímido em frente ao Hucam

Leitos vazios em uma das três enfermarias de cardiologia

do Hucam. Sem residentes, internações foram reduzidas.

Três greves em 10 anos No total, foram 104 dias de paralisação. Em valores brutos, a bolsa-auxílio passou, de 2001 a 2010, de R$ 1.081,00 para R$ 2.338,00 - um reajuste de 116%, em valores aproximados.

2001 2006 201040 dias de greve 32 dias de greve 32 dias de greveReajuste de 35% Reajuste de 30% Reajuste de 22%R$ 1.081,00 para

R$ 1.459,00 R$ 1.459,00 para

R$ 1.916,00R$ 1.916,00 para

R$ 2.338,00

•• Após 32 dias de paralisação, que contou com ampla adesão dos cerca de 22 mil médicos-re-sidentes na maioria dos Estados, a ANMR (Associação Nacional dos Médicos Residentes) anun-ciou o fim da greve em meados de setembro, destacando que o movimento obteve 22% de re-ajuste na bolsa-auxílio, aplica-do a partir de janeiro de 2011. Considerando a jornada oficial de 60 horas semanais e os aba-timentos, o valor real da bolsa, por hora de trabalho, vai passar de R$ 7 para R$ 8,50. Além disso, a categoria obteve a garantia do governo federal de negociação das demais reivindi-cações (melhores condições de trabalho, licença maternidade de 180 dias, auxílio moradia e alimentação e reajuste anual da bolsa) em um grupo interminis-terial de trabalho (GIT). Na primeira reunião do GIT, em outubro, o governo disse que estuda elevar em 18,7% o valor da bolsa, a partir de 2012. Dessa forma, o reajuste final assumi-ria o mesmo índice defendido pela ANMR durante a greve, de 38,7%. O último aumento ocor-reu em 2006. Na época, o gover-no prometeu outro reajuste de 23,7%, mas nunca o concedeu. A greve teve repercussão fraca no Espírito Santo. No primeiros dias da paralisação, o Estado chegou a contar com 70% de apoio dos cerca de 220 residen-tes capixabas. No dias finais do movimento, no entanto, menos da matade dos profissionais con-tinuava de braços cruzados. Os residentes capixabas foram um dos únicos no país a rejeitar a proposta do governo para aca-bar com a greve. O Estado tem pouca notoriedade no cenário nacional e ainda não possui uma associação estadual, mas deve inaugurá-la até o fim deste ano.

Governo federal quer aumentar vagas no ES

•• Maria do Patrocínio Tenório, secretária-executiva da CNRM (Comissão Nacional de Resi-dência Médica), é a favor da criação de novos programas de residência médica no Estado e da expansão de vagas nos que já formam especialistas. “Defendo a expansão de programas e de bolsas no Espírito Santo”, disse a médica ao RAIO-X. Quando a reportagem informou que o número de egressos no Es-tado vai saltar de 200 para 500 dentro de dois anos, Maria do Patrocínio declarou: “Nossa! Te-mos que ser ágeis”. Segundo ela, a expansão de vagas deve seguir o mapa epidemiológico estadu-al, respeitando as demandas do sistema de saúde. A participação dos gestores, estadual e munici-

pais, é fundamental. Ainda se-gunda a médica, é preciso garan-tir a descentralização das vagas. A secretária da CNRM elenca quatro prioridades, também con-siderados desafios: preceptoria, avaliação e acompanhamento dos processos, organização das redes de atenção à saúde e polí-ticas de fixação do médico. A meta do governo, em nível nacional, é parear o número de vagas com o de egressos, já que a residência médica é o padrão-ouro na formação médica e a ponte entre a graduação e o mercado de trabalho. Maria do Patrícinio faz um alerta: “O perfil das vagas deve seguir as necessidades reais de saúde da população e não apenas as vontades e anseios dos egres-sos. A residência médica é parte das políticas de saúde e os estu-dantes precisam entender isso”.

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DestaquesDO ANORAIO-X elege os sete

professores que mais se destacaram em 2010

•• Em 2010, o jornal dos es-tudantes de Medicina da Ufes consolidou sua missão de ser a mídia impressa oficial do curso. RAIO-X expandiu sua equipe, melhorou sua qualidade técnica e divulgou informações, curiosi-dades, dicas culturais e até mes-mo denúncias. Na presente edição, última do ano, uma nova meta foi atingida: ser a voz dos estudantes no reco-nhecimento aos bons profissio-nais que fazem parte do dia-a-dia do aluno de Medicina da Ufes. Com este propósito, em par-ceria com o Diretório Acadêmi-co de Medicina (DAMUFES), está sendo lançada a primeira edição do “Prêmio RAIO-X – Destaques do Ano”. O objetivo do prêmio é eleger os professores que realizaram algo considerado importante e

Desorganização gera atraso no envio de listas

•• Com exceção da Clínica Cirúr-gica, que se mostrou ágil, todos os outros oito departamentos enrola-ram para repassar as listas oficiais com os dados dos professores. Na Área Básica, apenas a Morfologia enviou, com demora, resposta es-crita. Ciências Fisiológicas não re-passou nada. Até o chefe, Hélder Mauad, foi procurado, mas a lista não veio. Para não comprometer a votação, RAIO-X lançou mão do relatório do CCS e de informações de alunos. Patologia enviou email, após cobrança. Medicina Social, Clínica Médica, Pediatria, GO e Medicina Especializada responde-ram, com atrasos variados, à soli-citação. Tropeços dessa natureza para atender pedidos simples reve-lam um grau preocupante de inefi-ciência e desorganização de setores cruciais da Ufes, e fundamentais para o funcionamento do curso.

vantajoso para o curso de Medi-cina da Ufes, destacando-se es-pecificamente no ano de 2010. A premiação terá frequência anual e será publicada na última edição de cada ano. A meta do jornal é expandir o projeto, per-mitindo a participação de todos os alunos do curso. Além da constante cobrança e vigilância, reconhecer um bom trabalho é também uma forma de estimular melhorias no curso e divulgar o que a Universidade tem de melhor. Escolher apenas sete docen-tes em um grupo de aproxima-damente 140 não é tarefa fácil. Por esta razão, a equipe do jornal convidou colegas de 13 turmas, incluindo os doze períodos e a turma que colou grau no meio do ano. A comissão que elegeu os premiados contou, ao todo,

com 35 acadêmicos. A primeira edição do Prêmio RAIO-X contou com algumas características interessantes: to-dos os professores eleitos são médicos e ex-alunos da Ufes. Diversos critérios foram ava-liados, como didática, conteúdo e dedicação ao ensino. Houve alto grau de concordância entre os alunos dentre as escolhas fei-tas, demonstrando o merecido reconhecimento alcançado pelos profissionais. RAIO-X entrevistou os sete premiados e apresenta nas pró-ximas duas páginas uma síntese da trajetória pessoal e profissio-nal dos homenageados. Parabéns aos eleitos! Aos mes-tres, nosso reconhecimento e gratidão. (reportagem de Jequélie Cás-sia e Wagner Knoblauch e colaboração de Constance Dell’Santo, Victor Cobe, Leonardo Tafarello e Luana Gaburro).

Eles foram escolhidos pelos alunos como “Destaques do Ano” entre mais de 140 docentes do curso de Medicina

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Marcelo MunizCLÍNICA MÉDICA

•• “Fico enaltecido. Para um pro-fessor, não há nada mais gratifi-cante do que o reconhecimento do aluno”. Foi com essas pala-vras que o neurologista Marcelo Ramos Muniz recebeu a notícia de sua vitória na premiação. “Não tenho palavras para des-crever esse prêmio”, completou Dr. Marcelo, eleito destaque do ano entre quase 30 docentes do departamento de Clínica Médica. Graduado em Medicina pela Ufes em 1989, antes de ingres-sar no quadro de professores efetivos da Universidade, Mar-celo Muniz fez doutorado em Patologia na conceituada USP. Ironicamente, essa mesma ti-tulação se transformou no pivô de sua demissão há alguns me-ses, devido a detalhes buro-cráticos e brechas jurídicas no concurso de admissão prestado ano passado. Felizmente, o im-passe foi resolvido e ele pode seguir firme na carreira aca-dêmica, agora como destaque. Questionado sobre a razão de ter sido eleito pelos estudantes, Muniz explicou que houve iden-tificação e dedicação. “Houve identificação do aluno com o meu trabalho. Significa que o que estou fazendo agrada a vo-cês (...). Me considero um pro-fessor dedicado, empenhado. Tento sempre me superar e me atualizar. Não gosto de repetir a mesma aula. A autocrítica é uma das minhas grandes qualida-des (...). Morro de medo de me acomodar”, conta o professor. Para Marcelo Muniz, professo-res “não somos meros passadores de informações técnicas”. E vai além: “Você não é isoladamen-te um professor. É uma pessoa, que atua como professor. En-tão, procuro também melhorar como pessoa. Não fragmento a pessoa, o médico e o professor”. Por fim, o médico opina sobre a premiação. “O prêmio estimu-la os professores, principalmen-te os mais vaidosos, a querer es-tar neste rol. Por outro lado, tem a questão da injustiça. É muito difícil escolher apenas um”.

Crispim CeruttiMEDICINA SOCIAL

•• Conhecido por todos os alunos da medicina ao lecionar desde o Básico, passando no Clínico e até o Internato, o infectologista Crispim Cerutti Junior foi laure-ado pelo Prêmio RAIO-X como o melhor professor da Medicina Social em 2010. O professor recebeu a notícia com orgulho e surpresa. Atribui esta premiação ao reconheci-mento dos alunos no seu esfor-ço de implementar o ensino na grade curricular da graduação – principal âmbito de ensino da Universidade – a assume que procura “fazer o seu dever de casa” como docente. Devido a sua natureza de pes-quisador, Crispim esteve em dúvida sobre qual profissão exercer: Biologia ou Medicina. Ao perceber que este também permite um amplo campo de pesquisa, o professor seguiu car-reira na Medicina da Ufes, na qual graduou-se em 1987 e per-manece na vida acadêmica até hoje. Lembra que, enquanto aca-dêmico, além do curso de gradu-ação e dos eventos científicos, havia muita atividade cultural e um fervilhar político intenso. “A gente aprendia a lidar com a realidade numa esfera mais questionadora, mais criativa no âmbito das alternativas, e essa perspectiva me levou a seguir a carreira universitária”, explica. Crispim tornou-se docente da Ufes em 2000, após fazer um ano de residência médica em Clíni-ca e três de DIP, alguns anos de estudos de campo, no qual tra-balhou em áreas endêmicas de equistossomose, na Bahia, e de malária, no Mato Grosso. Tem mestrado e doutorado pela USP. Além de diversos cargos na Ufes, a partir deste ano, passou a coor-denar o PET-Saúde, que envolve o trabalho de muitos alunos da Medicina e de outros três cursos. O prêmio é merecido para Crispim. Segundo ele, é um estí-mulo para os professores “conti-nuarem buscando a excelência e aperfeiçoar o que ainda não está bom na Universidade”.

Paulo MerçonÁREAS BÁSICAS

•• Satisfeito, feliz, orgulhoso e honrado. Essas foram as palavras usadas pelo patologista Paulo Roberto Merçon de Vargas para definir a premiação que recebeu do jornal. Eleito destaque do ano entre 31 docentes de três depar-tamentos (morfologia, fisiologia e patologia), Merçon atribuiu a votação à atenção que presta aos discentes. “É o reconhecimento de que dou atenção ao aluno. Nada de excepcional. Somente obrigação. Cumpro meu papel de professor. Me esforço para dar o máximo de atenção ao alu-no”, afirma o professor, que atu-almente leciona para a medicina e a enfermagem. De personalidade forte e estilo único, Dr. Paulo acredita que a patologia, e não ele, seja a gran-de responsável pelo prêmio. “Os alunos lembram de mim porque, principalmente, lembram da pa-tologia, que é muito chamativa no curso e marca o contato do aluno com as doenças”, explica. Os estudantes de medicina têm contato com o professor pelo menos duas vezes durante no curso: no 3º e 5º períodos. Graduado médico pela Ufes em 1980, Paulo Merçon foi cri-terioso quando perguntado se se considerava um bom professor. “De acordo com os critérios de Popper (Karl Popper, filósofo austríaco do século passado), considero-me um bom profes-sor, porque gosto de ensinar. E gosto muito do que faço”. Merçon foi enfático ao des-tacar a relevância do prêmio. “Gosto da idéia do aluno avaliar o professor. E acho irregular que isso não seja constante e institu-cional. Afinal, a Universidade existe para o aluno”, opina. Sobre o futuro, o médico afir-ma ter projetos para implemen-tar no ensino e no serviço de pa-tologia, mas reclama do excesso de trabalho e da falta tempo. Porém, quando indagado sobre aposentadoria, ele foi direto: “a menos que tudo fique muito pior do que está não pretendo largar nada disso tão cedo”.

Veja detalhes doPrêmio RAIO-XPrêmio. A iniciativa do Jornal RAIO-X tem por objetivo prin-cipal premiar os professores do curso de Medicina da Ufes que mais se destacaram durante o ano no ensino.

Candidatos. O curso de Me-dicina da Ufes conta hoje com aproximadamente 150 pro-fessores. Para a premiação, os docentes foram dividos em sete categorias, com base nos departamentos do Centro de Ciências da Saúde. Eis a distri-buição: Áreas Básicas - Mor-fologia, Ciências Fisiológicas e Patologia; Medicina Social; Clínica Médica; Clínica Cirúr-gica; Pediatria; Ginecologia/Obstetrícia e Medicina Espe-cializada.

Comissão. Um grupo de 35 acadêmicos de Medicina par-ticipou da votação. Além dos membros da equipe do jornal, uma dupla de 13 turmas do cur-so (da 87, o atual 1º período, à 75, que colou grau no semestre passado) participou da escolha dos premiados. É importante dizer que os estudantes podiam votar em branco nas catego-rias que não estivessem aptos a avaliar. Confira a lista dos alunos: RAIO-X: Wagner Knoblauch (80), Victor Cobe (80), Gus-tavo Franklin (83), Jequélie Cássia (80), Leonardo Tafa-rello (80), Luana Gaburro (79), Ivan Nogueira (82), Constance Dell’Santo (80) e Aline Caste-lan (84).

Duplas: Larissa Fraga e Pe-dro Francisco Iguatemy Lopes (87); Thalita Vervloet e Ro-naldo de Oliveira Júnior (86); Luisa Cardoso e Davi Brandão (85); Ana Vega Carreiro de Freitas e Paulo Henrique (84); Renan Rosetti e Aline Modolo Secchis (83); Narjara Tirbuti-no e Breno Pinheiro (82); Si-mone Klug e Renann Nunes (81); Bruna de Jesus e Michel Amorim (80); Rayani Pereira e Henrique Mineiro (79); Fa-brício Grecco e Maria Emília Ferreira Barbosa (78); Murilo Hosken e Tainá Pezzin (77); Paula Perim e Tárik Sili (76); Renylena Schmidt e Renzo Rossoni (75).

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Gustavo PeixotoCLÍNICA CIRÚRGICA

•• Com uma carga de trabalho que ultrapassa, com facilidade, incríveis 100 horas semanais, Gustavo Peixoto Soares Miguel tem agora que achar tempo para comemorar os bons (e muitos!) resultados profissionais de 2010. Além de conquistar o título de professor destaque, o cirurgião alcançou em outubro, juntamen-te com a sua equipe, a marca histórica de 100 transplantes he-páticos. O ritmo é de uma opera-ção a cada 12 dias. “O objetivo é alcançar uma média de um transplante por semana”, aponta. Peixoto assumiu a chefia do serviço de Cirurgia Geral do Hucam há poucos meses, mas já provocou uma revolução na di-nâmica do setor, segundo relatos dos próprios alunos e residentes. A produção de 25 protocolos de conduta é o maior exemplo. Es-sas mudanças refletiram direta-mente no internato de clínica ci-rúrgica, que melhorou bastante. Dono de um currículo invejá-vel, Dr. Gustavo ficou surpreso e honrado ao saber da premiação. “Fico honrado de estar nesse time dos sete destaques”, disse. No entanto, não se considera um professor exemplar. “Me consi-dero mais médico do que profes-sor”, assinalou. Referência em cirurgia do apa-relho digestivo, especialmente bariátrica e transplante de fígado, o professor hoje atua no 7º perí-odo, no internato e na residência médica. “O prêmio talvez seja fruto da minha presença no dia a dia do hospital, sempre perto dos alunos e residentes”, pondera. Eleito destaque do ano entre 23 docentes da Clínica Cirúrgi-ca, Peixoto, que é um dos mais novos do departamento, acredita que o título não representa ape-nas o reconhecimento por parte dos acadêmicos, mas também mais responsabilidades. “Au-menta a responsabilidade. O professor precisa manter o estí-mulo para o aluno melhorar. E o melhor jeito é dando o exemplo. O prêmio nos estimula e nos obriga a nos esforçarmos mais”.

Marize NevesGINECOLOGIA/OBSTETRÍCIA

•• Marize de Freitas Santos Ne-ves recebeu a notícia da premia-ção com muita surpresa e um largo sorriso. “Com um prêmio como este, ser escolhida entre tantos bons professores, acho que fiz um bom trabalho”, afir-ma a médica. Professora efetiva do departa-mento de Ginecologia e Obste-trícia (GO) desde 1993, sua tra-jetória como docente começou anos antes. Seu avô e seus pais foram professores da Ufes, mas Dra. Marize diz nunca ter pen-sado, enquanto fazia o curso de medicina, em ser professora. Em 1985, terminada a gradu-ação na Ufes, fez residência mé-dica em Ginecologia e Obstetrí-cia no Hospital Regional da Asa Norte em Brasília. Em 1988, especializou-se em Ginecologia Endócrina na Escola Paulista de Medicina - Hospital São Paulo. De volta a Vitória, em 1989, co-meçou orientando o ambulatório para sextoanistas na Santa Casa. Em 1991, iniciou sua carreira na Ufes como professora substi-tuta. Em 1992/1993 foi aprova-da no concurso para professor efetivo, com carga horária de 20 horas semanais, “e aqui estou até hoje, amando o que faço”, com-pleta. E esta dedicação e alegria são refletidas no trabalho: seu grupo de discussões, conhecido por GD, no 8º período, é um su-cesso entre os alunos. Para 2011, Marize destaca al-guns desafios. O departamento de Ginecologia e Obstetrícia receberá o 7º e o 8º períodos juntos para cursar a disciplina G.O.I. “Estamos avaliando neste momento como desenvolver este período sem que haja prejuízo no aprendizado”, explica. No se-gundo semestre, haverá situação semelhante, com a junção do 8º e 9º períodos na G.O.II. Eleita destaque do ano entre 16 docentes do departamento de GO, Marize conclui: “O prêmio me trouxe uma extrema satis-fação pessoal. Por outro lado, trouxe uma maior responsabili-dade com o ensino”.

Ana DanielaPEDIATRIA

•• Formada em Medicina pela Ufes em 1991, especializada em Gastroenterologia Pediátri-ca pela Unifesp em 1995 e com mestrado defendido em 2005, Ana Daniela Izoton de Sado-vsky, eleita destaque do ano entre 20 docentes, já é hoje con-siderada um dos grandes nomes da Pediatria no Espírito Santo. Aliando competência, didática e muito bom humor, vem conse-guindo seu lugar dentro da Ufes, onde começou a lecionar em maio de 2009, pelo departamen-to de Pediatria. Hoje, está aloca-da no sétimo e oitavo períodos e, além do ensino, está envolvida em projetos de pesquisa (alguns com seus próprios alunos), in-clusive no inédito projeto da va-cina para dengue, desenvolvido no Núcleo de Doenças Infeccio-sas da Ufes e coordenado pelo infectologista Reynaldo Dietze. Ao ser questionada se ela mes-ma considera-se uma boa profes-sora, diz que sim e afirma com convicção: “Consegui chegar a um patamar de equilíbrio que concilio firmeza nas minhas ati-tudes. Busco o ensino de limites, postura ética com o exercício da humanidade, além de estímulo ao crescimento do aluno como profissional e também como pessoa. Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás”, afirma a médica, que é casada com um gastroenterologista ar-gentino e mãe de três filhos. Os planos para 2011 são os mais otimistas possíveis. Pre-tende expandir e aprofundar sua atuação na área da pesquisa e sonha em defender seu doutora-do em breve. Além disso, Dra Ana Daniela pretende se dedicar cada vez mais ao ensino, ativi-dade que lhe traz grande satisfa-ção pessoal e que considera “um sonho que se realizou!”. De fato, sua dedicação e seu conhecimento tornaram-na me-recedora da homenagem do jor-nal, e seu carisma e sua paixão pela profissão tornam-na, sem dúvida, uma professora de pri-meira qualidade.

Diusete Pavan MEDICINA ESPECIALIZADA

•• Professora da Ufes desde 1979, Diusete Maria Pavan Ba-tista recebeu a notícia da premia-ção com grande satisfação e um abraço carinhoso. Consciente de que seu trabalho rende bons frutos, Diusete avalia o título de professora destaque como uma grande realização profissional. “Gosto de ensinar, gosto do con-tato com os alunos. Em tudo o que a gente faz com vontade, recebemos o reconhecimento. Faço porque gosto”, afirma. A professora Diusete iniciou a docência em oftalmologia inicialmente como monitora da disciplina, e logo depois tornou-se professora voluntária. Com o título de especialista adquirido por meio de vivência na área, ela sempre manteve o gosto de lecionar. “Se antes eu já gosta-va de dar aula, hoje gosto ain-da mais, pois me sinto bem em meio aos jovens”, conta Diusete, que se sente renovada por man-ter-se no meio acadêmico. Como meta para 2011, a mé-dica se empenha em aumentar o número de vagas da residência em oftalmologia. Ainda para o ano que vem, prevê mudanças e já conta com a colaboração dos alunos, por remeter-se ao impas-se de aulas versus ambulatório previsto em função da nova gra-de curricular. “Vai ser uma luta por causa da mudança de currí-culos”, pondera. Preocupada com os alunos, a professora conta que busca sempre melhorar a metodologia empregada em suas aulas, a fim de otimizar a relação da teoria com a prática. Além do conheci-mento propriamente dito, nossa premiada busca ensinar além da medicina, ao exercitar o convívio com as pessoas (profissionais do serviço de saúde) e exemplificar uma boa postura com os pacien-tes. Eleita destaque do ano entre 11 docentes do departamento de Medicina Especializada, que re-úne quatro especialidades, Diu-sete, por fim, define o prêmio como um grande estímulo ao seu trabalho.

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TROCA INJUSTAUfes cedeu em 2006 área avaliada em R$ 10 milhões para a prefeitura de Vitória duplicar a Fernando Ferrari. Em troca, o município investiria o mesmo valor na

forma de obras nos quatro campi. A avenida ficou pronta, mas o Elefante Branco...

•• No dia 4 de maio de 2006, Rubens Sérgio Rasseli, reitor da Ufes, e João Carlos Coser, prefeito de Vitória, assinaram o contrato que autorizava a cessão de uma área de aproximadamen-te 25 mil metros quadrados do campus de Goiabeiras para a expansão da Avenida Fernando Ferrari. Como contrapartida, a administração municipal teria que investir R$ 10 milhões na Universidade, na forma de edi-ficações. RAIO-X teve acesso à íntegra do documento. Segundo consta na cláusula quarta do “Contrato de Cessão de Direitos com Encargos (Obriga-ção de Fazer – Contrapartida)”, que se refere às contrapartidas, a Prefeitura de Vitória (PMV) se-ria obrigada a executar, ao todo, 18 obras nos quatro campi da Ufes e no Hospital das Clínicas (veja a tabela ao lado). No en-tanto, algumas estão atrasadas e outras nem saíram do papel. Considerada estratégica na área de mobilidade urbana, a expansão da Fernando Ferrari, anunciada em 2004, ainda não está totalmente concluída, mas o trecho em frente à Ufes já foi duplicado. No total, o projeto deve consumir R$ 26 milhões dos cofres estaduais. Já a obra de ampliação e re-forma do principal pavilhão de aulas teóricas do Centro de Ci-ências da Saúde, no campus de Maruípe, conhecido por Elefan-te Branco - uma das 18 promes-sas do pacote de contrapartidas, está muito longe de ficar pronta. A obra, que deveria ter sido iniciada em 2006, só começou, de fato, em agosto de 2008. Na ocasião, a PMV prometeu en-tregar a edificação em 180 dias. Cercada de polêmicas, atrasos e transtornos (histórico ao lado), a obra se arrasta há mais de dois anos, já foi paralisada diversas vezes e o término dos trabalhos continua indefinido. Em maio último, quando pro-meteu, mais uma vez, retomar a obra, a prefeitura de Vitória ex-plicou que o projeto estava para-lisado “em função dos reflexos da crise financeira internacional”. Sete das 11 salas de aula do Elefante Branco permaneceram interditadas durante todo o ano letivo de 2009, prejudicando di-retamente o andamento dos cur-sos do CCS, que ganhou quatro novas graduações nos últimos dois anos. A prefeitura reformou quatro salas no início do ano, mas três continuam intulizadas. (Wagner Knoblauch e Victor Cobe)

FERNANDO FERRARI em 2006, antes da duplicação. O terreno que a Ufes cedeu, avaliado em R$ 10 milhões, aparece cercado na foto.

ELEFANTE BRANCO em 2010, com mais de dois anos de atraso. Foto mostra as três salas que ainda estão totalmente interditadas.

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Início em 2006. Obras a serem desenvolvidas nos 10 Centros, com valor total estimado em R$ 5,5 milhões. Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE)Centro de Educação (CE)Centro de Ciências Agrárias (CCA)Centro de Ciências da Saúde (CCS)Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN)Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes)Centro Tecnológico (CT)Centro de Artes (CAR)Centro de Ciências Exatas (CCE)Centro de Educação Física e Desportos (CEFD)Início em 2007. Obras a serem desenvolvidas no Hucam, com valor total estimado em R$ 2,6 milhões. Ampliação do HucamAmpliação da RadiologiaAmpliação da Recepção Geral do Hucam Ampliação do Serviço de Nutrição e DietéticaAdequação do Centro Cirúrgico “novo” Adequação do Centro Cirúrgico “velho” Ampliação do número de enfermarias da PediatriaInício em 2008. Obras de ampliação da Administração Central, com valor total estimado em R$ 2 milhões. Ampliação da Reitoria para atender à Pró-Reitoria de Extensão e a Pró-Reitoria de Graduação Fonte: Contrato Ufes e Prefeitura de Vitória; Direção CCS; Direção Hucam

As promessas de João Coser

•• Após descumprir dois prazos para retomada da edificação, em maio e em julho últimos, a pre-feitura de Vitória (PMV) reto-mou a obra do Elefante Branco, no campus de Maruípe. A pro-messa é entregar parte do prédio até fevereiro de 2011. O canteiro de obras começou a ser reerguido em frente à capela em setembro, mas a movimenta-ção de trabalhadores permaneceu tímida até meados de outubro, quando foi imprimido um ritmo bem mais rápido aos trabalhos. O prazo estipulado pela pre-feitura para a conclusão da parte

180 dias

prazo inicial

A Prefeitura de Vitória disse, em agosto de 2008, que entregaria o prédio pronto em 180 dias, isto é, em fevereiro de 2009.

843 diasem andamento

Esse é o tempo total da obra até 31 de novembro deste ano, con-siderando início em 11/08/08, quando o semestre letivo 2008/2 começou.

633 diasde atraso

A obra deveria ter sido entregue em fevereiro de 2008 (prazo de 180 dias), mas já são mais de 630 dias de atraso, até 31/11/10.

150 dias

novo prazoA Prefeitura retomou a obra em setembro e promete concluir parte do prédio até fevereiro de 2011.

R$ 381 mil

gastos até agora

Dos R$ 810 mil previstos para serem investidos, R$ 381 mil já foram executados, segundo PMV.

R$ 488 mil

custo da 2ª etapa

A reforma de parte do prédio, pro-metida para fevereiro de 2011, vai custar R$ 488 mil, segundo PMV.

As idas e vindas da obra

Ago/08. Começa a obra. Empreiteira inicia os trabalhos. Segundo a Secre-taria Municipal de Obras de Vitória, a construção de um prédio com 8 salas é uma contrapartida da PMV à cessão do terreno da Ufes, em Goiabeiras, para a ampliação da Av. Fernando Ferrari. Os trabalhos estão orçados em R$ 810.835,65 e são tocados pela Brito Engenharia.Nov/08. Sete das 11 salas do EB são interditadas, contrariando o projeto inicial, que não previa a interdição parcial ou total do prédio. As novas salas seriam erguidas ao redor e em cima da estrutura antiga, já que o ob-jetivo era evitar qualquer bloqueio das salas já existentes. Dez/08. A obra foi paralisada com a alegação de erro de cálculo e falta do projeto final da obra. Fev/09. Termina o prazo de 180 dias es-tipulado pela PMV para entrega da obra. Mar/09. Com o início do ano letivo e a obra parada, os alunos são rema-nejados dentro do campus para evitar perda de aulas por falta de salas. Até as cabines de estudo da biblioteca são utilizadas como salas de aula. Mar/09. O projeto da PMV che-ga, enfim, ao canteiro, depois do prazo estipulado pela pró-pria prefeitura para o término da obra. Os trabalhos recomeçam. Mai/09. A obra ganha ritmo e alguns avanços são notados. O novo EB co-meça a ser delineado. Jul/09. Pressionada, PMV cons-trói 4 salas provisórias no térreo do prédio localizado ao lado da Biblioteca, no intuito de desa-fogar o fluxo de alunos no EB.Agosto/10. Obra completa um ano. Out/09. João Coser admite que, pela primeira vez em 20 anos, a PMV deve quase R$ 20 milhões à indústria da construção civil e culpa a crise eco-nômica mundial. A dívida explica o atraso em quase todas as obras toca-das pela prefeitura. Nov/09. Com avanços em apenas um lado do EB, a interdição das sete salas completa um ano sem nenhuma mu-dança. Em 2009, o auditório do prédio foi utilizado todos os dias como sala. Dez/09. É anunciada a falência da empreiteira Brito Engenharia, que tocava os serviços desde o início. A obra é novamente paralisada.Jan/10. Prefeitura inicia reforma de quatro das 7 salas bloqueadas há mais de um ano e promete abrir nova lici-tação para contratar empresa que ter-minará a obra. Fev/10. O prazo de término completa um ano de atraso.Maio/10. PMV promete retomar a obra até 31 de maio.Julho/10. Ainda paralisada, PMV pro-mete retomar trabalhos até fim do mês.Agosto/10. Obra completa dois anos.Setembro/10. Parada desde a falência da empreiteira, em dez/09, obra rece-be novo canteiro, mas trabalhos não começam.Outubro/10. Empreiteira MFI En-genharia finalmente retoma a obra e inicia 2º etapa. PMV diz que fase vai custar R$ 488 mil e pro-mete entregar tudo pronto dentro de 150 dias. Nova empresa im-primi ritmo forte aos trabalhos.Novembro/10. Obra completa 633 dias de atraso, considerando o inter-valo de 11/08/2008 a 31/11/2010.

•• A Ufes cedeu uma área de 25 mil metros quadrados, avaliada em R$ 10 milhões em 2006, à Prefeitura de Vitória, para ex-pansão da Avenida Fernando Ferrari. Em troca, o governo da capital se comprometeu a investir o mesmo valor nos quatro campi da Universidade, na forma de edificações. Esta tabela traz a lista original das

18 obras prometidas por João Coser, que consta do contrato assinado em 4 de maio de 2006. Segundo RAIO-X apurou, no entanto, o valor total foi corri-gido para cima no ano passado. Além disso, a Ufes e o Hucam renegociaram algumas edifica-ções. O valor, o cronograma e até mesmo o local de algumas das obras foram alterados.

Elefante BrancoOs números da obra no campus de Maruípe

mais adiantada do prédio (2ª eta-pa da obra) é de 150 dias. Essa etapa vai custar R$ 488 mil e é tocada pela MFI Engenharia, se-gundo informações da placa ins-talada pela própria prefeitura. Para finalizar a obra, o que in-

clui a reforma das três salas que ainda seguem interditadas, será preciso abrir nova licitação. A prefeitura disse que não há data definida para início da 3ª etapa. O término da obra segue sem previsão.

2ª etapa pronta até fevereiro, diz prefeitura

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A demissão dos fantasmas

Departamento de Clínica CirúrgicaSão 23 docentes, todos efetivos, sendo que 19 estão no regime

de 40h/semanais e apenas quatro estão em 20h/semanais.Professor Área RT Atuação VH CargosAlexander Hatsumura Casini

Urologia 20h C.C.II - -

Antônio Augusto Barbosa de Menezes

Cirurgia Vascular

40h C.C.III 20h/MS

Chefia Serviço Coord. Disciplina

Coord. RM

Antônio Roberto Carrareto

Anestesio 20h C.C.I / RM - Coord. RM

Berilurdes Wallacy Garcia

Cirurgia Cardíaca

40h Internato / RM

- -

Cláudio Ferreira Borges

Urologia

Cláudio Piras Cirurgia Geral

40h C.C.II/Internato/RM

- Coord. Disciplina

Fábio Antônio Lacerda Pereira

Cirurgia Geral

40h Internato (São Lucas)

- Coord. Internato

Fernando Antônio Martins Bermudes

Cirurgia Geral

20h C.C.I / RM 20h/MS

Coord. RM Membro C.E.P.

Gustavo Peixoto Soares Miguel

CirurgiaAp. Digestivo

20h C.C.II/Internato/RM

- Chefia Serviço, Coord. RM

Jhonson Joaquim Gouvêa

Urologia 40h C.C.III/Inter-nato/RM

- -

João Batista Pozzato Rodrigues

Anestesio 40h Internato (12ºP) / RM

20h/MS

-

João Florêncio de Abreu Baptista

Anestesio 40h Internato (12ºP) / RM

- Chefia deDepartamento

Jorge Wolmer Chamon do Carmo

Cirurgia Geral

40h C.C.I - Coord. Disciplina

José Manoel Binda Cirurgia Geral

40h RM 20h/Ufes

-

José Maria Gomez Perez

Cirurgia Vascular

40h C.C.III/Internato/RM

- -

Joubert de Almeida Esteves

Proctologia 40h C.C.II/Internato/RM

- -

Leonard Hermann Roelke

Cirurgia Vascular

40h C.C.III / RM - -

Luiz Antônio Pôncio de Andrade

Cirurgia Geral

40h Internato / RM

20h/Ufes

Coord. Internato

Márcio Maia Lamy de Miranda

Urologia 40h C.C.III/Internato/RM

20h/Sesa

Chefia Serviço Coord. RM

Marcos Célio Brocco

Anestesio 40h Internato (12ºP) / RM

20h/Ufes

Coord. InternatoCoord. RM

Moysés Pedro Amoury Nader

Cirurgia Cardíaca

40h C.C.II / Internato

20h/Sesa

Chefia Serviço Hucam

Nelson de Souza Lima Filho

Anestesio 40h Internato (12ºP) / RM

- -

William Joseph Robinson

Cir. Cabeça Pescoço

40h C.C.III / Internato

- -

Legenda: RT = Regime de Trabalho Semanal; C.C. = Clínica Cirúrgica; Cir. = Cirurgia; RM = Residência Médica; VH = Vínculo Hucam; Coord. = Coordenação; C.E.P. = Conselho de Ética em Pesquisa. Fonte: Departamento Clínica Cirúrgica e Direção Hucam

Os neurocirurgiões José Carlos Saleme e Pedro Motta foram demitidos da Ufes como punição por “abandono do cargo”.

•• Em decisão histórica, dois professores do departamento de Clínica Cirúrgica (DCC) do Centro de Ciências de Saúde (CCS) da Ufes foram demitidos por “abandono do cargo”. Os docentes foram enquadrados nos artigos 132 e 138 da lei 8.112, de 1990, que “dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servido-res Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Pú-blicas Federais”. De acordo com João Florên-cio, que está na chefia do DCC desde abril de 2009, o ponto dos professores Saleme e Motta co-meçou a ser cortado em setem-bro do ano passado, quando os coordenadores das disciplinas (veja tabela) assumiram a res-ponsabilidade de informar ao departamento sobre a assiduida-de dos docentes. Completados 30 dias de au-sência não justificada, o DRH (Departamento de Recursos Humanos) notificou a CPPAD (Comissão Permanente de Pro-cesso Administrativo Discipli-nar), ligada à Reitoria, que abriu processo para apurar os fatos e ouvir os envolvidos. A lei, nes-ses casos, é muito clara: a au-sência intencional do servidor ao serviço por mais de 30 dias consecutivos configura abando-no do cargo. Em agosto deste ano, o Diá-rio Oficial da União publicou as portarias em que o Reitor Rubens Rasseli aplica a penalidade de demissão aos dois professores. De acordo com a lei 8.112/90, além do “abandono do cargo”, existem outras 12 situações que justificam a pena de demissão. Ainda em 2009, segundo RAIO-X apurou, Motta e Sa-leme entraram com pedido de aposentadoria, em uma provável tentativa de escapar de eventuais punições. Como ambos estavam respondendo a processo admi-nistrativo disciplinar, as petições foram negadas pelo DRH. Nove servidores foram demi-tidos da Ufes de janeiro de 2009 a outubro deste ano, sendo que três eram professores, segundo levantamento feito por RAIO-X. Em caso de demissão, abre-se vacância, isto é, a vaga é man-tida em seu local de origem, po-dendo ser ocupada por um novo

funcionário, através de concurso. A última edição de RAIO-X, que noticiou a demissão de José Carlos Saleme em primeira mão, trouxe um levantamento inédito com a carga horária semanal de trabalho de todos os professo-res-médicos dos cinco departa-mentos exclusivos do curso de Medicina. Ao lado, a planilha detalhada da Clínica Cirúrgica.

O outro lado Na tarde do último 13 de outu-bro, RAIO-X conversou durante 30 minutos com José Carlos Sa-leme e Pedro Motta, em um con-sultório médico do pronto-socor-ro do Hospital São Lucas. Eles negam o “abandono do cargo”. Saleme e Motta, que já ocupa-ram a presidência da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, ex-plicaram que o serviço de neu-rocirurgia do Hucam deixou de existir há cerca de 15 anos. Se-gundo eles, uma mudança cur-ricular em 1997 reduziu a carga horária de neurocirurgia para apenas três aulas por período. Saleme diz: “Assumi a dire-ção clínica do São Lucas em 2003. Fiz a proposta do estágio no 9º período”. Motta comple-ta: “Trouxemos os alunos para o São Lucas porque acabaram com a neurocirurgia na Ufes e os alunos não podiam ficar sem esse conhecimento”. Uma reunião de departamento ocorrida em agosto de 2009 re-distribuiu os professores. Sale-me e Motta foram alocados no 7º período. Irritados com a decisão, eles admitem não ter cumprido a decisão departamental. “Damos aula no São Lucas desde 1997 por nossa única e es-pontânea vontade. Em nenhum momento me pediram para dar aula de fundamentos de cirurgia. Minha formação é em neuro-cirurgia. Falar de hidratação e nutrição parenteral não é minha especialidade. Me recusei a dar aula disso”, explica Pedro Motta. José Carlos Saleme dá explica-ção similar: “Não vou dar aula de fundamentos básicos de cirurgia. Não sei isso mais. Fui contrata-do para ensinar neurocirurgia”. Ambos garantem que já re-correram da punição na justiça e que têm como provar que dão aulas no São Lucas.

“Falar de hidratação e nutrição parenteral não é minha especialidade. Me recusei a dar aula disso”

“Não vou dar aula de fundamentos básicos de

cirurgia. Fui contratado para ensinar neurocirurgia”

JOSÉ CARLOS SALEME PEDRO MOTTA

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Protesto. Acadêmicos das turmas 82 e 81 ficaram muito indignados com a desorganização dos professores da Clínica Médica.

“Atenção, professores: a reforma curricular já começou... em 2008!”, é o recado dos acadêmicos do ciclo Clínico.

Novo Currículo Médico da Ufes1ºP: Anatomia I, Biologia Celular e dos Tecidos, Embriologia e Ecossitema

2ºP: Bioquímica/Biofísica, Anatomia II, Histo B e Sistema de Saúde

3ºP: Genética Humana, Fisiologia, Epidemiologia I, Patologia Geral e Imunologia

4ºP: Farmacologia I, Epidemio II, Microbiologia e Parasitologia

5ºP: Semiologia Geral e Radiológica, Relação Médico-Paciente e Anato-mia/Fisiologia Patológicas

6ºP: Clínica Médica I (cardio, pneu-mo e gastro), Clínica Cirúrgica I (Téc-nica Operatória), Farmaco II, Medici-na Legal e Medicina Especializada I (ortopedia e cirurgia plástica)

7ºP: CM II (hemato, dermato, DIP e nefro), CC II, Pediatria I e Gineco/Obstetrícia I

8ºP: CM III (endócrino, neuro e psi-quiatria), CC III, Ped II, GO II, Med. Especializada II (oftalmo e otorrino)

9ºP: Internato de Medicina Social e Internato em Urgência/Emergência

10ºP: Internato em CM e CC

11ºP: Internato de Pediatria e GO

12ºP: Internato Opcional

Diagnóstico: desorganização!

Faltam professores médicos no ciclo BásicoPAULA PEÇANHA•• Como aluna da turma 85, atu-al 3º período, trago o relato de um problema que está levando os estudantes do ciclo Básico (1º ao 4º período) a um movimento de inconformismo e de mobili-zação. Desde o 1º período convive-mos com professores que focam seus conteúdos em pontos, com freqüência, desvinculados da prática médica. É claro que esta-mos cientes de que essa fase do curso é, de fato, maçante em seu conteúdo teórico e muitas vezes desconexo da atuação em medi-cina com a qual sonhamos. No entanto, estamos preocupados com um grave complicador: a falta de professores médicos no ciclo Básico. Em diversas disciplinas nos deparamos com professores que deixam claro a impossibilida-de de lidar com o conhecimen-to específico da medicina. Não só percebemos isso ao assistir as aulas e nos decepcionarmos com a ausência de aplicações clínicas, como também tivemos a chance de ouvir falas como: “não me perguntem sobre como isso acontece porque não faço idéia” ou então “posso falar a nível de odontologia com vocês, mas além disso, não tenho con-dições de explicar”. Assim, nos vimos algumas vezes na dependência de moni-tores que direcionassem nosso estudo para nossa área já que o professor não estava apto a fazê-lo. Neste ponto, é importante fri-sar que a falha não é do docente. Sem dúvida, a maioria deles é extremamente competente em sua área. Mas não há como es-perar que entendam a essência do curso de medicina, já que não

passaram por essa formação. Quase nos acostumamos com esse tipo de situação e prova-velmente concluiríamos o ciclo Básico sem nos manifestarmos sobre o problema. No entanto, percebemos o quanto é grave a deficiência que está tomando espaço nos primeiros períodos do curso. Por mais que seja uma questão com raízes múltiplas e que as alternativas de solução pareçam poucas, não deixare-mos de alardear nosso descon-tentamento. Essa é a nossa forma de cuidar da instituição federal na qual ingressamos com tanto orgulho! Certamente que a falta de do-centes médicos não se reflete somente em horas de estudo dedicadas a procariontes e ratos ao invés do organismo huma-no. Não são apenas aulas de-sinteressantes que aprofundam pontos de pouco interesse extra laboratorial. O mais alarmante, na realidade, é saber que nos-sa formação médica está sendo prejudicada por esse tipo de en-sino sem o devido foco. Reforço que não desmerecemos de forma alguma a formação dos profis-sionais que compões o corpo do-cente. Pelo contrário, reconhece-mos sua excelência em pesquisa e ensino em suas áreas específi-cas e aprimoradas em mestrados e doutorados. Certamente, pro-fessores médicos não garantem a qualidade do curso, de maneira alguma, contudo, compreendem melhor quais as necessidades da nossa formação. No entanto, um professor deve ser um tutor que nos instigue a buscar a base para criar um ra-ciocínio sedimentado e prag-mático a respeito da disciplina ministrada. Essencialmente, ele deve nos levar a questionamen-tos relevantes sobre o assunto e nos mostrar a fonte correta para

encontrar respostas. Mais que isso, esperamos que o professor complemente o conhecimento que adquirimos com sua expe-riência prática profissional - é isso, de fato, que nos motiva em um curso tão exigente e pesado e o que, essencialmente, diferen-cia a presença na aula da leitura do livro. Partindo dessa premissa, fica claro nosso grande problema: os atuais docentes do ciclo Bá-sico estão capacitados a buscar respostas a nível molecular e bioquímico, mas nem sempre conseguirão encontrar os ques-tionamentos certos aos quais devemos responder. Isso porque sua vivência é restrita à bancada laboratorial e totalmente disso-ciada da beira do leito, que é, na maioria das vezes, onde surgem os problemas relevantes ao estu-do e ensino da medicina. A consequência da forma de ensino que está sendo construída no curso de medicina da UFES é parecida com o que Feinstein aborda no artigo Basic Biomedi-cal Science and the Destruction of the Pathophysiologic Bridge from Bench to Bedside. Vemos a decomposição da formação médica em dois extremos que sofrem com a ausência de uma porção intermediárea que os co-necte. Em um extremo está um currículo restrito ao nível mo-lecular e celular ministrado por profissionais de outros cursos da área de saúde; no outro extremo a vivência hospitalar que é de-pendente do entendimento do or-ganismo em seu funcionamento sistêmico e dinâmico. Entre eles está um abismo: a falta de mes-tres que nos preparem a conectar o conhecimento da área básica à formação do raciocíno gradual e complexo que nos permitará en-tender e cuidar dos pacientes que nos esperam na prática clínica.

•• Os professores do departa-mento de Clínica Médica tive-ram mais de dois anos para pla-nejar a transição curricular, mas só começaram a falar sobre tema no início deste semestre letivo. Na avaliação dos alunos, falta-ram planejamento e compromis-so e sobraram desorganização e desrespeito. A reforma curricular, aprovada em 2007 e iniciada em 2008/1, está agora no 6º período. As tur-mas 82 e 81, atuais 6º e 7º perío-dos, foram novamente obrigados a “dividir” as aulas. Na parte te-órica, não houve grandes proble-mas. Mas na parte prática, muito transtorno. Ambulatórios que já mal comportavam cinco alunos tiveram que acomodar mais de dez. Os acadêmicos contam que um só professor teve que minis-trar uma aula prática nas enfer-marias do 2º andar do Hucam para cerca de 20 alunos! Indignados, os estudantes se aglomeraram, ainda nas primei-ras semanas de aula, na porta do auditório onde era realizada a reunião do departamento. As-sustados com a mobilização, os professores decidiram tentar, pela primeira vez, resolver o pro-blema. O protesto surtiu efeito, apesar de não ter solucionado todos os gargalos do currículo.

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FÉ NO CAMPUS

“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima”. A citação de Louis Pasteur pa-rece se encaixar perfeitamente no cotidiano de alguns universi-tários. Toda semana, grupos de estudantes se reúnem em diver-sas Universidades do país para discutir sobre assuntos relacio-nados a Deus e à Bíblia, retrato de Fé e Razão convivendo sem conflitos em um mesmo am-biente RAIO-X apresenta na próxima página dois grupos que atuam no campus de Maruípe da Ufes:

o Grupo de Oração Universitá-rio (GOU) e a Aliança Bíblica Universitária (ABU). No campus, o maior símbolo de fé talvez seja a Capela loca-lizada ao lado do Hospital das Clínicas, e que ilustra esta pági-na. O monumento foi inaugura-do em 1958, quando o hospital, então conhecido por Sanatório Getúlio Vargas, dedicava-se ao tratamento dos tuberculosos. Ela é de denominada “Capela Santa Helena”, que é a protetora dos doentes acometidos pela tu-berculose. O primeiro casamen-

to na Capela foi de uma funcio-nária do serviço de radiologia, ocorrendo ainda no mesmo ano. As informações são de Maria Zilma Rios, funcionária do Cen-tro de Estudos do Hucam, gran-de estudiosa da história do hos-pital e que defendeu sua tese de mestrado no programa História Social das Relações Políticas, com o tema “Sanatório Getúlio Vargas: medicina e relações so-ciais no combate da turberculose no Espírito Santo”. O crucifixo da capela também desperta interesse entre os es-

tudiosos da história do Hucam. Segundo anotações do próprio autor da peça, ele foi elaborado pelo escultor italiano Carlo Cre-paz, que foi professor da Ufes. Paulete Ambrósio, professora do curso de Enfermagem da Ufes e estudiosa do escultor, diz que Crepaz foi responsável por vá-rias obras sacras no Estado. Na peça, entretanto, não conseguiu identificar a assinatura do autor. (com reportagem de Constan-ce Dell’Santo, Jequélie Cássia, Gustavo Franklin e Wagner Knoblauch)

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Grupo de Oração Universitário

•• O Grupo de Oração Univer-sitário (GOU) é uma comuni-dade universitária católica, cé-lula fundamental da Renovação Carismática Católica (RCC) e cerne de todas as atividades de evangelização do Ministé-rio Universidades Renovadas (MUR). Segundo dados da organização, existem cerca de 600 grupos no Brasil. O projeto Universidades Re-novadas começou em 1994, no SEARA, encontro promovido pela Renovação Carismática Católica de Viçosa que reúne todo ano, no período de carna-val, 7.000 pessoas de todo país. Universidades Renovadas consiste em incentivar a forma-ção de GOUs para que, “ao sair da faculdade, o aluno entenda o plano de Deus na sua profissão e exerça a sua vocação profis-sional com dignidade, ética, respeito ao homem e a certeza de que se eu não mudar, nada vai mudar”. Em Maruípe, as reuniões ocorrem as quintas-feiras às 12h40 no Elefante Branco. Na primeira 5ª feira do mês ocorre a missa às 12h30 no auditório do Elefante Branco.Site: universidadesrenovadas.com

Abraço. Marcado por muita música, momentos de descontração e re-flexão, o primeiro Trote do Abraço no campus de Maruípe, organizado pela Aliança Bíblica Universitária, foi um sucesso. A idéia do even-to, que ocorreu em setembro e lotou o auditório do Elefante Branco, é fazer uma acolhida aos calouros em todo início de período letivo.

Aliança Bíblica Universitária

•• A Aliança Bíblica Universi-tária (ABU) é um movimento estudantil fundado no final da década de 50. Na voz de seus organizadores, eles se reúnem para “falar de Cristo e discu-tir a Bíblia, relacionando com assuntos cotidianos, num am-biente descontraído e sem for-malidades religiosas”. A ABU é um movimento estudantil missionário sem vinculação a nenhuma igreja, composto por grupos locais de estudantes, com atuação em to-dos estados brasileiros. A união de todos os grupos locais e suas regiões forma o movimento na-cional – Aliança Bíblica Uni-versitária do Brasil (ABUB). É ligada à Comunidade Interna-cional dos Estudantes Evangé-licos, presente em 150 países. Além disso, tem voz no Conse-lho Nacional da Juventude, en-tidade do governo federal vol-tada à promoção das políticas públicas voltadas à juventude. No ES, há diversos grupos em diferentes campi universitários. Em Maruípe, as reuniões ocor-rem às terças, 12h30 no Elefan-te Branco, e às quintas, 12h30 no prédio do Básico, sala 3.Site: www.abub.org.br

•• Quem circula pelas redondezas do Hucam certamente já se deparou com um senhor que distribui aos pacientes, alunos e funcionários pequenos papéis com mensagens bíblicas. Trata-se de Fernando Ce-sar Mattos de Oliveira, um auxiliar de enfermagem que atua no Centro Cirúrgico do Hucam há 16 anos. Ele trabalha no período noturno e, pela manhã, distribui cerca de 300 versículos bíblicos diferentes, num total de 1500 mensagens por dia. A distribuição do que ele mesmo de-nomina como “a palavra de Deus é o pão da vida” se inicia no termi-nal de Itaparica, em Vila Velha. No Hucam, entrega nos ambulatórios e depois segue para as enfermarias do hospital. A motivação para a atual missão diária de Fernando teve início há sete anos, quando passava por um momento difícil e encontrou na Bí-blia uma fonte de conforto. Há três anos, em uma viagem de trem para Governador Valadares, teve a idéia de distribuir versículos bíblicos aos passageiros, o que não foi permitido pelo comandante. Após isso, Fer-

nando iniciou a entrega das mensa-gens no hospital. “O hospital é um ambiente hostil, onde os pacientes se encontram em um momento de fragilidade, por isso tento levar con-forto às pessoas, da mesma manei-ra que há sete anos fui reanimado”, conta Fernando. De acordo com ele, “os versículos não são pensa-mentos meus, e sim de Deus, e têm o poder de representar uma mensa-gem individual para cada leitor”. Desde o ano passado, uma árvore de Natal abandonada no serviço de cirurgia serviu de inspiração para outra forma de distribuir as men-sagens: Fernando colocou vários versículos na árvore, no corredor do térreo, local bastante movi-mentado do hospital, e as pessoas passavam e retiravam uma mensa-gem. A idéia deu certo e hoje ele repõe diariamente 600 mensagens. A tarefa de entregar os versículos é cansativa e custa até mais de 10% do salário de Fernando. Ele consi-dera, contudo, algo extremamente gratificante. Em 2009, Fernando foi o funcionário homenageado pela 75ª turma de Medicina da Ufes.

Blog de aluno ateu gera polêmica na Ufes•• O blog “Ufes para todos”, as-sinado por Carlos Magno, aluno de medicina da Ufes da turma 82, tem gerado polêmica no meio universitário. Carlos con-dena as manifestações religiosas no campus pela condição laica do Estado, além de expor a visão ateísta sobre as manifestações cristãs e sua posição a favor da razão. Veja os posts em: ufesparatodos.blogspot.com

Eventos debatem saúde e espiritualidade •• Aconteceu em Vitória, em ou-tubro, a VIII Jornada da Associa-ção Médico-Espírita do ES, com o tema “a saúde na sua dimensão espiritual”. Também foi realiza-do o VII Congresso Nacional do Departamento Acadêmico da Associação Médico-Espírita do Brasil. Na pauta de ambos os eventos, discussões sobre a in-terface entre saúde e espirituali-dade, como na eutanásia.

Homem distribui 1500 versículos bíblicos por dia no Hucam

Mensagem de Deus. Todo dia, 600 novos versículos bíblicos na árvore.

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GUSTAVO FRANKLIN DE NOVA FRIBURGO (RJ)

•• Os jogos mais aguardados pelos futuros médicos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo finalmente aconteceram. A 17ª edição das OREM (Olimpíadas Regionais dos Estudantes de Medicina) reuniu na cidade de Nova Friburgo (RJ), de 9 a 12 de outubro, mais de 6 mil uni-versitários de 23 faculdades do RJ e ES, recebendo também os atletas da Ufes para novas con-quistas e alguns recordes, até então, impensáveis. Organizado pelo Centro Aca-dêmico de Medicina da Univer-sidade Gama Filho, o CAMED, o evento parou a fria cidade do interior fluminense para ver as disputas nas modalidades de handebol, futsal, vôlei, basque-te, natação, futebol de campo e a já tradicional disputa de cabo de guerra. Com uma delegação recorde, a MedUfes, sob a temática da Oktobermed, levou 183 pessoas (150 acadêmicos, 29 convida-dos e quatro treinadores) cheias de energia e esperanças para os jogos, torcendo para não repetir o desempenho do ano anterior em Vassouras (RJ), quando não conseguimos levantar nenhum troféu. Desde o primeiro dia, vimos que o caminho não seria nada fá-cil. O alojamento onde iríamos ficar não tinha salas suficientes para os medufesianos, e muitos tiveram que aguardar mais de duas horas nos pátios até que outro local fosse disponibilizado para as acomodações. Mas essa não foi a única estrutura que dei-xou a desejar. As festas noturnas não comportavam a enorme quantidade de estudantes e algu-mas mudanças tiveram que ser realizadas ao longo do evento. Além disso, não havia o tra-dicional “rock da tarde”, o que ajudou a fortalecer a integração dentro do próprio alojamento. Juntamente com a Unigranrio, todos os talentos musicais da Universidade foram se revelan-do, e a música não parava o dia inteiro. Não tardou para que os Simpatomiméticos fossem acla-

mados, e mostrassem um pouco mais da inventividade capixaba.Nos primeiros jogos, a Ufes co-meçava seu suplício esportivo. Fomos eliminados no futebol de campo logo de cara. No futsal masculino, futsal feminino, vô-lei feminino, handebol feminino e basquete feminino também não conseguimos passar pelo primei-ro jogo. Talvez alguém possa até pensar: “grande novidade!”. Mas o que vimos dentro daque-las quadras foi realmente novo. Pelo menos pra mim, que estou na 3ª OREM, nunca tinha visto tamanha disciplina e qualidade nos times da MedUfes. Os times de futsal contaram com atle-tas de primeira linha e os times mostraram bom entrosamento. O aluno Perácio da turma 83 fez os dois gols da derrota por 3 a 2 (de virada) para o time de Vassou-ras. No feminino, o 1 x 0 foi su-ficiente para nos tirar da disputa. No handebol, como sempre, as coisas foram um pouco dife-rentes. As mulheres, comanda-das pela capitã Luana Gaburro da 79, nos surpreenderam com belas jogadas contra o time da Ufrj. Esse foi o primeiro jogo onde a nossa torcida realmente vibrou e se emocionou até o fim, quando, apesar disso, perdemos por 4 gols de diferença. Mas o masculino, com um dos times mais fortes que as OREM já viu em toda história, passeou pela

MedUfes surpreende até debaixo d’água nas OREM

equipe do Fundão. Debaixo de gritos como “Biel, o melhor do OREM” e “Nanato, o melhor goleiro do Brasil”, a Ufes deu um show com as mãos e venceu a Ufrj por 29 a 11. À noite, na aguardada festa à fantasia, a Ufes inovou mais uma vez ao levar centenas de pesso-as fantasiadas de 101 dálmatas. Apesar do frio inconveniente e do local bastante limitado, o bom humor reinou e o sucesso das “pseudo-vaquinhas” e da “pe-quena” Cruela Cruel seria garan-tido em todas as outras festas e jogos até o final das olimpíadas. Nos outros dias de jogos, vi-mos que os nossos atletas estão cada vez mais preparados e mais motivados. No vôlei masculi-no, assim como no basquete, chegamos a ganhar o primeiro jogo. Mas com certeza mostra-mos mais que isso. Mostramos um time com grande qualidade técnica, jogadores talentosos e super bem organizados. Con-seguimos jogar de igual para igual contra aqueles que se-riam os campeões este ano, a Gama Filho. A equipe liderada pelo aluno Renan Rosetti da 83 mostrou, sem dúvida, ser um dos melhores times de vôlei da MedUfes dos últimos tempos e, aliado ao trabalho e empenho do técnico Vinícius Maretto, surge como grande esperança para as OREM’s futuras.

“Lissa Phelps”•• Nenhuma outra surpresa foi mais agradável do que a que viríamos a ter na segunda-feira de manhã. Enquanto a maioria ainda dormia o sono dos incrédulos, a primeira equipe de natação dos últimos 7 anos da Ufes nas OREM fa-zia história em Nova Friburgo. Composta pelos alunos Felipe Schwenck, Leonardo Chamo-vitz, Gustavo Franklin, Igor de Castro, Renan Rosetti, Ana Vega e Lissa Sakugawa, esse pessoal fez alguns segundos durarem infinitos instantes de emoções. Tudo isso graças aos feitos da aluna Lissa, da turma 82, que trouxe para Ufes três medalhas de ouro e uma de prata. Ela conseguiu conquistar os 50m livre com os óculos na boca, depois que eles caíram de seu rosto, tudo isso em apenas 30 segundos, mas que, juro, daria um filme inteiro. Um filme com crédi-tos e extras especiais. Como não relatar, que após o show de nossa “Lissa Phelps”, a Ufes daria um jeito de colocar sua pitada criativa mais uma vez? Foi assim que, vestido de dálmata e de óculos e touca, o nadador Shwenck conseguiu parar todo o ginásio quando pulou na piscina com o mais característico nado “cachorri-nho”. Até o Perácio deu uma de nadador e foi completar a equipe no revezamento 4 X 50 livre. Detalhe para o fato de que ele não sabia nadar...

Fantasia. 101 dálmatas... e a técnica operatória (TO) precisando de material para trabalhar.

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E o handebol?

•• Vocês devem estar se pergun-tando: Onde está o maior trunfo, a maior esperança da MedUfes? Sob o comando do técnico e fu-turo papai Felipe, contando ain-da com o apoio e preparação do gigante mais bonzinho de toda a OREM, o Megazord-Rogi-Cruela, o handebol continuou desequilibrando os adversários e esquentando todo mundo no frio de Friburgo (tá, a vodka ajudou também...). No segundo jogo chegamos a abrir 14 a 1 contra a Uerj e colocamos todos os reser-vas para jogar o segundo tempo. O que, aliás, não foi por acaso. O número de contusões começava

a preocupar. Todos os jogadores estavam com dores e algumas pareciam ser mais sérias. E foi dessa forma que enfren-tamos a atual campeã Gama Fi-lho numa final antecipada. Com um time infinitamente superior, a Ufes dominou quase todo o jogo, chegando a abrir 3 gols de diferença. Mas o jogo que, no íntimo não parecia ser tão difícil, começou a ganhar ares de com-bate greco-romano. Uma disputa entre Luiz Guilherme da 84, Na-nato e um jogador da Gama ren-deu um nariz sangrando a Luiz e o rompimento do ligamentocruzado no nosso goleiro. O ca-louro artilheiro André Salloto machucou o ombro e a perna.

Prata. Time de handebol da Ufes brilha, mas deixa escapar título mais uma vez.

Auditório lotado no Neuro-Psiquico 2010•• Mais de 100 estudantes lota-ram o auditório Elefante Branco durante o I Simpósio de Neuro-logia e Psiquiatria do Espírito Santo (Neuro-Psiquico 2010), nos dias 22 e 23 de outubro. Or-ganizado pela assessoria cien-tífica do DAMUFES, o evento contou com a coordenação do neurologista e professor da Ufes Marcelo Muniz e do psiquiatra Ruy Perini, médico do Hucam. Outros 13 médicos conceituados enriqueceram o simpósio com palestras brilhantes.

Mais de 200 vagas em estágios internacionais•• O edital de seleção para está-gios internacionais em prática médica, no período de abril/2011 a março/2012, abriu 221 vagas em 49 países. As inscrições ter-minam dia 26 de novembro. A primeira convocatória deve sair em 9/12. Desde 2008, quinze alunos da MedUfes fizeram está-gio fora do país. Nesse período, o Hucam recebeu, por meio da Coordenação Local de Estágios e Vivências (CLEV) do DA-MUFES, 18 alunos estrangeiros. Site: www.clevufes.weebly.com

Hucam vai ganhar mais de 70 leitos novos

•• O jantar-leilão organizado pela médica Ângela Mameri, presi-dente da Sobem-HU (Sociedade Beneficente de Assistência ao Hospital Universitário), arreca-dou cerca de R$ 140 mil. Com a quantia serão comprados 74 leitos para vários setores do Hu-cam. Site: www.sobemhu.org

Alípio lança livro de contos “Súbito Azul”•• Em outubro, ocorreu o lan-çamento do primeiro livro de contos do médico e professor de Medicina da Ufes Alípio Cesar Nascimento. O médico, que tam-bém é jornalista, já possui expe-riência no ramo literário com peças teatrais, além de escrever artigos para um jornal capixaba, mas esta é a primeira obra literá-ria do gênero. Os 18 contos que constituem o livro pertencem ao gênero da bioficcionalidade. A obra pode ser adquirida pelo email: [email protected]

Rafael Cavanellas da 78 era alvo constante e saiu sem con-seguir respirar após uma coto-velada no pescoço. Daniel da 82 tomou 4 pontos no queixo após um cruzado de direita. No final, o time já estava esgotado. Nem os hinos entoados pela tor-cida da Ufes, que pela primeira vez conseguia colocar a bateria no ritmo, conseguia embalar o time. Nos últimos 5 minutos, o time da particular do Rio virou o jogo, para o pesar dos quase 180 torcedores da Ufes, e deixando engasgado mais um campeonato. No último dia, coube ao pes-soal do cabo de guerra fechar com muito bom humor mais uma edição das OREM.

A todos que foram pela pri-meira vez, as melhores impres-sões, tenho certeza, foram feitas. A todos que por um motivo ou por outro não puderam ir, mui-tas oportunidades ainda virão. Àqueles que se despedem dos jogos, aos alunos da 77, e ainda ao Eduardo, único representante do 12º período, sei que a sauda-de ficará. Mas a todos que curtiram, àqueles que treinaram e acredi-taram durante todo o ano, aos ilustres atletas da 78, que deram o sangue pela Universidade, e a todos que mantêm acesa a espe-rança nas próximas OREM’s, lembrem-se sempre de que mui-to ainda há por vir.

Veteranos dominam final do Intermed 2010/2•• Em partida disputada, a turma 78 bateu a 79 por 2 x 0 na final e sagrou-se mais uma vez campeã do Intermed Masculino. O terceiro lu-gar ficou com os calouros da 87. Marcelo Berno (78) o Edson Garcia (87) dividiram a artilharia, com 12 gols. No feminino, a grande surpre-sa: a turma 77 (atual 11º), que entrou no campeonato para tirar fotos para a formatura, venceu a 84 nos pênaltis e saiu com o título. Muitos colegas da 77 estavam na torcida. O terceiro lugar ficou com a 86. A artilheira foi Bruna Merlo (86), com 9 gols.

Estreia. Time de volei não ganhou mas empolgou e fez bonito na quadra.

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•• Passar em medicina numa Universidade Federal é o so-nho de muitos alunos que, todos os dias, enfrentam uma maratona diária de estudos pesados para realizá-lo. Es-peculações sobre os mais variados assuntos permeiam a cabeça desses estudantes, que sonham com a profissão médica, o reconhecimento, a vivência hospitalar, a gratifi-cação por cuidar da vida de outras pessoas. Junto desses pensamentos, vem também a expectativa das possibili-dades: o contato direto com a produção científica, estar num centro de mentes pensan-tes, que, de fato, produzem. O futuro estudante de me-dicina vai criando dentro de si uma paixão tão grande pelo ambiente da Universidade, que mesmo antes de ser apro-vado, já se sente parte daque-la esfera intelectual. Ele, então, chega à Univer-sidade, repleto de uma empol-gação que só quem alcançou a aprovação é capaz de defi-nir. Chega valorizando aquilo que acabou de conquistar: sua vaga, sua chance de crescer, de aprender, de se sentir e ser um acadêmico e, mais tarde, um profissional diplomado. Vai conhecendo aos poucos a dinâmica da Universidade: vi-sita o hospital, ambulatórios, postos de saúde, tudo isso graças a diversas disciplinas que, mesmo no ciclo básico do curso, permitem ao aluno entrar em contato com o mun-do médico aos pouquinhos. Com a realização do sonho, vem também as responsa-

bilidades: aulas, trabalhos, provas e muita, muita leitura. Livros, cadernos, cópias e os tão prezados artigos científi-cos. Para que esteja sempre atualizado, é necessário que o estudante leia e conheça as novidades – que saem quase que em tempo real! – sobre descobertas, tratamentos, medicamentos mais eficazes e ferramentas das mais varia-das para o exercício da pro-fissão. No entanto, no início do curso, o acadêmico não possui, ainda, o olhar crítico sobre aquilo que é bom ou ruim para ser lido e pede aos professores que indiquem a leitura de bons artigos e pu-blicações. E chovem dicas: Nature, The Lancet, New England e demais revistas internacionais de grande visi-bilidade no mundo médico e científico são as mais citadas. Configura-se aqui, do meu ponto de vista, um grave pro-blema de desvalorização da produção científica do nosso país e sobre cujo pilar apóio minha crítica. Somos induzi-dos a ler os grandes jornais e revistas e, ao mesmo tempo, completamente desmotivados a procurar por publicações nacionais. O mesmo ocorre quando pretendemos publicar algo que escrevemos. A orientação é: ler, falar e escrever em inglês e publicar em revistas internacionais porque “revista brasileira é muito fraquinha, não tem vi-sibilidade”. Já ouvi esse bor-dão – sim, a frase já se tornou um bordão, tamanha a sua re-petição pelos corredores e em

algumas aulas – da boca de vários de nossos professores, que tentam incrustar em nos-sas mentes a idéia de que lá fora, para além das fronteiras, tudo é mais bonito, tudo fun-ciona e tudo é muito melhor do que no nosso país. É claro, de forma alguma tiro aqui o mérito das revistas interna-cionais. Até porque, de fato, na época em que estamos, ter um artigo publicado em uma revista de renome é importan-tíssimo para a carreira de um acadêmico ou profissional. É certo que é necessário expan-dir o que se produz aqui para além dos limites físicos do país. Mas, segundo alguns, publicar em revistas brasi-leiras é perda de tempo e de dinheiro. Então, eu me pergunto: a custo de quê as grandes re-vistas se tornaram grandes? Com publicações de seu pró-prio país, a princípio. Nada começa já de forma grandio-sa. Há muito a se construir, muitos degraus a se galgar antes de alcançar um espaço de destaque. Já sofremos grande influ-ência do estrangeiro em nos-sa língua, nossos costumes e muitos dos produtos que consumimos ou instrumentos que utilizamos são oriundos de fora do país, enquanto a produção nacional é desvalo-rizada e permanece sem visi-bilidade tanto para nós quan-to para os outros países. E muitos dos brasileiros já con-cordam com o fato de que “o que é importado é melhor”, seja no âmbito geral ou no

científico, especificamente. Observo isso entre os pró-prios colegas, que às vezes perguntam “O que você está lendo?” e, ao ouvir que tal publicação é de uma revista brasileira, logo torcem o bico. Então, eu sigo me fazen-do outro questionamento: Se nem nós, brasileiros, valori-zamos o que é fruto do nosso país, como queremos que o Brasil cresça e se destaque no ambiente científico? Como queremos que os médicos formados no Brasil sejam considerados profissionais de qualidade onde quer que che-guem? Como faremos para que a medicina brasileira chegue a se tornar referência em atenção ao doente? Que fique claro que não defendo uma política de “protecionis-mo científico”, mas sim que se valorize mais o que é pro-duzido aqui, que se valorize a base, nossas revistas, nossos cientistas, nossos estudantes, aquilo que nos deu subsídio para avançarmos na forma-ção médica. No entanto, isso só vai acontecer quando nos dermos conta de que para se alçar vôos mais altos, é necessário que se comece tentando voar de lu-gares baixos. Só valorizando o que é nosso mereceremos o reconhecimento. E enquan-to tivermos, em nossas salas de aula, alunos e professores que não contribuírem para esse reconhecimento, que só valorizarem o ”dos outros” em detrimento “do nosso”, continuaremos sendo os “fra-quinhos, sem visibilidade”.

Pela valorização do que é nosso

Verborragia é uma seção de artigos de opinião de RAIO-X dedicada a publicar textos escritos pelos alunos de Medicina da Ufes. Se você gosta de escrever e quer apresentar suas ideias no jornal, mande seu texto para [email protected] ou [email protected].

VERBORRAGIA por Aline Castelan acadêmica da turma 84