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RAFAEL CAPUANO ANTONIO Projeto para homologação de novos fornecedoresProjeto de trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Químico. Orientador: Prof. Dr. Messias Borges Silva Lorena - SP 2014

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RAFAEL CAPUANO ANTONIO

“Projeto para homologação de novos fornecedores”

Projeto de trabalho de conclusão de curso

apresentado à Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo como

requisito parcial para obtenção do título de

Engenheiro Químico.

Orientador: Prof. Dr. Messias Borges Silva

Lorena - SP

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Antonio, Rafael Capuano Projeto para homologação de novos fornecedores /Rafael Capuano Antonio; orientador Messias BorgesSilva. - Lorena, 2014. 49 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2014Orientador: Messias Borges Silva

1. Dmaic. 2. Homologação de fornecedores. 3.Gestão de projetos. I. Título. II. Silva, MessiasBorges, orient.

2

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a

fonte.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Juvenal e Adriana, por terem sempre se esforçado para me dar a melhor formação acadêmica e moral, e terem acreditado em mim até o último momento, e a minha irmã Roberta, por ter sido sempre um ponto de apoio quando o momento era difícil, demonstrando paciência, confiança e alegria.

Também devo a minha esposa Carolina, que nos últimos tempos tem se dedicado a tarefa de mãe, compreendendo minha ausência, e ao meu filho Bernardo, que foi a figura da motivação, me dando um motivo para me esforçar cada vez mais.

Aos professores orientadores e membros da banca, que se dispuseram a me ajudar neste momento decisivo.

A Deus, que meu deu forças quando não tinha mais de onde tirar e serenidade nos momentos de crise.

Por fim, agradeço a todos meus amigos, familiares e colegas de trabalho, que contribuíram para que esse trabalho fosse possível.

4

RESUMO

Antonio, R. C. Projeto para homologação de novos fornecedores, 2014. Projeto

de Monografia (Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2014.

O presente trabalho estuda o processo de homologação de um papel cartão para

caixas de bombons, de um fornecedor diferente do que atualmente abastece as linhas

de envase, demonstrando as técnicas de Gestão de Projetos e ferramentas de Seis

Sigma aplicadas para fundamentar a validação deste novo fornecedor e material.

A metodologia utilizada foi o DMAIC, em que na primeira etapa (Define) foi enviado

um Brief pelo setor de compras solicitando a realização do projeto buscando ganhos

financeiros e flexibilização de abastecimento. Na etapa seguinte (Measure) foram

coletados dados de desempenho do material padrão e do proposto, que seriam

chaves para a validação. A próxima etapa (Analyse) tratou da comparação e análise

estatística dos dados coletados. Paralelamente às análises, foram elaborados e

executados planos de ação (Improve) concernentes aos problemas evidenciados

durante os testes industriais, de forma a garantir a aprovação do material e conclusão

do projeto.

Na sequência (Control), foi feito um acompanhamento das linhas de produção já com

o novo cartão, e foram monitorados os indicadores de performance para avaliar a

sustentabilidade dos resultados.

Palavras-chave: DMAIC, Homologação de Fornecedores, Gestão de Projetos.

5

ABSTRACT

Antonio, R. C. Projeto para homologação de novos fornecedores, 2014. Projeto

de Monografia (Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2014.

This paper studies the validation process of a cardboard for bonbons, from another

supplier than the one that until this moment provide the filling lines, showing the Project

Management techniques and Six Sigma tools, applied to substantiate the validation of

this new supplier and material.

The used methodology was de DMAIC, where on the first step (Define), the

procurement sector sent a brief, requesting the development of a project seeking

financial saving and supply easing. On the next stage (Measure), we collected data

from the standard material and the new one, what would be the key to validation. The

next step (Analyze) made the comparison and statistic analyze of collected data. At

the same time of analyzes, action plans were elaborated (Improve), regarding the

issues evidenced during the industrial trials, in order to guarantee the approval of

material and project conclusion.

Following (Control), an attendance was made to production lines, already with the new

cardboard, and the performance indicators were monitored to evaluate the

sustainability if the results.

Keywords: DMAIC, Suppliers Ratification, Project Management.

6

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DO CICLO DMAIC ................................................................................................... 14 FIGURA 2 – ÃO DO CICLOEPRESENTAÇÃO DAS ETAPAS DMAIC ............................................................................ 14 FIGURA 3 – CONTRATO DO PROJETO .................................................................................................................... 15 FIGURA 4 – CONTRATO DO PROJETO .................................................................................................................... 16 FIGURA 5 – ETAPA DE UM PROCESSO ................................................................................................................... 17 FIGURA 6 – CARTA DE CONTROLE ......................................................................................................................... 18 FIGURA 7 – DIAGRAMA DE PARETO ...................................................................................................................... 19 FIGURA 8 – MATRIZ IMPACTO VS ESFORÇO .......................................................................................................... 20 FIGURA 9 – DIAGRAMA DE ISHIKAWA – CAUSA E EFEITO ..................................................................................... 21 FIGURA 10 – DIAGRAMA DE AFINIDADES .............................................................................................................. 21 FIGURA 11 – 5 PORQUÊS ....................................................................................................................................... 22 FIGURA 12 – PLANO DE AÇÃO ............................................................................................................................... 23 FIGURA 2 – MATRIZ DE SEGMENTAÇÃO DE FORNECEDORES ............................................................................... 25 FIGURA 14 – ESQUEMA DE AVALIAÇÃO SENSORIAL - DEGUSTAÇÃO .................................................................... 27 FIGURA 15 – ESQUEMA DO TESTE DE COMPRESSÃO ............................................................................................ 28 FIGURA 16 – CONTRATO DO PROJETO .................................................................................................................. 31 FIGURA 17 – ESCOPO DO PROJETO. ...................................................................................................................... 32 FIGURA 18 – CRONOGRAMA DO PROJETO............................................................................................................ 34 FIGURA 19 – FLUXO CRÍTICO DO PROCESSO ......................................................................................................... 36 FIGURA 20 – GRÁFICO TESTE DE ROBINSON ......................................................................................................... 37 FIGURA 21 – RESULTADO DE AVALIAÇÃO SENSORIAL - DEGUSTAÇÃO ................................................................. 38 FIGURA 22 – RESULTADO TESTE DE TRANSPORTE ................................................................................................ 39 FIGURA 23 – DIAGRAMA DE ISHIKAWA ................................................................................................................. 39 FIGURA 24 – DIAGRAMA DE AFINIDADES - MATERIAL .......................................................................................... 40 FIGURA 25 – DIAGRAMA DE AFINIDADES - MÉTODO ............................................................................................ 40 FIGURA 26 – DIAGRAMA DE AFINIDADES – MÃO DE OBRA .................................................................................. 41 FIGURA 27 – REPRESENTAÇÃO DA GERAÇÃO DE DEFEITOS NA FORMADORA ..................................................... 42 FIGURA 28 – EVOLUÇÃO DE PEQUENAS PARADAS ............................................................................................... 43 FIGURA 29 – REPRESENTAÇÃO DA GERAÇÃO DE DEFEITOS NA FECHADORA ....................................................... 43 FIGURA 30 – EVOLUÇÃO DE PERDA DE MATERIAL ................................................................................................ 43

7

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – NÍVEL DE DEFEITOS GERADOS POR PROCESSOS, EM VÁRIOS NÍVEIS SIGMA, PARA DIFERENTES VALORES DE DESVIO SOFRIDO PELA MÉDIA AO LONGO DO TEMPO .......................................................... 12

TABELA 2 – IMPACTO DO PADRÃO SIGMA NO CUSTO DA NÃO QUALIDADE. ...................................................... 13

8

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

DMAIC – Definir, Medir, Analisar, Implementar, Controlar

LPP – Lição ponto a ponto

5W1H - What, Why, Who, Where, When, How

5W2H – What, Why, Who, Where, When, How e How much

IO – Instrução Operacional

ME – Melhoria Específica

YB – Yellow Belt

6M`s – Material, método, medida, mão de obra, meio ambiente e máquina

EAP – Estrutura Analítica de Projeto

PPM – Partes por milhão

CEP – Controle Estatístico de Processos

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10

1.1 Objetivos ..................................................................................................... 10

1.2 Justificativa ................................................................................................ 11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 12

2.1 Seis sigma e DMAIC ................................................................................... 12

2.2 Gestão de projetos ..................................................................................... 24

2.3 Classificação de fornecedores ................................................................. 24

2.4 Teste de Robinson ..................................................................................... 25

2.5 Degustação ................................................................................................. 25

2.6 Teste de transporte .................................................................................... 27

2.7 Teste de compressão ................................................................................. 28

2.8 Maquinabilidade ......................................................................................... 28

3. METODOLOGIA ............................................................................................. 30

3.1 Termo de abertura do projeto ................................................................... 30

3.2 Definição do escopo .................................................................................. 31

3.3 Formação da equipe .................................................................................. 33

3.4 Cronograma ................................................................................................ 33

3.5 Implementação das ações ......................................................................... 34

3.6 Mapa do processo ...................................................................................... 35

4. RESULTADOS ............................................................................................... 37

4.1 Teste de Robinson ..................................................................................... 37

4.2 Degustação ................................................................................................. 37

4.3 Teste de transporte .................................................................................... 38

4.4 Maquinabilidade ......................................................................................... 42

4.5 Validação .................................................................................................... 44

5. CONCLUSÃO ................................................................................................. 45

6. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 46

10

1. INTRODUÇÃO

Historicamente o mundo está em permanente estado de mudança e essas

mudanças, quando aplicadas ao mercado, são extremamente dinâmicas e refletem

no ambiente empresarial, principalmente na forma de gestão das companhias. (DO

VALLE, et al., 2008)

As organizações estão expostas às forças de mudanças oriundas no mercado

global (novidades tecnológicas, novo posicionamento mercadológico, mudanças

sociopolíticas). Elas são vulneráveis aos impactos causados por quaisquer mudanças,

seja por questões de mercado, cultura, tecnologia, etc. e elas devem reagir

rapidamente para se adaptarem e permanecerem competitivas. (DO VALLE, et al.,

2008)

Mesmo perante a um ambiente tão desafiador, as empresas querem aumentar

sua participação no mercado, obtendo maiores lucros. Isso se consegue entregando

produtos com qualidade, porém com um forte controle de custos na organização

(custos dos insumos, de produção, etc.), para que a competitividade se mantenha.

(DO VALLE, et al., 2008)

Para atingir os objetivos de seu plano estratégico, as empresas normalmente

lançam mão de projetos, que são normalmente autorizados como resultado da análise

de algumas considerações estratégicas, por exemplo, demanda de mercado (uma

companhia automobilística autorizando um projeto para fabricar carros mais

econômicos em resposta à escassez de gasolina), ou oportunidade/necessidade

estratégica de negócios (uma empresa de treinamento autorizando um projeto para

criar novo curso afim de aumentar sua receita). (PMI, 2012)

1.1 Objetivos

Este trabalho visa acompanhar um projeto para homologação de um novo

fornecedor, onde os conceitos de gestão de projetos e DMAIC são utilizados para

nortear o racional do desenvolvimento e ferramentas estatísticas e de qualidade

fundamentam as avaliações empíricas com fatos e dados, embasando a tomada de

decisão. Consiste em um estudo de caso de um projeto de homologação de novo

11

fornecedor de embalagem para caixas de bombons na indústria, visando entender e

mapear as etapas do desenvolvimento do projeto.

1.2 Justificativa

As indústrias têm necessidade de buscar a excelência operacional a baixo

custo, e uma solução para isto é a substituição de matérias primas e/ou fornecedores,

conseguindo menores custos e mantendo ou superando a qualidade do produto final

e o desempenho na linha de produção.

Esta monografia busca, através de um estudo de caso, descrever e entender a

metodologia utilizada para estruturar o desenvolvimento do projeto para aprovação de

um novo fornecedor de material de embalagem, mapeando cada etapa deste

processo em relação às fases do gerenciamento do projeto e demonstrando como

utilizar ferramentas estatísticas e de qualidade para embasar a tomada de decisão

quanto ao fornecedor ou material testado.

12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Seis sigma e DMAIC

Seis Sigma não é apenas uma nova mania amarrada a um método ou

estratégia, mas é muito mais que isso. É um sistema flexível para negócios e

processos de alto nível. O Seis Sigma é responsável por algumas das mais

importantes ideias e boas práticas para o sustentar o sucesso do negócio. (PANDE,

NEUMAN, CAVANAGH, 2003)

Abaixo será feito um estudo da relação do nível sigma do processo com o

número de defeitos gerados e o custo na não qualidade:

Tabela 1 – Nível de defeitos gerados por processos, em vários níveis sigma, para diferentes valores de desvio sofrido pela média ao longo do tempo

Fonte: SANTOS, 2006

Nível Sigma

()

Taxa de Acerto

(%)

Defeitos por milhão para cada desvio do

valor nominal

0 0,5 1 1,5

3 93,30% 2.700 6.210 22.750 66.807

4 99,40% 63 233 1.350 6.210

5 99,98% 0,57 3 32 233

6 99,99966% 0,002 0,019 0,287 3,4

Uma vez que o índice de defeitos está diretamente relacionado ao custo da não

qualidade, conforme há avanço no nível sigma, a menor geração de defeitos no

processo confere maior aproveitamento dos recursos destinados a qualidade. Em

termos práticos, o Seis Sigma tem trazido benefícios importantes para o

aprimoramento da qualidade. (SANTOS, 2010)

O custo da qualidade é composto pelos custos da garantia da qualidade e de

projetos para melhoria, pelas avaliações de monitoramento da qualidade, e também

pelo custo das falhas, seja ela oriunda de qualquer fator. (ANDRADE, 2012)

13

Tabela 2 – Impacto do padrão sigma no custo da não qualidade. Fonte: SANTOS, 2006

Nível Sigma () DPMO Custo da não

qualidade

Posição competitiva

1 691.462 > 40% das vendas Não competitiva

2 308.538 30 - 40% das vendas

3 66.807 20 - 30% das vendas Média da indústria

4 6.210 15 - 20% das vendas

5 233 10 - 15% das vendas Classe mundial

6 3,4 < 10% das vendas

A redução do número de defeitos gerados reduz os custos da baixa qualidade

(custos das falhas) e aumenta o grau de satisfação do consumidor, assim, está

diretamente relacionada a vantagem competitiva, o que torna essa abordagem

importante para o negócio. (SANTOS, 2006 apud HARRY, 1998, p.35)

Seis Sigma é uma abordagem que impulsiona a melhoria do

desempenho do negócio e a valorização da satisfação dos clientes,

por meio do enfoque estratégico de gerenciamento, da aplicação do

pensamento estatístico em todos os níveis de atividades, do uso de

indicadores de desempenho, da utilização de uma metodologia

sistematizada que integre técnicas variadas para se avaliar e otimizar

processos, e da aprendizagem decorrente da capacitação e

comprometimento das pessoas. (SANTOS 2006, p. 26)

O DMAIC, como é conhecida a metodologia básica do Seis Sigma para

melhoria de processos, consiste no desenvolvimento de algumas etapas

sistematizadas para a solução de problemas, utiliza métodos que assegurem a

redução da taxa de defeitos e falhas nos produtos, serviços e processos existentes.

(SANTOS, 2006)

Conforme expõe Santos (2010), no campo metodológico há discussões sobre

as contribuições do Seis Sigma apoiada na forma prescritiva e sistematizada de

aplicação do ciclo de melhoria DMAIC. Opositores argumentam contra as premissas

estatísticas que justificam o padrão 6σ, o pouco avanço da metodologia até contra o

formato de receita para a utilização de ferramentas estatísticas já consagradas.

14

Já os entusiastas salientam que o Seis Sigma integra conhecimentos de

planejamento, modelagem e controle de processos com ferramentas estatísticas e

ressaltam que o DMAIC, através de sua sistematização, permite aproveitar

oportunidades de ganhos significativos em processos e, aumentar a lucratividade e

competitividade, criteriosamente selecionados. (SANTOS, 2010)

Com um enfoque altamente orientado para dados, essa metodologia está

estruturada por um ciclo de melhoria de cinco etapas: Definir (D), Medir (M), Analisar

(A), Melhorar/Incrementar(I) e Controlar (C). (SANTOS, 2006)

Figura 1 – Representação do ciclo DMAIC Fonte: Figura da Internet

Figura 2 – ão do cicloepresentação das etapas DMAIC

Fonte: Figura da Internet

15

1.1.1 DEFININDO O PROJETO

Esta fase tem a finalidade de definir com precisão o escopo e a meta do projeto.

é definido o problema a ser resolvido, incluindo impacto no cliente e potenciais

benefícios, a meta é estabelecida a partir da análise de dados históricos e o time para

trabalhar na melhoria é montado, as necessidades e requisitos do cliente são

entendidos e o processo é mapeado. Nessa etapa, são estabelecidos os prazos para

cada ação e o cronograma é montado contemplando as tarefas por etapa. A

elaboração do contrato é feita para oficializar o projeto e um charter do projeto é

montado para reunião inicial de comunicação do projeto à equipe. (ECKES, 2001,

2003) (SANTOS, 2006) (ANDRADE, 2012)

Figura 3 – Contrato do projeto Fonte: Empresa X

16

• Escopo do projeto: O escopo traz a definição de onde a equipe deve focar, e,

mais importante, o que ela deve tentar evitar. Algumas equipes fracassam em não

definir âmbito e restrições do projeto e não deixam claro o que fazer e o que não fazer.

(ECKES, 2003)

• Equipe do projeto: Há diversas funções críticas para o sucesso do projeto. O

Champion, é o líder estratégico e, que via de regra é o owner do processo e auxilia

com os recursos necessários, não ficando dedicado exclusivamente ao projeto. O líder

do projeto, é responsável pelo acompanhamento diário das ações do projeto, pondo

a equipe a par do desenvolvimento do projeto e garantindo que as reuniões aconteçam

e o alinhamento seja feito. O orientador detem a ferramenta e orienta o andamento do

projeto. Os outros membros da equipe devem possuir diversas habilidades e

conhecimentos para que a equipe multifuncional traga a avaliação mais precisa

possível do problema. (ECKES, 2003)

• O cronograma: funciona como elemento de monitoramento da execução do

projeto, facilitando a visualização do andamento das tarefas por parte da equipe e

definindo claramente os prazos para que cada etapa seja concluída. (ECKES, 2003)

Figura 4 – Contrato do projeto

Fonte: Empresa X

17

1.1.2 DEFININDO AS MÉTRICAS

Na etapa Medir, identifica-se as medidas chaves para que a eficiência e eficácia

seja medida para então ser traduzida no conceito de sigma.(EKCES, 2001)

Determina-se o foco do problema a partir da estratificação do problema macro,

medido através dos dados do projeto, em problemas menores. Priorizam-se os

problemas a partir de matrizes de Impacto x Esforço, ou através da análise dos dados,

atacando sempre o que trouxer maior retorno, com menor despendimento de

recursos.

Mapa de processo: A equipe deve mapear em forma de fluxo a série de passos

e atividades que dão inputs (entradas) ao processo, agregam valor ao produto

realizando algum processo sob efeito de possíveis ruídos e por fim geram uma saída

ou output. Para Eckes (2003), no mapa do processo cada etapa deve conter:

1. Nome do processo;

2. Ponto de início e final de cada processo;

3. Saídas do processo;

4. Consumidores;

5. Fornecedores;

6. Entradas determinadas (inclusive ruídos);

7. Mostrar passos ou características importantes que ocorrem entre o início e

final do processo.

Figura 5 – Etapa de um processo Fonte: Próprio Autor

Cartas de controle: Segundo Eckes (2003), utilizam-se os dados da carta de

processo para definir os limites superior e inferior de controle. Os limites de controle

são os limites de variância esperados para o processo, e são representados com as

Processo

Inputs/Fornecedores Outputs/Consumidores

Ruídos

18

linhas pontilhadas na carta. Quando algum ponto ultrapassa essas linhas, diz-se que

o processo está “fora de controle” naquele ponto, ou seja, alguma causa especial

ligada aos 6 M´s gerou impacto no processo.

Figura 6 – Carta de Controle

Fonte: ECKES, 2003

As métricas que necessárias para verificar a eficácia são estabelecidas, e, além

de definir o que deve ser medido, nesta fase é importante criar um plano de coleta de

dados. Possivelmente, serão necessárias medidas de entrada (relacionadas à eficácia

do fornecedor); medidas de processo (eficiência do processo interno), por exemplo,

por isso a equipe deve conhecer o projeto e as métricas. (SANTOS, 2006)

Ferramentas estatísticas como Diagrama de Pareto e Cartas de Controle

auxiliam nesta fase. (ANDRADE, 2012).

Diagrama de Pareto: Para Andrade (2012), o Diagrama de Pareto é uma

adaptação da ferramenta originalmente apresentada por Vilfredo Pareto em 1897, que

apresenta graficamente a informação, de acordo com seu valor absoluto num eixo

vertical e quanto ao percentual do valor total no outro eixo vertical, tornando evidentes

os pontos onde os maiores ganhos podem ser obtidos. A análise da curva da

19

porcentagem acumulada ajuda a classificar os problemas relacionados à qualidade

em duas categorias:

Poucos Vitais (80%);

Muito Triviais (20%).

Deve-se concentrar num primeiro momento a atenção sobre os problemas

pouco vitais, já que estes resultam em grandes perdas para o negócio, apesar de

representarem um pequeno número de problemas.

Figura 7 – Diagrama de Pareto

Fonte: Próprio Autor

Matriz de Impacto vs. Esforço: Esta ferramenta apresenta de forma visual o

quão dispendiosa será a realização de determinada ação corretiva de uma causa raiz,

e compara com o benefício que a mesma trará se realizada, assim pode-se priorizar

as ações que trarão maior impacto com menor esforço, ou seja, terão a melhor relação

custo-benefício. O impacto refere-se ao resultado que a ação trará para a solução do

problema, enquanto o esforço representa o tempo gasto, o investimento necessário

e ao prazo de implementação da solução para aquela ação levantada. (ANDRADE,

2012)

20

Figura 8 – Matriz Impacto vs Esforço

Fonte: ECKES, 2003

1.1.3 ANALISANDO OS DADOS

Na etapa Analisar a equipe pode encontrar as causas do problema que

precisam de atuação. (ECKES, 2001)

Algumas ferramentas como Fluxograma, Mapeamento de processo,

Brainstorming (criação de uma lista de causas potenciais), Diagrama Causa e efeito,

Matriz de priorização, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), FTA entre outra, são

extremamente úteis nesta etapa. (ANDRADE, 2012)

É uma das etapas mais importantes, pois é nesta fase que se faz a descoberta

da causa raiz de um determinado problema. Realiza-se a análise dos dados coletados

e determinam-se as causas raízes dos defeitos, que geram oportunidades para

melhoria. Nesta fase também verifica-se o nível sigma dos processos e oportunidades

para melhoria. Muitas vezes ocorre uma visão preconcebida da razão do problema

pela equipe envolvida no projeto de melhoria, o que faz passar pela etapa de análise

de forma superficial, dando soluções precipitadas de melhoria. (SANTOS, 2006)

Análise de causas: Num primeiro momento realiza-se um brainstorming, onde

a equipe do projeto e alguns convidados propõe possíveis causas para o problema.

Todas estas sugestões passam pelo crivo da equipe do projeto, que com suas

Imp

acto

Esforço

Alto

Alto

Baixo

1

2

3

4

5

6

7

21

diferentes expertises, define quais causas de fato podem estar ligadas ao problema.

Uma vez que as causas mais prováveis foram elencadas, essas ideias são agrupadas

em função de similaridades e características comuns, pode-se usar o Diagrama de

Ishikawa (agrupa as causas nos 6 M´s) por exemplo, ou Diagrama de Afinidades, que

possibilita agrupamento por outros fatores. (ECKES, 2003)

Figura 9 – Diagrama de Ishikawa – Causa e Efeito

Fonte: EKCES, 2003

Figura 10 – Diagrama de Afinidades

Fonte: Próprio Autor

Máquina

Efeito

Meio Ambiente

Mão de Obra Material

Medida Método

Causa A

Causa C

Causa D

Causa E

Causa F

Causa G

Causa B

22

Teste dos 5 porquês: Quando se conduz a análise de causas de um

problema, deve-se montar uma frase que descreva o problema e então fazer

a pergunta “Por que?”. A resposta deve ser colocada em forma de uma

afirmação, e então um novo “Por que?” deve ser questionado e assim por

diante, até que chegue-se a uma resposta muito específica, que será a causa

raiz do problema. (ECKES, 2003)

Figura 11 – 5 porquês

Fonte:EMPRESA X

1.1.4 IMPLEMENTANDO AS AÇÕES

A etapa Implementar, reúne a soma das atividades que estão relacionadas às

soluções. Consiste em propor, avaliar e implementar soluções para cada problema

prioritário. (ECKES, 2001)

Segundo Noronha (2012, apud PARIS, 2002) a etapa Improve é quando ocorre

a implementação das soluções propostas. Utiliza-se a ferramenta 5W2H, que é uma

ferramenta para resolução de problemas, pois ela deixa bem claro todas as

responsabilidades das ações. É baseada na resposta das seguintes questões:

23

What (o que será feito);

Who (quem fará);

When (quando será feito);

Where (onde será feito);

Why (por que será feito);

How (como será feito);

How Much (quanto custará).

Figura 12 – Plano de Ação

Fonte:EMPRESA X

1.1.5 CONTROLANDO OS RESULTADOS

De acordo com Eckes (2001), o acompanhamento que garante que as medidas

implementadas trazem resultados sustentáveis é feito nesta etapa.

De acordo com Noronha (2012) nesta etapa pode se utilizar ferramentas como

gráficos de Pareto, gráfico sequencial, etc. e se o resultado obtido não for o esperado

deve-se retomar a etapa Measure.

24

2.2 Gestão de projetos

O gerenciamento de projetos é uma ideia relativamente antiga. Na atualidade,

a demanda dos negócios e a competitividade fazem com que organizações privadas

tenham que estruturar projetos muito complexos. O conhecimento de projetos

acumulado até o presente momento permite notar que, por mais diferentes que sejam

o objetivo e o tamanho dos projetos em diferentes indústrias, eles compartilham

algumas características comuns (DO VALLE, 2008).

Gerenciamento de projeto, pode ser descrito como a aplicação de

conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de

atender às demandas, sendo realizada por meio da integração dos seguintes

processos: iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle, e

encerramento (DO VALLE, 2008).

2.3 Classificação de fornecedores

Uma ferramenta útil para determinar a estratégia quanto a um produto ou

fornecedor é a matriz de Kraljic, que define critérios para a classificação dos

fornecedores de acordo com a importância para o negócio (FRANÇOIS, 2004).

A partir do conhecimento da equipe sobre a situação do mercado e a

importância do material em questão para o produto e a relevância do produto para o

negócio consegue se definir qual a característica do fornecedor para a empresa em

relação ao produto e negócio em questão.

25

Figura 13 – Matriz de segmentação de fornecedores Fonte: FRANÇOIS, 2004

2.4 Teste de Robinson

O teste de Robinson consiste em uma análise de odor, para classificar o

material recebido quanto à percepção de cheiro, e liberar ou não para consumo em

linha de produção. (EMPRESA X, 2010)

São coletadas 5 amostras de cartão, que são picados e distribuídos em 6

recipientes herméticos, que serão submetidos as análises de 6 colaboradores

treinados diferentes. Cada recipiente apenas será aberto pelo avaliador no momento

da análise e o indivíduo deve cheirar o recipiente logo após abrir e representar o odor

em notas de 0 a 4, considerando uma escala em que o 0 represente uma amostra

sem odor e 4 com odor muito forte. (EMPRESA X, 2010)

O limite para que um cartão seja aprovado neste sistema é que ele atinja no

máximo nota 2 na média das avalições, sem que haja nenhuma nota acima de 2.

(EMPRESA X, 2010)

2.5 Degustação

A degustação foi validada pela Garantia da Qualidade, de acordo com o método

Extreme Condition, onde o padrão é mantido em ambiente controlado a 10°C,

enquanto as amostras são mantidas a 28°C numa estufa. (EMPRESA X, 2010)

26

A avaliação contempla cinco rodadas, onde uma amostra e um padrão são

confrontados a 20%, 40%, 60%, 80% e 100% do tempo estipulado de 3 meses. A

amostra deve pelo menos similar ao padrão em todos os requisitos considerados para

que o material de embalagem seja considerado aprovado. (EMPRESA X, 2010)

Aparência, textura e sabor geral

Aroma

Sabor e odor de embalagem (cartão)

Foram escolhidos estrategicamente 2 produtos, um de chocolate com aroma e

outro de chocolate branco. Cada degustador deverá degustar 3 exemplares de cada

produto em condições distintas (embalagem perfeita, embalagem semi-aberta, sem

embalagem). O procedimento deve ser realizado tanto para o produto como para a

amostra, resultando num total de 12 degustações por avaliador, conforme esquema

abaixo.

As notas para cada atributo variam de -3 a 3, sendo que -3 significa que um

atributo é muito mais fraco na amostra que no padrão, 0 significa similaridade e 3

representa que o atributo é muito mais forte na amostra que no padrão para aquele

atributo. Para que a amostra seja considerada igual ao produto padrão, a média da

avaliação dos 6 degustadores envolvidos não pode estar fora da faixa de -1 a 1.

(EMPRESA X, 2010)

27

Figura 14 – Esquema de Avaliação Sensorial - Degustação Fonte: Próprio autor

2.6 Teste de transporte

O teste de transporte consiste em reproduzir com um pallet de material teste

um trajeto crítico de distribuição da mercadoria. No caso, a rota escolhida foi

encaminhar o pallet da fábrica ao CD de Feira de Santana – BA, onde o pallet passou

por operações logísticas comuns, e depois foi encaminhado ao CD de Fortaleza – CE,

onde foi avaliada a embalagem. (EMPRESA X, 2009)

Os processos logísticos aos quais o produto foi submetido são:

Push & pull – consiste em puxar a base do pallet de forma a movimentar

todo o arranjo das caixas e transferir para um novo pallet empurrando.

Picking – o arranjo das caixas é desmontado e remontado em outro

pallet de forma que as caixas que estavam em cima são passadas para

baixo e vice-versa.

Ao chegar no destino, as embalagens são avaliadas e cada unidade é

classificada em “bem dentro”, “dentro”, ou “fora”, representado a comparação entre a

28

condição da embalagem avaliada com o padrão, considerado produto perfeito. São

avaliados amassamentos, rasgos e descolamentos, e o índice de produtos “dentro”

dos requisitos de qualidade do teste deve ser igual ou superior ao padrão. (EMPRESA

X, 2009)

2.7 Teste de compressão

Este teste avalia quanto as caixas suportam antes de sucumbirem à carga.

Foram testadas 5 caixas padrão e 5 caixas de teste, e elas foram submetidas

individualmente a uma carga de 300 kgf, e foi medido o índice de deflexão

(amassamento) que cada caixa apresentava quando a carga chegava no limite. Vide

esquema a seguir. (DANTAS, 2014) (NBR 6739)

Figura 15 – Esquema do teste de compressão Fonte: Próprio autor

As caixas eram abertas e os produtos do interior eram classificados em “bem

dentro”, “dentro” ou “fora”, em relação ao padrão.

2.8 Maquinabilidade

O termo maquinabilidade é empregado para expressar o desempenho de um

material em máquina, ou seja, avalia a performance de um material quando utilizado

na linha de produção.

29

A maquinabilidade pode ser composta de diversos fatores dependendo do

processo, material em produto em questão, por exemplo, pode-se considerar a

hermeticidade da selagem da embalagem, o tempo de setup, etc. Para o caso foram

considerados:

Índice de pequenas paradas: índice que expressa a somatória dos tempos de

cada pequena parada operacional para atividades específicas de embalagem, por

exemplo desenroscar uma caixa, limpar um aplicador de adesivo, etc.

Perda de material de embalagem: representa o percentual de perda de

material de embalagem, a partir da relação da quantidade de refugo gerada com a

quantidade calculada, considerando perda zero no processo.

30

3. METODOLOGIA

Esse trabalho se baseia num estudo de caso para demonstração da forma com

que foi feita a gestão do projeto em relação às suas etapas e processos sucessivos,

bem como a aplicação de ferramentas de Seis Sigma para validar as conclusões

empíricas. O projeto foi gerenciado a partir de uma EAP, e subjetivamente cada etapa

foi ligada às etapas do DMAIC, o que conferiu ao projeto o embasamento necessário

e suficiente para a conclusão.

Foram realizadas as ações para desenvolvimento de fornecedores e de

materiais conforme as normas internas da empresa, e em momentos específicos,

conforme a necessidade e aplicabilidade, a equipe lançou mão de ferramentas do

DMAIC para embasar as decisões, ajudar na análise estatística dos resultados e

análise de causas de possíveis problemas que poderiam ocorrer durante a execução

do projeto.

3.1 Termo de abertura do projeto

O termo de abertura do projeto, aqui chamado de contrato do projeto, foi

enviado pelo setor de compras, solicitando o desenvolvimento de uma alternativa

nacional à matéria-prima usada na embalagem da caixa de bombons sortidos, pois

até então trabalhava-se com um único fornecedor de papel cartão, que era chileno.

O brief sugeria que o fato de o único material validado para a aplicação em

questão ser importado acabava trazendo alguns entraves: o setor de compras ficava

restrito, por procedimentos internos, a apenas um fornecedor (o que aumentava o

preço pago no cartão pelo fato de não haver concorrência) e o setor de planejamento

de produção, ficava limitado a algumas manobras de produção que são necessárias

em um mercado cada vez mais dinâmico, devido a um maior lead time de entrega em

relação a um produto nacional e questões governamentais. Com a homologação de

um novo fornecedor seria possível obter saving por negociação direta em função da

abertura de concorrência entre os fabricantes, e haveria uma maior flexibilização do

abastecimento para casos em que houvesse demanda urgente do material.

31

Figura 16 – Contrato do Projeto

Fonte: Empresa pesquisada

3.2 Definição do escopo

O foco do projeto foi colocado no fabricante de cartão (que era único), e que

não é fornecedor direto da empresa. O cartão ainda deve passar pelo processo de

impressão, que é feito em duas empresas chamadas “convertedoras”, responsáveis

por imprimir a arte do produto no cartão, vincar e cortar e entregar as peças prontas

para serem utilizadas na linha de produção.

32

Figura 17 – Escopo do Projeto. Fonte: Próprio Autor

Partindo-se do princípio de que o novo material homologado não deveria alterar

nenhuma das características do produto já existente e nem da linha de produção, ou

seja, deveria ter comportamento similar ou melhor que o material usual, definiu-se que

a decisão sobre a validação ou não do novo cartão se daria com base em 3 frentes

de avaliações:

Características Sensoriais – o cartão seria submetido a 2 testes

sensoriais:

Teste de Robinson – teste de odor, onde cinco amostras em cada

lote do cartão são submetidas a no mínimo seis avaliadores, que

devem detectar se há alguma alteração no odor do material

recém-recebido em relação ao padrão.

Degustação – seis degustadores devem degustar duas

variedades específicas de bombons, consideradas críticas em

termos de absorção de odores externos, de uma amostra versus

um padrão, e decidir se há diferença significativa.

Resistência ao Transporte – o novo material deveria ser submetido a um

teste de transporte, simulando uma carga regular de linha, em um trajeto

considerado o pior cenário para transporte em termos de distância

percorrida e condição da estrada. A resposta desejada é que o produto

33

chegasse ao destino com a qualidade e apresentação visual do produto

padrão.

Maquinabilidade – o cartão deveria apresentar comportamento em linha

igual ou superior ao material comum nos seguintes critérios:

Perda de material de embalagem – a % de perda de material de

embalagem em relação à quantidade teórica de perda deveria se

manter estável ou apresentar melhora.

Índice de pequenas paradas – o índice de pequenas paradas que

ocorrem na linha para limpezas em pontos específicos ou

intervenções operacionais, concernentes direta ou indiretamente

ao cartão, deveria se manter estável.

Além do exposto, o projeto traria uma carga de responsabilidade social, pois

envolve a redução da gramatura do papel utilizada de 2%, o que significa menor

consumo de papel. Embora ambas as alternativas de cartão sejam oriundas de fontes

sustentáveis, a quantidade em kgs de lixo gerado é reduzida.

3.3 Formação da equipe

Foi formada uma equipe multifuncional, com representantes dos setores de

Garantia da Qualidade, Manutenção, Compras, Produção e Desenvolvimento. Esta

variedade de expertises permitiu que possíveis problemas fossem antevistos e as

devidas ações mitigadoras fossem tomadas.

Houve interação com o setor de Melhoria Específica para garantir a correta e

adequada aplicação das ferramentas.

3.4 Cronograma

O cronograma da evolução do projeto em relação ao desenvolvimento de

fornecedor e material foi proposto em acordo com a necessidade do mercado,

disponibilidade das linhas e setores envolvidos, respeitando prazos de atividades de

acordo com recomendações e normas internas.

34

Ele foi divido por ações, considerando os prazos para execução das mesmas,

e elas foram ligadas às fases do DMAIC de acordo com a proposta da metodologia.

Figura 18 – Cronograma do Projeto

Fonte: Próprio autor

3.5 Implementação das ações

A ação macro do projeto é a realização de teste industrial para validar o cartão.

Dos testes saem amostras para realizar as avaliações sensoriais e teste de transporte,

e é neles que são identificados possíveis problemas de maquinabilidade que

pudessem influenciar na performance da linha de produção.

Os testes foram realizados de forma escalonada para que não houvesse

prejuízo aos indicadores da linha.

Num primeiro momento, realizou-se um teste com aproximadamente 20.000

cartuchos, o que representa aproximadamente 3 horas de produção em uma das

quatro linhas. Este teste deu origem às amostras para análise sensorial e ao pallet

que seguiu para teste de transporte, e foi um indicativo do comportamento do novo

material em linha, que foi satisfatório.

35

O segundo teste teve maior abrangência (pois envolveu duas linhas) e duração

de 5 dias, também apresentando resultado positivo. Ele deu origem a um novo pallet

para teste de transporte, como será melhor detalhado no próximo capítulo.

O terceiro e definitivo teste teve duração de 15 dias em todas as linhas. O intuito

deste teste long run era simular uma situação real de abastecimento contínuo da linha

com o material testado. Como cartões são muito suscetíveis a absorção de umidade

e variação de resistência, era importante realizar um ensaio que representasse essas

variações ao longo do tempo. O resultado deste teste foi principalmente a obtenção

de dados mais representativos quanto ao desempenho da linha, que pudessem ser

comparados aos dados históricos para embasar a homologação do material.

3.6 Mapa do processo

Com a observação do comportamento do material no primeiro teste, foi possível

elaborar o mapa do processo, estabelecendo os principais pontos de atenção.

O processo pode ser descrito em 5 macro etapas:

Formadora – neste momento o cartão recebido em chapas ganha

formato de caixa, a partir da ação mecânica de um braço, que pressiona

o que será o centro da caixa num sentido, enquanto uma manga empurra

o que serão as paredes da caixa no sentido oposto. Há um aplicador de

adesivo posicionado para colar as abas da caixa.

Dosadora – paralelamente, os bombons de diferentes variedades

colocados em caçambas são contados automaticamente conforme

programação da máquina e vão para canecas. Cada caneca contém o

mix certo de produtos para uma caixa.

Fechadora – a fechadora consiste num conjunto de guias que fecham a

tampa da caixa, e colam a aba de fechamento. Neste ponto, conforme

as esteiras vão transportando as caixas, guias metálicos fazem pressão

no sentido de abaixar a tampa e outros guias dobram a aba já com

adesivo aplicado, para que a caixa seja fechada.

Envoltório – nesta etapa o material é envolvido em plástico para receber

uma barreira a umidade e evitar infestações.

36

Acondicionamento – fase onde as caixas já prontas são colocadas em

caixas de papelão e o pallet de produto terminado é montado.

Figura 19 – Fluxo crítico do processo Fonte: Próprio autor

As etapas de formação e fechamento são as críticas para a validação, pois

nestes pontos o cartão tem maior efeito sobre a performance da linha. Estes são os

dois pontos onde os dados de perda de material e índice de pequenas paradas é

coletado.

Formadora

Display de Papel cartão Displays formados

Qualidade do cartão

Velocidade da máquina

• Perda de material de embalagem

• Índice de pequenas paradas

Fechadora

Displays fechados

• Qualidade do cartão • Regulagem dos guias • Amassamento de

displays Dosadora Bombons variados

Programação errada da máquina

Displays com produto

Mix de bombons

37

4. RESULTADOS

Com a realização dos testes e avaliação dos parâmetros definidos previamente,

pôde-se concluir que o cartão apresentou comportamento satisfatório em todos os

quesitos após algumas adequações que já estavam previstas.

4.1 Teste de Robinson

O material foi aprovado neste quesito, sendo que 80% das avaliações tiveram

o melhor resultado possível, o pior resultado foi nota 1 em 20% das avaliações. O

cartão usual apresentou no mesmo período apenas 59% de notas 0.

Figura 20 – Gráfico Teste de Robinson Fonte: Próprio autor

4.2 Degustação

Foram definidos dois produtos críticos para a avaliação, um de chocolate

branco que é mais suscetível a incorporar odores externos e a migração de tinta da

impressão para o produto é mais perceptível, e outro que tem aroma característico,

que não poderia ser mascarado pelo odor do cartão.

59%

38%

3%

80%

20%

-1 0 1 2 3

Padrão Teste

38

Segundo o esquema acima, os resultados foram satisfatórios, sendo que não

houve diferença significativa entre amostra e padrão para nenhum dos dois produtos,

em nenhuma das condições de embalagem.

Abaixo segue uma representação gráfica dos resultados obtidos com a

degustação dos produtos. Observa-se que a maior diferença detectada pelos

degustadores foi uma diferença mínima (nota 1) e na última tiragem houve também

uma diferença, porém dentro da faixa esperada e considerada normal.

Figura 21 – Resultado de Avaliação Sensorial - Degustação Fonte: Próprio autor

4.3 Teste de transporte

O produto foi reprovado no teste, pois apresentou alto índice de defeitos. As

caixas de expedição encontravam-se amassadas, especialmente nas primeiras 2

camadas do pallet, e esse amassamento acabou sendo transferido para o cartão.

Algumas caixas também estavam molhadas e rasgadas.

39

Figura 22 – Resultado Teste de Transporte Fonte: Próprio autor

Com isso, foi feito um brainstorming, que deu origem a um diagrama de

Ishikawa, onde as possíveis causas levantadas foram relacionadas aos 6 M´s.

Figura 23 – Diagrama de Ishikawa Fonte: Próprio autor

Estas possíveis causas foram então agrupadas num diagrama de afinidades

segundo os 3 M´s levantados (Material, Mão de Obra e Método).

Nem todas as causas foram tratadas ou investigadas. Estas ideias foram

submetidas a uma análise crítica da equipe do projeto, que definiu quais possíveis

50,3%

30,9%

18,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

Bem dentro Dentro Fora

Teste de Transporte

40

causas eram as mais plausíveis para explicar o problema ocorrido no teste de

transporte.

Figura 24 – Diagrama de Afinidades - Material Fonte: Próprio autor

Figura 25 – Diagrama de Afinidades - Método Fonte: Próprio autor

41

Figura 26 – Diagrama de Afinidades – Mão de obra Fonte: Próprio autor

Concluiu-se que o evento foi pontual, e o amassamento das caixas que originou

os defeitos foi causado por transporte inadequado. O pallet foi transportado ao lado

de um pallet muito baixo, e durante o transporte com a vibração do caminhão e os

solavancos, isso fez com que as caixas tombassem para os lados, colocando seu

peso sobre as caixas do lastro inferior do pallet, e especialmente as das laterais (as

caixas do meio do arranjo estavam praticamente intactas).

Assim, duas ações principais foram tomadas:

Repetição do teste – desta vez foram enviados para o teste dois pallets,

um contendo produto padrão e outro o teste para comparação. As

amostras foram retiradas da segunda rodada de teste industrial. O

resultado foi satisfatório, pois colocando um cartão em comparação ao

outro eles apresentaram o mesmo comportamento durante o transporte,

sendo que o resultado do cartão teste foi até melhor que do padrão, com

1,5% de amassamento contra 2,8% do padrão.

Teste de compressão – Concluiu-se que o cartão tem influência na

resistência das caixas, sendo que o padrão é mais resistente que o teste,

porém o cartão em desenvolvimento é mais maleável e resiliente, de

forma que ele retoma a aparência inicial, voltando a assumir a condição

de “dentro”, enquanto o cartão padrão uma vez amassado, permanece

nessa condição, e é classificado como “fora”.

42

Após as ações terem sido tomadas, comprovou-se que o cartão testado era

comparável ao cartão padrão.

4.4 Maquinabilidade

Embora os primeiros dias de teste tenham sido ruins em relação a

maquinabilidade, após as adequações feitas especialmente nas formadoras e

fechadoras, na média o resultado foi satisfatório.

As diferentes condições do material impactaram na performance da formadora

nos primeiros dias, pois como a espessura era diferente, a máquina acabava puxando

mais de uma folha por vez, o que gerava uma pequena parada e perda do material de

embalagem, uma vez que a folha que havia caído no chão deveria ser descartada. O

ajuste do “magazine”, que é o conjunto de guias que alinha os cartões e abastece a

formadora, foi decisivo para que a linha recuperasse o desempenho anterior.

No caso das fechadoras, a menor resistência do cartão fazia com que o mesmo

fosse amassado pelos guias ao invés de ser dobrado no vinco. Desta forma gerava-

se paradas na máquina e a caixa devia ser descartada inclusive com os bombons

dentro, o que trouxe um enorme desperdício e aumento da varredura. A solução foi

colocar os guias em uma posição diferente, para que ficassem mais próximos ao

vinco, de forma que a força então era aplicada na posição correta, não no meio da

tampa.

Figura 27 – Representação da geração de defeitos na formadora Fonte: Próprio autor

Fonte:

43

Figura 28 – Evolução de Pequenas Paradas Fonte: Empresa pesquisada

Figura 29 – Representação da geração de defeitos na fechadora Fonte: Próprio autor

Figura 30 – Evolução de Perda de Material Fonte: Empresa pesquisada

44

4.5 Validação

Com a conclusão de todas as ações do projeto, verificou-se desempenho muito

similar entre o material testado e o material padrão. Pequenas diferenças ocorreram,

mas na maioria elas foram favoráveis ao cartão em desenvolvimento.

Sensorialmente a qualidade surpreendeu, sendo que a Garantia da Qualidade

validou a utilização do novo material com base nos relatórios de teste de Robinson e

da degustação.

O setor de desenvolvimento, validou a utilização do cartão teste em função do

teste de transporte. Mesmo com o primeiro teste tendo fracassado, percebeu-se que

o problema havia sido pontual e de todas as outras hipóteses levantadas durante a

análise de causa, as mais plausíveis foram investigadas e concluiu-se que não eram

reais. A partir da repetição do teste de transporte, de forma comparativa e do teste de

compressão que veio a comprovar o resultado do teste de transporte, o cartão foi

aprovado.

A produção também validou a utilização do novo cartão pois todos os

indicadores de performance da linha se mantiveram estáveis na mesma faixa, ou com

alguma melhora.

Portanto, as ações do projeto permitiram a homologação do novo material, de

forma que os problemas apresentados no início do trabalho, em relação a

preocupação com custo e facilidade de abastecimento, atualmente estão sob controle.

O modelo serviu para validação de materiais de embalagem para outros produtos, que

agora tem além do material usual, uma alternativa validada para o caso de falta de

abastecimento.

45

5. CONCLUSÃO

Com base no exposto, percebemos que a gestão do projeto foi executada de

acordo com a metodologia proposta, desde a elaboração da EAP, que mapeou

corretamente as fases do projeto e as tarefas que seriam entregas de cada fase,

passando pela formação da equipe do projeto, definição dos parâmetros críticos para

validação, e ferramentas utilizadas.

Concluiu-se que projetos de desenvolvimento, que naturalmente seguem o

formato da EAP, ou seja, possuem entregas características de cada fase, e gates que

validam uma fase antes que se entre na fase seguinte, são uma estrutura que permite

integração com ferramentas estatística, que são cruciais para tomada de decisão por

apresentarem provas irrefutáveis para os resultados das ações, de forma que eles são

demonstrados com fatos e dados, não empiricamente como usa-se fazer.

Foi possível provar que os líderes de projetos podem possuir uma “caixa de

ferramentas” estatística, de qualidade e de análise de causas, e usá-la conforme sua

aplicabilidade nas tarefas de projetos que seguem outras linhas de raciocínio.

46

6. REFERÊNCIAS

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