radiologia: o primeiro passo para a cura -...

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Agosto Edição nº06 Distribuição a Nível Nacional com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente. Radiologia: o primeiro passo para a cura

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Radiologia: o primeiro passo para a cura

2 Perspetivas Agosto 2016

Editorial

Saúde: componente humana e tecnológica

Sujeito às alterações e influên-

cia de diferentes correntes e cir-

cunstâncias políticas, económi-

cas e sociais, a organização do

SNS foi sofrendo inevitáveis mu-

tações e (re)organizando-se me-

diante os problemas identifica-

dos ao longo das décadas, sem-

pre com vista à promoção da

Saúde Pública.

Em 2014, no âmbito da atua-

ção do Ministério da Saúde, foi

gerado o Fundo para a Investi-

gação em Saúde, cuja intenção

visa “fortalecer as atividades de

investigação para a proteção,

promoção e melhoria da saúde

das pessoas e, assim, obter ga-

nhos em saúde”.

A investigação é deste modo

um investimento considerado

crucial na melhoria contínua da

qualidade, formação de profissio-

nais e projeção internacional de

Portugal numa área de grande

competitividade, onde os benefí-

cios com a produção de conheci-

mento são amplamente significa-

tivos. Esta aposta tem permitido

ao país alicerçar o seu prestígio,

através da conquista de títulos

de Centros de Referência nos

mais diferenciados Serviços de

Norte a Sul, prova do reconheci-

mento e da competência expo-

nencial na prestação de cuidados

inovadores de saúde, aliados à

concentração de recursos técni-

cos e tecnológicos.

Aliás, faz parte integrante do

programa do atual Executivo a

assunção de uma série de medi-

das fundamentais “como o aper-

feiçoamento da gestão dos recur-

sos humanos e a motivação dos

profissionais, através da melho-

ria da articulação entre as fun-

ções assistenciais, de ensino, de

formação pré e pós-graduada e

de investigação em Universida-

des, Institutos Politécnicos e La-

boratórios de Estado e, na área

do Ensino Superior, a reativação

de um pacto de confiança esti-

mulando uma melhor integração

entre ensino e investigação”.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi criado em Portugal no ano de

1979 com o intuito de implementar uma rede de instituições e

serviços prestadores de cuidados globais de saúde a toda a população,

sendo o Estado a imagem da salvaguarda dos direitos de proteção da

saúde dos cidadãos.

Propriedade: Página Exclusiva – Publicações Periódicas, Lda • Telefones: 22 502 39 07 / 22 502 39 09 • Fax: 22 502 39 08 • Site: www.perspetivas.pt • Email: [email protected] • Gestores de Processos Jornalísticos: José Ferreira e Nuno Sintrão • Periodicidade: Mensal • Distribuição: Gratuita com o Jornal “Pú-blico” • Depósito Legal: 408479/16 • Preço Unitário: 4€ / Assinatura Anual: 44€ (11 números)

Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins sem autorização do editor. A paginação é efetuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos do suplemento e o editor não se responsabiliza pelas inserções com erros ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes.

Neste seguimento, a atuação

dos Hospitais-Escola revela-se

fulcral na prestação de serviços

de qualidade, na formação de In-

ternos especialistas (nacionais e

estrangeiros), assim como no

âmbito da investigação e da pu-

blicação de estudos e artigos de

visibilidade internacional.

Estes Hospitais Universitá-

rios, aliando a Saúde ao Saber,

constituem-se uma estrutura

integrada de assistência, ensi-

no e investigação médica,

apoiada em tecnologia de pon-

ta, que tem como principal ob-

jetivo o avanço e a aplicação do

conhecimento científico no dia-

-a-dia das Instituições de saúde

públicas.

Nesta edição do Perspetivas,

apresentamos-lhe esta realidade,

através do contacto direto com

Serviços de Saúde e de Socieda-

des de diferentes especialidades

que têm conquistado um estatu-

to de referência dentro e fora de

portas.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 3

Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear

Radiologia e Medicina Preventiva

“Esta é uma especialidade esti-

mulante, muito dependente e

avançada em termos tecnológi-

cos”, descreve o nosso interlocu-

tor. Contudo, na relação médico-

-doente, raramente existe um con-

tato estreito com o radiologista,

pelo que o seu verdadeiro papel

nos cuidados de saúde é muitas ve-

zes desconhecido. É no entanto de

realçar que a função diagnóstica é

um importante vetor da Radiolo-

gia, sendo muitas vezes fulcral o

papel destes profissionais na defi-

nição do tratamento a aplicar. Um

radiologista que produza um exce-

lente relatório pode ter a capacida-

de de salvar uma vida”, realça.

Radiologia: um universo a conhecer

A Radiologia tem um enorme

peso na prestação de cuidados de

saúde em Portugal, dividindo-se

em duas vertentes fundamentais:

diagnóstica e terapêutica. Esta é

uma atividade que cresceu expo-

nencialmente a partir da década de

70 com o aparecimento da imagem

seccional, TC – Tomografia Com-

putorizada, Ressonância Magnéti-

ca e Ecografia. “Hoje, passados 40 anos, verificamos que a Radiologia reescreveu a história da Medicina

através do aparecimento de novas

técnicas. Se há umas décadas os

doentes eram operados sem a no-

ção prévia do que padeciam, hoje a Radiologia possui meios de diag-

nóstico que permitem detetar a

doença numa fase potencialmente

curável, sobretudo no caso das

doenças oncológicas”, relata-nos.

Na atualidade a Radiologia é ca-

paz de medir processos biológicos

facto que permite adaptar as formas

de tratamento – o que vulgarmente

se designa por Medicina Personali-

zada. “Assim, a Radiologia não se

apresenta confinada à sua função diagnóstica de base primária, mas

tem elevado valor no acompanha-

mento da resposta terapêutica”.

Estando muito dependente do

desenvolvimento tecnológico, a

Radiologia é por inerência uma das

primeiras especialidades a incor-

porar as novidades clínicas. Este

“mundo fascinante”, como descre-

ve o nosso interlocutor, abriu

imensas portas incluindo no cam-

po da Medicina Preventiva.

A especialidade apresenta-se na

atualidade não só como “capaz de,

em doentes com suspeita de can-

cro, detetar a doença em fase pre-

coce como ainda gerar informação

funcional que ajuda a determinar qual o prognóstico individual de

cada paciente”, elucida-nos Filipe

Caseiro Alves.

No que concerne à vertente tera-

pêutica, a Radiologia utiliza, entre

outros, micro-materiais que per-

mitem efetuar tratamentos mini-

mamente invasivos, por exemplo

através da corrente sanguínea, in-

troduzindo fármacos por via vas-

cular. Hoje, ao passarmos da cirur-

gia imediata para estes métodos

mini-invasivos, a comunidade mé-

dica já não ambiciona só diagnosti-car o cancro, mas também preve-

nir o seu aparecimento.

Cancro colo-retalFilipe Caseiro Alves, professor

catedrático e regente da cadeira de

Radiologia na Universidade de

Coimbra, fala-nos sobre uma nova

técnica que tem vindo a ser mun-

dialmente utilizada no âmbito da

prevenção do cancro colo-retal,

também o mais comum em Portu-

gal. É preciso perceber que na es-

magadora maioria dos casos o pa-

ciente antes de desenvolver um

cancro do cólon apresenta pólipos,

pequenas lesões da mucosa que

irão demorar alguns anos até pas-

sar ao estado de tumor maligno.

O especialista foca o seu discurso

na técnica de colonoscopia virtual

ou colonografia, desenvolvida no fi-

nal da década de 90, e “que consiste

na reconstrução da imagem de todo

o cólon de modo a este possa ser es-

tudado com acesso a tomografia computorizada”. Com este meio, pe-

la primeira vez, a Radiologia estuda

com grande detalhe o interior do co-

lon, sem ter que recorrer a técnicas

mais invasivas. O cólon é insuflado com dióxido de carbono de forma a

permitir uma análise minuciosa do

seu interior, possibilitando a dete-

ção daquelas lesões pré-malignas.

“Esta é uma técnica extremamente

relevante que pode ser usada na pre-

venção do cancro colo-retal. O pa-

ciente pode realizar a colonoscopia

virtual em ambulatório, o que demo-

ra entre 10 a 15 minutos, não sendo

necessário recorrer a anestesia ou

sedação”, explica.

Esta técnica, que no nosso país

ainda é menos conhecida pela popu-

lação em geral, é usada em alguns

países em programas de rastreio co-

mo sucede em Piemonte, Itália, on-

de foi comprovada a sua relação cus-

to/eficácia. Filipe Caseiro Alves, apoia-se em artigos científicos lan-

çados até à data por centros euro-

peus e norte-americanos que confir-

mam ser este “um método competi-

tivo, com a mesma equidade de

diagnóstico, sensibilidade e especifi-

cidade na deteção dos pólipos”,

comparativamente com a colonos-

copia ótica tradicional.

Mas porque não utilizar a colo-

noscopia virtual como exame de ras-

treio em Portugal? Questionámos. O

especialista considera que, efetiva-

mente, se pode e deve levantar a dis-

cussão sobre a sua utilidade pública.

“Será pelo menos necessário dar a

conhecer à população em geral que a colonoscopia virtual é também uma

técnica muito importante no arma-

mentário das técnicas de prevenção

do cancro colo-retal”.

O presidente da SPRMN lança o

repto junto da população: “Os pa-

cientes têm todo o direito de esta-

rem informados sobre a existência

de novas técnicas de prevenção do

cancro colo-retal com eficácia cientí-fica comprovada e, como tal, de par-

tilhar a decisão de realizar este ou

aquele teste, na posse de todo o co-

nhecimento atual a este respeito.

Julgo ser esta a atitude que o público

espera de todos os profissionais que desejam contribuir seriamente para o bem estar em saúde”, sublinha.

Filipe Caseiro Alves, presidente da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), realça a importância do papel da radiologia na deteção precoce de várias doenças, lançando a discussão sobre o cancro colo-retal.

Saúde

4 Perspetivas Agosto 2016

Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear

Diagnóstico de cancro da mama

Quais os principais fatores de risco que devem ser considerados no âmbi-to do cancro da mama?

O cancro da mama é o mais co-mum na mulher e 1 em 8 mulhe-res terá um diagnóstico de cancro da mama ao longo da vida. A sua incidência tem vindo sempre a aumentar ainda que se tenha ve-rificado um decréscimo na mor-talidade desde o início dos anos 90 com a implementação dos programas de rastreio.

Há fatores de risco que não são modificáveis, como o género, a ida-de, a história familiar e genética e, há fatores de risco modificáveis co-mo o controlo do peso, atividade fí-sica, o álcool, o tabaco, as terapêu-ticas hormonais, a exposição a ra-diações, a gravidez e a amamenta-ção. Uns protegem, como a gravidez e a amamentação e outros agravam o risco como o excesso de peso que aumenta o nível de estro-génios levando a um desequilíbrio hormonal. Corrigir estes fatores de risco adotando um estilo de vida mais saudável, são formas de evi-tar a doença (prevenção primária).

No entanto, só em 30 a 40% dos cancros da mama é que se conseguem identificar os fatores

de risco. Os restantes 60 a 70% acontecem de forma esporádica e sem fatores de risco identificáveis e a única forma de atuar é através da prevenção secundária, isto é, da deteção precoce da doença e com isso contribuir para reduzir a mortalidade e aumentar a qua-lidade de vida. Quanto mais cedo for a deteção, maior é a sobrevida e a possibilidade de cura com tra-tamentos menos agressivos.

Em 15 a 20% dos casos há his-tória familiar de cancro da mama e em 5 a 10% há uma mutação ge-nética identificada constituindo um grupo específico de alto risco, muito superior ao da população em geral e que requer medidas especificas de prevenção.

Qual a importância do trabalho do ra-diologista no que concerne à preven-ção desta patologia?

A mamografia continua a ser a técnica de eleição da deteção pre-coce do cancro da mama na po-pulação em geral e a utilizada nos programas de rastreio de base populacional. Na Europa, a maio-ria dos programas de rastreio com mamografia são dirigidos aos grupos etários dos 45-50 aos 70-74 anos, onde a incidência é mais alta e o benefício do rastreio é superior. Estes programas de rastreio demonstraram benefício na redução da mortalidade pela doença superior a 20%, superan-do potenciais inconvenientes, co-mo o risco de sobrediagnóstico.

A eficácia de qualquer programa de rastreio depende da sua meto-dologia e de um rigoroso programa de controlo de qualidade. A quali-dade da Mamografia e sua repro-dutibilidade são essenciais, sendo

por isso que atualmente, os pro-gramas de rastreio utilizam mamo-grafia totalmente digital, o que contribuiu para um aumento na ta-xa de deteção de cancros da mama.

Alguns dos inconvenientes do rastreio populacional estão asso-ciados aos cancros não identifica-dos nos padrões mamários mais densos. Estes inconvenientes po-dem ser minimizados com a in-trodução de novas tecnologias co-mo a Tomossíntese.

A Tomossíntese representa um avanço tecnológico da mamogra-fia digital que permite obter, em vez de uma única imagem 2D, múltiplos planos de 1 mm de es-pessura da mama, contribuindo para uma imagem 3D. Com este método, reduz-se substancial-mente o risco de erro de perceção ou interpretação. O primeiro equipamento aprovado com esta tecnologia data de 2011 e os estu-dos clínicos realizados e publica-dos desde então, indicam que a Tomossíntese terá um grande im-pacto em rastreio com um au-mento da taxa de deteção de can-cros da mama/mulheres rastrea-das de 6/1000 para 8/1000.

O aumento da taxa de deteção, entre outras vantagens, fazem da Tomossíntese a tecnologia do futu-ro na deteção precoce do cancro da mama e, atualmente, já existem programas de rastreio europeus a incorporarem esta tecnologia.

Nos grupos de alto risco, como as portadoras de mutação genética (BRCA1 ou 2), por se tratarem de mulheres mais jovens e com pa-drões mamários mais densos, a técnica de eleição para a deteção precoce é a Ressonância Magnética (RM), uma vez que é independente

da densidade mamária e não utili-za radiação ionizante. As recomen-dações incluem a realização anual de RM e de mamografia a partir dos 25 – 30 anos de acordo com as orientações da Clinica de Risco Fa-miliar no IPOLFG.

Quais as técnicas de confirmação do diagnóstico e de que modo têm permi-tido minimizar os riscos para o doen-te?

Perante uma alteração identifi-cada na mamografia, o primeiro exame para confirmar a presença dessa alteração e que pode forne-cer informação adicional é a Eco-grafia.

Esta é uma técnica complemen-tar da mamografia e a primeira es-colha em mulheres jovens, permi-tindo confirmar ou excluir a pre-sença de uma alteração suspeita pela mamografia e orientar a reali-zação de uma biópsia para a obten-ção do diagnóstico definitivo.

Existem diferentes tipos de biópsia e a sua escolha depende das características da alteração detetada que condiciona a quan-

tidade de tecido necessário para o diagnóstico. Estas biópsias por sua vez podem ser realizadas com o apoio de Ecografia, Mamografia ou Ressonância Magnética.

A biópsia permite confirmar a benignidade de uma alteração e assim reduzir a ansiedade e as in-dicações para cirurgia, evitando cirurgias por patologia benigna. E, por outro lado, permite confir-mar a malignidade de uma alte-ração suspeita, possibilitando o planeamento terapêutico ade-quado e atempado.

A Radiologia intervém em to-das as etapas da evolução da doença, sendo determinante na deteção precoce e na confirmação do diagnóstico, mas também no estadiamento, no tratamento e no seguimento após a terapêuti-ca. Esse contributo é parte de uma abordagem multidisciplinar em que intervêm outras especia-lidades e a própria paciente, sen-do o tratamento personalizado em função das características do tumor, do órgão, dos fatores de risco e da própria paciente.

José Carlos Marques, assistente graduado, é

responsável pela Unidade de Radiologia

Mamária do IPOLFG. Mestre em Senologia e

Patologia Mamária pela Universidade de

Barcelona é vice-presidente da Sociedade

Portuguesa de Senologia e coordenador da

Secção de Senologia da SPRMN. Em entrevista

ao Perspetivas fala-nos sobre a radiologia no

cancro da mama.

Mamografia 2D Tomossíntese 3D

Na mamografia 2D não se deteta nenhuma alteração, enquanto com a Tomos-síntese identifica-se com facilidade um pequeno carcinoma da mama (seta).

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 5

Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear

A cura parte do diagnóstico precoce

Quais os principais fatores de risco que devem ser considerados no âmbito da doença cardiovascular?

A doença cardiovascular é, nas so-

ciedades modernas, a principal cau-

sa de morte e de morbilidade (se-

quelas de doença). Na Europa é a

responsável pela morte de 43% de

mulheres e 36% de homens antes

dos 75 anos de idade.

A maioria dos fatores de risco pa-

ra a doença cardiovascular, não pro-

voca sintomas “per se”, mas contri-

bui de forma relevante para o dano

acelerado dos nossos vasos. Neste

âmbito, a medicina preventiva tem

um dos seus maiores contributos.

Poderemos considerar fatores

de risco cardiovasculares modifi-

cáveis, como a hipertensão arte-

rial, a dislipidémia (alterações da

gordura do sangue), o excesso de

peso, a diabetes e o tabagismo; e

não modificáveis como o género masculino, a idade e fatores gené-

ticos.

Como se calcula o risco cardiovascular?O seu médico assistente tem dis-

poníveis fórmulas clínicas de avalia-

ção de risco de evento cardiovascu-

lar (morte de causa cardiovascular,

enfarte do miocárdio, AVC, etc), que

têm em consideração alguns dos fa-

tores de risco descritos.

Este cálculo de risco serve para

decidir a necessidade de medidas de

prevenção primária (medidas que

têm por objetivo impedir um pri-

meiro evento cardiovascular), em

indivíduos assintomáticos e sem

doença cardiovascular conhecida.

No que concerne à prevenção quais as boas práticas que devem ser adotadas no dia-a-dia pela população?

Devem ser adotadas medidas de

prevenção de doença cardiovascu-

lar: hábitos de vida saudável, como o

exercício físico regular (30/60 mi-

nutos diários ou 2,5 a 5 horas por se-

mana), uma dieta equilibrada (po-

bre em gorduras saturadas, com <5g

de sal/dia, e rica em fibras, frutas e vegetais) e a cessação tabágica.

Poderá ser necessária medicação

regular para controlo do risco ou de

fatores de risco cardiovascular.

Quais as técnicas mais avançadas na de-teção precoce e de que modo têm permi-tido minimizar os riscos para o doente?

Quanto mais precisa for a capaci-

dade de calcular o risco cardiovascu-

lar, melhor se poderá efetuar a pre-

venção dos eventos e melhor se po-

derão alocar os recursos financeiros (comparticipar o custo da medica-

ção nos indivíduos que realmente

precisam e diminuir os custos do

tratamento dos doentes/eventos,

por diminuição do número de even-

tos).

A avaliação clínica do risco cardio-

vascular não é perfeita. Não tem em

linha de conta o tempo a que o indi-

víduo esteve sujeito aos fatores de

risco, nem o seu cunho genético,

avaliado em parte pela história fami-

liar de doença cardiovascular. É fácil

de entender que um mesmo indiví-

duo sujeito a 20 anos ou a 2 anos ao

mesmo valor de hipertensão arterial

terá repercussão vascular diferente.

Também se percebe que indivíduos

diferentes sujeitos ao mesmo fator

de risco, com a mesma intensidade e

duração, terão repercussões vascu-

lares diferentes, dependentes da sua

genética individual.

Assim, por forma a melhorar a

avaliação de risco cardiovascular,

permitindo uma medicina persona-

lizada e portanto mais precisa, pode-

rá estar indicada a realização de uma

Tomografia Computorizada (TC ou TAC) para calcular a quantidade de

cálcio existente nos vasos do coração

(coronárias). Este exame quantifica a doença coronária naquele indiví-

duo específico, sendo o valor do sco-

re de cálcio o mais relevante (supe-

rior e incremental ao do risco car-

diovascular clínico), no cálculo do

risco cardiovascular absoluto.

Um score de cálcio igual a zero é

a informação médica que isolada-

mente tem a maior capacidade de

identificar indivíduos com bom prognóstico cardiovascular. Per-

mite ainda definir a “idade dos seus vasos”, que quanto maior for

em relação à sua idade real, maior

risco de doença/morte. Este exame

“TC para avaliação do “score” de

cálcio coronário” é realizado num

Serviço de Radiologia, num apare-

lho de TC com capacidade de sin-

cronização com o ritmo cardíaco,

com uma dose de radiação míni-

ma, sem a necessidade de adminis-

tração de contraste, demorando a

sua aquisição menos de 10 segun-

dos.

O seu radiologista na sua inter-

pretação fornece o valor quantitati-

vo da calcificação dos seus vasos, permitindo o cálculo do seu risco

(risco individualizado).

Esta informação é a mais impor-

tante para que o seu médico assis-

tente possa adequadamente hierar-

quizar e construir o programa pre-

ventivo mais adequado para si.

No exame de TC de score de cál-

cio, é ainda possível avaliar os teci-

dos adjacentes ao coração, como o

pulmão, que pode estar afetado pelo

fator de risco comum – o tabaco.

Diagnóstico precoce do cancro do pulmão

Se excluirmos o cancro da pele, o

cancro do pulmão é o segundo can-

cro mais frequente, apenas ultrapas-

sado no homem pelo da próstata e

na mulher pelo da mama. O princi-

pal fator de risco é o tabaco.

Por produzir sintomas tardia-

mente é frequentemente diagnosti-

cado em estadios avançados, pelo

que a taxa de cura é muito baixa, ha-

vendo grande mortalidade (superior

ao conjunto de mortes condiciona-

das pelos cancros do cólon, mama e

próstata), apesar dos avanços médi-

cos.

Sete de oito doentes diagnostica-

dos morrem nos primeiros 5 anos

após o diagnóstico.

O principal fator que contribui pa-

ra a cura é o diagnóstico precoce,

que pode ser efetuado pela utilização

sistematizada de TAC do pulmão de

baixa dose de radiação, realizado

sem administração de contraste.

Se tiver entre 55 - 80 anos, for fu-

mador com grande carga tabágica

(ou ex-fumador há menos de 15

anos), poderá integrar um programa

de “diagnóstico precoce do cancro do

pulmão”, mas só o deve fazer em lo-

cais que o tenham de forma organi-

zada e multidisciplinar.

Estes programas centram-se em

duas vertentes: na cessação tabágica

e na realização sistemática pelo radio-

logista de TAC. O seu médico assisten-

te, pneumologista ou radiologista po-

derão dar-lhe mais informação.

Hugo Marques, membro eleito do Colégio de

Radiologia da Ordem dos Médicos, com certificação nível III ("expert") em TC e RM cardíaca pela

Sociedade Europeia de Imagem Cardíaca (ESCR).

Coordenador da Unidade de Imagem

Cardiovascular por TC e RM (UNICA) do Hospital da

Luz, aborda a temática da prevenção cardiovascular e o diagnóstico precoce do cancro do pulmão.

Doente “A” e doente “B”, com risco cardiovascular clínico intermédio. O TC “score”

de cálcio revelou marcada diferença de calcificação coronária. Após o exame, o doente “A” é reclassificado como baixo risco cardiovascular, enquanto que o “B” é classificado de alto risco, necessitando de terapêutica medicamentosa.

Saúde

6 Perspetivas Agosto 2016

Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear

Cancro da próstata: fatores de risco

Quais os principais fatores de risco que devem ser considerados no âm-bito do cancro da próstata (CP)?

O Cancro da Próstata (CP) é, depois dos tumores cutâneos o cancro mais frequente no Mundo Ocidental e a segunda causa de morte por doenças oncológicas no homem.

Os diferentes cancros têm dife-rentes riscos. E se alguns riscos podem ser alterados, como o ta-baco, outros não, como a idade e a genética, a história familiar. No entanto, o possuir um fator de risco ou vários, não significa que vá ter obrigatoriamente esse can-cro. Obriga a vigilância mais apertada. Por outro lado, há pes-soas sem fatores de risco para de-terminado tumor que vêm a so-frer dessa patologia.

Consideram-se atualmente maiores factores de risco de CP:

- Idade: raro antes dos 40 anos e mais frequente após os 65 anos. A sua prevalência aumenta com a idade e é tão elevada, que poderia ser considerado um facto normal do envelhecimento. Aproximada-

mente 16% (1 em cada 6) dos ho-mens terão CP durante a sua vida.

- Raça: é mais frequente nos in-divíduos de raça negra do que nas outras raças. Essa relação é supe-rior a duas vezes.

-Distribuição geográfica: é mais frequente no Mundo Oci-dental do que em África, Ásia e América Central e do Sul. As ra-zões não são claras e deverão es-tar relacionadas com fatores am-bientais.

- História familiar: embora a maioria dos casos de CP ocorra em homens sem história familiar para essa patologia há alguma maior prevalência em algumas famílias, aumentando o risco no-meadamente se irmãos com CP diagnosticado em idade jovem, o que pressupõe relação com a he-rança genética.

Qual a importância do trabalho do ra-diologista no que concerne a esta pa-tologia? Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico do CP faz-se pela avaliação histológica de amostras de tecido prostático recolhidas habitualmente sob controlo de imagem, habitualmente por Eco-grafia Transretal e mais raramen-te e só em alguns centros através de Ressonância Magnética (RM). É utilizado anestésico local e o procedimento é bastante bem to-lerado.

O doente com suspeita clínica (toque rectal efectuado pelo seu urologista), bioquímica (altera-ções do PSA) ou por imagem (ecografia transretal ou RM), tem indicação para se submeter a biópsia prostática. Com o adven-to do PSA (glicoproteína segrega-da pela glândula prostática e que sendo especifica de órgão não é específica de CP, pois encontra-se aumentada em múltiplas situa-ções que envolvem a próstata), o diagnóstico do CP aumentou ex-ponencialmente e diagnostican-do-se muitas situações de baixa graduação de CP, que atualmente se considera deverem em algu-mas circunstância serem subme-tidos a Vigilância Ativa e outros de maior agressividade, necessi-tando de terapêuticas imediatas.

O CP é multifocal, mas a agres-sividade clínica desses focos é díspar. Se alguns focos nunca irão ser clinicamente relevantes outro ou outros, comportam-se como verdadeiros tumores e se-rão estes que necessitam de trata-mento, pois são estes focos que irão provocar metástases. O CP detetado precocemente tem mais hipóteses de ser curado.

A deteção precoce é fulcral por forma a impedir a progressão da doença. Quais as técnicas mais avançadas na atuali-dade e de que modo têm permitido mi-nimizar os riscos para o doente?

É necessário encontrarmos marcadores para a deteção preco-ce de CP clinicamente importan-tes. Muitos doentes têm frequen-temente doença pouco avançada, não necessitando de tratamento a toda a próstata, sendo candidatos a terapêutica focal ou “vigilância ativa”. Para a viabilidade destas opções terapêuticas são necessá-rios métodos de imagem com ele-vada acuidade e especificidade no diagnóstico e estratificação do risco das lesões e monitorização do tratamento. A Ressonância Magnética Multiparamétrica (RMmp) poderá ser esse biomar-cador, dando maior viabilidade a essas opções. Utiliza parâmetros morfológicos e funcionais.

A RMmp ganhou um grande protagonismo na investigação e prática clínica devido aos avan-ços tecnológicos, combinados com o aumento da experiência e uniformização na interpretação.

É consensual a importância da RMmp na panóplia diagnóstica, sendo cada vez mais efetuada na fase pré-biópsia em doentes com

suspeita clínica ou bioquímica de malignidade e que orienta a bióp-sia para os locais suspeitos de ele-vada agressividade.

A ESUR (European Society of Urogenital Radiology), desenvol-veu e publicou recomendações, sobre protocolos técnicos e pro-posta de relatório estruturado: “Prostate Imaging Reporting and Data System (PI-RADS v2)”.

Os radiologistas portugueses que executam RM da próstata de-monstram através da sua experiên-cia, a padronização e o treino in-tensivo na interpretação de exames estar perfeitamente atualizados e preparados para o futuro.

Para finalizar qual o grande desafio para o futuro?

O grande desafio da Radiologia e da Urologia atual no tocante ao CP é a confirmação da Ressonância Magnética como a técnica que de-teta com acuidade as lesões de CP de elevada agressividade necessi-tando de tratamento e o desenvol-vimento de terapêuticas eficazes, que possibilitem tratar focalmente a doença sob controlo de imagem em vez de tratar toda a glândula, com todas as vantagens e sem os efeitos secundários daí decorren-tes.

José Venâncio é diretor do Serviço de

Radiologia do IPOLFG (Instituto Português

de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil),

onde trabalha desde 1986. Foi presidente da

SPRMN entre 2006-2010. Nesta edição do

Perspetivas elucida-nos sobre a problemática

do cancro da próstata.

Ecografia da Próstata por via trans-

rectal: normal

RM: Normal RM: nódulo periférico esq a biopsar

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 7

Serviço de Medicina Nuclear – Hospital Particular do Algarve

Uma década e meia de Medicina Nuclear no HPA

Sobre a história do Hospital Particular do Algarve e do Grupo ao qual veio dar origem, importa sublinhar que é uma história de sucesso, de enraizamento na re-gião e de satisfação das necessi-dades tanto de residentes como dos muitos turistas que procu-ram os seus serviços. Resultados ancorados numa filosofia de ino-vação, de diversificação e de ele-vada sofisticação na forma como as diferentes unidades do Grupo HPA se encontram equipadas. A primeira, inaugurada em 1996, foi o Hospital Particular do Al-garve, instalado na vila de Alvor. O feedback positivo e o conse-quente crescimento justificaram que a intervenção do Grupo se

multiplicasse por vários novos pontos, marcando assim presen-ça em Portimão, Monchique, Al-bufeira, Vilamoura e Faro.

Da identificação de lacunas na rede regional de ofertas de saúde, resultaram contínuas apostas em novas especialidades. Foi então nesse contexto que, em 2001, o Hospital Particular do Algarve passou a contar com o serviço de Medicina Nuclear, valência agora trabalhada em parceria com o centro Dr. Campos Costa.

A importância que esta iniciati-va teve é evidente se tomarmos em conta que o serviço mais pró-ximo fica em Almada. O seu atual diretor, Elísio Sousa, veio para aqui há seis anos, após um per-

curso feito em Coimbra e no Por-to. Conforme nos diz este espe-cialista, este serviço, devido à sua posição singular nesta área geo-gráfica, trata-se de um serviço que acaba por atender a “uma vasta população, tendo doentes quer privados quer públicos”. Acrescentando, “nós também servimos os hospitais públicos da região do Algarve, que é de onde vem uma grande parte dos nos-sos doentes. Temos, portanto, uma Medicina Nuclear total, para doentes de internamento e de ambulatório, do público e do pri-vado”.

Em jeito de elucidação breve, a especialidade define-se pelo re-curso a meios minimamente in-

vasivos que, habitualmente, pas-sam pela administração maiori-tariamente intravenosa de um ra-diofármaco, para fins de diagnóstico ou terapêuticos. O radiofármaco (variável de acordo com o local a estudar) passa a ser captado e retido pelas células e

tecidos, fornecendo informação sobre o processo da doença a par-tir da função e da anatomia celu-lar. As suas emissões são capta-das por aparelhos externos (ga-ma-câmara ou um tomógrafo PET) que criam imagens a partir da radiação. Estes exames, cuja imagem é metabólica e não ana-tómica (diferenciando-se, assim, da Radiologia), têm o nome de cintigrafias.

Conversando connosco sobre alguns outros elementos que ca-racterizam a Medicina Nuclear, Elísio Sousa começa por desmis-tificar a questão das supostas complicações que poderiam estar associadas à radiação: “Há pes-soas que ouvem a palavra nuclear e ficam assustadas. Nós, de facto, usamos radiação mas as doses são muito reduzidas e os produ-tos (radiofármacos) utilizados são em quantidades de tal forma ínfimas que é praticamente im-possível o organismo reagir e ha-ver efeitos secundários. São do-ses muito menos gravosas para o utente do que as utilizadas pela Radiologia”. Reforçando, “uma vez que vamos estudar a função da pessoa, por natureza aquilo que vamos utilizar não pode in-terferir nessa mesma função da pessoa”.

Para além de estarmos a falar de um procedimento que é prati-camente isento de complicações, uma outra vantagem está na pos-sibilidade de um diagnóstico mais atempado. “Nós estudamos a fisiologia e as doenças provo-cam alterações fisiológicas muito antes de haver alterações anató-

Na génese da fundação do Hospital Particular

do Algarve, em 1996, esteve o interesse em

oferecer à região uma resposta de saúde

marcada pela inovação e pela diferenciação.

Daí para cá, esse espírito tem-se manifestado

de diversas formas, sendo uma delas a

inclusão do Serviço de Medicina Nuclear, o

único a sul da Área Metropolitana de Lisboa.

Saúde

8 Perspetivas Agosto 2016

Serviço de Medicina Nuclear – Hospital Particular do Algarve

micas, daí que isso nos permita obter o diagnóstico de uma forma muito mais precoce”, explica. Ao mesmo tempo, outro fator de in-teresse na Medicina Nuclear prende-se com a transversalida-de das suas aplicações. Tal como nos diz, “não há nenhuma área da medicina para a qual não tenha-mos nenhum exame” e, com efei-to, podem enumerar-se cintigra-fias como a óssea, cerebral, hepá-tica, renal, testicular, da tiróide, das paratiróides, das glândulas salivares, de perfusão do miocár-dio, entre outras.

Para além do estudo dos siste-mas, estas radiações também têm o potencial de interagir com os próprios de forma terapêutica. Nesta vertente, Elísio Sousa encon-tra também uma grande mais-va-lia, chamando a atenção para o fac-to de serem terapêuticas dirigidas. “Como o radiofármaco vai direta-mente ao lugar que nós queremos, por exemplo ao tumor, vai poupar os restantes órgãos, enquanto que uma radioterapia externa vai atra-

vessar todos os órgãos que estive-rem no caminho e que vão ser igualmente lesados. Infelizmente, neste campo ainda estamos muito longe de ter um leque de terapêuti-cas como gostaríamos e há inúme-ras patologias para as quais ainda não podemos dar resposta”, indica. As fontes de radiação empregues na Medicina Nuclear (radionuclí-deos) são usadas em casos como o tratamento do hipertiroidismo, o tratamento complementar do car-cinoma da tiróide ou o tratamento paliativo da dor óssea.

O contexto atual da Medicina Nuclear

Se as potencialidades da espe-cialidade justificam a sua presen-ça junto da população, a verdade é que ainda estamos longe de ver isso a acontecer de uma forma equitativa. Já foi dito que, a sul da Área Metropolitana de Lisboa, a Medicina Nuclear encontra-se exclusivamente no Hospital Par-ticular do Algarve. O problema,

todavia, não é um problema par-ticular do sul mas sim um proble-ma do País.

Elísio Sousa iniciou-se nesta especialidade em 1994. Na altura, disseram-lhe que, “em quatro ou cinco anos, todas as capitais de distrito iriam ter um serviço des-tes”. Passaram-se 22 anos e “con-tinuamos a ter apenas no Grande Porto, em Viana do Castelo, Bra-ga, Viseu, Coimbra, Leiria, Gran-de Lisboa, Almada e depois este foco no Algarve”. Ou seja, “quan-do vamos para o Interior deixa de haver serviços de Medicina Nu-clear, o que é completamente descabido”.

As consequências deste dese-quilíbrio na cobertura não estão apenas no acesso dificultado para as populações. Conforme alerta, “no Interior, torna-se difícil tam-bém para os médicos prescritores terem um conhecimento cabal de que nós existimos e daquilo que podemos dar às pessoas. Onde eu tirei o curso e a especialidade, em Coimbra, desde sempre toda a gente tem o seu conhecimento e a sua informação, mas em faculda-des mais distantes dos serviços isso já não é tão fácil. E é com-preensível que um clínico pense duas vezes antes de prescrever

um exame que obrigue o seu doente a cumprir longas distân-cias para o realizar”.

Numa outra direção, a nossa conversa atravessou também a perceção que Elísio Sousa tem ti-do dos desenvolvimentos da Me-dicina Nuclear ao longo destes 22 anos. A esse respeito, desta-ca-nos como grande avanço “o aparecimento do PET” (sigla in-glesa para Tomografia por Emissão de Positrões). Esta al-ternativa ao meio clássico é aplicável a várias coisas mas “o campo onde, efetivamente, o PET é um avanço real é o dos tu-mores/cancros. Não há nenhum equipamento destes nas redon-dezas e, como temos muitos doentes oncológicos, isso seria uma mais-valia”. De qualquer modo, considera que estamos pe-rante “uma evolução que vem no sentido de complementar o clás-sico e não de torná-lo obsoleto. Há patologias em que há vanta-gens imagiológicas, diagnósticas e económicas na realização de es-tudos com Medicina Nuclear con-vencional, enquanto que noutras é o PET que leva a vantagem”.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 9

Medicina Hiperbárica – Hospital Particular do Algarve

Primeiro centro privado de Medicina Hiperbárica em Portugal

Começando por definir aquilo que é a Medicina Hiperbárica, es-ta dedica-se à realização de trata-mentos feitos através da inalação de oxigénio a 100%, enquanto o paciente é submetido a uma pres-são duas a três vezes superior à do nível do mar. Estas condições obtêm-se com recurso a câmaras hiperbáricas, que são comparti-mentos fechados capazes de re-sistir a pressões elevadas. O efei-to atingido através destas condi-ções é um aumento do transporte de oxigénio pelos tecidos e a sua redistribuição, chegando a zonas onde habitualmente não chega.

Esta terapia começou por ser aplicada apenas às doenças de descompressão, mas logo se en-tendeu que havia potencial de resposta para um conjunto alar-gado de patologias. O oxigénio, inalado no seu estado puro e em ambiente hiperbárico, tem um

comportamento que intervém fa-voravelmente em vários proces-sos.

Tal como nos é explicado por Lígia Pires, pneumologista e res-ponsável por este serviço, “temos dois tipos de doenças. Os aciden-tes de mergulho, em que os mer-gulhadores sobem muito rapida-mente das profundidades para a superfície e, havendo uma inver-são entre a pressão e o volume das bolhas de ar, não têm tempo de expelir as bolhas de ar que têm no corpo. Os acidentes de mergu-lho são acidentes de descompres-

são e essa é a principal aplicação desta terapia. Por outro lado, as-sociado à pressão, temos o oxigé-nio puro (o ar ambiente tem ape-nas 21% de oxigénio), que pode servir para tratar feridas, quer se-ja na pele, no intestino, na bexiga, pé diabético, etc. Uma das princi-pais aplicações da Medicina Hiper-bárica, por exemplo, são as feridas resultantes da Radioterapia. Mui-tas vezes, as pessoas sofrem com-plicações dos tratamentos de Ra-dioterapia que se prolongam du-rante anos e não têm a noção de que, na maioria dos casos, isso po-de ser resolvido por este tratamen-to. Um outro ramo para o qual isto é extremamente eficaz é o das in-toxicações por monóxido de car-bono. A pressão e a concentração de oxigénio conseguem reverter essas intoxicações”. Dentro deste conjunto de utilizações, desta-cam-se ainda os resultados no âmbito do tratamento da surdez súbita neurosensorial e perda de visão súbita por oclusão da arté-ria central da retina.

No caso concreto deste serviço, o Hospital Particular do Algarve dispõe de uma câmara hiperbári-ca, com 8 lugares sentados, per-mitindo também a entrada de macas para doentes acamados. Existe ainda uma antecâmara, com mais dois lugares, para doentes que tenham de realizar uma pressurização mais lenta, ou que precisem de sair a meio do tratamento. Ao entrar na câmara, o doente é submetido ao aumento da pressão no interior deste espa-ço, e é-lhe fornecida uma másca-ra para a inalação do oxigénio a

100%. As sessões têm uma dura-ção média de 110 minutos e con-tam com o apoio de um enfermei-ro, no interior da câmara, e de um médico que faça a monitorização dos tratamentos no seu exterior. A pressurização é realizada por um técnico especialista, estando sempre, no mínimo, estes três profissionais a acompanhar este processo.

Sobre o contexto em que esta ini-ciativa chegou ao Hospital Particu-lar do Algarve, importa sublinhar a ligação ao Projeto Ocean Revival. A Associação para a Promoção e De-senvolvimento do Turismo Suba-quático (Musubmar) é a entidade que gere este projeto (o próprio sendo de turismo subaquático) e durante anos lutou pela colocação de uma câmara hiperbárica numa

unidade hospitalar da região. Esta associação tinha adquirido o equi-pamento com a finalidade de tor-ná-lo acessível não só aos mergu-lhadores que procuram o Ocean Revival, como também à generali-dade da população. Até aqui, a op-ção mais próxima encontrava-se no Hospital da Marinha, em Lis-boa, o que estava manifestamente aquém das necessidades de segu-rança da comunidade de mergu-lhadores que chega a este parque subaquático. Acabou por ficar nes-ta unidade, em Alvor, ao abrigo de um protocolo entre a Musubmar e o Grupo HPA, criando assim o pri-meiro serviço privado de Medicina Hiperbárica em Portugal, ao mes-mo tempo que é, inclusive, tam-bém um dos poucos a nível euro-peu.

Um outro exemplo do espírito vanguardista

do HPA está na forma como abraçou este

projeto, em junho do ano passado.

Atualmente, em todo o território continental,

esta competência encontra-se apenas aqui,

em Lisboa e no Porto.

Saúde

10 Perspetivas Agosto 2016

Atomedical

Na vanguarda da Medicina Nuclear

Foi o primeiro serviço de Medi-cina Nuclear privado em Lisboa. Na altura, a capital apenas conta-va com os serviços públicos do Instituto Português de Oncologia e da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Hoje, o cenário é completa-mente diferente, com o apareci-mento de múltiplos serviços pú-blicos e privados, contudo a Ato-medical continua firmemente po-sicionada como uma referência nacional na especialidade.

Guilhermina Cantinho, reco-nhecida Médica Especialista em Medicina Nuclear e Diretora Clí-nica da Atomedical, foi uma das pessoas que estiveram na base desta iniciativa, há quase três dé-cadas.

Em diálogo connosco, o balan-ço que nos faz da trajetória reali-zada é claramente positivo: “A preocupação que temos é: o que fazemos, fazemo-lo bem. Esta ati-tude persistente cria consistência na nossa atividade e está na base da sustentabilidade do nosso ser-viço ao longo destes 30 anos. Apesar dos numerosos serviços de Medicina Nuclear criados, so-bretudo nestes últimos 15 anos, públicos e privados, o profissio-nalismo, trabalho e dedicação, permitiram a expansão da Ato-medical em 1996. Mudámos de umas instalações pequenas para as atuais, com cerca de 600 me-tros quadrados”.

Continuando, “Os nossos re-sultados são tanto mais gratifi-

cantes, já que temos consciência que agora não somos os únicos.

Mantivemos a mesma atitude inicial, apostando na qualidade e por isso, tentando estar sempre a par dos últimos desenvolvimen-tos tecnológicos com aquisição de equipamentos de última geração /topo de gama.

A par dos desenvolvimentos tecnológicos, temos tido a preo-cupação na formação contínua de todos os colaboradores, médicos, técnicos e não só.

O retorno tem sido sempre po-sitivo, quer na qualidade a nível científico, como também a nível humano, relativamente ao servi-ço prestado”

Ao mesmo tempo, realça ainda o interesse em “manter instala-

ções que, dentro do gosto pes-soal, são um espaço confortável mas também alegre”.

Este conjunto de fatores tem levado a que, como diz, “passa-dos tantos anos, todos conti-nuam a gostar de trabalhar aqui, a dar o seu melhor, com simpatia e boa disposição. Há um bom ambiente entre todos nós e isso transmite-se aos doentes que se sentem confortá-veis connosco”, facto que agra-deço a todos que comigo traba-lham.

Tudo isto tem sido possível, mesmo tendo em consideração que se trata de um projeto inde-pendente. Guilhermina Cantinho sublinha, “não temos por trás ne-nhuma entidade financeira ou grupo económico, o que no nosso caso exige ponderação e análise cuidada para novos investimen-tos. Contudo, em equilíbrio com “uma gestão financeira muito cuidadosa”, a aposta na vanguar-da tecnológica continua viva. O melhor exemplo está, nomeada-mente, na mais recente das três câmaras-gama que aqui se en-contram, adquirida em 2014, ten-do sido a quarta do respetivo mo-delo (GE Optima NM/CT 640) a ser instalada na Europa e a pri-meira na Península Ibérica.

Sobre as expetativas para a continuidade da Atomedical, contamos com Fernando Godi-nho, também fundador e respon-sável. O Especialista em Biofísica avança que “este ano deverá ini-ciar-se uma grande mudança es-tratégica para a Atomedical”.

Um diagnóstico mais precoce

A atividade da Atomedical cen-tra-se na realização de cintigrafias, termo dado aos exames próprios da Medicina Nuclear. Esclarecen-do-nos acerca daquilo em que esta prática consiste, Guilhermina Can-tinho diz: “A cintigrafia, para fácil compreensão, é parecida com a ra-diografia. Na cintigrafia, utiliza-mos uma fonte de radiação (radia-ção gama) que é semelhante à ra-diação X. No Rx, a radiação atra-vessa o doente, sendo a imagem consequência das diferentes densi-dades dos tecidos. A imagem obti-da traduz a morfologia dos órgãos, o que permite aferir da sua norma-lidade. Na Medicina Nuclear, usa-mos radiação gama, mas o doente é que transmite essa radiação. O emissor de radiação é ligado a um fármaco dirigido a um determina-do órgão. Posteriormente, um de-tetor específico de radiações, câ-mara-gama, faz a leitura da distri-buição do produto radioativo no interior do corpo”.

Sobre a grande vantagem deste método, explica-nos: “Antes de se alterar a forma é preciso que se al-tere a função, e quando os nossos olhos detetam uma alteração da forma é porque há milhares de cé-lulas funcionalmente alteradas que já produziram essa alteração. Des-te modo, uma das grandes mais--valias da Medicina Nuclear é a ca-pacidade de avaliar precocemente alterações da função ou do meta-bolismo celular a que não corres-pondem ainda alterações da mor-fologia, o que em determinadas pa-

A Atomedical foi um projeto pioneiro a nível nacional na área da Medicina Nuclear. Fundada em 1987 tem apostado continuamente na sofisticação da qualidade dos seus serviços, tanto nos meios técnicos que utiliza como da formação dos seus profissionais.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 11

Atomedical

Rua Helena Félix, 11 D. 1600-121 Lisboa • Telefone: [+351] 217 994 730 Fax: [+351] 217 994 738 • www.atomedical.pt

tologias permite decisões terapêu-ticas no estadio inicial da doença”.

As áreas privilegiadas das aplica-ções da Medicina Nuclear são as patologias de maior incidência nos países ditos desenvolvidos: em Cardiologia, na investigação da Doença Coronária e em Oncologia, utilizando não só as clássicas cinti-grafias ósseas para avaliação de metástases, sobretudo nos carcino-mas da próstata e mama, mas tam-bém novos marcadores específicos para outros tumores.

Contudo, o grande avanço deu--se com o aparecimento da Tomo-grafia de Positrões (PET) cujas in-dicações mais abrangentes na in-vestigação de outros tumores têm permitido terapêuticas mais preco-ces, por isso mais eficazes e muitas vezes personalizadas, tecnologia que presentemente a Atomedical não possuí, mas que se insere nos projetos futuros.

A nossa interlocutora acredita no grande potencial da técnica PET que se tornou indispensável com o desenvolvimento dos equi-pamentos híbridos (PET/CT e PET/RM) “a expansão vai ser enorme”, antevendo que, “tendo

em conta o desenvolvimento de biomarcadores, a Medicina Nu-clear vai permitir no futuro a ca-racterização de patologias hoje de difícil compreensão e por isso de difícil terapêutica”. Um exemplo que nos dá é “o caso das demên-cias, área na qual estão a ser apli-cados grandes investimentos na investigação de biomarcadores, alguns deles já a serem utilizados na prática clínica”.

A questão da radiaçãoQuestionada sobre as dúvidas

que isto ainda levanta junto do público, Guilhermina Cantinho nota que “de facto, fala-se muito no problema das doses de radia-ção que os doentes absorvem na realização dos exames, mas com os equipamentos atuais, as doses são todas muito baixas. Os equi-pamentos de última geração na área da Medicina Nuclear permi-tem uma redução da dose admi-nistrada até um quarto”.

Sobre o controlo das doses, “é verdade que se os exames não fo-rem utilizados criteriosamente, a dose cumulativa vai crescendo ao

longo da vida (trata-se do conjun-to de todos os exames efetuados em que os exames radiológicos são os mais frequentes), proble-ma mais grave há uns anos. Atualmente, a existência de reco-mendações e a utilização de crité-rios apropriados para a sua reali-zação, aceites e publicados pelas Sociedades Científicas tem con-tribuído para uma seleção crite-riosa dos exames e dos doentes que deles podem beneficiar.

Panorama português da Medicina Nuclear

A entrada da nossa entrevista-da para a especialidade deu-se em 1981. Convidada a partilhar connosco a forma como tem ob-servado a sua evolução, fala-nos de “um desenvolvimento científi-co e tecnológico extraordinário”. Um desenvolvimento que não tem dúvidas em afirmar se esten-

de aos “Especialistas nacionais que se equiparam aos de qual-quer país desenvolvido”.

Já quanto à cobertura nacional de serviços, nota que “estamos atrás de outros países quando nos comparamos com a Europa e a América do Norte. Existem poucos serviços de Medicina Nuclear, so-bretudo públicos, estando centrali-zados em Lisboa, Porto e Coimbra (os públicos) e há mais serviços privados do que públicos”. O maior hospital do país (Hospital Santa Maria) não dispõe desta Especiali-dade, assim como os Hospitais Ci-vis de Lisboa.

Guilhermina Cantinho defende que “tem que ser feito um esforço de criação de novos serviços”.

Esta insuficiência dificulta o acesso dos doentes e “condiciona também a formação de profissio-nais. A solução passa por uma análise das necessidades, com vista a definir os locais prioritá-

rios, descentralizando a Medicina Nuclear, considerando sempre que na Medicina Nuclear, os equipamentos são dispendiosos e têm de ser rentabilizados.

Em termos comparativos com o resto da Europa, também há ca-rência relativamente a equipamen-tos. Fala-nos, nomeadamente, dos aparelhos de Tomografia por Emissão de Positrões (PET/CT), que correspondem a “uma técnica que apesar de dispendiosa, é uma mais-valia irrefutável na aborda-gem da doença oncológica, sobre-tudo no estadiamento (avaliação da extensão da doença), cujo bene-fício é claramente custo-eficaz”. Sobre esta lacuna, a Especialista diz-nos que “a Dinamarca, com 5,4 milhões de habitantes, tem 34 des-tes equipamentos, enquanto em Portugal existem onze”. Exemplos como este são fontes de inspiração, estimulando-nos para perseguir os nossos objetivos.

Saúde

12 Perspetivas Agosto 2016

Serviço de Radiologia do IPO-Porto

“A exigência crescente na qualidade e na excelência dos serviços prestados, impõe radiologistas diferenciados, atualizados e com conhecimentos muito concretos nas diversas áreas da oncologia”

A Radiologia sofreu uma tre-menda evolução tecnológica nos últimos 40 anos com o advento das técnicas de imagem multipla-nares que permitem obter ima-

gens de excelente detalhe anató-mico, marcada diferenciação te-cidular e detetar lesões de di-mensões milimétricas. Falamos de exames como a Ecografia, a

Tomografia Computorizada (TAC) e a Ressonância Magnéti-ca (RM), que surgiram nos últi-mos anos e que facilitaram e melhoraram a qualidade dos cuidados prestados. “Só assim se compreende o papel cada vez mais importante da radiologia, no diagnóstico precoce, o cha-mado rastreio, das mais diver-sas patologias oncológicas, das quais destaco o cancro da ma-ma, o cancro do pulmão e o can-cro da próstata, por serem aque-les em que o papel do radiolo-

gista é mais ativo. Relativamen-te ao rastreio do cancro da ma-ma, o IPO-Porto é um dos hos-pitais de referenciação para o programa de rastreio organiza-do do cancro da mama levado a cabo pela ARSN em parceria com a Liga Portuguesa Contra o Cancro. O Serviço de Radiologia colabora com a consulta de risco do IPO-Porto, através da reali-zação de exames mamários en-tres os quais ressonâncias a doentes portadoras de muta-ções associadas a alto risco de

cancro da mama das quais as mais frequentes são as BRCA.

Serviço imprescindívelO Serviço de Radiologia de um

hospital oncológico tem um papel imprescindível no diagnóstico, no estadiamento, isto é, em que fase está o tumor e no seguimen-to da doença. A complexidade dos procedimentos que a medici-na moderna exige só pode ser efe-tiva com uma equipa multidisci-plinar que a Radiologia forçosa-mente integra com grande prota-gonismo, não só na avaliação pré--terapêutica, como no acompa-nhamento.

No IPO-Porto o Serviço de Ra-diologia, que sempre procurou acompanhar a inovação nesta área, está apetrechado com equi-pamentos de diagnóstico topo de gama, cuidadosamente revistos e calibrados, “que nos permitem, com a máxima segurança, cum-prir a nossa missão de garantir um diagnóstico por imagem, se-gundo o ”estado da arte”, a todos os doentes que nos são referen-ciados”, evidencia Margarida Gouvêa.

A última aquisição do Serviço está presente na recentemente renovada Unidade de imagiologia mamária. Trata-se de um mamó-grafo digital que, para além de mamografias e biópsias estereo-táxicas, permite a realização de tomossíntese (mamografia 3D) e mamografia com contraste, que são as mais recentes técnicas de diagnóstico do cancro da mama,

Margarida Gouvêa é assistente graduada

sénior do Serviço de Radiologia do IPO-

Porto. É no cargo de diretora do Serviço de

Radiologia que nos apresenta a dinâmica da

especialidade desta reputada Instituição de

saúde pública.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 13

Serviço de Radiologia do IPO-Porto

o qual representa cerca de 40% da patologia da Instituição.

A diferenciação e a qualidade de um Serviço de Radiologia “de-pende do tipo e da excelência dos cuidados prestados no Hospital”. Os bons resultados do Serviço e a sua reputação são consequência do trabalho de toda uma equipa composta por 22 radiologistas, 3 radiologistas de intervenção, 3 neurorradiologistas, 23 técnicos de radiologia, 1 física médica, 16 enfermeiros, 2 assistentes técni-cos e 15 assistentes operacionais.

Saliente-se que no IPO-Porto “os doentes podem efetuar todos os exames de Radiologia necessários para o diagnóstico do cancro, como por exemplo radiografias torácicas, osteoarticulares; exames contras-tados do tubo digestivo; ecografias, ecodoppler; tomografias computa-dorizadas, cranioencefálicas, da coluna vertebral, pescoço, toráci-cas, abdominais, pélvicas e das ex-tremidades e ainda entero-TC, co-lonoscopias virtuais e uro-TC; res-sonâncias magnéticas de todos os segmentos anatómicos com equi-

pamentos de 1,5 e 3 Tesla, com téc-nicas avançadas de RM funcional e espetroscopia, entre muitos ou-tros”.

Os procedimentos de diagnós-tico e terapêutica por radiologia de intervenção, como biopsias, nefrostomias, drenagens biliares, entre outros, são efetuados no serviço de Radiologia de Inter-venção que como o nosso faz par-te do Departamento de Imagem.

Renovação aliada à Inovação

“As instalações do Serviço de Radiologia do IPO-Porto têm vin-do a ser renovadas para um me-lhor atendimento dos nossos doentes”, explica a diretora de Serviço. No aniversário do IPO foi inaugurada uma nova sala de espera que nos permite acolher dignamente os nossos doentes.

Uma das medidas implementa-das e que tem beneficiado a dinâ-mica interna foi iniciada em setem-bro de 2008, altura em que deixa-ram de ser utilizadas películas ra-

diográficas, estando disponível um sistema RIS/PACS onde ficam ar-mazenados, informaticamente, to-das as requisições, as imagens e os respetivos relatórios efetuados com sistema de reconhecimento de voz, de fácil acesso para todos os médicos. Tendencialmente, procu-ramos evoluir também para “um Serviço sem papel”.

Formação médica O Serviço de Radiologia do

IPO-Porto recebe anualmente “pelo menos” um interno para formação específica em Radiolo-gia, cuja especialidade tem a du-ração de cinco anos – quatro anos de formação básica, onde se pro-cura dar aos internos uma visão geral do “mundo” que é o diag-nóstico por imagem, e um ano de formação específica (subespecia-lidade), atualmente em Radiolo-gia Geral, Radiopediatria, Radio-logia de Intervenção ou Neuror-radiologia; os nossos internos terminam a sua formação com excelentes conhecimentos em imagiologia oncológica.

Margarida Gouvêa explica que os internos do Serviço de Radio-logia do IPO-Porto realizam uma parte da sua formação noutras instituições hospitalares “o que lhes permite adquirir conheci-mentos no diagnóstico por ima-gem em patologia não oncológica e ainda em técnicas como a eco-grafia obstétrica que não realiza-mos no nosso serviço”.

Ao Serviço chegam também anualmente cerca de seis internos

de outros hospitais (nacionais e in-ternacionais, designadamente de Angola e do Brasil) para fazerem formação na área de mamografia e também em radiologia de cabeça e pescoço. Simultaneamente, “da-mos formação a internos de outras especialidades do IPO-Porto, no-meadamente de Radioncologia, Ci-rurgia, Endocrinologia, Urologia e Gastrenterologia.

A exigência crescente na quali-dade e na excelência dos serviços prestados, impõe radiologistas diferenciados, atualizados e com

conhecimentos muito concretos nas diversas áreas da oncologia. A resposta dada a essa complexi-dade e aos avanços tecnológicos é a subespecialização por sistemas ou patologias, permitindo que, para cada unidade de patologia do IPO, haja um ou mais radiolo-gistas preparados para ajudar os clínicos a encontrar as melhores soluções para os seus doentes. Esta subespecialização possibili-ta “que o nosso trabalho respon-da a perguntas muito concretas dos clínicos”, salienta a diretora.

Saúde

14 Perspetivas Agosto 2016

Sociedade Portuguesa de Radioterapia e Oncologia

A efetivação de um sonho de alguns e do trabalho de muitos

A especialidade de Radion-cologia (antes designada Ra-dioterapia) é uma especialida-de médica autónoma em Por-tugal desde 1970, tendo sido constituído o Colégio de Espe-cialidade na Ordem dos Médi-cos em 1978.

Sendo especialidade oncoló-gica e essencialmente clínica, tem participação ativa nas dife-rentes etapas do plano de trata-mento do doente desde a deci-são terapêutica individual inte-grando equipas médicas multi-disciplinares, ao seguimento, passando pela avaliação inicial, diagnóstico, estadiamento e tra-tamento. A especialidade com-pleta-se ao dedicar-se ao ensino pré e pós graduado e investiga-ção científica.

“Estima-se que mais de 50% dos doentes oncológicos tenham indicação para serem submetidos a Radioterapia como parte inte-grante do seu plano terapêutico”, revela a presidente.

SPRO“A Sociedade Portuguesa de

Radioterapia (SPRO) foi um so-nho que se tornou realidade”, revela-nos Lurdes Trigo. Sendo que a génese do grupo que deu origem à SPRO saiu da Socieda-de Portuguesa de Radiologia, onde ao longo dos anos alcança-ram uma relevante dinâmica ao ponto de sentirem a necessida-de de se tornarem autónomos. Nessa altura a especialidade de Radioterapia já se havia torna-

do independente da especiali-dade de Radiologia, pela Ordem dos Médicos, sendo que os seus especialistas tinham currículo, formação e uma prática perfei-tamente distinta e reconhecida.

Em 2003 por iniciativa de três membros fundadores e com o apoio de uma grande parcela de especialistas com prática clínica em Portugal, a SPRO propôs-se a efetuar o estudo, a investigação e a educação no âmbito da Radio-terapia e Oncologia; a divulgação e defesa da especificidade das ati-vidades da Radioterapia e Onco-logia e a sua articulação com ou-tras áreas profissionais ligadas à Oncologia. Para isso, a Sociedade propôs-se realizar uma série de ações onde se destaca a criação de grupos de trabalho.

SPRO JovemCom a evolução de todas as

sociedades de Radioncologia na

Europa principia o surgimento de grupos de jovens especialis-tas, ainda internos, que com o apoio das “Casas-Mãe” começa-ram a dedicar-se à Investigação. Em Portugal surge a SPRO Jo-vem que se rege por um regula-mento próprio, respeitando os estatutos da SPRO.

Assim, a SPRO Jovem tem por fim fomentar a formação contí-nua dos jovens membros da SPRO durante o internato e após a sua conclusão, com espe-cial foco na formação interna-cional; ajudar os jovens mem-bros da SPRO a realizar a sua formação internacional, através da criação de acordos entre a SPRO e outras sociedades inter-nacionais de Radioterapia; consciencializar sobre a neces-sidade de uniformização do pro-grama de formação definido pe-lo Colégio da Especialidade pa-ra o internato médico; promo-ver a atividade científica e

divulgá-la em congressos nacio-nais e internacionais; e, por fim estabelecer contactos com os outros grupos de jovens médi-cos radioterapeutas, por forma a criar uma rede de contactos para facilitar a realização con-junta de projetos em comum.

O trabalho de divulgação da existência da SPRO Jovem foi feito através do contacto direto com outros grupos como grupos de Espanha (SYROG) e da Amé-rica Latina (ALATRO), bem co-mo no Young Corner da news-letter da European Society for Radiotherapy & Oncology (ES-TRO).

A SPRO jovem nomeou um dos seus membros para repre-sentar Portugal no Oncology In-terest Group for the European Society for Emergency Medicine (EuSEM).

Lurdes Trigo faz questão de reforçar que “sempre direcio-nou a sua ação, enquanto presi-

Lurdes Trigo, a nossa entrevistada, é licenciada

em Medicina, com especialidade em

Radioncologia. Mestre em Oncologia desde 1997

e assistente graduada sénior em Radioncologia

desde 2001, tendo sido nesse ano nomeada

diretora do Serviço de Braquiterapia do

Departamento de Radioterapia do IPOPFG, EPE

do Porto. Foi na qualidade de presidente da

Sociedade Portuguesa de Radioterapia e

Oncologia (SPRO) que esteve em conversa com

o Perspetivas.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 15

Sociedade Portuguesa de Radioterapia e Oncologia

dente da SPRO, para a formação dos jovens”, tendo realizado dois congressos, sendo que o próximo irá decorrer em Lisboa e diversos cursos temáticos.

Formação e eventos desenvol-vidos

“Durante todos os mandatos, desde 2009, entendemos que devíamos ir ao encontro das necessidades e expetativas dos sócios; contribuir para uma crescente dignificação profis-sional, social e humana dos mé-dicos especialistas em Radion-cologia. Nesse sentido, e no tempo de exercício de funções,

desenvolvemos o Portal da SPRO (www.spro.pt) que começando a operação em novembro de 2010 até abril de 2012 obteve um to-tal de visitas de 41.462 visitas, 2160 documentos procurados e 130 documentos disponibiliza-dos. Entre os visitantes destaca-ram-se naturalmente cidadãos portugueses, seguidos de brasi-leiros, norte-americanos e espa-nhóis”, informa.

Ao longo do tempo a colabo-ração entre a SPRO e o Colégio da Especialidade de Radionco-logia tem-se reforçado com a fi-nalidade de unir esforços e ob-

ter mais e melhores mais-valias para a especialidade.

No que concerne efetivamen-te à formação foi criada a parce-ria entre a SPRO e a Sociedade Espanhola de Radioterapia On-cológica, na figura da Escola Es-panhola de Radioterapia Onco-lógica. Esse protocolo visava a realização mensal de cursos te-máticos em Portugal com pro-fessores espanhóis e portugue-ses e professores portugueses nos Cursos realizados em Espa-nha. Lurdes Trigo considera que esta ação “foi altamente valiosa porque fomos apanhar o com-boio de uma escola já montada, com planos feitos e de elevado nível científico”.

A nossa entrevistada lança o repto aos seus colegas de profis-são: “Se não publicarmos, se não nos mostrarmos, ninguém nos (re)conhece por mais que a SPRO faça e por melhores pro-fissionais que sejamos. Há que mostrar o que somos e interagir com profissionais de outros paí-ses”.

A Sociedade Portuguesa de Radioterapia Oncologia tem e terá sempre um papel fulcral no desenvolvimento da especiali-dade aquém e além-fronteiras.

“É nosso propósito traçar e de-senvolver planos para promo-ção da SPRO tendo em linha de conta a leitura que fazemos da contínua evolução científica e do espaço aberto na sociedade portuguesa à intervenção de uma Sociedade de Radioncolo-gistas. Temos objetivos claros: colocar a Radioterapia rumo ao futuro e com visibilidade nacio-nal e internacional assim como reforçar a interatividade entre a direção da SPRO e os sócios, que farão da Sociedade aquilo

que seguramente todos alme-jam.

A SPRO nasceu, como fruto do trabalho de muitos e os pila-res que sustentaram a edifica-ção deste projeto, foram sempre escorados pelo seu esforço, de-dicação e empenho incondicio-nal.

Concretamente constituiu, a efetivação de um sonho de al-guns e do trabalho de muitos. Como diria Fernando Pessoa, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!”, conclui.

"A SPRO nasceu, como fruto do trabalho de muitos e os pilares que sustentaram a edificação deste projeto, foram sempre escorados pelo seu esforço, dedicação e empenho incondicional".

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16 Perspetivas Agosto 2016

Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santo António

Aposta na inovação tecnológica: atualização científica e excelência na formação, ensino, investigação e na assistência médica

O Serviço de Angiologia e Ci-rurgia Vascular que descrevere-mos está integrado no Hospital de Santo António – Centro Hos-pitalar do Porto, um hospital central e Universitário pela as-sociação com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Sala-zar da Universidade do Porto (ICBAS).

HistóriaO Serviço de Angiologia e Ci-

rurgia Vascular do Hospital de Santo António “foi fundado em 1972 sob a direção conjunta do Dr. Moreira da Costa e do Dr. Mário Caetano Pereira, sendo o primeiro serviço autónomo da

especialidade em Portugal. Este é “um serviço com antiguidade que surgiu no seio de um núcleo da então Cirurgia I do qual era diretor o Dr. Serrano Júnior, numa época em que os médicos começaram a aperceber-se da crescente ocorrência de graves problemas do foro vascular, que exigiam conhecimentos e for-mação específica”.

Vivia-se nessa época um tem-po em que as terapêuticas vas-culares começavam a difundir--se pela Europa e nos Estados Unidos. Em Portugal, em conse-quência da Revolução, da aber-tura das fronteiras e da forma-ção do SNS, havia a necessidade de se prestar uma melhor assis-

tência a estes doentes. No nosso país tinha havido uma Escola Vascular de renome internacio-nal com figuras como Egas Mo-niz, Reinaldo dos Santos e Cid dos Santos pioneiros no diag-nóstico e tratamento da doença vascular periférica. O aumento do acesso ao diagnóstico da doença vascular com a criação do SNS, a vontade crescente de uma classe médica sonhadora e uma maior exigência da quali-dade dos serviços públicos pres-tados pela população, levou muitos cirurgiões a procurarem formação específica na área da cirurgia vascular fora do país.

No regresso aos seus hospi-tais, no caso do Hospital de San-

to António,” os Drs. Mário Cae-tano Pereira e Moreira da Costa, vindos de Inglaterra, foram re-cebidos com total abertura e uma visão especial do então di-retor do Departamento de Ci-rurgia que permitiu a abertura de um serviço autónomo e espe-cífico para a área de Cirurgia Vascular”.

Ao longo das últimas quatro décadas os serviços médicos prestados nesta área evoluíram de forma categórica. Como refe-re Rui de Almeida, “passamos do doente idoso que era subme-tido a uma cirurgia convencio-nal mais agressiva do ponto de vista fisiológico e que limitava a sua aplicação, para a recente

utilização de métodos endovas-culares, frequentemente reali-zados sob anestesia local e com pequeníssima agressão fisioló-gica e que representa já cerca de 70% do total das intervenções realizadas no Serviço”. Esta no-va metodologia terapêutica per-mitiu também otimizar a gestão dos recursos logísticos, já que tem tempos de internamento muito mais reduzidos, uma me-nor utilização dos serviços de medicina intensiva e em alguns casos a sua realização em regi-me de ambulatório.

Quando falamos em técnicas e tecnologias de ponta, evidente-mente que estas estão associa-das a grandes investimentos. “A

O diretor do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santo António, do Centro Hospitalar do Porto (CHP), Prof. Dr. Rui de Almeida, é assistente graduado sénior, diretor do Centro de Transplantação do referido Hospital e regente da Cadeira de Cirurgia II do Mestrado Integrado em Medicina do ICBAS/UP.

“Passamos do paradigma do doente que era submetido a cirurgia convencional para a utilização de métodos endovasculares, que correspondem já a cerca de 70% das intervenções realizadas no Serviço”.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 17

Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santo António

importância que a administra-ção do Hospital teve no apoio, valorização e aquisição destas tecnologias é sempre de realçar, já que foi isto que nos permitiu progredir e prestar cuidados de saúde de excelência à popula-ção”, refere o nosso interlocu-tor.

Uma das pedras basilares na gestão do Hospital de Santo An-tónio tem a ver com a sua orga-nização interna, que obriga a que as atividades a realizar se-jam anualmente contratualiza-das com base no histórico de ca-da Serviço. Assim, toda a capa-cidade de intervenção é organi-zada em função do que se espera vir a ser a atividade assistencial do Serviço. Realça-se que al-guns casos clínicos correspon-dem a estados extremos da doença que “necessitam de ser tratados com a colocação de dis-positivos extremamente dispen-diosos a que a administração do Hospital de forma concertada com a direção do Serviço nunca recusou”.

A população assistida pelo Serviço abrange as áreas do Porto Ocidental, Gondomar e a região de Trás-os-Montes, efe-tuando 13 mil consultas exter-nas por ano. É filosofia atual do Ministério da Saúde, analisar o desempenho das instituições

cientes oriundos de outras áreas.

Como referencial da qualida-de do atendimento prestado neste Serviço, e no Hospital de Santo António na sua globalida-de, este está inserido numa rede de avaliação de indicadores de qualidade assistencial (IAS-SIST) que compara as perfor-mances assistenciais dos gran-des hospitais da Península Ibé-rica, estando o Serviço bem po-sicionado na avaliação da qualidade assistencial. Para além disso, internamente o ga-binete de qualidade direciona com regulariade avaliações cen-tradas em várias atividades do serviço (taxas de internamento, cumprimento de normas de qualidade inerentes à prática ci-

hospitalares, privilegiando uma perspetiva de benchmarking sustentada em indicadores de acesso, eficiência e qualidade” sendo que a rede viária é funda-mental para analisar a disposi-ção e abrangência dos serviços. “Por exemplo, a abertura do tú-nel do Marão encurtou em 20 minutos o tempo da viagem conferindo maior conforto aos usuários”, aponta. Entendemos que o doente deve ter o poder de decidir qual o Hospital onde quer receber assistência”. Nesse sentido, o Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António está organiza-do para responder aos doentes da sua área de referenciação e também prestar uma resposta igualmente eficaz a todos os pa-

rúrgica – profilaxia antibiótica, prevenção do tromboembolis-mo, etc.) de modo a promover e avaliar as nossa práticas e a po-tenciar a sua excelência.

Prática clinicaA última década apresentou

progressos extraordinários ao nível da evolução tecnológica e científica. A Cirurgia Endovas-cular e ambulatória ocupa um espaço muito importante na ati-vidade da Cirurgia Vascular em geral, sendo que, no Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António a maior parte dos doentes é trata-da em regime de ambulatório sendo “uma das glórias” do Ser-viço o facto de operar em ambu-latório mais de 90% dos doentes

ambulatorizáveis num total de 1400 doentes.

As 25 camas existentes no Serviço estão permanentemente ocupadas por doentes arteriais com um elevado grau de gravi-dade, “aos quais é dada priori-dade”. “Estes doentes possuido-res de doença arterial obstrutiva ou aneurismática exigem para o seu tratamento tecnologia de ponta da qual sempre dispuse-mos”.

Pelo contrário, no passado, a população a quem prestávamos assistência em matéria de insu-ficiência venosa estava muito desprotegida. Este facto alte-rou-se quando se começaram a efetuar cirurgias de ambulató-rio de varizes, ou seja, quando a administração “teve a visão de aprovar e promover a cirurgia

“A atividade do Serviço de Angiologia e Cirurgia vascular desenvolve-se na consulta externa, nos Serviços de Internamento, no Serviço de Urgência, no Bloco Operatório Central, no Bloco Operatório de Cirurgia Ambulatória, na suite Angiorradiológica, na Consulta Multidisciplinar de Pé Diabético e na Consulta Multidisciplinar de Acessos Vasculares para Hemodiálise.”

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18 Perspetivas Agosto 2016

Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santo António

ambulatória, o que permitiu dar uma resposta terapêutica em tempo útil a todos os doentes venosos que nos procuram”. Co-mo indicativo, falamos de um volume de mais de 50 doentes intervencionados por semana utilizando diferentes técnicas, e que vão desde a cirurgia con-vencional ao tratamento endo-venoso por radiofrequência, ao tratamento com cola biológica e ao tratamento esclerosante ecoguiado. “Não podemos cru-zar os braços e considerar que o SNS não é capaz de resolver o problema da insuficiência venosa que atinge cerca de 50% da população a partir dos 50 anos”, defende o médico es-pecialista. A direção do Servi-ço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António, dentro da sua área de intervenção, estipula o seu plano de ação e consegue dar resposta a toda a população “numa média de espera que ronda os três meses em casos de cirurgia venosa”. Já os doentes arteriais não têm “pra-ticamente” lista de espera, sen-do tratados à medida que os ca-sos surgem, pois são utentes que se apresentam quer na con-sulta quer na urgência em situa-ção crítica, sendo internados e tratados de forma célere.

excelência que se rege por re-gras muito particulares e de ri-gor e que visa a harmonização do exercício da atividade no es-paço europeu”.

Atividade de transplantação de órgãos

“O Dr. Mario Caetano Pereira fundador do Serviço de Angiolo-gia e Cirurgia Vascular foi tam-bém pioneiro na promoção de toda a atividade de transplanta-ção de orgãos do Hospital de Santo António. Assim os mem-bros do Serviço colaboraram, ou colaboram, ativamente nos pro-gramas de transplantação de rim/pâncreas e fígado, credita-dos como centros de referência nacional no tratamento destes doentes.

Atividade científicaCom um corpo clínico com-

posto por 13 médicos e 23 enfer-meiros que mantém uma rela-ção intima com o ensino pré e pós graduado, a atividade cien-

Convém referenciar a impor-tância que a Consulta de Pé Dia-bético tem neste serviço dado que cerca de 40% dos doentes inter-nados são encaminhados pela Consulta Aberta de Pé Diabético disponibilizada no hospital.

Formação dos futuros especialistas de Angiologia e Cirurgia Vascular

Sendo este um Hospital-Esco-la, com uma forte ligação ao IC-BAS, anualmente entra no Ser-viço um interno da especialida-de, tendo no momento um total de sete Internos em formação. “Classifico-os como elementos fundamentais na atividade re-gular do Serviço, com uma gran-de capacidade intelectual e de trabalho”, expõe. Alguns são ex--alunos do diretor de Serviço e Professor regente da cadeira de Cirúrgica II no ICBAS que reco-nheceram na especialidade e neste Serviço a possibilidade de uma carreira aliciante. “O nosso empenho na capacidade forma-tiva está patente na qualidade das classificações que os Inter-nos obtiveram quando realiza-ram o exame de fim de Interna-to e no resultado que obtiveram no exame do European Board of Vascular Surgery, um exame de

tífics apresenta-se como um fa-tor de diferenciação deste servi-ço. “Ter elementos doutorados na equipa acarreta a necessida-de de investigar e publicar com qualidade em revistas nacionais e internacionais. O Serviço tem promovido o desenvolvimento de várias linhas de investigação, com publicação de múltiplos ar-tigos e apresentação de comuni-cações orais e que culminaram na obtenção de múltiplos pré-mios e graus académicos pelos seus elementos”.

Há uma grande preocupação do Serviço em termos um nível elevado de participação nas reu-niões de Cirurgia Vascular na-cionais e internacionais, esti-mulando os seus especialistas a

apresentarem a sua experiência através de casos clínicos, pales-tras, e outras atividades.

Como conclusão, “devo referir que as pessoas devem esperar e exigir serem bem tratadas no SNS. Pela nossa parte, desde o momento do primeiro contacto com o doente em consulta ex-terna ou no serviço de urgência, queremos promover um forte sentimento de tratamento per-sonalizado, que integra toda a capacidade técnica e tecnológi-ca disponível a nível mundial, tendo como finalidade o melhor tratamento, e que este envolve sempre a menor agressão fisio-lógica e sempre que possível em contexto domiciliário ou ambu-latório”.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 19

Serviço de Pneumologia A do Hospital da Universidade de Coimbra

Reforço da capacidade clínica e da investigação

“Para mim constitui um gosto e uma honra particular dirigir um Serviço com a tradição do Serviço de Pneumologia A do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC) e coordenar uma equipa na qual reconheço elevada qualificação profissional e humana”, revela o secretário geral eleito, para o triénio 2016-2019, da Sociedade Europeia de Pneumologia.

É com este espírito de motiva-ção e de grande cooperação gera-do no seio de todo o corpo clínico, que o nosso entrevistado preten-de “captar, envolver e permitir o desenvolvimento” do potencial da equipa que dirige. “Temos pessoas especializadas nas mais diversas áreas e é premente apoiá-las adicionalmente na sua diferenciação, conferindo-lhes melhores condições técnicas e funcionais para que possam de-senvolver os seus trabalhos nos respetivos domínios”. Mas, quan-to ao seu plano de ação iremos fa-lar mais adiante, passemos à ex-posição do universo deste Servi-ço.

Hospital-EscolaO Serviço de Pneumologia A

do CHUC apresenta uma forte dinâmica aliada a uma dimen-são “apreciável”. Tal como acon-tece nos Hospitais-Escola as suas atividades repartem-se pe-la assistência, mas também pela formação, ensino e investiga-ção. Com 45 camas de interna-mento que servem todas as va-lências e meios complementares de diagnóstico associados à es-

pecialidade, o Serviço integra, para além da consulta externa, o hospital de dia (para os doentes em ambulatório), a Unidade de Técnicas Endoscópicas, a Uni-dade de Função Respiratória, a Unidade de Sono, a Unidade de Oncologia e um laboratório de investigação, recentemente rea-bilitado.

Este é um Serviço que presta apoio à Urgência 24 horas por dia, 365 dias por ano, e integra no seu quadro 17 médicos especialis-tas e 12 internos.

Pneumologia Os referenciais asseveram que

a patologia respiratória apresen-ta um volume elevado de mortali-dade hospitalar, não só em Portu-gal como em todo o Mundo, so-bretudo nas suas três grandes pa-tologias: o cancro de pulmão, a pneumonia e as patologias obs-trutivas das vias aéreas. Porém, o Serviço de Pneumologia A do CHUC acompanha igualmente áreas de menor prevalência, mas de elevada diferenciação como são a patologia do sono, a patolo-gia intesticial e a fibrose quística, entre outras.

Carlos Robalo Cordeiro assume ser pretensão da direção “refor-çar essa capacidade clínica, bem como a vertente de investigação, “que hoje se vem traduzindo em avanços significativos não só ao nível clínico como terapêutico, e ser reconhecido como um Serviço que gera bons indicadores e que presta um apoio assistencial competente nas principais pato-logias respiratórias”.

Especificando, o Serviço, no ano transato, registou 1.331 doen-tes internados, realizou 12.795 consultas, realizou 682 sessões de hospital dia e, a título de exem-plo, executou 770 exames de es-tudos de sono. Em termos de consultas de oncologia pneumo-lógica, estas fixaram-se nas 4.646, realizadas no Hospital de S. Jerónimo. De futuro, preten-de-se que a significativa dimen-são da atividade do Serviço seja mantida e sobretudo melhorada na sua qualidade.

Integrado num Centro Hospi-talar Universitário, o Serviço não foge às suas responsabilidades formativas e no Ensino, sendo aí que decorre a valência de Pneu-mologia da Faculdade de Medici-na da Universidade de Coimbra. Como revela o diretor, “as aulas práticas realizam-se aqui diaria-mente, durante o período letivo, e as aulas teóricas uma vez por se-mana”.

Porém, a boa colaboração com o Serviço de Pneumologia B do CHUC pretende ser reforçada a diversos níveis, desde logo no en-sino, com a colaboração dos seus clínicos em aulas práticas que de-correm nesse ambiente hospita-lar.

Em termos de formação essa parceria consubstancia-se tam-bém na realização e/ou organiza-ção de ações pós-graduadas con-juntas, como é o caso do Congres-so de Pneumologia do Centro, que se realiza de dois em dois anos em Coimbra; o Encontro de Imuno-oncologia, que foi será igualmente organizado pelos dois serviços de Pneumologia do

Recentemente eleito diretor do Serviço de

Pneumologia A do Hospital da Universidade

de Coimbra (HUC) e professor catedrático de

Pneumologia da Faculdade de Medicina da

Universidade de Coimbra (FMUC), Carlos

Robalo Cordeiro apresenta ao suplemento

Perspetivas o espaço e a dinâmica do Serviço

que lidera.

“Temos pessoas especializadas nas mais diversas áreas e é premente apoiá-las adicionalmente na sua diferenciação, conferindo-lhes melhores condições técnicas e funcionais para que possam desenvolver os seus trabalhos nos respetivos domínios”.

Saúde

20 Perspetivas Agosto 2016

xxxxServiço de Pneumologia A do Hospital da Universidade de Coimbra

CHUC na sua 2ª edição. Ade-mais, pela primeira vez, no passa-do mês de julho, clínicos do servi-ço de Pneumologia B prestaram apoio ao serviço de urgência do Hospital da Universidade de Coimbra, dada a carência de pro-fissionais existente para o eleva-do volume de solicitações. Nesta parceria frutífera estão também a ser enquadradas ações em duas áreas de atividade do CHUC: rea-bilitação e sono.

Plano estrutural Falemos agora das medidas

que a nova direção do Serviço de Pneumologia A pretende insti-tuir.

Carlos Robalo Cordeiro estipu-lou um plano de ação para este seu mandato que se divide em três grandes domínios: um de im-pacto mais interno — um proces-so de restruturação interna; ou-tro com impacto mais externo — as propostas de atividades; e, fi-nalmente, os investimentos considerados necessários, que te-

rão um impacto global, interno e externo.

Na reestruturação do Serviço, desde logo, o foco está na sua se-torização e atribuição de coorde-nações e responsabilidades que permitirão agilizar um maior en-volvimento e uma responsabili-zação partilhada entre os profis-sionais de todos os setores. “Nes-te modelo de repartição de res-ponsabilidades há inovações que se pretende introduzir. Desde lo-go, a criação de um polo de inves-tigação clínica forte, onde se pos-sam desenvolver de modo mais organizado um maior número de ensaios clínicos”.

No Hospital de Coimbra existe uma unidade de inovação e de-senvolvimento que disponibiliza apoio e conhecimento aos Servi-ços que pretendam fomentar uma boa investigação clínica, al-go que a Pneumologia ambiciona ver reforçado. “Com o reconheci-do potencial neste domínio, pare-ce-me um investimento impor-tante”, salienta Carlos Robalo Cordeiro.

O diretor de Serviço revê-se numa estratégia de envolvimento global. “Temos hoje e queremos reforçar o número de médicos hospitalares que apoiam a reali-zação dos mestrados integrados em Medicina que aqui desenvol-vemos”, refere. Na vertente for-

mativa existem igualmente algu-mas alterações funcionais a re-ver: “Desde logo, reabilitámos um laboratório de investigação que não estava a ser devidamente utilizado e que vai ter a colabora-ção de um investigador da Facul-dade de Medicina, o que consti-tuirá um forte impulso no apoio aos trabalhos que se venham a desenvolver nesta base laborato-rial. Pretende-se igualmente fa-zer uma reestruturação do espaço de reuniões de formação, com a

criação de uma sala multimédia, que gere condições de obtenção de uma maior qualidade de ima-gem, mas que também permita fazer ligações com centros euro-peus — com os quais estamos a estabelecer protocolos —em algu-mas reuniões multidisciplinares ou na discussão de casos clínicos, para que possamos ter uma parti-lha clínica e científica com cen-tros de referência em diversas áreas, nomeadamente na patolo-gia do intesticio”.

“O Serviço de Pneumologia A do CHUC acompanha igualmente áreas de menor prevalência, mas de elevada diferenciação, como são a patologia do sono, a patologia intesticial e a fibrose quística, entre outras”.

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 21

Serviço de Pneumologia A do Hospital da Universidade de Coimbra

E é exatamente nesta patologia que Carlos Robalo Cordeiro am-biciona reforçar as relações inter-nacionais do Serviço. Desde logo foi garantido que em 2017, o Ser-viço de Pneumologia A do CHUC “vai ter um fellowship de uma destacada personalidade de Es-sen, na Alemanha”. Pelo período de um mês esta ligação vai visar o desenvolvimento de processos la-boratoriais em algumas das téc-nicas que o professor visitante domina, “mas sobretudo reforçar o setor de patologia do intesticio, no sentido de o Serviço reunir as condições necessárias para se candidatar ao estatuto de centro de referência. A reorganização, o reforço de internacionalização e a aquisição de algum equipamento tornarão possível a concretização desta candidatura”. E esta não se-rá a única candidatura a Centro de Referência que se ambiciona, pois na Fibrose Quística existe igualmente esse desiderato. Refi-ra-se que o CHUC é o Centro Hospitalar que mais centros de referenciação tem a nível nacio-nal.

O diretor do Serviço de Pneumo-logia A do CHUC considera de igual modo fundamental, neste triénio, “melhorar a qualidade dos atos médicos em todas estas áreas.

Desde logo, “o mais importante centra-se na elaboração de proto-colos clínicos de atuação sustenta-dos na evidência científica. Já de-senhamos 11 áreas para as quais serão necessárias criar regras de atuação. A ideia passa por instituir regras, baseadas nas mais recentes evidências científicas e que possam contribuir para um maior rigor em termos orçamentais. Um hospital público tem que ter forçosamente essa atenção.

InvestimentosSendo a atividade médica um

setor amplamente sujeito à ino-vação clínica e tecnológica, o di-retor do Serviço de Pneumologia A define uma série de investi-mentos que considera de pre-

mente concretização: “Desde lo-go, em termos de equipamentos, pretendemos adquirir meios que envolvam as técnicas endoscópi-cas e equipamentos que melho-rem a rentabilidade e eficácia clí-nica, não só na área oncológica, mas também na área da patologia intersticial. De igual modo, em termos estruturais, parece-me determinante constituir uma Unidade de Ventilação Não Inva-siva, atualmente a ser praticada de forma indesejavelmente dis-persa”.

Carlos Robalo Cordeiro destaca estes dois investimentos, sendo que os recursos humanos vão ser também objeto de solicitação. “Es-te Serviço estava bastante envelhe-cido o que fez com que nos últimos anos saíssem muitos profissionais,

nomeadamente do setor médico. Por isso se pretende reequilibrar a equipa e obter uma resposta positi-va que nos permita manter a eficá-cia, os indicadores clínicos e a qua-lidade assistencial”.

Questionado sobre a recetivi-dade da equipa perante as pre-tensões acima enunciadas, o nosso interlocutor afirma que à sua semelhança, “todos os clíni-cos do Serviço estão entusias-mados e empenhados e perce-bem que pode surgir uma dinâ-mica nova e um apoio para a de-sejável qualificação e diferenciação adicionais”.

Nunca deixando de trabalhar com o intuito de abrir o Serviço de Pneumologia A ao exterior, com protocolos de colaboração, “quer a nível nacional, mas so-bretudo a nível internacional”, a ligação que o diretor tem com o ensino e investigação da FMUC pode permitir criar uma maior

dinâmica, com a proximidade a muitos centros nacionais e sobre-tudo internacionais. “Pretendo fazer todos os esforços para que as boas ideias e projetos possam ser desenvolvidos e com o supor-te da direção possam ser amplia-dos”. Assim sendo, com a assis-tência, a formação e uma maior ligação à área do ensino e da in-vestigação — com uma direção que faz a ligação entre o Hospital e a Universidade —, Carlos Roba-lo Cordeiro considera ser esse o caminho a seguir: “Com o apoio incondicional da administração hospitalar que está empenhada e não deixará de sustentar as nos-sas intenções, com a Universida-de que vê com bons olhos que membros da sua casa dirijam Serviços de um Hospital Univer-sitário e sobretudo com o empe-nho de todos os elementos do Serviço de Pneumologia A do CHUC”.

“Todos os clínicos do Serviço estão empenhados e percebem que pode surgir uma dinâmica nova e um apoio para a desejável qualificação e diferenciação adicionais”.

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22 Perspetivas Agosto 2016

Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz

Referência nacional na Nefrologia

A criação deste serviço data de 1980, na altura pela iniciativa de Jacinto Simões, um dos grandes mestres da Nefrologia no país. O seu atual diretor é o especialista José Diogo Barata.

Inicialmente, chamava-se Serviço de Medicina Interna e Nefrologia, constituindo uma estrutura assistencial comum às duas especialidades. Desde o momento da sua génese até à sua atualidade, trata-se de um serviço que sempre se manteve a par dos desenvolvimentos que a especialidade veio a conhecer. Concretamente, foi este o servi-ço pioneiro a nível nacional no início de um programa Diálise Peritoneal Crónica Ambulatória e num programa regular de

transplantação renal Dador Vi-vo, na introdução de novas téc-nicas como a LDL-aférese no tratamento da hipercolesterole-mia familiar severa e, em liga-ção com o Serviço de Cardiolo-gia, no tratamento da hiperten-são resistente com a técnica da desnervação renal.

Para além deste pioneirismo no âmbito assistencial, esta sin-tonia com a evolução da espe-cialidade manteve-se sempre refletida nos domínios da for-mação e da investigação. É de mencionar a sua ligação com as duas Universidades de Lisboa, com alguns elementos doutora-dos e quatro atualmente em projetos de doutoramento e o seu importante papel na forma-

ção de várias gerações de espe-cialistas em Nefrologia, sem es-quecer o contributo para o co-nhecimento através de um gran-de volume de participações em publicações científicas nacio-nais e internacionais, assim co-mo pela contínua organização de reuniões científicas. Neste âmbito, convém sublinhar a criação do Instituto Nefrológico de Investigação (ISNI), em 1997, estrutura que tem como propósito da promoção da in-vestigação básica e clínica nesta especialidade, atuando em liga-ção com o serviço. Quanto à for-mação, é também de realçar que o serviço está envolvido não só na preparação de médicos como de enfermeiros, em colaboração com as Escolas Superiores de Enfermagem da região de Lis-boa.

Num momento mais recente da sua história, em 29 de dezembro de 2005, passou a assumir uma nova dimensão. Com a integração do Hospital de Santa Cruz no Centro Hospitalar de Lisboa Oci-dental (CHLO), junto com os hospitais de Egas Moniz e de S. Francisco Xavier, toda a assistên-cia nefrológica ficou claramente centralizada neste serviço.

Atualmente, o seu campo de in-tervenção abrange o apoio nefro-lógico a todas as unidades do CH-LO, assim como a uma população de 450 mil habitantes e aos ou-tros hospitais da sua área de in-fluência: Hospital Ortopédico Jo-sé de Almeida, Hospital Prisional de Caxias e Hospital de Cascais.

Dentro do seu espaço geográfico, presta assistência e apoio de in-ternamento específico a, aproxi-madamente, 800 doentes hemo-dialisados em centros extra-hos-pitalares. Em todo o caso, não deixam de lhe ser referenciados pacientes provenientes das mais diversas zonas do país.

Estas circunstâncias tornam--no um dos principais serviços do país, sendo mesmo o princi-pal dentro de certos indicado-res. De acordo com dados refe-rentes tanto a 2013 como a 2014, é, com uma distância con-siderável, o serviço que realiza um maior número de primeiras e segundas consultas externas

(cerca de 20 mil). O mesmo acontece relativamente à quan-tidade de doentes acompanha-dos em diálise crónica.

Pese embora estes números, o serviço depara-se com um défice de profissionais, quer no caso dos médicos como de enfermeiros e auxiliares de ação médica, con-forme se encontra expresso no seu Relatório de Atividades de 2015.

As várias unidadesA orgânica deste serviço é cons-

tituída por um conjunto de uni-dades que passamos a descrever. A Unidade de Internamento dis-

O Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz (integrado no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental) é um dos principais do país, não só pelos indicadores atuais da sua atividade assistencial como também pela sua longa e prestigiada tradição em termos académicos e científicos.

Saudoso Dr. António Pina e Dr. Domingos Machado (Coordenador da Uni-

dade de Transplantação)

Saúde

Agosto 2016 Perspetivas 23

Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz

Serviço de Nefrologia Centro Hospitalar Lisboa Ocidental – Hospital de Santa Cruz

põe de 27 camas, dirigindo-se a doentes tidos como clinicamente instáveis, e conta com monitori-zação invasiva e não invasiva de parâmetros hemodinâmicos e traçado eletrocardiográfico, ma-terial para suporte básico e avan-çado de vida, rampas de gases e vácuo e capacidade para ventila-ção mecânica em situações de ur-gência.

A Unidade de Hemodiálise, a funcionar desde 1980, está equi-pada com 21 monitores para 15 postos, distribuídos por quatro salas. Aqui, são dialisados os doentes internados no Hospital e um conjunto de doentes ambula-tórios crónicos, com regime de isolamento para casos de doença pelo VIH ou de infeção pelo vírus da Hepatite B. Em acréscimo à

Hemodiálise, executam-se diver-sas técnicas de tratamento de-pendentes de circulação extra--corporal, tais como a plasmafe-rese, hemoperfusão, etc. Esta unidade apresenta um dos maio-

res programas de Hemodiálise ambulatória hospitalar e, desde junho de 2014, é certificada pela SGS.

Também certificada está a Unidade de Diálise Peritoneal. Esta foi pioneira na zona Sul (existindo desde 1981) e o seu programa tem cerca de 90 doen-tes, tratados com programas di-versificados de diálise perito-neal manual ou automática, sendo este um dos maiores pro-gramas de Diálise Peritoneal do país.

Retomando a referência a uma das vertentes em que este serviço foi pioneiro, importa mencionar também a Unidade de LDL Aférese. Estes trata-mentos tiveram início, com re-gularidade, em 1996, existindo

exclusivamente aqui até ao ano de 2009. A LDL Aférese tem por objetivo a remoção do excesso de colesterol do sangue.

Conta com uma Sala de técnicas onde, em ambiente assético, são praticadas diversas técnicas invasi-vas do âmbito da nefrologia como

as Biópsias renais e ósseas e onde são colocados os cateteres venosos para acesso a hemodiálise.

Para a transplantação renal, o serviço tem a Unidade de Trans-plantação Renal Dr. António Pi-na, em memória a um cirurgião que foi o grande impulsionador desta prática no hospital. Atual-mente, realiza aproximadamente 60 transplantações renais por ano nas versões de dador cadáver e dador vivo aparentado e não aparentado. Desde março que o serviço está reconhecido como Centro de Referência para candi-datos adultos.

Por fim, a Unidade de Angio-grafia de Intervenção em Aces-sos Vasculares, que se consti-tuiu como específica deste ser-viço em 2008. Preenche cerca de 12 horas semanais do Serviço de Imagiologia e trata-se de um importante suporte aos doentes renais crónicos em diálise, no que diz respeito à gestão dos acessos vasculares. Mais uma vez, a nível hospitalar, é de lon-ge a unidade que maior número de intervenções endovasculares pratica no país.