quinta edição

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Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Edição nº5 (Março de 2013)Jornal Mensal Opinião Não percas nesta quinta edição a opinião do antigo aluno da FCH e atual editor de política do Expresso, Martim Silva Págs. 8 e 9 Culturismo Nesta edição conhece a saga The Vengeance triology e o livro de Vergílio Fer- reira “Em nome da terraPágs. 10 e 11 Correio FCH O Jornal Público na Biblioteca e a falta de civismo e “Os meninos da Católi- cos vs. Os outros alunos” nas cartas desta edição. Pág. 15 “Não sou professor, nem doutor, nem excelência ou eminência(…) O meu nome é Carlos” Grande Entrevista - Págs. 4 a 6 Question à trois Conhece Pedro Pereira, aluno da FCH e um jovem talento escritor Págs. 13 ExpoCarreiras 2013 Que relevância tem a ExpoCar- reiras? Quais as novidades deste ano? Sabe tudo na FCH News d’O Académico Página 3

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No mesmo dia que o aniversário da RTP, foi lançado a quinta edição d'O Académico. Nesta edição contamos com a entrevista de Carlos Calaveiras, Jornalista e professor de Rádio

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Page 1: Quinta Edição

Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Edição nº5 (Março de 2013)—Jornal Mensal

Opinião Não percas nesta quinta edição a opinião do antigo aluno da FCH e atual editor de política do Expresso, Martim Silva

Págs. 8 e 9

Culturismo

Nesta edição conhece a saga The Vengeance triology e o livro de Vergílio Fer-reira “Em nome da terra”

Págs. 10 e 11

Correio FCH O Jornal Público na Biblioteca e a falta de civismo e “Os meninos da Católi-cos vs. Os outros alunos” nas cartas desta edição.

Pág. 15

“Não sou professor, nem

doutor, nem excelência ou

eminência(…) O meu nome

é Carlos”

Grande Entrevista - Págs. 4 a 6

Question à trois

Conhece Pedro Pereira, aluno da FCH e um jovem talento escritor

Págs. 13

E x p o C a r r e i r a s

2013

Que relevância tem a ExpoCar-reiras? Quais as novidades deste ano? Sabe tudo na FCH News d’O Académico

Página 3

Page 2: Quinta Edição

2 | Editorial

Por aqui passaram talentos

"O talento é um título de responsabilidade.” Charles de Gaulle

21 Anos depois da fun-dação do curso de

Comunicação Social e Cultural na FCH/UCP, sentimos a necessi-dade de tocar neste assunto pela importância que esta licenciatu-ra tem no panorama atual da comunicação social em Portugal.

Após alguns contactos com a primeira geração de alunos de comunicação, apercebemo-nos que a FCH não é apenas uma faculdade, é uma fábrica de talentos e de futuros profissio-nais.

Hoje grande parte dessa pri-meira geração ocupa grandes cargos profissionais. São asses-sores de ministros, jornalistas ou investigadores consagrados.

O Académico espera, a partir deste momento fazer um apa-nhado dessas duas décadas, com entrevistas, artigos ou mesmo reportagens.

Nesta quinta edição temos dois exemplos dessa primeira formação prodigiosa de Comuni-cação Social na Católica: Carlos Calaveiras, atual professor de Comunicação Radiofónica e jor-nalista da Rádio Renascença e Martim Silva, prestigiado jorna-lista, que é hoje editor de Políti-ca do Semanário Expresso.

Curso teórico ou não, a verda-de é que Comunicação na FCH continua a ser um curso de uma Faculdade de Excelência dentro da Católica e no panorama nacional do ensino superior por-tuguês.

Esperamos nas próximas edi-ções tocar neste tema e procu-rarmos estes atuais profissio-nais da Comunicação, de forma a entendermos a importância da nossa faculdade no panorama nacional e individual.

Para além da Comunicação, as outras Ciências Humanas na Católica também são muito valo-rizadas. O curso de Serviço Social é um dos melhores cursos a nível nacional. As Línguas Estrangeiras Aplicadas a mesma coisa e temos a certeza que daqui por alguns anos o mesmo vai acontecer com Psicologia, a licenciatura mais recente da FCH.

Embora digam que existem outras faculdades melhores que a nossa, a verdade é que a FCH da Católica tem um prestígio que nenhum outro estabelecimento de ensino tem. Tem exigência, cria desafios aos seus alunos.

Mas cuidado, o talento não é sinónimo de curso superior na FCH/UCP. O talento é algo que se desenvolve. Como já nos dis-seram vários antigos alunos da FCH o talento pode ser a humil-dade que cada um tem em que-rer aprender mais e ser capaz de ser crítico relativamente ao seu trabalho.

Como disse o ator Rui Moris-son “Se nascemos com jeito para fazer coisas e não traba-lharmos, nunca chegaremos a um nível pelo menos aceitável. Às vezes, sucede que um tipo com menos talento pode chegar mais longe.”

Page 3: Quinta Edição

FCH News | 3

Expocarreiras 2013

No tempo presente, em que conseguir

um estágio, e mais ainda um emprego,

se transformou numa quimera, urge

reduzir (na esperança de radicar) o fos-

so entre o ensino superior e o mercado

de trabalho. Neste sentido, surgiu a

ExpoCarreiras, um evento promovido

pela Faculdade de Ciências Humanas

(FCH) da Universidade Católica Portu-

guesa (UCP) que se apresenta já na sua

6ª edição.

Nascido em 2008, este projeto visa

fomentar a comunicação e a proximida-

de entre os alunos do ensino superior e

o mercado de trabalho, com objetivo

final de fazer chegar aos estudantes

informações concretas sobre as expecta-

tivas e requisitos da esfera laboral. Para

tal, a FCH solicita a participação de

diversas empresas da área da comunica-

ção (quer no campo do jornalismo, quer

no das relações públicas, entre outros)

que se deslocam ao campus de Palma

de Cima para esclarecer os estudantes e

oferecer oportunidades de estágio.

Além dos objetivos já referenciados,

procura-se ainda, com a ExpoCarreiras,

promover a própria UCP, bem como a

qualidade do seu ensino, que acompa-

nha os seus alunos durante o processo

de metamorfose e à saída do casulo

como competentes profissionais.

Querendo inteirar-nos das especifici-

dades da ExpoCarreiras 2013, entrevis-

támos a aluna de 2º ano do curso de

Comunicação Social e Cultural, Miriam

Andrade, que tem participado ativa-

mente na preparação deste evento.

Qual é a relevância deste evento para os estudantes da UCP? Este evento é extremamente importante

para todos os alunos da FCH porque

promove o intercâmbio entre o mundo

do trabalho e o estudante, preparando

caminho para o seu futuro profissional.

As empresas estarão aptas para recebe-

rem os Currículos dos alunos, o que

poderá suscitar uma hipótese de empre-

go e, principalmente, de estágio. É uma

oportunidade a não perder!

Que novidades traz a ExpoCarreiras 2013?

O tema abordado no próximo dia 5 de

Março será o aluno e o mercado de tra-

balho. A ExpoCarreiras deste ano traz

um toque de interatividade entre o alu-

no e o especialista, onde as duvidas que

os alunos tiverem em relação à sua

entrada no mercado de trabalho serão

respondidas numa das conferências da

tarde. Será uma boa forma de esclarecer

as cabeças confusas e ansiosas de todos

nós.

Beatriz Isaac

Inês Andrade na FCH A locutora da Cidade FM, vem dar

uma palestra à FCH sobre a sua

experiência em rádio. O encontro

será no próximo dia 12 de março, a

partir das 15:30 com lugar na

AEFCH.

BREVE Bênção das Fitas da FCH

No passado dia 14 de feve-

reiro ficou decidido em Reu-

nião Geral de Alunos (RGA)

que a Bênção das fitas vai

ser composta por duas ceri-

mónias distintas: um primei-

ra evento com presença nas

instalações da FCH, e a res-

petiva Bênção na Cidade

Universitária juntamente

com as outras universidades

de Lisboa.

Ao contrário da polémica

discussão na rede social

Facebook, após um dos

membros da Comissão de

Finalistas ter publicado o

aviso da Bênção, mui-

tos dos alunos mais

críticos não reagiram

da mesma forma que

nos comentários do

Facebook tendo com-

parecido apenas 12

alunos.

Até ao momento con-

tabilizam-se cerca de

60 alunos inscritos na

Bênção, apurou O

Académico junto da

Comissão de Finalis-

tas. A Bênção será no

dia 18 de maio.

Page 4: Quinta Edição

4 | Destaque

GRANDE ENTREVISTA

E le não gosta, nem tem “prefixos” no nome, como títulos de professor ou doutor. O seu nome é

Calaveiras, Carlos Calaveiras, 40 anos. Há 21 anos foi um dos alunos a inaugurar o curso de

Filipe Resende Comunicação Social e Cultural na Católica. Foi colega de turma de figuras como Ricardo Araújo Pereira ou Martim Silva.

A sua maior paixão é a Rádio. Atualmente é professor de Comunicação Radiofónica e Jor-nalista da Rádio Renascença. Passaram pelas suas mãos

imensos talentos do meio radiofónico como Vasco Pal-meirim, André Henriques e outros tantos radialistas conhecidos. O Académico foi conhecer este descontraído professor que pede para que não lhe tratem por tal:

“Não sou professor, nem doutor, nem excelên-

cia ou eminência(…) O meu nome é Carlos”

Foste um dos primeiros alunos de Comunicação na Católica. Sim. Fui dos primeiros a entrar e dos segundos a sair, digamos assim. Quem foi teu colega nesse primei-ro ano de Comunicação? O Ricardo Araújo Pereira e o Miguel Gois, que foram para o humor. Ago-ra no jornalismo há muitos. Na SIC há imensos. Na TVI há vários. No grupo da Renascença são dezenas. Mas nomes. O atual editor da noite da Renascen-ça, José Pedro Frazão foi cá aluno. O editor da RFM da tarde Pedro Caei-ro, também foi cá aluno. Fora do grupo Renascença, temos o Paulo Fernandes na M80, o Ricardo Sérgio na Antena 3, temos na Cidade FM a Rita Rugeroni, que acho que já está na Comercial. São tantos. Na televi-são temos muita gente também. Temos o Martim Silva, editor de política do Expresso. Temos o Mar-tim Avillez Figueiredo. Temos o Luís Costa Branco que estava na SIC e agora é editor do Sol em Angola. São imensos. São imensos talentos. Sim. Eu conheço melhor os dois pri-meiros anos. Tiveram todos uma

empregabilidade elevada no setor. Estávamos em época de maré cheia, digamos assim e a maioria entrou nessa fase. A rádio foi sempre o sonho da tua vida? Sim, foi a primeira “doença grave” que apanhei. Isto é um bicho que se desenvolve nas pessoas. Antes de vir para a rádio, eu brincava às rádios em casa. Tinha uma rádio pirata. Quer dizer, não era bem pira-ta porque nem ia para o ar. Era “Me, myself and I” como diz a música dos Gift. Tinha um nome que não posso dizer aqui. Mas era uma rádio em

que fazia tudo. Fazia o programa, a informação. Também ouvia rádio de manhã à noite, a minha mãe tinha um rádio sempre ligado. Portanto quando acordava estava o rádio ligado lá ao fundo na cozinha. E ia para as aulas e vinha das aulas e ligava o rádio do carro. E descobri uma coisa gira. Quando era pequeno a minha mãe mandava-me para a cama às dez da noite. Nós quando somos miúdos fazemos aquela “cowboiada” do “não quero ir, não quero ir” até que descobri que a Renascença tinha um progra-ma à noite, que era às dez e meia, que se chamava “Bola Branca: Edi-

Page 5: Quinta Edição

Grande Entrevista a Carlos Calaveiras | 5

Carlos Calaveiras

ção alargada da noite” e então a minha mãe mandava-me para a cama às dez. Eu aguentava aquilo um bocado e às dez e meia enfiava o rádio debaixo da cama com um auri-cular e estava a ouvir a Bola Branca sossegado. A minha mãe pensava que estava a dormir e estava a ouvir a Bola Bran-ca, e depois ouvia o noticiário das onze. Mas graças à Bola Branca comecei a ir para a cama às dez e meia. Depois vim para a Católica, quis Comunicação Social e vi-me inscrever na cadeira de Comunica-ção Radiofónica. A “doença” foi-se agravando ao longo dos tempos. Na altura a cadeira era opcional e vim-me para cá de véspera com um gru-po de alunos porque tínhamos de garantir as vagas e portanto, a doen-ça era tão grande que quase nos obrigámos a inscrever na cadeira. A coisa agravou-se. E nunca mais paraste… É verdade. Eles [professores] acha-ram tanta graça ao miúdo que não saía daqui [estúdios de rádio da UCP], que acabaram por me contra-tar para a Católica e depois para a Renascença. Foi quase simultâneo. Com quem é que já trabalhaste conhecido na rádio? O vosso professor Ramos Pinheiro foi o meu primeiro diretor de infor-mação. Agora é administrador do grupo R/com. Agora fora o profes-sor, já entrevistei ministros, não sei se conta. Risos. Se os ministros contam... Houve um ministro que me virou a cara a uma pergunta. O que foi simpático da parte dele. Fez-me um sinal que aquela pergunta não ia responder, e virou-me as costas. Foi engraçado. Com outra ministra, essa mais sim-pática. Eu cheguei atrasado ao servi-ço ao qual sou alheio e a senhora estava a sair quando cheguei. Falei com ela e disse-lhe:

“Doutora peço-lhe desculpa por ter chegado atrasado, importa-se de responder a umas perguntinhas rápidas? Eu sei que isto já acabou, mas é só para eu ter qualquer coisa para quando chegar à rádio.” E ela disse-me: “Ainda não almocei, estou quase a desfalecer, mas vá lá.” Foi muito porreira. Essa posso dizer quem foi. Foi a Dra. Maria de Belém. Foi impecável comigo e com uma outra colega que também se atrasou. Que jovens promessas já passa-ram pelas tuas mãos nesta disci-plina de Comunicação Radiofóni-ca? Suponho que tenham sido bastantes. Sim. Uma coisa que dá especialmen-te orgulho é ver ex-alunos desta cadeira em vários lugares. Ligar a televisão e estão lá, ou abrir o jornal e ver o nome. Ouvir as rádios e lá andam. É espetacular. É giro ver as pessoas que começam pequeninas e vão crescendo. Temos que ter qual-quer coisa cá dentro. Não sei se é um bicho, nem sei o que é, eu chamo-lhe bicho. É qualquer coisa que depois vamos regando, para aquilo crescer e tornamo-nos bons e é espetacular ver as pessoas, mesmo fora do jornalismo. Temos ex-colegas nossos que hoje são assesso-res de ministros, temos tudo. É fan-tástico! Este curso, esta universida-de abriu imensos horizontes a muita gente e deu emprego. E pelos vistos a empregabilidade continua alta, mesmo apesar da crise. Os alunos queixam-se que o curso é demasia-do teórico e esta disciplina é um oásis. Nesse aspeto, ainda bem que é assim porque à partida os alunos gostam. Temos um bom feedback e recebemos as nossas avaliações e temos estado sempre acima da média. O que é bom saber, é sinal que os alunos gostam e que valemos alguma coisa.

Achas que os alunos que saem das universidades têm potencial na rádio? Claro! Ninguém nasce ensinado. Mas assim de anos para anos, há umas pessoas que aparecem e aquilo é inato nelas. Mas isso é como o Mara-dona no futebol. Ele não precisava de treinar, aquilo já vinha com ele. Há pessoas na rádio, como há em todas as profissões, que aquilo pare-ce que já vem formatado. Mas 99% das pessoas que trabalham em rádio, aquilo é muito trabalho. Aqui-lo aprende-se, aquilo evolui-se. Não sais daqui, mesmo depois do curso, especialista em rádio. É preciso ires para um sítio onde vais avançando e melhorando. Vais aprendendo com os mais velhos, com as pessoas que lá estão. Como o próprio Professor José Patrício diz, 95% é trabalho e 5% é talento. Sim, é fundamental. Tens que ser humilde. Tens que querer aprender. Tens que ouvir os mais velhos. Tens que levar na cabeça. Tens que apa-nhar secas à porta da Procuradoria, ou dias e dias atrás de certas pes-soas. Por exemplo eu estou agora há dias e dias atrás de uma pessoa que não me atende o telemóvel, e quando me atende diz que está ocupada. Anda-mos nisto. Quando é preciso, temos

Page 6: Quinta Edição

6 | Destaque

que ir buscar o almoço a alguém ou comprar cafés e cigarros. Se me dissesses dá-me aí três ingre-dientes fundamentais diria, vontade de aprender, humildade de ouvir os mais velhos e força de vontade, são três coisas fundamentais para esta e para outras profissões. Porque essa frase do “Aí tenho uma grande voz” Isso não é nada. As pessoas da rádio têm que ter a capacidade de ter uma boa comunicação, expressividade, trabalho, vontade e humildade. Conhecemos o Carlos de Comuni-cação Radiofónica. Como é o Car-los da Rádio Renascença? Risos. Isso só vendo, podes fazer-me uma entrevista lá. Eu tento ser a mesma pessoa, é isso que eu digo na primeira aula que não sou profes-sor, nem doutor, nem excelência ou eminência. Tu até dizes que não tens prefixos no nome. Não. O meu nome é Carlos e portan-to tento estar à vontade. O professor Patrício costuma dizer que nós esta-mos à vontade, o que é diferente de estarmos à “vontadinha”. Portanto são coisas diferentes. Eu aqui tento ser o mais igual a mim próprio. Ten-to ser eu próprio. O Carlos da Renas-cença é igual ao Carlos da Católica sendo que na Renascença diz mais umas asneiras. Porque lá é a sério e com maior pressão, é complicado quando as coisas estão acontecer no momento. Quando me dizem para ter determinada coisa na hora, temos que ser rápidos a reagir. Aqui na Católica tentamos por pressão mas não conseguimos chegar ao mundo real. Às vezes é difícil gerir isso tudo. Que grandes acontecimentos já testemunhaste na rádio? Ui! Não sei quanto tempo tens, mas posso estar aqui horas a falar sobre isso.

Então os momentos que te vêem assim à cabeça. Olha lembrei-me de um que estamos quase a repetir, a mudança do Papa. Quando morreu o Papa João Paulo II eu estava na Rádio. A Renascença é a emissora católica portuguesa e o que posso dizer-te que o Papa mor-reu num sábado, dia 2 de abril de 2005. Há datas que sei de cor! O papa morreu num sábado e nós entrámos em alerta vermelho na quarta-feira à noite, três dias antes. As folgas foram cortadas às pessoas, foram reforçados os turnos. Apanhei a morte do Papa, apanhei o concla-ve, apanhei a escolha do Papa Bento XVI, apanhei a queda da ponte Entre-Os-Rios. Fiz essa noite e madruga-da. Apanhei o 11 de setembro. O primeiro avião ainda estava em casa, o segundo avião estava a sair de casa. Entrei na rádio às 15 horas e saí às 8 da manhã do dia seguinte. Apanhei as duas eleições do Barack Obama. Todos os atos eleitorais por-tugueses, eu estava presente. Incluindo a demissão do engenheiro Guterres, do engenheiro José Sócra-tes. Falhei agora precisamente a resignação do Papa Bento XVI. Apa-nhei a segunda Guerra do Golfo. Nessa também estava de prevenção assim que o saudoso Carlos Fino deu a notícia, eu estava na cama mas calçado e vestido e foi só sair de casa e ir para a rádio. De quem trabalha contigo, os que vieram da Católica estão mais bem preparados? Depende, vamos tentar ser sinceros. Eu acho que nalgumas coisas sim, noutras não. Ou seja naquela coisa que se chama a teoria e isso engloba a cultura geral, acho que a Católica está à frente de todas. Naquela coisa do “estás pronto para ir fazer jorna-lismo”, já uma coisa prática, aí penso que há universidades melhores que a Católica. Em termos de à vontade prática, acho que a Católica não está à frente, não estou a dizer que está em último. Mas lá está, isto é um equilíbrio.

Em todas as grandes entrevistas que fizemos temos sempre uma pergunta “bombástica” e a nossa pergunta para ti é… Meu Deus! Andaste numa universidade Cató-lica, trabalhas numa rádio católi-ca e a que pergunta que fazemos é :és católico? Eu sou aquilo que se designa um católico não praticante. O que quer isto dizer? Eu tive educação católica, como 99% dos portugueses. Sou batizado, fui à catequese, os meus pais são católicos e educaram-me tudo isso. Agora se me perguntas se vou à missa, normalmente não vou. Se calhar é neste momento que vou ser despedido. Vão rescindir o con-trato, mas sim tenho uma educação católica e tenho essa formação na minha vida.

“Naquela coi-

sa que se

chama a teo-

ria e isso

engloba a

cultura geral,

acho que a

Católica está

à frente de

todas.”

Page 7: Quinta Edição

Opinião | 7

Muito mais que uma universidade… Martim Silva

Editor de Política do jornal Expresso

F oi há 21 anos que pela primeira vez subi as escadas que dão aces-so ao edifício principal

e mais antigo da Universidade Católica Portuguesa, em Lis-boa. Eu e uma centena de outros jovens olhávamos então com esperança e ansie-dade as pautas com as notas dos exames de acesso ao 1º ano do curso de Comunicação Social (e Cultural) da Católica. Eramos novos na Universida-de. Como novo era o curso, que se estreava.

Depois das áreas mais tradi-cionais de ensino na Católica, como o Direito, a Economia e Gestão e a Teologia, a Univer-sidade abria-se ao jornalismo. Isto acontecia precisamente no momento em que em Por-tugal explodia a comunicação social privada. A SIC estava quase a nascer, a TVI seguia-lhe os passos meses depois. O Público tinha nascido havia pouco tempo, o DN e o JN tinham sido privatizados.

Era um momento de espe-rança. Um momento de todas as esperanças… Aliás, Portu-gal era considerado o bom aluno da Europa, o dinheiro comunitário entrava no país e a fatura parecia que nunca iria chegar.

Duas décadas depois, vocês, que subiram como eu as esca-das de acesso à UCP cheios de ilusões e energia, têm um país

e um mundo muito diferentes. A democracia generalizou-se no mundo, e a globalização faz crescer países… mas noutros pontos do mundo. Cá dentro o que se sente é tudo menos oti-mismo: é a crise que não há maneira de ir embora, os empregos que não regressam, o crescimento económico que se transformou numa quimera.

A questão já não é tanto o sítio para onde vão quando tiverem o canudo, mas se vão ter um local para onde ir…

A comunicação social vive essa angústia diariamente. O mercado publicitário retraiu-se fortemente, com uma dimi-nuição considerável das recei-tas que se sente em todo o lado. Começando nas televi-sões, mas passando fortemen-te pela imprensa e rádios.

CONVIDADO ESPECIAL

O mote da generalidade dos órgãos de comunicação social já não é saber como fazer o mesmo com menos recursos. Agora, é fazer menos com menos. Ponto final.

Ao mesmo tempo, e numa suprema ironia, nunca se con-sumiu tanta informação, nun-ca se produziram tantas notí-cias, nunca se leram tantas novidades como agora.

É verdade, também há notí-cias boas, ou pelo menos, notí-cias que permitem manter a esperança.

A internet é global. Está no mundo inteiro, em todo o lado e a toda a hora, e está também nas nossas mãos, com os tele-fones de última geração e apa-relhos como os tablets.

Estamos todos ligados e a informação é cada vez mais

“Eu e uma centena de outros jovens olhávamos

então com esperança e ansiedade as pautas com

as notas dos exames de acesso ao 1º ano do curso

de Comunicação Social (e Cultural) da Católica.”

Page 8: Quinta Edição

8 | Opinião

imediata, instantânea, e com maior dificuldade da manu-tenção do papel de mediação do jornalista.

Esta sociedade global das redes de informação é a vossa sociedade. Este é o ar que res-piram. E vocês são os atores e protagonistas que se seguem. Serão vocês a estar ao coman-do, sejam jornalistas ou traba-lhando em qualquer outro lugar ligado à comunicação e à sociedade da informação global.

Daqui a duas décadas serão vocês os líderes de opi-nião, os jornalistas que defi-nem a agenda, os comunica-dores que definem as tendên-cias. Serão vocês os “ricardos araújos pereiras” (meu colega no primeiro ano do curso), serão vocês quem vai estar a pilotar as redações deste país, como hoje estão antigos alu-nos da Católica, seja na SIC, no Público, na Rádio Renascença ou na Sábado. Ou no Expresso, obviamente.

Tenho imenso prazer e mesmo orgulho em ter feito parte da primeira fornada de “católicos” de comunicação social. E tenho a profunda convicção que daqui a vinte anos vocês pensarão o mes-mo. A Católica é uma excelen-te Universidade, que se man-tém no topo do que melhor se faz em Portugal há décadas. E a Católica são os professores, são os funcionários. Mas são sobretudo vocês, o futuros trabalhadores e empresários deste país. Há vinte anos recebi conheci-mento e informação de pro-fessores como Braga da Cruz,

Adriano Moreira, Pedro Maga-lhães, José Luís Garcia, Adéri-to Tavares e tantos outros que recordo com carinho. Recebi ensinamentos de rigor, exi-gência e excelência. Mas também recebi uma nova família que ainda hoje chamo minha.

“Isto acontecia precisamente no

momento em que em Portugal explodia a

comunicação social privada. A SIC estava

quase a nascer, a TVI seguia-lhe os pas-

sos meses depois. O Público tinha nasci-

do havia pouco tempo, o DN e o JN tinham

sido privatizados.”

P.S.: agora aqui para

nós que ninguém nos

ouve, digam-me uma

coisa, as tertúlias no

bar ainda são tão

divertidas e intensas

como eram?

Page 9: Quinta Edição

Crónica | 9

A bre os olhos, devagar, dei-

xando lentamente, a

penumbra do nascer do sol,

dar vida às íris de cor ver-

de que lhe dão o mundo. Que lhe dão

ela. Esta a descansar ainda. Um anjo

num nenúfar de linho branco, enge-

lhado, impressão digital que revela o

que se passou durante a noite. Na

noite que durou mil noites. Mas ele

não a olha logo, tem medo, medo de

se aperceber de que tudo não passou

de um sonho bom. Olha para o mog-

no pesado da cómoda que sustem um

velho espelho, testemunha do verda-

deiro eu que ele guarda dentro de si e

que mais ninguém conhece. Um eu

que chora, que dança e que faz care-

tas. O seu olhar vai subindo pelas

linhas de madeira que fazem o móvel

até que se detém no velho espelho.

Não reconhece o que vê. Os traços

que limam o seu rosto mantem-se, já

os conhece de cor, mas a sua expres-

são hieroglífica não se assemelha a

nada do que já viu. Olha para o seu

reflexo, sarapintado por autocolantes

que nascem pela superfície gelada do

espelho, e vê o que esperou anos por

ver. Vê o que o fez enlouquecer de

desespero e esperança ao mesmo tem-

po. Vê Amor. Recíproco, genuíno e

sem fim. Quase que nem consegue

aperceber se disso... Disso que leva

pintado na cara. Disso que nasceu do

universo de sensações que está ali,

deitado, ao seu lado, a respirar peque-

nas lufadas de eternidade no seu pes-

coço. Ela. Tudo.

Com a subtileza de quem engana

linhas de chuva fugindo pelos seus

intervalos, destapa-se, lança com mil

cuidados de veludo as pernas quentes

para fora da cama e senta-se. Olha o

espelho de novo. Vê o sol que cada

vez cresce mais na sua cara. Sorri.

Levanta-se e fica de pé. Com a cama

nas suas costas. A olhar se ao espe-

lho. O velho espelho. A sua cara feliz.

Respira fundo e vira-se para ela, a

ternurenta ela. A razão pela qual o

mundo gira esta ali, à sua frente, com

uma gasta camisola de lã que ele usa

inverno após inverno, entrelaçada nos

lençóis de amor que tem para lhe dar.

Cobririam o mundo inteiro, o univer-

so inteiro. E ele sorri de novo. Sorri

muito. Quer partir os maxilares só

para poder sorrir ainda mais. Meu

Deus, ela está mesmo ali. Ele quase

que nem consegue acreditar, mas é

verdade. Ela está mesmo ali, deitada,

de olhos carinhosamente fechados,

com um sorriso de favos de mel. Ela

está ali.

Com passos de calma e cuidado,

ele atravessa o mar de madeira que

forra o chão até chegar ao porto segu-

ro que observa com amor desde que

acordou. É perfeita. Tudo nela o é.

Desde os seus pés de desenho cuida-

do, que espreitam, sorrateiramente,

pela ponta da manta de lã que a prote-

ge, até ao seu cabelo castanho, curto,

luminoso, que leva em si os cheiros

do paraíso. Tudo é a perfeição. E ele

continua a caminhar até ela.

Chegou. Ao lado da cama onde o

futuro feliz dormita. Tem-na exata-

mente à sua frente. O seu corpo e ela,

em suspensão, preso num momento

de total graciosidade. Um anjo a des-

cansar. E o sorriso continua agarrado

de unhas e dentes àquela cara cansa-

da, gasta. Ele flete as suas pernas

junto à extremidade da cama que flu-

tua diante de si, uma nuvem, e fecha

os olhos. Fecha-os e quase que vê

mais ainda. De repente, o entrelaçado

de sensações, cheiros, imagens e

sonhos que jorram daquele amanhe-

cer, daquele novo dia, fazem-no

estremecer por dentro. As suas costas

são rasgadas, de cima a baixo, por

um fulminante arrepio.

Um arrepio diferente dos arrepios

normais. Não vem do frio ou do

medo, vem do fogo que o amor deixa

como rasto quando vagueia por um

corpo simples, adormecido, dormen-

te. Um arrepio de recomeço.

Assim, alimentado pela brisa de

uma nova vida, de uma nova esperan-

ça, ele aproxima-se dela, do seu cor-

po, da sua cabeça, do seu brilho. Ain-

da agachado de encontro às arestas

da cama, deixa o seu braço baloiçar

pelo ar até cair em torno dela. Outro

arrepio. Aproxima a sua cabeça da

dela, e como se fosse dar um trago

numa bebida quente, deixa os seus

lábios tocarem na face quente daque-

la que o faz respirar. Beija-a. Com

ternura e leveza. Com carinho, com

cuidado, com tudo. E o mundo nasce

de novo. Um Big Bang num quarto

na penumbra. Pousa a sua face na

dela, fecha os olhos com muita força,

com a força de quem se quer agarrar

a um futuro bom. Quer aquilo para

sempre. Quer aquilo até ao fim. Tan-

to querer, tanto sentir, tanta coisa,

tanta coisa que leva agora consigo,

todo ele é combustão. Combustão de

tudo de mau que levava, pesadamen-

te, às costas. Tudo isso se incendeia e

faz libertar o que usará para construir

a vida que quer partilhar com ela.

Encosta os seus lábios na orelha

dela, deixa-os suspensos por entre a

cortina de veludo que é o seu cabelo,

e solta-se. "Sempre esperei por ti."

Cama

Diogo Lopes

Page 10: Quinta Edição

10 | Culturismo

Há um ditado chinês que diz “Antes de embarcares numa viagem de vingança, cava duas sepulturas”. Este ditado, irá ser essencial para entender a obra do realiza-dor. A trilogia de Park Chan-wook não apresenta segui-mento mas é contudo unida por um tema, facto que lhe valeu a atribuição do título “A trilogia da vingança”. As suas personagens implacá-veis buscam pelo restauro da honra e pela aplicação do castigo. “Tu até não és mau rapaz, mas sabes porque tenho de te matar”, diz uma das personagens de Park. Percorram comigo esta saga que viaja por caminhos de justiça, crueldade, fé e kar-ma, até chegarmos à reposta para a pergunta, “valerá mesmo a pena?”

Começamos com Sym-pathy for Mr. Vengeance (2002), onde um rapaz sur-do-mudo trabalha numa barulhenta fábrica. Fará tudo ao seu alcance para conseguir arranjar um rim para a sua irmã doente, até mesmo raptar uma criança de modo a conseguir o res-gate. Contudo, há algo que corre mal.

O segundo filme da saga e o mais aclamado mundial-mente é Oldboy (2003). Um homem é preso durante 15 anos sem saber porquê. Oh Dae-su é libertado e é-lhe

CINEMA

dito que tem apenas 5 dias para decifrar o seu cativeiro e obter a sua vingança. Em Lady Vengeance (2005), o terceiro filme, entre tons de branco e vermelho, pureza e luxúria, é a vez de Geum-ja, a belíssima protagonista femini-na brilhar. Juntando os temas recorrentes dos outros dois filmes, Geum-ja é tramada por um rapto e a morte de uma criança. Aguarda calculosamen-te os treze anos na prisão femi-nina criando futuras aliadas e traçando o seu plano. Em três filmes, três diferentes pontos de vista: Mr. Vengeance lida com a futilidade da vingan-ça; Oldboy trata-a como uma experiência espiritual e Lady Vengeance lida com a sua absol-vição. Três casos de pessoas normais que levaram este ato ao seu extremo mais poético e psicótico.

A trilogia da vingança (2002-2005),

Park Chan-wook

“Quando um herói decide vingar-se, a sua até agora tedio-sa vida acaba e ele renasce como uma pessoa completa-mente diferente. Com a conclu-são da vingança à vista, o herói tem de enfrentar o facto de que o prazer até esse ponto terá de chegar a um fim. Os meus fil-mes são as histórias de pessoas que culpam os outros pelas suas ações porque se recusam a culpabilizar a elas mesmas”, diz o realizador. Os temas de vin-gança e destino trágico são entrelaçados de tal maneira que nos anestesiam.

Apesar de não haver heróis ou vilões, cada personagem tem direito ao seu destaque e as motivações para as suas ações são lentamente reveladas, justi-ficadas e depois completamen-te destruídas à medida que o destino interfere para levar tudo a um ponto de completo desamparo e inutilidade.

Inês Correia

Page 11: Quinta Edição

11

“Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tem-po em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes”.

Começa assim este romance de Vergílio Ferreira. Amor em forma de livro ou livro em for-ma de amor. João é o narrador que escreve a Mónica, a esposa já falecida. A ela escreve do envelhecimento e da degrada-ção do corpo utilizando uma fórmula quer crua quer humana e fala sempre, sempre do amor, do mistério que o próprio homem representa.

“Porque a grandeza ou a miséria de um homem está fechada à chave mas ninguém sabe quem tem a chave”.

Da primeira à última página, a ternura e a crueza andam de mãos dadas numa escrita fluida mas que se sente triste e ama-ciado pela memória de Mónica. João, isolado, vai percorrendo os seus pensamentos, a sua vida com a mulher num momento de introspeção e solidão. E toma a primavera como estado ideal. “É primavera e não me apetece sair dela, é a terra natal de todos os sonhos da vida, mesmo que lá não tenha nascido nenhum. Porque os grandes sonhos não são deles mas do tempo em que devem ser. Os grandes sonhos só nascem depois de terem morrido”.

Publicado em 1990, dois

anos depois, Vergílio Ferreira foi galardoado com o prémio Camões como culminar de uma carreira de um escritor brilhan-te. Neste, como em outros romances, foca o silêncio, o abandono e a própria condição humana. “Só eu hei-de saber o teu mistério, só eu saberei o teu ser” ou “A um olhar sem pieda-de o homem é tão caricatura do homem”.

Faz várias reflexões sobre o “Eu”, próprias da corrente exis-tencialista, em que João toma a palavra e escreve sobre ele e sobre Mónica. No final, “Eu te batizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição. E tu dirás está bem.”

Em Nome da Terra, de

Vergílio Ferreira (1990) Susana Gil Soares

Em Nome da Terra,

de Vergílio Ferreira,

Bertrand Editora,15.93€

LITERATURA

A mensagem subjacente nos três filmes, parece ser que a vingança nunca acaba por tra-zer paz, só leva a que as perso-nagens se sintam não realiza-das ou a que acabem ainda pior do que começaram.

O realizador utiliza técnicas inovadoras cheias de estilo acompanhando atos horripilan-tes com esplendida música clássica: está criada uma expe-riência memorável. As cenas chegam a ser tão improváveis e mesmo absurdas, que não há outra opção se não rir. Uma violência sádica e muito, muito negra com que o cinema euro-peu não lida tão frequentemen-te.

Os filmes não são para uma tarde de domingo com a famí-lia. Há partes muito violentas e os temas são emotivos. Mas tal como diz o realizador, para uma experiência que evoque passividade, mais vale ir a um Spa. Esta é uma saga que vale a pena ver e rever e apreciar a beleza de cada imagem de um filme como hoje em dia há tão poucos.

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12| (Des)focado

Manifestação "Que Se Lixe a Troika" no dia 2 de Março

Fotografia Por:

Gonçalo Fonseca (500px.com/goncalofonseca)

Page 13: Quinta Edição

12| (Des)focado

Question à trois| 13

Pedro Pereira: Um jovem talento escritor

E screver. Escrevemos milhões de palavras duran-te a nossa vida toda. De trabalhos de casa a contra-

tos de trabalho. Das coisas mais importantes às mais banais, desenhamos letras praticamente durante toda a nossa vida, mas poucos conseguem transpor a

Diogo Lopes barreira do direto e imediato significado do que aparece no papel à nossa frente. Poucos con-seguem criar sensações, imagens e às vezes até pessoas na nossa cabeça unicamente através de a’s, o’s ou u’s. Abençoados são os que conseguem dar-nos tudo isso através daquilo que criam com tanto carinho e, com trabalho, imaginação e sensibilidade,

Entre nós, alunos, temos um exemplo desses: Pedro Pereira. Um jovem escritor que já faz magia de caneta na mão desde os doze anos e que vai demonstran-do vezes e vezes que promete muito mais. Com dois romances praticamente feitos, e com os prémios Leya a chamarem por si, decidimos ouvir o que ele tem para dizer.

Desde quando escreves?

Como começaste?

Escrevo desde os doze anos. Lembro-me da data pois foi quando saiu o filme “Senhor dos Anéis.” Ao mes-mo tempo estava a ler os livros e pensei para mim mes-mo: “Estou sempre a imaginar mundos e personagens por-que não fazer o mesmo?” Escrevi vários manuscritos inacabados desde essa altura, alguns com menos de vinte páginas outros com cento e poucas.

Em que baseias o que escre-

ves?

Nas vivências e nas não vivências. Tento sempre incluir parte da minha “voz” no que escrevo, seja um ideal ou uma opinião contudo pro-curo sempre retratar vidas ou situações, mundos que nunca irei conhecer. Uma busca por paisagens, pessoas e momen-tos que podem nunca vir a acontecer, tento capturar em palavras o melhor que posso e assim sinto-me mais completo

como se tivesse vivido mais do que posso no quotidiano. Em suma: Escrevo sobre o que não vivo, aquilo que desejo viver e aquilo que já vivi. Tudo num pequeno pacote de pala-vras que procuro expressar da melhor forma até ir de encon-tro aquilo que eu sinto.

Perspetivas para o futuro?

Continuar a escrever ao mes-mo ritmo (1000 palavras por dia durante a semana, 4000 por dia aos fim-de-semanas), procurar acabar umas quan-tas histórias curtas que estão atrasadas, procurar uns con-cursos em que participar e finalmente tentar escrever uma primeira história em inglês para lançar sobre um formato de e-book.

“Tento sempre

incluir parte da

minha “voz” no

que escrevo, seja

um ideal ou uma

opinião”

Page 14: Quinta Edição

14 | Edição Limitada

P orque festivais de músi-

ca não são só música,

bandas, concertos, ten-

das e loucura à fartaza-

na, o Talkfest regressa pela segun-

da vez na história para provar

isso mesmo. Esteja o caro leitor

em qualquer uma das vertentes

do curso de Comunicação, que vis-

lumbrará no Talkfest aquela visão

idílica de se trabalhar no que se

gosta.

Sim, já sabemos que a semana

vai ser prolífica em conferências e

palestras, mas a verdade é que o

Talkfest promete oferecer algo

certamente especial. De dia 6 a 8,

ali mesmo na Aula Magna, a mis-

são deste festival é debater o pre-

sente e o futuro da indústria. Dos

dinossauros da área como Álvaro

Covões (Everything is New) ou

Tozé Brito (SPAutores), aos mais

rookie mas não menos capazes

como Artur Mendes (Boom Festi-

val) ou Joaquim Durães (Milhões

de Festa), todos virão com ideias

no bolso.

Não fossem as aulas mais teóri-

cas já de si interessantes, as práti-

cas - entenda-se, os concertos -

são igualmente prometedoras.

Paus, Salto ou Capitão Fausto

Talkfest'13:

uma oportunidade de emprego

darão o melhor dos usos à

sua retórica. Poucas apre-

sentações se afiguram pre-

cisas: estamos perante os

especialistas na matéria.

Falar de festivais em Por-

tugal é falar de uma das

maiores e mais lucrativas

indústrias nacionais, daí

que não seja nada descabi-

do afirmar que um dia mui-

tos de nós estaremos tam-

bém a trabalhar na confe-

ção de um festival. Estavam

à procura de uma oportuni-

dade de emprego? Não dei-

xem escapar esta.

Afonso Sousa

Page 15: Quinta Edição

Correio FCH | 15

O Jornal Público na

Biblioteca e a falta

de civismo

CARTA 1

Exige-se que um futuro profissional da Comunica-ção Social seja uma pessoa bem informada e que leia jornais. No nosso campus existe uma estante presente na Biblioteca onde todos os dias é colocado o Jornal O Público para os alunos poderem tirar e ler. Mas a verdade é que quando vou buscar O Público, já não existem exemplares.

Um dia quando fui buscar o jornal, à hora de abertura da Biblioteca, estavam na estante imensos exempla-res. Tirei um exemplar para mim e para mais uma cole-ga e estava uma funcionária atrás de mim. Virei-me para a deixar passar e fiquei parado para guardar os jor-nais na minha mochila

Quando olho para a mes-ma funcionária, provavel-mente dos serviços admi-nistrativos da Universidade, vejo-a tirar uma resma de

Carta enviada por um aluno do 3ºAno

Quando vim para a universidade pensei que todos os alunos e cursos fossem trata-dos da mesma forma mas ao longo dos tem-pos tenho visto que há uma diferença de tra-tamento entre os alu-nos da Faculdade de Economia e as restan-tes faculdades.

É verdade que pagam mais que os outros cursos, mas acho esta realidade injusta.

Agora com as mudanças dos alunos de enfermagem para o campus de Lisboa, vieram mais tantos alunos para o nosso edifício, quando deve-ria existir espaço livre no edifício deles.

Constatando factos e realidades. Eles têm um edifício quase topo de gama, com ar con-dicionado, cinco eleva-dores, o dobro do bar e da nossa cantina jun-tas, uma telepizza, jornais gratuitos dis-tribuídos no seu edifí-cio como o semanário Sol, Diário Económico e Jornal de Negócios. Têm espaços para estudarem. Têm uma grande máquina de cafés Nespresso. Têm benefícios que nin-guém tem.

A minha questão é

“Os meninos de

Economia vs. Os

outros alunos”

jornais deixando apenas um exemplar e foi-se embora. Fiquei espantado com aque-le comportamento da parte desta indelicada funcioná-ria.

Considero isto uma autêntica vergonha pelo facto de funcionários tira-rem os jornais todos, para supostamente darem aos professores e doutores da universidade. Aquela estan-te é para os alunos e não percebo porque é que os senhores professores dou-tores, (muitos deles rece-bem o suficiente para pode-rem assinar um jornal) não dizem às suas secretárias para deixarem aqueles jor-nais para os alunos. Consi-dero isto uma falta de res-peito perante os alunos que muitas vezes não têm possi-bilidade de ter o jornal O Público, porque alguns senhores professores que-rem poupar uns “trocos”.

CARTA 2

porquê este exagero entre esta e as outras faculdades? Por paga-rem mais? Apenas por esse fator? Às vezes tenho dúvidas sobre essa questão e coloco uma pergunta diferen-te: Será que eles têm mais pessoas interes-sadas nos seus alunos? Ou seja que se preocu-pam exclusivamente com o seu bem-estar. Será que os serviços administrativos e dire-ção desta faculdade têm como única priori-dade os seus alunos?

Se assim é penso que deveria haver uma maior preocupação em relação aos alunos por parte da nossa facul-dade, como “mimarem-nos” com coisas sim-ples. Por exemplo adquirirem uma máquina de café como a máquina Nespresso deles. Porem o eleva-dor do bloco 2 a fun-cionar, melhorarem algumas instalações. Colocarem alguns jor-nais na entrada do nosso edifício. Pensa-rem em simples coi-sas, mas que fariam toda a diferença para haver maior motiva-ção e energia para estudarmos e traba-lharmos mais.

Carta enviada por um aluno do 3ºAno

Correio FCH Este espaço também pode ter a

tua opinião. Para isso basta envia-

res o teu texto para o e-mail

[email protected] e

poderás vê-lo publicado na edição

de abril.

Page 16: Quinta Edição

16 |Parte para rasgar

O Belo Horrível João Tavares

Obras Adiante (Circule com Cau-

tela)

Já o ano passado, o hall de

entrada tinha sofrido obras, mas parece que não terão sido sufi-cientes. Afinal, tirar o multiban-co da entrada para pôr um sím-bolo da faculdade em linóleo no chão é uma decisão acertada, mas que não satisfaz o desejo de requinte. O desafio desta vez era maior, e impunha-se que se selasse a passagem não só no hall, mas também no parque de estacionamento ao lado, obri-gando quem passa à tal volta ao bilhar grande (com o bónus de se pisar lama) que tanto entre-tém toda a gente, como se sabe.

Até agora não chegou ao conhecimento do grande públi-co, como sempre, o que estas obras reservam aos utilizadores do edifício, mas aqui na Parte Para Rasgar decidimos quebrar o efeito kinder surpresa e reve-lar algumas das alterações que serão efetuadas e que se nos afiguram de tanta ou maior sen-satez que as primeiras: Criação de uma parede entre o A2 e a porta principal, o que dá jeito para que o visitante que quer chegar ao auditório tenha logo direito a uma visita guiada com-pleta ao edifício; na parte exte-rior, que se encontra cercada, vai ser construída uma mega estátua de uma santa igual à que já existe e que ocupará todo o espaço que atualmente está vedado, sendo que a santa anti-ga vai ser doada a uma institui-ção de caridade; tapar as janelas com papel higiénico numa tenta-tiva forçada de abordar técnicas experimentais de decoração de interiores.

Os Nossos Novos Coleguinhas Temos um novo curso, que

abriu a meio do semestre e que se adequa perfeitamente ao pólo da Palma de Cima: Enfermagem. Tanto, que a outra parte das obras que estão a ser feitas, ser-ve para equipar os novos alunos, que precisam de um laboratório para fazer lá as coisas deles, cor-tar ratos ao meio e mexer em células estaminais, tudo muito parecido com bruxaria, de modo que aqui na Católica, este curso não deve durar muito...

Mas o dinheiro nas obras já foi gasto e espantem-se vocês, alu-nos da FCH, de ele ser aquele com que vocês pagam todos os meses, para continuar a ter um edifício onde entra chuva! Espantem-se de o mesmo dinheiro, que nunca é canalizado para algo que beneficie os vos-sos cursos, esteja a ser usado para construir um laboratório (que é sempre muito barato) para aspirantes a médicos frus-trados, que chegam agora do nada!

E não estranhem o aumento de gente que se veste como quem vai a uma reunião admi-nistrativa de uma multinacional. São os nossos “colegas” de enfer-magem. A boa notícia? Diz-se que vão finalmente arranjar o elevador da torre Este. Say Hal-lelujah!

Música Maestro

Durante o mês que passou,

Miguel Relvas voltou a brilhar, cantando, por cima de um coro de manifestantes que o vaiavam. Mas não só a tentativa do minis-tro de se destacar mais que as críticas que lhe apontavam falhou, como os seus dotes de artista da canção deixaram mui-to a desejar...mesmo.

Aquela carinha de criança reguila que ele sempre ostenta por ser mestre em fazer maroti-ces e safar-se pelo buraco de uma agulha, parecia querer des-vanecer-se e o suor escorria-lhe pela cara, denunciando o nervo-sismo que lhe tirava o fôlego para conseguir articular meros ditongos. De modo que como show musical, falhou completa-mente, mas em termos de entre-tenimento foi um momento de grande valor artístico! Tanto o foi, que este revisitar de Grândo-la Vila Morena, de Zeca Afonso, está de novo a prestar serviço cívico à comunidade, servindo para enxovalhar políticos por todo o país.

Exemplo disso, foi o segundo concerto da tourneé de Relvas no ISCTE, onde foi o público a cantar, pelo que a cara de crian-ça marota se desvaneceu final-mente. O menino Miguelito des-ta vez fugiu com o rabinho entre as pernas, sem cantar, o que é uma pena pois parece que ia interpretar cançonetas muito bonitas sobre jornalismo, que teriam certamente como temas das letras empreendimentos à la Berlusconi em empresas de comunicação e a criação de uma nova comissão de censura.

Porém, uma coisa é certa: se esta coisa do governo lhe correr mal (o que é muito provável), Relvas já pode ir cantar para um cabaret para ganhar a vida...

Page 17: Quinta Edição

17

A verdadeira

história da

carne de

cavalo

E ra uma vez um cavalo chama-do Trovão, que andava pelos campos a espreitar éguas e vitelas. Certo dia encontrou

uma pedra no chão. Não era uma pedra qualquer, era uma mágica, parecida com a do Harry Potter. Ele ficou com a capacidade de mudar de corpo com outros animais, quando assim o quisesse.

Numa manhã de agosto, Trovão avistou uma vaca que tinha coragem para iniciar conversa com éguas, algo que ele não possuía porque era tími-do. E, por isso, mudou de corpo com a respetiva vaca. No dia a seguir foi morto e as almôndegas acusaram ADN de cavalo.

Dário Alexandre

C onfesso que desta vez tenho algumas difi-culdades em saber especificamente do

que vou falar, sabendo que a nossa Faculdade este mês esteve uma paz de alma e eu ainda deixo, de vez em quan-do, o meu cérebro a descansar na almofada. Destacaria talvez, como tópicos mais interessan-tes, o regresso dos filhos pró-digos de Erasmus, e as obras. Sim, fico-me por dizer “obras”, porque o meu juízo mental relativamente a este tema assemelha-se a de um burro quando está indeciso entre uma cenoura ou palha, e já percebi que existe uma espé-cie de competição entre estas obras e as de Lisboa em geral, que me fazem ficar mais magro, e mais maldisposto do que o habitual .

Quanto aos regressados, tal mito sebastianista, trazem uma verdadeira lufada de ar fresco sentindo, eu na minha inocência, uma enorme com-paixão por eles, por aterrarem neste ecossistema músico-católico, sem qualquer tipo de preparação ou esclarecimento que os ajude a retomar o ritmo de uma vida académica lisboe-ta que desgasta qualquer um, como de uma volta ao mundo se tratasse.

Não é que isto esteja muito diferente, afinal foram só seis, o bar foi sempre fiel a si mes-

Notes from the Up

Palm (Para os alunos

de Erasmus especial-

mente) José Paiva mas, o bar foi sempre fiel a si

mesmo, as aulas são uma pla-taforma de moodelização do nosso sono, e os professores seguem o seu papel, sem nun-ca cessar! Parece um pouco chato, mas também foi só aquele tempo, menos do que uma gravidez (o que é bom, se é que me entendem), não esperavam grandes mudanças ou esperavam?

É claro que todos os alunos lutaram para que algumas coi-sas fossem diferentes, a inser-ção de estilos musicais varia-dos, tal como a nova baguete de pizza, demonstram o nosso braço firme! E nós também fizemos isto por vocês! Sabía-mos que iam encontrar novas culturas, então adotámos de tudo um pouco em termos musicais, deixamos alguns ratos entrar no nosso quoti-diano (nalguns países dá sor-te), e revolucionámos a restau-ração católica, tudo em vosso nome!

Não se assustem, pois isto está quase igual, e meus caros companheiros erasmusianos, desejo sinceramente que se sintam novamente em casa, ensinem-nos coisas novas, mas livrem-nos de estrangeirismos, já basta a linguagem em códi-go morse dos alunos de Direito e o inglês do Sr. António. Se sofrerem de stress pós-erasmus, consultem a Clemen-tina, pode ser que ela vos recambie para lá! Boa sorte!

Page 18: Quinta Edição

Jornal O Académico - Edição de fevereiro

FCH Ilustrada Pesos & Contrapesos

Jornal O Académico

Publicação dos Alunos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa Diretor: Filipe Resende

Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade

Redação: Beatriz Isaac, Dário Alexandre, Gonçalo Fonseca, Inês Correia, Joana Portugal, José Paiva, Sara dos Santos e Susana Gil Soares

Contatos: [email protected]

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(In)direto

Pequeno espaço de leitura onde são escritos poemas que

carecem de interpretações individuais, porque os poemas

precisam disso, necessitam que cada leitor os sinta e os

aplique para que eles possam viver.

Poema nº2

Destroços expoentes nos rostos dos que cá ficam.

Vendo a sua efemeridade plena reduzida à sobrevivência

Sem que fosse dada permissão, foram desfocados e afastados de si.

Séculos de confrontos,

Memórias ressequidas, permanecem nas entrelinhas das mais liberais

conquistas.

Ganhando destreza vão seduzindo maiorias.

O futuro?

Palavra simbólica para a imaginação humana

Fica assim entregue a mentalidades viciantes que ousam penetrar, inces-

santemente, em todos,

Até, mesmo, naqueles que fizeram juras de reverter o sentido dos pontei-

ros da decadência humana.

Joana Portugal

A nova equipa da Quase FM, uma rádio com “quase tudo”

Obras (-10) O segundo semestre trouxe

consigo mais obras. Além

do estaleiro estar mal orga-

nizado, o barulho das obras

é incómodo.

Bênção dos Finalistas (+6) Ficou decidido em RGA

que a Bênção dos Finalis-

tas vai ser na Cidade Uni-

versitária e vai ter também

uma cerimónia solene com

lugar na FCH. É bom che-

gar-se a consenso após

tanta confusão

sobre este assunto.

Harlem Shake da AEFCH

(+3)

A AEFCH não escapou à

moda dos “Harlem Sha-

kes” e fez um divertido

vídeo deste fenómeno viral

da Internet.

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