quilombo ribeirao grande terra seca

95
1 I - INTRODUÇÃO – Este Relatório Técnico-Científico 1 consiste numa fonte de documentação antropológica que pretende oferecer subsídios indispensáveis à tramitação do processo para obtenção do título definitivo da propriedade da terra ora reivindicada por moradores dos bairros Terra Seca e Ribeirão Grande, pertencente ao município de Barra do Turvo - localizado na região do alto Vale do Ribeira. Trata-se de uma comunidade tradicional que se auto-reconhece como remanescente de quilombo e está empenhada atualmente não apenas em afirmar-se como portadora da identidade afro-descendente e a origem quilombola, mas também ter reconhecido pelo governo do estado de São Paulo, o seu justo direito de permanecer na terra ocupada desde o passado pelos seus ancestrais e, porquanto, receber o título definitivo de propriedade da mesma. Reivindicação que está de acordo com o Artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias instituída pela Constituição Federal de 1988, que diz: “Aos Remanescentes das Comunidades de Quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado, emitir-lhes os respectivos títulos” 2 . Esclareço logo de início que ao apropriar-me aqui da expressão “comunidade tradicional” estou fazendo uso de uma noção antropológica, cujo significado pretende evocar a idéia de agrupamento familiar ou pessoa individual que embora não possua documentação escrita que comprove a posse indiscutível de determinada área territorial, onde se encontra estabelecido e reivindica direito à propriedade, está vinculada desde as origens mais 1 A criação desta categoria de investigação denominada Relatório Técnico Científico, bem como os parâmetros que o norteiam, são resultantes dos esforços do Grupo de Trabalho criado pelo Governo do Estado de São Paulo por meio do Decreto n. 40.723, de 21 de março de 1996, que tinha por objetivo fazer proposições visando a plena aplicabilidade dos dispositivos constitucionais conferentes do direito de propriedade aos remanescentes das comunidades de quilombos em território paulista. Foi integrados por representantes da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes Silva”, Secretaria do Meio Ambiente, Procuradoria Geral do Estado, Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, Secretaria de Cultura, Conselho de Defesa do patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra no Estado de Sã Paulo, Subcomissão do Negro da Comissão de Direitos Humanos da ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo e Fórum Estadual de Entidades Negras. Os trabalho deste Grupo levaram à criação: a) do Programa de Cooperação Técnica e Ação Conjunta para identificação, discriminação e legitimação de terras devolutas do Estado ocupadas por remanescentes de comunidades de quilombos visando sua regularização fundiária, implantado medidas sócio-econômicas, ambientais e culturais e b) de um Grupo Gestor para implementação do Programa. O Programa e o Grupo Gestor foram criados por meio do decreto n. 41.774 de 13 de maio de 1997. 2 Cf.: Andrade, Tânia et. alli.(edts) - Negros do Ribeira: reconhecimento étnico e conquista do território, 2000, p. 3.

Upload: buinguyet

Post on 04-Jan-2017

237 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

1

I - INTRODUÇÃO –

Este Relatório Técnico-Científico1 consiste numa fonte de documentação antropológica que

pretende oferecer subsídios indispensáveis à tramitação do processo para obtenção do título

definitivo da propriedade da terra ora reivindicada por moradores dos bairros Terra Seca e

Ribeirão Grande, pertencente ao município de Barra do Turvo - localizado na região do alto

Vale do Ribeira. Trata-se de uma comunidade tradicional que se auto-reconhece como

remanescente de quilombo e está empenhada atualmente não apenas em afirmar-se como

portadora da identidade afro-descendente e a origem quilombola, mas também ter

reconhecido pelo governo do estado de São Paulo, o seu justo direito de permanecer na

terra ocupada desde o passado pelos seus ancestrais e, porquanto, receber o título definitivo

de propriedade da mesma. Reivindicação que está de acordo com o Artigo 68 do Ato das

Disposições Transitórias instituída pela Constituição Federal de 1988, que diz: “Aos

Remanescentes das Comunidades de Quilombos que estejam ocupando suas terras é

reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado, emitir-lhes os respectivos títulos”2.

Esclareço logo de início que ao apropriar-me aqui da expressão “comunidade tradicional”

estou fazendo uso de uma noção antropológica, cujo significado pretende evocar a idéia de

agrupamento familiar ou pessoa individual que embora não possua documentação escrita

que comprove a posse indiscutível de determinada área territorial, onde se encontra

estabelecido e reivindica direito à propriedade, está vinculada desde as origens mais 1 A criação desta categoria de investigação denominada Relatório Técnico Científico, bem como os parâmetros que o norteiam, são resultantes dos esforços do Grupo de Trabalho criado pelo Governo do Estado de São Paulo por meio do Decreto n. 40.723, de 21 de março de 1996, que tinha por objetivo fazer proposições visando a plena aplicabilidade dos dispositivos constitucionais conferentes do direito de propriedade aos remanescentes das comunidades de quilombos em território paulista. Foi integrados por representantes da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes Silva”, Secretaria do Meio Ambiente, Procuradoria Geral do Estado, Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, Secretaria de Cultura, Conselho de Defesa do patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra no Estado de Sã Paulo, Subcomissão do Negro da Comissão de Direitos Humanos da ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo e Fórum Estadual de Entidades Negras. Os trabalho deste Grupo levaram à criação: a) do Programa de Cooperação Técnica e Ação Conjunta para identificação, discriminação e legitimação de terras devolutas do Estado ocupadas por remanescentes de comunidades de quilombos visando sua regularização fundiária, implantado medidas sócio-econômicas, ambientais e culturais e b) de um Grupo Gestor para implementação do Programa. O Programa e o Grupo Gestor foram criados por meio do decreto n. 41.774 de 13 de maio de 1997. 2 Cf.: Andrade, Tânia et. alli.(edts) - Negros do Ribeira: reconhecimento étnico e conquista do território, 2000, p. 3.

Page 2: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

2

remotas ao lugar. Em síntese, o lócus espacial onde os antepassados habitaram,

trabalharam, criaram família e formaram rede extensiva de parentesco.

Da mesma perspectiva, o termo “quilombo” é empregado no contexto deste relatório com

sentido mais abrangente e atualizado no campo das ciências humanas e sociais. A partir de

inúmeras reflexões e debates ocorridos no decorrer dos anos 1990, compartilhados por

cientistas sociais, historiadores, intelectuais e militantes de movimentos negros em torno da

noção de “quilombo”, buscou-se reavaliar criticamente o emprego dessa categoria e

redefinir o sentido conceitual da sua aplicação no campo das ciências humanas e sociais;

levando-se em consideração, sobretudo, o aspecto da diversidade das formas da

organização social, dos estilos de vida, das alternativas criadas para a sobrevivência, das

práticas culturais e simbólicas relacionadas aos diferentes tipos de agrupamento familiar -

rural ou urbano - formado por ex-escravos africanos e os seus descendentes no contexto

histórico da sociedade brasileira. Conforme nos esclarece o antropólogo Wagner de

Almeida3:

Os primeiros estudos levaram a uma referência histórica do período colonial. Quase todos os autores consultados, do presente ou do passado – desde o clássico de Perdigão Malheiro, A escravidão no Brasil: ensaio histórico, jurídico, social, que é de 1866, até os recentes trabalhos de Clóvis Moura, de 1996 -, trabalhavam com o mesmo conceito jurídico-formal de quilombo, um conceito que ficou, por assim dizer, frigorificado. Esse conceito, composto de elementos descritivos, foi formulado como uma ‘resposta ao rei de Portugal’ em virtude de consulta feita ao Conselho Ultramarino, em 1740. Quilombo foi formalmente definido como ‘toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele’.

Ao discutir sobre a apropriação do “conceito jurídico-formal de quilombo” por

reconhecidos estudiosos da história da escravidão negra no Brasil Almeida4 procurou

sintetizar cinco elementos básicos que ele observou estarem contidos na definição mais

popularizada dessa categoria descritiva: 1 – fuga: noção de “quilombo vinculada a escravos

fugidos”; 2 – versão que todo “quilombo comportaria uma quantidade mínima de fugido”;

3 – “isolamento geográfico” dos quilombos e sempre localizados em local de difícil acesso;

3 Cf.: Almeida, Alfredo Wagner B. de – “Os quilombos e as novas etnias”, 2002, p 47. 4 Ibidem, p.48.

Page 3: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

3

4 – sugestão de “rancho” instalado; 5 – consideração da “premissa”: ‘nem que achem pilões

nele’, significando, no contexto em questão, “símbolo do autoconsumo e da capacidade de

reprodução”.

Esta descrição de “quilombo”, apoiada quase exclusivamente numa acepção conceitual -

jurídico-formal – antiga, compreende-se hoje que é bastante restrita e não permite a

apreensão fidedigna desta realidade histórica em toda sua complexidade e nuanças. Com

efeito, pesquisas de campo - vinculadas principalmente à produção de laudos

antropológicos – contribuem hoje para demonstrar que os quilombos variaram no aspecto

enquanto modelo organização social e tipo de relacionamento com a sociedade envolvente,

como esclarece Bandeira e Dantas5: “A palavra quilombo, portanto, não se refere apenas a

esconderijo de escravos fugidos. Essa era a acepção dada ao termo pelos colonizadores. A

palavra quilombo origina-se etimologicamente da língua africana quimbundo, em que a

palavra kilombo tem, entre outros, significados de povoação, união.”

A partir de reflexões teóricas como as enunciadas acima, baseadas em pesquisas de campo

e tendo como preocupação central a problemática da demarcação de terras das chamadas

populações ou povos tradicionais – negras ou indígenas – é que a comunidade

antropológica discutiu e propôs - em reunião da Associação Brasileira de Antropologia

[ABA ] – a seguinte definição conceitual:

O termo Remanescente de Quilombo (destaque do autor), conforme deliberado pela ABA – Associação Brasileira de Antropologia, em encontro realizado nos dias 17 e 18 de outubro de 1.994, no Rio de Janeiro, embora tenha um conteúdo histórico, designa ‘hoje a situação presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos e é utilizado para designar um legado, uma herança cultural e material que lhe confere uma referência presencial no sentimento de ser e pertencer a um lugar e a um grupo específico6.

Esta citação é sugestiva, inclusive, quanto à importância de se atentar para as marcas

simbólicas que os sujeitos interlocutores evocam para afirmar a sua diferença como pessoa

e coletividade - o que está sendo dito, as sutilezas das respostas, as narrativas tecidas sobre 5 Bandeira, M de L. e Dantas, T. de V. S. – “Furnas de Dionísio (MS)”, 2002, p.217. 6 Informação repassada ao ITESP em 1995, por José Milton Garcia, da Procuradoria do Patrimônio Imobiliário de São Paulo, através de ofício. Cf: Andrade, Tânia et. alli.(edts), Op. Cit., 2000, p. 7.

Page 4: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

4

as origens e representações do próprio “eu” devem ser consideradas e levadas a sério pelo

antropólogo. Compreendendo isso é que no processo de produção deste Relatório Técnico-

Científico procurei de maneira sistemática e rigorosa, levantar informações concernentes às

origens da comunidade, às relações sociais e simbólicas, ao estilo de vida e sobre

genealogias de parentescos; entre outros dados que julguei também ter importância para a

compreensão um pouco melhor da realidade dos povoados Ribeirão Grande e Terra Seca - a

evocar o passado e o presente -, bem como colocar em evidência a intenção e o desejo dos

moradores locais de afirmarem a identidade delas como remanescentes de quilombos.

Oportunidade que surge para elas neste momento valioso em que o “Instituto de Terras do

Estado de São Paulo – ITESP” está empenhado em cumprir com o dever que é da

competência desse órgão: “promover a identificação e demarcação das terras ocupadas por

remanescente das comunidades de quilombos, para fins de regularização fundiária”7.

Isto posto, gostaria apenas de enfatizar que este Relatório Técnico-Científico é fruto de um

trabalho de pesquisa antropológica intensiva, realizada junto às comunidades

remanescentes dos quilombos dos bairros Ribeirão Grande e Terra Seca, dentro de um

período de aproximadamente quatro meses8. Este trabalho antropológico possibilitou o

levantamento de dados significativos para a produção, na íntegra, deste Relatório Técnico-

Científico que se apresenta estruturado em 6 capítulos.

7 Este compromisso diz respeito ao “Inciso IV do artigo 3º. Da Lei Estadual n.10.207/99” Cf.Edital de Pregão n.20/2006; Processo n.0630/2005 – anexo IV(Memorial Descritivo). 8 O trabalho consistiu das seguintes atividades: a) levantamento e consulta documental junto ao ITESP e na comunidade (leituras de mapas com o auxilio – e a quem agradeço a generosidade - da funcionária do ITESP , Maria Ignês Mariconde -, consulta a certidões de cartório, denúncia policial, etc); b) consulta bibliográfica (leituras de publicação e Relatórios Técnicos-Científicos diversos produzidos junto ao ITESP, entre outros artigos e livros que seguem na “Referência Bibliográfica” deste trabalho.); e, c) pesquisa de campo propriamente dito, que compreendeu: c.1 - visitas esporádicas à comunidade (com permanência in locu por períodos que variaram entre quatro dias ou uma semana); c.2 - observação direta da vida cotidiana; c.3 - entrevistas gravadas com pessoas mais velhas e lideranças locais e que possibilitou o registro da história oral; c.4 - conversas informais com diferentes interlocutores e que tanto contribuíram para acrescentar informações sobre o passado da comunidade, quanto fornecer esclarecimentos sobre a realidade atual (com destaque para as dificuldades enfrentadas na vida cotidiana, situações de conflito, e as alternativas criadas na tentativa de superá-las), além de permitir a apreensão do imaginário social e as formas de representação dos sujeitos interlocutores enquanto pessoa e coletividade; c.5 – entrevista dirigida com responsáveis da família para levantamento de informações sobre genealogia de parentesco; c.6 – visita domiciliar para conferir e/ou complementar de dados sobre genealogia de parentesco; c.7 – acompanhamento direto do trabalho geográfico de localização dos pontos referenciais – com recurso de GPS – de configuração da área ocupada pela comunidade (casas, roças, engenhos etc).

Page 5: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

5

Em síntese, o primeiro compreende-se por esta Introdução. Já o segundo capítulo – “A

localização geográfica das comunidades remanescentes de quilombos dos bairros Ribeirão

Grande e Terra Seca” -, trata-se de uma abordagem mais historiográfica, com destaque, na

primeira seção, para o processo de ocupação do Vale do Ribeiro. Na segunda seção a

exposição gira em torno do surgimento do município de Barra do Turvo, os aspectos

sociais, econômicos e político dessa localidade no passado.

O terceiro capítulo é dedicado exclusivamente à discussão sobre a história dos povoados

remanescentes de quilombos Ribeirão e Grande Terra Seca. A partir da oralidade procuro

destacar os nomes de personagens e descrever a aventura empreendedora dos ancestrais que

deram origem a estes povoados rurais.

A abordagem do quarto capítulo é centrada no contexto do presente. A exposição gira em

torno das condições de vida e existência das pessoas de Ribeirão Grande e Terra Seca. A

dinâmica das relações sociais, as formas de cooperação, situações de conflito, as formas de

representação e práticas simbólicas são mencionadas neste capítulo.

Já no quinto capítulo procurei desenvolver ao longo do mesmo uma discussão sucinta em

torno do conceito de identidade étnica. A tentativa foi de prestar certo esclarecimento ao

leitor sobre a aplicação desta categoria analítica no campo das ciências sociais e as críticas

suscitadas em torno da mesma. Em certo sentido, a proposta do capítulo é repensar noção

de identidade étnica considerando as reflexões teóricas mais recentes, focadas na questão

da crise das identidades no contexto atual da chamada “pós-modernidade”. A relevância do

assunto tratado neste capítulo explica-se, principalmente, pela centralidade desta noção -

identidade étnica - no contexto das discussões em torno da problemática da demarcação e a

concessão, pelo Estado, do titulo definitivo de propriedade das terras tradicionalmente

ocupadas9 pelas comunidades remanescentes de quilombos (e indígenas) no Brasil.

9 A propósito de uma discussão mais aprofundada sobre a noção de “terras tradicionalmente ocupadas” a referência sugerida é Almeida, Alfredo Wagner B. de – Terras de quilombo, terras indígenas e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas, 2006.

Page 6: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

6

E como não poderia deixar de ser, o último capítulo - o sexto – consiste na conclusão final

deste Relatório Técnico-Científico.

Page 7: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

7

- Capítulo II -

A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS DOS BAIRROS RIBEIRÃO GRANDE E TERRA SECA.

A – O Vale do Ribeira -

A região do Vale do Ribeira fica localizada entre os Estados de São Paulo e Paraná; sendo

compreendido por uma extensa faixa territorial que abrange desde municípios no entorno

da capital paulista até os limítrofes de Curitiba. E pelo litoral, desde as proximidades de

Peruíbe, no ponto mais ao norte, até próximo do Paranaguá, no ponto mais ao sul10.

A ocupação do Vale do Ribeira começou pela área litorânea. Na altura do século XVI

portugueses e espanhóis disputaram a colonização desta vasta região. Em 1504, por

exemplo, a esquadra comandada por Américo Vespúcio deixou nas praias da Ilha Cardoso

um bacharel degredado. Depois, em 1508, foi a vez da expedição de Vicente Yanez Pinzon

abandonar na mesma ilha mais sete castelhanos. Aventureiros que foram encontrados mais

tarde, no ano de 1551, pela expedição de Martin Afonso ao ancorar no lugar tendo em vista

a procura de metais preciosos, como ouro e prata.

Os municípios do Vale do Ribeira conhecidos como Cananéia e Iguape são descritos em

RTCs produzidos por antropólogos contratados pelo ITESP - apoiados em Laudos

Antropológicos vinculados ao Ministério Público Federal - como sendo as localidades de

referência inicial da ocupação colonizadora do Vale do Ribeira.

A ocupação das áreas interioranas do Vale do Ribeira ocorreu posteriormente. No decorrer

do século XVII, motivada particularmente pela descoberta de ouro em depósito aluvião,

pelos aventureiros que adentraram a mata atlântica seguindo o curso dos rios. O movimento

provocado por tal descoberta levou à organização do primeiro povoado surgido no alto do

Vale do Ribeira, como é o caso de Xiririca (hoje conhecida pelo nome de Eldorado).

10 Cf. Carvalho, Maria Celina P. de - Relatório Técnico-Científico sobre os quilombos remanescentes da comunidade de quilombo do Galvão, municípios de Eldorado e Iporanga – SP, 2000, p. 13.

Page 8: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

8

A descoberta do ouro em depósito aluvião deu impulso ao primeiro ciclo econômico

marcante da região. A mineração aurífera perdurou no Vale do Ribeira do século XVI até o

século XIX; mas enquanto atividade econômica principal o movimento derradeiro foi ao

final do século XVII. A partir deste período a atividade mineradora entra em declínio nesta

região devido à descoberta de atrativos veios auríferos nas encostas e leitos de rios entre as

montanhas da próspera Capitania das Minas Gerais. Em substituição à exploração mineral

ganhou destaque economicamente, no Vale do Ribeira, uma atividade até então secundária,

ou seja, a rizicultura.

A exploração da força do trabalho escravo, representada pela mão de obra indígena e dos

africanos e/ou seus descendentes, tiveram importância capital no contexto destes dois ciclos

econômicos, conforme descrito por Carvalho e Schmitt11: “já no século XVI, não era

incomum a existência concomitante de escravos negros e indígenas nas expedições que

partiam para o interior de São Paulo”.

Entretanto, observa-se que pouca atenção foi prestada a este fato pelos estudiosos da

sociedade escravista no estado de São Paulo. Isso é o que se insinua nas críticas tecidas por

Carril contra a interpretação de alguns historiadores que, segundo ela, defendem a tese de

que o trabalho escravo no estado paulista só foi introduzido de forma significativa a partir

do empreendimento da monocultura cafeeira12. Através da sua crítica esta autora fez alertar

para a carência de estudos historiográficos sistemáticos e aprofundados produzidos sobre o

Vale do Ribeira, então enfrentada por ela.

Mas é preciso reconhecer que esta restrição há algum tempo já vem sendo superada, graças,

inclusive, aos trabalhos de produção de Laudos Antropológicos vinculados ao Ministério

Público Federal13 - voltados para a identificação e mapeamento de comunidades

tradicionais remanescentes de quilombos localizadas no Vale do Ribeira -, e, da mesma

11 Carvalho, Maria C.P. de e Schmitt, Alessandra – Relatório Técnico-Científico sobre a comunidade de quilombo do Nhunguara, localizada nos municípios e Eldorado e Iporanga/SP, 2000, p.22. 12 Apud. Carvalho e Schmitt, Ibidem. 13 A referência principal aqui é ANDRADE, Tânia et alli (eds) – [2ª ed.] Negros do Ribeira: reconhecimento étnico e conquista do território....

Page 9: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

9

forma, os Relatórios Técnicos-Científicos14, produzidos por antropólogos contratados pelo

ITESP e cuja finalidade é produzir documentação relevante ao processo para obtenção do

titulo definitivo de propriedade das terras tradicionalmente ocupadas nesta referida

localidade do estado de São Paulo. Sem esquecer, em acréscimo, da contribuição dos

trabalhos científicos-acadêmicos recém produzidos em universidades como USP, Unicamp,

entre outras.

Sobre a exploração da mão-de-obra escrava do africano e seus descendentes no contexto da

atividade da mineração aluvial no Vale do Ribeira a citação do Laudo Antropológico do

MPF é esclarecedora: “(...) o Vale do Ribeira recebeu já no século XVI os primeiros

contingentes negros que foram a mão-de-obra de sustentação para o desenvolvimento da

atividade mineradora.(...), eles foram levados também às outras localidades situadas

Ribeira acima”15 (grifos meus).

O resumo parcial do Laudo de autoria de antropólogos do MPF, apresentado no contexto de

RTCs anteriores vinculados ao ITESP, também é válido agora citar justamente por fornecer

informações preciosas para a compreensão da peculiaridade da ocupação negra no Vale do

Ribeira, conforme segue abaixo:

“1 - O vale do rio Ribeira de Iguape já era habitado por populações indígenas no

período pré-colombiano, constituindo-se em área de passagem para aqueles que,

no inverno, desciam do planalto em direção ao litoral em busca da pesca.

2 – As populações indígenas tiveram grande importância na dinâmica da formação

dos contingentes populacionais do Vale e aparecem como importante referência

nas narrativas sobre a origem das comunidades negras da região.

3 – após o início da colonização portuguesa, a região ao longo do rio Pardo, com

uma formação geográfica que torna o aceso extremamente difícil, constituiu-se

em importante área de refúgio para as populações originais e também para os

indígenas fugitivos que chegavam de Cananéia e da Ilha do Cardoso.

14 Trata-se dos RTCs citados em notas de rodapé ao longo deste documento e com referência completa ao final do mesmo. 15 Apud.: Turatti, Maria Cecília M. – Relatório Técnico-Científico sobre remanescentes da comunidade de quilombo de Morro Seco/Iguape-SP, 2006, p.15.

Page 10: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

10

4 – A constituição geográfica do Vale do Ribeira, com áreas protegidas pelas serras

e inúmeros rios de navegação perigosa, atraiu para a região populações

indígenas perseguidas pelo bandeirantismo escravagista.

5 – O processo de expulsão dos índios no litoral do Vale do Ribeira começou logo

nas primeira décadas do século XVI, considerando que a disputa por novas

terras, iniciada por Portugal e Espanha, motivou o apossamento precoce de áreas

contíguas ao litoral. A ilha de Cananéia, palco dessas primeiras disputas,

fundada por um espanhol refugiados e povoadas por portugueses, foi o primeiro

porto da capitania de São Vicente, fundada após a chegada da esquadra de

Martim Afonso de Souza em 1531.

6 – Desde o século XVI, Cananéia e Iguape funcionaram como ‘cabeças de ponte’

para a penetração de mineradores em direção ao interior do Vale do Ribeira,

sendo que os primeiros núcleos de povoamento rio acima foram Ivaporunduva,

Xiririca (atual Eldorado), Iporanga, Apiaí e Paranapanema.

7 – A mineração nessa região esteve apoiada na mão-de-obra do escravo negro, que

começou a ser introduzida ainda no século XVI com as bandeiras de mineração

que partiam do litoral sul de São Paulo em direção ao interior do Vale. Contudo,

foi a partir de meados do século XVII que as incursões para o interior da região,

via rio Ribeira de Iguape, tornaram-se mais freqüentes.

8 – Embora tenha perdurado até meados do século XIX, quando se esgotaram os

últimos depósitos de ouro de aluvião conhecidos, a atividade mineradora na

região entrou em descenso no século XVIII, época da descoberta das jazidas de

Minas Gerais, para onde afluíram grandes contingentes de mineradores com

seus plantéis de escravos.

9 – Na primeira década do século XIX, especialmente após a chegada ao Brasil da

corte do D. João VI, o ciclo da mineração no Vale, já decadente, dá lugar a um

ciclo econômico agrícola, voltado principalmente para a produção de arroz, o

qual, através do porto de Iguape, era vendido principalmente para o rio de

janeiro e secundariamente para outras províncias.” 16

16 Carvalho e Schmitt – Op. Cit., p. 23; Carvalho, Maria Celina P. de - Relatório Técnico-Científico sobre remanescentes da comunidade de quilombo do Galvão – Eldorado e Iporanga-SP, 2000, pp.15 -16.

Page 11: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

11

Este resumo permite entrever que as características geográficas do Vale do Ribeira (serras e

rios de difícil navegação) ofereceram ambiente propício para o refúgio e abrigo de escravos

negros e indígenas que buscavam escapar, corajosamente, às condições subumanas de

trabalhador cativo. Mas é preciso acrescentar que a formação de agrupamento negros no

Vale do Ribeira também se originou de forma diversa desta; como serve para demonstrar os

registros sobre a libertação de cativos ou simplesmente o abandono dos sujeitos nessa

condição, pelos seus senhores no Vale do Ribeira, com o advento da descoberta de ouro em

terras das Minas Gerais17.

Como será demonstrado mais adiante, de acordo com a história oral da comunidade

remanescente de quilombo em foco neste RTC - Ribeirão Grande/Terra Seca -, nas

narrativas de origem deste agrupamento rural também é evocada a imagem de um ancestral

que no passado teria sido abandonado pelo senhor dele no alto do Vale do Ribeira.

No Vale do Ribeira os bairros Ribeirão Grande e Terra Seca encontram-se localizados no

município de Barra do Turvo. Este município fica a 320 Kms de distância da cidade de São

Paulo e a 150 de Curitiba. Saindo de ambas localidades, a via principal de acesso a estes

povoados é a Br 116 (“Régis Bittencourt”). Para chegar a estes povoados, saindo de carro

da metrópole de São Paulo, é preciso seguir pela Br 116 até a altura do Km 551, onde o

condutor deverá entrar à direita e continuar a viagem pela Rodovia SP 287, que dá acesso

aos municípios de Barra do Turvo (31Km) e Iporanga (75 Km); devendo parar entre os

Kms 9 e 1018.

Estes dois bairros19 vizinhos ficam localizados geograficamente na zona rural deste

município de Barra do Turvo. A história desta localidade ainda está por ser aprofundada;

17 Carvalho, Schmitt, OP. Cit. 18 A quilometragem descrita aqui está de acordo com o Mapa do estado de São Paulo. Entretanto, é preciso mencionar que em documentos consultados o endereço da localidade diferencia um pouco do referido acima ao indicar o Km “552” e o número da Rodovia “230” (“552/230”). Vide “Livro de Atas n. 1. Folhas n 1,2,3,4,5,6,7... Associação dos Remanescentes dos Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca” – Documentos anexo/ “Ata de Assembléia”. 19 Esta forma de expressão é a mais freqüentemente utilizada pelos meus interlocutores para se referirem às localidades de Ribeirão Grande e Terra Seca. A noção de bairro empregada aqui também pode ser traduzida

Page 12: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

12

sendo raras as informações encontradas sobre as suas origens, realidade social e dinâmica

cultural no contexto passado e presente.

B - Uma breve incursão na história do Município de Barra do Turvo -

Pesquisas arqueológicas empreendidas no Vale do Ribeira têm comprovado que em tempos

remotos esta região era habitada por populações indígenas. No município de Barra do

Turvo os vestígios da existência de povos indígenas também podem ser encontrados. Isso

foi insinuado pelos meus interlocutores20 e, também, aparece em escritos sobre o

município: “[há] notícias de que o início do povoamento da região dos rios Pardos e Turvo,

próximo à confluência de ambos ter-se-ia dado na metade do século XVII, quando aí

chegaram os jesuítas para estabelecer catequese dos índios, fato comprovável pelos

vestígios deixados pelo empreendimento”21.

Notadamente, esta “pista” sobre as origens do município deve ser levada a sério e fica por

merecer, todavia, uma pesquisa sistemática e mais aprofundada. Garimpando dados sobre a

história do município, a informação que parece mais consistente sugere que a fundação de

Barra do Turvo teve como personagem principal um senhor cujo nome registrado é Antonio

Bueno Sampaio. Ele migrou de Iporanga para o lugar na altura do ano de 1852. Nesta

localidade ele se instalou definitivamente e dedicou tempo e trabalho investidos na

atividade da criação de suínos e na plantação de lavoura. A boa fertilidade da terra

compensava o problema da característica geográfica da região - formada por terreno

acidentado em altos relevos - e tornava a lavoura produtiva.

no sentido observado por Antônio Candido, ou seja, como um “agrupamento de algumas ou muitas famílias, mais ou menos vinculadas pelo sentimento de localidade, pela convivência, pelas práticas de auxílio mútuo e pelas atividades lúdico-religiosas”. (Cândido, 2003, p.81). Mas é preciso acrescentar a esta definição a particularidade dos bairros em estudo, cujo sentimento de pertencimento é reforçado ainda pela rede de parentesco que entrelaçam a maior parte das famílias de uma e outra localidade mencionada acima. 20 Pedro, um dos representantes da “Associação dos Remanescentes de Quilombo dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca”, em conversa informal, comentou comigo que já encontrou diversos pedaços de pote quebrado, entre outras peças, que acredita fazer parte de utensílios pertencente a povos indígenas que habitaram a região no passado. Um jovem professor do ensino de primeiro e segundo graus da rede municipal de Barra do Turvo, que se apresentou a mim como sendo formado em biologia pela USP e mestre nesta área pela mesma instituição, também fez menção aos indícios de sítios arqueológicos, ainda não explorados, nos domínios do município de Barra do Turvo, que são sugestivos quanto ao fato da ocupação no passado de povos indígenas naquela localidade. 21 Fonte Internet

Page 13: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

13

Provavelmente, este foi um dos fatores que também veio contribuir para a vinda de pessoas,

em seguida, e a fixação de agrupamentos familiares naquelas terras entre as margens dos

rios Pardo e Turvo. O surgimento dos quilombos que aos poucos se multiplicaram por esta

localidade do alto Vale do Ribeira talvez possa ser, em certo sentido, explicado por esse

motivo.

Desde os seus primórdios as atividades econômicas principais de Barra do Turvo sempre

estiveram relacionadas ao plantio de lavoura e a criação de animais. Produção cuja

circulação em forma de mercadoria dependia ora das demoradas caminhadas a pé, cortando

os sertões, ou longas viagens em lombo de mulas ou em canoas - conforme ilustra a citação

seguinte:

[n]aquela época tudo era muito difícil e o transporte mais usado era o

de tração animal: no lombo de burros e mulas, ou, canoas de madeira

[...]. Criadores de porcos conduziam suas manadas as vezes com mais

de 500 cabeças a Itapeva, rumo aos frigoríficos, cortando sertões em

viagens que duravam 20 a 25 dias para chegar a seu destino. Tropas

de mulas partiam em direção à Iporanga, Apiaí, Eldorado e Iguape,

levando produtos agrícolas22.

As condições para o estabelecimento das relações de troca econômicas e culturais são

também eram limitadas ao recurso dos tipos de transportes mencionados acima:

“Utilizavam-se também canoas como meio de transporte até Iguape, onde iam buscar

mercadorias ou à Tradicional Festa do Bom Jesus”23.

Ao longo da sua história as tentativas de empreendimentos econômicos no contexto de

Barra do Turvo variaram no tocante ao tipo de atividade priorizada. Em torno das

atividades extrativistas e agropecuárias Barra do Turvo experimentou historicamente

22 Fonte Internet: Barra do Turvo/ Copright 2004 – Vale do Ribeira 23 Ibidem

Page 14: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

14

momentos de altas e baixas, marcantes dos principais ciclos econômicos do município:

porcos, milho, feijão, palmito jussara, bovinos e buffalo.

Entre os anos 1910 e 1930 foi quando Barra do Turvo teve a sua “maior fartura”. Isso,

graças ao aumento da “produção agrícola e pecuária” que era, em grande parte,

“transformada no próprio município”, através da “fabricação da rapadura, aguardente e

farinha de mandioca”24. Entretanto, pelo que insinuam os registros este salto produtivo foi

passageiro e não garantiu a prosperidade ou o enriquecimento da localidade.

Mas é preciso considerar, todavia, o fato de Barra do Turvo até a primeira metade dos anos

de 1960 pertencer ao município de Iporanga. Segundo fonte consultada, foi em 30 de

novembro do ano de 1938 que se criou, através do Decreto-Lei Estadual n. 9775, o

“Distrito com a denominação de Barra do Turvo, no município de Iporanga”. E só mais

tarde, através da Lei-Estadual de n.8092 de 28 de fevereiro de 1964 é que Barra do Turvo

teve a sua autonomia, ao ser desmembrada de Iporanga e elevada à categoria de

município25.

Semelhante aos tempos passados, Barra do Turvo continua nos dias de hoje a ser um

município predominantemente rural. Com uma população estimada em 2004 de

aproximadamente 8.613 pessoas, 68% estão concentrados na área rural e apenas 32%

fixadas na área urbana da sede municipal. Entretanto, não obstante esta característica da

distribuição populacional a principal fonte de arrecadação de Barra do Turvo não provém

da atividade econômica vinculada ao setor rural e, sim, do “setor de serviços”. E isso não

deixa de gerar sérios problemas econômicos e sociais para o município. Conforme

explicita-se nesta fonte consultada26:

Os municípios dependentes basicamente dos serviços apresentam, em

geral, os mais baixos valores per capita. São áreas em que as

atividades industrial e agropecuária não possuem destaque e, em

24 Fonte Internet: op. cit. Barra do Turvo/ Copright 2004 – Vale do Ribeira 25 Fonte Internet: op. cit. Barra do Turvo/ Copright 2004 – Vale do Ribeira 26 Fonte Internet: OTANI, Malimiria Norico et alli – “Breve perfil dos municípios rurais do Estado de São Paulo”. In.: Portal do governo de São Paulo/Instituto de Economia Agrícola – IEA. (Artigo registrado no CCTC-IEA sob o n. HP – 86/2005).

Page 15: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

15

geral, são dependentes dos serviços públicos ou de transferência de

recursos Os 10 municípios com os menores PIBs per capita do

Estado têm como atividade principal o setor de serviços. Estes se

concentram basicamente no Vale do Ribeira (Barra do Turvo, cuja

renda per capita R$ 2.197,00 é a menor do Estado, Iporanga,

Cananéia, Miracatu e Barra do Chapéu) e no Vale do Paraíba. [...]

Estes municípios oferecem condições sociais bastante

insatisfatórias à população, dado que 70% deles situam-se entre os

grupos 4 e 5. Ou seja, apresentam baixo nível de riqueza e de

indicadores sociais.

Esta citação contribui para demonstrar que os problemas enfrentados pelo município de

Barra do Turvo – e que sem dúvida refletem diretamente na qualidade de vida e condições

da sobrevivência da sua população. Trata-se de uma realidade concreta que obriga o poder

público local a pensar em alternativas que sejam viáveis para o desenvolvimento sócio-

econômico do município, sem perder de vista a questão da preservação do meio-ambiente e

a necessidade de promover políticas favoráveis à melhoria da qualidade de vida da

população constitutiva do lugar. O empenho na valorização e preservação do meio-

ambiente, o investimento planejado no potencial turístico oferecido pelas benesses da

natureza (Mata Atlântica, relevos, grutas, rios e cachoeiras etc.)27, bem como o apoio á

demarcação das terras ocupadas pelas comunidades tradicionais remanescentes de

quilombos locais, talvez seja uma boa saída para a prosperidade de Barra do Turvo e

revigorar as esperanças no futuro das gerações vindouras deste município.

27 Em portal na Internet do município de Barra do Turvo há destaque para o eco-turismo, a pesca e a prática de esportes radicais - como o vôo livre.

Page 16: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

16

- Capítulo III -

- RIBEIRÃO GRANDE E TERRA SECA: O PASSADO -

A reconstituição histórica destes dois povoados seria praticamente impossível sem o auxílio

imediato ao recurso da oralidade. Neste trabalho antropológico foi imprescindível dedicar

tempo para ir ao encontro dos mais velhos da comunidade ouvir deles os relatos de muitas

lembranças boas da infância e juventude, assim como as recordações mais tristes que

incomoda - experiências vividas, distrações e divertimentos, labutas do cotidiano, nome de

pessoas antigas, e parentes próximos já falecidos. O auxílio dos meus interlocutores ao

mediar o meu contato com virtuais entrevistados ou disponibilizar sem restrições, para este

antropólogo, informações obtidas por eles anteriormente - foi igualmente de enorme valia

para o rendimento da pesquisa28.

Assim, a exposição que se segue abaixo - e como não podia deixar de ser - é na verdade

uma reinterpretação das versões da história dos povoados Ribeirão Grande e Terra Seca que

os interlocutores ao expor para este antropólogo não evitaram demonstrar que, mediado

pela pessoa do curioso ouvinte, a vontade deles de alguma maneira se concretizava, qual

seja contar sobre eles para eles mesmos, num esforço reflexivo e voltado, sobretudo, para o

processo de construção identidade de afro-descendente que eles querem reafirmar no

contexto situacional deste momento específico, em que estão reivindicando o direito ao

título de propriedade das terras desde antes ocupadas pelos seus ancestrais.

E sendo assim, não obstante as elipses, rasuras e emendas suspeitas – parafraseando Geertz

-, o conteúdo da exposição em pauta não deixa de ser, a bem da verdade, uma reprodução -

quase literal - de textos na forma oral e escrita cuja autoria é dos próprios interlocutores e

lideranças reconhecidas pelas comunidades tradicionais das referidas localidades no alto

Vale do Ribeira. Pessoas acolhedoras com quem, durante a empreitada do trabalho de

28Esclareço que entre as fontes que recorri para escrever este capítulo menciono dois textos redigidos por Nilce de Pontes Pereira coordenadora da “Associação dos Remanescentes de Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca”, em forma de rascunho. Um primeiro, rascunhado à mão e, um segundo, ao que parece uma reelaboração deste anterior, em versão digitada em computador.

Page 17: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

17

campo e objetivando à produção deste Relatório Técnico-Científico, pude ter contatos e

conversar informalmente em diferentes momentos ou, em alguns casos particulares, manter

um contato mais breve chegado de surpresa com o gravador em punho. Este foi o

procedimento adotado na maioria das vezes nas entrevistas com os mais velhos.

Miguel de Pontes Maciel, Benedito Rodrigues de Paula, Pacífico Morato de Lima, são

nomes e sobrenomes invariavelmente evocados no discurso dos interlocutores como

referencias importante na história das comunidades Ribeirão Grande e Terra Seca. Como

demonstração expressiva de uma consciência identitária assumida, é que os interlocutores

relembram com orgulho ao relatar que estes sujeitos, com nome e sobrenome sempre

destacados, são os “ancestrais”29; os “antepassados” deles que em séculos passados foram

os primeiros a abrir “capuava”30 e fixar com suas famílias naquelas terras a ermo do Vale

do Ribeira, às margens do rio Turvo. Numa saga empreendedora, como as de muitos outros

escravos negros fundadores de quilombos que se ramificaram pelo interior desta

encantadora região de Mata Atlântica do Estado de São Paulo.

De fato, conforme verificado através do recolhimento de informações sobre a genealogia de

parentesco das famílias constitutivas dos povoados rurais de Ribeirão Grande e Terra Seca,

verifiquei que a maior parte desta população pertence a uma rede comum e extensiva de

relações entrelaçadas de parentesco, cuja ascendência invariavelmente remete aos nomes de

um ou outro daqueles pioneiros no povoamento da localidade.

Entre os três, é de Miguel de Pontes Maciel que os meus interlocutores sabem contar com

mais detalhes sobre a origem. De acordo com os relatos, Miguel de Pontes Maciel era Filho

de ex-escravo. O pai dele veio para o Vale do Ribeira juntamente com a leva de

trabalhadores braçais forçados que foram introduzidos na região a propósito da atividade

extrativa de aluviais de ouro, perseguidos nas encostas e beiras de rios da região. Depois,

com a descoberta das promissoras minas de ouro e diamante entre as montanhas distantes

29 Termo que se observa ser empregado com freqüência no discurso dos interlocutores. 30 Esta palavra é de origem tupi, conforme traduzido pelo Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa “capuava” significa: “local apropriado para plantação, roça ... Do tupi kapï’ aua’ ”. (Cunha, 1996, p.152). Antônio Cândido aponta o uso do termo “capuava” também como “Designação corrente de moradia”. (Cândido, 2003 p.78).

Page 18: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

18

das Minas Gerais, contam que o pai de Miguel, chamado Joaquim de Pontes Maciel, foi

abandonado pelo senhor dele, um aventureiro que decidiu partir rumo à Minas, também

atraído pelas notícias que ecoaram longe dos achados da riqueza mineral naquelas terras ao

longe.

Esse procedimento é descrito nos Laudos dos antropólogos do Ministério Público e RTCs31

vinculados ao ITESP como tendo sido procedimento comum entre os donos de escravos da

região do Vale do Ribeira quando perderam o interesse na atividade da mineração de outro

nesta localidade. Sonhando com a riqueza fácil, os senhores partiam para Minas levando

consigo apenas os escravos que se avaliava estarem aptos para a longa viagem e agüentar,

depois, o serviço pesado da mineração aurífera (portanto, em condições físicas saudáveis e

com todo o vigor da juventude); sem hesitar, pois, em deixar para traz, entregues à própria

sorte, os doentes e idosos.

Esta teria sido a sorte, também, de Joaquim de Pontes Maciel. Uma vez na condição de

homem livre, Joaquim de Pontes Maciel teve que arriscar o sustento da família mudando de

lugar e plantação de roça, entre as localidades de Xiririca (hoje Eldorado) e Iporanga. Neste

estilo de vida de característica nômade, depois de percorrer diferentes localidades da região,

incluindo um lugar chamado Indaiatuba, ele foi parar nas proximidades de Barra do Turvo,

no povoado hoje conhecido pelo nome de “Reginaldo” 32. Acredita-se que a chegada dele

neste lugar foi por volta do ano de 181733 .

Segundo relato prestado pelo neto de Joaquim de Pontes Maciel, Anésio de Lima34, o avô

teve várias mulheres e muitos filhos. Miguel de Pontes Maciel era o quarto da família

formada por 11 filhos - a contar com dois outros que o entrevistado apontou como sendo

“ilegítimos” ou “particulares”.Os três nascidos antes do Miguel chamavam-se, 31 Sigla de Relatório Técnico-Científico. 32 Segundo a tradição oral, esta denominação popular do bairro presta homenagem a um dos primeiros moradores do povoado pelo grande feito dele de ter construído uma “canoa” – de maneira insinuada como tendo sido a primeira - naquele lugar. 33 Estou considerando aqui a data indicada nos textos esboçado por Nilce de Pontes Pereira. 34 Estou reproduzindo aqui o depoimento gravado por mim, em 01/11/2006, prestado pelo Morador do bairro Reginaldo, o senhor Anésio Ribeiro de Lima, de 71 anos de idade, neto de Joaquim de Pontes Maciel. Ele é o coordenador da “Associação dos Remanescentes de Quilombo do Reginaldo”. A primeira entidade desta natureza fundada na região do município de Barra do Turvo.

Page 19: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

19

respectivamente - Paulo, Fausminda e Luciano -, e os nascidos depois -, Maria, Pedro,

Joana, Antônio e Geraldo. Os dois “particulares”: Sebastião Dias e Bernardinho.

Este quarto filho de Joaquim de Pontes, Miguel de Pontes aparece nos relatos como um tipo

de personagem principal e cuja imagem que se constrói do mesmo é sugestiva da posição

de liderança desse antepassado no processo de ocupação das localidades de Ribeirão

Grande e Terra Seca.

De acordo com os relatos, Miguel de Pontes Maciel ainda jovem deixou a casa do pai no

“Reginaldo” e foi morar em Indaiatuba; onde se casou com a primeira esposa, chamada

Verônica. Ela faleceu cedo e o casal não teve filhos. Ainda em Indaiatuba ele se casou pela

segunda vez, com Josefa Xavier Rocha, cuja irmã, Maria Xavier da Rocha, era esposa do

Benedito Rodrigues de Paula.

Mediado por esta relação cruzada de parentesco Miguel de Pontes Maciel e Benedito

Rodrigues de Paula e Miguel se conheceram e tornaram desde então grandes amigos.

Parceiros de caminhada, e sempre juntos na aventureira labuta pela sobrevivência eles

saíram de Indaiatuba à procura de lugar melhor para o plantio de roça, abrindo picada pela

mata adentro. Como era o costume, partiram com a família. “Essa era a rotina deles –

escreve Nilce Pereira -, viviam como nômades. Faziam as roças, tiravam o sustento e

partiam para outra região. Por esse motivo foi que Miguel e [os] companheiros35 [dele]

formavam os bairros. Dessa forma [é] que os netos dos escravos chegaram nesses locais e

formaram aqui suas famílias, criaram filhos e viram seus netos chegando...”

O estilo de vida nômade é apontado em RTCs do ITESP como tendo sido uma

característica do modo de sobrevivência nesta vasta região interiorana do estado de São

Paulo. Estava relacionado ao método tradicional de cultivo da terra que era empregado na

região, ou seja, a prática das “queimadas” com intercalação de áreas de plantio deixadas em

pousio.36

35 Referindo-se aqui, também, à pessoa de Pacífico Rodrigues de Paula, a quem mencionei no início. 36 Cf.: Laudo dos Antropólogos do Ministério Público Federal, apud.: Turatti, Maria Cecília M. - Relatório técnico-científico sobre os remanescentes de quilombo de Morro Seco/Iguape - SP, 2006, pp.29-30.

Page 20: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

20

Ao sair de Indaiatuba, segundo os relatos, Miguel de Pontes Maciel e Benedito Rodrigues

de Paula passaram pela localidade do “Reginaldo”, onde permaneceram por algum tempo,

conforme sugerem os escritos de Nilce Pereira37. E, lá, conheceram “Pacífico Morato e

juntos foram para o‘ perovado’ou (...) “lugar das perobas”, apelido antigo do bairro Terra

Seca e por onde teve início a ocupação da localidade pelos três ancestrais38. Segundo a

narrativa de Nilce Pereira:

Miguel de Pontes vivia em Indaiatuba e resolveu, em conjunto com o

cunhado [...] Benedito deixa[rem] Indaiatuba [e] ficaram uns dias no

Reginaldo[...]. Chegando no Reginaldo pegaram Pacífico Morato -

[ele que já] morava no Reginaldo [e] tinha a sua família formada [no

lugar, concordando que] era hora de mudar de lugar, resolveu subir

com eles [Miguel e Benedito]; carregando esposa e filhos nos lombos

de cavalos e tocando porcos. Foi assim que Miguel, Pacífico [e]

Benedito no chegaram no ‘ perovado’39.

Este “lugar das perobas”, apelido antigo do bairro Terra Seca, é descrito nos relatos de

Nilce Pereira como tendo sido o lugar onde, primeiramente, os três ancestrais se instalaram

com a família.

Conta-se que depois de instalar o senhor Benedito e família lá [no

perovado (sic) - Terra Seca], onde ele próprio também ficou e teve

37 A propósito do trabalho etnográfico, cumpre-me informar que consultei dois originais desta autora, Nilce de Pontes Pereira; ambos, diria, em forma de rascunho. Trata-se, esclareço, de uma versão preliminar anotada à mão em folha de caderno com pauta e no formato tamanho grande; e uma segunda versão, síntese da primeira, digitada e impressa. 38 Esta referência aparece nos rascunhos, e a origem do termo pode ser apreendida através deste trecho digitado: “[...] foi assim que eles chegaram junto com o cunhado (Benedito Rodrigues de Paula) e seus [sic] filhos do primeiro casamento [...] na terra seca que antes eles batizaram com [o nome] de perola [peroba] por causa da árvore que tinha no local da 1ª residência: [...] essa planta muito grande e frondosa. [Por isso] foi chamado de lugar das perobas.” (as intercalações entre colchetes são minhas). 39 Esta referência aparece nos rascunhos, e a origem do termo pode ser apreendida através deste trecho digitado: “[...] foi assim que eles chegaram junto com o cunhado (Benedito Rodrigues de Paula) e seus [sic] filhos do primeiro casamento [...] na terra seca que antes eles batizaram com [o nome] de perola [peroba] por causa da árvore que tinha no local da 1ª residência: [...] essa planta muito grande e frondosa. [Por isso] foi chamado de lugar das perobas.” (as intercalações entre colchetes são minhas).

Page 21: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

21

outros filhos, Miguel se instalou com a sua família no Ribeirão

[Grande] - que sempre teve o nome Barra do Córrego e córrego do

salto. Pacifico Morato [...] trouxe seus filho já grandes e instalou-se

no Cedro, ajudado também por Miguel e Benedito.

Nos relatos sobre a origem dos povoados de Ribeirão Grande e Terra Seca um dos detalhes

a meu ver bastante significativo é a recorrência da menção feita aos nomes de municípios

do Vale do Ribeira como “Eldorado”, “Indaiatuba” e “Iporanga”. É preciso lembrar que

nestes municípios também se encontram localizadas diversas comunidades tradicionais

remanescentes de quilombos (algumas delas inclusive foram objetos de RTCs anteriores e

com os quais também estou dialogando no contexto deste documento). Esse detalhe dos

relatos – a referência ao nome de tais municípios - pode ser interpretado como um tipo de

reforço às marcas simbólicas através das quais se busca evidenciar a identidade étnica

quilombola dos povoados Ribeirão Grande e Terra Seca.

Nesse sentido o “Reginaldo” merece aqui destaque especial. A formação deste povoado –

como sugere os relatos – é bem anterior aos demais bairros rurais do município de Barra do

Turvo, identificados como remanescentes de quilombos; além de Ribeirão Grande e Terra

Seca, é preciso mencionar as comunidades do Cedro e Pedra Preta40. Sendo válido

sublinhar que esta comunidade foi a primeira a organizar-se na forma de Associação

comunitária e, até o momento, a única entre as quatro que já obteve junto à Fundação

Cultural Palmares/MINC a “Certidão de Auto-Reconhecimento” como remanescente de

quilombo (Vide Documentos anexos/Certidão de Auto-reconhecimento). A pesquisa

antropológica de campo permite afirmar que o elo entre estes povoados rurais do município

de Barra do Turvo não pode ser explicado somente pelo aspecto da proximidade espacial-

geográfica, ou da afinidade definida pela noção de vizinhança, mas, principalmente, pelo

vínculo familiar estabelecido através de ligações ancestrais de parentesco (vide “Diagrama

de Parentesco” ao final).

40 Além da comunidade alvo deste laudo antropológico, é preciso mencionar que as comunidades remanescentes de quilombos dos bairros Cedro, Pedra Preta, semelhante ao caso do Reginaldo, ainda aguardam a consultoria técnica para produção do laudo antropológico exigido no processo para obtenção do título das terras reivindicadas. No caso da comunidade Pedra Preta o problema é mais complicado pelo fato deles não terem conseguido, ainda, organizar a Associação representativa da comunidade local.

Page 22: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

22

De volta ao relato de Nilce Pereira, outro aspecto detalhado por ela é referente às

dificuldades enfrentadas para sobreviver naquela localidade do Vale do Ribeira. Versão

que, tal como outras passagens do que ela expõe e das narrativas ouvidas de outros

interlocutores locais, articula elementos presentes na história mais ampla do município de

Barra do Turvo. Nesse caso, os meios utilizados para deslocar dentro e fora da comunidade

e as formas do comércio com outras localidades vizinhas:

Seu Miguel, Pacífico e Benedito trabalharam por muito tempo na

região fazendo roça [e] criando porcos para vender em Iporanga, a

troco de sal e mantimentos [que não produzia nas terras deles] nos

entrepostos. O meio de transporte era os cavalos que costumavam

carregar enormes cestas [nas quais] transportavam mercadoria e

criança pequena que ainda não agüentava caminhar por muito tempo.

Nos relatos de Nilce Pereira (mas não apenas a versão dela, é preciso ressalvar) há que se

observar um outro detalhe de tamanha importância, ou seja, a ênfase na relação de

solidariedade e cooperação estabelecida entre os ancestrais fundadores do lugar.

Conta-se que Miguel viveu no Indaiatuba [e] no Reginaldo. Quando

[ele] chegou no Ribeirão Grande, ele também trazia um filho de 15

dias de nascimento, hoje conhecido como seu Chico - pois chama se

Francisco Xavier de Pontes. [...]. Desde de 1886 que eles

trabalhavam e sobreviviam aqui. Seu Miguel sustentou sua primeira

família tirando sua alimentação dos trabalhos que os três compadres

faziam juntos.

Esta relação de solidariedade e cooperação mútua enunciada no trecho acima é sugestiva,

pois, da forma de organização social e estilo de vida tradicional dos bairros rurais do

interior paulistas, conforme apontou Antônio Cândido em os Parceiros do Rio Bonito41, ao

41 Trata-se de um estudo realizado por ele nos anos 1950 focalizando a vida caipira, a sua dinâmica e transformações.

Page 23: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

23

discutir sobre as formas da sociabilidade “caipira”, então representadas pela prática do

“mutirão”42 e as manifestações lúdico-religiosas. Elementos culturais que, segundo ele,

serviam de reforço à “consciência de unidade” local43. Ao discutir a noção de bairro rural

Antônio Candido44 explicou o seguinte:

Pode-se falar de autarquia, portanto, com referencia ao bairro; não as

relações de família no sentido estrito. E um dos elementos de sua

caracterização era o trabalho coletivo. Um bairro poderia, deste

ângulo, definir-se como o agrupamento territorial, mais ou menos

denso, cujos limites são traçados pela participação dos moradores em

trabalhos de ajuda mútua. É membro do bairro quem convoca e é

convocado para tais atividades. A obrigação bilateral é aí elemento

integrante da sociabilidade do grupo, que desta forma adquire

consciência de unidade e funcionamento. Na sociedade caipira a sua

manifestação mais importante é o mutirão...

Este trabalho coletivo - o mutirão - era um dos aspectos essenciais, porém, não o exclusivo,

- conforme demonstrou Antônio Cândido -, na sedimentação da rede de relações sociais e

forma da sociabilidade constitutiva dos bairros rurais paulistas, pesquisados por ele em

meados do século passado. Outro aspecto, portanto, também importante para a aproximação

das pessoas e integração da comunidade apontada por Cândido e que, da mesma forma que

a primeira, trazia a “consciência de unidade” local era a prática lúdico-religiosa. Nas

palavras do referido mestre45:

[...] há nos bairros uma solidariedade que se exprime pela

participação nas rezas caseiras, nas festas promovidas em casa para

cumprimento de promessas, onde a parte religiosa, como se sabe, é

inseparável das danças. Quando, por exemplo, é muito grande o

número de inscritos para promover a festa mensal da capela, um

morador que tem promessa a cumprir pode trazer a imagem a sua

42 Cândido, 2003, p.87. 43 Ibidem, p.98. 44 Cândido, 2003, p.87. 45 Ibidem, p.98.

Page 24: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

24

casa: há reza, distribuição de alimentos e, depois, fandango.

Geralmente a primeira parte se desenvolve durante o dia, a segunda, à

noite.

Estes aspectos da sociabilidade caipira estão insinuados também na fala das pessoas de

Ribeirão Grande e Terra Seca, nas narrativas dos mais velhos e na versão escrita de Nilce

Pereira. A ênfase nos tipos de crenças e práticas religiosas, expressivas de um catolicismo

popular predominante na comunidade no tempo dos antigos pode também ser extraído do

relato desta última, ou seja:

a – Dança de São Gonçalo:

Conta-se que as tradições antigas, como romaria, eles passavam a

noite ou o dia inteiro cantando e dançando em louvor a São Gonçalo.

Faziam muitas novenas cantadas onde se fazia a mesada de anjo

como costumavam dizer eles colocavam as crianças menores de sete

anos sentados em circulo no chão em cima de esteira de taboa e

faziam uma alimentação farta com doces e salgados[...].

b – Reza de Terço: “Conta-se, também, que a forma com que faziam o terço ou era

cantado ou rezado [falado]. [t]odos [ficavam] de joelho no chão, em forma de penitencia.

Enquanto não terminasse [a reza] ninguém [se] levantava do lugar”;

c - Canto de Quaresma:

Outra tradição era o canto de quaresma. [Todo] ano eles faziam a

cantoria dos mortos nos lugares onde se enterravam os entes

queridos, ou envolta das casas. Essa cantoria ia a noite toda. [Muitas

vezes] as famílias que eram saudadas com os cantos e orações saiam

de suas casas e convidavam as pessoas para entrar e tomar café com

porções de amendoim ou cuscuz ou pamonha ou mesmo paçoca de

carne[...];

Page 25: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

25

d – Fandango:

A forma de dançar romaria era em dupla de homem e mulheres, por

volta em torno de 1hora. Como os familiares se reuniam para rezar e

festejar, era na casa de um [certa vez, e na] de outro [em vez

seguinte]. [Por isso, durante] muito tempo os compadres escolheram

o Cedro para fazer [as] suas festividades, [que aconteciam] uma vez

por mês e no 1º domingo[...];

e – Festa de São Pedro, Festa do Divino e o Congo:

“No dia de são Pedro iam todos para preparar a festa e novena em

louvor ao santo [...]. Conta-se, também, que os restantes de

imigrantes também mantiveram seus costumes. Um desses costumes

era a passeata [sic] da bandeira do divino. [Os andores] dos santos de

cada mês e dia, eram enfeitados com varias fitas coloridas. [E] eles

saiam visitando as casas, cantando e tocando instrumento como

pandeiro viola cavaquinho e congo; fazendo barulho e cantoria. [Por]

onde passavam, todos saiam para ver ou acompanhar [o cortejo] até a

outra casa. Quando chegava a noite, eles dormiam na casa da pessoa

[onde estavam de passagem]. Nesses dias eles ficavam até tarde

cantando. E [aqueles] que tinham ido acompanhar [os dançantes]

voltavam para casa [...]”.

A forte influência do catolicismo nos bairros Ribeirão Grande e Terra Seca é manifestada,

ainda, na memória evocada do primeiro templo edificado para a prática dos ritos e cultos

expressivos da “fé” nos “deuses e santos”46 dessa religião cristã:

[...] com o passar do tempo os mais velhos foram ficando cansado e

[com] os filhos todos crescendo resolveram que era hora de fazer

uma capela no Ribeirão Grande; pois para ir no Cedro, só iam uma

46 Expressão apropriada de Carlos Brandão em O divino, o santo e a senhora, 1978.

Page 26: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

26

vez por mês. A família crescia cada vez mais [e] eles [não queriam

deixar perder o] costume de passar [as] suas crenças e devoções aos

filhos. Foi assim que o senhor Bernardinho resolveu que era hora de

fazer uma capela, pois [até então] usavam [a] sala e [o] quintal [da

casa dele], ou seja [o] terreiro para rezar [e onde] fizeram um

pequeno altar [dentro de] uma casa abandonada que só tinha

[algumas] paredes de piri47 e [o material da] cobertura [era] palha de

palmito. Ali [dentro é que] rezavam, sem muita proteção da chuva e

[do] sol. [Por isso] construíram uma capela de barro e sapé que

ficava no lombinho acima [de onde] hoje se localiza o salão

comunitário. Foi passando o tempo e eles construíram várias [outras]

igrejinhas.

A instituição oficial da prática religiosa do catolicismo local está, também, guardada na

memória de um tempo passado e quando a primeira geração nascida no povoado já ocupava

o lugar dos ancestrais, e se tornava, por sua vez, a referência moral e dos valores que

deveriam ser preservados na comunidade:

Conta se que o primeiro Bispo a chegar ao Cedro e Ribeirão [Grande]

foi o bispo Dom Aparecido. Ele vinha de carro até a br48 e descia [o

restante do caminho] a cavalo, até [chegar ao] Cedro e ao povo do

Ribeirão Grande e Terra Seca. Ele vinha de Registro. O senhor

Bernardo de Pontes se deu muito bem com o bispo, e eles ficaram

muito amigo. [Quando já] havia as estradas cortadas, ele veio fazer

oração na capelinha e chegou de fusca. [Mas para] chegar até a

capelinha tinha que [seguir] à pé por um caminho de tropeiro e

atravessar [a] água, [passando por uma] ponte [que] era feita de uma

tora de madeira. Ele deixou o carro [á beira da estrada seguiu o

caminho]. Como ele não tinha o costume de atravessar [este tipo de

47 De acordo com o Aurélio, “piri” é uma “Espécie de junco da família das ciperáceas (Rynchospora cephalotes), que cresce nos terrenos pantanosos, e do qual se fazem esteiras.” (Cf. Novo dicionário básico da língua portuguesa, 1988, p. 508). 48 Referência à rodovia 116 – Regis Bittencourt

Page 27: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

27

ponte] ele caiu na água. [Molhado, ele teve de] vesti[r] uma roupa

[emprestada] do senhor Bernardo. [Neste dia] a senhora Rosa [esposa

de Bernardo Pontes] coordenou um almoço comunitário em

homenagem ao bispo. Depois da celebração o bispo resolveu visitar a

paróquia que era missionada pelo padre de Iporanga. [No intervalo

em que] ele foi para a cidade a senhora Rosa Marques sofreu um

derrame. [Então] o senhor Bernardo correu para estrada para esperar

[...] o bispo [voltar] para levar ela para o hospital de Pariquera-Açu.

O bispo ficou com ela no hospital, [apesar] do cansaço, ate as 6hs da

manhã do dia seguinte. [Ela] demorou para [se] recuperar; e ele

sempre passava no hospital ou ligava lá para saber como ela estava

passando. Foi dessa forma que eles passar[am] a ser evangelizados

pela diocese de Registro [onde era a sede do] bispo [...].

O passado se articula com o presente de várias maneiras. As frases sublinhadas acima

servem para exemplificar isso. Primeiramente, destaco as “pontes feitas com tora de

madeira”. Estas pinguelas continuam a servir nos dias de hoje como caminho de passagem

para atravessar os rios e córregos que separam casas e dá acesso a estrada (SP/287) que

corta os bairros Ribeirão Grande e Terra Seca.

Quanto às cidades de Registro e Pariquera-Açu, são dois municípios vizinhos de Barra do

Turvo que, em relação a esse último, possuem uma condição de infra-estrutura um pouco

melhor, ou seja, em termos de comércio, escolas e hospitais. Relacionada à questão da

saúde são para estes dois municípios que são encaminhadas, mais freqüentemente, as

gestantes às vésperas de dar a luz e as pessoas com sintomas de doença grave ou então

acidentadas e que necessitam com urgência da intervenção cirúrgica.

Ao refletir sobre a articulação do passado com o presente no contexto desta exposição sobre

a história oral dos bairros Ribeirão Grande e Terra Seca, é válido lembrar uma frase

enunciada por João Ubaldo Ribeiro em Viva o Povo Brasileiro: “O segredo da Verdade é o

seguinte: não existem fatos, o que existem são histórias”. Esta citação sugere que a

Page 28: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

28

reconstituição do passado é uma questão de interpretação de acontecimentos, fatos ou

versões que se considerou importante ou significativos para demonstrar algo que se tornou

interessante, sobretudo, porque auxilia a dar sentido á vida das pessoas ou de determinada

coletividade. Nesse sentido, é preciso considerar que as versões exploradas ao longo deste

capítulo são significativas e ganham importância maior, ainda, porque vêm expressar o

ecoar de vozes que muitas vezes foram ignoradas ou mesmo desqualificadas - e, desse

modo, a impedir que os seus protagonistas tivessem a oportunidade de contar a seu modo e

repensar sem constrangimento a sua própria história. Enfim, como sabemos a construção da

identidade depende também da reflexão a partir da memória evocada do passado. E como

tem sido demonstrado é nesse processo que estão envolvidos de corpo e alma os meus

interlocutores e remanescentes dos quilombos Ribeirão Grande e Terra Seca.

Page 29: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

29

- Capítulo IV -

- RIBEIRÃO GRANDE E TERRA SECA: O PRESENTE -

Com base nos levantamentos preliminares feitos pelos antropólogos do Ministério Público

Federal, juntando a população dos bairros Ribeirão Grande e Terra Seca, o total de famílias

contadas seria 42 famílias49. Entretanto, através do trabalho antropológico empreendido

verificamos que atualmente há um total de, aproximadamente, 77 famílias integrantes

destes dois bairros juntos.

A maior parte destas famílias moram em casas construídas ao longo das margens do rio

Turvo e Ribeirão Grande. A maioria em moradias simples e sem muito conforto;

construídas com paredes de tábua e cobertas com telhado de amianto. Para de ter uma idéia,

em quase todas casas visitadas durante pesquisa de campo, pude observar que os móveis

encontravam-se em condições precárias ou eram rústicos – com destaque especial para o

fogão à lenha feito de taipa, no canto das cozinhas.

O meio de subsistência das famílias é garantido basicamente pelo que é conseguido colher

do plantio de roças - principalmente milho, mandioca, feijão, cana e banana. A criação de

animal para o consumo próprio ou comerciar é mais raro.

O interesse atual das lideranças das comunidades em conseguir manter as nascentes dos

rios dentro dos limites da extensão territorial reivindicada por eles, tem a ver justamente

com a preocupação relativa ao futuro incerto que projetam pela frente, no tocante ao risco

de poluição e, conseqüentemente, destruição da qualidade das águas dos rios locais. Isso

49 Ref.: ITESP/Assistência Especial de Quilombos e outras Comunidades Tradicionais (tabela sobre situação

das comunidades de quilombos até janeiro/2006). Nesta tabela apresenta-se um total de 21 famílias constitutivas do bairro Ribeirão Grande e, igualmente, 21 do Terra Seca.

Page 30: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

30

também foi tema abordado nas conversas informais com os meus interlocutores; pensando a

questão do plantio das roças e a própria situação da sobrevivência das famílias no lugar.

De fato, as condições para a sobrevivência no lugar são muito difíceis na atualidade. Sabe-

se que a plantação de banana tem sido destacada como uma atividade crescente e

economicamente rentável nas regiões do Vale do Ribeira. Entretanto, esta bonança ainda

não faz parte da realidade das comunidades remanescentes dos quilombos de Ribeirão

Grande e Terra Seca. Os interlocutores alegam que não dispõem de uma estrutura adequada

para produzir comercialmente; inclusive no que concerne ao transporte da produção.

Mesmo o que atualmente eles conseguem produzir - e gostariam de negociar fora, como o

feijão, mandioca, fabricação de rapadura etc -, é difícil atrair comprador ou levar para

vender fora do lugar.

A carência financeira é apontada, também, como um dos problemas enfrentados e que

obriga grande parte da população mais jovem a abandonar o trabalho rural, na comunidade,

e migrar rumo aos grandes centros urbanos, à procura de ocupação temporária ou algum

emprego mais estável. O destino da maioria é o estado do Paraná, principalmente a cidade

de Curitiba. Poucos vão tentar a sorte na metrópole de São Paulo. E como a formação

escolar é limitada (de acordo com as informações, é raro quem tem o segundo grau

completo), em geral as mulheres tendem a procurar emprego de domésticas e os homens

em serviços braçais dos mais variados tipos. Com o salário que conseguem receber

trabalhando nas grandes cidades é que muitas filhas e filhos do Ribeirão Grande e Terra

Seca tentam ajudar na complementação do orçamento da família que não desanima de

arriscar a sorte trabalhando na roça.

Entre as muitas dificuldades enfrentadas pela comunidade é preciso registrar o problema da

falta de luz elétrica. Esta é uma das reclamações mais freqüentes que se ouve entre os

moradores do lugar. Os principais atingidos por esta limitação à qualidade de vida são os

moradores das casas que ficam situadas em áreas adjacentes ou no interior do PEJ. Devido

ao controle voltado para proteção do meio ambiente, sobretudo a destruição da mata nativa,

há normas estabelecidas e que proíbem a instalação de rede elétrica nesse local.

Page 31: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

31

A solução deste problema também está vinculada à questão da obtenção do titulo definitivo

de propriedade da terra. Informando que o total da área territorial reivindicada pela

comunidade em pauta até Março de 2006, era de aproximadamente 4.570,00 hectares50.

Incluindo nestes cálculos uma certa fração sobreposta ao PEJ. Na verdade, a demanda por

esta extensa fração territorial tinha a ver não somente com o fato da comunidade entender

que a reivindicação de tal extensão territorial era um direito que lhe cabia, por se tratar de

uma área desde o passado remoto ocupada pelos seus ancestrais, mas, sobretudo, estava

relacionada com a preocupação de se ter resguardado as nascentes dos rios.

E conforme foi enunciado na introdução deste relatório, houve uma série de conversas e

negociações em torno da demarcação dos limites do PEJ e a extensão da área que

continuaria então a ser alvo da reivindicação da propriedade por parte da comunidade

Ribeirão Grande e Terra Seca. As negociações avançaram e o diálogo logrou êxito e se

chegou a um acordo. De um lado, o Grupo Interestadual de Trabalho do PEJ (GT) ∗ e, de

outro, as lideranças da “Associação dos Remanescentes dos Quilombos dos Bairros

Ribeirão Grande e Terra Seca” estes representantes concordaram em ceder um pouco na

exigência referente à extensão total da área em questão. Desse modo, no que concerne

especificamente à área sobreposta ao PEJ incluída no total da fração territorial alvo das

reivindicações pela comunidade houve a aceitação por parte das lideranças comunitárias de

se ter reduzido da mesma, aproximadamente, 768,93hectares 51. E sendo assim, a área total

efetivamente reivindicada pela comunidade passou a corresponder, aproximadamente, a

3.601,80 hectares (ver: “Documentos anexos/configuração em mapas...).

50 Fonte: Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”/ ITESP - Mapa da “Proposta de área Reivindicada pelas Comunidades Quilombolas do Município de Barra do Turvo: Reginaldo, Ribeirão Grande, Terra Seca, Cedro, Pedra Preta (Paraíso) - resultado de reuniões com integrantes de cada comunidade, Instituto Florestal e ITESP, Março de 2006. ∗ Ao mencionar novamente este grupo utilizarei a sigla GT do PEJ. 51 Fonte: Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”/ ITESP - Mapa da “Área Reivindicada pela Comunidade Quilombola Ribeirão Grande, Terra Seca – Município Barra do Turvo - resultado do acordo entre o Grupo de Trabalho PEJ e a comunidade, no dia 19/08/ 2006.

Page 32: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

32

É preciso registrar que no dia 25 de Outubro de 2006 foi realizada uma reunião do

Conselho Consultivo do PEJ52. A proposta desse encontro era debater o novo mosaico do

PEJ juntamente com as comunidades tradicionais e demais sujeitos envolvidos na questão

– “posseiros” inclusive. Nesta reunião foi apresentado em telão o novo mosaico do PEJ de

modo a facilitar o acompanhamento da explanação feita pelo representante do Conselho, e

esclarecer aos presentes, através da configuração em mapas, a localização das áreas

identificadas como estando dentro e nas adjacências da divisa do PEJ. De volta para

Ribeirão Grande, à noite depois de passada a reunião, nas conversas com os representantes

da “Associação...” que participaram da mesma pude perceber que, embora eles

manifestassem estarem satisfeitas com o acordo negociado com o GT do PEJ, algumas

dúvidas relacionadas ao assunto haviam ficado e os estavam preocupando bastante os

interlocutores. Este incômodo estava relacionado á questão das categorias APA (Área de

Proteção Ambiental) e RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável). É preciso ressalvar

que tais dúvidas estavam incomodando não somente os remanescentes quilombolas de

Ribeirão Grande e Terra Seca, mas também os demais representantes das comunidades

vizinhas – Reginaldo, Cedro e Pedra Preta. Portanto, a questão que se levantava era quanto

ao esclarecimento do sentido jurídico e as implicações que tais categorias enunciadas (APA

E RDS) poderia ou não trazer para as comunidades remanescentes de quilombos da região;

particularmente no que diz respeito ao fato de lhes serem concedidos ou não, pelo governo

paulista, o título definitivo de propriedade das áreas reivindicadas, porém, sobrepostas ao

PEJ53.

Entre as dúvidas apontadas, uma delas não está relacionada – pelo menos a princípio - com

a situação das comunidades tradicionais, ou seja, a questão da categoria APA (Área de

Proteção Ambiental); a outra, sim, sendo esta concernente à categoria RDS (Reserva de

Desenvolvimento Sustentável). Com o intuito de obter um esclarecimento melhor sobre o

52 Esta reunião foi realizada no Núcleo do Cedro (Sede Florestal do Parque Estadual Jacupiranga), localizado, aproximadamente, no Km 442 da Br 116. 53 Com efeito, no momento em que escrevo estas linhas acabo de atender, em minha casa, o interurbano da coordenadora da “Associação...”, Nilce Pereira. O assunto principal é a confirmação da proposta de reunião para o final desta semana, dia 19 de janeiro de 2007; entretanto, ela aproveita a oportunidade para comentar brevemente sobre a reunião que fizeram ontem, 14 de janeiro, juntamente com as comunidades vizinhas (Reginaldo e Cedro) e na qual, ao que me transpareceu na conversa, foi consensual o desacordo com referência a esta categoria “RDS”, justamente por isto que foi enunciado acima.

Page 33: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

33

significado preciso e as implicações ou não destas categorias para as comunidades

tradicionais foi que lideranças locais decidiram convocar uma reunião específica para tratar

desses assuntos, com a participação das referidas comunidades rurais pertencentes ao

município de Barra do Turvo – e demais interessados -, a ser realizada na sede da

“Associação...”, Ribeirão Grande. Esta reunião de fato ocorreu na data de 24 de Novembro

de 200654.

Como mencionei anteriormente, a situação das comunidades tradicionais, incluindo as

remanescentes de quilombos, é diferente e não estava sendo proposta pelo Conselho de PEJ

sob a inscrição da categoria APA. É preciso esclarecer que a categoria APA diz respeito às

áreas ocupadas por terceiros, ou seja, pessoas ou grupo familiar que invadiram áreas do

PEJ, após a data de fundação do mesmo. Conforme a explicação localizada em RTC do

ITESP55, “Segundo dados de 1996 (e posteriormente atualizados), há 12 Unidades de

Conservação no Vale do Ribeira, compreendendo em torno de 979.949,48 ha. de terra.

Conservação, consubstanciadas em parques ou APA’s (Áreas de Proteção Ambiental),

agem no sentido de preservar a flora e a fauna do Vale do Ribeira, mas empreendem, por

outro lado, um efeito nocivo sobre as comunidades camponesas”.

Embora os ocupantes das áreas cuja proposta de classificação é expressa pela categoria –

APA –, possam vir a adquirir o direito de permanecer no lugar, a exploração e o uso do solo

(plantação de roças, instalação de equipamentos etc) estarão, não obstante, condicionadas

às normas e regras legais estabelecidas para proteção do meio ambiente e preservação

florestal.

No caso particular das Comunidades Tradicionais, no sentido mais amplo, ou seja, os

agrupamentos familiares que reivindicam áreas sobrepostas ao PEJ que, de fato, foram

ocupadas por eles em época anterior à fundação do Parque, a proposta é de serem

54Através do telefonema que recebi da coordenadora da Associação quilombola de Ribeirão Grande e Terra Seca, Nilce Pereira, anteontem, 23 de novembro de 2006, primeiro para comunicar-me que havia dado a luz ao quinto filho na noite anterior, 22 de novembro de 2006, fui informado que esta reunião aconteceria de fato, no lugar, na data de 24/11/2006. 55 Turatti, Maria Cecília M. – OP. Cit., 2006, p.31.

Page 34: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

34

classificadas na categoria RDS ou, traduzindo novamente a sigla: “Reserva de

Desenvolvimento Sustentável”.

Em reunião do GT do PEJ, realizada no dia 13 de Setembro de 200656, foi enfatizado o

reconhecimento pelo governo de São Paulo no que concerne ao direito de ocupação do PEJ

pelas comunidades tradicionais. Sendo esclarecido publicamente que através desta

categoria - Comunidade Tradicional – dever-se-ia compreender tanto os agrupamentos

familiares remanescentes de quilombos, quanto a situação de pessoas individuais ou grupos

que se instalaram dentro do PEJ em época que antecedeu á criação desse Parque. Ao deixar

isso claro é que nesta reunião se confirmou que o compromisso do GT, ao propor a

demarcação territorial do PEJ, ia além da busca de solução imediata para os problemas

relacionados com os interesses do Parque - a segurança e preservação desta extensa área

florestal de Mata Atlântica -, mas, também, tinha como meta propor alternativas voltadas

para garantia da qualidade de vida e o futuro das comunidades tradicionais envolvidas na

questão.

Esta restrição à qualidade de vida o antropólogo foi colocado a par desde os primeiros

contatos com a comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca; e pude conhecer de perto a

extensão do problema ao percorrer a localidade e ter contato com lideranças das outras

comunidades vizinhas – Cedro e Reginaldo. Semelhante à instalação da luz elétrica, a

comunidade Ribeirão Grande/ Terra Seca reclama de outros problemas e situações

particulares, direta ou indiretamente relacionados à questão da regularização da propriedade

da terra. Trata-se de problemas que gerou inúmeras perguntas dirigidas a um funcionário

representante do ITESP, no contexto de uma reunião mensal da “Associação...”57, apenas

56 O local da reunião foi o Parque do Horto Florestal, em São Paulo, capital. O assunto principal da colocado em pauta era a discussão da minuta de leis proposta para “Alterar os limites do Parque Jacupiranga”; sendo esclarecido no início do documento: “Artigo 1º.- As alterações e reclassificações das áreas que compõem o território especialmente protegido pelo Parque Estadual Jacupiranga, criado pelo Decreto Lei, n.145 de 08 de Agosto de 1969, bem como as novas áreas protegidas que ora se instala, passam a ser regidas pelas disposições da presente lei, observadas as normas ambientais vigentes, especialmente às contidas da Lei n.9985 de 18 de Julho de 2000 (SNUC) e seu regulamento Decreto n.4340 de 22 de Agosto de 2002.” (Trecho anotado pelo antropólogo da “minuta” exibida em telão durante a reunião do “Grupo Intersecretarial de Trabalho” em 13/09/2006). 57 Refiro-me, aqui, a reunião realizada em 18/09/2006, para a qual fui especialmente convidado a participar, pela coordenadora da “Associação...”, que entendeu ser ocasião oportuna para a apresentação da pessoa deste antropólogo à comunidade.

Page 35: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

35

para mencionar de passagem: situação das pessoas que “pagavam [imposto] ao Incra”;

“relação com a agrofloresta”; a necessidade “empreendimento social” junto à comunidade,

entre outros.

Entre os graves problemas enfrentados na comunidade detecta-se outro ainda mais

delicado. Trata-se dos conflitos existentes em torno das áreas invadidas por terceiros e que

estão dentro dos limites territoriais reivindicados pelos remanescentes de quilombos ao

governo paulista. Uma situação que parece recorrente e que tende a colocar em risco a

segurança e o controle da ordem internamente na comunidade. Um caso dramático que me

foi narrado pela coordenadora da “Associação...” merece registro. O episódio envolveu um

ancião da localidade e foi motivo que o levou a aceitar a idéia da auto-identificação da

comunidade como remanescente de quilombo.

Conforme a versão ouvida: em um dia de festa na comunidade este ancião não quis que os

parentes o levasse ao local da reunião e preferiu ficar em casa sozinho assistindo televisão.

Aproveitando da situação, assaltante invadiram a casa, amarraram o idoso à cama do quarto

e fugiram em seguida, levando todo o dinheiro recebido por aquele da aposentadoria como

trabalhador rural. As suspeitas levantadas é que os assaltantes eram pessoas de fora que

chegaram no lugar com desculpa de construir casa e plantar dentro da área considerada da

comunidade, uma vez que estes suspeitos desapareceram da localidade desde então. A

partir desse dia este senhor mais velho da comunidade, vitima indefesa dos assaltantes,

decidiu apoiar a fundação imediata da “Associação...” por entender que organizados dessa

forma eles conseguiriam obter o título da terra ocupada e, desse modo, teriam mais

condições de evitar a invasão do lugar por pessoas estranhas ou indesejadas pela

comunidade.

A narrativa deste episódio dramático não deixa de ser expressiva dos receios da

comunidade quanto a situações de violência, entre outras ameaças que poderá ficar exposta,

ao terem o seu lugar de origem invadido por terceiros e com interesses desconhecidos.

Page 36: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

36

Relacionado ainda ao comportamento de “invasores” 58, uma acusação que os interlocutores

fazem contra estes sujeitos é que eles não têm preocupação com a preservação do meio

ambiente. Destroem a floresta com prática de queimadas e derrubada abusiva de árvores,

para plantação de roças entre outras atividades relacionadas ao uso do solo. Queixam que

esse modo dele agirem coloca a comunidade numa situação delicada perante as autoridades

responsáveis pela fiscalização do PEJ, uma vez que a tendência é a culpa pelo dano

ambiental recair sobre as costas da população remanescente de quilombos, ao contrário dos

considerados “invasores”, efetivamente morar no lugar (ver: “Diagrama de Parentesco”, ao

final do texto).

A comunidade, porém, não tem muito como controlar a invasão das terras por ela ocupada

tradicionalmente. Devido também ao fato de não possuir o título definitivo de propriedade

da mesma. Entretanto, com a esperança que ora surge da possibilidade de resolver esta

situação, a comunidade tem buscado se mobilizar e, conjuntamente com os representantes

dos povoados vizinhos – Cedro e Reginaldo –, recorrer às instituições que entendem ter a

competência e autoridade para mediar a situação e/ou impedir o abuso dos atos de invasões

ao seu território: o ITESP e a polícia (ver: Documentos anexos/Ocorrência Policial e

Correspondências Oficiais).

A interlocução sugerida acima da comunidade de Ribeirão Grande/Terra Seca com as

vizinhas, Reginaldo e Cedro, já insinuada também em parágrafos anteriores – é prática

comum que advém desde o início do processo de mobilização e organização dos

seguimentos populacionais camponeses remanescentes de quilombos do município de

Barra do Turvo. Através deste processo dialogal estas comunidades têm descoberto que a

proximidade entre elas não está apenas restrita a elos de vizinhança e amizade, mas é

demarcada também por laços familiares e de parentesco. Além disso, esta interlocução veio

contribuir para ampliar a percepção das pessoas e levá-las a compreender que a maioria dos

problemas enfrentados no dia-a-dia por elas não é algo inevitável do destino individual ou

58 Este termo é empregado pelos próprios interlocutores ao fazerem referência a pessoas que não são bem aceitas pela comunidade, por motivo mesmo de invasão de faixas territoriais reivindicada por aquela ao governo paulista. Trata-se de pessoas que mantém uma relação conflitiva com a comunidade, conforme apontei no diagrama de parentesco (vide final do texto).

Page 37: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

37

um caso isolado e particular da comunidade que pertencem; mas problemas estruturais cuja

solução depende em grande parte da mediação do poder público, sem dispensar o apoio

generoso de instituições civis voltadas para o trabalho social, tais como ongs, igreja,

movimentos sociais etc. Tendo claro, todavia, que a capacidade da mobilização interna da

comunidade, bem como a união em parcerias locais é fundamental para multiplicar as vozes

e ampliar o eco das suas denúncias e reivindicações.

Mas esta consciência que parece estar sendo tomada atualmente na comunidade Ribeirão

Grande e Terra Seca (e válido também para as demais já mencionadas – Reginaldo e

Cedro) é fruto, sem dúvida, de um trabalho que começou muito antes junto a população

rural do município de Barra do Turvo representado por agentes pastorais ligados à Igreja

Católica, entidades não governamentais de proteção às populações ribeirinhas, e agentes do

movimento negro. Como bem observou Carvalho em RTC sobre a comunidade quilombola

do Galvão59 - “Em muitas comunidades do Vale, onde existe a atuação da Pastoral da Igreja

Católica e do Movimento Negro, a identidade quilombola foi assimilada pela população,

aparecendo como fator positivo na elaboração de lutas políticas”. De fato, foi isso também

que se verificou na comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca através da pesquisa

antropológica realizada.

E para terminar é válido acrescentar que a partir da menção feita diretamente acima, ou

insinuada em capítulos anteriores, sobre a recorrente interlocução entre as comunidades

remanescentes de quilombos do município de Barra do Turvo, torna-se possível evidenciar

não apenas a “consciência de unidade local” destas comunidades, construídas no processo

de luta pela conquista do título definitivo de propriedade das terras tradicionalmente

ocupadas por aquelas, mas também formas de sociabilidade estabelecidas na localidade.

Quanto a esse aspecto, é oportuno ressaltar que elementos da cultura tradicional do meio

rural paulista ainda fazem parte do cotidiano dos povoados Ribeirão Grande e Terra Seca.

Desse modo, a prática do trabalho coletivo – o mutirão – é uma das formas de cooperação e

sociabilidade que se tem buscado preservar dentro da comunidade Ribeirão Grande e Terra

59 Carvalho, Maria Celina P. de - Relatório técnico-científico sobre os remanescentes da comunidade quilombo Galvão... . 2000, p.11.

Page 38: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

38

Seca60. E nesse sentido, as práticas do catolicismo popular merecem aqui ficarem

registradas; tais como a festa em homenagem a São Sebastião, rezas de terço e novenas -

que marcam a dimensão simbólica da comunidade. Mas é preciso ressaltar que outros

elementos culturais também foram criados mais recentemente no lugar, a configurar

espaços da sociabilidade e reforço à integração grupal, como é o caso da festa de eleição da

“Rainha do Quilombo”.

Esta festa reúne toda comunidade – e também a vizinhança. A rainha é escolhida entre as

pessoas mais jovens – pode ser criança ou adolescente, sendo a ganhadora do concurso é

sempre aquela que consegue vender mais rifas para a comunidade. O dinheiro arrecadado é

sempre revertido para a organização do evento. Além do ritual de eleição da “Rainha do

Quilombo”, a festa ainda é animada com barraquinhas, bailes e o sorteio de prendas61.

Portanto, é possível afirmar finalmente que a dimensão lúdica, religiosa e política se

articulam no processo de construção identitária dos povoados Ribeirão Grande e Terra Seca

ao servir de reforço para a consciência e sentimento de unidade entre estes dois bairros

rurais do município de Barra do Turvo e que podem ser traduzidos pela expressão no

singular: comunidade remanescente de quilombo Ribeirão Grande/Terra Seca.

60 Durante período do trabalho de campo, mais especificamente no dia 27 de novembro de 2006, mais de 20 pessoas, entre homens e mulheres, jovens e adultos, moradores nos bairros tanto de Ribeirão Grande quanto Terra Seca se organizaram em mutirão para cooperar na plantação de cana e mandioca da roça de Nilce Pereira. Ela estava grávida, aproximando dos nove meses de gestação, e o marido trabalhando fora, em fazenda distante embora na própria região. Enquanto o grupo trabalhava no campo, algumas mulheres ficaram na casa ajudando no preparativo da comida, que foi servida comunitariamente depois de terminado a tarefa. Aproveitei também a ocasião para entrevistar pessoas, e desse modo, registrar informações sobre a genealogia de parentesco, bem como fotografar os trabalhadores. Momento em que as pessoas fizeram questão de posar segurando em mãos as suas ferramentas de trabalhos ou montados em lombo dos animais ou em bicicletas. 61 Este ano de 2006, o pároco local – padre Leonardo - foi sorteado com um bezerro, que prometeu doar, numa oportunidade vindoura, para um banquete reunindo a comunidade e amigos.

Page 39: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

39

Imagens de Ribeirão Grande e Terra Seca/Passado e Presente

Page 40: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

40

Mapa da Ocupação Fundiária

Page 41: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

41

- Capítulo V -

- DAS IDENTIDADES: A IDENTIDADE QUILOMBOLA EM QUESTÃO -

Ao iniciar este capítulo eu quero chamar a atenção do leitor, logo de início, para a citação

destacada no capítulo introdutório deste Relatório e cujo conteúdo gira em torno da

discussão do termo “Remanescente de Quilombo”62. Através da análise do conteúdo da

referida citação verifica-se que a conceituação descritiva - “Remanescente de Quilombo” -

compreende implicitamente a própria noção de identidade étnica. A referência principal dos

estudos que introduzem a noção de identidade étnica é o antropólogo inglês Fredrik Barth.

Em 1969 Barth escreveu um artigo no qual chamou atenção para a noção de “fronteira”,

entendida como elemento fundamental na demarcação da “diferença entre culturas” e

definição do chamado “grupo étnico”. Nas palavras de Barth63: “As diferenças entre

culturas, assim como suas fronteiras e vínculos históricos, receberam muita atenção (até

então pelos cientistas daquela época); contudo, a constituição dos grupos étnicos e natureza

de suas fronteiras não foram examinadas tão sistematicamente”.

A ênfase na “fronteira” estava relacionada ao fato de Barth compreender o “grupo étnico”

como um tipo de “organização social”. Nesse sentido Barth salientou:

“Então, um traço fundamental torna-se [...] a característica da auto-atribuição ou da atribuição por outros a uma categoria étnica. Uma atribuição categórica é uma atribuição étnica quando classifica uma pessoa em termos de sua identidade básica mais geral [...]. Na medida em que os atores usam identidades étnicas para categorizar a si mesmos e outros, com objetivos de interação, eles formam grupos étnicos neste sentido organizacional”, e acrescenta: “As características que são levadas em consideração não são a soma das diferenças ‘objetivas’, mas somente aquelas que os próprios atores consideram significantes”. (grifos meus) (ibidem, 189-190).

A partir da contribuição de Barth os estudos focados na problemática da identidade étnica

se multiplicaram e as discussões referentes a esse conceito puderam ser aprofundadas à luz

dos dados empíricos produzidos através das investigações de campo em lugares diversos,

comunidades diferentes, situações específicas e contextos variados. Entre os vários

62 Vide Introdução, página 3 deste Relatório... 63 Barth, Fredrik, 1997, p188.

Page 42: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

42

exemplos que poderia ser citado, interessa mencionar de início os nomes dos antropólogos

Roberto Cardoso de Oliveira e Manuela Carneiro da Cunha, pela importância deles como

referência obrigatória nos estudos sobre a questão da identidade étnica no Brasil.

O antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (1976) foi quem introduziu, primeiramente, na

antropologia brasileira as reflexões sobre a noção de identidade e chamou atenção para o

conceito de identidade étnica. Cardoso de Oliveira procurou demonstrar com base em

pesquisas empíricas64, e apoiado nas contribuições teóricas de Fredrick Barth65 e Abner

Cohn66, que a identidade étnica é uma modalidade de identidade contrastiva e situacional;

configurando, pois, uma “forma de organização social” e da afirmação do “nós” em

oposição aos “outros”.

Cardoso de Oliveira esclareceu que a identidade étnica para ser afirmada depende sempre

da presença do outro. Esta construção se processa em situações específicas de confronto

interétnico nas quais determinado grupo minoritário encontra-se ameaçado por um outro

dominante – no plano cultural ou mesmo fisicamente – e tem a percepção quanto ao risco

que corre de ser efetivamente dizimado. No contexto desta relação de dominação e conflito,

traduzida através da expressão “situação de fricção interétnica”, é que a identidade étnica,

segundo Cardoso de Oliveira, tende a emergir como uma forma de resistência à dominação

que determinado grupo étnico minoritário toma a de consciência de ter-lhe sida imposta

historicamente. Nesse sentido é que a identidade étnica – de acordo com o referido

antropólogo – ao ser construída exige a demarcação intencional das “fronteiras étnicas” de

modo a evidenciar as diferenças entre o “nós” e os “outros”.

A antropóloga luso-brasileira, Manuela Carneiro da Cunha é outra referência importante no

avanço das reflexões e debates sobre o conceito de identidade étnica no campo da

64 Trata-se de pesquisas realizadas nos anos 1970, no norte do país, abordando a problemática da situação de conflito envolvendo de um lado as populações indígenas, ameaçada da perda das terras por elas ocupadas tradicionalmente, além da própria vida e, de outro lado, os regionais – fazendeiros interessados na apropriação das terras ocupadas pelos primeiros. 65 A referência é o artigo deste autor publicado em 1969, intitulado Ethnic groups and boundaries, pela Bergen-Oslo, Universiteta Forlaget. Londres, George Allen & Unwin. 66 Destaca-se como referência principal o livro intitulado Custom and politics in urban África, em Londres, pela Routledge and Kegan Paul, primeira publicação também em 1969.

Page 43: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

43

antropologia brasileira. O estudo desenvolvido por esta antropóloga sobre a população de

ex-escravos retornados do Brasil para a cidade de Lagos, em África, na metade do século

XIX, teve grande repercussão e trouxe acréscimos significativos para a compreensão,

sobretudo, do aspecto político que tende a envolver o jogo da afirmação da identitária

étnica ou – nos termos da antropóloga – a “etnicidade”.

Manuela Carneiro da Cunha67 retomou as discussões de Cardoso de Oliveira e a partir das

contribuições dos mesmos autores de referência desse etnólogo, Fredrik Barth e Abner

Cohen, ela procurou chamar atenção para o papel operacional dos elementos culturais

traduzidos na expressão “sinais diacríticos”. Elementos culturais manipulados

intencionalmente no processo de construção etnicidade. Os “sinais diacríticos”, segundo

explicou a antropóloga, são elementos retirados da própria cultura do grupo cuja identidade

étnica está em questão, porém, de modo selecionado tendo em vista servir

operacionalmente ao contraste com “outros do mesmo tipo”. É através dos “sinais

diacríticos” – esclareceu a antropóloga - que o grupo busca “explicitar marcadamente” as

diferenças entre o “nós” e os “outros”68.

Conforme a explicou Cunha, a escolha dos “sinais diacríticos” não se dá de maneira

arbitraria. Ao contrário, o grupo que quer marcar a sua diferença em relação aos “outros”

irá depender sempre dos elementos que se encontram disponíveis em um “repertório

cultural” limitado – uma vez que é impossível o indivíduo ou grupo levar “na bagagem”

toda a cultura do lugar de origem, de onde teve que sair ou por força das circunstancias

econômica ou política. Os “sinais diacríticos” funcionam como signos de linguagem, sendo

a escolha dos mesmos condicionadas, segundo a antropóloga, à possibilidade de permitirem

certa inteligibilidade da comunicação: “os sinais diacríticos – escreveu Carneiro da Cunha -

devem poder se opor, por definição, a outros do mesmo tipo (...), assim como roupa deve

ser contrastada com roupa, religião deve ser contrastada com religião” 69.

67 Ver: Cunha, Manuela C. da – Negros estrangeiros..., 1985; Antropologia do Brasil..., 1986. 68 Ibidem, 1986, p. 85-119. 69 Ibidem, p. 100.

Page 44: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

44

De um modo geral, da perspectiva teórica dos autores acima enunciados a identidade étnica

deve ser entendida como uma modalidade de identidade contrastiva, situacional e que

depende da presença do outro para ser construída. Trata-se de uma atitude política,

assumida por determinado grupo étnico que se sente ameaçado cultural e/ou fisicamente de

extinção dentro de determinada fronteira territorial e cujos interesses - sejam eles de ordem

econômica, comercial ou política – estão efetivamente colocados em jogo.

Portanto se, por um lado, as reflexões teóricas desenvolvidas por Cardoso de Oliveira

deram destaque, sobretudo, para o fenômeno da identidade étnica compreendida da

perspectiva de Barth, ou seja, com ênfase na idéia do grupo étnico pensado como um tipo

de “organização social”; por sua vez, Cunha destacou o aspecto político desta modalidade

identitária traduzida a partir da definição de grupo étnico em conformidade com a definição

de Abner Cohen, ou seja, um tipo de “organização política”.

A historiadora e antropóloga Lilia Shwarcz ao criticar Cunha observa que essa autora deixa

insinuado na sua forma de interpretação uma ênfase demasiada na predominância da

racionalidade no processo de construção da etnicidade, em detrimento a outros aspectos

subjacentes ao mesmo, conforme ela sugeriu: “[a] identidade não pode ser exclusivamente

definida, dessa forma, como um fenômeno da mais pura imposição e manipulação externa.

Ou seja, apesar de ser objeto potencial de manipulação ideológica, sem a existência interna

de uma ‘comunidade de sentidos’ toda a construção de identidades e tradições tende a

resultar em um imenso vazio70.”

Embora a observação dessa historiadora mereça ser levada em consideração, com efeito, os

escritos de Cunha dialogando com Cardoso de Oliveira, trouxeram contribuições

inovadoras para a antropologia brasileira. Sobretudo no que concerne a referenciais teórico-

metodológicos indispensáveis, principalmente, para os estudos dos segmentos

populacionais indígenas e negros no meio rural - e mesmo no contexto metropolitano –

conforme se pode verificar através dos inúmeros estudos de comunidades, desenvolvidos

70 Shwarcz, L.K.M. – “Complexo de Zé Carioca – sobre uma certa ordem da mestiçagem e da malandragem”,1995, p.60.

Page 45: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

45

no meio acadêmico-científico tomando como referência os estudos destes mencionados

antropólogos.

Interessado em refletir sobre a problemática da “identidade cultural na modernidade tardia”

(traduzido também nos termos de “pós-modernidade”), Stuat Hall71 buscou discutir

criticamente no livro A identidade cultural na pós-modernidade sobre as teorias da

identidade (individual e coletiva) clássicas, argumentando que as mesmas tendem a

convergir no mesmo sentido de pensar este fenômeno como algo “permanente”, “coerente”,

fixa e estável, tendendo sempre à “continuidade” no espaço e no tempo. Desde a noção de

identidade individual presente no pensamento filosófico iluminista, até as concepções

sociológica e antropológica sobre o processo de construção das identidades sociais

construídas coletivamente, esta idéia aparece de forma recorrente.

Diferentemente disso, para Stuart Hall os indivíduos na “pós-modernidade” estão cada vez

mais numa posição de “deslocamento” ou “descentramento” identitários: “as identidades

modernas – salienta Hall - estão sendo ‘descentradas’, isto é, deslocadas ou

fragmentadas”72. Esta não seria, porém, uma experiência exclusiva das identidades

emergentes no contexto da “pós-modernidade”; sendo que a intensificação desse fato nos

dias de hoje oferece maior condição para se reavaliar a pertinência do conceito de

identidade e atentar, sobretudo, para o que, na realidade, pode estar em jogo neste processo

de construção ou identificação cultural. Em sendo assim, o aspecto da politização das

afirmações identitárias torna-se um elemento fundamental73.

Stuart Hall procura argumentar que as identidades são construções provisórias, inacabadas

e incompletas. Assim, escreve o autor, “deveríamos falar de identificação, e vê-la como um

processo em andamento. A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já

está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é ‘ preenchida’ a

71 Hall, Stuart – A identidade cultural na pós-modernidade, 1998. 72 Ibidem, p.8. 73 Ibidem, p.21.

Page 46: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

46

partir de nosso exterior pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por

outros”74.

Estas referências teóricas enunciadas acima auxiliam-nos a entender melhor a posição dos

nossos interlocutores, no contexto hodierno em que se torna imprescindível para eles

assumirem a identidade de remanescente de quilombos; tendo claro que ora está em jogo é

a possibilidade ou não de adquirirem do governo do estado paulista o titulo definitivo das

terras tradicionalmente ocupadas75 pelos mesmos. Com efeito, ao evocarmos

anteriormente os estudos sobre a identidade étnica ou etnicidade a intenção é dar idéia das

motivações possíveis que podem levar as pessoas a buscarem em determinada situação

específica, contexto particular e momento chegado da sua vida a afirmar para si esta

modalidade identitária distintiva, bem como os recursos utilizados para garantir a

visibilidade e marcar de maneira valorativa e positivamente a sua diferença em relação aos

“outros”, ou seja - a manipulação de elementos culturais significativos e operacionais,

como é o caso dos chamados “sinais diacríticos”.

Sem com isso, no entanto, querer insinuar que estou interpretando a comunidade

remanescente de quilombo em foco neste relatório como “grupo étnico”. É para evitar essa

possibilidade de apreensão que chamei atenção na presente exposição também para as

reflexões do antropólogo Stuart Hall em torno da problemática da crise de identidades no

contexto da “pós-modernidade”. Válido salientar o que ele escreve: “A etnia é o termo que

utilizamos para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume,

tradições, sentimento de ‘lugar’ que são partilhadas por um povo. É tentador, portanto,

tentar usar a etnia dessa forma ‘fundacional’. Mas essa crença acaba, no mundo moderno,

74 Ibidem, p.39. 75 A propósito desta expressão Alfredo Wagner B. de Almeida esclarece o seguinte: “[...]as terras indígenas são definidas como bens da União e destinam-se à posse permanente dos índios, evidenciando uma situação de tutela e distinguindo-se, portanto, das terras das comunidades remanescentes de quilombos, que são reconhecidas na Constituição de 1988 como de propriedade definitiva dos quilombolas. Não obstante esta distinção relativa à dominialidade, pode-se afirmar que ambas são consideradas juridicamente como ‘terras tradicionalmente ocupadas’ seja no texto constitucional ou nos dispositivos infraconstitucionais e enfrentam na sua efetivação e reconhecimento obstáculos similares. De igual modo são consideradas como ‘terras tradicionalmente ocupadas’ e enfrentam obstáculos à sua efetivação, aquelas áreas de uso comum voltadas para o extrativismo, a pesca, a pequena agricultura e o pastoreio, focalizadas por diferentes instrumentos jurídicos, que buscam reconhecer suas especificidades[...]” ([destaque do autor] Almeida, Terras de quilombo, terras indígenas..., 2006, p.28.).

Page 47: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

47

por ser um mito. [...]. As nações modernas são, todas, híbridos culturais.”76 Isso significa

compreender que as identidades ou processos de identificação também se dão a partir da

articulação com outras referências a partir do exterior e/ou no interior do próprio sujeito –

não obstante as contradições presentes77.

Lembro-me aqui de algumas situações observadas durante o trabalho de campo que servem

para ilustrar o que acabo de escrever. Duas delas estão relacionadas com a identificação das

pessoas da comunidade com o antropólogo. Em primeiro lugar cito o meu contato inicial

com a comunidade. Estava acompanhado da equipe do ITESP e ao descer do carro e ser

apresentado por uma representante desse órgão à coordenadora da “Associação...”, a

mesma exclamou para um grupo de lideranças da comunidade que estavam à porta da

cozinha comunitária, próxima a sede desta entidade: “Então, o antropólogo é um de nós...”.

E todos concordaram com um gesto de aceno de cabeça e um sorriso nos lábios. Num

segundo momento, durante conversa informal – e divertida – com um interlocutor, esse,

depois de desculpar-se pelo “modo de falar”, devido à “falta de estudo”, indagou-me de

repente:“Ôh Rubens... ‘ocê também é descendente de quilombola, não é?!”78.

Outra situação que me chamou atenção foi o contexto de conversa descontraída entre

algumas pessoas que iriam participar do “mutirão” para plantação de roça da representante

da “Associação...”. Uma pessoa, em tom de brincadeira, disse algo mais ou menos assim:

“para ser quilombola precisava ser negro”. A coordenadora reagiu de modo inesperado ao

gracejo, repreendendo de maneira enfática o falante: “É bom parar com estas ‘brincadeiras’

de quilombo ser formado só por negro. Têm muita gente branca que mora aqui; chega

desses um aí e vai sentir que está sendo discriminado. O quilombo é de todos associados;

não importa se é branco ou negro!”.

76 Ibidem, p.62. 77 Conforme bem esclarece esta citação de Stuart Hall: “[...] A identidade [é] definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas”. (Hall, ibidem, p.13.). 78 Acrescentando de passagem a minha reação. Respondi de maneira humorada que “sim!”; mas só não sabia onde ficava as terras... E rimos junto, o interlocutor e eu.

Page 48: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

48

Por fim, a expressão de uma certa crise de identidade presente na fala da coordenadora da

“Associação...” durante conversa informal com o antropólogo em um final de tarde: “eu sou

remanescente de quilombo, mas só pelo lado materno...”.

As identidades ou “processos de identificações” tendem a emergir em situações de crise,

tendo como referência, sobretudo, o modo particular como o indivíduo é “interpelado” ou

“representado” pelos outros, sugeriu Stuart Hall. As situações empíricas enunciadas acima

admitem em certo sentido este tipo de interpretação. E sugerem, também, que os sujeitos da

comunidade ao refletir sobre a(s) identidade(s) dele(s) também colocam a questão do risco

dessa coletividade se imaginar ou querer se fazer reconhecida como um grupo fechado,

endogâmico ou avesso a diversidade étnica e cultural. Atitude que tendem a repudiar

inclusive pela própria experiência particular deles como sujeitos e coletividade afro-

descendentes, alvo potencial e historicamente do racismo na sociedade brasileira.

A afirmação identitária da comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca pode ser apreendida a

partir de falas e comentários como estes selecionados acima, entre outros ouvidos pelo

antropólogo no trabalho de campo. Mas é preciso não esquecer neste contexto, sobretudo,

das versões narrativas da história oral sobre a origem dessa comunidade, apresentadas no

capítulo III. A análise do conteúdo destas versões de origem bem como da sua

performance79 narrativa possibilita apreender as marcas simbólicas evocadas para afirmar a

diferença identitária étnica da comunidade, no cenário até, mais amplo, da sociedade

brasileira.

O cruzamento das versões de origem da comunidade com os dados levantados sobre

genealogia de parentesco, durante a pesquisa antropológica de campo, contribui para

verificar que, de fato, a maior parte dos moradores dos bairros rurais Ribeirão Grande/Terra

Seca pertencem a umas redes entrelaçadas e extensivas de parentesco, cujas referências

79 É inovadora e crescente o debate em torno desta categoria no campo das ciências sociais, particularmente destacando o cenário da antropologia. Entre as principais referencias a frente desta discussão acadêmico-científica destaca-se o NAPEDRA – Núcleo de Antropologia da Performance e do Drama, da Universidade de São Paulo/USP.

Page 49: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

49

principais de origem são os três ancestrais relembrados: Miguel de Pontes Maciel, Benedito

Rodrigues de Paula e Pacífico Morato de Lima.

Ao afirmar a sua identidade de remanescente de quilombo, os sujeito interlocutores buscam

articular a relação de continuidade entre o passado e o presente da comunidade Ribeirão

Grande/Terra Seca. Desse modo, atestando que é justa a reivindicação feita por eles, através

da “Associação dos Remanescentes de Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra

Seca”, ao governo paulista da obtenção do título definitivo de propriedade da terra

tradicionalmente ocupada por esta coletividade.

Page 50: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

50

- Capítulo VI -

Ao chegar o momento desta conclusão eu gostaria de reenfatizar que o propósito deste

Relatório Técnico-Científico foi apresentar um estudo sistemático e rigoroso sobre a

comunidade de Ribeirão Grande/Terra Seca, localizada no município de Barra do Turvo,

estado de São Paulo. Procurou-se, desse modo, fazer o levantamento das origens históricas

dessa comunidade, as configurações sociais e simbólicas da sua organização, bem como

evidenciar as condições de vida e de existência que caracterizam a realidade atual da

mesma.

É com base nesse trabalho de pesquisa antropológica intensivo que se tornou possível

comprovar a origem quilombola da Comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca. Ficou

demonstrado que quase a totalidade das famílias que formam esta comunidade é

descendente de ex-escravos, a repetir aqui os nomes de Pacífico Morato de Lima, Benedito

Rodrigues de Paula e Miguel de Pontes Maciel. Esse último descrito como filho de um

escravo que se tornou livre ao ser abandonado na região pelo seu senhor, quando esse

decidiu partir para Minas interessado no empreendimento da mineração aurífera, naquelas

paradas. É com orgulho, pois, que os mais velhos da comunidade relembram os nomes

destes ancestrais para os filhos e netos, com a esperança, talvez, que eles guardem a

imagem vivificada destes antepassados memória e como referência exemplar da maneira de

ser e agir no mundo indiferente aos obstáculos que a vida oferece.

Esta memória ainda viva dos antepassados, com certeza, foi o que fortaleceu o ânimo e deu

coragem para as lideranças atuais da “Associação das Comunidades Remanescentes dos

Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca” insistirem na organização e registro

dessa entidade sem fins lucrativos. Um passo importante e significativo para eles

manifestar decididamente a intenção e o desejo emergente de valorizar a sua diferença

histórica e social, como indivíduo e coletividade rural, e, desse modo, afirmar

positivamente e fazer reconhecida a especificidade da sua identidade étnica.

Page 51: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

51

É com ênfase nesta afirmação identitária étnico-quilombola, portanto, que neste Relatório

Técnico-Científico sustenta-se o argumento de que é justa a reivindicação feita pela

Comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca ao governo paulista - e direito incontestável da

mesma – a obtenção do título definitivo de propriedade dos 3.601, 80 hectares,

aproximadamente, da terra tradicionalmente ocupada no município de Barra do Turvo,

localizado no alto do Vale do Ribeira.

A partir da investigação antropológica empreendida pude de perto verificar o profundo

vínculo prático-simbólico da Comunidade de Ribeirão Grande/Terra Seca com o espaço-

territorial que ocupa, sendo oportuno ressaltar a importância de sua garantia para a

implementação de formas de produção que venham promover melhorias na qualidade de

vida e condições dignas de sobrevivência para esta referida comunidade. Isso está de

acordo, inclusive, com a posição do Grupo de Trabalho criado pelo Governo do Estado de

São Paulo por meio do Decreto n.40.723, de 21 de março de 199680 quando salienta: “[...]

que o território, em todo seu perímetro, necessário à reprodução física e cultural de cada

grupo étnico/tradicional só pode ser dimensionado à luz da interpretação antropológica e

em face da capacidade suporte do meio ambiente circundante tendo em vista as necessidade

de garantir a melhoria de qualidade de vida de seus habitantes, através da implementação

de projetos econômicos adequados, conservando-se os recursos naturais para as gerações

vindouras”. E queremos ressaltar, ainda, antes de concluir este Relatório Técnico-Científico

que estamos considerando as posições deste G T referido acima, as quais são as seguintes:

- que é a “vontade política e visão social do governo paulista de atender e interpretar

o mandamento constitucional, não como obrigação estatal imposta pela lei, mas

principalmente como um ideal da democracia, de proteção aos direitos humanos e respeito

às minorias, a ser perseguido permanentemente”;

- o reconhecimento do GT quanto à necessidade de tratar de forma diferenciada a

identificação dos territórios de comunidades quilombolas, visto que “o cadastro rural

previsto pelo INCRA ou mesmo o cadastro de terras do patrimônio imobiliário estadual

usado para a ‘legitimação de posse e para embasar as ações discriminatórias são incapazes

de detectar apropriações comunais extensas que compõem territórios tradicionais”;

80 Vide nota de rodapé n.1.

Page 52: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

52

- que uma das diretrizes do GT destaca a “necessidade de rever procedimentos

técnicos e jurídicos dos órgãos afetos à questão do ordenamento fundiário, agrário,

territorial e ambiental para reconhecer e incorporar as diferenças étnicas e culturais

proporcionando o reconhecimento e a proteção, pelo Estado, dos segmentos portadores

dessas referências e de seus direitos”.

É, portanto, considerando estas posições do GT e os resultados da pesquisa antropológica

realizada que concluímos que a Comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca é

remanescente de quilombo, de acordo com as definições que embasam os critérios oficiais

de reconhecimento adotados pelo Estado de São Paulo. Salientando, para terminar, que por

ocasião da titulação das terras a Procuradoria do Estado, juntamente com o ITESP, devem

promover amplos debates com a comunidade a respeito do tratamento a ser dado pelo

Estado à situação dos pequenos posseiros que moram, possuem imóvel ou trabalham no

lugar para que o processo de titulação não gere desavença ou venha acirrar a situação de

conflito já existente - o que, com certeza, poderá ser evitado através do diálogo e

negociação bem conduzidos.

Rubens Alves da Silva

Antropólogo

Page 53: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

53

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA, Alfredo Wagner B. de – Terras de quilombo, terras indígenas e fundos de

pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2006. ALMEIDA, Alfredo Wagner B de – “Os quilombos e as novas etnias”. In.: Leitão (org.)

Direitos territoriais das comunidades negras rurais. São Paulo, Instituto Sócio-Ambiental, 1999.

ANDRADE, Mário de (coord. Alvarenga, Oneida; Toni, F. Camargo) – Dicionário musical

brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; [Brasília, DF]: Ministério da Cultura; São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. (Coleção reconquista do Brasil. 2ª série; v. 162), 1999.

ANDRADE, Tânia et alli (eds) – [2ª ed.] Negros do Ribeira: reconhecimento étnico e

conquista do território – São Paulo: ITESP; Páginas e Letras – Editora gráfica (Cadernos do ITESP; 3), 2000.

ASSUNÇÃO, M.R. – “Quilombos maranhenses”. In.: Reis J. R e Gomes, F.S (org.) –

Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo, Cia. das Letras, 1996.

BANDEIRA, Maria de L. - Território negro em espaço branco – estudo antropológico de

Vila Bela. São Paulo: Brasiliense, 1988. BARTH, Fredrik – “Grupos étnicos e suas fronteiras”. In.: POUTIGNAT, Philippe;

STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: UNESP, 1997. BRANDÃO, Carlos Rodrigues – Olhares cruzados: visões e versões sobre a vida, o

trabalho e o meio ambiente no Vale do Ribeira. São Paulo: Instituto Sócio-Ambiental BRANDÃO, Carlos Rodrigues - O divino, o santo e a senhora. Funarate/Campanha de

defesa do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, 1978. CANDIDO, Antônio – Os parceiros do rio bonito: estudo sobre o caipira paulista e a

transformação dos seus meios de vida. São Paulo: duas cidades; ed 34, 2003. CARVALHO, Maria Celina P. de Relatório Técnico-Científico sobre os quilombos

remanescentes da comunidade de quilombo do Galvão, Municípios de Eldorado e Iporanga – SP. São Paulo: ITESP, 2000.

CARVALHO, Maria Celina P. de e Schmitt - Relatório Técnico-Científico sobre os

quilombos remanescentes da comunidade de quilombo do Nhunguara, localizada nos Municípios de Eldorado e Iporanga – SP. São Paulo: ITESP, 2000 – mímeo.

Page 54: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

54

COHEN, Abner - Custom and politics in urban africa : a study of hausa migrants in

yoruba towns. [1ª.ed.1969]London: Routledge & Kegon Paul, 1974. CUNHA, Antônio G. da – Dicionário etmológico nova fronteira da língua portuguesa. [2ª

ed.]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. CUNHA M. C. da – Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade. São Paulo:

Brasiliense/EDUSP, 1986. CUNHA, M. Manuela Carneiro L. C. da – Negros estranhgeiros – os escravos libertos e

sua volta à África. São Paulo: Brasiliense/EDUSP, 1985. FERNANDES, Francisco – Dicionário de sinônimos e antônimos da língua portuguesa.

[35ª ed]. São Paulo: Editora Globo, 1996. FERREIRA, Aurélio Buarque de H. e J.E.M.M (eds) – Dicionário Aurélio básico da língua

portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira S/A., 1988. FOX, Robin – Parentesco e casamento – uma perspectiva antropológica. Lisboa: Editora

Vega, 1986. HARVEY, David – Condição Pós Moderna. São Paulo: Loyola,1998. HALL, Stuart – A identidade cultural na pós-modernidade. [2ª.ed] Rio de Janeiro: DP&A,

1998. LIMA, Henyo T. B. e FILHO, Carlos de S. (Orgs.) – Antropologia e identificação – os

antropólogos e a definição de terras indígenas no Brasil, 1977-2002. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria /LACED /CNPq/ FAPERJ/ IEB, 2005.

MARCUS, George. “Identidades passadas, presentes e emergentes: requisitos para

etnografias sobre a modernidade no final do século XX ao nível mundial”. In.: Revista de Antropologia. São Paulo: USP, 1991.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de - Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Livraria

Pioneira Editora, 1976. PAULA, Luis Roberto de - Reconhecimento da comunidade de quilombo do Camburi,

localizada no Município de Ubatuba – SP. São Paulo: ITESP, 2005. QUEIROZ, Maria Isaura P. – Vale do Ribeira: pesquisas sociológicas. São Paulo:

DAEE/USP, 1967. SHWARCZ, Lilia K.M. – “Complexo de Zé Carioca – sobre uma certa ordem da

mestiçagem e da malandragem”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo: ANPOCS, nº 29, ano 10, 1995.

Page 55: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

55

SILVA, Aracy Lopes da - Nomes e amigos: da pratica xavante a uma reflexão sobre os je.

São Paulo: FFLCH/USP, 1980 (Tese de Doutorado). SILVA, Rubens Alves da – Negros católicos ou catolicismo negro?Um estudo sobre a

construção da identidade negra no congado mineiro. Belo Horizonte: Departamento de Sociologia e Antropologia/Universidade Federal de Minas Gerais, 1999 (Dissertação de Mestrado em Sociologia – ênfase: Sociologia da Cultura).

STUCHHI, Deborah (coord.) – Laudo antropológico. Comunidades negras de

Ivaporunduva, São Pedro, Sapatu, Nhunguara, André Lopes, Maria Rosa e Pilões. São Paulo: Ministério Público Federa de São Paulo, 1998.

TURATTI, Maria Cecília M. - Relatório Técnico-Científico sobre os quilombos

remanescentes da comunidade de quilombo de Morro Seco/Iguape – SP. São Paulo: ITESP, 2006.

Internet: Barra do Turvo/ Copright 2004 – Vale do Ribeira Wikipédia, a enciclopédia livre.

Page 56: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

56

- Diagrama de Parentesco -

O diagrama de configuração da genealogia de parentesco que será apresentado mais abaixo

foi elaborado com a finalidade única e exclusiva – e não mais que isto – de indicar quais

são as famílias que possuem vinculo direto de parentesco com os ancestrais reconhecidos

como fundadores dos povoados rurais de Ribeirão Grande e Terra Seca.

As informações para elaboração deste diagrama foram levantadas em dois momentos

distintos. Primeiramente, com a colaboração da Coordenadora da “Associação...”,

convidamos um dos responsáveis pela família (pai ou mãe - mas deixando livre a escolha

de outro representante) para nos prestar informação na casa desta liderança.

Em um segundo momento eu procurei revisar as informações preliminares através de visita

domiciliar. Aproveitei, ainda, para completar o registro com novos dados obtidos. A forma

da exposição do diagrama – por casa –, foi inspirado no método utilizado pela etnóloga e

professora já falecida da USP, Dra Aracy Lopes da Silva, em sua tese de doutorado -

Nomes e amigos... (vide Referência Bibliográfica).

Válido mencionar, ainda, que juntamente com a atividade descrita neste segundo momento,

também foi feito levantamento dos pontos de referencia da área ocupada, com o recurso de

GPS operado pelo geógrafo da equipe, Rogério G. Gama. Todo o trabalho deste segundo

momento foi acompanhado de perto pelo técnico do ITESP, Luiz Baeta∗, representante do

“G.T.C. Formação-Pariquera-Açu”.

Importante ressaltar que as famílias configuradas neste diagrama genealógico de parentesco

são aquelas cujo(s) responsável(is) é (ou são) filiado(s) à “Associação...”. Condição exigida

pela comunidade para a pessoa ou grupo – independente de ser descendente ou não dos

ancestrais fundadores dos povoados de Ribeirão Grande e Terra Seca – tornar-se aceito e

reconhecido como um parceiro na luta pela obtenção do título de propriedade definitiva da

terra tradicionalmente ocupada pelos remanescentes de quilombos dessas localidades; e,

∗ A quem agradeço imensamente a generosa colaboração neste e outras situações do trabalho de campo.

Page 57: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

57

portanto, poder gozar de todos direitos bem como usufruir as garantias oferecidas por esse

documento legal.

Enfim, a legenda que segue abaixo ajudará o leitor a decifrar os códigos e a entender

melhor a exposição feita e o que está sendo dito através das figuras geométricas e cores

constitutivas deste diagrama de parentesco.

Page 58: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

58

LEGENDA REFERENTE SÍMBOLO Independe do sexo Feminino Masculino Filiação União (casado ou amigado) Separação Viuvez Irmãos Pessoa falecida Faltou Informação ? Famílias Cores Família de Miguel] Pontes Maciel Família de Benedito Rodrigues de Paula Família de Pacífico Morato de Lima Agregados Relação de conflito com a comunidade Trabalhando fora Reside em outra localidade

Page 59: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

59

Diagrama de referência aos ancestrais e à primeira geração dos Remanescentes de Quilombo dos bairros Ribeirão Grande/Terra Seca, município de Barra do Turvo - SP. (1) Joaquim de Pontes Maciel ? ? Paulo Frausminda Luciano Maria Pedro Joana Geraldo Antônia Sebastião Bernardino

(Referências ancestrais) Miguel Benedito R. P

(1º.Geração) Verônica Josefa X.R. Maria X.R 1 2 3 4 5

Francisco José Bernardo Antonio Miguel Sebastião Angelina Madalena

(1º.Geração) 6 Izaltino João Pedro Francisca Sebastiana Clara Maria Benedita Pacifico Morato de Lima

(Referência ancestral) Sebastiana Dias

(1º.Geração) Marco Gonçalo Francisco Feles Miguel Amâncio Maria Luiza

Page 60: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

60

Diagrama de referência aos agrupamentos familiares atualmente ocupantes dos bairros Ribeirão Grande/ Terra Seca e sua relação de parentesco ancestral, distribuídos por casas. (2) - Casa 1 - Referência : Angelina Pontes Maciel Viuva.

Gonçalo 5 Angelina 7 Anisia 8 Maria 9 José 10 Carlos 11 Lourdes 12 Dimas

..............................................................................................................................................................................................................

(3) - Casa 2 - Referência: Anízia de Pontes Morato Viúva.(?). ? 7 Anisia 14 Sebastiana 15 16

13 Aparecida André Marcia 15 Jéssica

Obs.: 15 – Jéssica : Aos cuidados da avó. ...................................................................................................................................................

Page 61: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

61

(4) - Casa 3 - Referência: Alexandra de Lima. Viúva.

17 Francisco 18 Ana

19 Alexandra 20 21 22 23 24 Jandira Aristide Natair Josefir Rosana .............................................................................................................................................. (5) Referência: José Morato Pontes de Lima. - Casa 4 - (Não Associado)

9 José ................................................................................................................................................... (6) Referência: Renato Rodrigues dos Santos. Cônjuge: Balbina Belemer. - Casa 5 - (Não associado). 25 26

Renato Balbina

...................................................................................................................................................

Page 62: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

62

(7) - Casa 6 - Referência: José Pedroso. Cônjuge: Alcina de Moura. 27 28 José Alcina

29 30 31 32 33 34 35 36 37 Mário Rosa João Doriti Tereza Antonio Rafael Maurício Santina

................................................................................................................................................... (8) Referência: José Vieira Sampaio. - Casa 7 - (Não Associado).

38 José ... ................................................................................................................................................(

Page 63: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

63

9) Referência: Camilo Pontes Maciel. Cônjuge: Maria Rosa. - Casa 8 -

Bernardo Rosa

M. Rosa 39 40 41 42 43 44

Ivanilda Neuzita Camilo Abraão Izaíra José

45 46 Erisvaldo 47 48 Maria A. 49 50 Debora 52 53 54 Marcelo Aparecida Inês Levi Claudemir Elizete 55 56 57 ? 58 59 60 ? 61 Tairis Ramon Mateus Felipe Marcelo

Obs.: 58 – Mateus: aos cuidados dos avós. 41 – M. Rosa: Irmã de Luiz 62 (Casa 9). .................................................................................................................................. (10) Referência: Luiz Rodrigues dos Santos Cônjuge: Maria José dos Santos - Casa 9 - 62 63 Luiz Maria

Obs.: 62 Luiz: vínculo de parentesco nas casas 8;11; 12; e 59. ...................................................................................................................................................

Page 64: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

64

(11) Referência: Renato Rodrigues dos Santos Cônjuge: Balbina Belemer - Casa 10 - 64 65 Renato Balbina

................................................................................................................................................... (12) - Casa 11 - Referência: Antenor Lemos dos Santos. Cônjuge – Roseli Aparecida Maciel dos Santos. 66 67 Antenor Rosely

72 73 74 68 69 70 71 Silvia M. Lourdes Sheila Renata Cristian Talia Ray ...................................................................................................................................................

Page 65: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

65

(13) - Casa 12 - Referência: Abraão de Pontes Maciel. Cônjuge – Osminda Lemes dos Santos Maciel. 42 75 Abraão Osminda Aroldo Edinho Néia Zeca 85 Luis 86 76 77 78 79 80 81 82 83 84 Jandira Zeneide Lauridir Anilda Ilza Estélio

87 88 89 90 91 92 93 94 ? ? ? ? ? ? Lucas

? Obs: 75 – Osminda: Irmã de Luiz 62 (Casa 9). ................................................................................................................................................... (14) Referência: Francisca Bezerra da Conceição de Paula. - Casa 13 - 95 Francisca

................................................................................................................................................... (15) Referência: Miguel dos Santos. Cônjuge: Isabel de Fátima Vieira. - Casa 14 - 96 97 Miguel Isabel 98 ? ...............................................................................................................................................

Page 66: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

66

(16) - Casa 15 - Referência: José Pereira de Freitas. Cônjuge – Joana de Freitas. 99 100 José Joana 101 102 103 104 Márcio Marcos Maurício Márcia 105 Lucas

................................................................................................................................................... (17) - Casa 16 – Referência: Alcides Xavier Rocha. Separado. Manoel Clara

Marines 106 107 108 109 110 Henrique José Alcides Francisca Mauro 111 112 Cristina Izaque

.............................................................................................................................................

Page 67: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

67

(18) - Casa 17 - Referência: Pedro Gonçalves Pedroso. Viúvo. BeneditoRP

PedroGP Josefa P. Maria XR Benedito Benedita

112 113 114 115 Raul Francisco Antério Pedro Rita Wanderley Rudney 116 117 118 119 120 Zeneide Creide Dolíria 121 122 123 124 Reroldy Meireane Gledson Ana

..................................................................................................................................................

(19) - Casa 18 - Referência: Zeneide Xavier Pedroso. Cônjuge – Wanderley Rodrigues de Paula.

116 117 Zeneide Wanderley 121 122 Reroldy Meireane

...................................................................................................................................................

Page 68: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

68

(20) - Casa 19 - Referência: Francisca Xavier da Rocha Pontes. Cônjuge – Eduardo da Rocha Pedroso. Manoel Clara

124 123 Eduardo Francisca 126 Edralf

125 127 128 129 Zenilta Edcardo Davi Edvalto 130 Tainar ................................................................................................................................................... (21) - Casa 20 - Zenilta da Costa Pedroso. Cônjuge – Edralf Gonçalves. 125 126 Zenilta Edralf 130 Tainar ................................................................................................................................................. (22) Referência: Dasil Cônjuge: Anilda de Paula Pereira. - Casa 21 - (Não associados). - 131 132

Dasil Anilda ...................................................................................................................................................

Page 69: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

69

(23) Referência: Vitório Albers. Cônjuge: Paula Pereira. - Casa 22 - 133 134 Vitório Paula ................................................................................................................................................... (24) Referência: Dona Nena. - Casa 23 - (Não associada). 135 Dona Nena ................................................................................................................................................... (25) Referência: Inocêncio. - Casa 24 - (Não associado).

136 Inocêncio

................................................................................................................................................... (26) Referência: Lucia Rute Pereira de Paula. Cônjuge: Sebastião de Paula. - Casa 25 - 137 138 Sebastião Luci ...................................................................................................................................................

Page 70: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

70

(27) Referência: Ozico Pereira. Cônjuge: Paula Pereira. - Casa 26 – (Não Associados). 139 140 Ozico Paula

................................................................................................................................................... (28) Casa 27 Referência: Juvenal de Lima. Cônjuge – Genir de Paula Pereira. 1 Francisco Ana Dias Juvena 142 Genir 143 144 145 146 141 Valdomiro Benedito Alexandra Pedrina Roque Miguel

Aparecida Sebastião 151 Maria 153 154 Zenaide Adilson 155 156 148 149 150 152 Tereza 157 147 Lúcia Vraldimir Valerino Antônio Waldir 161 162 163 164 165 166 167 168 Cleiton Suzana Vinicius Fernanda Tatiele Maurício Jéferson Guilherme 158 159 160 Alaina Valdeir Douglas

169 170 171 172 173 174 175 176 Edson Edimir Eliane Edvaldo Waldomiro Tereza Evaí Alinne

Obs. 148 – Aparecida: Bisneta do Pacifico Morato de Lima. 155 – Zenaide: Bisneta de Miguel de Pontes Maciel. .........................................................................................................................................

Page 71: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

71

(29) Casa 28 Referência: Antônio de Paula. Conjuge Zenaide Batista Moreira. 177 178 Antônio Zenaide

179 180 Jeferson Carlos

................................................................................................................................................... (30) Referência: Nadir Ursolino de Moura. - Casa 29 - 181 Nadir

................................................................................................................................................... (31) Referência: Francisco França de Lima. - Casa 30 - (Não Associado) - 182 Francisco

................................................................................................................................................. (32) Referência: Luis Dantas. - Casa 31 - (Não Associado) 183

Luis ...................................................................................................................................................

Page 72: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

72

(33) - Casa 32 - Referência: Zenóbio Pereira da Cruz. Cônjuge – Conceição 184 185

Zenobio Conceição

................................................................................................................................................... (34) - Casa 33 - Referência: Waldomiro de Lima. Cônjuge - Claresdina Alves dos Santos. 186 187 Valdomiro Claresdina

Levi 191Sidnei 193 ? 195 Josimar 197 ? 198 199 200

188 189 190 192 194 196 Maria Osmanilda Áurea Cleuza Adriana Rosilane L.Hernane Luis

201 202 203 204 205 Ramon Lucas Denílson Roger Kauana

Obs. 189 - Levi: filho de Camilo 191 - Sidney : filho de Benigno Morato de Lima. ...................................................................................................................................................

Page 73: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

73

(35) Casa 34 Referência: Eva Rodrigues Barbosa. Viuva. João Francisca

Gentil Eva

207 Daniel 209 Regina 211 Leandro ? 216 Mario 213 206 208 210 212 214 215 217 Zenilta Hélio Ruth Tarcisio Vânia Jovania Vilma ? 218 219 ? 210 ? 211 ? 212 ?

Obs. Regina – Filha de Reinaldo da casa 40 ................................................................................................................................................ (36) - Casa 35 - Referência: Marinelma Rodrigues de Paula. – Cônjuge - Cláudio Ursulina de Moura. José Maria

214 213 Claudio Marinelma

215 216 Cláudia Alisson

Obs.: 213 - Marielma: vínculo de parentesco na casa 38 (irmã de Dolíria - 219). ...................................................................................................................................................

Page 74: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

74

(37) Referência: Lauredir Pereira. Cônjuge: Esmanilda da Costa Pedroso. - Casa 36 - 217 218 Lauredir Esmanilda ................................................................................................................................................... (38) Referência: Maria. - Casa 37 - (Não associado/casa fechada) ? Maria .................................................................................................................................................. (39) - Casa 38 - Referência: Doliria Rodrigues de Paula. Cônjuge – Daucides Marques Reis. José Maria

220 219 Daucides Dolíria 221 ? 223 Oracilda 220 222 224 225 226 227 Edimilson Gabriel Rosana Eliandro Luciana Lucas

228 229 ? Wende

...................................................................................................................................................

Page 75: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

75

(40) Referência: Gabriel de Paula. Cônjuge: Oracilda. - Casa 39 - 230 231 Gabriel Oracilda ................................................................................................................................................... (41) - Casa 40 - Referência: Reinaldo Rodrigues de Paula. Cônjuge – Maria do Carmo. Simão Maria Reinaldo 232 233

Maria 237 234 235 236 ? Helio 238 Zenilta Zenilda Regina

? 239 ? 240 ? 241

................................................................................................................................................... (42) Referência: Zenilda Rodrigues de Paula Cônjuge: - Casa 41 - 241 242 ? Zenilda ...................................................................................................................................................

Page 76: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

76

(43) Referência: Regina Rodrigues de Paula Cônjuge: Hélio - Casa 42 - 243 244 Hélio Regina ................................................................................................................................................... (44) Referência: Laudimir Marques Reis. Cônjuge: Aurora Pereira. - Casa 43 - (Não associados) 244 245 Laudimir Aurora ................................................................................................................................................... (45) - Casa 44 - Referência: Pedrina Pontes de Lima. Cônjuge – Sebastião Américo. Framcisco Ana

Sebastião 246 Pedrina 248 ? 250 Lauredir 252 ? 253 254 ? 247 249 251 Carmelina Aurora Gilmar Cremilson 256 ? 260 261 255 257 258 259 Daine Isair ? ? ? ? 262 ?

Obs.: 250 – Lauredir: filho de José de Pontes/Casa 43. 256 - ?: filho de Francisco Z. Lima/ Casa 50. ...................................................................................................................................................

Page 77: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

77

(46)

- Casa 45 - Referência: Vanilda Aparecida dos Santos. Cônjuge – Antonio de Paulo. 264 263 Antônio Vanilda 265 266 Gilson Cristiane

Obs.:

264 – Antônio: vínculo de parentesco nas casas 27, 28, 29. ................................................................................................................................................ (47) - Casa 46 - Referência: Maria Aparecida Santos. Cônjuge – Augusto de Souza Santos. 268 267 Augusto Maria 270 271 273 Silmara 275 276 278 279 269 Vanilda Jânea Arlete 272 Daniel 274 Natael Josiel Heloisa Rafael José 280 281 Ricardo Janaina

Obs.: 267 – Maria: filha de Sebastiana 6 (Casa 47). .............................................................................................................................................

Page 78: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

78

(48) - Casa 47 - Referência: Sebastiana Rodrigues de Paula. Viúva. Benedito GP 6 Sebastiana 282 283 284 267 Aristieu Rubens Raquel Maria

............................................................................................................................................... (49)

- Casa 48 - Referência: Arlete Aparecida Souza Santos. Cônjuge – Jose Pedro dos Santos. 286 285 José Arlete 287 288 289 Jackson Katiele Pablo Obs.:

285 – Arlete: filha de Maria 267 (Casa 46 e 47). ................................................................................................................................................... (50) Referência: Joaquim de Paula. Cônjuge: Nadir de Paula. - Casa 49 - 290 291 Joaquim Nadir ...................................................................................................................................................

Page 79: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

79

(51) Referência: Zacarias Lima França. - Casa 50 - (Não associado). 292 Zacarias ................................................................................................................................................... (52) Referência: Ednéia Lima. - Casa 51 - (Não associada). 293 Ednéia

................................................................................................................................................... (53) Cláudia Lima. - Casa 52 - (Não associada).

294

Claudia ......................................................................................................................................... (54) Referência: Delmira Pereira da Cruz da Rocha. Cônjuge – Mauro Xavier da Rocha. - Casa 53 - 296 295 Mauro Delmira 297 298 Vinicius Vanessa

Obs. 295 – Delmira: filha de Zenóbio 184 (Casa 32). 296 – Mauro: filho de Clara Xavier da Rocha (1ª.Geração/Rodrigues de Paula). ...................................................................................................................................................

Page 80: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

80

(55)

- Casa 54 - Referência: Jaldir de Pontes Maciel. Cônjuge – Nadir Ursulina de Moura. 2 Antônio Madalena 298 299 Jaldir Nadir . 301 Santino 306 307 303 304 305 300 302 Alessandra Luís Ana Daniele Tatiane Luis F. 308 309 310 Leticia Marco Rian

Obs. 299 – Nadir : filha de Joana (mora no Cedro e é neta do Pacífico Morato de Lima). 301 – Santino: Filho de Judite (Irmã de Joana e também mora no Cedro). ...................................................................................................................................................

(56) Referência: Oswaldo Alves Belemer. Cônjuge: Paulina de Pontes Maciel. - Casa 55 - 311 312 Oswaldo Paulina

312 – Paulina: Irmã do Jaldir 298 (Casa 54).

311 – Oswaldo: vínculo de parentesco nas casas 5; 69; 72; e 73. ...................................................................................................................................................

Page 81: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

81

(57) - Casa 56 - Referência João Miguel. Cônjuge – Maria de Paula. 2 Antônio Madalena

313 314 João Maria .

315 316 317 318 319 310 311 312 Wanderley Wanderlúca Wanderléya Juliana Juciléia Vanessa Juciele Lourdes

.................................................................................................................................................. (58) - Casa 57 - Referência: Izaíra Pontes Maciel. Viúva. 43 Izaíra Pedro Odair

Oriel Rosa 316 Rosana 319 320 Tereza Nilce Marilda 313 314 315 Leonel 317 318 Ademilson Rosilene Clenilson 321 322 323 324 325 326 327 Washington Danilo Bruna Xayana Adinilson Vitoria

Obs.: 315 – Rosa: filha de Alcina (mãe mora no Cedro/bisneta do Pacífico M. de Lima). .................................................................................................................................................

Page 82: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

82

(59) - Casa 58 - Referência: Marilda Pontes Pereira. Cônjuge – Ednelson Alves Martins. 321 327 Marilda Ednelson

328 Mariela .................................................................................................................................................. (60) - Casa 59 - Referência: Nilce de Pontes Pereira. Cônjuge - Oscar Rodrigues Santos. 318 329 Nilce Oscar 330 331 332 333 334 Alana Carlos Victor Jonas Fabio

Obs. 329 – Oscar: filho de Luiz 62 (Casa 9). ...................................................................................................................................................

Page 83: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

83

(61) - Casa 60 - Valfrido de Pontes Maciel. Cônjuge - Paulina Pontes Salgado. 335 José Elisa 336 Valfrido 337 338 Valdivino Paulina 340 ? 341 Eva 343 Waldir 344 Saito 346 347 348 339 349 Elói 342 Rosineia Célia 345 Silvano Waldemir Zélia Versita Roseli 350 ? 351 352 353 354 Carlos Tiago Kalis Keteler 355 356 357 358 Patrich Andréia Jaíne Jaiane

Obs. 353 - Kalis;354 - Keteler; 355 - Patrich; Andréia – 356: aos cuidados dos avos. 337 – Paulina: vínculo de parentesco na Casa 14. 338 – Valdivino: mora na casa do irmão Valfrido. ................................................................................................................................................... (62) Referência: Oriel Pontes Pereira Cônjuge: Rosa Rodrigues Morato - Casa 61 – 314 315 Oriel Rosa

322 323 324 Washington Danilo Bruna .................................................................................................................................................

Page 84: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

84

(63) Referência: Reinaldo Batista Moreira. Cônjuge: Maria Lúcia Moreira. - Casa 62 -

359 360 Reinaldo Maria L.

................................................................................................................................................... (64) Referência: Domingos Pereira da Silva. - Casa 63 – 361 Domingos ................................................................................................................................................... (65) Referência: Ivanilda Rodrigues de Jesus da Cruz. Cônjuge: Sebastião Belemer. - Casa 64 – 362 363 Sebastião Ivanilda ...................................................................................................................................................

Page 85: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

85

(66) Referência: Natalio Rosa. Cônjuge: Liversina Barbosa Santos Rosa. - Casa 65 – 364 365 Natálio Liversina

................................................................................................................................................... (67) Referência: Abraão de Pontes Maciel. Cônjuge: Osminda Lemes dos Santos - Casa 66 – 42 75 Abraão Osminda

................................................................................................................................................... (68) Referência: Agamenon Alves. - Casa 67 – (Não associado e “posseiro”). 366 Agamenon

................................................................................................................................................... (69) Referência: Luiz Cardoso. - Casa 68 – (Não associado e “posseiro”) 367 Luiz

...................................................................................................................................................

Page 86: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

86

(70) Referêcia: Moacir Belemer.

- Casa 69 – (Não associado e “posseiro”) 368 Moacir

Obs.: Relação conflitiva com a comunidade. ................................................................................................................................................... (71) Referência: Antenor Lemes dos Santos. Cônjuge: Roseli Aparecida Maciel dos Santos.

- Casa 70 – 369 370 Antenor Aparecida

................................................................................................................................................... (72) Referência: Pedro Ferreira Belemer. Cônjuge: Francisca Soares de Lima.

- Casa 71 – 371 372 Pedro Francisca

................................................................................................................................................ (73) Referência: Sebastião Belemer. Cônjuge: Vanilda Rodrigues de Jesus da Cruz. - Casa 72 – 373 374 Sebastião Vanilda ..................................................................................................................................................

Page 87: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

87

(74) Referência: Claudemir Belemer. Cônjuge: Lauredir Belemer. - Casa 73 – 375 376 Claudemir Lauredir

................................................................................................................................................... (75) Referência: Valdomiro de Lima. Claresdina Alves dos Santos. - Casa 74 – 377 378 Valdomiro Claresdina

................................................................................................................................................... (76) Referencia Alessandra Aparecido Maciel Cônjuge – Santino Morato Pereira

- Casa 75 - 379 380 Alessandra Santino 381 Leticia

................................................................................................................................................. (77) Referencia Ana Rosa Maciel - Casa 76 - 381 Ana

Page 88: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

88

382 Marco .................................................................................................................................................. (78) Referencia Tatiane de Moura Maciel. Cônjuge - ? - Casa 77 - 383 384 Tatiane ? 385 Rian

Page 89: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

89

- Lista de Associados∗∗∗∗ - 01 - Abraão de Pontes Maciel 49 - Luis Carlos de Moura 02 - Adriano Aparecido dos Santos 50 - Lauredir Belemer 03 - Alcides Xaviel da Rocha 51 - Luis Rodrigues dos Santos 04 - Alcina de Moura 52 - Maria Alves Belemer Dias 05 - Alexandra Aparecida Maciel 53 - Maria Aparecida de Lima 06 - Alexandra de Lima 54 - Maria Aparecida dos Santos 07 - Ana Rosa Maciel 55 - Maria do Socorro Sampaio 08 - Ângela Maria Maciel 56 - Maria José dos Santos 09 - Angelina de Pontes Maciel 57 - Maria Lucia Moreira 10- Anísia Pontes Morato 58 - Miguel dos Santos 11 - Antenor Lemes dos Santos 59 - Miguel dos Santos Júnior 12 - Antônio de Paula 60 - Nadir Ursulino de Moura 13 - Antônio Miguel 61 - Nair Rosa dos Santos 14 - Aristide de Paula (?) 62 - Natanael de Souza Santos 15 - Augusta Souza Santos 63 - Nilce de Pontes Pereira 16 - Áurea Alves dos Santos 64 - Nilton Pereira da Cruz 17 - Camilo Pontes Maciel 65 - Oriel Belemer 18 - Carmelina de Lima 66 - Oscar Rodrigues dos Santos 19 - Cícero Adriano de Paula 67 - Osminda Lemes dos Santos 20 - Claresdina Alves dos Santos 68 - Osvaldo Alves Belemer 21 - Claudemir de Pontes Maciel 69 - Paulino Pontes Maciel 22 - Cleide da Rocha Pedroso 70 - Pedrina de Pontes Lima Américo 23 - Cleuza Aparecida dos Santos 71 - Pedro Gonçalves Pedroso 24 - Daniel de Souza 72 - Regina Rodrigues de Paula 25 - Darcir Rodrigues dos Santos 73 - Reinaldo Batista Moreira 26 - Delmiro Pereira da Cruz 74 - Rosana Batista Moreira 27 - Dimas Morato de Lima 75 – Sebastiana Rodrigues de Paula 28 - Doliria Rodrigues de Paula 76 - Sebastião Belemere 29 - Edi Carlos Pedroso 77 - Valdivino de Pontes Reis 30 - Eliza Marques dos Reis 78 - Vanderci Belemer 31 - Elzita dos Santos Moura 79 – Valdomiro de Lima 32 - Esmanilda Aparecida de Lima 80 - Valerino de Lima 33 - Esmanildo da Costa Pedroso 81 - Valfrides de Pontes Maciel 34 - Francisca Xaviel da Rocha Pedroso 82 - Vanildo A. Souza Santos Paulo 35 - Isaíra de Pontes Maciel 83 - Valdinei Dias Belemer 36 - Ivanildo Rodrigues de Jesus da Cruz 84 - Zenaide Batista Moreira 37 - Jaldir de Pontes Maciel 85 - Zeneide Maciel dos Santos 38 - Jandira dos Santos Maciel Reis 86 - Zeneide Xavier da Rocha 39 - Jane Aparecido Souza Santos 87- Zenilda Rodrigues de Paula 40 - João Belemer 88 - Zenillto Rodrigues de Paula 41 - João Miguel 89 - Zenóbio Pereira da Cruz 42 - José Pereira de Freitas 43 - José de Pontes Maciel 44 - Juvenal de Lima 45 - Ivanildo de Pontes Maciel 46 - Leonel de Pontes Pereira 47 - Leversino Barbosa dos Santos Rosa 48 - Luciana Batista Moreira

∗ Informação fornecida por Nilce Pereira - Coordenadora da “Associação dos Remanescentes dos Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca – Municipio de Barra do Turvo/SP”.

Page 90: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

90

Documentos Anexos

Page 91: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

91

Ata de Assembléia (“Ata da Assembléia Geral Extraordinária para ‘Constituição e Fundação” e

‘Aprovação do Estatuto Social’ da Associação dos Remanescentes de Quilombo dos bairros Ribeirão Grande e Terra Seca)

Page 92: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

92

Configuração em Mapas∗ das propostas da área territorial reivindicada através da “Associação dos Remanescentes dos Quilombos dos Bairros Ribeirão Grande e Terra Seca”:

- Primeira e segunda propostas de área reivindicada - Proposta do limite acordada entre o Parque Estadual de Jacupiranga e as Comunidades Quilombolas - Proposta da delimitação das áreas quilombolas da “Reserva de Desenvolvimento Sustentável - RDS” - Situação fundiária atual da Comunidade remanescente de quilombo Ribeirão Grande/Terra Seca

∗ Agradecemos a colaboração do “Instituto Florestal/Secretaria do Meio Ambiente” e da “PPI - Procuradoria do Patrimônio Imobiliário” pela liberação de material técnico (mapa e foto aérea anexados).

Page 93: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

93

Registro de Imóveis

Page 94: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

94

Mapa e Memorial Descritivo

Page 95: Quilombo Ribeirao Grande Terra Seca

95

Resumo da publicação no D.O.