questões metodologicas sobre o deficit habitacional

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Questões Metodologicas Sobre o Deficit Habitacional

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  • cadernos metrpole 17 pp. 241-255 10 sem. 2007

    Questes metodolgicassobre o dficit habitacional:

    o perigo de abordagens corporativas

    Srgio de AzevedoMaria Bernadette Arajo

    ResumoA partir da metodologia para o clculo do dficit habitacional, desenvolvida pela Funda-o Joo Pinheiro por demanda do governo federal em aprimoramento contnuo desde meados dos anos 90 e atualmente referncia nacional na rea os autores fazem uma an-lise crtica ao vis corporativo da metodolo-gia elaborada pelo Sindicado da Construo Civil/SP (Sinduscon/SP) em parceria com a Fundao Getlio Vargas/SP. Essa abordagem superestima o dficit quantitativo ao considerar a totalidade dos domiclios das favelas como dficit. No distingue, tambm, a necessidade de construo de novas moradias da inade-quao de domiclios que, sem implicar cus-tos de reposio total das unidades, exige po-lticas pblicas complementares habitacional, como saneamento, infra-estrutura, urbanizao, regularizao fundiria, etc.Palavras chave: necessidades habitacionais; dficit habitacional; inadequao de domic-lios; poltica habitacional; interfaces de polti-cas; habitao popular; favelas.

    AbstractThe authors, based on the methodology for the calculation of the Housing Deficit issued by Joo Pinheiro Foundation upon the Federal Governments request a methodology that has been under continuous improvement since the middle of the 1990s and is currently a national reference in the sector make a critical analysis of the biased corporate approach to the methodology conceived by the Civil Construction Union of the State of So Paulo, in conjunction with Getlio Vargas Foundation/SP. This biased approach overestimates the quantitative deficit by considering the total number of slum households as a deficit. In addition, it does not distinguish between the need for building new dwellings and what is considered the inadequate dwellings, which, even though they do not entail any additional costs for their total replacement, require public policies complementary to the housing policy, such as those relating to sanitation, infrastructure, urbanization, agrarian regularization, etc.Keywords: housing needs; housing deficit; inadequate dwellings; housing policy; interfaces of policies, dwellings for low-income bracket families; slums.

  • srgio de azevedo e maria bernadette arajo

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    A metodologia utilizada pela Fundao Joo Pinheiro a partir de 1995 portanto, com mais de uma dcada de experin cia e aprimoramento foi um importante marco para a rediscusso do chamado dficit ha-bitacional, por sua abordagem, amplitude e divulgao dos resultados. O seu principal mrito foi rearticular inmeras contribuies realizadas anteriormente de forma inovadora.

    Em trabalho que procura discutir os mo-tivos da padronizao de diversos ndices so-ciais, Simon Schwartzman destaca que os valo-res centrais dos sistemas estatsticos eficazes so a legitimidade e credibilidade. Esta ltima um componente essencial para a aceitao e adoo de padres e procedimentos unifor-mes. Suas bases decorrem de inmeros fato-res, entre os quais se podem destacar:

    c a informao confivel aquela pro-cedente de instituies que no sejam identificadas como a servio de um grupo de interesse ou ideologia especfica (grifo nosso);

    c a informao aceita como confivel aquela fornecida por pessoas ou insti-tuies com um forte perfil profissional e tcnico;

    c nmeros produzidos sempre de acordo com os mesmos procedimentos, ou seja, com estabilidade e consistncia, so mais facilmente aceitos do que aqueles que va-riam, dependentes de diferentes metodo-logias;

    c pesquisas avulsas tendem a ser questio-nadas com mais freqncia que os resulta-dos de prticas estatsticas permanentes e continuadas (Schwartzman, 2004).

    Enquadrando-se nos parmetros acima, a metodologia desenvolvida pela Fundao Joo Pinheiro tornou-se referencia nacional nessa ltima dcada. adotada pelo governo federal, pela maioria dos governos estaduais, por governos municipais, redes acadmicas nacionais, universidades, centros de pesqui-sas e entidades profissionais.

    Aspectos conceituais das necessidades habitacionais: dficit e inadequao de moradias

    A partir do conceito mais amplo de neces-sidades habitacionais, a metodologia desen-volvida pela Fundao Joo Pinheiro traba-lha com dois segmentos distintos: o dficit habitacional e a inadequao de moradias. Como dficit habitacional entende-se a no-o mais imediata e intuitiva de necessidade de construo de novas moradias para a so-luo de problemas sociais e especficos de habitao detectados em certo momento.

    Por outro lado, o conceito de inade-quao de moradias reflete problemas na qualidade de vida dos moradores: no esto relacionados ao dimensionamento do esto-que de habitaes e sim a especificidades in-ternas do mesmo. Seu dimensionamento visa ao delineamento de polticas complementa-res construo de moradias, voltadas para a melhoria dos domiclios existentes. Com a preocupao de identificar as carncias, prin-cipalmente da populao de baixa renda, os nmeros, tanto do dficit quanto da inade-quao dos domiclios, foram explicitados

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  • questes metodolgicas sobre o dficit habitacional: o perigo de abordagens corporativas

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    para diversas faixas de renda familiar. Eles tm como enfoque principal famlias com at trs salrios mnimos de renda, limite superior pa-ra o ingresso em grande nmero de programas habitacionais de carter assistencial.

    O conceito de dficit habitacional uti-lizado est ligado diretamente s deficincias do estoque de moradias. Engloba aquelas sem condies de habitabilidade devido precariedade das construes ou em virtude de desgaste da estrutura fsica. Essas devem ser repostas. Inclui ainda a necessidade de incremento do estoque, devido coabitao familiar ou moradia em imveis construdos com fins no residenciais. O dficit habita-cional pode ser entendido, portanto, como dficit por incremento de estoque e como dficit por reposio do estoque.

    O dficit por reposio do estoque re-fere-se aos domiclios rsticos acrescidos de uma parcela devida depreciao dos do-miclios existentes. Domiclios rsticos so aqueles sem paredes de alvenaria ou madei-ra aparelhada, o que resulta em desconforto e risco de contaminao por doenas, em decorrncia das suas condies de insalubri-dade. Esses devem, portanto, ser repostos. A depreciao de domiclios est relaciona-da ao pressuposto de que h um limite para a vida til de um imvel a partir do qual so exigidos reparos em sua estrutura fsica, vi-sando conservao de sua habitabilidade. Toma-se 50 anos de construo como o li-mite que define a necessidade de reposio do estoque. Aplica-se um percentual sobre o montante de imveis construdos antes desse limite, devido suposio de que parte des-se estoque tenha passado regularmente por

    manuteno e reformas, mantendo assim suas condies de uso.

    O dficit por incremento de estoque contempla os domiclios improvisados e a coabitao familiar. O conceito de domi-clios improvisados engloba todos os locais construdos sem fins residenciais e que ser-vem como moradia, o que indica claramente a carncia de novas unidades domiciliares.

    O componente coabitao familiar compreende a soma das famlias conviventes secundrias que vivem junto a outra famlia em um mesmo domiclio e das que vivem em cmodos exceto os cedidos por emprega-dor. As famlias conviventes secundrias so constitudas por, no mnimo, duas pessoas ligadas por lao de parentesco, dependn-cia domstica ou normas de convivncia, e que residem no mesmo domiclio com outra famlia denominada principal. O responsvel pela famlia principal tambm o respons-vel pelo domiclio. As famlias residentes em cmodos foram includas no dficit habita-cional porque esse tipo de moradia mascara a situao real de coabitao, uma vez que os domiclios so formalmente distintos. Se-gundo a definio do IBGE, os cmodos so domiclios particulares compostos por um ou mais aposentos localizados em casa de cmodo, cortio, cabea-de-porco etc..

    A esses dois componentes, agregou-se o que se denominou nus excessivo com aluguel, que corresponde ao nmero de famlias urbanas, com renda familiar de at trs salrios mnimos, que moram em casa ou apartamento (domiclios urbanos durveis) e que despendem mais de 30% de sua renda com aluguel.1

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    Por outro lado diferente do conceito de dficit habitacional acima analisado as habitaes inadequadas so aquelas que no proporcionam condies desejveis de ha-bitabilidade, o que no implica, contudo, necessidade de construo de novas unida-des. Pelo conceito adotado, so passveis de serem identificadas somente as localizadas em reas urbanas. No so contempladas as reas rurais que apresentam formas diferen-ciadas de adequao no captadas pelos dados utilizados. Tomamos o cuidado de excluir do estoque a ser analisado os domi-clios inseridos em alguma das categorias do dficit habitacional. Ao contrrio deste, os critrios adotados para a inadequao habi-tacional no so mutuamente exclusivos. Os resultados, portanto, no podem ser soma-dos, sob risco de haver mltipla contagem (a mesma moradia pode ser simultaneamente inadequada segundo vrios critrios).

    Como inadequados so classificados os domiclios com carncia de infra-estru-tura, com adensamento excessivo de mora-dores, com problemas de natureza fundiria, em alto grau de depreciao ou sem unidade sanitria domiciliar exclusiva.

    So considerados domiclios carentes de infra-estrutura todos os que no dispem de ao menos um dos seguintes servios bsi-cos: iluminao eltrica, rede geral de abas-tecimento de gua com canalizao interna, rede geral de esgotamento sanitrio ou fossa sptica e coleta de lixo.

    O adensamento excessivo ocorre quan-do o domiclio apresenta um nmero mdio de moradores superior a trs por dormitrio. O nmero de dormitrios corresponde ao

    total de cmodos2 que servem, em carter permanente, de dormitrio para os morado-res do domiclio. Nele incluem-se aqueles que assim so utilizados em funo de no haver acomodao adequada para essa fina-lidade. Para o clculo do indicador foram considerados somente os membros da famlia principal, uma vez que as famlias secundrias foram incorporadas ao dficit habitacional.

    A inadequao fundiria refere-se aos casos em que pelo menos um dos moradores do domiclio tem a propriedade da moradia, mas no possui a propriedade, total ou parcial, do terreno ou a frao ideal de terreno (no ca-so de apartamento) em que ela se localiza.

    A inexistncia de unidade sanitria do-miciliar exclusiva define o domiclio que no dispe de banheiro ou sanitrio de uso ex-clusivo do domiclio.

    Alm desses componentes, deve ser considerada ainda uma parcela de domic-lios em funo da depreciao dos imveis. Essa parcela definida como o complemen-to dos domiclios com mais de 50 anos de construo cuja reposio considerada ne-cessria e, portanto, includos no dficit ha-bitacional. Considera-se que a manuteno de parte dos imveis mais antigos necessita apenas de pequenos cuidados.

    A trajetria recente do dficit e da inadequao habitacional no Brasil

    Para levantamento dos dados foram utili-zados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), do Instituto Brasileiro

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    de Geografia e Estatstica (IBGE), dos anos de 2004 e 2005, e o Censo Demogrfico 2000, atravs do processamento de seus microdados. A PNAD possui periodicidade anual, com representatividade apenas para o Brasil, unidades da Federao e algumas regies metropolitanas.3

    Em relao aos aspectos metodolgi-cos a PNAD no permite o clculo da de-preciao dos imveis. Na realidade, esse um indicador difcil de ser apreendido, no sendo possvel, a partir das bases de infor-maes disponveis, incorpor-lo ao clculo das necessidades habitacionais.4

    De forma esquemtica, a Tabela 1 apre-senta a trajetria do dficit habitacional do Brasil, por regies, ao longo dessa dcada. Apesar de, em nmeros absolutos, o dficit habitacional apresentar um crescimento du-rante o perodo analisado, em termos relati-vos observa-se queda lenta, porm gradual e sistemtica. Representava 16,1% dos do-miclios existentes em 2000, passando para 14,9% em 2005. Essa tendncia se repete mesmo em relao situao do domiclio, de maneira mais acentuada no caso da rea rural. Espacialmente, no entanto, podem ser verificadas diferenas de comportamento, em

    Tabela 1 Dficit habitacional por situao do domiclioBrasil, grandes regies e regies metropolitanas 2000, 2004 e 2005

    Norte urbano rural

    Nordeste urbano rural

    Sudeste urbano rural

    Sul urbano rural

    Centro-Oeste urbano rural

    Brasil urbano rural

    Total das RMs urbano rural

    848.696506.671342.025

    2.851.1971.811.5531.039.644

    2.341.6982.162.187

    179.511

    678.879565.217113.662

    502.175424.22377.952

    7.222.6455.469.8511.752.794

    1.836.2821.785.167

    51.115

    825.351578.521246.830

    2.728.9721.881.155

    847.817

    2.835.4952.657.137

    178.358

    878.182741.295136.887

    536.619482.18454.435

    7.804.6196.340.2921.464.327

    2.243.8472.199.030

    44.817

    850.355614.573235.782

    2.743.1471.844.068

    899.079

    2.898.9282.725.205

    173.723

    873.708755.589118.119

    536.561474.70861.853

    7.902.6996.414.1431.488.556

    2.285.4622.226.730

    58.732

    30,224,844,6

    25,022,232,1

    11,611,710,4

    9,49,58,9

    15,915,419,3

    16,114,623,7

    13,013,012,5

    2000(Censo)

    23,221,727,7

    20,819,524,4

    12,212,410,4

    10,710,910,0

    14,314,910,5

    15,114,518,4

    13,813,99,9

    22,922,025,9

    20,618,925,1

    12,212,49,8

    10,410,88,5

    14,014,411,5

    14,914,318,2

    13,713,712,5

    2004(PNAD)

    2005(PNAD)

    2000(Censo)

    2004(PNAD)

    2005(PNAD)

    Absoluto % dos domiclios

    Especificao

    Fonte: Fundao Joo Pinheiro (FJP), Centro de Estatstica e Informaes (CEI).

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    Tabela 2 Critrios de inadequao dos domiclios urbanosBrasil, grandes regies e regies metropolitanas 2000, 2004 e 2005

    Fonte: Fundao Joo Pinheiro (FJP), Centro de Estatstica e Informaes (CEI).

    Norte 2000 2005

    Nordeste 2000 2005

    Sudeste 2000 2005

    Sul 2000 2005

    Centro-Oeste 2000 2005

    Brasil 2000 2005

    Total das RMs 2000 2005

    56.34661.111

    432.270341.293

    650.406946.660

    325.923333.682

    43.79956.485

    1.508.7441.739.231

    760.2451.021.976

    2,82,2

    5,33,5

    3,54,3

    5,54,8

    1,61,7

    4,03,9

    5,66,3

    184.822212.688

    385.916406.585

    1.133.647975.858

    198.062157.560

    122.492133.094

    2.024.9391.885.785

    985.852864.541

    9,17,5

    4,74,1

    6,14,4

    3,32,3

    4,54,0

    5,44,2

    7,25,3

    8,07,3

    8,84,9

    1,70,8

    3,01,7

    3,41,4

    3,92,3

    2,61,4

    absoluto

    Inadequao fundiriaEspecificao

    162.865207.159

    714.738480.867

    315.379170.886

    179.154120.668

    94.56547.907

    1.466.7011.027.487

    359.738234.816

    1.165.6221.585.240

    4.010.0734.190.284

    2.155.2712.369.942

    1.469.6481.449.478

    1.460.4621.724.729

    10.261.07611.319.673

    2.525.4432.634.205

    57,156,0

    49,142,6

    11,710,7

    24,820,7

    53,152,0

    27,525,1

    18,416,1

    absoluto absoluto absoluto% % % %

    Adensamento excessivo

    Domicliosem banheiro

    Carncia deinfra-estrutura

    funo da localizao regional. As regies Norte e Nordeste apresentam as maiores quedas relativas, tanto no dficit urbano quanto no rural. Na regio Nordeste, h di-minuio inclusive dos nmeros absolutos, entre 2000 e 2005, em funo basicamente da rea rural. Essa, apesar da queda, continua a ser ainda responsvel por grande parcela do dficit habitacional da regio. Na regio Sudeste, ao contrrio, as carncias habita-cionais se concentram primordialmente nas reas urbanas, e tendem a apresentar ligeira tendncia de crescimento relativo no pero-do analisado. Comportamento que pode tambm ser evidenciado na regio Sul.

    Quando analisado o dficit habita-cional por faixas de renda percebe-se que a esmagadora maioria do mesmo (90,3% em 2005) se concentra nas famlias que possuem renda mdia mensal de at trs salrios mni-mos. Como se trata em sua maioria de clien-tela de baixos rendimentos familiares que ne-cessita de polticas diferenciadas, o papel do Estado passa a ser extremamente estratgico, especialmente em busca de polticas coope-rativas entrelaadas que possam envolver os trs nveis de governo, como ocorre com o Sistema nico de Sade, SUS.

    No que concerne s inadequaes habitacionais, apresentadas na Tabela 2,

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    percebe-se concomitantemente polticas voltadas para enfrentamento do dficit stric-to sensu a grande importncia de outras polticas urbanas recorrentes e complemen-tares destinadas ao enfrentamento de ques-tes como legalizao fundiria, reforma e ampliao de unidades habitacionais, apoio a autoconstruo e, especialmente, investi-mento em infra-estrutura urbana .

    Cabe ressaltar que so analisados ape-nas os domiclios urbanos que no foram classificados como em situao de dficit habitacional. Pelos nmeros apresentados fica evidente a relevncia dos problemas relacionados a deficincias dos servios de infra-estrutura. Esto presentes em 27,5% dos domiclios urbanos no pas, em 2000, e em 25,1% deles, em 2005. Observa-se situao mais crtica nas regies Norte, Centro-Oeste e Nordeste, apesar de em todas elas, e princi-palmente na Nordeste, ocorrer melhora nos percentuais entre os dois anos estudados.

    Devido s limitaes nas fontes de dados disponveis e s dificuldades na cap-tao de alguns dos fenmenos considera-dos, sabe-se que os nmeros apresentados, em alguns casos, podem subestimar a real dimenso do problema. Quando se trata das famlias conviventes, em contrapartida, a impossibilidade de uma melhor qualifica-o das mesmas superestima o clculo do dficit habitacional. No possvel identi-ficar o real percentual daquelas que tm in-teno de constituir outro domiclio. Esse um dos pontos que merece ateno, dentro do objetivo de aprimoramento constante da metodologia utilizada, sendo objeto de esforos na tentativa de se delinear instru-

    mentos que permitam caracterizao mais detalhada da coabitao familiar.

    Uma anlise crtica da metodologia utilizada pela FGV/GVConsult & Sinduscon/SP no clculo do dficit habitacional brasileiro

    Dois documentos que se complementam ainda que no se refiram diretamente me-todologia utilizada pela FJP merecem nossa ateno, por chegarem a resultados recentes, opostos aos nossos, utilizando algumas das variveis que tambm fazem parte do nosso modelo. Alm disso, por terem a chancela acadmica da Fundao Getulio Vargas, ins-tituio de reconhecido prestigio nacional, no poderamos deixar de nos posicionar-mos a respeito desses trabalhos.

    O primeiro um artigo de Fernando Garcia e Ana Maria Castelo publicado na revista Conjuntura da Construo, de maro de 2006, com o sugestivo ttulo O Dficit Habitacional Cresce apesar da Ampliao do Crdito (Garcia e Castelo, 2006). O outro documento no qual se basearam os autores para elaborao do citado artigo uma publicao regular do Sindicato da Construo Civil do Estado de So Paulo em parceria com a Fundao Getulio Vargas de So Paulo. O ltimo nmero, lanado em fevereiro de 2006, chama-se Dficit Habi-tacional Brasileiro e 26 Sondagem Nacional da Indstria da Construo Civil (FGV/GVConsult & Sinduscon/SP, 2006).

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    O artigo em pauta inicia dizendo que

    [...]a PNAD 2004, pela primeira vez com cobertura nacional, revela uma situao habitacional pior do que se estimava. O dficit habitacional de 2004 somou 7,9 milhes de moradias e indicou uma preocupante reverso de tendncia: foi a primeira vez em 12 anos consecutivos que o dficit habita-cional relativo cresceu. (Garcia e Cas-telo, 2006, p. 8)

    Em outras palavras, entre 1993 e 2003 o dficit relativo teria cado, passando de 16,9% para 15%. Em 2004 teria ocorrido uma preocupante reverso dessa tendncia his-trica de queda com o crescimento de 0,2 ponto percentual. Nesse sentido, teramos o primeiro aumento de dficit relativo depois de 12 anos consecutivos (FGV/GVConsult & Sinduscon/SP, 2006).

    Para o entendimento desses nmeros necessria uma anlise da metodologia utiliza-da pela Fundao Getlio Vargas (FGV)/Sin-dicato da Indstria da Construo Civil (Sin-duscon). O conceito de dficit habitacional compreende duas dimenses do problema: a coabitao e a inadequao estrutural das moradias. Ambas buscam mensurar as neces-sidades de construes de novas moradias. De modo diverso, o modelo da FJP trabalha tambm o conceito de inadequao de do-miclios. Ele parte do pressuposto que, em muitos casos, a melhor forma de enfrentar a questo habitacional implementar polticas complementares e recorrentes s polticas habitacionais stricto sensu, e no, obrigatoria-mente, construir mais unidades habitacionais.

    Na nossa avaliao, a limitao da me-todologia FGV/Sinduscon, comparada com a da FJP, no se deve a questes de ordem tcnica ou estreiteza acadmica. Trata-se de um vis profissional voltado para maximizar os interesses do Sinduscon. Mais do que priorizar, ele reduz a questo da habitao popular exclusivamente necessidade de construo de novas residncias. Obviamen-te, essa abordagem restrita do habitat um fator de forte dificuldade de legitimidade dessa metodologia fora das hostes empresa-riais da construo civil.

    A dimenso coabitao, numericamen-te a mesma usada pela metodologia da FJP, possui aqui significado distinto. utilizada como uma medida indireta de adensamento domiciliar e se refere ao nmero de casas em que vivem mais de uma famlia. As estimativas da coabitao so feitas subtraindo-se o n-mero de domiclios particulares permanentes do nmero de famlias em cada regio.

    A inadequao estrutural inicialmen-te definida, genericamente, como composta pelos domiclios improvisados, pelas mora-dias rsticas e pelos cortios. Posteriormente, como se ver, inclui tambm as unidades ha-bitacionais que formam as favelas.

    Na metodologia em foco, os domiclios improvisados, um dos componentes da ina-dequao estrutural, possuem a definio clssica: compreendem prdios em constru-o, vages de trem, carroas, tendas, bar-racas, trailers, grutas e aqueles situados sob pontes ou viadutos. O cortio outro com-ponente da inadequao estrutural clas-sificado como domiclio particular compos-to por um ou mais aposentos localizados em

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    casa de cmodos, cortio, cabea-de-por-co, ou seja, o mesmo utilizado pela FJP para definir cmodo. As fortes diferenas entre as duas metodologias mesmo em relao ao clculo de dficit habitacional stricto sensu se referem forma de definir o chamado domiclio rstico.

    Para determinar o carter de rusticidade so observadas a localizao das moradias (se elas esto em reas adequadas ou em favela) e a adequao do material das pa-redes e telhado. Em termos construtivos, considerada habitao rstica aquela cujas paredes so de taipa no revestida, material aproveitado, palha ou material semelhante, ou cuja cobertura de madeira, palha, mate-rial aproveitado ou outro material.

    Como se pode observar, o carter de rusticidade possui duas dimenses: 1) se-gundo a localizao das moradias, ou seja, as unidades habitacionais das favelas; 2) se-gundo a adequao do material das paredes e dos telhados das unidades habitacionais localizadas nas demais reas da cidade.

    Isso fica mais claro quando Garcia e Castelo concluem que,

    [...] dessa forma, a evoluo da inade-quao reflete a construo de mo-radias com material inapropriado, a deteriorao das moradias preexisten-tes, cuja reparao feita com material inadequado, e a expanso das favelas e cortios no pas. (2006, p. 8, grifo nosso)

    Quando iniciam a indicao do dficit habitacional referente inadequao es-trutural, a explicitao das favelas em geral

    como um dos componentes dessa dimenso torna-se cristalina. Eles afirmam textualmente:

    [...] os domiclios inadequados, onde esto includas as favelas, os cortios e as moradias rsticas, somaram 3,7 mi-lhes. (2006, p. 9, grifo nosso)

    Essa abordagem metodolgica est longe de ser uma entre vrias alternativas possveis para elaborao de ndices. Esse pressuposto de considerar os domiclios das favelas como fazendo parte da chamada inadequao estrutural envolve, de forma implcita, posies difceis de serem defen-didas de forma aberta em um contexto mais amplo, no qual participem, por exemplo, diferentes atores sociais interessados no problema habitacional. Podem ser citados, nesse caso, rgos pblicos vocacionados para questes habitacionais nos trs nveis de governo e grupos da sociedade organiza-da voltados para o habitat (movimentos dos sem-casa, pastorais da habitao, federa-es de moradores de vilas e favelas, ONGs especializadas em polticas urbanas, conse-lhos municipais de habitao, conselhos das cidades), entre muitos outros atores.

    Talvez isso explique o porqu da difi-culdade dos autores do artigo de explicita-rem de forma direta e imediata sua postura ante as favelas e de apresentarem suas posi-es de forma incremental e a conta gotas.

    Isso significa, in limine, defender indi-retamente polticas direcionadas para er-radicao das favelas, postura superada em todos os pases da Amrica Latina, incluindo o Brasil, h mais de duas dcadas. Significa no apoiar programas de autoconstruo e

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    de urbanizao de favelas. Alis, no Dfi-cit Habitacional Brasileiro e 26 Sondagem Nacional da Indstria da Construo Civil afirmado literalmente que o aumento do financiamento do governo federal para a autoconstruo de moradias agrava o dficit habitacional (FGV/GVConsult & Sindus-con/SP, 2006).

    A partir dos dados levantados pela FJP, por meio da PNAD 2005, analisados, em parte, na seo anterior pode-se estimar em cerca de 1,9 milho de domiclios nos chamados aglomerados subnormais. Des-ses, apenas 346 mil (17,7%) podem ser defi-nidos com dficit pela metodologia da FJP. Em torno de 793 mil (40,5%) apresentam um ou mais tipos de inadequaes. Os dados disponveis mostram que aproximadamente 41,8% das unidades familiares dos agrupa-mentos subnormais (favelas), ou seja, cerca de 817 mil domiclios no apresentam tipo algum de inadequao (construtiva, fundi-ria, adensamento, etc).5

    Como, nos ltimos anos, de forma constante, a populao dos agrupamentos subnormais vem crescendo a taxas bem su-periores s dos demais habitantes das metr-poles e grandes cidades mesmo que haja melhorias significativas nas favelas (urbani-zao, infra-estrutura, reformas e ampliao de residncias etc.) , a metodologia forte-mente enviesada utilizada pela FGV/Sindus-con pode mostrar um pequeno percentual de incremento do dficit relativo. No por acaso que os nmeros globais do dficit no Brasil, apresentados anteriormente, quando se utiliza a metodologia da FJP, mostram um cenrio diferente, ou seja, mais positivo.

    Consideraes finais: novas propostas de aprimoramento metodolgico

    Ao longo dos ltimos anos, a metodologia da FJP foi alvo de muitas crticas e sugestes, que foram avaliadas levando em conta tanto a sua viabilidade tcnica em funo das fontes de dados disponveis quanto a sua real contribuio para a obteno de resul-tados mais fidedignos. Foram tambm incor-porados ajustes decorrentes de observaes da prpria equipe tcnica do projeto.

    Na fase atual, a principal proposta de ajuste do modelo refere-se ao papel das famlias conviventes secundrias. No caso brasileiro, h uma expectativa extremamente difundida entre todos os setores sociais na busca da habitao unifamiliar, refletida no ditado popular quem casa quer casa. Ape-sar disso, houve questionamentos legtimos sobre a incluso da totalidade das famlias conviventes secundrias como uma parcela do dficit habitacional. At ento no disp-nhamos de dados empricos que pudessem balizar os nossos pressupostos tericos.

    Os dados do ltimo censo demogrfi-co permitiram uma caracterizao das fam-lias conviventes, o que possibilitou a primei-ra tomada de conhecimento do perfil dessas famlias. Em funo, por exemplo, do sexo, da idade e do status marital de seus chefes, ficaram claras enormes diferenas entre elas. Isso certamente tem influncia na incluso de um ou outro grupo na categoria de dficit habitacional.

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    Por outro lado, no se pode esquecer que o modelo adotado tambm subestima o nmero das famlias conviventes secundrias, j que no cataloga o nmero de famlias que vivem com um(a) progenitor(a) de um dos cnjuges que, de fato, responde por parte considervel da despesa familiar. Segundo o critrio do IBGE, s caracterizada como convivente a famlia formada por dois ou mais membros.

    Mais recentemente, no incio de 2006, uma parceria entre o IBGE e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribei-ro (UENF) no mbito de um tradicional e prestigiado curso de formao de pesquisa-dores da primeira instituio possibilitou a realizao de um survey com amostra ex-pandida sobre as necessidades habitacionais em Campos dos Goytacazes, cidade com populao estimada de 400 mil habitantes, a partir da metodologia utilizada pela FJP. Essa pesquisa de campo deu nfase especial s famlias conviventes secundrias, para que fosse possvel testar as hipteses do nosso trabalho pela primeira vez em uma cidade de porte mdio.

    De forma sucinta, pode-se afirmar que 36% das famlias conviventes secundrias no podem ser consideradas dficit habitacional, uma vez que no desejam instituir unidade residencial exclusiva. Observaes comple-mentares obtidas por essa pesquisa revelam questes interessantes:

    h enormes diferenas entre o perfil

    socioeconmico das famlias que desejam constituir um domicilio exclusivo em com-parao com as que preferem continuar coabitando com outras;

    as famlias conviventes secundrias

    que afirmam desejar constituir uma unidade habitacional exclusiva se caracterizam ma-joritariamente por apresentar nvel de es-colaridade elementar e renda mdia mensal abaixo de cinco salrios mnimos (83%);

    em contrapartida, as famlias conviven-tes secundrias que no querem se mudar possuem relativamente maior grau de esco-laridade e, na maioria, renda mdia mensal acima de cinco salrios mnimos (77%). Ressalte-se que o dficit habitacional nes-sa rubrica basicamente formado por uma clientela de baixa renda;

    interessante frisar, ainda, que entre o

    percentual de 64% das famlias conviventes que pretendem constituir um novo domic-lio, 48%, mais de 2/3, tm alta expectativa de que isso se realize. Em contraposio, 16%, embora desejem, tm baixa expectati-va de que isso se realize em curto prazo. Em suma, so essas ltimas que mais necessitam de novas alternativas habitacionais e de ateno preferencial do poder pblico (en-tre outras coisas, mais subsdios). As demais com todas as dificuldades acreditam poder resolver seu problema habitacional dentro dos marcos da atual conjuntura.

    A pesquisa sucintamente analisada apresenta uma grande importncia para o nosso tema, seja por seu pioneirismo, pela comprovao da necessidade de recalibrar o modelo, por sua representatividade estats-tica ou pelo tamanho da cidade, entre outras contribuies. Entretanto, um pas continen-tal e extremamente complexo e diversificado social e territorialmente como o Brasil ne-cessita de informaes de mbito nacional

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    sobre as famlias conviventes secundrias. Nesse sentido, fundamental que, especial-mente, nas prximas PNADs, seja incorpora-da pelo menos uma questo especfica sobre o assunto.

    Outro tema que merece acerto fino, em relao inadequao dos domiclios, diz respeito s unidades habitacionais que, mesmo apresentando paredes de alvenaria ou de madeira aparelhada, tm cobertura de materiais inadequados, como zinco, madeira reaproveitada (no aparelhada) e palha.6 Esse poderia ser um novo critrio de definio de domiclio inadequado. Considera-se que, para eles, vivel a troca apenas do material de cobertura, sem implicar a construo de novo imvel. Nesse caso, segundo dados da PNAD 2004, mais de 690 mil unidades se-riam consideradas necessitando de ateno.

    Nessa mesma linha de ajustes finos, me-rece discusso o fato de o adensamento ex-cessivo ter uma parcela includa como dficit habitacional, ao invs de ser considerado so-mente inadequao habitacional, como vem sendo tratado nos trabalhos at aqui desen-volvidos. Nesse sentido, estamos propondo para discusso a incluso como dficit habi-tacional o percentual de unidades familiares alugadas (casa e apartamentos) que apresen-tem mais de trs pessoas por dormitrios.

    Segundo a metodologia utilizada, o componente adensamento excessivo de mo-radores, considerado apenas no segmento urbano durvel, medido por intermdio da densidade de moradores por dormitrio. Ela

    expressa melhor a qualidade de vida nos do-miclios do que o nmero de moradores por cmodo. Arbitrou-se como critrio consi-derar excessivamente adensado o domiclio com mais de trs pessoas por dormitrio. Esse limite continua vlido em princpio pa-ra o clculo atualizado das inadequaes, e pode ser revisto em funo de anlises sobre a evoluo do tamanho mdio da famlia nos ltimos dez anos.

    Por fim, outra dimenso que teorica-mente se enquadra na condio de dficit habitacional so as unidades habitacionais construdas em reas de risco, mesmo quan-do o processo construtivo inclui alvenaria ou madeira aparelhada e inexista inadequa-o habitacional. Seja devido inclinao do terreno, possibilidade de desmoro-namento de encostas ou a enchentes, entre outros, os moradores correm perigo, e cer-tamente isso exige a sua remoo para um novo imvel.

    A dificuldade de incluso dessa varivel similar ao caso da depreciao de imveis, ou seja, no h, at o momento, informaes disponveis para que possam ser incorpora-das ao clculo do dficit. Uma possibilidade orientar os pesquisadores dos futuros cen-sos para registrarem os domiclios que, por diferentes motivos, se enquadrem nas reas de risco. Ressalte-se que, mesmo nas chama-das vilas ou favelas, o percentual de unidades em reas de risco tende, em mdia, a repre-sentar um percentual relativamente pequeno desses agrupamentos subnormais.

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    Notas

    * Artigo elaborado a partir da Pesquisa Dficit Habitacional do Brasil 2005, realizada pela Fundao Joo Pinheiro, FJP, em parceria com o Ministrio das Cidades e o PNUD/Habitar-Brasil/BID (FJP, 2006).

    (1) Na metodologia original, esse componente era considerado como um dos critrios da inade-quao de domiclios e no como dficit habitacional.

    (2) Cmodos so todos os compartimentos integrantes do domiclio separados por paredes, in-clusive banheiros e cozinha, e os existentes na parte externa do prdio, desde que constituam parte integrante do domiclio. No so considerados os corredores, alpendres, varandas aber-tas e outros compartimentos utilizados para fins no-residenciais, como garagens, depsitos, etc.

    (3) Apenas so estimados o dficit e a inadequao habitacional para nove regies metropo-litanas, historicamente pesquisadas pela PNAD: Belm, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

    (4) Em relao depreciao de imveis, a FJP, em estudo anterior, relativo s estimativas das necessidades habitacionais de 2000 (dficit e inadequao habitacional), realizou exerccio com base em informaes pontuais para o municpio de Belo Horizonte, que foi extrapolado para o restante das grandes metrpoles brasileiras, chegando-se a nmeros conservadores pa-ra as unidades da Federao. Em funo da grande complexidade dos clculos necessrios e da fragilidade factual da hiptese adotada, houve consenso em no estimar esse componente at conseguirmos dados mais confiveis.

    (5) No que diz respeito inadequao de moradias, esses nmeros podem estar superestimados, uma vez que a maioria das unidades habitacionais nas favelas apresentam inadequao fundiria, qui esse resultado possa ser decorrente de m interpretao dos entrevistado e pesquisadores do censo demogrfico

    (6) A questo da cobertura de palha ou sap pode ser considerada culturalmente adequada em contextos regionais especficos como s regies indgenas e algumas reas no urbanas da regio Norte. Acreditamos, entretanto, que sejam casos bem especficos.

    Srgio de AzevedoProfessor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF (Rio de Janeiro, Brasil). Membro do Instituto do Milnio/Observatrio das Metrpoles. Consultor ad hoc da Fundao Joo Pi-nheiro e do Ministrio das [email protected]

    Maria Bernadette ArajoDemgrafa, coordenadora do Centro de Estatstica e Informaes da Fundao Joo Pinheiro (Rio de Ja-neiro, Brasil)[email protected]

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