questões dissertativas

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- Carlos, empresá rio na Co marc a de Santo A ntônio da Platina/PR, pensando equivocadamente que Rosário, peão d e bo iadeiro , era o autor de um d elito de furto  que recém havia praticado contra sua empresa, tenta prendê-lo em flagrante. Apesar dos esforços de Rosário em explicar que não era a pessoa que estava sendo procurada, Carlos, ainda assim, obriga-o a entrar em seu veículo afim de conduzi-lo a uma delegacia de polícia para lavradura do flagrante. Diante disso, Rosário agride Carlos, causando-lhe lesões corporais leves, e foge. Uma vez provocadas tais circunstâncias é correto afirmar que foram tipificados quais crimes ou delitos, previstos no CP?  R: Por agredir Carlos, mediante situação provocada pelo mesmo, Rosário atuou em legítima defesa e conseqüentemente, Carlos por achar que estava tentando prender o autor do crime de furto cometido em sua empresa, estava em putativo exercício regular do direito.  II - Dilminha,  testemunha ouvida em Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, imputa a Lula Lelé, deputado federal, o fato de ter ilegalmente recebido valores de empresas a fim de deixar de praticar ato de ofício. Irresignado com a ofensa a sua honra, Lula Lelé adota as providências cabíveis para que Dilminha seja processada criminalmente pela prática de calúni. Durante o processo, apesar de ter sido demonstrado que os fatos imputados por Dilminha eram falsos, fortes elementos probatórios indicam que ele, naquela ocasião, tinha motivos suficientes para acreditar que fossem verdadeiros. Esse caso constitui hipótese de? R: Erro de tipo incriminador , segundo alguns doutrinadores o caminho para caracterizar uma ação como sendo-a erro de tipo incriminador possui várias controvérsias. III Diz-se imputável o agente que tem capacidade de ser-lhe juridicamente atribuída a prática de fato punível. Assim, ausente a imputabilidade, não se aplica pena ao autor de fato típico e antijurídico, podendo sofrer medida de segurança. No caso concreto, Cristiano é preso totalmente embriagado após a prática de crime previsto na legislação penal, e seu defensor público sustenta a tese da inimputabilidade para isentá-lo de pena. Esta tese é sustentável perante o sistema penal brasileiro? R.: Não. No tocante à embriguez, o Código Penal dispõe que não excluirá a imputabilidade quando tenha decorrido de ato voluntário do agente, ou tenha decorrido de sua imprudência ou negligência no ato de ingerir em demasia bebida alcoólica. IV - Daniel, perante a autoridade policial competente, assume a responsabilidade por disparo de arma de fogo em via pública realizado por sua namorada, com a finalidade de protegê-la. Daniel praticou, em tese:  R.: Nenhum crime, pois sua conduta é atípica. V - Anaxágoras, com a intenção de seqüestrar o filho de seu patrão para obter vantagem monetária como preço do resgate, compra cordas, furta um carro e arruma o local que serviria como cativeiro. Dois dias antes de efetivar seu intento, seus planos são descobertos. Diante destes fatos, Anaxágoras.  R.: Responderá apenas por furto consumado. 2.0. CINCO QUESTÕES PRÁTICAS OBJETIVAS:  VI - Antônio, com intuito de passar trote, telefonou para a Delegacia de Polícia de sua cidade, notificando a ocorrência de um acidente de veículo na rodovia, que sabia

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- Carlos, empresrio na Comarca de Santo Antnio da Platina/PR, pensando equivocadamente que Rosrio, peo de boiadeiro, era o autor de um delito de furto que recm havia praticado contra sua empresa, tenta prend-lo em flagrante. Apesar dos esforos de Rosrio em explicar que no era a pessoa que estava sendo procurada, Carlos, ainda assim, obriga-o a entrar em seu veculo afim de conduzi-lo a uma delegacia de polcia para lavradura do flagrante. Diante disso, Rosrio agride Carlos, causando-lhe leses corporais leves, e foge. Uma vez provocadas tais circunstncias correto afirmar que foram tipificados quais crimes ou delitos, previstos no CP?R: Por agredir Carlos, mediante situao provocada pelo mesmo, Rosrio atuou em legtima defesa e conseqentemente, Carlos por achar que estava tentando prender o autor do crime de furto cometido em sua empresa, estava em putativo exerccio regular do direito.II - Dilminha, testemunha ouvida em Comisso Parlamentar de Inqurito CPI, imputa a Lula Lel, deputado federal, o fato de ter ilegalmente recebido valores de empresas a fim de deixar de praticar ato de ofcio. Irresignado com a ofensa a sua honra, Lula Lel adota as providncias cabveis para que Dilminha seja processada criminalmente pela prtica de calni. Durante o processo, apesar de ter sido demonstrado que os fatos imputados por Dilminha eram falsos, fortes elementos probatrios indicam que ele, naquela ocasio, tinha motivos suficientes para acreditar que fossem verdadeiros. Esse caso constitui hiptese de?

R: Erro de tipo incriminador, segundo alguns doutrinadores o caminho para caracterizar uma ao como sendo-a erro de tipo incriminador possui vrias controvrsias. III - Diz-se imputvel o agente que tem capacidade de ser-lhe juridicamente atribuda a prtica de fato punvel. Assim, ausente a imputabilidade, no se aplica pena ao autor de fato tpico e antijurdico, podendo sofrer medida de segurana. No caso concreto, Cristiano preso totalmente embriagado aps a prtica de crime previsto na legislao penal, e seu defensor pblico sustenta a tese da inimputabilidade para isent-lo de pena. Esta tese sustentvel perante o sistema penal brasileiro?R.: No. No tocante embriguez, o Cdigo Penal dispe que no excluir a imputabilidade quando tenha decorrido de ato voluntrio do agente, ou tenha decorrido de sua imprudncia ou negligncia no ato de ingerir em demasia bebida alcolica.

IV - Daniel, perante a autoridade policial competente, assume a responsabilidade por disparo de arma de fogo em via pblica realizado por sua namorada, com a finalidade de proteg-la. Daniel praticou, em tese:

R.: Nenhum crime, pois sua conduta atpica.

V - Anaxgoras, com a inteno de seqestrar o filho de seu patro para obter vantagem monetria como preo do resgate, compra cordas, furta um carro e arruma o local que serviria como cativeiro. Dois dias antes de efetivar seu intento, seus planos so descobertos. Diante destes fatos, Anaxgoras.R.: Responder apenas por furto consumado.

2.0. CINCO QUESTES PRTICAS OBJETIVAS:VI - Antnio, com intuito de passar trote, telefonou para a Delegacia de Polcia de sua cidade, notificando a ocorrncia de um acidente de veculo na rodovia, que sabia inexistente. Identificado, posteriormente, foi indiciado por denunciao caluniosa. Pode-se afirmar que:a) a autoridade policial tipificou corretamente o delito praticado por Antnio .b) o delito no foi tipificado corretamente, pois o crime cometido por Antnio foi o de calnia.c) a autoridade no tipificou corretamente o crime, pois Antnio praticou o delito de comunicao falsa de crime.d) Antnio somente teria praticado crime se tivesse comunicado a ocorrncia por escrito ou verbalmente.VII - Nos Estados Unidos da Amrica, um nmero indeterminado de pessoas est recebendo, por via postal, envelopes contendo a bactria "Antraz", altamente nociva sade, que pode, em certos casos, provocar a morte. A legislao brasileira tipifica a conduta de quem propaga germes patognicos em determinado lugar, causando doena ou morte a vrias pessoas, como: 1- tentativa de homicdio qualificado pela dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do(s) ofendido (s). 2 - tentativa de genocdio ou genocdio consumado, dependendo do resultado. 3 - epidemia. 4 - tentativa de leses corporais de natureza grave, gravssima ou seguida de morte, dependendo do resultado.VIII - Walter, 20 anos, comete crime contra a honra do Presidente da Repblica, sendo apenado severamente por isto. Contudo, na anlise da execuo da pena, o Defensor Pblico nota que ocorreu a prescrio da pretenso punitiva de maneira retroativa. Assim, correto aduzir que:

1 - so reduzidos de metade os prazos de prescrio quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de vinte e um anos, ou, na data da sentena, maior de setenta anos. 2 - por exceo, no so reduzidos os prazos prescricionais nos crimes contra o Presidente da Repblica. 3 - a reduo do prazo prescricional afastada se Walter for emancipado civilmente poca dos fatos. 4 - so reduzidos de metade os prazos prescricionais quando o sujeito ativo menor de vinte e um anos ou maior de setenta anos poca da prolao da sentena.IX - Joo da Silva faz uso de seu revlver legalmente registrado, disparando duas vezes em avenida com grande movimento de pessoas e automveis. Neste caso, responde:a) por crime cuja conduta disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela.b) exclusivamente pela contraveno de disparo de arma de fogo (art. 28, LCP), uma vez que a contraveno de disparo de arma de fogo (art. 21, LCP) atpica.c) pelo crime tipificado no artigo 132 do Cdigo Penal (perigo para a vida ou a sade de outrem).d) por tentativa de leses corporais culposas.X - Maria de Lima, ao sair de um bar, onde trabalhava como garonete, foi abordada em um lugar ermo e constrangida a manter relaes sexuais com Antonio de Souza e Ermenegildo Flores. Os acusados foram devidamente denunciados, porm, no curso da ao penal Maria de Lima casou-se civilmente com Antonio de Souza. Neste caso:a) o juiz dever declarar extinta a punibilidade de Antonio de Souza e a ao prosseguir somente em relao a Ermenegildo.b) no ocorrer a extino da punibilidade por tratar-se de crime contra os costumes.c) o juiz dever declarar extinta a punibilidade de ambos os acusados.d) o casamento de Maria com Antonio no causa extintiva de punibilidade.

3.0. CINCO QUESTES PRTICAS OBJETIVAS:XI - A reparao de danos no crime de estelionato considerado causa de extino de punibilidade ou causa de diminuio de pena? O Superior Tribunal de Justia decidiu, este ms (HC 61.928-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/9/2007), que a reparao do dano no crime de estelionato no causa de extino da punibilidade, mas apenas uma causa de diminuio de pena, tal como descrito no art. 16 do Cdigo Penal (arrependimento posterior). At a, nenhuma novidade. Trata-se de simples aplicao da lei, que j bem razovel.Vejamos: sob uma perspectiva utilitarista, o Direito Penal visa a proteger os bens jurdicos de leses ou ameaas de leses. Quanto mais preservados esses bens estiverem, mais prximo de seu ideal estar o Direito Penal. por isso que se prev a desistncia voluntria e o arrependimento eficaz (CP, art. 15); e o arrependimento posterior (art. 16).Nesse ltimo caso, reparado o dano ou restituda a coisa, antes do recebimento da denncia ou da queixa, a pena ser reduzida de um a dois teros. O objetivo de poltica criminal ntido: d-se um estmulo ao criminoso para que pague vtima os prejuzos causados. Por isso, sua pena reduzida. A punibilidade do crime no extinta porque, assim, no haveria incentivo para que algum deixasse de cometer o crime. Nesse sentido, se algum furta um objeto e deixa de ser condenado porque o devolveu, seu risco zero, e a lei no ter efeito dissuasrio nenhum sobre os potenciais criminosos. sempre preciso que eles experimentem um prejuzo maior do que o lucro que obteriam com o crime.O que causa espanto nessa deciso a tentativa da defesa de adotar, por analogia, a causa de excluso de punibilidade dos crimes tributrios. De acordo com o art. 9 da Lei 10.684/2003, o pagamento do tributo causa de extino da punibilidade. Ressaltamos que esse pagamento pode ser feito a qualquer tempo, mesmo depois de recebida a denncia.Isso significa que a sonegao de tributos tornou-se uma atividade ilcita que, em termos penais, tem risco zero. Caso o sonegador seja denunciado por crime tributrio, basta pagar o tributo para se livrar da pena. Sendo o risco zero, o efeito intimidatrio da norma tambm zero. Algum pode sonegar tributos indefinidamente sem maiores receios, pois, na improvvel hiptese de ser denunciado, basta pagar a quantia devida. Salientamos: no h nenhum prejuzo na seara penal que decorra dessa atividade ilcita.Tal causa de extino da punibilidade to bizarra que consegue ferir, ao mesmo tempo, vrios princpios do Direito Penal, como a moralidade, a eficincia e a vedao da priso civil por dvidas. Nesse ltimo ponto, a desvirtuao do carter do Direito Penal bastante ntida: o processo penal tornou-se um mero sucedneo da ao de cobrana, em clara violao Constituio.O problema mais srio refere-se ao princpio da isonomia: enquanto a sonegao fiscal que um crime contra o patrimnio pblico pode ter sua punibilidade extinta com o simples pagamento, crimes contra o patrimnio particular, como o furto e o estelionato, no tm o mesmo privilgio. Fica difcil imaginar que a leso ao patrimnio particular deva ser tratada de forma mais rgida que a leso ao patrimnio pblico, pela bvia relevncia deste.Assim, o legislador conseguiu dividir nitidamente o Direito Penal de acordo com sua clientela: os sonegadores, pertencentes basicamente classe mdia e alta, so tratados de maneira diversa dos "ladres em geral", que devem sempre responder por seus atos. A realidade do sistema penal brasileiro sempre foi assim; a diferena que, agora, a lei a institucionalizou.A deciso do STJ fere a lgica formal ao no aplicar a analogia a um caso em que a analogia seria perfeitamente admissvel. Porm, obedece ao princpio da moralidade ao no estender uma norma espria a outros casos. Pena, que, no Brasil, exigir-se um comportamento de acordo com a moral e a tica muito mais fcil quando se trata das classes mais desprovidas de poder poltico ou econmico.Alexandre Magno Fernandes Moreira Aguiar - procurador do Banco Central do Brasil em Braslia (DF), especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Estcio de S, professor de Direito Penal e Processual Penal na Universidade Paulista (Unip) e nos cursos preparatrios Objetivo e Pr-CursosXII - Existe a possibilidade de Leis Ordinrias criadas depois da elaborao e vig~encia do Cdigo Penal, influenciarem nas penas e multas dos crimes contra o patrimnio?Sim, um exemplo clssico de uma lei criada recentemente e que possui influncia na impunibilidade dos crimes contra violncia feminia a Lei Maria da Penha.Em seu Ttulo II, o Cdigo Penal Brasileiro trata dos "Crimes Contra o Patrimnio", apresentando os dispositivos respectivos divididos em oito captulos. No derradeiro desses captulos estabelece o Cdigo Penal as "Disposies Gerais" dos crimes contra o patrimnio. Ali, respectivamente nos artigos 181 e 182, prev as chamadas imunidades absolutas e relativas, especificamente referentes aos casos de crimes patrimoniais perpetrados entre cnjuges e pessoas ligadas por parentesco. No caso dos cnjuges na constncia da sociedade conjugal e dos ascendentes e descendentes, a imunidade absoluta, j que em caso de cometimento de crimes patrimoniais entre eles o autor ficar isento de pena. De outra banda, nos casos de cnjuges em fase de separao judicial, irmos e tios ou sobrinhos que coabitam, a imunidade relativa, pois que somente determina a lei que a ao penal passe a depender de representao do lesado.No obstante, essas imunidades no so aplicveis de forma indiscriminada a todos os tipos penais patrimoniais ou em quaisquer circunstncias. O artigo 183, I a III, CP, estabelece claros limites, vedando o alcance das imunidades:a) aos crimes patrimoniais praticados mediante violncia ou grave ameaa (v.g. roubo, extorso etc.);b) ao estranho que participa do crime;c) aos casos de crimes patrimoniais praticados, com ou sem violncia ou grave ameaa, contra maiores de 60 (sessenta) anos. [01]Sabe-se que a Lei 11.340/06, conhecida como "Lei Maria da Penha", veio a regular os casos de violncia domstica e familiar contra a mulher. Tal diploma teve o esmero de conceituar a violncia domstica e familiar, dividindo-a expressamente em cinco espcies: violncia fsica, violncia psicolgica, violncia sexual, violncia patrimonial e violncia moral (artigo 7, I a V, da Lei 11.340/06).Em face disso, j se aventa na doutrina a hiptese de que as imunidades entre cnjuges e parentes no teriam mais aplicabilidade quando se tratasse de violncia patrimonial contra a mulher, nos termos da Lei Maria da Penha (artigo 5., I a III c/c artigo 7., IV, da Lei 11.340/06).Este o entendimento de Maria Berenice Dias ao asseverar:"A partir da vigncia da Lei Maria da Penha, o varo que subtrair objetos da sua mulher pratica violncia patrimonial (art. 7., IV). Diante da nova definio de violncia domstica, que compreende a violncia patrimonial, quando a vtima mulher e mantm com o autor da infrao vnculo de natureza familiar, no se aplicam as imunidades absoluta ou relativa dos arts. 181 e 182 do Cdigo Penal. No mais chancelando o furto nas relaes afetivas, cabe o processo e a condenao, sujeitando-se o ru ao agravamento da pena (CP, art. 61, II, f)". [02]Certamente esse pensamento pode ter como sustentao trs pilares:a) O disposto no artigo 7., IV, da Lei Maria da Penha seria esvaziado de tal forma pelas imunidades dos artigos 181 e 182, CP, que no passaria de letra morta, pois sempre que o parente ou cnjuge perpetrasse subtraes contra a mulher no contexto domstico ou familiar, faria jus a alguma imunidade legal. Assim sendo, a nica interpretao capaz de conferir efetividade proteo da mulher contra a violncia domstica e familiar de carter patrimonial, seria aquela que admite a derrogao dos artigos 181 e 182, CP, pela Lei 11.340/06.b) Em estreita aproximao com o argumento anterior, restaria fundamentada a revogao parcial (derrogao) tcita dos artigos 181 e 182, CP, pela novel Lei Maria da Penha, de acordo com o disposto no artigo 2., 1., da Lei de Introduo ao Cdigo Civil. Ora, na esteira do raciocnio desenvolvido a Lei 11.340/06 (lei posterior) seria "incompatvel" com os dispositivos do Cdigo Penal em destaque. Isso a partir da concluso de que a subsistncia dos artigos 181 e 182, CP, ensejaria o completo esvaziamento do contedo do artigo 7., IV, da Lei Maria da Penha, conforme anteriormente demonstrado.c) Um derradeiro fundamento ainda poderia ser acenado como reforo aos anteriores. Trata-se da alterao promovida no seio das imunidades em estudo pelo Estatuto do Idoso, o qual, em seu artigo 95, vedou expressamente a aplicabilidade dos benefcios se a vtima for maior de 60 anos (vide artigo 183, III, CP). Se a lei protetiva dos idosos assim operou, conclui-se que a lei protetiva das mulheres teria a mesma inspirao e conseqncias. [03]Ocorre que, embora a argumentao acima expendida possa aparentar certa coerncia lgica, , na verdade, prenhe de equvocos. Iniciando pelo ltimo argumento, tem-se que este realmente o mais frgil, pois no se pode extrair a "mens legis" de um diploma legal atravs de outro. bem verdade que a chamada "interpretao sistemtica" bastante profcua e proporciona uma completude e coerncia do ordenamento jurdico. Tambm inegvel que a Lei 11.340/06 (art. 13) faz expressa referncia s disposies do Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8069/90) e do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) como complementares legislao protetiva da mulher. No obstante, o fato do Estatuto do Idoso afastar as imunidades expressamente no pode ser transplantado a frceps para o bojo da Lei Maria da Penha. Ocorre que se o legislador realmente a isso visasse, bastaria haver procedido previso expressa, como fez no outro diploma.Por outro lado, a impresso de que as imunidades do Cdigo Penal esvaziariam o contedo do artigo 7., IV, da Lei 11.340/06 no passa de miragem. Na verdade, a violncia patrimonial contra a mulher poderia ser objeto de represso penal regular em muitos casos em que as imunidades no tm atuao. Seno vejamos:1) Em todo caso de vtima idosa, ainda que se tratem de crimes perpetrados sem violncia ou grave ameaa (artigo 183, III, CP);2) Em todos os casos de crimes patrimoniais praticados por meio de violncia real ou grave ameaa (v.g. roubo, extorso etc.) (artigo 183, I, CP);3) Mesmo nos casos de crimes praticados sem violncia ou grave ameaa contra vtima no idosa, desde que se refiram s imunidades relativas do artigo 182, CP, considerando que a vtima manifeste seu interesse na persecuo criminal do autor da infrao.Desse modo, cai por terra tambm o argumento da suposta revogao tcita parcial (derrogao) nos termos do artigo 2., 1., da Lei de Introduo ao Cdigo Civil. A Lei 11.340/06 jamais derrogou "expressamente" as disposies do Cdigo Penal sob comento. Tambm ntido que no tratou inteiramente da matria ali regulada. Ademais, em face do amplo espao deixado para a efetiva atuao do disposto no artigo 7., IV, da Lei Maria da Penha, conforme antes demonstrado, resta claro que inexiste incompatibilidade com os artigos 181 e 182, CP, podendo referidos mandamentos legais conviverem harmonicamente sem qualquer prejuzo considervel.Em arremate, afigura-se oportuna a transcrio da lio de Eduardo Espnola e Eduardo Espnola Filho acerca da revogao tcita por incompatibilidade de leis no tempo:"Os comentadores acentuam que, inquestionavelmente, se trata de uma incompatibilidade formal, absoluta, de uma impossibilidade de aplicar, contemporaneamente, a uma determinada relao jurdica, a lei antiga e a nova. Pondera Fiore que, quando a lei nova , diretamente, contrria ao prprio esprito da antiga, deve entender-se que a ab rogao se estende a todas as disposies dessa, sem qualquer distino. No caso contrrio, cumpre examinar, cuidadosamente, quais as disposies da lei antiga, que se mostram absolutamente incompatveis com a nova; o que, apenas, se deve admitir quando a fora obrigatria s possvel, reduzindo a nada as disposies relativas da lei antiga: posteriores leges ad priores pertinenti nisi contrariae sint. Quando seja duvidosa a incompatibilidade, ser o caso de interpretar as duas leis,de modo que se faa desaparecer a antinomia, no sendo admissvel uma ab rogao por presuno". [04]Migrando para outro questionamento passvel de surgimento com o advento da Lei Maria da Penha, deve-se indagar se o disposto no artigo 181, I, CP, abrangente de casos de unies homoafetivas. sabido que os cnjuges podem ser beneficiados pela imunidade ali expressamente prevista. O que se indaga agora se, com o surgimento da Lei 11.340/06, a qual, em seus artigos 2. e 5., Pargrafo nico, empresta evidente proteo s unies homoafetivas femininas, estariam as unies homoafetivas em geral abarcadas pela imunidade legal do artigo 181, I, CP, por analogia "in bonam partem".No novidade o reconhecimento por parcela da doutrina da equiparao em relao unio estvel heterossexual, por fora dos dispositivos constitucionais a ampliarem sobremaneira o conceito de "entidade familiar" (artigo 226, 3., CF). Alis, tal equiparao tende a ser legislada, j que o projeto de reforma do Cdigo Penal (1999) inclui na imunidade de forma expressa os casos de companheirismo e unio estvel. [05]Retomando a questo especfica das unies homoafetivas, entende Maria Berenice Dias que a Lei 11.340/06 as reconheceu expressamente como "famlia", ao determinar a incidncia de seus dispositivos protetivos mulher, "independentemente da orientao sexual (arts. 2. e 5., Pargrafo nico)". [06] inegvel que razo assiste autora, pois para fins de violncia "domstica e familiar" contra a mulher h clara equiparao das unies homoafetivas femininas a outras entidades familiares.Mas, persiste a dvida quanto aos efeitos desse reconhecimento da Lei Maria da Penha em relao ao restante do ordenamento jurdico. Estaria a Lei 11.340/06 chancelando para todos os fins a unio homoafetiva como entidade familiar?Se a resposta for positiva com referncia a esta ou talvez a alguma lei vindoura que o faa de forma mais explcita, parece-nos que aqueles unidos por laos homoafetivos que convivam em unio estvel devem ser beneficiados pela imunidade do artigo 181, I, CP, por analogia favorvel. [07]Entretanto, seja por falta de respaldo constitucional, diversamente do que ocorre no caso das unies estveis heterossexuais, seja porque a Lei Maria da Penha no explcita quanto a seus efeitos alm do mbito da violncia domstica ou familiar contra a mulher, parece que o espectro de sua influncia deve ser restringido s circunstncias especiais a que se refere.Portanto, a nosso ver, a partir da Lei Maria da Penha, por fora de seus artigos 2. e 5., Pargrafo nico, a unio estvel homoafetiva feminina pode ser equiparada a entidade familiar, de maneira que abrangida pela imunidade prevista no artigo 181, I, CP. No entanto, a unio estvel homoafetiva masculina no abrangida pela Lei 11.340/06, de forma que no h sustentao para reconhecer sua equiparao a entidade familiar em qualquer diploma legal vigente e, assim sendo, no pode ser abarcada pela imunidade acima citada.Essa interpretao pode ensejar a objeo de que violaria o Princpio Constitucional da Igualdade, objeo esta, alis, j oposta por parte da doutrina Lei 11.340/06 como um todo [08] de forma absolutamente equivocada, pois que na verdade "a Lei Maria da Penha constitucional porque serve igualdade de fato e como fator de cumprimento dos termos da Carta Magna". [09] No somente mulher como tambm s crianas, adolescentes e idosos justificvel a reserva de um tratamento protetivo e especial, de modo a ensejar uma igualdade efetiva por meio da conhecida frmula de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Quem sabe um dia, por meio de aes afirmativas como as preconizadas na Lei 11.340/06, as mulheres brasileiras superem realmente os anos e anos de submisso, violncia, preconceito e excluso a que foram historicamente submetidas e, s ento, se poder pensar em suprimir tratamentos diferenciados e protetivos hoje ainda necessrios. Nesse dia certamente as mulheres ficaro satisfeitas e orgulhosas de poderem abrir mo de protees especiais de que no mais sero carecedoras.Eduardo Luiz Santos Cabettedelegado de polcia, mestre em Direito Social, ps-graduado com especializao em Direito Penal e Criminologia, professor da graduao e da ps-graduao da UnisalXIII O crime atual conhecido como falso seqestro que geralmente praticado por presidirios que j cumprem penas nas penitencirias cariocas deve ser classificado como crime de Tentativa de Seqestro, Tentativa de Crcere Privado ou uma nova modalidade do Crime de Extorso? Discorra sobre o tipo mais correto:Nos ltimos anos vem sendo disseminada no Brasil a prtica de uma nova modalidade de extorso. Trata-se do golpe ironicamente chamado de "disque-seqestro", que, apenas no ano de 2006, foi registrado sete mil setecentas e sete vezes junto aos rgos policiais fluminenses, paulistas e mineiros. Tal espcie de extorso, como cedio, se d atravs de contatos telefnicos atravs dos quais, simulando-se o seqestro de um ente querido da vtima, mediante grave ameaa, constrange-se a mesma a perpetrar algum ato capaz de propiciar vantagens econmicas ao sujeito ativo do crime e/ou a terceiros (normalmente exige-se pagamento em dinheiro ou a habilitao de crditos para telefone celular). Antes aplicada quase que exclusivamente por presidirios, esta prtica extorsiva hoje j encontra alguns adeptos extramuros. Apenas setenta por cento das noventa e oito pessoas indiciadas em 2006 pelo crime em estudo fazia parte do contingente penitencirio. Porm, ainda estima-se que mais de noventa por cento das ligaes continuem partindo do interior de presdios. Inspirada em outras espcies de golpes telefnicos criados h aproximadamente cinco anos por sentenciados da penitenciria fluminense Carlos Tinoco da Fonsenca, esta extorso vem sendo aperfeioada de modo a se tornar cada vez mais aterrorizadora. As vtimas que antes quase sempre eram escolhidas de modo aleatrio, comumente hoje so escolhidas e pesquisadas de modo percuciente. Atualmente, no raras so s vezes em que o delinqente, a fim de escolher o momento e o "modus operandi" mais eficazes, antes de desfechar o golpe, colhe informaes sobre a vtima, seus parentes, hbitos e rotina, valendo-se previamente de ligaes aparentemente inofensivas, ou at mesmo indo a campo, isto , seguindo-a nalgumas ocasies. Por incrvel que parea, tamanho o poder de coativo desses delinqentes que, segundo estimativas, vinte por cento (20%) das vtimas chegam a efetivamente pagar o falso resgate. Ligando durante a madrugada, falando rapidamente na terceira pessoa do plural, valendo-se de falsos pedidos de socorro ecoados ao fundo, exigindo valores relativamente baixos e procurando a todo custo impedir que a vtima tente entrar em contato com o ente querido supostamente seqestrado, estes agentes aumentam sobremaneira o seu "poder de fogo". Especialistas apontam que diversos fatores contribuem para tornar o golpe mais convincente. Talvez o principal deles esteja relacionado com a sensao de insegurana que hodiernamente vige no Brasil, e que se acentua atravs das coberturas mirabolantes dadas pela imprensa aos crimes mais brbaros. A fala rpida, durante a madrugada, acompanhada por gritos de socorro ao fundo, prejudica significativamente a capacidade de discernimento da vtima. A afirmao de que a pessoa supostamente seqestrada ter um fim trgico acaso seu celular venha a tocar, a vtima venha a falar com algum ou desligue o telefone, faz com que muitas vezes sequer se tente verificar a realidade do seqestro. Pedidos de "resgate" relativamente baixos (em mdia, R$ 4.000,00) tornam o golpe mais gil, de modo a possibilitar que a vtima efetue o pagamento antes de ter tempo para procurar a polcia ou o ente supostamente seqestrado. A fala realizada na terceira pessoa do plural, dando a idia de que h mais pessoas envolvidas no crime, aumenta a credibilidade dos dizeres proferidos pelo bandido. E a combinao de tudo isso cria o clima de terror perfeito para o golpe que, dessa forma, muitas vezes se torna suficientemente crvel.O golpe em comento assume diversas roupagens. Na medida em que determinada estratgia passa a ser popularmente conhecida e, por conseguinte, torna-se menos verossmil, criam-se outras. A par daquela dantes mencionadas, na qual se simula um seqestro, e de suas inmeras variveis, outras igualmente aterrorizadoras j so conhecidas. Tem-se notcia de casos em que o agente, atravs de contato telefnico, afirmando haver sido contratado para seqestrar e matar a vtima, procura extorqui-la, dizendo que mediante o pagamento de determinadas vantagens econmicas poder desistir daqueles planos. H ainda notcia de outras prticas delituosas efetuadas pela via telefnica que, contudo, aproximando-se mais do estelionato do que da extorso, excedem os limites deste estudo, e, portanto, nele recebem apenas breves menes, em subitem prprio. 2. CAPITULAOA conduta que mais acima foi designada como "disque-seqestro" adequa-se precisamente figura tpica de que trata o art. 158 do Cdigo Penal, aqui transcrito in verbis: "Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar de fazer alguma coisa: Pena recluso, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. E o mesmo se diga quanto ao comportamento daqueles que, como j dito, afirmando-se contratados para seqestrar e matar a vtima, procuram extorqui-la. Da percuciente anlise daquele tipo penal, e em consonncia com o abalizado esclio de E. Magalhes Noronha (1998, p. 266) extrai-se que, para a configurao do crime de extorso, so necessrios quatro requisitos: o emprego de um meio coativo (violncia ou grave ameaa); o estado de coao do sujeito passivo; a ao ou omisso deste; e o objetivo de obter vantagem econmica indevida. E conforme a partir de agora se demonstrar, todos eles se fazem presentes na conduta sub examine. No que diz respeito ao emprego de meios coativos, impende inicialmente observar que em momento algum a norma em estudo exige que o agente tenha a real inteno de concretizar o mal prometido, ou que tenha efetiva condio de faz-lo. Consoante leciona Jlio Fabrini Mirabete (1991, p. 221), a utilizao do verbo "constranger" denota claramente que basta que a ameaa realizada seja idnea para subjugar, ao que tudo indica, um homem mdio (h julgados que entendem pela necessidade de que a ameaa empregada seja apta para intimidar especificamente o sujeito passivo do crime). E no h dvida de que a conduta em comento atende com preciso o requisito ora tratado. Isso porque o delinqente em questo, ao dizer-se em poder de um ente querido da vtima, e disposto a mat-lo, ou ainda, ao afirmar haver sido "contratado" para mat-la, indubitavelmente se vale de um dos meios de coao a que se refere o tipo penal, qual seja, a grave ameaa. E no se duvide da idoneidade coativa desses meios, pois que, como j dito, se aproximadamente vinte por cento das vtimas dos golpes em questo chegam "a se curvar diante dos criminosos", certamente as tcnicas por eles empregadas so no mnimo potencialmente capazes de atingir um homem de diligncia mdia. A esse respeito, alis, vale observar que se tem notcia at mesmo de um policial civil que recentemente teria cado no golpe, no obstante j o conhecesse bem. Para a caracterizao da extorso, contudo, no basta que a vtima aja sob coao. Mister que a ela seja posta em estado de coao, ou seja, venha a agir ou se omitir em funo do meio coativo empregado, objetivando, assim, evitar a concretizao do mal prometido. Observe-se que razes diversas podem levar uma pessoa sob coao a proporcionar a outra vantagens econmicas. Por exemplo, causas variadas podem levar um pai ceder aos anseios de seu filho, dependente qumico, que mediante grave ameaa, exige o numerrio necessrio para a quitao de dvidas contradas para a aquisio de drogas. Pode ele agir em razo da grave ameaa, a fim de impedir a concretizao do mal prometido, como tambm pode, sem levar a srio a ameaa, agir por piedade, ou por receio de que a sua prole venha a ser morta por seus credores. Apenas na primeira dessas hipteses estar-se- em estado de coao, de modo a permitir a configurao do crime em estudo. Uma vez realizada essa necessria distino, resta saber se as vtimas da conduta em testilha, ao cederem aos intentos criminosos de seus coatores, o fazem em real estado de coao. E a resposta a essa indagao, na quase totalidade das vezes, ser irrefragavelmente afirmativa, haja vista que na conjuntura em que se do as condutas ora tratadas, praticamente inimaginvel a existncia de outras razes que pudessem levar a vtima a proporcionar aos seus constrangedores a vantagem econmica exigida, mxime se se considerar que, via de regra, inexiste entre os sujeitos passivos e ativos desta infrao qualquer relacionamento prvio. A par dos elementos supra-referidos, a configurao do crime de extorso exige ainda que a vtima venha a fazer, tolerar que se faa ou deixar de fazer alguma coisa. E na hiptese vertente, no h dvida de que tal requisito se faz presente, haja vista que nela exige-se justamente que o sujeito passivo adote determinadas condutas comissivas, normalmente relacionadas com a realizao de um pagamento em dinheiro, ou com a habilitao dos crditos necessrios utilizao de telefones celulares pr-pagos. Por fim, para que um comportamento se encaixe dentro dos limites da norma penal aqui abordada, imprescindvel que os comportamentos exigidos da vtima, tal e qual ocorre in casu, se destinem obteno de uma vantagem econmica indevida. De inquestionvel conotao econmica so as vantagens usualmente exigidas nas prticas aqui tratadas, pois que, como j dito, quando nelas no se exige diretamente o pagamento de um montante em dinheiro, pretende-se o fornecimento de algo que o valha. Igualmente incontestvel o fato de que tais vantagens se mostram indevidas, porquanto exigidas em face de pessoas com as quais no se tem nenhuma relao obrigacional lcita. A eventual existncia dessa relao entre os sujeitos da conduta poder, conforme o caso, afastar a configurao da extorso, implicando em exerccio arbitrrio das prprias razes. 3. DISTINOA fim de evitar eventuais equvocos que ainda possam pairar sobre a classificao jurdica das condutas em debate, oportuno sejam apontadas as razes pelas quais no h de se falar, na espcie, em estelionato, roubo ou constrangimento ilegal. Nas modalidades de extorso em estudo, o agente, ao simular o seqestro de um ente querido da vtima, ou dizer-se contratado para mat-la, inquestionavelmente se vale de uma fraude, na medida em que no se encontra em condio de levar a cabo o mal prometido e, no mais das vezes, nem mesmo tem a inteno de faz-lo (no h seqestro algum, no foi contratado para nada, na maioria das vezes est preso, e nem mesmo sabe com quem est falando). Da a similitude existente entre estas condutas e aquelas de que trata o art. 171 do Cdigo Penal.Contudo, a fraude que aqui empregada tem uma finalidade ligeiramente diversa. No estelionato, a farsa utilizada age no sentido de viciar a vontade do sujeito passivo do delito, fazendo com que ele, iludido, venha a voluntariamente entregar a coisa. J nos casos em tela, emprega-se um meio fraudulento voltado a atemorizar a vtima, de modo a obrig-la a realizar a entrega exigida, contra a sua vontade. Constata-se, pois, que a finalidade mediata das fraudes empregadas num e noutro caso a mesma, qual seja, a entrega de coisa economicamente aprecivel. J as finalidades imediatas, ao revs, so absolutamente distintas, porquanto ao passo em que na primeira hiptese pretende-se viciar a vontade do sujeito passivo, convencendo-o, na segunda o agente pretende sobrepor sua vontade a do sujeito passivo, subjugando-o. Tanto nas espcies de extorso aqui tratadas, quanto em alguns tipos de roubo, obtm-se vantagem indevida, mediante grave ameaa. Entrementes, a forma pela qual tal obteno se d em cada uma dessas hipteses bastante distinta. Considerando que, ao tratar do roubo, o nosso estatuto repressivo emprega o verbo subtrair, constata-se que para a configurao desse crime, o prprio delinqente deve pegar para si a coisa pretendida, ou ainda, segundo de h muito se tem entendido, exigir que tal coisa lhe seja entregue in continenti pela vtima, de modo a impedir que esta possa optar por um ou por outro comportamento. Vale dizer, no roubo a vantagem injusta pretendida de qualquer forma ser alcanada, posto que se por ventura a vtima optar por no entreg-la, o prprio agente ir tom-la (a deciso da vtima praticamente irrelevante).J ao disciplinar a extorso, aquele mesmo diploma utilizou o verbo constranger, evidenciando, dessa forma, que em tal modalidade delituosa o comportamento da vtima que determina a obteno, ou no, da vantagem almejada. Assim que, na extorso, h um lapso temporal entre o ato por meio do qual o agente exige da vtima a adoo de um determinado comportamento, e o momento em que o proveito econmico colimado ser alcanado. E justamente esse lapso que confere vtima um certo poder decisrio, isto , a faculdade se submeter vontade do coator, ou insurgir-se contra a mesma, assumindo o risco de que o mal prometido venha a ser concretizado. Nota-se, pois, que na extorso a obteno ou no da vantagem econmica pretendida depender de uma escolha da vtima, porquanto se por ventura ela vier a resistir aos comandos daquele que a constrange, este no ter condio de, de per si, auferir de logo a vantagem que pretende. Sendo assim, e considerando que tanto na conduta aqui entitulada como "disque-seqestro", quanto nos supramencionados casos em que o sujeito ativo se faz passar por um matador contratado para exterminar a vtima, confere-se a esta um considervel poder de deciso, nos moldes daquele explicitado no pargrafo anterior, verifica-se que tais condutas, estremando-se do crime de roubo, se amoldam precisamente quela descrita no art. 158 do Cdigo Penal. Assim como ocorre no constrangimento ilegal, na extorso h uma ofensa liberdade pessoal que se perfaz mediante violncia ou grave ameaa. Porm, a ofensa realizada em cada uma dessas infraes destina-se a fins completamente distintos. Ao passo em que na extorso pretende-se uma vantagem econmica ilcita, no constrangimento ilegal so almejados fins diversos, no inseridos nos demais tipos penais que se perfazem atravs de um constrangimento (estupro, atentado violento ao pudor, concusso, exerccio arbitrrio das prprias razes etc.). Trata-se, pois, de um crime subsidirio, de um verdadeiro soldado de reserva. Com efeito, considerando que tanto quando se simula um seqestro, nos moldes anteriormente explicitados, quanto quando se exige o pagamento de uma determinada quantia como condio para que a vtima no venha a ser assassinada, se tem em vista a obteno de uma vantagem economicamente aprecivel, no h falar-se, na espcie, em constrangimento ilegal, mas sim em extorso. Em tais hipteses, a prtica daquele crime fica afastada pela aplicao do princpio da subsidiariedade. 4. CONSUMAO E TENTATIVAO momento em que se d a consumao do delito de extorso por demais controvertido. Alguns, dentre os quais E. Magalhes Noronha (1998, p. 272) e Cludio Heleno Fragoso (1976, p. 342), sustentando tratar-se de crime material, entendem que sua consumao s ocorre quando h a obteno do proveito injusto, isto , quando o sujeito ativo do delito passa a ter a posse tranqila da coisa. J Nelson Hungria (1980, p. 74/75), Jlio Fabrini Mirabete (1991, p. 222), Damsio Evangelista de Jesus (1979, p. 340), Celso Delmanto (1991, p. 281) e Paulo Jos da Costa Jnior (1996, p. 482), tendo-o como crime formal, sustentam haver consumao a partir do momento em que o sujeito passivo do crime se curva diante do ativo, fazendo, deixando de fazer ou tolerando que se faa alguma coisa. Vem, pois, a obteno ou no daquele proveito como ato de mero exaurimento do crime, a ser considerado apenas no primeiro momento da dosimetria da pena. Verifica-se, pois, que conforme se adote uma ou outra corrente, ter-se- como consumados os crimes em comento a partir do momento em que a vtima, respondendo aos comandos do delinqente, vier a tomar as atitudes tendentes a conferir ao mesmo a vantagem patrimonial exigida, ou to somente quanto tais vantagens vierem a ser efetivamente auferidas. Note-se que em entre cada uma dessas hipteses h uma significativa diferena, porquanto perfeitamente possvel que, no obstante tomada daquelas atitudes, o sujeito ativo destes ilcitos no venha a alcanar a vantagem esperada. Tal pode se dar, por exemplo, quando a vtima vem a efetivamente habilitar em favor do infrator presidirio os crditos telefnicos exigidos, mas este sequer chega a desfrutar do produto de seu crime, em razo da apreenso de seu telefone celular, durante uma vistoria policial realizada em sua cela momentos antes daquela habilitao de crditos. Uma outra conseqncia relevante decorre daquele dissentimento doutrinrio. Se se entender que os crimes sobre os quais ora se discorre so materiais, ter-se- que aquele que, por exemplo, aps a realizao do constrangimento da vtima, vier a atuar to somente para apanhar o dinheiro que por ela foi deixado em um local previamente determinado responder pelo crime, como partcipe ou co-autor, conforme se aplique, respectivamente, no que diz respeito ao concurso de agentes, o critrio objetivo-formal ou o objetivo-subjetivo, tambm conhecido como teoria do domnio final do fato. Por outro lado, acaso se tenha aqueles crimes como formais, por eles o referido agente no responder, na medida em que sua atuao ser tida como posterior ao momento consumativo. No haver falar-se, pois, em concurso de agentes, mas sim em crime autnomo de favorecimento real (art. 349 do Cdigo Penal). Desse modo, guisa de concluso, observa-se que, de acordo com posio que vier a ser adotada pelo interprete, considerar-se- como tentado ou consumado o crime nas hipteses em que, no obstante a vtima j tenha cedido aos comandos de seu coator, s vantagens disponibilizadas ele no chega a ter acesso efetivo, assim compreendido, como j dito, aquele caracterizado pela posse tranqila da coisa. Lado outro, independentemente da posio doutrinria empregada, tem-se que os crimes em tela so apenas tentados sempre que a vtima, percebendo a inveracidade dos dizeres proferidos pelo delinqente, no se intimida com as ameaas proferidas e, por conseguinte, no chega a efetuar o pagamento exigido. 5. CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO DE PENANos dois pargrafos do art. 158 do Cdigo Penal so previstas diversas hipteses de aumento de pena. Contudo apenas uma delas parece interessar ao presente estudo. Trata-se da relacionada ao cometimento do crime por duas ou mais pessoas. As demais majorantes, dizendo respeito apenas s hipteses em que h violncia real ou o emprego de armas, so incompatveis com as modalidades de extorso ora abordadas, porquanto as mesmas, como j visto, so perpetradas por meio telefnico, e, portanto, incompatvel com o emprego de armas, e apenas com a utilizao de violncia ficta, ou seja, de grave ameaa. Ao tratar da majorante em comento, valendo-se de uma frmula diversa da empregada nos arts. 155 e 157 do Cdigo Penal, o legislador se referiu ao crime cometido por duas ou mais pessoas, e no ao perpetrado em concurso de agentes. E disso decorre uma significativa diferena. No roubo e no furto, para a incidncia da majorante, basta que haja mero concurso de agentes, ou seja, tendo-se como base, na distino entre participao e co-autoria, o critrio objetivo-formal, suficiente que duas ou mais pessoas concorram de qualquer modo para o crime, quer como co-autoras, quer de modo que a atuao de uma possa ser vista como um mero ato de participao em relao conduta da outra. Lado outro, no crime de extorso, para que a pluralidade de agentes possa implicar em aumento de pena, mister que ao menos dois deles tenham praticado o ato executivo do delito, ou seja, tenham constrangido a vtima, ostentando, dessa forma, ainda segundo o reportado critrio objetivo-formal, a condio de co-autores do injusto. Assim que aos crimes em comento s ser aplicada a majorante supracitada acaso dois ou mais agentes venham a participar efetivamente das conversas telefnicas por meio das quais se procura constranger a vtima. E tal se d com bastante freqncia, haja vista que, como se disse alhures, no raras so s vezes em que, enquanto um agente conversa com a vtima no telefone, outro, passando-se pelo ente querido seqestrado, grita ao fundo por socorro, dizendo estar sendo submetido s mais terrveis crueldades. Isso sem falar na possibilidade de que dois ou mais agentes venham a efetivamente a conversar com a vtima, a fim de transmitir a idia de que o pseudo-seqestro foi perpetrado por diversas pessoas. Ao revs, no incidir a causa especial de aumento de pena em debate quando, por exemplo, um dos dois agentes envolvidos no crime vier a atuar apenas no sentido de colher informaes sobre a famlia da vtima, ou recolher o valor do resgate exigido. 6. OCORRNCIA DO EVENTO MORTEDiante da grande eficincia das prticas aterrorizadoras empregadas pelos autores destes crimes, imensurvel o nvel de tenso ao qual so submetidas suas vtimas que, nalguns casos excepcionais, podem no suportar tamanha emoo, vindo a sofrer, por exemplo, um enfarto fatal. Tal justamente o que ocorreu com a aposentada Mrcia Mendes de Barros, na cidade paulista de So Caetano do Sul, no dia 19 de fevereiro de 2007.Uma vez verificada aquela possibilidade, oportuno indagar se, em casos como este, deve o autor da extorso responder pela morte ocorrida? E a resposta a essa indagao haver de ser obviamente negativa, na medida em que, segundo a sistemtica adotada em nosso sistema repressivo, a responsabilidade penal sempre subjetiva, ou seja, pressupe a existncia de dolo ou culpa.A princpio, se a partir de uma concepo exclusivamente naturalstica se pretendesse pura e simplesmente aplicar ao caso em anlise a norma insculpida no art. 13 do Cdigo Penal, certamente ter-se-ia o sujeito ativo da extorso em anlise como responsvel pela morte operada, uma vez que a mesma se encontra dentro da linha de desdobramento causal do constrangimento praticado. Isso porque, aplicando-se ao caso sub examine o processo hipottico de eliminao de Thyren, chegar-se-ia concluso de que sem a prtica da conduta delituosa em questo a morte da vtima certamente no ocorreria como ocorreu. Tem-se, pois, a conduta delituosa perpetrada como uma concausa relativamente independente da morte ocorrida, concomitante mesma, e, portanto, inserida dentro do mbito de imputao de que trata a norma penal aludida.Todavia, para que um determinando resultado seja imputado quele que lhe deu causa no basta a existncia de um nexo etilgico meramente naturalstico. Mais do que isso, por fora do disposto no pargrafo nico do art. 18 de nosso Estatuto Repressivo, imprescindvel que a par daquela relao de causa e efeito, haja dolo, ou ainda, nos casos previstos em lei, culpa. Da falar-se, em nosso sistema, em nexo causal normativo (nexo normativo = nexo naturalstico + dolo ou culpa).Na hiptese exposta, bastante bvia a inexistncia de dolo, haja vista que a prtica da extorso em comento revela nica e to somente a inteno de, por meio de um constrangimento, provocar uma leso patrimonial. Em tal hiptese, no se vislumbra, pois, a existncia da inteno de provocar o evento morte, a assuno do risco de provoc-lo, e muito menos a conscincia de que o mesmo se verificar. E o mesmo se diga quanto culpa, que pressupe a existncia de uma previsibilidade objetiva inexistente in casu. Ora, em circunstanciais normais, um homem de diligncia mdia jamais poderia esperar que uma violenta emoo pudesse levar aquele que por ela arrebatado ao bito. Tal resultado, sendo deveras excepcional nessas circunstncias, no h de ser ordinariamente previsto. mesma concluso se chega atravs da aplicao da teoria da imputao objetiva. De acordo com essa teoria, na aferio do nexo causal eventualmente existente entre uma conduta e um resultado, a par da existncia daqueles elementos causais naturalsticos apurados atravs do processo hipottico de eliminao j mencionado, outros requisitos devem se fazer presentes. E um deles se refere justamente previsibilidade do resultado ocorrido, que deve constituir um desdobramento previsvel da conduta. Assim que, tambm de acordo com a teoria da imputao objetiva, o sujeito ativo das prticas extorsivas em estudo no pode, a princpio, responder pela morte que eventualmente venha a causar ao, atravs de um contato telefnico, proferir suas ameaas, eis que a ocorrncia de tal evento jamais pode ser tida como um dos desdobramentos previsveis da prtica de uma ameaa. De qualquer forma, convm observar que qui seja possvel que, excepcionalmente, a morte ocorrida nas circunstncias dantes apontadas possa ser atribuda ao autor das modalidades de extorso em comento. Quer com base na teoria da equivalncia dos antecedentes causais, quer com base na teoria da imputao objetiva, tal se dar quando, em vista das excepcionalssimas circunstanciais verificadas no caso concreto, se puder ter a morte ocorrida como um desdobramento previsvel da conduta extorsiva realizada. E nessas hipteses no se responder pela modalidade de extorso qualificada pela ocorrncia do evento morte (art. 158, 2, do Cdigo Penal), mas sim, por extorso simples (art. 158 do Cdigo Penal), com pena eventualmente majorada (art. 158, 1, do Cdigo Penal), e homicdio culposo (art. 121, 3, do Cdigo Penal), em concurso formal (art. 70 do Cdigo Penal). Isso porque, consoante a lio de Fernando Capez (2005, p. 164), aquela qualificadora s se faz presente quando a morte ocorrida resulta da violncia empregada, e no de grave ameaa.Por fim, impende observar que, guardadas as devidas propores, tudo que aqui foi dito acerca da morte que eventualmente pode vir a ser contrada pela vtima pode ser aplicado aos casos em que esta venha a sofrer apenas leses corporais. 7. GOLPES SIMILARESH inmeras prticas criminosas de ndole patrimonial que podem ser realizadas atravs de contatos telefnicos. Algumas delas, como j se mencionou anteriormente, no se perfazendo atravs de uma grave ameaa, no ho de ser vistas como modalidades de extorso. Tal o caso dos reportados golpes criados por sentenciados da penitenciria fluminense Carlos Tinoco da Fonsenca, h aproximadamente cinco anos, e que ainda hoje so vistos com freqncia.Convencendo as vtimas de que elas foram sorteadas em alguma promoo, os autores deste golpe as orientam a adquirir um determinado nmero de crditos para telefone celular pr-pago, e repassar-lhes os respectivos cdigos de acesso, sob o argumento de que o prometido prmio s ser entregue depois de concluda essa operao.Aquela conduta, assim como muitas de suas diversas variveis, adequando-se precisamente descrio da figura previsto no art.171, caput, do Cdigo Penal, configura indubitavelmente o crime de estelionato. Vejamos: ao convencer a vtima de que o fornecimento dos cdigos supramencionados implicar na percepo do prmio prometido, o agente a induz em erro, mediante meio fraudulento; ao utilizar os crditos telefnicos disponibilizados atravs da posse daqueles cdigos, o agente obtm vantagem econmica ilcita; e ao privar a vtima dos crditos por ela adquiridos, o agente acarreta mesma um prejuzo de ndole patrimonial. Derradeiramente, oportuno salientar que a fraude aqui empregada, conforme j asseverou, age no sentido de viciar a vontade do sujeito passivo do delito, fazendo com ele, iludido, venha a voluntariamente entregar a coisa. J nas modalidades de extorso abordadas neste estudo, meio fraudulento empregado presta-se a causar temor, de modo a obrigar a vtima a, contra a sua vontade, realizar a entrega exigida.8. CONTINUIDADE DELITIVAA rentabilidade das modalidades de extorso em estudo se deve muito mais quantidade de golpes aplicados do que a qualquer outro fator. Considerando que, conforme mais acima j se observou, apenas vinte por cento das vtimas destas prticas chegam efetivamente a propiciar ao delinqente a vantagem econmica por ele almejada, e que esta, via de regra, relativamente baixa (em mdia exige-se R$ 4.000,00), chega-se concluso de que para que seja auferida atravs destes crimes um valor tido como satisfatrio, necessrio se faz sejam os mesmos reiteradamente praticados. Da a necessidade de que neste estudo se discorra a respeito da continuidade delitiva. Ex vi do disposto no art. 71 do Cdigo Penal, h crime continuado "quando o agente, mediante mais de uma ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes da mesma espcie e, pelas condies de tempo, lugar, de maneira de execuo e outras semelhantes, devem os subseqentes ser havidos como continuao do primeiro". Com efeito, diante da dico legal, v-se que para que se possa aplicar a regra concursal em comento em favor daquele que vier a se valer, por diversas vezes, das prticas extorsivas abordadas no presente estudo, imprescindvel se far o preenchimento dos seguintes requisitos: sejam todos os crimes praticados tidos como da mesma espcie; e sejam eles praticados nas mesmas condies de tempo, lugar, maneira de execuo e outras similares, de modo a permitir a idia de que os ulteriores constituem um continuao do primeiro (unidade de desgnios).No h, na doutrina, uma posio universal acerca do que sejam crimes da mesma espcie. De um lado, tem-se aqueles que, na esteira do posicionamento jurisprudencial predominante, sustentam que crimes da mesma espcie so aqueles previstos no mesmo tipo penal, sendo a compreendidos indistintamente os qualificados, simples ou privilegiados, como tambm os tentados ou consumados. Na outra banda, tem-se aqueles segundo os quais a continuidade delitiva no se d apenas entre crimes que se abrigam em um mesmo artigo de lei, mas tambm entre aqueles que, no obstante tratados por dispositivos distintos, se assemelham por seus elementos objetivos e subjetivos. Vale dizer, consoante a lio de Cludio Heleno Fragoso (1995, p. 498), ofendem "o mesmo bem jurdico e se apresentam, pelos fatos que os constituem ou pelos motivos determinantes, caracteres fundamentais comuns".Conforme j se destacou, tanto no golpe por meio do qual se simula a realizao de um seqestro, a fim de extorquir a vtima, quanto naquele em que, com esse mesmo desiderato, o agente a ameaa, dizendo-se contratado para mat-la, h a configurao de um crime de extorso, nos moldes descritos pelo art. 158 do Cdigo Penal. Destarte, qualquer que seja o entendimento adotado, indubitvel que para os fins de que trata o art. 71 daquele mesmo diploma legal, tais crimes ho de ser vistos como da mesma espcie. Dvida existir quanto existncia ou no de continuidade nas hipteses em que, sob semelhantes condies, um agente vier a alternar-se entre a prtica de alguma das modalidades de extorso aqui debatidas e a do estelionato tratado no subitem anterior. Nessa hiptese, de acordo com a primeira das posies doutrinrias apresentadas, no haver de se falar em crime continuado, haja vista que tais condutas, sendo capituladas em tipos penais completamente distintos, no ho de ser vistas como da mesma espcie. J para a segunda corrente apresentada, qui se possa entender pela configurao daquela continuidade in casu, porquanto as duas prticas delituosas em questo ofendem preponderantemente o patrimnio, visam a obteno de vantagens ilcitas e tm em comum o emprego de um meio fraudulento. Ainda de acordo com essa segunda corrente, igualmente sustentvel a idia contrria, ou seja, a inaplicabilidade da regra contida no art. 71 do Cdigo Penal ao caso vertente. A uma porque, ao passo em que na incriminao do estelionato, tem-se em vista apenas a proteo do patrimnio, na incriminao da extorso, tutela-se alm do patrimnio, a liberdade e a incolumidade pessoais. E a duas porque, conforme j se asseverou, as fraudes empregadas num e noutro caso tm finalidades imediatas completamente distintas. A utilizada no estelionato em tela atua no sentido de corromper a vontade da vtima, levando-a a voluntariamente entregar a coisa pretendida. J aquela de que se lana mo nas prticas extorsivas em apreo, age no sentido de aterrorizar, de modo a obrigar a vtima a realizar a entrega exigida contra a sua vontade.Contudo, para que se possa falar em crime continuado no basta que os crimes praticados sejam da mesma espcie. Mister , outrossim, ao menos que sejam executados da mesma forma e sob as mesmas condies de tempo e lugar, de modo a transmitir a idia de que os posteriores constituem uma continuao do predecessor. H uniformidade quanto ao modo de execuo quando se emprega nas diversas prticas delituosas meios semelhantes. Tal precisamente o que ocorre entre as duas modalidades de extorso aqui tratadas, que se diferem apenas quanto ao teor das ameaas empregadas (em ambas se age atravs de um contato telefnico no qual so proferidas ameaas tendentes a atemorizar a vtima, levando-a, assim, a proporcionar ao sujeito ativo do ilcito uma vantagem econmica indevida). Se por um lado essa similitude afigura-se evidente quando se tem em vista apenas as reportadas prticas extorsivas, o mesmo no pode ser dito quando as mesmas so combinadas com a espcie de estelionato sobre a qual anteriormente se discorreu (subitem 2.7.). Neste caso srias dvidas existiro, haja vista que embora em ambas as hipteses (estelionato e extorso) o agente se falha de uma fraude, conforme um pouco acima se salientou, a mesma desempenhar um papel bastante diverso em cada um desses crimes (ora atuar no sentido de viciar a vontade da vtima, ora atuar a fim de mesma se sobrepor). De qualquer forma, impende notar que tanto a variao de comparsas, quanto o fato de em um crime se agir s, e no outro, em concurso de agentes, implicar em distino quanto ao modus operandi, de modo a inviabilizar a configurao da continuidade delitiva. No que pertine ao aspecto temporal, entende-se que h continuidade delitiva quando entre as diversas prticas delituosas h uma periodicidade tal que indique a existncia de um certo ritmo entre as aes sucessivas. Segundo a jurisprudncia dominante, isso ocorre quando entre os diversos crimes praticados h um intervalo no superior a trinta dias. Dessa forma, observa-se que para que se possa aplicar a regra de que trata o art. 71 do Cdigo Penal em favor dos autores dos crimes em estudo imprescindvel ser que o interregno existente entre cada fato tentado ou consumado no exceda a trinta dias e seja relativamente uniforme, de modo indicar a existncia do ritmo supra-referido. De acordo com o entendimento jurisprudencial e doutrinrio dominante, tem-se como praticados sob as mesmas condies de lugar os crimes perpetrados em uma mesma cidade, ou em cidades vizinhas. Segundo a teoria da ubiqidade, adotada pelo Estatuto Repressivo Ptrio (art. 6), considera-se como local da prtica do crime tanto aquele em que se deu a ao ou omisso tpica, quanto aquele onde se produziu ou deveria ser produzido o resultado. Destarte, v-se que para que haja o preenchimento do requisito espacial ora tratado, ser necessrio que todas as extorses contidas em uma mesma srie sejam praticadas no mesmo local, ou seja, na mesma cidade ou em cidades vizinhas. E considerando o critrio da ubiqidade adotado em nosso sistema, tal se dar em duas hipteses: quando todas as extorses forem realizas atravs de telefonemas realizados a partir de um mesmo local (local da ao / So Paulo, por exemplo) e para ele mesmo dirigidos (local onde o resultado deve ser produzido / So Paulo, por exemplo); ou, em se tratando de crimes plurilocais, quando as diversas extorses contidas na mesma srie se derem atravs de telefonemas realizados a partir de um mesmo local (local da ao / Rio de Janeiro, por exemplo) e dirigidos para um mesmo local, diverso daquele de onde partiu a ligao (local onde o resultado deve ser produzido / Belo Horizonte, por exemplo). Por outro lado, no se poder falar em continuidade, ante falta daquele requisito espacial, tanto nos casos em que as ligaes por meio das quais as extorses em questo forem realizadas a partir de locais diversos (local da ao / ora a ligao parte de Campinas, ora parte de Braslia), quanto nas hipteses em que elas, embora realizadas atravs de um mesmo local, sejam dirigidas a pessoas que se encontrem em locais diferentes (local onde o resultado deve ser produzido / telefonando do Rio de Janeiro, ora o agente busca vtimas em Vitria, ora as busca em Poos de Caldas). Por fim, impende observar que nossa lei penal, ao tratar das condies objetivas que devem se assemelhar para que haja a configurao da continuidade delitiva no se contenta em pura e simplesmente elenc-las. Ao s mesmas se referir estabelece que em razo dessa necessria similitude, devem os crimes "subseqentes ser havidos como continuao do primeiro". E na interpretao dessa locuo surge uma sria divergncia doutrinria e jurisprudencial. Uns, entendendo que a continuidade delitiva se baseia em concepes puramente objetivas, sustentam que para a sua configurao basta a verificao da similitude dantes apontada, independentemente de qualquer considerao acerca da unidade de desgnios, ou seja, da inteno de que os crimes ulteriores constituam uma continuao do primeiro. Para eles, aquela semelhana, por si s, faz com que os crimes subseqentes sejam havidos como continuao do primeiro. J outros, partindo da idia de que a continuidade delitiva se baseia tanto em elementos objetivos quanto em subjetivos, entendem que a par da homogeneidade objetiva supramencionada, deve haver uma unidade de desgnios, isto , a inteno de que os crimes subseqentes constituam uma continuao do primevo. E para eles, tal intento se revela quando em suas diversas prticas criminosas o agente se vale das mesmas relaes e oportunidades, ou seja, quando age em um nico contexto ou em situaes que se repetem ao longo de uma relao que se protraia no tempo. Justamente nesse aspecto reside, segundo sustentam, a distino entre a habitualidade criminosa, que h de ser coibida com rigor, e a continuidade delitiva, que tanto abranda os rigores da lei. So adeptos desta corrente Damsio Evangelista de Jesus (1985, p. 682), Anibal Bruno (1956, p. 678), e Fernando Capez (2005, p. 487).Se se partir daquela concepo puramente objetiva, bastante freqente ser a aplicao da regra contida no art. 71 do Cdigo Penal em proveito dos autores das prticas extorsivas aqui debatidas, em caso de reiterao, posto que comumente se verificar a existncia de uma homogeneidade objetiva entre elas. J se se partir da concepo objetivo-subjetiva tambm apresentada, na grande maioria das vezes ter-se- como inaplicvel a regra em estudo aos autores daquelas prticas extorsivas reiteradas, que como delinqentes habituais, passaro a ser vistos como indignos da benesse. que via de regra, aquele que vier a reiterar-se na prtica das formas de extorso em tela dificilmente valer-se-, ao perpetrar cada conduta, das mesmas relaes e oportunidades. Cada um de seus crimes resultar, portanto, de impulsos volitivos autnomos. Considerando que, no mais das vezes, no h entre os sujeitos ativos e passivos destes crimes qualquer relao prvia (empregatcia, de amizade, amor, confiana etc.), no de se pensar que, em cada uma das prticas delituosas em questo o agente esteja a se aproveitar das mesmas relaes, de modo a indicar a existncia de uma unidade de desgnios. J tendo-se em conta que para a prtica das espcies de extorso ora abordadas basta que se tenha a disposio um aparelho telefnico, v-se que a todo tempo tem-se condio de levar a cabo tais delitos. No h falar-se, pois, no caso em testilha, no aproveitamento das mesmas oportunidades. Lamentavelmente as oportunidades necessrias para a prtica de tais delitos se do a todo momento, at mesmo para uma expressiva parcela da populao carcerria.Por fim, de se observar que, acaso se entenda pela configurao da continuidade delitiva nas hipteses em que se reiterar na prtica das espcies de extorso em foco, dever-se- observar, na fixao da pena, no a regra insculpida no caput do art. 71 do Cdigo Penal, e sim aquela de que trata o pargrafo nico desse mesmo dispositivo. Assim que, em vista da grave ameaa empregada nesses crimes, do fato de que eles so essencialmente dolosos e, em regra, dirigidos contra vtimas diferentes [01], no caso em anlise, ressalvado o disposto nos arts. 70, pargrafo nico [02], e 75 [03], ambos do Cdigo Penal, dever-se- aplicar a pena de apenas um dos crimes, e elev-la at o triplo, considerando, para tanto, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, os motivos que o conduziram prtica criminosa, e bem assim, s circunstanciais em que a mesma se deu.9. CONSIDERAES FINAISTudo aquilo que foi exposto diz respeito a apenas uma das novidades autctones surgidas no mundo do crime, o "disque-seqestro". H muitas outras que, a par daquela, hodiernamente vm assolando a populao brasileira. Tal o caso, por exemplo, das figuras popularmente conhecidas como "arrasto carioca" e "seqestro-relmpago". A verificao do constante surgimento de novas modalidades criminosas, sejam elas locais ou aliengenas, est a evidenciar o contnuo processo de evoluo pelo qual vem passando o "mundo do crime". Na medida em que se avana na eficincia das tcnicas persecutrias tendentes a coibir uma determinada prtica criminosa, surgem diversas outras, em um movimento que retrata a existncia de uma espcie de migrao dos delinqentes rumo a algo que seja igualmente lucrativo e menos arriscado. No obstante impreciso e insuficincia dos dados disponveis, um bom exemplo desse movimento migratrio pode ser verificado atravs da anlise da queda no nmero de extorses mediante seqestro propriamente ditas [04] registradas nos ltimos anos, e pelo paulatino aumento do nmero de "seqestros-relmpago" e extorses perpetradas atravs de um pseudo--seqestro ("disque-seqestro"). A Secretaria de Segurana Pblica de So Paulo, por exemplo, informa que entre o ano de 2001 e o de 2006 houve, naquele Estado, uma reduo de 59,9% no nmero de ocorrncias de tal modalidade de extorso (Disponvel em: http://www.ssp.sp.gov.br/estatisticas/; acesso em 09 de abril de 2007). J a do Rio de Janeiro informa uma reduo de 70% nesse mesmo perodo [05]. Por outro lado, na Cidade de Curitiba, por exemplo, de acordo com dados fornecidos pelo Ministrio Pblico do Estado do Paran (Disponvel em:http://celepar7cta.pr.gov.br/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d79 0046d022/f886bbf6997fae9903256f18005bd8aa?OpenDocument;acessado em 09/04/2007), entre julho e setembro de 2004, registrou-se um aumento de 275% no nmero de ocorrncias de "seqestro-relmpago", em relao com as mdias apuradas nos cinco meses anteriores. Apenas no ano de 2005, l foram formalmente registradas 3240 ocorrncias desse crime. J nos trs maiores estados brasileiros, So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, apenas no ano de 2006, foram registras sete mil setecentas e sete ocorrncias de "disque-seqestro".Diante dos dados apontados, surge uma indagao: Qual ser a causa daquela drstica queda do nmero de extorses mediante seqestro? Com certeza tal no se deveu ao advento da lei 8072/1990, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos, que tanto recrudesceu a resposta penal conferida aos autores desses delitos, porquanto entre o advento dessa norma (1990) e o ano de 2001, o nmero de registros desse crime s fez aumentar. Atravs de uma rpida consulta aos noticirios dos ltimos tempos, que no param de relatar o crescente sucesso da ao dos grupos policiais "anti-seqestro", e bem assim, a constante evoluo dos mesmos, tem-se a impresso de que essa queda deve ser atribuda muito mais evoluo das tcnicas policiais tendentes a coibir tal prtica criminosa, do que a qualquer outro fator. Tudo isso a evidenciar o acerto da mxima segundo a qual o que evita o crime no a severidade das penas impostas, e sim a certeza da punio. Por outro lado, tem-se a idia de que o aumento vertiginoso do nmero de aes conhecidas como "seqestros-relmpago" e "disque-seqestro" se deu em razo de uma nova escolha realizada pelos criminosos. Sem maiores pretenses de fundo estatsico [06] ou criminolgico [07], e at mesmo assumindo-se o risco de errar, advoga-se aqui a idia de que em razo das crescentes dificuldades enfrentadas para a realizao de uma extorso mediante seqestro propriamente dita, muitos delinqentes esto evitando se arriscar nessa audaciosa prtica, e optando pelas vias menos ousadas e tambm bastante lucrativas do "seqestro relmpago" e do "disque-seqestro". Acerca disso, observe-se que data a partir da qual se deu a queda no nmero de ocorrncias daquela prtica criminosa parece coincidir, de certa forma, com a do advento destas duas ltimas. Conforme j se mencionou, a reduo apontada comeou a ser verificada a partir do ano de 2002. Por outro lado, as primeiras ocorrncias de "seqestro relmpago" e "disque-seqestro" foram registradas, respectivamente, no final da dcada de noventa, e no ano de 2002. Verifica-se, desse modo, a existncia de uma espcie de dinmica do crime, regida por foras relacionadas maior ou menor possibilidade de punio. Quanto mais se avana no sentido de coibir determinada prtica criminosa, maior a tendncia de que seus autores contumazes rumem para alguma outra, que implique menores riscos de punio, e seja igualmente vantajosa. No h, pois, como se esperar que a "guerra contra o crime" tenha um fim. Sempre que o Estado vier a "vencer alguma batalha", logrando relativo xito na coibio de uma determinada prtica criminosa, tal e qual vem ocorrendo em relao extorso mediante seqestro, algumas outras surgiro, como caso do "disque-seqestro" e do "seqestro-relmpago". Tudo isso est a evidenciar a permanente necessidade de investimentos humanos e materiais nos rgos policiais, ministeriais e judiciais, pois que para acompanhar o ritmo de desenvolvimento das prticas criminosas, os mesmos precisaro se submeter a uma constante e acelerada evoluo. Por melhores que sejam as leis penais e processuais existentes, a deficincia que venha a ocorrer em qualquer desses trs elos do aparelho repressor estatal resultar na "perda de sucessivas batalhas".Guilherme Eugnio Rodriguesbacharel em Direito, assessor jurdico com atuao junto Vara da Fazenda Pblica da Comarca de Varginha (MG)XIV Discorra sobre o crime de Furto previsto no CP:FURTOO furto simples, ou em seu tipo fundamental, encontra-se definido pelo artigo 155: subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel. Assim, o agente retira da vtima coisa qualquer. JOS HENRIQUE PIERANGELI afirma que na doutrina h trs correntes sobre a tutela jurdica no delito de furto [02]. A primeira defende que a tutela apenas em relao propriedade da coisa. A segunda, que a tutela apenas em relao posse da coisa. E a terceira: a tutela jurdica se refere tanto posse como propriedade. H ainda, a nosso ver, uma quarta corrente, a qual admite que a tutela jurdica abarca a posse, a propriedade e a deteno da coisa. BITENCOURT escreve que, alm da posse e da propriedade da coisa, admite-se tambm "a prpria deteno como objeto da tutela penal, na medida em que us-lo, port-lo ou simplesmente ret-lo representa um bem para o possuidor ou detentor da coisa [03]". A adoo de cada tese implicar principalmente no entendimento acerca da consumao do crime em estudo.Acolhemos a quarta corrente, e entendemos que o crime se consumar mediante a subtrao e conseqente posse, direta ou indireta, propriedade ou deteno da coisa. H doutrina que afirma que a consumao se dar mediante a presena de dois elementos: subtrao e posse mansa e tranqila da coisa. Data maxima venia, discordamos integralmente da necessidade da tal posse mansa e tranqila da coisa, o legislador foi bem claro ao dizer que o crime de furto se d com a subtrao, para si ou para outrem, de coisa alheia mvel [04]. Note bem que as elementares esto bem claras: subtrair, coisa mvel alheia, para si ou para outrem; no faz o tipo penal qualquer outra exigncia.Basta, pois, o animus de subtrair a coisa, de modo que a posse, direta ou indireta, ou a propriedade sobre ela pode ter qualquer durao, mesmo que mnima, e, mesmo assim haver o delito. preciso notar que a subtrao tem de ser feita em relao a uma coisa. Assim, preciso que falemos acerca do momento consumativo do delito em epgrafe. BITENCOURT afirma que existem trs correntes: a) para ocorrer consumao, basta o deslocamento da coisa; b) para ocorrer consumao, preciso que a coisa seja afastada da esfera de vigilncia da vtima; c) para ocorrer consumao, necessria se faz a posse mansa e tranqila, mesmo que momentnea, da coisa [05]. Consideramos que o momento consumativo do delito de furto ocorrer quando o agente passa a, pelo menos, deter a coisa, como se sua prpria fosse [06]. H, pois, uma inverso ilcita da deteno, posse ou propriedade da coisa. CAPEZ lista algumas hipteses em que o delito de furto apresenta-se consumado: perda pelo agente do bem subtrado ( o caso em que o agente furta a coisa e, logo depois, a joga ao mar), priso em flagrante, subtrao de parte dos bens [07].Surge, ento, a questo da possibilidade da tentativa. Como se trata de delito material, a ilao de que a tentativa possvel. Vislumbramos um exemplo: Tcio, ao iniciar a execuo do furto da bicicleta de Caio, detido por Mlvio, vizinho de Caio. Isto : a tentativa ocorrer, haja vista que, por circunstncias alheias vontade de Tcio, o furto no se consumou. A doutrina pe outras situaes: produto com sistema antifurto, loja com fiscalizao de seguranas, coisa com dispositivo antifurto, punguista que enfia a mo no bolso errado da roupa da vtima [08].Situao interessante aquela em que o agente furta a coisa, mas logo em seguida a lana ao mar: entendemos que o furto j se consumou. Ora, o agente subtraiu, para si ou para outrem, coisa alheia mvel, ou seja, a situao ftica se adequou ao substrato normativo: ocorreu o furto. Em suma: a consumao se d com a subtrao, seja para que fim for, seja por quanto tempo durar, desde que a conseqncia seja a inverso da posse, direta ou indireta, ou da propriedade da coisa. Da que a coisa, para que se configure o furto, dever ser mvel. Necessrio se faz apresentar o conceito legal de bem mvel: so mveis os bens suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social, o que prescreve o artigo 82 do Cdigo Civil. Assim, fica clara a opo do legislador ao incluir o termo mvel como elementar do crime em epgrafe: se a coisa for imvel, a sua subtrao importar na alterao de sua substncia, de sua estrutura ou de sua destinao econmico-social [09]. Estabelece BITENCOURT que, para o direito penal, coisa mvel tem a seguinte conceituao: " todo e qualquer objeto passvel de deslocamento, de remoo, apreenso, apossamento ou transporte de um lugar para outro", ao que complementa: os imveis e os acessrios do imvel, somente se, por qualquer meio, forem mobilizados, podem ser objeto de furto [10]. De forma geral, as coisas passveis de furto so aquelas que so corpreas e materiais.Situao interessante a do furto de energia. Estabelece o artigo 155, 3, do Cdigo Penal: equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico. Ao que melhor dispe o artigo 83, I, do Cdigo Civil: consideram-se mveis para os efeitos legais as energias que tenham valor econmico. Portanto, enxergando-se o ordenamento jurdico como um todo, as energias que tenham valor econmico no devem mais ser equiparadas s coisas mveis, haja vista que a lei j as considera coisas mveis. So energias que tm valor econmico: energia eltrica, energia nuclear, gs (por tubulao ou embotijamento), energia trmica, energia solar, energia mecnica, energia gentica, energia intelectual exteriorizada, sinal de tv a cabo, dentre outros exemplos.Surge um primeiro caso: ocorrncia de furto de gua. H notcias de que o mesmo gato utilizado para furtar energia eltrica est sendo utilizado para furtar gua. O tipo penal, neste caso de gato de gua no o de furto, e sim o de usurpao de guas (artigo 161, 1, I): desviar ou represar, em proveito prprio ou de outrem, guas alheias [11].Outro caso aquele que se refere aos navios e s aeronaves. Os navios e as aeronaves no so bens imveis [12], e tambm no h que se falar que so equiparados a bens imveis quando sobre eles recai hipoteca: "hipoteca um direito real, que recai sobre imvel, navio ou aeronave, alheio, para garantir qualquer obrigao de ordem econmica [13]". Ora, h que se relembrar que a legislao atual prev a hipoteca naval e a hipoteca de aeronaves. Estabelece o artigo 1.473, VI e VII, do Cdigo Civil: podem ser objeto de hipoteca os navios e as aeronaves.Portanto, j temos trs elementares: subtrao de coisa e coisa mvel. Apresentamos a quarta: a coisa, alm de ser mvel, tem de ser alheia. Ora, se a coisa for prpria, o delito ser o de exerccio arbitrrio das prprias razes, previsto no artigo 346: tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa prpria, que se acha em poder de terceiro por determinao judicial ou conveno. O conceito de coisa alheia simples: coisa alheia toda coisa que pertence a outrem.Concordamos com NUCCI quando este argi que a coisa que tem um valor meramente pessoal para a vtima no deva ser considerada objeto material do crime de furto [14]. Ora, a proteo dada pelo Cdigo Penal gira em torno do patrimnio, ou seja, tudo aquilo que possui valor econmico, de modo que todas as outras coisas que, se subtradas, no gerem qualquer grau de reduo patrimonial para a vtima, no devem ser consideradas penalmente punveis, cabendo apenas sua discusso em sede cvel. Tambm no so abarcadas pelo Cdigo Penal as situaes que envolvam a subtrao de coisas abandonadas (res derelicta), de coisas que no pertenam a ningum (res nullius) e de coisas de uso comum (res commune omnium) como o sol e o ar, as quais no integram o patrimnio de vtima alguma.O cadver pode ser objeto material do crime em estudo caso tenha valor econmico e esteja na posse legtima de algum. Inexistindo valor econmico, sobre a conduta de subtrao de cadver por incidir o artigo 211: crime contra o respeito aos mortos. Caso se trate de coisas perdidas (res deperdita), estas, se subtradas, configuram o delito de apropriao, previsto no artigo 169, II.Na hiptese de coisas de valor nfimo, deve-se tomar bastante cuidado, para que no se confunda tal situao com aquela prevista no artigo 155, 2, em que a coisa deve ter pequeno valor [15]. Ora, no primeiro caso, trata-se da aplicao do princpio da insignificncia (ou da bagatela); no segundo, de causa de diminuio de pena [16] e isso faz uma imensa diferena. Pelo princpio da bagatela, infere-se que o direito penal no se ocupa de coisa de somenos importncia. Por exemplo: Tcio est em uma revendedora de automveis e, ao assinar o contrato com o revendedor Mlvio, utiliza-se da caneta deste, mas, pensando pertencer-lhe, coloca-a em seu bolso.Ento h que se falar no furto famlico, o qual constitui estado de necessidade do agente, o qual subtrai gneros alimentcios, os quais no representam qualquer acrscimo ao patrimnio do agente. o famoso caso apresentado na literatura mundial por Victor Hugo, em sua clebre obra Os Miserveis, em que Jean Valjean subtrai um po para saciar a prpria fome. A doutrina e a jurisprudncia esto acordes, pelo menos em sua grande maioria, pela no-punibilidade do furto famlico.Distinta situao aquela da causa de diminuio de pena, prevista no artigo 155, 2, que reproduzimos: se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. O pequeno valor a que se refere o dispositivo legal, deve ser entendido como o valor da coisa, e no o valor do prejuzo sofrido, haja vista que, quando o legislador quer considerar o valor do prejuzo, traz isso expresso, como se pode depreender do artigo 171, 1: se o criminoso primrio, e de pequeno valor o prejuzo. Assim, posiciona-se a corrente majoritria no sentido de que a coisa ser considerada de pequeno valor quando for inferior ao salrio mnimo vigente no pas no momento do delito [17].No caso do 2, para que o juiz, alternativamente, substitua a pena de recluso pela pena de deteno, ou diminua de um a dois teros a pena de recluso aplicada, ou ainda aplique apenas a pena de multa, preciso que a equao prevista no dispositivo esteja completa. Portanto, o magistrado deve aplicar a diminuio, cabendo-lhe escolher apenas o modo de diminuio, desde que presentes duas variveis: a coisa subtrada ser de pequeno valor e o criminoso ser primrio.Infere-se o conceito de primrio negativamente: primrio aquele que no reincidente. A reincidncia tratada pelo artigo 63: verifica-se a reincidncia quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentena que, no Pas ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. De verificar-se que no se confunde a reincidncia com os maus antecedentes, de modo que se o criminoso primrio, e tem maus antecedentes, haver incidncia do artigo 155, 2, desde que presente, tambm, o outro requisito.H, tambm, alm da previso de causas de diminuio, a previso de causa de aumento, a qual perfeitamente aplicvel em concomitncia com aquela [18]. Por exemplo: se o criminoso primrio, subtrai, durante o perodo de repouso noturno, coisa de pequeno valor econmico, o juiz dever aumentar a pena de um tero e, simultaneamente, aplicar uma diminuio de pena, como a substituio da pena de recluso pela pena de deteno.H que reproduzir a regra do 1: a pena aumenta-se de um tero, se o crime praticado durante o repouso noturno. Repouso noturno no uma sinonmia de noite, trata-se de um elemento normativo do tipo, que vai incidir de acordo com as circunstncias do caso concreto. Vale reproduzir a lio de MAGALHES NORONHA, para o qual perodo de repouso noturno aquele em que "a vida das cidades e dos campos desaparece, em que seus habitantes se retiram, e as ruas e as estradas se despovoam [19]". O aumento da pena vlido, haja vista a diminuio da vigilncia e dos meios de defesa daqueles que se encontram recolhidos noite para repouso, mesmo que no estejam dormindo, de modo que a menor vigilncia facilita o cometimento do delito de furto. No consideramos, entretanto, o argumento de que aquele que comete o delito em estudo durante o perodo de repouso noturno merea maior reprovabilidade. Ora, no foi essa a inteno do legislador ao prever tal causa de aumento de pena, isto porque, a legislao no surge da cabea do legislador, e sim a partir de exemplos sociais concretos, e patente que os crimes mais graves e cruis esto sendo praticados luz do dia: a temibilidade maior, por bvio, em relao queles que praticam crimes luz do dia, em que o movimento maior, assim como o policiamento [20].Por fim, a quinta elementar: a subtrao de coisa mvel alheia tem de ser efetuada para o prprio agente ou para outrem. Tal elementar traduz o desejo de o agente tomar posse ou tornar-se proprietrio, mesmo que ilegitimamente, da coisa alheia: , portanto, dolo especfico, ou seja, vontade que o agente tem de subtrair coisa que no lhe pertence para proveito prprio ou de terceiro [21]. Com essa ltima elementar, fica auferido o elemento subjetivo do tipo delitual de furto: o dolo. Portanto, h o dolo geral, que o animus de subtrair, e h o dolo especfico, que o animus de subtrair para si ou para outrem, ou seja, deteno, posse (direta ou indireta) e propriedade ilegtima.H uma situao interessante: o furto de uso, o qual consiste na retirada, pelo agente, para si ou para outrem, de coisa mvel alheia, para, ao depois, restitu-la ao proprietrio ou possuidor. H duas correntes: uma defende que o furto de uso fato atpico e outra que o furto de uso fato tpico. LUIZ RGIS PRADO destaca que o legislador perdeu a oportunidade de tipificar o furto de uso, haja vista que um comportamento de certo modo contumaz [22] e que tem recebido a devida ateno pelas legislaes modernas [23].O furto de uso ocorre quando o agente subtrai, indevidamente, coisa alheia mvel infungvel, a fim de a utilizar momentaneamente, restituindo-a, ao depois, na ntegra, vtima. Como sabido, o delito de furto apresenta dois tipos de dolo, o dolo genrico, que o de subtrair, e o dolo especfico, que o de pelo menos ter a deteno definitiva sobre a coisa. preciso, pois, que esteja presente o animus sibi habendi ou animus furandi, o qual no se faz presente no conhecido furto de uso [24].Somos levados a concordar com o posicionamento majoritrio da doutrina, a qual h de concordar que o legislador quis ser omisso em relao tipificao do furto de uso, haja vista que o natimorto Cdigo Penal de 1969 tipificava tal conduta: se a coisa no fungvel subtrada para fim de uso momentneo e, a seguir, vem a ser imediatamente restituda ou reposta no lugar onde se achava: Pena deteno, at 6 (seis) meses, ou pagamento no excedente a 30 (trinta) dias-multa. Apesar da falha do legislador, temos de considerar a ausncia de animus furandi na conduta daquele que subtrai coisa mvel alheia para uso temporrio e logo a restitui, integralmente, ao sujeito passivo.Assim, para que o furto de uso no seja tido como furto simples, preciso que a coisa seja mvel, alheia e infungvel; que a coisa seja integral e rapidamente devolvida ao sujeito passivo; que a coisa seja devolvida sem qualquer dano; que a devoluo ocorra antes de a vtima dar-se conta da subtrao; e que o agente tenha o fim exclusivo de uso. Portanto, assim podemos definir o furto de uso: subtrair coisa alheia mvel infungvel, para exclusivo uso temporrio, devolvendo-a, sem qualquer dano e tal qual se encontrava, ao seu real detentor, possuidor ou dono.Diferente da situao apresentada acima o erro de tipo. Quando o agente, por erro, toma posse de objeto alheio, supondo ser seu, h o erro de tipo, de modo que no h dolo e o fato reputa-se atpico. Note que no h o preenchimento das seguintes elementares: subtrair e para si ou para outrem, ou seja, inexiste o dolo especfico. Figuremos um exemplo: Tcio est sentado na sala de aula e deixa seu guarda-chuva ao lado do guarda-chuva, o qual muito parecido com o seu, de Mlvio; ao sair, Mlvio, por achar que pegava o seu guarda-chuva, pegou o de Tcio. H que se observar que o erro de tipo s se faz possvel e exclui a tipicidade do crime porque no h a previso de furto culposo. Se houvesse furto culposo, Mlvio teria agido com culpa (impercia, imprudncia ou negligncia), enquadrando-se perfeitamente a sua ao no tipo penal previsto na norma se houvesse tal hiptese.Assim, a subtrao, para si ou para outrem, de coisa mvel e alheia, tipificada pelo Cdigo Penal como crime de furto simples. A pena cominada em abstrato de recluso de um a quatro anos cumulativamente com multa. Qualifica-se o furto nos termos dos 4 e 5. Crime qualificado, vale esclarecer, aquele em que a pena prevista em abstrato para o tipo simples sofre dilao, aumentando-se.De acordo com a redao do 4, temos que a pena em abstrato ser de recluso de dois a oito anos, cumulativa com multa, caso a subtrao de coisa alheia mvel, para si ou para outrem, seja cometida com algum dos seguintes meios:Destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa. Destruir aniquilar algo; romper faz-lo em pedaos, estrag-lo; obstculo aquilo que dificulta ou impede o acesso coisa. Vamos estabelecer casos concretos: 1) Tcio quebra vidro do carro de Mlvio para subtrair o toca-fitas; 2) Tcio quebra vidro do carro de Mlvio para subtrair o carro. No primeiro caso, quebra-se o vidro para roubar o toca-fitas, de modo que incide a qualificadora, haja vista que foi destrudo obstculo para que a coisa fosse subtrada. No segundo caso, quebra-se o vidro para roubar o carro, de modo que no incide a qualificadora, posto que foi destruda parte da coisa, para que a mesma fosse subtrada. Entendemos que, no caso, incide, no a qualificadora do inciso I, e sim a qualificadora do inciso II (destreza).Abuso de confiana. Confiana no se presume, e sim se adquire com o tempo, com o relacionamento. Haver abuso sempre que o agente, utilizando-se da credibilidade que lhe dada por determinada pessoa, extrapola e viola o sentimento de segurana estabelecido com esta pessoa. Quando no h a credibilidade, no h se falar na incidncia da qualificadora. NUCCI entende que preciso que seja analisada a forma de contratao: o empregador que contrata algum com base em referncias, tomando todas as cautelas possveis e buscando uma relao de confiana; cometida subtrao, incidir a qualificadora [25].No h que se confundir a figura tpica de furto qualificado por abuso de confiana com o delito de apropriao indbita. No caso em estudo, o agente, valendo-se da credibilidade que possui face vtima, aproveita-se, da ausncia desta, para retirar-lhe objeto ou seja, o agente age sem o consentimento da vtima. No caso do artigo 168 (apropriao indbita), a participao da vtima fundamental, de modo que ela confia no agente, transferindo licitamente a posse da coisa a este, o qual passa a agir como se dono dela fosse.Mediante fraude. Fraude aquela manobra consistente em iludir algum, de modo a fazer com que a vtima incorra em engano. Exemplo bastante conhecido de fraude aquele em que o agente, passando-se por funcionrio de determinada drogaria, entra em edifcio, mediante o consentimento do porteiro, o qual foi ludibriado, e subtrai pertences de um dos moradores.No se pode confundir a forma qualificada de furto mediante fraude com o delito de estelionato, previsto no artigo 171 do Cdigo Penal. Apesar de ambos fundarem-se na fraude, no estelionato a participao da vtima imprescindvel, enquanto que no furto mediante fraude a no participao da vtima que imprescindvel, ou seja, o agente age sem o conhecimento da vtima.Mediante escalada. Escalada ter acesso anormal a um lugar por via anormal. No se trata da escalada em sentido estrito, isto : subir ou galgar alguma coisa; pode-se passar por uma galeria subterrnea, utilizar uma escada ou uma corda, passar pelo esgoto, dentre outras possibilidades. O exemplo mais comum o do famoso homem-aranha, o qual furta as pessoas escalando prdios. Outro exemplo o do j famoso, no Brasil, furto ao Banco Central de Fortaleza, em que os criminosos utilizaram-se de um tnel para chegar ao cofre do banco.Mediante destreza. Destreza uma habilidade incomum, peculiar. O exemplo clssico o do punguista (batedor de carteira), o qual consegue, sem que a vtima perceba, retirar-lhe a carteira. Importante estabelecer que caso a vtima note que est sendo furtada, no h que se falar na incidncia da qualificadora.Com emprego de chave falsa. Chave falsa qualquer instrumento utilizado para abrir fechaduras ou para fazer com que determinados aparelhos funcionem. A denominada chave falsa no tem de ter o aspecto de chave. Assim, configuram-se como chave falsa: a chave cpia da verdadeira, a chave mestra e a gazua. A doutrina muito discute se a chave verdadeira, perdida ou obtida mediante fraude, poderia ser considerada chave falsa. Entendemos que aquele que subtrai a chave verdadeira no tem sobre sua ao a incidncia da qualificadora, haja vista que no se trata de chave falsa, e sim da verdadeira [26].Mediante concurso de duas ou mais pessoas. Est abrangida tanto a co-autoria quanto a participao, de modo que no importa o modo como o agente concorre para a produo do resultado criminoso, havendo a incidncia da qualificadora em qualquer caso. A doutrina majoritria e o Supremo Tribunal Federal zelam pela necessidade de os agentes (sejam co-autores, sejam partcipes) encontrarem-se no local do crime. CAPEZ assim escreve: "argumenta-se na jurisprudncia que se a execuo material do delito feita apenas por uma pessoa, embora outras estejam envolvidas, a possibilidade de defesa da res a mesma do furto simples [27]".H que se observar que, em regra, o delito de furto monossubjetivo, no sendo necessria a participao de mais de uma pessoa, ou seja, o concurso eventual. A razo de ser da qualificadora a da maior reprovabilidade, seja o crime cometido com co-autoria