questões de literatura para simulado (ii) - copia

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Questões de literatura para simulado 1) A estrofe que NÃO apresenta elementos típicos da produção poética de Augusto dos Anjos é: a) Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. b) Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja a mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! c) Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. d) Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo… Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! e) Agregado infeliz de sangue e cal, Fruto rubro de carne agonizante, Filho da grande força fecundante De minha brônzea trama neuronial. 2) Leia o poema abaixo e responda à questão. TERESA A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas. Manuel Bandeira Sobre o poema acima, podemos dizer que todas as opções são corretas, EXCETO a que afirma que o texto de Bandeira:

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Questões de Literatura Para Simulado (II) - Copia

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Page 1: Questões de Literatura Para Simulado (II) - Copia

Questões de literatura para simulado

1) A estrofe que NÃO apresenta elementos típicos da produção poética de Augusto dos Anjos é:

a) Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.

b) Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja a mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

c) Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

d) Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo… Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!

e) Agregado infeliz de sangue e cal, Fruto rubro de carne agonizante, Filho da grande força fecundante De minha brônzea trama neuronial.

2) Leia o poema abaixo e responda à questão.TERESAA primeira vez que vi TeresaAchei que ela tinha pernas estúpidasAchei também que a cara parecia uma pernaQuando vi Teresa de novoAchei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)Da terceira vez não vi mais nadaOs céus se misturaram com a terraE o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Manuel BandeiraSobre o poema acima, podemos dizer que todas as opções são corretas, EXCETO a que afirma que o texto de Bandeira:

a) dessacraliza a poesia romântica.b) expressa o modo infantil com que o autor vê a realidade. c) adota estruturas métricas anticonvencionais.d) trata o amor de uma forma inusitada.e) faz o tempo psicológico não correspondente ao tempo real.

3) “Não há temas poéticos. Não há épocas poéticas. O que realmente existe é o subconsciente enviando à inteligência telegramas e mais telegramas (...) A inspiração parece um telegrama cifrado, que a atividade inconsciente envia à atividade consciente, que o traduz.”

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Esse trecho, de importante ensaio de___________, revela nítida semelhança com as propostas de um dos movimentos de vanguarda europeu,____________.

a) Oswald de Andrade - o futurismob) Graça Aranha - o cubismoc) Haroldo de Campos - o concretismod) Mário de Andrade - o surrealismoe) Décio Pignatari - a poesia Práxis

4) Leia os dois textos abaixo.TEXTO I Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.

TEXTO II Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água doce por lá. Nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e começou falando como todos. E pediu pra mãe que largasse a mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. A mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. Ele choramingou dia inteiro.

(Texto com adaptações.)

Considere as seguintes afirmações acerca desses textos. I. Os dois textos são descritivos: no Texto I predomina a descrição estática, de traços físicos da personagem; no texto II predomina a descrição dinâmica, de ações que caracterizam a personagem. II. Identifica-se o texto I como produto do Romantismo, especialmente pelo traço de idealização do herói exposto na linguagem. III. As marcas de estilo presentes no texto II são próprias do Modernismo: imitação do linguajar coloquial, palavras e construções da língua popular.

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IV. O resgate da temática indianista está presente nos dois textos, com o mesmo tratamento, prestigiando o elemento local e adotando igual ponto de vista na composição da singular identidade do homem brasileiro.

Deve-se concluir que estão corretas as afirmações: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II, III e IV apenas. e) I, II, III e IV.

5) Leia atentamente o texto abaixo e responda a questão.Ficávamos sonhando horas inteiras, Com os olhos cheios de visões piedosas: Éramos duas virginais palmeiras, Abrindo ao céu as palmas silenciosas.

As nossas almas, brancas, forasteiras, No éter sublime alavam-se radiosas. Ao redor de nós dois, quantas roseiras… O áureo poente coroava-nos de rosas.

Era um arpejo de harpa todo o espaço: Mirava-a longamente, traço a traço, No seu fulgor de arcanjo proibido.

Surgia a lua, além, toda de cera… Ai como suave então me parecera A voz do amor que eu nunca tinha ouvido!

Alphonsus de Guimaraens

O texto exemplifica o seguinte princípio estético: a) Sempre haverá uma poesia popular sem arte, e poetas populares sem apuro gramatical

e métrico, versejando com o falar da gente rústica. b) ...jamais se deve arriscar o emprego de qualquer locução ambígua; sigo, como de

costume, na esteira de Quintiliano (…) c) Movimento de oposição à ordem estabelecida do Iluminismo, reúne um grupo de

escritores para o qual o “gênio” se torna a palavra de ordem capaz de possibilitar a rejeição à disciplina e à tradição importada.

d) A busca de vagas sensações, dos estados indefinidos de alma, fazendo que a poesia se aproxime da música, tem como intuito “traduzir” um mundo de essências, um mais além, ora conhecido como o Ideal, ora como o Mistério, intraduzível por si mesmo.

e) Porém declaro desde já que não olhei regras nem princípios, que não consultei Horácio nem Aristóteles, mas fui insensivelmente depós o coração e os sentimentos da Natureza, que não pelos cálculos da arte e operações combinadas do espírito.

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Gabarito1-DEssa estrofe pertence ao poema “Lembrança de morrer” (“Quando em meu peito rebentar-se a fibra \ que o espírito enlaça à dor vivente”) do poeta romântico Álvares de Azevedo. A exacerbação da sentimentalidade e a morbidez estão entre os temas que definem sua poesia, também designada por “ultrarromântica”. Na obra de Álvares de Azevedo, é comum encontrar expressões que transportam o leitor para um universo mórbido e depressivo, características que estabelecem certo dialogismo com a poética de Augusto dos Anjos. Contudo, na obra de Augusto dos Anjos não há a idealização do amor, tampouco a idealização da figura feminina conforme observamos nos versos do poema “Lembrança de morrer”. As demais estrofes são dos poemas “Psicologia de um vencido” (a), “Versos íntimos” (b), “O morcego” (c), “Soneto” com dedicatória “Ao meu primeiro filho nascido morto” (e).

2-ETodas as demais alternativas aplicam-se ao poema de Bandeira. A série de poemas, do livro Libertinagem (1930), envolvendo a personagem Teresa costumam aludir ironicamente à poesia romântica. Vale lembrar que “Teresa” mantém relações intertextuais com conhecido poema de Castro Alves (“A vez primeira que eu fitei Teresa \ Como as plantas que arrasta a correnteza, \ A valsa nos levou nos giros seus”, em “O ‘adeus’ de Teresa”). A forma expressiva adotada remete tanto à coloquialidade como indica a infantilidade (a pureza, nesse sentido) do sentimento e das três cenas de encontro com Teresa. Também a métrica do poema não é fixa. O que não se pode dizer do poema é que há uma dissimetria entre o tempo psicológico e o real: cada encontro (real) provoca uma impressão psicológica própria, que se lhe associa de imediato – de início, o estranhamento (“a cara parecia uma perna”), então uma atenção dedicada (“os olhos eram muito mais velhos”) e, por fim, a capitulação amorosa (“não vi mais nada”).

3-DO trecho é de “A Escrava que Não É Isaura”, de Mário de Andrade, e a concepção aí apresentada sobre o processo de criação artística associa-se à do surrealismo.

4-AA descrição dinâmica é aquela em que se sugerem as características da personagem através de verbos de ação, não fazendo, no entanto, essas pequenas narrativas parte do enredo. Assim, a afirmativa I está correta. Quanto à afirmativa II, o texto é um excerto introdutório do quarto capítulo d’O Guarani, de José de Alencar. O texto 2, mencionado na afirmativa III, é de Macunaíma, de Mário de Andrade, cuja poética pode ser descrita nos termos da aproximação da linguagem literária à coloquial. A afirmativa IV é precisamente o ponto em que divergem Modernismo e Romantismo, isto é, quanto à figura do índio, sendo assim falsa.

5-DAlternativa (a) foi extraído de uma conferência proferida por Olavo Bilac, em que o autor confronta a poesia popular àquela elaborada pelos Parnasianos. A alternativa (b) refere-se à obediência à tradição retórica (de Quintiliano) e à necessidade de se exprimir com clareza, o que vai de encontro à poética simbolista exemplificada pelo poema. A alternativa (c) refere-se ao romantismo e à estética do gênio em harmonia com o espírito do povo. A alternativa (e) apresenta excerto do prefácio de Almeida Garrett ao seu poema Camões.