questão socioambiental, cultura política e cidadania no brasil

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Questão Socioambiental, Cultura Política e Cidadania no Brasil *Benilson Borinelli **Fabio Lanza *Professor da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Administração, Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP – E-mail: [email protected] **Professor da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Ciências Sociais, Doutor em Ciências Sociais, pela PUC-SP – E-mail: [email protected] RESUMO: O artigo apresenta como objetivo, a partir dos resultados da pesquisa bibliográfica, destacar aspectos da cultura brasileira, presentes nas relações com o meio ambiente, que impedem a constituição de sujeitos para uma gestão pública dos recursos ambientais. A trajetória histórica da cultura política brasileira, com suas peculiaridades, apresenta barreiras e problemas para a consolidação da cidadania e a gestão democrática do meio ambiente. A democracia e o meio ambiente são faces da totalidade da vida social em que a desigualdade ambiental - o acesso aos recursos e serviços naturais - está entrelaçada com a desigualdade social, política e econômica. O desafio a todos, presente no projeto ecologista, é de forma ética e política evitar a pilhagem socioambiental do futuro, da utopia. A relação entre cultura, política e a questão ambiental indica a necessidade de uma politização das formas de percepção da apropriação dos recursos naturais, sem que qualquer projeto de sociedade sustentável e justa desapareça do horizonte utópico. PALAVRAS CHAVE: Questão Socioambiental, Cultura Política Brasileira, Cidadania, Estado, Meio Ambiente. ABSTRACT: The purpose of this paper is to emphasize aspects of the Brazilian culture that are present in the relations with the environment that hinder the constitution of subjects for a public management of environmental resources, based on the results of the bibliographical research. The Brazilian political culture history, with its singularities, presents barriers and problems for the consolidation of citizenship as well as for the democratic management of the environment. The democracy and the environment are sides of the social life totality in which the environmental inequality, the access to resources and natural services, is interwoven with the social, political and economical inequality. The challenge to everyone, present in the ecological project, is to avoid in an ethical and political way, the socio-environmental depredation of the future, of the utopia. The relation between culture, politics and the environmental issue shows that the need of politization of the perception forms of the natural resources appropriation, with no risk of any project of a sustainable and fair society disappearing of the utopian horizon. KEY WORDS: Socio-environmental issue, Brazilian political culture, Citizenship, State, Environment. Introdução O objetivo deste artigo é destacar traços da cultura brasileira, presentes nas relações com o meio ambiente, que impedem a constituição de sujeitos para uma gestão pública dos recursos ambientais. Trata-se, sobretudo e inicialmente, de perceber a cultura política e sua relação com o Estado como um problema para a gestão democrática do meio ambiente e das políticas

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Questão Socioambiental, Cultura Política e Cidadania no Brasil*Benilson Borinelli

**Fabio Lanza*Professor da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Administração, Doutor em Ciências

Sociais pela UNICAMP – E-mail: [email protected]**Professor da Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Ciências Sociais, Doutor em

Ciências Sociais, pela PUC-SP – E-mail: [email protected]

RESUMO:

O artigo apresenta como objetivo, a partir dos resultados da pesquisa bibliográfica, destacar aspectos da cultura brasileira, presentes nas relações com o meio ambiente, que impedem a constituição de sujeitos para uma gestão pública dos recursos ambientais. A trajetória histórica da cultura política brasileira, com suas peculiaridades, apresenta barreiras e problemas para a consolidação da cidadania e a gestão democrática do meio ambiente. A democracia e o meio ambiente são faces da totalidade da vida social em que a desigualdade ambiental - o acesso aos recursos e serviços naturais - está entrelaçada com a desigualdade social, política e econômica. O desafio a todos, presente no projeto ecologista, é de forma ética e política evitar a pilhagem socioambiental do futuro, da utopia. A relação entre cultura, política e a questão ambiental indica a necessidade de uma politização das formas de percepção da apropriação dos recursos naturais, sem que qualquer projeto de sociedade sustentável e justa desapareça do horizonte utópico.

PALAVRAS CHAVE: Questão Socioambiental, Cultura Política Brasileira, Cidadania, Estado, Meio Ambiente.

ABSTRACT: The purpose of this paper is to emphasize aspects of the Brazilian culture that are present in the relations with the environment that hinder the constitution of subjects for a public management of environmental resources, based on the results of the bibliographical research. The Brazilian political culture history, with its singularities, presents barriers and problems for the consolidation of citizenship as well as for the democratic management of the environment. The democracy and the environment are sides of the social life totality in which the environmental inequality, the access to resources and natural services, is interwoven with the social, political and economical inequality. The challenge to everyone, present in the ecological project, is to avoid in an ethical and political way, the socio-environmental depredation of the future, of the utopia. The relation between culture, politics and the environmental issue shows that the need of politization of the perception forms of the natural resources appropriation, with no risk of any project of a sustainable and fair society disappearing of the utopian horizon.

KEY WORDS: Socio-environmental issue, Brazilian political culture, Citizenship, State, Environment.

Introdução

O objetivo deste artigo é destacar traços da cultura brasileira, presentes nas relações com o meio ambiente, que impedem a constituição de sujeitos para uma gestão pública dos recursos ambientais. Trata-se, sobretudo e inicialmente, de perceber a cultura política e sua relação com o Estado como um problema para a gestão democrática do meio ambiente e das políticas

públicas envolvidas na temática, inclusive para a consolidação da cidadania no Brasil. O nosso intento foi, antes de tudo, esboçar um inventário que recupere áreas descartadas, ou desagravos das interpretações redutivas e seletivas (WILLIANS, 1979) da tradição dominante sobre a apropriação dos recursos naturais.

A relação entre democracia e meio ambiente exprime uma face da totalidade da vida social em que a desigualdade ambiental - o acesso aos recursos e serviços naturais - está entrelaçada com a desigualdade social, política e econômica, sendo, contudo, mais ampla e profunda com relação às mudanças implicadas. Por seu caráter essencial à vida humana em certas condições de oferta, os recursos naturais são por excelência públicos e de uso comum, porém também finitos no tempo e no espaço. Sua escassez natural ou socialmente definida é de interesse coletivo, pois expressa as possibilidades e formas de vida no presente e no futuro de vida em sociedade. É por meio da cultura que essas possibilidades e formas de interação entre a sociedade e a natureza podem ser conhecidas, criticadas e transformadas no que diz respeito ao acesso, preservação e uso destes recursos como formas de poder social.

Este trabalho, de caráter bibliográfico, está dividido em três partes. A primeira apresenta alguns traços relacionados a duas instituições e práticas tradicionais da cultura política brasileira: a questão da terra e o patrimonialismo, a partir de contribuições de autores como Leal (1975), Buarque de Holanda (1973), Telles (1994), Schwartzman (1982). Em seguida, são descritas algumas implicações destes e de outros traços “modernos” enquanto constrangimentos para a gestão pública e democrática dos recursos naturais. Na última parte, a discussão contribui para a formulação de uma contra-hegemonia, e o conceito de cultura ecológica e outros são delineados (LEFF, 2001; MARTÍNEZ ALIER, 1998; SZACHI, 1972).

A Sociedade e as Relações que se Estabelem a Partir da Cultura

Cada sociedade é marcada por uma cultura política dominante. É a construção social particular em cada sociedade do que conta como “político”, “é o domínio de práticas e instituições, retiradas da totalidade social, que historicamente vêm a ser consideradas como propriamente políticas (da mesma forma que outros domínios são vistos como propriamente ‘econômicos’, ‘culturais’, e ‘sociais’)”. (ALVAREZ, DAGNINO, ESCOBAR, 2000, p.25).

Na América Latina formou-se historicamente uma cultura política híbrida e contraditória. Princípios de origem européia e norte-americana como o universalismo, racionalismo e individualismo vão sendo incorporados nas culturas nacionais como respostas às injunções exógenas, sem mudar sua feição concreta. Assim, estes princípios convivem formal e subordinadamente com outros de uma ordem autoritária, garantidores da exclusão social em sociedades extremamente hierarquizadas e injustas. A partir dos debates sobre cultura política, é possível destacá-la como

[...] os valores políticos que provêm a base do discurso e das ideologias políticas como da prática política. Os valores políticos são orientações básicas, que determinam as formas de compreensão da realidade; estão incorporados ao discurso político e ao estilo da prática política (VIOLA; MAINWARING, 1987, p.107).

A cultura política, como advertem os autores, é interpretada historicamente e considera a dimensão sócioeconômica, destacando o seu potencial para o desenvolvimento ou para a erosão dos valores democráticos numa conjuntura particular. Desta forma, esses autores tentam romper com as abordagens lineares, “etapistas” ou que atribuem certos traços

específicos como inerentes a uma tradição. Referem-se especificamente às versões instrumentalistas da cultura política presente na teoria da modernização dos anos 60 do século XX, que se fundavam basicamente nas atitudes políticas expressas verbalmente e nas escolhas individuais de atores autônomos.

É importante destacar este caráter contraditório e dinâmico da cultura, que lhe atribui uma nuança de tensão permanente e onde continuamente possibilidades são criadas ou inviabilizadas (WILLIANS, 1979). Constitui uma operação seletiva na qual determinadas forças sociais organizam-se para manter ao longo da história, sob diferentes formas, práticas e instituições que assegurem sua dominação, contra iniciativas insurgentes fundadas nas contradições, no caso deste trabalho, sociais e ambientais. É a partir deste ângulo que devemos olhar as lutas dos movimentos sociais latino-americanos nas últimas duas décadas para redefinir e ampliar o universo e o imaginário político na região.

O meio ambiente é a base natural – o ar, a água, o solo, os minerais, a flora e a fauna - sobre a qual se estruturam as sociedades humanas. É a partir deste suporte físico, químico e biótico que as sociedades travam uma relação de troca com a natureza, mediada pela cultura, a qual designa formas particulares de reprodução de sua organização social. Quando nos referirmos a terra neste estudo, estaremos pensando nesta base natural, a partir da qual relações sociais, econômicas, políticas específicas se desenvolvem numa cultura que, ao mesmo tempo, atribui um valor e uso para esta base natural.

Assim, é possível afirmar que a organização cultural regula a articulação entre processos ecológicos e processos históricos. De um modo amplo, a materialidade da cultura inscreve-se na racionalidade produtiva das sociedades gerando um efeito mediador entre a estrutura econômica e social e o meio ambiente (LEFF, 2001).

Este caráter mediador da cultura permite vê-la como um instrumento analítico para perceber de que forma certos processos históricos impactam os processos ecológicos, constituindo formas predominantes de representação política e de direitos sobre a apropriação e uso dos recursos naturais. No caso brasileiro, como veremos a seguir, estas formas predominantes de apropriação dos recursos naturais foram criadas, mantidas e remodeladas ao longo de sua história, conservando sempre uma índole centralizadora, concentradora e predatória. Índole esta igual e largamente disseminada nas relações sociais e garantida nas relações políticas estabelecidas pelo Estado, tendo em vista que foram “séculos de colônia, dezenas de anos sob o Império escravocrata, outras décadas sob as Oligarquias da República Velha, sucedida pela ditadura de Vargas. Em seguida o populismo, culminando em vinte anos de Ditadura Militar, que desembocaram nos governos Sarney e Collor, cômicos se não fossem trágicos”. (RIDENTI, 1992, p. 1).

Traços da Cultura Brasileira

A opção pelo estudo da questão da terra e do patrimonialismo foi feita na medida em que são pensados como formas histórico-culturais representativas, ao mesmo tempo, de uma base material de apropriação de recursos naturais e sua correspondente lógica de dominação política. Além disso, são elementos ativos de uma tradição dominante e, portanto, expressão de suas contradições e vulnerabilidades uma vez em que se acham sempre ligados às explícitas pressões e limites contemporâneos (PAOLI, TELLES, 2000).

Questão da Terra

A questão agrária no Brasil e na América Latina é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento econômico, social, político e ético, ou em outras palavras, ao exercício pleno da cidadania. Encontram-se vinculadas a ela instituições e práticas que valorizaram o monopólio da terra e a exploração do trabalho.

A questão da terra será abordada aqui em sua função de dominação e nas prováveis implicações desta sobre as noções de propriedade e responsabilidade coletiva pelos recursos naturais. Quanto ao domínio territorial que caracterizou a formação da estrutura social, política e econômica do Brasil, cabe destacar as duas faces do caráter predador da colonização ibérica: sobre os recursos naturais e sobre as pessoas.

Desde os primeiros momentos da colonização, é possível observar dois pólos contraditórios de pensamentos sobre a relação com a natureza: uma celebração puramente retórica de um lado, e uma realidade de devastação impiedosa do outro (PÁDUA, 1987, p.20)1. Estes pólos refletiam tanto as preocupações renascentistas com o alargamento dos horizontes do saber como o sentido político e econômico que as novas terras assumiram no jogo de forças do sistema econômico mercantilista mundial. Incorporado a este sistema como fornecedor de matérias primas naturais, o Brasil manteve sob diferentes formas esta condição até os dias atuais com a intensificação da degradação ambiental e do tecido social.

Contudo, a vigência de um caráter predador na apropriação dos recursos naturais não se deveu apenas às formas de funcionamento do sistema econômico mercantilista, mas também às características da colonização e aos elementos culturais ibéricos.

Sérgio Buarque de Holanda, entre outros autores (LEAL,1997; LINHARES e SILVA,1999; PÁDUA, 1986; DEAN, 1996), defende a tese de que a exploração dos trópicos pelos portugueses não seria feita segundo uma lógica metódica e racional, mas com abandono e desleixo, lógica esta expressa na predominância do tipo ideal do aventureiro2.

Repetia-se mais uma vez o ciclo normal das atividades produtivas no Brasil. A uma fase de intensa e rápida de prosperidade seguia-se outra de estagnação e decadência. Já se vira isso, sem contar o longínquo do caso do Pau-Brasil, na lavoura de cana-de-açúcar e do algodão do Norte e nas minas de ouro e diamante no Centro-Sul. A causa é sempre semelhante: o acelerado esgotamento das reservas naturais por um sistema descuidado e extensivo.” (PRADO JÚNIOR, 1979, p. 25)

José Murilo de Carvalho (2001) afirmou que o mundo rural é o último bastião do poder privado e da negação de direitos, descrevendo este mundo como o fundo de um poço secular de opressão, de humilhação, de violação de todos os tipos de direitos. “Nós nunca fizemos um corte radical com o passado no que se refere à estrutura social. Tudo muda menos a 1 A exploração predatória e irracional dos recursos naturais no Brasil foi objeto da crítica de pensadores liberais do século XIX como José Bonifácio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Euclides da Cunha, que defendiam a modernização do país via a instauração de uma civilização urbano industrial. Alberto Torres, nas primeiras décadas de século XX, a partir de uma crítica mais aguda à subordinação do Brasil às potências internacionais, pregava um modelo alternativo e autônomo de desenvolvimento nacional. Após a década de 20, Caio Prado Junior e Nelson Werneck Sodré fizeram a crítica à degradação ambiental na perspectiva do “nacionalismo modernizador”. (PÁDUA, 1986). 2 Reis (2001, p.125) descreve assim o aventureiro de Buarque de Holanda: “O objetivo final é mais importante do que os meios, seu ideal é colher frutos sem plantar a árvore. Ele ignora fronteiras, é espaçoso, invasor, ladrão, aceita riscos, ignora obstáculos, (...) quer recompensa sem esforço (...) não visa a estabilidade, à paz, a segurança pessoal.”

desigualdade. O modo de apropriação dos recursos naturais instaurado e perpetuado no Brasil vem sendo predador também nas relações sociais que engendra, tido como uma das principais causas da desigualdade social no país (GUIMARÃES 1968; SALES, 1994; LINHARES; SILVA,1999).

A concentração da terra tem seu aspecto de dominação ilustrado no que Karl Marx (1982, p. 65) chamou de separação entre as condições inorgânicas da existência humana e a existência ativa. Assumindo uma forma completa no capitalismo, esta separação é apontada por ele como fundamental para a compreensão da origem da desigualdade social, na medida em que expressa as formas sociais históricas de apropriação dos recursos necessários à vida. Assim, como ocorreu na origem do capitalismo, a instituição do monopólio dos bens naturais, ora nas mãos do Estado, ora sob a posse de grandes produtores, foi condição para a instauração do trabalho assalariado e a separação do trabalhador livre dos meios e instrumentos de produção, fosse no campo ou nas cidades.

A grande concentração de terra sob o jugo privado no Brasil evoluiu pari passu com formas de organização do trabalho compulsórias, seja com a escravização de índios, negros e mestiços, seja com outras formas de subordinação como a peonagem por dívida. O alto grau de dependência existencial (física, material e psicológica) das pessoas é um elemento distintivo central de relações de dominação tradicionais como o coronelismo. “Uma massa humana que tira sua subsistência de suas terras vive no mais lamentável estado de pobreza, ignorância e abandono. (...) E é dele [coronel], na verdade, que recebe os únicos favores que sua obscura existência conhece.” (LEAL, 1976, p. 43)

Corresponde, inicialmente, ao coronelismo, enquanto forma de dominação característica do país, uma diversidade de formas de violência mediando as relações políticas, econômicas e sociais, logo, como elemento ativo de nossa cultura; designadora de um autoritarismo social. Nesse processo temos o “voto de cabresto”, o “curral eleitoral”, a escravidão, o trabalho infantil, os assassinatos no campo, assumindo um caráter extra-temporal, um sentido de continuidade predisposta, uma tradição seletiva3.

A reprodução da desigualdade sob formas de violência direta ou institucional (militar ou por omissão), somente em momentos de exceção ocorre abertamente. Forjou-se uma forma de dominação versátil que combina miscigenação, sinais de sedução, afeto, ternura, cordialidade e profunda desigualdade sócio-econômica. A confraternização, contudo, sempre foi tensa, sob a presença da força, sadomasoquista, enfim, consagrou-se pela instituição da violência “naturalizada”, pelo prazer arbitrado pelas vicissitudes do senhor.

O necessário recurso da aparência de encurtamento das distâncias sociais, elaborada na idéia “democracia racial” (Gilberto Freyre) ou no “homem cordial” (Sérgio Buarque de Holanda), funciona como um fetiche da igualdade, “ um mediador nas relações de classe que em muito contribui para que situações conflitivas freqüentemente não resultem em conflitos de fato, mas em conciliação.” (SALES,1994, p.37).

A estrutura fundiária nunca mudou em sua essência no Brasil. Dos ciclos do pau brasil, cana-de-açúcar, borracha, ouro, na Colônia e no Império, aos modelos de monocultura agroexportadora e de capitalização e integração ao capital internacional na República, 3 Tradição seletiva no sentido atribuído por Williams, “uma versão intencionalmente seletiva de um passado configurativo e de um presente prefigurado, poderosamente operativo dentro do processo de definição e identificação cultural e social. (...) constitui um aspecto da organização social e cultural contemporâneo do interesse de dominação de uma classe específica”.(WILLIAMS, 1979, p. 137).

diversas mudanças procuraram assegurar ganhos de produtividade sem a reforma agrária. Assim, a estrutura de poder agrária assumiu novas feições devido a injunções exógenas a seu funcionamento como as oscilações do mercado internacional e as adversidades naturais.

Ao longo do tempo, a perenidade do monopólio da terra, e até como resultado de suas sucessivas crises econômicas, originou tanto a sujeição ao poder privado rural, enquanto “exército de reserva cativo”, como a inserção subordinada às estruturas de poder urbano (moderno), sobretudo através de um êxodo rural gigantesco. O deslocamento desordenado de grandes contingentes humanos num curto espaço de tempo, sem as condições de infra-estrutura, levou ao que vem se chamando de crise urbana. Este processo não só acelerou a degradação ambiental nos grandes centros urbanos, mas expôs estas pessoas a novas formas de violência, riscos e sofrimentos associados às condições de trabalho, habitação, saúde, educação e sociabilidade.

O drama de viver em um mundo de incertezas, riscos e impotências deriva, sobretudo, da experiência de não ter direito a ter direito, de sua existência ser descartável. Em muitos casos, o próprio direito de viver é uma concessão, um favor. Os estudos e denúncias sobre a ausência de direitos no Brasil proporcionaram diversas designações à aventura da cidadania no país. Aqui cabe apenas frisar a ausência endêmica de uma cidadania plena e extensiva, apesar das lutas sociais históricas de resistência aos diversos tipos de autoritarismo e indiferença secular do poder público e das elites. Uma noção de cidadania envolta em uma contradição entre o favor e o direito, a proteção e a cidadania funda-se em “relações sociais que se estruturam sem a mediação dos direitos, de tal modo que continuam a ser regidas pelo arbítrio sem limites do poder privado, entre o favor e a violência, duas faces de uma mesma recusa da alteridade.” (TELLES, 1994, p.46)

A demonstração da vigência de relações sócio-ambientais autoritárias como elementos ativos de uma cultura ficaria incompleta se não se mencionasse a sua incursão no domínio público. Isto equivale a descrever como certas práticas, expectativas, valores e instituições privadas e autoritárias entranham-se e “cristalizam-se” no imaginário político e na estrutura do poder publico. São nos contrastes e paradoxos deste sistema de poder, desnudados com a instauração de sua antípoda, a república (coisa pública), que podemos tentar desvendar suas principais inclinações e limites para um projeto de sociedade democrática. Parece razoável que a ilustração deste sistema de poder possa ser sintetizada na idéia de patrimonialismo.

O Patrimonilismo

O patrimonialismo é uma derivação do tipo de dominação tradicional, desenvolvido por Max Weber, e usado para indicar formas de dominação política em que as esferas pública e privada se confundem com o predomínio da segunda. Nesta tradição, toda idéia de público é inspirada nas relações e interesses privados; que tem como centro o poder discricionário patriarcal sobre a unidade familiar e seus agregados, os quais são totalmente submetidos à autoridade do senhor.

O senhor que administra de forma pessoal é ajudado seja por pessoas de sua unidade familiar, seja por plebeus. Eles formam um estrato social sem propriedades e que não tem honra social por mérito próprio; materialmente, são totalmente dependentes do senhor, e não têm nenhuma forma própria de poder competitivo. (WEBER apud SCHWARTZMAN, 1982, p. 45)

O patrimonialismo brasileiro encontra-se fortemente vinculado às suas raízes ibéricas. A influência ibérica na cultura e política nacional deu-se pela presença de valores como o culto da personalidade, o livre arbítrio, a fidelidade e a valorização do mérito pessoal. Recusavam toda hierarquia social, da coesão social, tendendo ao individualismo anárquico. Para o desenvolvimento de um senso público isto era trágico, pois implicava na frouxidão da estrutura social, das associações que exigiam ordem e solidariedade. Da autarquia da “Casa Grande”, isolada de todos, nascia o desinteresse pela vida pública.

Nossa vida pública, social e política era marcada pela família rural colonial. Está oferecia a idéia mais moral de poder, responsabilidade, obediência, coesão. [...] predominava o sentimento de comunidade doméstica, particularista e antipolítica. Havia uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família.(REIS, 2001, p.128)

Ao monopólio da terra correspondeu o monopólio da representação política, configurando relações e práticas políticas que serviram para balizar, desde o poder local, o possível e o impossível no marco do autoritarismo social brasileiro. Fenômenos como o poder oligárquico, o mandonismo, o filhotismo, o clientelismo, - combinados sob diversas fórmulas com lógicas racionais e até democráticas liberais-, ainda predominam no universo político que medeia as relações entre Estado e sociedade, constituindo fortes obstáculos à consolidação de instituições democráticas.

O recurso reiterado, até os dias atuais, à “política de compromisso” (LEAL, 1975; BURSZTYN, 1984) um sistema de reciprocidade entre as elites locais e o poder central vem assegurando a sobrevivência da desigualdade social e a brutal e incessante concentração de renda no país.

É necessário reafirmar que estas estruturas de poder, animadas por uma cultura autoritária, não evoluíram no tempo isoladas do sistema político e econômico mundial, mas que, ao contrário, sua continuidade foi condição e efeito para uma articulação subordinada do país a ele. Basta dizer que em vários momentos históricos o Brasil e o Terceiro Mundo aparecem em planos geopolíticos e geoestratégicos de grandes potências econômicas como fonte de recursos naturais (CHOMSKY,1996) – e, nas últimas décadas, também como receptáculo de atividades e resíduos de alto impacto ambiental – e, em menor grau, como mercado consumidor. Assim, exposto e perseguindo, sobretudo durante espasmos nacionais desenvolvimentistas, um padrão de desenvolvimento capitalista avançado, forjou-se no país uma cultura de produção e consumo contrastante onde se sobressaem o hiperconsumo e a cultura da sobrevivência, ambos social e ambientalmente indesejáveis (LEFF, 2001).

No transcorrer do século XX, esta trajetória requereu importantes transformações como a estruturação e internacionalização do setor produtivo, a urbanização e uma racionalização do setor estatal, que permitiram a introdução do capitalismo no país. Tornou-se necessário, em certo grau, a adoção de racionalidades modernas, a burocracia e a tecnocracia, que passaram a exercer a co-gestão do espaço público com o patrimonialismo, agora, neo-patrimonialismo4.

4 O termo é utilizado por SCHWARTZMAN para indicar um tipo de dominação que tem em comum aspectos tradicionais do patrimonialismo e aspectos “modernos” da dominação racional-legal, relacionados à introdução do capitalismo e do desenvolvimento de formas políticas da democracia de massa liberal. A convivência das lógicas tradicional e racional-legal não representaria apenas sobrevivência de estruturas tradicionais, mas um tipo de dominação bastante atual. Esta convivência seria possível, uma vez que o choque entre as duas seria amenizado dado que a burocracia pode subsistir somente com seu componente racional, sem seu componente

Na exposição acima, procuramos delinear os principais legados de uma cultura política autoritária para a gestão democrática dos recursos naturais. Tais recursos naturais, a despeito de sua fartura e concentração, foram tratados de forma predatória, numa apropriação desleixada e extensiva. Esse caráter, em geral, se estendeu para as relações sociais, em que a terra assumiu, na forma privilegiada da propriedade privada, a condição de recurso de poder social autoritário. A constituição e perenidade do Estado patrimonial no Brasil, e de outras relações que submetem o espaço público a interesses privados, serão a expressão mais forte de poder social fundado na posse da terra. Destaca-se a incapacidade para o planejamento não só pela excessiva preocupação com o curto prazo, pelo personalismo, mas também pela miríade de interesses privados privilegiada no acesso ao aparato público, repelindo qualquer possibilidade de realização de direitos e interesses públicos. Isso redundou no histórico e elevado grau de dependência material e “espiritual” das massas em relação às elites e ao Estado e, assim, em seu alijamento do processo político. Como veremos a seguir, a continuidade de padrões de mando e subserviência terá profunda influência na fragilidade das noções de democracia, sociedade civil, esfera pública e de cidadania vigentes no país.

Gestão Ambiental Democrática e Cultura Dominante

Identificar a vigência ainda nos dias de hoje das práticas e instituições apontadas acima é uma tarefa, infelizmente, relativamente fácil. O complicado é perceber como práticas e instituições tradicionais mesclam-se com práticas, valores e instituições tidas como modernas - os procedimentos da democracia liberal e a cultura consumista. Continua sendo mais fácil reconhecer a cultura tradicional pela continuidade de seus resultados. A seguir, tentaremos demonstrar como estas práticas e instituições autoritárias se manifestam enquanto limites para uma gestão democrática dos recursos ambientais. No intento de avançar na compreensão da cultura dominante, faremos considerações sobre outros dois importantes componentes modernos deste rol de limites.

Estudar as instituições políticas do meio ambiente, na perspectiva democrática, é fundamental, uma vez que a gestão ambiental não pode prescindir do consenso ativo, de intervenções orgânicas e de competências coordenadas, o que requer a existência de uma rede complexa e articulada de instituições. (GIOVANNINI, 1997).

Seguindo a tradição formalista nacional, o traço mais característico da política ambiental brasileira é o grande fosso existente entre o arcabouço jurídico e as ações efetivas. Se por um lado a constituição deste arcabouço nas últimas décadas coincidiu, e, em parte, foi impulsionada pelo processo de democratização do país, ela foi a grande obra do aparato tecnocrático em resposta às pressões internacionais (FERREIRA,1992). A inviabilidade de instituições ambientais e de seus instrumentos participativos, como os conselhos, as audiências públicas, é coerente com o elevado grau de conflitos e contradições que estas despertam no interior do estado patrimonial/tecnocrático ao assinalar uma gestão ambiental de interesse coletivo. Portanto, em boa medida, a debilidade destas instituições é uma condição necessária para a continuidade das estruturas de apropriação/produção privadas dos recursos naturais, sejam as arcaicas, sejam as modernas capitalistas. Destas instituições só pode se esperar uma participação marginal, apesar do grande repertório de ações cosméticas, as quais, em seus desempenhos sinuosos só reforçam a regra geral da precariedade do setor. O futuro parece mais ameaçador se considerados os processos atuais de privatização dos recursos naturais como a água.

legal: “a existência de uma racionalidade de tipo exclusivamente “técnico”, onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo ou inexistente”. (1982, p. 45-49).

É quase uma regra que não exista igualdade perante a lei, nem um acesso eqüitativo à justiça e aos serviços públicos “feudalizados”. Como afirma O’Donnell (1996, p. 27), quando descreve as instituições na América Latina, “o particularismo se torna desmedido no congresso e nos partidos, os tribunais falham ostensivamente em ministrar a justiça e as agências de controle são eliminadas ou reduzidas a passividade.” Na realidade, o aparato institucional de controle ambiental como de resto todo sistema jurídico e legislativo são um eficiente aparelho seletivo para a manutenção das desigualdades.

Nesse sentido, o Estado é um espaço quase inacessível à gestão pública dos recursos naturais e de defesa dos interesses coletivos, sincrônicos e diacrônicos de sua população. A sua função latente é antes a de promover o interesse privado e predatório, pela não produção ou sonegação de informações, pela obstrução da participação pública, pela indiferença, pela não fiscalização e pelo otimismo descabido no avanço tecnológico. Em síntese, pelo amainamento do conflito entre interesses privados e bens coletivos na apropriação dos recursos ambientais, que resulta na privatização dos recursos e na socialização dos custos dos impactos ambientais.

Parece improvável nestas condições imaginar que o Estado venha a atender as expectativas quanto às suas funções coordenadoras, fiscalizadoras e de avaliação e disseminação de informações sobre os riscos ambientais. A parcialidade que disto resulta vem deixando crescentemente à mostra tanto as contradições e desigualdades no acesso aos recursos naturais, como a fragilidade das tentativas de constituir um espaço público para garantir o direito de acesso a recursos públicos, contra a sua privatização e degradação.

A resistência temporal do monopólio da terra e da forma da propriedade privada, passando por diversas crises econômicas, levou à concentração populacional em centros urbanos em condições desfavoráveis de vida e à sujeição às lógicas populista e capitalista, aumentando a degradação ambiental e as situações de risco das populações de baixa renda.

Por outro lado, os traços fortes de paternalismo em relação às elites e ao Estado resultaram, para uma massa de excluídos na quase naturalização do alijamento dos processos decisórios sobre a distribuição e os modos de apropriação dos recursos naturais, a começar pela terra. Privilegiando interesses das elites locais ou internacionais ou do próprio Estado, a forma de propriedade privada foi o formato jurídico e cultural que consolidou a arbitrariedade e deu um sentido privatista a estes modos de apropriação. A inviabilidade da reforma agrária no Brasil em uma escala significativa até hoje é um exemplo substancial desta situação.

A exclusividade da instituição da propriedade privada ou estatal nos moldes descritos impede o exercício de outras formas de regimes de propriedades públicas, a exemplo da comunal, que requer uma sustentação em valores democráticos e em uma esfera pública ativa. Assim, fica também impedido um senso concreto de responsabilização pelo uso e conservação do patrimônio natural público e, portanto de interesse coletivo, como a terra vem sendo, antes de tudo, um instrumento de dominação, os problemas de pensar e opinar sobre seu presente e futuro não dizem respeito aos seus sem direitos, já que o futuro diz respeito às elites e ao Estado. Por isso, para muitos movimentos sociais, a terra também é significado de libertação de integridade física, moral e de resistência cultural, como atestam as lutas históricas na América Latina pelo direito a terra e à moradia5.

5 O controle dos recursos naturais tem sido a razão de focos de resistência de povos indígenas e camponeses da Guatemala, Honduras, Nicarágua, El Salvador, Colômbia, Equador, México e Brasil. (LINHARES;SILVA, 1999).

Assim, no Brasil, os riscos ambientais são potencializados devido à complexidade das incertezas sociais e institucionais enraizados nos altos níveis de exclusão, na desinformação, na violência, no autoritarismo, na corrupção, no patrimonialismo e na submissão aos interesses internacionais.

Em um trabalho que relaciona o conceito de sociedade de risco de Ulrich Beck e o uso de agrotóxicos no Brasil, Guivant (2000, p. 297) apresenta alguns elementos da especificidade da dinâmica do risco em países em desenvolvimento. Para a autora, por nos encontrarmos em uma sociedade da escassez, vivenciamos as conseqüências de uma sociedade de risco, que são globais, porém sem uma reflexividade ativa. A percepção de que os riscos são gerais, fora do controle dos órgãos responsáveis, invisíveis e de longo prazo, tende a levar à paralisia, à indiferença e ao fatalismo. Guivant atribui o não-questionamento público sobre os riscos no consumo de alimentos à falta de tradição dos atores sociais na defesa de seus direitos como consumidores e ao descrédito generalizado em relação às instituições públicas. A pequena repercussão da preocupação ecológica na agenda nacional deve-se também a um traço da cultura brasileira de não valorizar a previsão nem se preocupar demais com os riscos futuros. (SORJ, 2000).

Não podemos subestimar o papel complicador exercido pela complexidade dos problemas ambientais em suas causas e conseqüências, em que a falta de conhecimentos básicos e informações impedem a identificação de certos riscos, enquanto outros são objetos de celeumas entre cientistas das mais diferentes vinculações. Quanto ao problema da informação dos riscos, a questão mais grave, ao lado, e piorada pelo baixo nível de escolarização da população, é a não produção ou sonegação dela pelo Estado e pela mídia. A desinformação contribui para que, em geral, não se identifique o problema a tempo de se precaver de seus efeitos e de identificar os atores responsáveis, encaminhando a ameaça como um problema político.

Como se evidencia, a ordem de constrangimentos e obstáculos impostos à formação de um espaço público para o debate ambiental no Brasil não é de fácil superação e está associado à própria constituição e conquista da cidadania dos brasileiros. Na realidade, o espaço público necessita que os homens e mulheres se reconheçam como iguais, discutam e decidam em comum sobre o presente e o futuro (TELLES, 1994), nesse sentido a cidadania no contexto do século XXI é também um exercício no campo socioambiental. Em síntese retrospectiva, as dificuldades e constrangimentos colocados podem ser resumidos nas seguintes condições:

o Estado fechado ao interesses públicos, uma vez que constituído e articulado com as elites políticas e econômicas autoritárias, privatistas, predatórias e concentradoras da propriedade dos recursos naturais nacionais;

o Práticas assistencialistas, paternalistas e clientelistas existentes na população e reforçadas pelo poder público através de mecanismos de cooptação e tutela sobre a população de baixa renda e a desmobilização da população;

o A desmobilização da sociedade civil, redundando na fragilidade das associações civis, particulamente das organizações não-governamentais ambientalistas;

o Carência de informações quantitativas e qualitativas sobre os problemas ambientais, e respectiva disseminação na sociedade;

A coexistência dos aspectos acima impede que as agressões socioambientais sejam encaminhadas e resolvidas dentro de um campo movido por interesses coletivos,

[...] as agressões ambientais são a expressão da imposição dos interesses de poucos sobre o mundo de todos. Elas são, portanto, impedimentos à construção de um mundo efetivamente múltiplo. Por sua vez, as lutas contra as agressões ambientais são lutas pela construção da esfera pública da natureza, e pela introdução da política na gestão do meio ambiente. (ACSELRAD, 2001, p.8)

A Constituição Federal assinala no art. 225 que “todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p.99). A garantia destes direitos poderia ser denominada de cidadania ambiental, uma cidadania que “aguarda na fila” a sua vez. As crises econômicas e sociais, desde a década de 80 do século XX, e os problemas decorrentes ou aprofundados por elas vêm colocando a preocupação ambiental em uma posição de baixa prioridade entre as reivindicações da população.

Na opinião pública, ainda é bastante comum às demandas ambientais serem identificadas como demandas particulares da classe média informada ou como preocupações pós-materialistas dos países desenvolvidos, portanto, demandas elitizadas que não atenderiam aos interesses de segmentos que se quer consomem regularmente. Esta baixa importância relativa da preocupação ambiental também é sentida nas prioridades da população levantadas em campanhas eleitorais, no grau de legitimidade satisfatório que gozam as inexpressivas políticas ambientais estatais, e até nos posicionamentos dos governos brasileiros em negociações internacionais. Este dilema não é de todo equivocado, se consideramos os constrangimentos citados acima e, principalmente, a influência exercida pela mídia enquanto ator privilegiado na formação da opinião pública e pela homogeneização dos padrões de consumo capitalistas.

A inexistência de uma esfera pública ativa para o debate dos riscos ambientais tem seu simulacro e, em parte, sua causa, em uma mídia crescentemente hegemonizadora na formação da opinião pública. Na construção cultural de uma percepção mistificadora dos problemas, riscos e soluções aos problemas ambientais, a mídia tem exercido uma função primordial.

Podemos descrever o papel da mídia em relação à questão ambiental, como em geral, apresentando-a em uma versão isolada e fragmentada, acrítica, privilegiando fontes oficiais e tentando marginalizar ou desacreditar o ambientalismo como movimento social (RAMOS, 1995) Por outro lado, a natureza aparece como “espetáculo” romantizado (humanizado), despolitizando a questão, e conduzindo a soluções em termos de mudança de comportamento individual, quase sempre restritas aos limites de um “ecomercado”, e a uma fé cega em tecnologias redentoras. Parece desnecessário afirmar a gravidade desta situação se considerar o poder atual da mídia na formação de opinião pública sobre a crise ambiental, que, ao restringir seu espectro, inibe “a conscientização dos direitos dos cidadãos e das responsabilidades do poder público e dos agentes da sociedade civil em relação ao meio ambiente” (RAMOS,1995, p.150)

Por outro lado, por meio das tecnologias de comunicação relativamente disponíveis, novos espaços de interação política, esferas públicas e formas de conquista e consolidação da

cidadania têm surgido associadas às antigas demandas potencializadas6 Denúncias e versões alternativas e contestatórias aos diagnósticos ambientais de especialistas estatais ou de representantes de grandes grupos empresariais são disseminadas regional e globalmente, integrando e revitalizando lutas de grupos minoritários.

Cabe chamar a atenção para o papel fundamental que exerceram os movimentos sociais ambientalistas locais, nacionais e internacionais para que a problemática ambiental chegasse à agenda e ao debate públicos. Esses movimentos deram sua maior contribuição politizando as formas de apropriação dos recursos naturais. Como conclui Dagnino na experiência dos movimentos sociais na América Latina: “ao politizar o que não é concebido como político, ao apresentar como público e coletivo o que é concebido como privado e individual eles desafiam a arena política a alargar os seus limites e ampliar sua agenda.” (DAGNINO, 2000, p.95).

Em sua etapa de reprodução em escala mundial, o capitalismo desenvolve-se pela homogeneização de padrões de consumo e de produção induzidos pelo processo de crescimento acumulativo e pela lógica de lucro em curto prazo. A sua expansão tem gerado uma crescente pressão sobre o equilíbrio dos ecossistemas, assim como sobre a capacidade de renovação e a produtividade dos recursos naturais. (LEFF, 2001, p. 123)

Nas últimas duas décadas, assistiu-se à incorporação lenta, seletiva e conflituosa da questão ambiental ao desenvolvimento capitalista, cuja forma privilegiou a modernização tecnológica e o consumo sustentável. Estas idéias apontam para mudanças reguladas e assimiláveis pelo mercado, assegurando as bases políticas e morais para a continuidade da dinâmica dos padrões de produção e consumo capitalistas. Coerente com a regra geral da cidadania do consumidor, a inclusão neste modelo de bens e serviços relacionados à qualidade de vida “sustentável” reforçou a exclusão daquela grande proporção da população que não tem acesso a esse mercado. É igualmente verdadeira para o problema do consumo verde a afirmação de Carvalho (2001) de que reivindicando o direito de consumir estamos dando um salto de uma não-cidadania pré-moderna na direção de outra pós-moderna. É importante lembrar que o ambientalismo coloca o desafio de uma reconstrução do conceito de cidadania - esfera de garantia de direitos - porque esta é impraticável, a longo prazo, em um contexto democrático em que a cidadania é confundida com a possibilidade plena de atender aos padrões de consumo atuais.

A Cultura Ecológica Como Alternativa

Para não termos a impressão de que a cultura é apenas fonte de problemas e também para indicar o caráter dinâmico e insurgente dela, serão esboçadas algumas idéias introdutórias

6 A este respeito é interessante citar o ponto de vista de Kellner (1999, p. 427) em A Cultura da Mídia, em que ele propõe como resposta a “era do barbarismo cultural” a adoção: a) de uma pedagogia crítica da mídia, onde esta não apenas é decodificada em suas configurações de poder e dominação existentes, mas também utilizada como instrumento de transformação social democrática; b) de um ativismo cultural nos estudos sobre cultura e mídia; e c) a necessidade de uma política cultural, “a necessidade de intervenção do público no debate sobre o futuro da cultura e das comunicações nas vias (principais) de acesso à informação e (secundárias) de acesso ao entretenimento”, com a discussão, por exemplo, sobre o tipo de cultura que é melhor para cultivar a liberdade individual, a democracia, a felicidade e o bem estar da humanidade.

sobre a validade do ecologismo7 como proposta alternativa de sociedade e de cultura, e, neste sentido, contribuições que se pretendem consistentes para uma possível contra-hegemonia.

A cultura ecológica, segundo Leff, é um “sistema de valores ambientais que reoriente os comportamentos individuais e coletivos, relativamente ao uso dos recursos naturais e energéticos” (LEFF, 2001, p. 123), promovendo a vigilância dos agentes sociais sobre os impactos ambientais e os riscos ecológicos, a reorganização da sociedade civil pela defesa de seus direitos ambientais e a participação das comunidades na autogestão de seus recursos naturais.

Ao comprometer-se com a autogestão, a equidade social e a diversidade cultural, a proposta ecologista tentar criar as bases de uma democracia ambiental que garantiria a reapropriação social dos recursos naturais, tendo como parâmetros: o respeito à diversidade biológica e cultural e o fortalecimento da identidade étnica e a capacidade de autogestão do patrimônio de recursos naturais das comunidades.

Martínez Alier (1998) diferencia o ecologismo dos pobres ou o ecologismo da sobrevivência, do ecologismo da modernização tecnológica, este último, vinculado à manutenção do sistema de mercado. Para ele, todos os movimentos sociais pela sobrevivência são movimentos ecológicos uma vez que seus objetivos são as necessidades ecológicas para a vida, como as calorias da comida, para cozinhar e aquecer, a água, o ar limpo e o espaço para abrigar-se.

Reconhecendo que existe uma mútua relação entre distribuição econômica, distribuição ecológica e distribuição do poder político, Martínez Alier (1998) argumenta que o ecologismo popular busca uma solução para os conflitos distributivos econômico-ecológicos: “a categoria essencial é a distribuição ecológica, ou seja, o acesso desigual ao uso de serviços e recursos da natureza.” (MARTÍNEZ ALIER, 1998, p. 35-37)

No que diz respeito à construção de um projeto de sociedade alternativo, Leff (2001) e Martínez Alier (1998) avançam em direção a uma nova cultura a partir da recuperação de experiências latino-americanas como expressões de resistência cultural.

Pensando nos aspectos centrais da construção da contracultura dos novos movimentos sociais, Evers vai afirmar que “nenhum movimento social pode ir além de tentar recuperar fragmentos muito específicos de identidade, lutando em um (ou em alguns poucos) dos muitos fronts possíveis de dominação e aceitando, assim, o status quo em todos os outros frosnts.” (EVERS, 1984, p. 18) Esta seria a causa das contradições entre os movimentos e das dificuldades para coesão teórica e prática. Mais à frente vai dizer que:

[...] o elo muito procurado entre questão nacional e questão social possa efetivamente ser encontrado no “trabalho-de-formiga” diário destes movimentos sociais para resgatar à sociedade dominante pedaços de vida expressiva individual e coletiva. Ademais, é provável que este tipo de existência dotada de sentido não possa ser encontrada em nenhum outro lugar. (EVERS, 1984, p. 18-19)

A profundidade das mudanças propostas pelos ambientalistas, a pertinência das mesmas e os princípios que as orientam, parece-nos abrir um amplo leque de possibilidades para a inclusão 7 Existem muitos conceitos e teorias acerca dos ecologismos, alguns com sérias discordâncias entre si. Para não entrar nesse debate árduo, tomamos as idéias a seguir, sobretudo, das obras de Martínez Alier (1998) e Leff (2001).

de interesses fragmentados minoritários e excluídos da atual sociedade. Pensamos que este atributo habilita o ambientalismo a ser um potencial eixo aglutinador de um projeto de contracultura.

O ambientalismo, sem negar valores presentes que se adaptem ao seu ao projeto, busca pedaços de vida de expressão individual e coletiva que configuram até hoje como fontes de resistência às formas hegemônicas de ocupação do espaço. Faz isto resgatando através das etnociências, antropologia e etnologia, em especial, da etnobotânica “os processos que conformam os estilos étnicos de manejo e usufruto de seus recursos naturais, assim como sua organização produtiva e as modalidades técnicas que assume o processo de transformação do ambiente.” (LEFF, 2001, p. 101)

A cultura, pois, joga dois importantes papéis nesta relação entre meio ambiente e sociedade. Primeiro, como lente para a reconstrução histórica das relações sociedade-natureza, realizando a crítica e apontando os limites de formas predatórias de apropriação do trabalho e dos recursos naturais; e, segundo, como instrumento para a condução de uma estratégia ambiental e social de desenvolvimento enquanto permite a recuperação dos conhecimentos de formas históricas e culturais de aproveitamento dos recursos ambientais. Essa cultura ecológica pode servir de veículo para a instalação do que Bermam (2000) chamou de uma cultura crítica, aquela engajada ativamente na questão de como os seres humanos devem viver e qual o significado de nossas vidas.

Alguns importantes exemplos destas iniciativas na atualidade são as Redes de Colaboração Solidária e de Economia Alternativa, as Listas de Consumo Crítico e as Redes de Comércio Justo que defendem relações econômicas segundo valores e critérios que combatem em diferentes graus a exploração humana, a degradação ambiental e a acumulação de capital. (MANCE, 1999). Além, é claro, das comunidades indígenas e de outros grupos que lutam para manter vivas suas tradições e formas de organização, em resposta ao etnocídio, espoliação, exploração e manipulação, gerando novos saberes culturais com potencial alternativo. Num certo sentido, pensamos aqui também nas possibilidades de novas experiências abertas pelas lutas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Cabe destacar a importância política de uma utopia8 que se refere à constituição da cidadania e da resolução dos problemas oriundos da questão socioambiental no Brasil. Nesse sentido, “as utopias podem ser consideradas, por um lado, como sintomas da crise de uma dada organização social, e por outro, como sinal de que no seu interior existem forças capazes de saltar além dela, embora ainda não estejam conscientes do como fazê-lo”. (SZACHI, 1972, p. 129).

É importante atentar que estes projetos trazem na abrangência de seus princípios ético-políticos avanços em terrenos colonizados pela lógica do sistema, tentando reduzir sua dependência em relação ao Estado e ao Mercado ao pautar-se por uma cultura política democrática. Um exemplo disso é a proposta do ecologismo dos pobres de Martinez Alier (1998), que enfatiza a preocupação materialista centrada na defesa do acesso comunitário aos recursos naturais, contra a ameaça do Estado ou do Mercado, uma reação contra a degradação ambiental provocada pela pobreza, pela cultura do consumo, pelo excesso de população e pelo intercâmbio desigual entre as nações.

8 O debate e a “classificação das idéias utópicas, ou, mais precisamente das idéias que desempenham um papel de utopia através da história, oferece grandes dificuldades. A quantidade delas é quase ilimitada, de forma que não dá para mencionar sequer as mais importantes...” (SZACHI, 1972, p. 19-20).

As abordagens apresentadas implicam compreender que o momento histórico vivido não é o desejado, remetendo novamente a uma proposta utópica,

de fato, mesmo quando se lançam num futuro longínquo ou quando buscam o ideal num passado desaparecido, as utopias levam consigo a marca do tempo e do lugar de nascimento. Não há nada de estranho nisto. Elas são respostas não somente a perguntas eternas sobre a condição humana [...] São respostas que engajam os homens contemporâneos, pois a revolta não nos livra da coletividade mas somente define nosso lugar nela. (SZACHI, 1972, p. 20).

As idéias até aqui arroladas não tiveram a intenção de encapsular um projeto contra-hegemônico na proposta ecologista, mas fazer uma provocação e contribuir para os esforços na busca de projetos alternativos. Muito também poderá se dizer sobre os limites do ecologismo, suas divergências internas, sectarismos, suas impossibilidades e divagações, o que será produtivo, se não perdemos o propósito de nossas necessidades históricas e percebermos as contribuições originais da cultura ecológica. Nesse conjunto como assinalou Vera Telles9, os conceitos de sociedade civil, espaço público e cidadania não estão juntos a priori, mas é o contexto histórico coletivo que define o empreendimento e a necessidade de uma nova linguagem política. Esta dá uma perspectiva de futuro, pois os conceitos estão comprometidos com uma necessidade histórica. Os conceitos têm um conteúdo normativo, com valores e parâmetros críticos que balizam um horizonte político e um devir utópico.

Considerações Finais

Relacionar cultura, política e a questão ambiental é afirmar a necessidade de uma politização das formas de percepção da apropriação dos recursos naturais, sem o que qualquer projeto de sociedade sustentável e justa desaparece do horizonte utópico. Isto porque ainda podemos imaginar que qualquer utopia democrática seria inviável sem uma base natural que a sustente, sendo mais provável, num provável futuro, a agudização do autoritarismo e da violência em uma situação de crises ambientais generalizadas.

As referências sobre a cultura política brasileira revelaram, ao mesmo tempo, elementos ativos de uma tradição autoritária e as necessidades históricas relacionadas a desigualdades sócio-ambientais. Estes elementos, ativos nas práticas e instituições, materializam-se na questão da terra e no patrimonialismo. O substrato destes dois elementos está presente no autoritarismo social e na propriedade concentradora da base natural. Tendem a desenvolver e nutrir em relação à sociedade um senso de dependência, irresponsabilidade, conformismo, resignação e excessiva confiança em um poder público privatizado e quase indiferente à crescente pressão sobre o equilíbrio dos ecossistemas, assim como sobre a capacidade de renovação e produtividade dos recursos naturais. Mais recentemente, esta tendência é reforçada e remodelada tanto pela instabilidade e exclusão econômica e social, pela letargia das instituições estatais ambientalistas como pela mídia orientada para os elevado padrões e ritmos de produção e de consumo de massa. Os limites para a constituição de uma esfera pública da natureza, da gestão democrática dos recursos naturais e da cidadania ambiental não são poucos, em que pese as lutas sociais para ampliar o debate e a politização da questão socioambiental.

9 Durante o Seminário “A Construção Democrática”. Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, dia 10/05/2001.

O ecologismo pode ser pensado como uma cultura alternativa, utópica e emergente que tenta congregar culturas residuais - resistentes à incorporação capitalista e à dizimação -, para se constituir em oposição ao modelo de sociedade capitalista autoritário e insustentável. Ele é abrangente para se interpretar a organização da dominação e da desigualdade social, econômica, política e cultural. Sua abrangência, por sua vez, torna mais concreta e significativa a projeção utópica de uma sociedade alternativa e não-capitalista, desafiando-nos pessoal e coletivamente, pela mudança de estilo de vida, a assumir a radicalidade deste projeto.

A complexidade, a dinâmica e a sobreposição e acúmulo de irracionalidades e contradições no mundo contemporâneo representam colossais desafios para pensar a realidade, exigindo a reelaboração contínua dos instrumentos analíticos e teorias. Quase sempre é inquietante a sensação de que ao se tentar esboçar um projeto alternativo, este desmorona tão velozmente que nenhum modelo consegue delinear-se razoavelmente por muito tempo.

Ao apontar para as ameaças de um futuro incerto e para a necessidade do compromisso solidário com as gerações atuais e futuras como condição da vida em sociedade, a cultura ecológica acrescenta um marco temporal e material para as lutas progressistas, ao mesmo tempo que exige um conteúdo ético e pluralista como requisito de validade da ação política. . O que está em jogo aqui não é apenas o reconhecimento do alcance dos desafios e lutas presentes no projeto ecologista no Brasil ou um julgamento ético e político da pilhagem sócio-ambiental do passado e do presente, mas da pilhagem do futuro, da utopia.

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