queridos fiéis, evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · para que seja provada a santidade,...

40
Queridos fiéis, Houve há pouco tempo um acontecimento que deixou dúvidas e perguntas em muitos fiéis católicos, a beatificação de um Papa, sem que se possa, desde o ponto de vista católico, ver razão para beatificar este Papa, e sem processo sério de beatificação. Evidentemente, estou a falar do dia 1 de Maio e de João Paulo II. O que vou explicar neste editorial corresponde, quanto ao conteúdo, em parte ao que está exposto num artigo incluído no interior da revista. Mas permitam-me, caros leitores, dar a explicação deste assunto com as minhas próprias palavras. Nosso Senhor exige da Sua Igreja perfeição e santidade. A este propósito disse: “Sede perfeitos, como também o meu Pai celeste é perfeito!” (Mt 5, 48) Sabemos que, usan- do a palavra “perfeitos”, falou de santidade; em outros sítios do Novo Testamento até podemos expressis verbis ler a palavra “santidade” em admoestações que nos dão os escritores santos. Sabemos também, da história da Igreja, que o maior valor que se pode atribuir a uma pessoa é a santidade. A Igreja chama “santidade” somente a uma perfeição provada, e “santo” somente a uma pessoa à qual foi verificada a san- tidade. Pode dizer-se que a santidade é a ausência de pecados e, no sentido positivo, que é a presença de virtude, até de muita virtude! A teologia eterna e de todos os séculos diz que a santidade é a presença de virtude em grau heróico. Se há pessoas que são considerados como santos, seja por membros da sua Ordem Religiosa, seja por fiéis com que tinham contacto, então a Igreja costuma ou pelos menos pode investigar o grau da heroicidade das suas virtudes. A Igreja fazia sempre tudo para que o julgamento desta questão fosse objectivo. Digo, “fazia”, mas deve- mos ver que já não aplica o mesmo cuidado desde o pontificado de João Paulo II. An- tes tinha cuidado, desde que começaram as “canonizações” ou “beatificações”, e isto de muitas maneiras. Uma delas era a regra de não começar o processo cedo demais, no prazo de pelo menos cinco anos após a morte do candidato, para que o julgamento não fosse falsificado, sendo influenciado pelo fascínio da pessoa quando vivia. As virtudes mais importantes que se devem ver num homem considerado como “san- to” são Fé, Esperança e Caridade, as chamadas Virtudes Teologais. Estas três vir- tudes podem ser invisíveis na alma de um santo, pelo menos na sua forma pura, e manifestavam-se no conjunto com outras virtudes, com virtudes mais “concretas” do dia a dia. Por exemplo, em homens que desempenham um ofício eclesiástico mostra- se o perfeito exercício deste ofício. Isto podemos ver no processo da canonização do santo Cura de Ars; este sacerdote não somente se aplicava a uma mortificação herói- ca e a um amor perfeito a Deus, mas vê-se a realização das Virtudes Teologais no seu sacerdócio, como pároco da aldeia Ars, onde converteu tantas almas a Deus. A canonização de são Pio X louva não somente as suas grandes virtudes de humil-

Upload: vanthien

Post on 14-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

Queridos fiéis,

Houve há pouco tempo um acontecimento que deixou dúvidas e perguntas em muitos fiéis católicos, a beatificação de um Papa, sem que se possa, desde o ponto de vista católico, ver razão para beatificar este Papa, e sem processo sério de beatificação. Evidentemente, estou a falar do dia 1 de Maio e de João Paulo II.

O que vou explicar neste editorial corresponde, quanto ao conteúdo, em parte ao que está exposto num artigo incluído no interior da revista. Mas permitam-me, caros leitores, dar a explicação deste assunto com as minhas próprias palavras.

Nosso Senhor exige da Sua Igreja perfeição e santidade. A este propósito disse: “Sede perfeitos, como também o meu Pai celeste é perfeito!” (Mt 5, 48) Sabemos que, usan-do a palavra “perfeitos”, falou de santidade; em outros sítios do Novo Testamento até podemos expressis verbis ler a palavra “santidade” em admoestações que nos dão os escritores santos. Sabemos também, da história da Igreja, que o maior valor que se pode atribuir a uma pessoa é a santidade. A Igreja chama “santidade” somente a uma perfeição provada, e “santo” somente a uma pessoa à qual foi verificada a san-tidade. Pode dizer-se que a santidade é a ausência de pecados e, no sentido positivo, que é a presença de virtude, até de muita virtude! A teologia eterna e de todos os séculos diz que a santidade é a presença de virtude em grau heróico.

Se há pessoas que são considerados como santos, seja por membros da sua Ordem Religiosa, seja por fiéis com que tinham contacto, então a Igreja costuma ou pelos menos pode investigar o grau da heroicidade das suas virtudes. A Igreja fazia sempre tudo para que o julgamento desta questão fosse objectivo. Digo, “fazia”, mas deve-mos ver que já não aplica o mesmo cuidado desde o pontificado de João Paulo II. An-tes tinha cuidado, desde que começaram as “canonizações” ou “beatificações”, e isto de muitas maneiras. Uma delas era a regra de não começar o processo cedo demais, no prazo de pelo menos cinco anos após a morte do candidato, para que o julgamento não fosse falsificado, sendo influenciado pelo fascínio da pessoa quando vivia.

As virtudes mais importantes que se devem ver num homem considerado como “san-to” são Fé, Esperança e Caridade, as chamadas Virtudes Teologais. Estas três vir-tudes podem ser invisíveis na alma de um santo, pelo menos na sua forma pura, e manifestavam-se no conjunto com outras virtudes, com virtudes mais “concretas” do dia a dia. Por exemplo, em homens que desempenham um ofício eclesiástico mostra-se o perfeito exercício deste ofício. Isto podemos ver no processo da canonização do santo Cura de Ars; este sacerdote não somente se aplicava a uma mortificação herói-ca e a um amor perfeito a Deus, mas vê-se a realização das Virtudes Teologais no seu sacerdócio, como pároco da aldeia Ars, onde converteu tantas almas a Deus.

A canonização de são Pio X louva não somente as suas grandes virtudes de humil-

Page 2: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

dade, de pobreza de espírito e de amor às almas, mas fala também sobre o perfeito exercício do maior Ofício da Igreja, o ofício de ser Papa. Um Papa santo significa um santo pastor como Cristo, que alenta o seu rebanho a uma vida mais zelosa e perfei-ta, um guarda heróico e defensor da Fé Católica, um servo fiel de Deus que serve o Seu Mestre Divino de tal maneira que se espalhe o Reino de Cristo em toda a terra.

Podemos ver que tais julgamentos sobre a santidade, segundo a Igreja de sempre, não são minimamente um resultado de sentimentos, mas veredictos objectivos e só-brios. Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”, aplicando de propósito este termo, para sublinhar que se trata de uma espécie de caso jurídico, tal e qual como um processo num tribunal civil. E de facto é um processo! Prova-se nele, se realmente havia a libertação do pecado ou do que não fosse compatível com a santidade e se havia uma virtude em grau heróico, isto é, em grau extraordinário.

Precisa-se, entre outras provas, de um milagre que se deva à intercessão do candida-to. Como no tribunal, ouvem-se testemunhas, colhem-se testemunhos, documentos, palavras ou cartas da dita pessoa, analisa-se tudo, tenta-se não omitir nada, afim de que tudo seja o mais objectivo possível. O julgamento deve apoiar-se somente em factos. Sentimentos ou simpatia seriam despropositados e falsificariam a veracidade do julgamento.

Se se descobrir uma falta qualquer, durante a investigação, termina-se logo o proces-so com o veredicto de “não” - não é nenhum santo! Se se descobrir, por exemplo, que um sacerdote teve quaisquer descuidos no cumprimento das suas obrigações pasto-rais, então nem pensar numa beatificação e muito menos numa canonizacão.

A Igreja Católica quis, desta maneira, admitir como santos somente verdadeiros modelos de virtude e proteger-se contra a falta de objectividade e também contra julgamentos injustos. Tais julgamentos injustos aconteceram em grande número em países com regimes socialistas, comunistas ou maçónicos. Julgamentos injustos são inválidos, mesmo se fossem feitos por representantes válidos da potestade. Um dos maiores sofrimentos de Nosso Senhor era a Sua condenação injusta por Pilatos, que julgou sob pressão da vontade da multidão!

Um processo de beatificação ou de canonização é parecido: o julgamento não pode nascer da arbitrariedade do juiz, nem da selectividade das análises, nem por pressão do povo. O julgamento se falsificaria, e seria simplesmente nulo e inválido.

João Paulo morreu no abril de 2005, depois de um dos pontificados mais compridos da história. Ao longo do seu pontificado fez mais de 20.000 alocuções, publicou ca-torze Encíclicas e centenas de outros documentos papais, visitou 130 países e con-cedeu à volta de 3000 audiências, durante as quais recebeu cerca de 20 milhões de

Page 3: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

pessoas. Em mais ou menos 10.000 reuniões recebeu bispos de todo o mundo. Além disso falou com mais de mil pessoas importantes da política ou da diplomacia. Este grande número de acontecimentos exigiria uma investigação muito profunda, se se quisesse fazer um julgamento objectivo sobre a heroicidade da sua pessoa.

Além disso, não nos esqueçamos que, logicamente, um processo de beatificação deve abranger toda a vida, ou em casos em que houve uma conversão, pelo menos a vida desde a conversão. Assim se fazia antigamente! Entre outros motivos, por esta razão é que os processos costumavam demorar anos e anos.

Num processo verdadeiro ouve-se as testemunhas. O direito obrigatório em vigor sobre os processos de beatificação e canonização prevê que a respectiva Congregação deve analisar todos os documentos e testemunhos que lhe forem entregues sobre a causa. A Fraternidade São Pio X, sabendo disso, enviou, um certo tempo antes do Maio 2011, um dossier com dúvidas sobre a santidade de João Paulo. Segundo o direito canónico, tais documentos, recebidos a nível diocesano, devem ser enviados e acrescentados à documentação geral, e devem ser avaliados. Apesar disso, não foi respeitado o documento da Fraternidade, mas teria ficado numa gaveta de alguma secretária curial.

Por isso, a Fraternidade ainda tentou a enviar a mesma documentação a Roma di-rectamente, às instituições responsáveis da Santa Sé. Mas não houve nenhuma res-posta. A documentação da Fraternidade apoiava-se exclusivamente em factos. Cada pormenor está acompanhado por uma nota, em que a Fraternidade recorda quando e onde o Papa tinha feito ou dito isto ou aquilo.

Os factos mencionados na documentação da Fraternidade descrevem claramente que as virtudes não atingiram a heroicidade. A sua Fé não estava a tal nível que jus-tificasse uma beatificação. Pelo contrário, há infelizmente uma quantidade de acções e palavras públicas que não se harmonizam com a sua dignidade de Papa.

Para que não haja nenhuma falsificação, havia no passado a instituição do “advoca-tus diaboli”, um sacerdote ou teólogo que fazia um esforço para encontrar argumen-tos contra a beatificação ou canonizacão. Este “advogado” fazia parte do tribunal. Procurava e investigava o que se pudesse encontrar de menos bem, ou até de mal.

No processo de João Paulo não quiseram utilizar esta instituição.

Qualquer católico sabe que não pode ser santo alguém que não guardou os manda-mentos. O primeiro e mais importante ensina-nos que devemos adorar e honrar o verdadeiro Deus, Uno e Trino. Sabemos que não devemos ter nada a ver com fal-sos deuses ou cultos. Sabemos que os mártires dos primeiros séculos morreram por Cristo, porque recusaram dar sinais de veneração a “divindades” falsas ou a outras

Page 4: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

“religiões”. O papa, no entanto, fez coisas e disse palavras que não estão de acordo com o primeiro mandamento.

Nós não julgamos qual foi a razão de ele ter beijado o Corão, mas objectivamente foi um acto de veneração do conteúdo do Corão, e o conteúdo do Corão está em con-tradição com o primeiro mandamento. Beija-se em actos religiosos um livro porque se venera o que está escrito dentro dele. Cada sacerdote beija o missal depois do Evangelho, mesmo na missa moderna, para exprimir a sua aderência à totalidade da doutrina que está neste livro. Imaginemos a situação em que um guia espiritual de alta posição no Islão beijasse o Missal ou o Evangelho!...

O gesto do papa causou uma desorientação muito grande entre os Fiéis de todo o mundo. Uns revoltaram-se, outros ficaram estupefactos, e a maioria, que horror, acredita, desde aquele momento, que o Corão pode considerar-se como outro evange-lho, e o Islão seria também um caminho de salvação.

Como podemos interpretar tais gestos do papa, o que pensar sobre a participação ac-tiva num culto de uma outra “religião” na floresta “sagrada” do Togo? Ainda há pou-co tempo todas estas acções teriam sido suficientes para declarar alguém herético.

Como podemos ver, não havia santidade neste homem, não havia razão para bea-tificá-lo, e finalmente não houve processo de beatificação, pelo menos num sentido objectivo. Não podemos, portanto, considerar João Paulo II como beato, pelo menos no sentido em que a Igreja Católica entendia um beato até metade do século vinte.

Leiam a este respeito um artigo interessante no interior da revista.

Que Deus vos abençoe!

Padre Anselmo

Page 5: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

SuperiorGeralconvocanovaCruzadadoRosário

ExcertodaCartaaosAmigoseBenfeitoresn.º78

Muitosdeentrevósperguntamqualfoi o efeito da nossa Cruzada doRosário terminada no ano passado.Nós entregámos o seu resultadojuntamente com o nosso pedido aoSumo Pontífice, que não se dignouresponder,nemsequercomumavisode recepção. Contudo, isso não devedesencorajar-nos. A Nossa oraçãosubiuaoCéu,aNossaSenhora,nossabondosa e misericordiosa Mãe, e aoDeus das Misericórdias. Nós nãotemos o direito de duvidar de queseremos escutados, conforme asdisposições infalíveis da Providênciadivina. Saibamos confiar no bomDeus. No entanto, a situação daIgreja e do mundo leva-nos a pedir-vos insistentemente de não cessaressemovimentodeoraçõespelobemda Igreja e do mundo, pelo triunfodo Imaculado Coração de Maria. Aintensidade da crise, a multiplicaçãode todo o tipo de males que feremou ameaçam a humanidade, exigede nossa parte uma atitude que lhecorresponda:“Devemos rezar sempre, e não desfalecer jamais”Oportet semper orare et numquam deficere(Lc.�8,�).

É por isso que nos parece urgente emais que oportuno, considerando oaumento de intensidade dos malesque submergem a Santa Igreja, delançar uma vez mais uma Cruzada

do Rosário, uma Cruzada de oraçãoe penitência. Nós convidamo–vos aunir todos os vossos esforços, todasasvossas forças,para reunirdesdeaPáscoadesteanoatéaoPentecostesde��0���umnovobouquetespiritual,umanovacoroadestasrosastãoagradáveisa Nossa Senhora, para implorar-Lheaintercessãoemfavordeseusfilhosjunto do seu Divino Filho e do PaiOmnipotente. A confusão mais nãofazqueaumentarentreasalmas;elasestão a ser entregues aos lobos atémesmonoaprisco.Aprovaétãodifícilque mesmo os eleitos se perderiamse não fosse abreviada. Os poucosdesenvolvimentosreconfortantesdosúltimosanosnãosãosuficientesparaque ousemos dizer que as coisas, defacto, mudaram fundamentalmente.Eles dão-nos grandes esperançaspara o futuro, mas são como a luzque se percebe enquanto ainda seestánofundodotúnel.Destemodo,peçamoscomtodoocoraçãoàMãedoCéuqueintervenhaafimdequeestaterrível prova seja abreviada, paraqueomantomodernistaquecobreaIgreja–pelomenosdesdeoConcílioVaticanoII–possaserrasgado,paraque as Autoridades exerçam os seusdeveres salvíficos para as com asalmas,paraqueaIgrejapossarecobraro seu esplendor e beleza espirituais,para que as almas espalhadas pelo

Page 6: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

mundopossamouviraBoaNovaqueconverte,receberosSacramentosquesalvam,encontrandooúnicoaprisco.Ah,comogostaríamosdepoderusarumalinguagemmenosdramática,masseriaumamentiraeumanegligênciaculpável de nossa parte tranquilizar-vosedeixar-vospensarqueascoisasmelhorariamporsimesmas.

Contamoscomavossagenerosidadeparareunirumavezmaisumbouquet

depelomenosdozemilhõesdeterçospelas intenções de que a Igreja sejalibertadadosmalesqueaoprimemouameaçamoseufuturopróximo,paraque a Rússia seja consagrada e paraque o Triunfo da Imaculada chegueembreve!

Menzigen,�ºDomingodaPaixão

+Bernard Fellay

RelatóriodasreservasquantoàbeatificaçãodoPapaJoãoPauloII

Este relatório apareceu no DICI (“Exposé des réserves sur la prochaine béatification de Jean-Paul II”) no dia 16-04-2011 e no “The Remnant”

AiminentebeatificaçãodoPapaJoãoPauloIInodia�deMaiode��0��temlevantado em todo o mundo sériaspreocupaçõesamuitoscatólicospre-ocupadoscomoestadodaIgrejaeosescândalosqueatêmafligidonosúlti-mosanos–escândalosessesqueleva-ramofuturoPapaBentoXVIadeclararnaSexta-FeiraSantade��00�:”Quan-taimundícieexistedentrodaIgreja,principalmente entre aqueles que,sendo sacerdotes, lhe deveriam sertotalmentefiéis.”Nósvimosdaraqui

conhecimento por este meio públicodanossapreocupação,agindosegun-doaprópriaLeidaIgrejaquedizque:De acordo com o seu conhecimento, a sua competência e o seu prestígio, os fiéis Cristãos têm o direito e mesmo às vezes o dever, de manifestar aos seus pastores consagrados a sua opinião em relação a assuntos relacionados com o bem da Igreja, e têm o direito de fazer conhecer a sua opinião aos outros fiéis cristãos, desde que respeitem a integridade da fé e da moral e mostrem respeito pelos seus pastores e consideração pelo bem comum e a dignidade das pessoas.[CIC (1983),

Page 7: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

7

Can.212, &3.]

Oquenósconsideramosemboacons-ciência, ser o bem comum da Igrejaobriga-nos a exprimir as nossas re-servas acercadestabeatificação.Nósfazemo-lo pelas seguintes razões,mesmo se outras também poderiamsermencionadas:

A verdadeira questão

Esclarecemos,paracomeçar,quenãoapresentamos estas consideraçõescomoumargumentocontraapieda-deouaintegridadepessoaisdeJoãoPaulo II, que deveremos pressupor.O problema não é a sua piedade e integridade própriamente ditas,masofactodesaberseexistealgumabaseobjectivaparadeclararqueJoãoPaulo II deu mostra de tais virtudesheróicas no exercício das suas altas funções como Papa que justifiqueele ser imediatamente posto na viadasantificaçãoepossaserdadocomoexemploaseguiratodososseussu-cessores.

A Igreja sempre reconheceu que oproblema das virtudes heróicas numprocesso de beatificação estava in-trinsecamente ligado ao exercícioheróico pelo candidato dos deveresdo seu estado na vida. Comooex-plicouoPapaBentoXIV(���7�-�7�8)noseuensinamentoacercadabeati-ficação, a realização heróica dos deveres envolve actos tão difíceis que “estão acima da força comum do homem”, são “realizados rápi-damente, facilmente”, com santa

alegria” e “ assaz frequentemen-te, quando a ocasião se apresenta”[Cf.DeservorumaDeibeatificatione,Bk.III,chap.���inReginaldGarrigou-Lagrange,ThethreeAgesof InteriorLife,Vol.��,p.�����].

Vamos supor que um pai de famíliaeracandidatoàbeatificação.Nínguémesperariasériamentequeasuacausaavançassese,emborapio,elefalhassedemodoconsistenteadisciplinareaeducar correctamente os seus filhos,que lhe eram normalmente desobe-dientes e fomentassem distúrbiosem casa, chegando até ao ponto dese opor abertamente á fé enquantoviviam debaixo do seu tecto; ou se,mesmo sendo cumpridor das suasoraçõesedeveresespirituais, elene-gligenciasseosustentodasuafamíliapeloseutrabalhoedeixasseasuacasacairaospedaços.

Quando o candidato à beatificaçãoé um Papa – o Santo Pai da IgrejaUniversal – o problema não é sim-plesmente os seus deveres piedososeespirituais,mastambémamaneiracomo ele cuida do grande magisté-riodaFéqueDeus lheconfiou,parao qual Deus concede ao Papa graçasextraordinárias da fé.Esta é a ver-dadeira questão: Será que João Paulo II realizou heróicamente os seus deveres de Sumo Pontifí-cie da mesma maneira que os seus predecessores que foram santifi-cados e que mencionaremos aqui: Será que se opôs ao erro, rapida-

Page 8: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

8

mente e corajosamente defendeu o rebanho dos lobos ferozes que o debandaram e protegeu a integri-dade da doutrina da Igreja e a sa-grada liturgia?Temosreceiodeque,nestacorridaàbeatificação,averda-deira questão não tenha recebido acuidadosa e ponderada consideraçãoquemereceter.

Uma pressão popular desproposita-da

Dentro das circunstâncias que acha-mos inquietantes, podemos citar ainconveniente pressão popular paraabeatificaçãoimediata,ilustradapeloslogan”Santosubito!”(“Santojá!”)Éprecisamenteparaevitarainfluênciadaefémeraemoçãopopularedeper-mitirqueumaapreciaçãodesapaixo-nada e histórica se forme, que a leida Igreja sábiamente prescreve umperíododeesperadecincoanosantesmesmo do processo da beatificaçãocomeçar.Noentanto,nestecaso,esteperíodoprudentedeesperafoiaboli-do.Éassimqueumprocessoquenes-taaltura,deveriaapenastercomeça-do, jáestáquasenofim,comoqueadarsatisfaçãoimediataàvontadepo-pular,mesmosenãoéesseocaso.

Nósestamosbemconscientesdopa-pel da aclamação popular em casosexcepcionaiseissomesmonacanoni-zaçãodesantos.Porexemplo,oPapaGregório o magno, foi canonizadoporaclamaçãopopularquaseimedia-tamente apósa suamorte.MasesteeminentePontificeRomanofoinada

maisnadamenosdoqueofundadordaCivilizaçãoCristã,fundamentandoasbasesespirituaiseorganizacionaisda constituição da Igreja e da Cris-tandadequeperduraramséculoapósséculo.

DamesmamaneiraoPapaSãoNico-lauI,oúltimodosPapasqueaIgrejaapelidoude “grande”, foidecisivonareformadaIgrejaduranteacrisedaféedisciplinaqueatingiuespecialmen-te a alta hierarquia cujos membroscorruptoseleenfrentousemmedoeécomtodaarazãoconsideradocomoo verdadeiro salvador da CivilizaçãoCristãnumaalturaemqueasuapró-priasobrevivênciaestavaemjogo.

Maisainda,aaclamaçãopopulardosbeatos e dos santos pertence a umtempoemqueopovoeramaioritária-mentefielesubmissoàIgreja.Nósde-vemosperguntar:Qualéovalordestepedidopopularparaestabeatificação,numaépocaemqueamaioriadosquese dizem católicos rejeitam simples-mente todo e qualquer ensinamentosobreaféouamoralqueelesachaminaceitáveis-acimadetudooensina-mentoinfalíveldoMagistériosobreocasamentoeaprocriação?

Uma herança problemática

Comtodaasinceridade,somosobri-gados a observar em comparaçãocomoutroscasos, queopontificadode João Paulo II, não pode justificarobjectivamenteumabeatificaçãoporaclamaçãopopulardadooestadoemque deixou a Igreja e ainda menos a

Page 9: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

canonização imediataquetemvindoaserpedidaemgrandesgritospelasmultidões. Uma honesta apreciaçãodos factos leva-nos à conclusaõ dequeopontificadodeJoãoPauloIIfoimarcado, não pela renovação, nempela restauração, que assistimos du-rante o pontificado dos seus ilustresantecessores,mas,aocontrário,comodiz o Cardinal Joseph Ratzinger nasua observação[Cf.L’Osservatore Ro-mano,�nov��8��]pelaaceleraçãodo“processo contínuo de decadência”,emparticularnasnaçõesdetradiçãocristãdaEuropaOcidental,dasAmé-ricasedoPacífico.

Estarealidadeobjectivaétãomaisapa-rentequandoconsideramoscomofoiopróprioPapa,quemesmonofimdoseupontificado,lamentou“a aposta-siasilenciosa” numaEuropaquefoicristã.[Cf,Ecclesia in Europa (��00�),nº�].Maisainda,oseusucessorjáde-negriu públicamente “o processo desecularização” que “produziu uma grave crise do sentido da fé cristã e da pertença à Igreja”.NessaocasiãooPapaBentoXVIanunciouacriaçãodeumnovoConselhoPontificalcujamissãoespecíficaseráade” promover uma nova evangelização nos países onde já houve uma primeira cris-tianização...mas que agora vivem uma secularização progressiva da sociedade e uma espécie de “eclipse do sentido de Deus.”[CfHomiliadasVésperas,��8Junho,��0�0].

Apenetraçãodesta“apostasiasilen-

ciosa” entre os membros da própriaIgrejatornou-semaisevidentedepoisdo Concílio do Vaticano II. Antes doConcílio, o mundo em geral estavanumdeclíniovertiginosoecadaPapanãodeixavadeoavisarrepetidamen-te,masdentrodaprópria Igrejaa fépermanecia forte, a liturgia perma-neciaintacta,asvocaçõeseramabun-dantes, as famílias eram numerosas–até à“grandeaberturaaomundo”doConcílioVaticanoII.

O Sumo Pontífice actual, quando es-crevia como cardinal Ratzinger, ameio do pontificado de ��7 anos doseu predecessor, fez um diagnósti-coparcialacercadaapariçãodeumacrise pós conciliar sem preceden-tes na história da Igreja, dizendoentão:”Estou convencido de que acrisedaIgrejanaqualnosencontra-mos hoje se deve em grande parteaocolapsoda liturgia...”[LaMiaVita(���7), p.���:”Sono convictoche lacrisieclesialeincuioggidestegrandesacramento. E eu troviamo dipendein gran parte dal crollo della litur-gia...”]

Nãoéprecisonenhumademonstraçãoespecial para verificar que o”colapsodaliturgia”éalgoquenuncaaconte-ceuantesdoVaticanoIIedas“refor-mas”realizadasnoseunome.

Apenas tinham passado quinze anosdepois do Concílio quando, duranteo segundo ano do seu pontificado, opróprio João Paulo II pediu perdãopublicamentepelasúbitaedramática

Page 10: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�0

perda da fé e reverência eucarísticosque se seguiram às “reformas litúr-gicas”aprovadaspeloPapaPauloVI,dizendonessaaltura:

Eu gostaria de pedir perdão - em meu pró-prio nome e no nome de todos vós, caros e veneráveis irmãos do episcopado – por tudo o que, por qualquer razão devida a alguma fraqueza humana, impaciência ou negligência e também, que a aplica-ção parcial, unilateral ou errada das di-rectivas do Concílio Vaticano II, através dos tempos possa ter causado escândalo e perturbações naquilo que se relaciona com a interpretação deste grande sacra-mento. E eu oro ao Senhor que no futuro nós possamos evitar na nossa maneira de lidar com este mistério sagrado tudo o que possa enfraquecer ou desorientar em qualquer maneira o sentido de reve-rência e amor que existe no nosso povo fiel.[Dominicae Cenae (1980), n.12]

Noentanto,esteespantosopedidodeperdãodoPapaJoãoPauloII,nuncafoiseguidoporqualqueracçãodecisi-vadestinadaatentarpararocolapsocontínuo da liturgia durante os pró-ximos ��� anos do seu reinado.Antespelocontrário,em��88,novigésimoquintoaniversáriodoSacrosanctum Concilium ,oPapaexaltouas“refor-mas que ele permitiu realizar” comosendo o “fruto mais visível de toda a obra do concílio”,sublinhandoque“para muitas pessoas a mensagem do Concílio Vaticano II foi princi-palmente concretizada através da reforma da liturgia”. E sem som-

brasdedúvidasqueofoi!Noentan-to,emrelaçãoaocolapsoevidentedaliturgia,oPapasóreparouqueváriosabusossóocorreram“ocasionalmen-te”, enquantoqueinsistiaqueapesardisso“agrandemaioriadospastorese do povo cristão aceitou a reformalitúrgica num espírito de obediên-cia e de um fervor verdadeiramentealegre.”[Vicesimus Quintus Annus(��88),n,���.]

Hoje em dia, porém, a maioria dopovo Cristão não acredita sequer naRealPresençadeNossoSenhorJesusCristo na Santa Eucaristia, que elesrecebemnamão,dasmãosnãocon-sagradas dos ministros laicos comose ele fosse meramente um pedaçodepão,queéamaneiraexactacomoeles o tratam. Mais ainda, ao man-terumaobediênciaaoMagistériodaIgreja quase universalmente selecti-va,apráticadacontracepçãoestálar-gamentedifundidaentreoscatólicos,cujasopiniõessobreestamatériatempoucadiferençadadosProtestantes,de acordo com inúmeras sondagense inquéritos. Isto é também eviden-ciadopelocairapiqueagoraabismaldataxadenatalidadeentreaspopu-laçõescatólicasnomundoocidental,quenãoestãoagerarfilhossuficien-tes para poder renovar as gerações.DaíqueopróprioJoãoPauloIItenhamencionado “ o medo difundido dedaravidaanovascrianças”no“meiodaapostasiasilenciosa“oqueelela-mentounaEcclesia in Europa. Defacto,nãosepodediscutirqueasmaisaltas

Page 11: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

taxasdenatalidadeocorrementreostradicionalistas que não participamna nova liturgia ou que, não tendooutra alternativa, a suportam sem omínimoíndicede“alegrefervor”.

Mais ainda é evidente de que foi opróprio Papa João Paulo II que, pe-los seus próprios actos, contribuiupara o colapso da liturgia. Pela pri-meira vez em toda a sua história, aIgrejapresenciouduranteoseupon-tificadoanovidadeescandalosadas”meninasdoaltar”,novidadeessaquecontrariouasuaprimeiradecisãodeproibirestainovaçãocomosendoin-compatível com a tradição bimilenarda Igreja. Depois, houve as liturgiaspapais“inculturais”commúsicarockeelementosfrancamentepagãos,queincluiramespectáculoschocantestaiscomoumamulherdeseiosnusalerasEpistolas na Nova Guiné, bailarinosAztecas ornamentados com plumas,rodopiando e agitando chocalhos ,um “rito de purificação” no México,euma“cerimóniadofumo”aborígenasubstituindoumritopenintencialnaAustrália. A desculpa de que o Papanãosabiadeantemãodenadadestasaberrações liturgicas é desmentidapelofactodeelepróprioterescolhidoeguardadoopróprioautoreorques-tradordestascerimónias:PieroMari-ni,quefoioMestrePontificaldasCe-lebraçõesLitúrgicasdeJoãoPaulo IIdurantequasevinteanos,apesardosprotestos a nível mundial contra osseusabusosgrotescosdaliturgiaRo-mana.Marininfoifinalmentesubsti-

tuidopeloPapaBentoXVI,queusoudegrandeclemênciaparacomele.

Somos honestamente forçados a ad-mitirqueseosgrandesPapasdean-tes do Concílio Vaticano II tivessemsidotestemunhasdasliturgiaspapaisdeJoãoPauloII,ousimplesmentedoestadogeraldoRitoRomanoduranteoseupontificado,elesteriamreagidocomummistodeindignaçãoedehor-rorincrédulo.

Mas não era só a liturgia que estavanumestadodecolapsonofimdoseupontificado.Comonósmencionámosnoiníciodesterelatório,asuadecla-ração,naSexta-FeiraSantade��00�,mesmo antes de subir ele próprio àcátedradeSãoPedro,oentãocardealRatzingerobservou:”Quantaimundí-ciehánaIgreja,mesmoentreaquelesque,peloseusacerdócio,lhedeveriamser inteiramente fiéis.” [Cf.”Homíliapara a Missa de Sexta-Feira Santa,”��00�] A “imundície” à qual o Cardi-nal se referia era obviamente o nú-mero incrível de escândalos sexuaisenvolvendo actos inqualificáveis depadres Católicos em todo o mundo–acolheitadedécadasde“renovaçãoconciliar”nosseminários.

Em vez de disciplinar os bispos quefomentavamestaimundícienosseusseminários,queaencobriammoven-doospredadoressexuaisdeumlugarparaooutro,edepoisarruinavamassuasdiocesesaopagarindemnizaçõesàs vítimas, João Paulo II ofereceuguarida a vários prelados excepcio-

Page 12: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

nalmente perversos. Talvez o exem-plo mais notório seja o do CardealBernardLaw.Forçadoatestemunharperanteumgrandejúriacercadasuaenormenegligênciaaofalharaerradi-caçãodospadrespredadoreshomos-sexuaisdejovensrapazesnaarquidio-cesedeBostonqueresultouem$�00milhõesdedólaresemindemnizaçõesàsmaisde�00vítimas,o“castigo”deBernardLaw,queoPapalhedeu,de-poisdasuademissãodesonrosa,foioter sido trazido para Roma e ter-lhesido atribuída uma das quatro mag-níficas basílicas patriarcais para nelaexercerafunçãodeArcebispo.

EquedizerdoArcebispoWeakland,ofamosoteólogodissidente,queadmi-tiunumdepoimento,queeleenvioudeliberadamente predadores homos-sexuais para a Arquidiocese de Mi-lwaukeeparaseremministrosactivosdocultosemadvertirosparoquianosounotificaraPolíciadosseuscrimes?Tendo levado a Arquidiocese á ban-carrota,resultantedosváriosproces-sos civis entrepostos pelas vítimas,Weaklandacaboua sua longacarrei-radesabotagemdaintegridadedafée da moral - com farta publicidademundial-sódepoisdetersidoreve-lado que ele se tinha indevidamenteapropriadode$���0,000dólaresdosfundos da Arquidiocese para calarumhomemcomoqualeletinhatidoum caso homossexual. João Paulo IIpermitiu que este lobo, ladrão epis-copal, passasse à reforma com todaadignidadedevidaaoseualtocargo

naIgreja,depoisdoqueumaeditoraProtestante publicou as suas memó-riasintituladas:”UmperegrinonumaIgreja peregrina: Memórias de umBispoCatólico”.Eumcríticoadmira-dorescreveuqueolivro”fazoretratode um homem imbuído dos valoresdoConcílioVaticanoIIquetemaco-ragemdeoslevarávantetantocomoabade Beneditino que como Arcebis-podeMilwaukee”.

A“imundície”queafligiuaIgrejadu-rante o último pontificado inclui alongahistóriadepredaçãosexualdoPadreMarcialMacielDegollado,fun-dadordos“LegionáriosdoCristo”,su-postamenteoverdadeiroexemploda“renovação” em acção. João Paulo IIrecusou-sea iniciarqualquerespéciede investigação à conduta do padreMaciel,apesardaacumulaçãodeevi-dênciasdosseuscrimesabomináveisque,graçasàpublicidadeanívelmun-dial,sãoagoraasmaisconhecidasja-maiscometidasporumpadrecatóli-co.Nãoprestandoamínimaatençãodosprocessoscanónicosbemconhe-cidoseiniciadoshámuitotempoporoitoseminaristasdoslegionários,queopadreMacieltinhaabusadosexual-mente, João Paulo II prodigamenteo cobriu de honras numa cerimóniapúblicanoVaticanoemNovembrode��00��.Noentanto,diasdepois,oen-tãoCardealRatzinger“tomouelepró-prioaresponsabilidadedadecisãodeautorizarumainvestigaçãoaMaciel”[JasonBerry,“MoneyPavedthewayforMaciel’sInfluenceintheVatican,

Page 13: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

“NationalCatholicReporter,April��,��0�0].

Teve de se esperar literalmente amortedeJoãoPauloparaqueMacielpudesse ser castigado. Ele foi final-menteafastadodoministérioactivoeexiladonummosteiro,quaseimedia-tamentedepoisdoCardealRatzingerter-setornadooPapaBentoXVI.

Mastudoistoerasóumapartedeumpadrãodescritoporumproeminentecomentador católico:”O talentoso João Paulo deixou os escândalos acumularem-se debaixo dos pés e a tarefa de os limpar foi deixada ao pouco carismáistico Ratzin-ger.Estepadrãoestende-seaoutrasquestõessensíveisqueoúltimoPapatinha tendência a evitar tais como adegradação da liturgia Católica ou asubida do Islão numa Europa outro-raCristã:”[RossDouthat,“ThebetterPope, “ New York Times, April ��,��0�0].

Outrarazãoparapôrreservasaestabeatificação é que durante o longopontificadodeJoãoPauloosfiéisCa-tólicos ficaram confusos e escandali-zadospelasnumerosasdeclaraçõesegestosmanifestamenteimprudentes,nuncavistospelaIgrejaem��000anosde existência. Vamos aqui relembraralguns dos mais conhecidos exem-plos.:

Os numerosos pedidos de desculpateológicamenteduvidosos,pelospre-sumidos pecados dos Católicos nasépocasanterioresdahistóriadaIgre-

ja.

Foievidentequeomundonãoenca-rouestesmea culpas,nuncaantesvis-tos,comoumagrandedemonstraçãoda humildade da Igreja. Pelo contrá-rio,comoseriadeesperar,essespedi-dosdedesculpaforaminterpretadoscomoadmissõespúblicasdaculpadaIgrejaemtodoequalquercrimecon-traahumanidade.Comaexcepçãodaapologia, esquecida aparentementeemDominicaeCenae,nãohouve,noentanto, apresentação de desculpaspela incapacidade catastrófico demembrosaindavivosdahierarquiaapreservaraféeadisciplinanointeriordo“contínuoprocessodedegradação”eda“apostasiasilenciosa”.

Os encontros ecuménicos de AssisemOutubrode��8��eemJaneirode��00��.

Durante os encontros de Assis em��00��, João Paulo II atribuiu lugaresnopróprioConventodeSãoFrancis-codeAssisaospraticantes“detodasas grandes religiões do mundo” queiam desde o animismo ao Zoroas-trismo,paraqueelespossamrealizaros seus rituais no seio mesmo destesantuárioCatólico.Referindo-secomênfase a “estes lugares postos à suadisposição”, o Papa declarou a estaassembleia heterogénea que incluíapraticantes de Vudu: “Nós iremostodos orar de maneiras diferentes,respeitandoastradiçõesreligiosasdetodos”.[Cf.”DiscursodesuaSantidadeoPapaaosrepresentantesdetodasas

Page 14: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

religiõesdomundo”����deJaneirode��00��, e lista dos participantes, Vati-cano.va]

A impressão inevitável que o encon-trodeAssisdeixounopúblico,espe-cialmente quando filtrada pelo pris-ma dos médias seculares, foi de quetodas as religiões valiam o mesmoaos olhos de Deus. - o que constituiprecisamente a teoria que foi rejei-tadacomofalsapeloPapaPioXI,nasua encíclica Mortalium Animos. PorqueoutrarazãohaveriadeoPapadeterconvidadoesses“representantes“paraviraAssisoferecerassuas“ora-çõesparaapaz?”Poderiaeletersince-ramentenegadoquetodososPapas,anterioresaoConcílio,semexcepção,teriamcondenadoesteespectáculo?

O beijo público do Corão pelo Papaduranteavisitadeumgrupodecida-dãos Cristãos e Muçulmanos do Ira-queaRoma.

O Patriarca Caldeu de rito Católi-co chamou a este acto “um gesto derespeito”paracomumareligiãocujaprópria essência nega a SantíssimaTrindade bemcomoaDivindadedoCristo, que pratica a poligamia, quepossui um conceito sensual do para-íso, e cuja inteira história está mar-cada pela perseguição dos Cristãos,como se vê hoje em dia no Iraque enas“repúblicas”IslâmicasdomundoÁrabe.

A espantosa exclamação em ��� deMarço do ano ��000 na Terra Santa:”QueSãoJoãoBaptista,protejaoIs-

lãoetodoopovodaJordânia...”[Cf“AhomiliaPapalnaTerraSanta”,vatica-no.va]

Qual poderá ser a explicação paraesta prece sem precedentes destina-da à protecção de uma falsa religião(distinta da humanidade dos seusadeptos)duranteumsermãoPapalnaTerraSanta–Terraessaquefoipre-cisamente libertada do jugo do IslãoduranteaprimeiraCruzada?

Aimposiçãodacruzpeitoral-símbo-lodaautoridadeepiscopal–aGeorgeCareyeRowanWilliams.

Estes denominados Arcebispos An-glicanos de Canterbury, cuja invali-dade das ordenações sacerdotais eepiscopais foi definitivamente de-claradapeloPapaLeãoXIIIem�8���pelaBulaApostolicaeCura,quenemsequer aderem ao ensinamento daIgrejaCatólicaemassuntostaiscomoamoralidademaiselementarbaseadanaleidivinaenaleinatural.[Cf.JohnAllen,“OsactosdoPapafalammaisalto”,NationalCatholicRegister,8deNovembrode��00��]

Aparticipaçãoactivanumacerimóniade adoração pagã numa “floresta sa-grada”do Togo.

O próprio jornal do Papa descre-veu como, na sua chegada neste lu-gar, “um bruxo começou a invocaros espíritos:”Poder da água, Eu te invoco. Antepassados, Eu vos in-voco.”Aseguiraesta invocaçãodos“espíritos”,apresentaramaoPapa“

Page 15: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

umrecipientecheiodeáguaefarinha.(Ele)inclinou-seprimeiroligeiramen-teedepoisdispersouamisturaemto-dasasdirecções.Nessamanhãelefezo mesmo antes da Missa. Este rito pagão significa que aquele que rece-beaágua(nestecasoopróprioPapa)símbolo de prosperidade, partilha -acomosseusantepassadosaolançá-laparaochão.[OOsservatoreRomano,edição Italiana de �� de Agosto de��8�,p,�]

Pouco depois de chegar a Roma, oPapa expressou a sua satisfação pelasua participação pública na oração eno ritual dos animistas dizendo:”Oencontro para orar no santuário dolago Togo foi particularmente mar-cante. Aí eu orei pela primeira vez com os animistas”. [La Croix, 23 de Agosto de 1985]. Serialógicopensarqueestaúnicaacção–dequenemse-quersearrependeu,masdaqualpelocontráriosevanglorioupúblicamente- fosse razão suficiente para acabarde vez com a causa da canonizaçãodeJoãoPauloII.PorquepelaprópriaadmissãodoPapa,“ele rezou...com animistas” E esta espécie de acçãoousejaaparticipaçãodirectaeformalnumacerimóniareligiosapagãéalgoqueaIgrejaCatólicasempreconside-rouobjectivamentecomoumpecadoextremamente grave. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica,acontece idolatriapagãnãosómentequandoohomemprestacultoafalsosdeusesouídolos,mastambémquan-do ele” honra e presta reverência a

umacriaturanolugardeDeus,sejameles deuses ou demónios (como nosatanismo),opoder,oprazer,araça, os antepassados...A Idolatria rejeitaaúnicasoberaniadeDeus;éporissoincompatível com a comunhão comDeus.”[CCC&�����].

Masconstituisemdúvidaomaiordemuitosescândalossemelhantesocor-ridos durante o pontificado de JoãoPauloII.ÉinteressanteverificarqualfoioveredictopóstumodaIgrejanoséculo IV acerca do Papa Liberius,primeiro bispo de Roma a não serproclamado santo. Liberius ga-nhouestadistinçãoduvidosaporque–enquantoestavanoexílioeduranteaopressãotirânicadeumimperador-aprovouumadoutrinaambígua fa-vorável ao Arianismo e excomungouAthanasius, o campeão da ortodoxiaTrinitária. Mesmo depois da sua li-bertaçãoede ter regressadoaRomaedeaíseterretractadodassuasac-ções lamentáveis e de ter mais umavez aderido á ortodoxia Trinitáriadurante todo o resto do seu pontifi-cado, foi-lhe mesmo assim negada acanonização.

O ofício da Vésperas na Basílica deSãoPedro,ocoraçãodaIgrejavisível,noqualoPapaconsentiuarezaremcomumcom“bispos”luteranos,entreos quais mulheres que pretendiamtambém ser sucessoras dos Apósto-los.

Esteespectáculolevantouóbviamen-teaquestãodesaberseoPapamina-

Page 16: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

vaoseupróprioensinamentocontraaordenaçãodasmulheres. [Cf.Allen,loc.cit.]

Consequentemente, e sob qualquerexameobjectivodosfactos,JoãoPau-loIIgovernouaIgrejadeixando-anomesmoestadodecrisequeseseguiuao turbilhãoque irrompeu imediata-menteapósoConcílioVaticanoII.Éverdadequeoseupontificadoalcan-çoualgumasrealizaçõesfrancamentepositivas que incluem a sua defesaadmirável e clara da vida humanaface a uma “cultura de morte”cadavezmaior,ensinamentosdevaloremváriasencíclicassociais importantes,umadeclaraçãoinfalívelacercadaim-possibilidade da ordenação das mu-lhereseomotuproprio(EcclesiaDei)quepelomenosprepararamoterrenoparaa“libertação”daMissaTradicio-nalpeloPapaBentoXVI.Tambémnãopretendemospôremcausaasuapie-dadepessoalepráticadeoraçãoqueforamevidentesparatodososqueoconheciamequenósafirmámoslogonoiníciodesterelatório.

No entanto, é indubitável que todosos Papas que precederam o Concí-lio teriam ficado chocados perante oquadro de desobediência desastrosa-mente generalizada, pela confusãodoutrinal,adegradaçãodaliturgia,osescândalosmorais,eodeclíniodaas-sistênciaàMissaquecontinuouatéaofimdoseupontificado–tudoistoexacerbadopornomeaçõesepiscopaispoucojudiciosasepelasdeclaraçõese

actospontificaisdequedemoscontaaqui.MesmooPapaPauloVI,oPapada reforma, cujas iniciativas ecumé-nicas e religiosas foram muito maisprudentesdoqueasdeJoãoPauloII,teria ficado extremamente chocadopelo estado da Igreja no fim do lon-go reinado de João Paulo II. E foi opróprioPapaPauloVIquedescreveuocolapsodesastrosoconsequenteaoConcílio,quesecomeçava jáamani-festar, comaspalavrasmaischocan-tesqueumPontíficieRomanoalgumavezpronunciou,dizendo:

Por alguma fissura o fumo de Sa-tanás entrou no templo de Deus: Apareceram aí dúvidas incerte-zas, problemas, inquietação. A dúvida entrou nas consciências e entrou pelas janelas que nós des-tinávamos a deixar entrar a luz. Este estado de incerteza reina mesmo dentro da própria Igreja. Nós esperávamos que, depois do Concílio, haveria um dia cheio de sol na história da Igreja. Em vez disso, veio um dia de nuvens, de escuridão, de busca, de incerteza. Como foi possível isto acontecer? Nós vamos confiar-vos os nossos pensamentos : Houve interferên-cia de um poder adverso: o seu nome é o diabo... (PauloVI, Inseg-namenti,Ed.Vaticana,VolX,��7��,p.707]

No entanto, da mesma maneira quePaulo VI, depois dele, João Paulo IIfalhou a tomar quaisquer medidas

Page 17: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�7

efectivasparacorrigirocolapsoqueo Papa -e sómente o Papa – poderiaterprevenido,ou,pelomenoslimitargrandemente.

AsdeclaraçõesdevastadorasdePauloVIforamcitadasnemmaisnemmenosdoquepelomonsenhorGuidoPozzo,SecretáriodaComissãopontifical”Ec-clesiaDei”,noseudiscursoaosPadresEuropeusdaFraternidadedeSãoPe-dronodia��deJulhode��0�0emWi-gratzbad. Como o monsenhor Pozzoadmitiu nessa ocasião:”Infelizmente,os efeitos descritos por PauloVI nãodesapareceram. Uma maneira de pensar vinda do exterior penetrou no mundo Católico incentivando aconfusão, seduzindo muitas almase desorientando os fiéis. Existe um“espírito de auto-destruição” im-pregnado de modernismo...”. A crisepós conciliar, observou ele, envolveuma“ideologia para-Conciliar” que “propõe, uma vez mais, a ideia de Modernismo, condenada no início do século XX por São Pio X”.

Mas quem, senão o último Papa – eo seu antecessor -é que carrega umapartedaresponsabilidadenadifusãodesta ideologia para-conciliar hete-rodoxaemtodoomundocatólico?Écerto e sabido que tanto João PauloII como Paulo VI, promulgaram umgrandenúmerodedocumentosrelati-vosaomagistériodaIgrejanalinhadadoutrina tradicional dirigidos contraestaheterodoxia.Masaquestãoquesepõeagoraéesta:Oseutestemunho

foisuficientementeforteeconsisten-te para que ele possa ser qualificadocomoumdefensorheróicodaFéorto-doxaedaMoral?Ou,emvezdisso,assuasmuitasnovidadesproblemáticasempalavraseemacções–ajuntaràssuasomissõeseàsuafaltadefirmezanogovernoeclesiástico–temoefeitoglobaldetirarcomamãoesquerdaoqueeledeucomadireita?

Acercadisto,édenotarestasupremaironia:naalturaemqueumressurgi-mento da heresia modernista estavaalançarocaosemtodaaIgreja,JoãoPauloIIsójulgounecessáriodeanun-ciar pessoalmente a excomunhão decinco pessoas em vinte e sete anosde pontificado: A excomunhão dofalecidoArcebispoMarcelLefebvreedos quatro bispos que ele consagrouem��88paraaFraternidadedeSãoPioX.[�]cujoobjectivoéprecisamen-te(podemosestardeacordoounãocomamaneiracomoelaarealiza)delutar contra “a ideologia para-conci-liar”mencionadapelomonsenhorPo-zzo,segundooprogramadeS.PioX,cujonomeaSociedadeadoptou.(NB:João Paulo II não anunciou pessoal-mente a excomunhão de Tissa Bala-suriya[��],quedetodaamaneiraviua sua excomunhão revogada um anomaistarde.

Comotodaagentesabe,oPapaBen-to XVI, revogou as excomunhõesdos quatro bispos da Fraternidadeno início do ano ��00�. Ele declarou desde aí “que a partir do momento em

Page 18: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�8

que estes quatro bispos reconheceram a primazia do Papa, do ponto de vista jurídico, eles deveriam ser libertos da excomunhão”.[LucedelMondo,p.����].Maselessemprereconheceramapri-maziadoPapa,aocontráriodaslegi-õesdecatólicos-leigos,padres,frei-ras,teólogoseatécertosbispos–queefectivamenteanegaramafastando-se abertamente dos ensinamentosmais fundamentais do Magistério,enquantoqueoVaticanonadafezouquasecontraelesdurantemaisdeumquartodeséculo.

DamesmamaneiraoinfelizPauloVI,no meio da “auto.destruição” cres-cente da Igreja que ele próprio de-nunciava, reservou as suas medidasdisciplinaresmaisseverasáFraterni-dade e ao Monsenhor Lefébvre, queelerepreendeunominalmenteeempúblico,antesdeordenarqueelefos-se suspenso a divinis, enquanto queos rebeldes da teologia e da liturgiasededicavamadestruiraIgrejapelomundoforaemtodaaimpunidade.

Hojeemdia,muitopoucosproporiamsériamenteabeatificaçãodePauloVI,quedesencadeouocolapsoaoqualelepresidiu, enquanto que nada fez desuficienteparaolimitar.Defactonãohavianenhumprocessodecanoniza-çãodePauloVIatéJoãoPauloIIotercomeçadoaníveldiocesanoem����.O processo não tem avançado desdeentão,tendosidoaparentementesus-pensoporcausadeacusaçõesgraves,semelhantescomalgumasaquisuge-

ridas. Deveremos perguntar então:PorquêapressaemquererbeatificarJoão Paulo II, quando sabemos queeleperseverouresolutamentenoim-prudente programa de reforma doseu antecessor, juntando a isso umalonga lista de novidades que nemmesmoo PapaPauloVI,estaperso-nagem altamente trágica, não teriatido a coragem de se aventurar a re-alizá-las? Pelo menos, verdade sejadita, Paulo VI teve a franqueza dedizerquetinhavistoofumodeSata-násentrarnaIgrejaenão“umanovaprimaveradevidaCristãqueseráre-veladapelograndeJubileuseosCris-tãosforemdóceisàacçãodoEspíritoSanto”[TertioMillennio Adveniente(�����),n.�8]

Pelo bem da verdade devemos serfrancosaodeclararaconclusãoóbvia:NenhumPapabeatificadooucanoni-zadoemtodaahistóriadaIgrejadei-xouumlegadotãopreocupantecomoJoãoPauloIIetalveznenhumoutroPapaanãoserPauloVI.

Um milagre duvidoso

Finalmente, não podemos deixar denotarqueoúnicomilagrenoqualsebaseiatodaabeatificação-apreten-sacuradumareligiosaFrancesa,irmãMarie Simon-Pierre, atingida com adoença de Parkinson – é questioná-vel.

Para já,oprópriodiagnósticodado-ençadeParkinsondeixamargemparadúvidas,dadoquefaltaaprovamédi-cadefinitivaquesópodeserfeitacom

Page 19: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

uma autópsia ao cérebro. Existemoutrasdoençasquepodemterremis-sõesespontâneasequesãomuitose-melhantesàdoençadeParkinson.Poroutrolado,aligaçãoentreapresumi-dacuradafreirae“anoitedeoraçõesaJoãoPauloII”pareceduvidosa,poisnãosesabeseasprecesforamfeitasexclusivamenteapelandoaJoãoPau-loIIouaoutrossantosconhecidosejácanonizados.

Para poder comparar, consideremososdoismilagresquePioXIIconside-rou suficientes para beatificar Pio X–foiopróprioJoãoPauloIIqueredu-ziu os milagres necessários para umsó.Oprimeiromilagretemavercomuma religiosa que, tendo um cancrodos ossos, foi milagrosamente cura-dadepoisdeteraplicadoumrelíquiadePioXsobreoseupeito.Osegundomilagretemavercomumareligiosacujo cancro desapareceu quando to-cou numa estátua relicário de Pio X.Nocasopresente,nãoexisteumatalcorrelaçãoindiscutivelentreapreten-dida cura e uma suposta relíquia deJoãoPauloII.

O que está em questão aqui não é oMagistério infalível da Igreja; a ava-liação deste único milagre baseia-senum julgamento médico que é sus-ceptíveldeerro.Imaginemomalquepoderá ser feito à credibilidade daIgrejaseossintomasreapareceremaestafreira.Defacto,emmêsdemar-çopassado,ojornaldiárioRzeczpos-polita, um dos jornais polacos mais

idóneos, anunciou que tinha havidoalgum reaparecimento dos sintomase que um dos dois médicos consul-tadostinha levantadosériasdúvidasem relação ao suposto milagre. Estadeclaração fez com que o antigo di-rectorda SagradaCongregaçãoparaa causa dos Santos, o Cardeal JoséSaraivaMartins,revelasseáimprensaque”é possível que um dos dois mé-dicos consultados possa ter algumasdúvidas.Eisso,infelizmente,veio-sea saber.” Martins revelou mais tardeque “as dúvidas requerem uma in-vestigaçãomaisaprofundada.Nestescasos, disse ele, a Congregação pedea outros médicos para investigaremocasoedaremasuaopinião”[NicoleWinfield,AssociatedPress”JohnPaulII “Miracle” Firther scrutenized”, ��8deMarçode��0�0]

Um médico duvidou do milagre e,quando” isso se soube” de maneiraimprevista, outros médicos foramchamados – e isto há menos de umano!Seráquevimosmilagresdestesreconhecidos indubitávelmente porPioXIInabeatificaçãodePioX?

As consequências prováveis decor-rentes deste acto

Mais uma vez, o verdadeiro proble-ma desta beatificação não é saber seJoãoPauloIIeraumhomembomouumsanto,masemvezdissooqueéque esta beatificação irá significarpara as massas que não sabem fazera distinção entre uma beatificaçãoe uma canonização. Isso significaria

Page 20: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��0

queaIgrejaconsiderasantoemesmoum grande santo entre os PontíficesRomanos, um Papa cujo governo daIgrejanãosepodecompararminima-mentecomosexemplosdosseussan-tosebeatospredecessores.

Tomemos,porexemplo,openúltimoPontíficeromanoquefoicanonizado,SãoPioV,equefoiummodelodeco-ragem na reforma do clero segundoos decretos do Concílio de Trento,comassuasmedidasenérgicascontraapropagaçãodoserrosnaIgreja(taiscomooreforçodaInquisição)enasuadefesa do conjunto da CristandadecontraaameaçadoIslão,paraoqualJoãoPauloIIimplorouaprotecçãodeSãoJoãoBaptista!

Consideremos também o caso do úl-timoPapaquefoielevadoaosaltares:SãoPioX,igualmenteconhecidopeloseugovernocorajosodaIgrejaenare-pressãodaheresiamodernista,preci-samenteaquelaquesemanifestoudenovologodepoisdoconcílioVaticanoIIequefoidisseminadapelomundocatólicoduranteopontificadodeJoãoPaulo II, como o monsenhor Pozzotão candidamente observou há pou-cosmesesatrás(massemconsiderarem nada, parece, a responsabilidadedochefedaIgrejanestacatástrofe).

Como consequência, esta beatifica-ção,não implicaráo riscode reduziranoçãodebeatificaçãoemesmaadecanonizaçãoaoníveldeumtestemu-nhodeestimapopulardeumafiguraamadanaIgreja,umpoucocomoum

Óscareclesiástico?Éderepararaqui,queJoãoPauloII,numadassuasnu-merosas inovações, “simplificou”osprocessos de beatificação e de cano-nização,oquelhepermitiuchegaraonúmero incrível de �.��8 beatifica-ções e de ��8�� canonizações, númerosuperioratodososseusantecessoresjuntos. Será prudente que o mesmoPapaquepôsemfuncionamentoesta“fábrica de santos” seja julgado se-gundo essas normas menos exigen-tes? ( desenvolvimento largamentedepreciadonaimprensa)?

Nós temos também de expressar anossa profunda preocupação em re-lação à exploração previsível destabeatificação pelas forças astutas daopiniãomundial.Nósvemosqueelasestãocuriosamentesilenciosasquan-do nós deveríamos esperar uma cla-morosa oposição se esta beatificaçãorepresentasse realmente uma ofensaàimprensaliberalqueprevalece–talcomo acontece com a beatificaçãoproposta de Pio XII, que encontrouuma implacável campanha publicitá-ria destinada a interrompê-la a todoocusto.Parecequeaopiniãomundialvê favorávelmente a beatificação deJoão Paulo II na medida em que elaserve o propósito de validar “as re-formasdoVaticanoII”queomundosaudou como um compromisso como”mundomoderno”,a”liberdade”eos“direitos do homem”, compromissoesperadohámuitotempodumaIgre-jaesclerosada.

Page 21: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

Noentanto,estamosconvencidosque,seabeatificaçãoacontecercomoestáprevisto,poderosossectoresdosmé-dia não perderão um momento paramostrar,comoexemplodahipocrisiadaIgreja,ainépciaeonepotismoma-nifestados pela honra dada ao Papaquepresidiuaoescândalodapedofiliae que recusou de castigar o sinistrofundador dos Legionários de Cristo.Sobreesseúltimoponto,jáexisteumrelatóriosobaformadelivroedefil-mechamado“Osvotosdosilêncio:oabusodepoderduranteopontificadodeJoãoPauloII”quecontaamaneiracomoMacielfoiprotegidopelosprin-cipaisconselheirosdoPapa,dosquaisum foi o Cardeal Sodano, SecretáriodeEstadodoVaticano,oCardealMa-tinez, Prefeito da Congregação paraosInstitutosdeVidaConsagradaeasSociedadesdevidaapostólicaeoCar-deal Dziwisz, hoje Arcebispo de Cra-covia,secretáriodeJoãoPauloIIeoseumaispróximoconfidente.

Conclusão

Nomeiodoquea irmãLúciacorrec-tamente chamou de “desorientaçãodiabólica” na Igreja, estamos certosdequeestabeatificaçãonãoestáab-solutamente nada de acordo com ocarisma da infalibilidade. Ela nãoestabelece um culto obrigatório masúnicamente permite a veneração dobeatus se as pessoas assim o deseja-rem.Nessecaso,portanto,encontra-mo- nos confrontados com a verda-deirapossibilidadede terhavidoum

grave erro de julgamento prudente,provocadoporcircunstânciascontin-gentes inclusive a popularidade e aafeição,quenãodeveriaminfluenciaro processo essencial dum inquéritoaprofundado e de uma deliberaçãonocasodestabeatificaçãoparticular,comtodasasimplicaçõesquedaíde-corremparaaIgrejauniversal.

Maisumavez,nósperguntamos:Por-quê esta pressa toda? Têm medo dequeseestabeatificaçãonãofor ime-diatamente realizada, um veredictomaisponderadodahistóriapossaim-pedi-la de vez, como foi certamenteocasoparaPauloVI?Sesim,porquenão conformar esse veredicto comumavisãodelongoprazo,queaIgre-jageralmenteadoptaquandosetratadabeatificaçãooudacanonização?Semesmo um gigante como São Pio Vsófoicanonizadopassados���0anosdepoisdasuamorte,nãopoderíamosesperaraomenosalgunsanosafimdeavaliar a herança do pontificado quedeveriaseroquedeveriapesarmaisna decisão de beatificar João PauloII? Não poderá a Igreja esperar nemmesmo�7anosquefoiotempoquepassouentreamortedePioXeasuabeatificaçãoporPioXIIem����(se-guidapelasuacanonizaçãoem�����?)Comefeito,seráqueéprudentepro-cederábeatificaçãoagora-semava-liação suplementar e baseada numúnico milagre cuja autenticidade épostaemcausa-umPapacujaheran-ça é reconhecida como marcada pelapropagaçãogalopantedomalaoqual

Page 22: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

����

mesmoS.PioXseopôsheróicamenteequevenceunoseutempo?

Portodasestasrazões,pensamosqueé correcto e apropriado implorar oSantoPadreparadiferirabeatificaçãodeJoãoPauloIIparaumaalturaemqueasbasesparatãosoleneactose-jamavaliadasdemaneiramaisobjec-tivaedesapaixonadaàluzdahistória.Um atraso prudente desta beatifica-ção só pode servir o bem da Igreja,posto em perigo, pelo contrário, porum processo precipitado não isentodeerrosenãobeneficiandodocaris-madoMagistérioinfaliveldaIgreja.

NossaSenhora,RainhadaSabedoria,

Virgenprudentissima,oraipornós!

Este relatório deve ser entregue, nodia ��� de Abril de ��0��, ao CardealAngelo Amato, Prefeito da Congre-gação para as causas dos santos. Eleserá acompanhado de uma lista designatários de todo o mundo: Esta-dosUnidosdaAmérica,ReinoUnido,Austrália,França,PaísesBaixos,Poló-nia, Argentina, Noruega, Alemanha,Irlanda,Dinamarca,RépublicaCheca,Malásia, Malta, Eslovénia, México,Canadá,Espanha,NovaZelãndia,Ja-pão, Suécia, Peru, Portugal, Indoné-sia,Porto-Rico,Áustria,Uganda...

ConvémadicionaraquionomedoBispoco-consagrador.MonsenhorAntóniodeCastro-Mayer,antigoBispodeCampsonoBrasil(NDLRdeDICI)OpadredoShri-lanka,TissaBalasuriyafoiexcomungadonodia��deJaneirode���7porcausadoseulivro“Mariaoualibertaçãohumana”noqualelepunhaempédeigualdadetodasasreligiõeseosseusfundadores,faziadadoutrinadopeca-dooriginalumhipóteseeummíto,dúvidavadonascimentovirginaldeCristo...Estaexcomunhãofoilevantadanodia��deJaneirode���8(NDLRdeDICI)

�.

��.

Page 23: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

SãoPoliteutoemAssis

dePadreRégisdeCacqueray

Comunicado do superior do distrito de França da Fraternidade São Pio X, por moti-vo da convocatória do terceiro encontro de assis.

«Não é necessário confessar a fé emtodo o momento e lugar; todavia háalgumas circunstâncias de tempo esituaçãoemquetalseafiguraimpera-tivo:Quandoporomissãodestacon-fissãoseprivariaaDeusdahonraqueLheédevidaouopróximodoserviçoque se lhe deve ministrar» ( São To-másdeAquino).

Já é hora de nos deixarmos de pala-vras tão sonoras como carentes deutilidadeprática,dementirmosanósmesmosedementirmosaoshomens.Constitui um engano sem sentidoinvocar uma vez mais a virtude daobediênciaparasolicitarasubmissãodos católicos, quando É A MESMÍS-SIMAFÉCATÓLICAOQUESEPÕEEM CAUSA.É a hora de pensar nahonra devida a Nosso Senhor JesusCristo,enãonosriscosemquecadaumpodeincorrer.Éurgentequenoscoloquemosaoserviçodasalmases-candalizadasprioritariamenteatodooconfortopessoal.AFédeveserpu-blicamente professada, custe o quecustar,eodeverdeconfessá-laétan-to mais grave e urgente quando sãoas próprias autoridades da Igreja asque estão na origem destes terríveisescândalos.

Porissomesmoconstituiumactotão

lamentável tratar de ocultar-se pordetrás de falsos raciocínios, os quaispretendemnegarasevidentescontra-diçõesdasactuaçõesdopapaebisposhodiernos com os procedimentos detodososseushomólogosdeantanho.Osqueseescondempordetrásdear-gúcias indignas e apresentam o seumodo de operar como uma referên-ciaa seguirestãoconduzindoo jogoda mentira. Enganam as almas emmatériagraveefavorecemaperdadaFé. Terão de prestar contas dos seussilêncios,bemcomodesuasculpáveiscumplicidades.

As cerimónias interreligiosas convo-cadas pelos últimos papas para con-vidar a rezar pela paz no mundo oschefes das diferentes religiões- cadaumsegundoasuareligião-implicamuma deformação, bem como um de-bilitamento gravíssimo da VerdadedaFéCatólica.Comosepodepensarqueépossívelsuscitarapazcomora-ções dirigidas a deuses que, ou nãoexistem,ounãosãosenãodemónios?Como se pode esperar que seja exe-quívelalcançarapazforadoreinadodeNossoSenhorJesusCristo?

Que a convocatória tenha sido reali-zadapeloVigáriodeJesusCristonaTerraconstituiumainjúriainadmissí-

Page 24: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

����

velcomrespeitoaDeus.Menosofen-sivo foi Nosso Senhor Jesus Cristover-Secrucificadoentredoisladrões,os quais se não tinham por deuses,doquever-Seposicionadoentretan-tosídolosladrõesdasalmas,queEle,NossoSenhorJesusCristo, resgatoucomoSeusangue.

A perspectiva da repetição de Assis,no vigésimo quinto aniversário dosanteriores, coloca a todo o católicoperante um caso de consciência quenão deve iludir, É realmente católicaa obediência cega recomendada peloPadreHygonnetdaFraternidadeSãoPedro? Como se pode pretender jus-tificaremnomedaobediênciaoPapanão já apoiar, mas simplesmente ca-lar-seanteumtalescândalo?

Não basta não apoiar a reunião deAssis,inclusivamenteosimplessilên-cioéinsuficiente!Todoocatólicoquecompreendeatéquepontoégraveumacto desta natureza deve orar paraque jamais se leve a efeito esta reu-nião amaldiçoada. Todo o sacerdotequepossuaaFéCatólicadevedenun-ciarestaabominaçãoaindaqueumatalatitudetenhacomoconsequênciaover-sedespojadodasuacapela.As-simodesejamosaindaquetemamosquenãosejammuitososquerompamoseusilêncio.

Nãonosenganemos.HodiernamentetemosqueescolherentreaFéCatólicaeumaideologiaincompatívelcomela.PorumladoestáaFédeSãoPolieuto,bemcomodetodosmártires,daque-

lesqueforamglorificadospelaSantaMadreIgrejaporhaverem-senegadoacolocaralgunsgrãosdeincensoemlouvor dos ídolos, por terem despre-zadoessesfalsosdeuses,porhaveremdenunciado o falso culto que se lhestributa, por haverem penetrado nostemplospagãoseteremdespedaçadoosídolos

E por outro lado encontramo-noscom estas reuniões interreligiosasqueadmitemtodasasreligiõescomose fossem todas respeitáveis e quefomentamailusãodequeasoraçõesendereçadas a essas falsas deidadespodemserfecundas.

Oídolodebudafoicolocadoeml�8��sobreoaltardeumadasigrejasdeAs-sis.SeSãoPolieutoláseencontrasse,tê-lo-iaderrubadoecalcadoaospés.

EoqueteriaditoJoãoPauloII,oqualvaiserbeatificadonodiaprimeirodeMaio, ao mártir São Polieuto? Nãoteria chamado a polícia para deter operturbadordaordem,ocatólico in-tegrista? E inclusivamente no casodesta impiedade acabar por não serenovarnopróximomêsdeOutubro;como justificaria Bento XVI peranteosmártiresestaconvocatóriadasfal-sasreligiões?Decididamenteestafei-radasreligiõeseestafédeAssisNÃOÉANOSSAFÉ.

O Padre Régis de Cacqueray, sacerdotedaFraternidadeSãoPioX,ordenadoeml����,éactualmentesuperiordoDistritodeFrança.

Page 25: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

AépocadosMacabeus,figuradasituaçãoactualdaIgreja

PadreJoséMariaMestre

«Todasas coisasqueseescreveram,para nosso ensinamento seescreveram,afimdeque,medianteapaciênciaeoconsolodasEscrituras,mantenhamos a esperança.( Rom.l�,��)

Neste quadro conceptual o primeiroLivro dos Macabeus encontra-seplenodeinstruçõesparaconnosco,aoassinalarmosduasrealidades:Porumlado,astremendasprovasqueopovoeleito sofreu por não querer imitaros pagãos. Por outro, o auxílio quea Divina Providência proporcionou,naquela luta de vida ou de morte,a qual humanamente falando,deveria ter tido como consequênciaa aniquilação total do pequeno povojudeu.

Propomo-nosassim,aplicarembrevestraços o tema deste livro inspiradoà crise actual da Igreja, também emdoispontos:

Antes de tudo, descrevendo asituação provocada no seio daIgreja, por esta pretender aceitaros princípios do homem moderno,racionalista, independente de Deus;e consequentemente destacar osremédiosqueaProvidêncialegouàSuaIgreja:Paraumasituaçãosemelhanteà dos Macabeus, remédios análogosàqueles que então foram outorgadospeloauxílioDivino.

I-SituaçãodescritanoLivroInspiradoeaplicaçãoànossa

Ensina-nos este livro como foipoderosooreinodeAlexandreMagno,o qual chegou a ocupar rapidamenteo mundo então conhecido. EsteImpério impôs por todas as partesos seus deuses e os seus costumes,comaexcepçãodopovoeleito,oqualde início respeitou. Todavia maistarde,soboreiAntíocoEpifânio,esteImpérioconstituiu-seemperseguidorda verdadeira religião, bem comodo povo que a professava, que era opovojudeu.Ascoisaspassaram-sedaseguinteforma:

Poressetempo«deixaram-severunsiníquos israelitas que persuadiramoutrosemgrandenúmeroparaqueseconformassem com os costumes dosgentios,poisdesdequesehaviamdelesseparado,nãohaviamexperimentadomais que desastres». O segundolivrodosMacabeusprecisaqueestesiníquos israelitas eram sobretudohomensdeestirpesacerdotal.Muitosdeixaram-seseduzirentãopelassuaspropostas, e edificou-se então emJerusalém um ginásio (símbolo docultodohomem),aboliu-seousodacircuncisãoeabandonou-seoconceitodaSantaAliança.

-Vendo o rei Antíoco que tantoIsrael como os demais povos se

Page 26: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

����

haviam conformado com os seuscostumes, ensoberbeceu-se, e editouum decreto para que todos os povosabandonassem os seus costumesparticulares e constituíssem um sópovo.Forammuitosnoseiodopovode Israel que condescenderam comestedecreto;asconsequênciasforamquesesacrificouaosídolos,seviolouosábado,seproibiuoferecernoTemplode Deus holocaustos, sacrifícios eorações pelos pecados, profanaram-se os lugares santos, despojando-os de todas as suas riquezas e vasossagrados, proibiu-se a circuncisão,permitindo-se que as gentestransgredissem os Mandamentos doSenhor.

-Mas e o que aconteceu com todosquantos não queriam submeter-se aestes decretos? O mesmo livro nosdiz que deviam perder a vida, ouserem perseguidos: as mulheres quecircuncidavam os seus filhos eramprecipitadasdasmuralhasdacidade,os que se refugiavam nas cavernaseram atacados em dia de sábado eexterminados;esomosinformadosdomartírio heróico de vários Israelitaspor fidelidade à Lei de Deus; entreeles o de sete irmãos instruídos eedificadospelasuamãe,tambémcomelesmartirizada.

Será que todas estas realidades nãonos recordam a situação em quevivemos?

-Um reino poderoso, orgulhoso eímpio disseminou-se por toda a

parte, o reino do mundo, o reino darevolução, o reino da contra-Igreja.Muitos Israelitas, quer dizer, muitoshomens da Igreja, acreditaram queeranecessárioconformarem-seaestenovo reino, com a desculpa de quemuitos males proviriam desta faltade acordo entre a Igreja e o mundo.Proclama-se a abertura ao mundo:numconcílioaceitam-seoficialmenteos ideais e os costumes deste novoImpério: liberdade, igualdade,fraternidade,direitosdohomem.

Consequentemente, abandona-se a Santa Aliança: renuncia-seà proclamação de que somente aIgreja Católica possui a verdade, deque apenas no seu seio é possível asalvação; revoga-se o sacrifício doTemplo,eproíbe-seacontinuaçãodaoferenda a Deus do holocausto e dosacrifício que Lhe era tão agradável:O Santo Sacrifício da Missa. Tendoeste último sido substituído porceias, por sinaxis; profanam-se ostemplos,espoliando-oseesbulhando-osdetodasassuasriquezas,dassuasimagens, de tudo quanto possuíaressaibos de triunfalismo; fazem-sedecretos segundo os quais todos ospovos hão-de abandonar todos oscostumes e crenças particulares, quedividem, para não considerar senãoaquiloqueosune,econstituirassimumsópovo,umasóreligião;ecomoconsequênciadetudoisto,trespassam-setodososMandamentosdoSenhore a corrupção dos costumes atingeníveisnuncaantesconhecidos.

Page 27: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��7

-E o que acontece àqueles que nãoquerem acatar este compromissocomonovo império,quepretendemsimplesmenteseremfiéisàFédosseusantepassados? Pois são perseguidos,tratados como excomungados, comorebeldes;encerram-se-lhesasigrejas,e vêem-se constrangidos a viverseparadosdetodososdemais.

II–Areacçãocontrataissituações

Surgeentãoumhomemdelinhagemsacerdotal, Matatias, O QUAL SENEGAAPROCEDERCOMOTODOSOS OUTROS: «Ainda que todas asgentes obedeçam ao rei Antíoco, etodos abandonem a observância daLei dos seus Pais, e se submetamaos mandatos do rei, eu, bem comoos meus filhos, e meus irmãos,obedeceremos à Lei dos nossos Pais.NãonoséproveitosoabandonaraLeieospreceitosdoSenhor,paraseguiroutro caminho». E gritando:« Todoo que tenha zelo pela Lei, e queirapermanecer fiel à Aliança, siga-me»,comosseuscincofilhos,tambémdelinhagem sacerdotal como ele, fogepara os montes, onde começam aser acompanhados por muitos queamavamaLeieajustiça.Formam-seassimpequenosbatalhõesdehomensque empreendem a destruiçãodos altares destinados aos ídolos,combatem os adversários da únicareligião verdadeira e circuncidamos meninos que encontramincircuncisos.

Há que assinalar que Matatias não

travou os combates mais ásperose duros, os quais Deus reservava aseus filhos, especialmente a Judase a Simeão; todavia constituiu osfundamentos desse prélio, iniciandoa reacção e indicando os princípiosdefidelidadequehaviamdeordenaro procedimento futuro, mostrou ocaminhoqueteriadeserpercorrido,formou e instruiu, encorajou eestimulou a todos aqueles quealmejavamseremfiéisàLeideDeus,assegurandoparaosseuscincofilhosacontinuidadedocombate.Antesdemorrer, Matatias reuniu junto a sios seus cinco filhos e admoestou-osdizendo:«Ohfilhosmeus,permaneceizelosos da Lei, e entregai vossa vidaemdefesadoTestamentodosvossosPais».

Os seus filhos, sob a direcção deJudasMacabeu,prosseguiramaluta.Primeiramente este reconquistou oTemplo, purificou-o, reedificou-o,e nele voltou a oferecer sacrifíciose holocaustos segundo a Lei deDeus. Para isso, a Sagrada Escrituranos ensina que Judas seleccionousacerdotes sem mácula, e voltoua fortificar a cidade de Sion, como objectivo de que o inimigo nãoreincidisse em impedir o sacrifícioperpétuo.

É certo que não são mais do queum pequeno grupo (mais uma vezverificamos que o número nãoé critério da verdade) ; todaviatenhamos na devida conta as muito

Page 28: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��8

sábias palavras de Judas Macabeu:«Comopoderemosnóspelejarcontraum tão grande e valoroso exército ,sendo, como somos, tão poucos? »perguntavam-lhe. « Quando o Deusdos Céus quer conceder a vitória, épara Ele o mesmo que haja muitosou haja poucos; porque o triunfonos combates não depende damultidão das tropas, mas de Deus.Nós pelejamos pela Lei do Senhor;o Senhor mesmo despedaçará osnossos inimigos na nossa presença,não os temais». Desta forma, Judaslogrouinspirarenormíssimotemorerespeitoaosseusinimigos,bemcomoaosprevaricadoresdaSantaAliança.

Não é verdade que todas estasrealidadesnosrecordamasvicissitudesque estamos presentemente a viver?E como a nossa situação é parecidacom a dos Macabeus, Deus suscitouumareacçãosemelhante.

Um novo Matatias, de linhagemsacerdotal, Monsenhor Lefebvre,afirmatalcomooprimeiroMatatias:« Ainda que todos obedeçam aoespírito do mundo e aos seusideais, eu não o servirei, muito pelocontrário,obedecereiàLeidosmeusPais; não abandonarei a Lei de Deuspara seguir outro caminho. TodoaquelequenutrazelopelaLeideDeuse Sua Igreja e queira permanecer naFé–siga-me!».Muitososeguiram,eformando grupos pouco numerosos,mas valentes, reuniram-se ao seuredor para conservar a Fé ( bonita

definiçãodosnossospriorados).CertoéqueaMonsenhorLefebvrenãolhetocariasustentarapartemaisrudedocombate, que Deus está reservandoparanós; todavianãoémenoscertoqueMonsenhorLefebvreassinalouepersonificou de tal forma as pautasdefidelidadeàIgrejadesempre,quecontinuasendo,mesmodepoisdasuamorte, a referência para quem querserfielàTradição.

Como no tempo dos Macabeus,a primeira atitude assumida porMonsenhorLefebvrefoiadecombaterosfalsossacrifíciosecuménicos,anovamissa,estabelecendoereconstituindoemtodooladooholocaustoesacrifícioabolido pelos homens ímpios- OSANTO SACRIFÍCIO DA MISSA DESEMPRE. Para poder assegurar noseiodaIgrejaestesacrifícioperpétuo,impunha-se a formação dum clerosanto, alimentado com a doutrinade sempre e pleno do espírito deIgreja.Aissodedicoutodaasuavida,fundando a Fraternidade SacerdotalSãoPioX,edificandoSemináriosnoscinco continentes. Ao falecer, estenovoMatatiasconfioualutaaquatrodosseusfilhos,tambémdelinhagemsacerdotal- os quatro bispos por eleconsagrados.

E tal comono tempodosMacabeus,aindaquesejamrelativamentepoucosos sacerdotes e fiéis que guardama Tradição, têm conseguido impora atenção e o respeito de todos osprevaricadores, que universalmente

Page 29: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

ostemem.Nãohánadaqueumbispoataque tanto hoje em dia como apresença da Fraternidade São Pio Xnasuadiocese.Nãohánadaquetantomoleste a Roma ecuménica como oscontínuos protestos e censuras daFraternidade.

III-Conclusão

Todas estas realidades deverãoconstituir para nós um preciosoensinamento, e simultaneamenteuma grande esperança. O exemplodoa Macabeus demonstra-nos queperante a actual situação da Igreja,a nossa forma de resistir com oobjectivodeconservaraFéeoSantoSacrifíciodaMissaéaquelaqueDeusnossolicita;demonstra-nosqueéde

somenos importância que sejamospouco numerosos, que sejamosexcluídos das Igrejas e tratadoscomo excomungados ou cismáticos;demonstra-nos o zelo com quedevemosestarmunidosnadefesadosinteresses de Deus e da Sua Igreja;demonstra-nos,finalmente,acertezaquepossuímosnanossavitória,poisquepelejamospelaLeideDeusesobSuasordens,eDeusnãopodedeixardefacultar-nosoSeuamparo.

OPadreJoséMariaMestreRoc,sacerdoteda Fraternidade São Pio X, ordenadoem l �8�, é actualmente professor noSeminário de língua espanhola, NossaSenhora Corredentora, na localidade deLaReja(Argentina).

OsquarentaanosdaFraternidadeSacerdotalSãoPioX

PadreJuanMontagut

Sermão pronunciado na Capela Santiago Apóstolo de Madrid no dia primeiro de Novembro de 20l0

HojesecumpremosquarentaanosdaexistênciadaFraternidadeSãoPioX,dasuaaprovaçãocanónicanadiocesedeFriburgo,naSuíça.SuaexcelênciaMonsenhor Charrière, bispo deFriburgo,assinavaodecretodeerecçãoda Fraternidade de São Pio X, quenosseusestatutostemigualmenteadenominação, embora tal não sejaconhecido, de Fraternidade dos

ApóstolosdeJesuseMaria.Passaram��0 anos. Quarenta anos plenos devicissitudesentre,porumlado,alutaqueporamoràFéestaCongregaçãotem sustentado, inclusivamenteresistindoàsautoridadesmodernistasdaIgreja,quandofoinecessário,eporoutroladoodesenvolvimentointernoeapostólicodestaobra.Existemhojemaisde�00sacerdotesmembrosda

Page 30: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�0

Fraternidade São Pio X, há muitosoutrosmembrosreligiosos,eonúmerodefiéistambémtemaumentado,eemjuventudeoutrossim.

Apresentemos graças ao Senhor portodas estas realidades, e mais aindaquando que as circunstâncias quetêmenvolvidoaFraternidadenestesquarenta anos poderiam pressagiarprecisamente o inverso, porquemais adversas do que foram é quaseimpossível. Sobretudo e de umamaneira muito especial, o injustoataque, bem como as acusaçõesfalsas e chãs, permanentes, contra aFraternidade, veiculadas pelo clerono seu conjunto, tudo isto poderiafazer-nos pensar antes numa rápidadissolução desta obra, ou no termodaresistência,comofoialiásocaso,edeformarelativamenteperiódica,dealgunsquearrojaramatoalha.Creioque esta perseverança constitui nãoapenas um sinal para darmos graçasa Deus, mas surge igualmente comouma prova de que se trata de umaobradeDeus.

Maisainda,estaatitudepelaqual-ecitopalavrasdeMonsenhorLefebvre-« nós aderimos com todo o nossocoraçãoàRomaCatólica,enegamo-noscomosemprenosnegámosaseguiraRomadetendêncianeo-modernista»,não constitui uma atitude própriaou exclusiva da Fraternidade, comosedoseupróprio“carisma,”comosediria hoje, se tratasse. O carisma daFraternidadeSãoPioX,asuafunção,a

suamissão,éadoSacerdócioCatólico,com todas as realidades que delesão constitutivas, desde a pregaçãoà administração dos Sacramentos.Consequentemente, esta atitudequenoséprópria,edeveriaseradequalquer verdadeiro católico, deveirradiarcommaisintensidadeaindadequalquerclérigosacerdote.Nonossocaso constituiu a causa definitiva, etodooobservadorimparcialopoderáreconhecer,dacontinuidadedosantoSacrifíciodaMissanoseiodaIgreja.Constituiuacausadequeumasériedecomunidades tenham abraçado estaliturgia, comunidades que por outrolado,eparaproteger-se,hipotecaramasuapregação,bemcomoaliberdadeevangélica por temor das sançõese dos incómodos-em especial ascanónicas – para não citarmos oincómodo de não possuir templopróprio. Refiro-me em geral aosgrupos de Ecclesia Dei. Essa atitudedaFraternidadeconstituiutambémofundamentodomotuprópriosobreaMissatradicional,fazagoraumpoucomaisdetrêsanos,oqualemsimesmofacultaaossacerdotesocaminhoparaoregressoaocultodeDeus,docultopuro verdadeiro e secular, o cultodo Deus eterno. Um caminho queafortunadamente alguns sacerdotesjáestãoresolvidosatomar.

Ora bem, está claro que nem tudoconsiste no culto e na liturgia; ocultoealiturgia,narealidade,foramvítimas dum pensamento, de umafilosofia vertida em teologia, liberal

Page 31: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

e modernista, que tudo envolveudesde o Concílio e que conduziu aerros nefastos em toda a linha: nomagistério, no governo da Igreja, nadisciplina…Observamos agora asconsequênciasdestarelaxaçãomoral,com tantos escândalos que existem,e que por demais evidentemente oinimigoseocupaemavultá-los.

Estesprincípiosnovos,parasintetizá-los um pouco, resumem-se em: aconcepção ecuménica da Igreja, aqual foi convertida num modelo dereligiosidade perante o mundo, bemcomo na impulsionadora da uniãode todas as religiões, princípio estecondenadopelaIgrejamuitoantesdoConcílio.

Outroprincípioéodogovernocolegiale democrático da Igreja, princípioesse que o pontífice actual, BentoXVI, defendeu no Concílio, e cujasconsequências está sofrendo agoranas suas próprias carnes. PrincípiocondenadoigualmentepelaIgreja.

Outroprincípioéodafalsaconcepçãoacerca dos direitos do homem, bemcomo da sua dignidade, sem relaçãocom a Verdade objectiva e com adignidademoraldasobrasdohomem,princípio este também condenadopelaIgreja.

Tudoistosãoerroscondenados:esteúltimo,odosdireitosdohomem,foijá condenado nos finais do séculoXVIIIpelopapaPioVI,nodocumento“Adeo Nota”; e os restantes, desdehá um século, até Pio XII inclusive.

Precisamente por isso, a segurança(nãoaarrogância,aindaqueestejamosorgulhosos do nosso combate),a segurança não promana de nósmesmos, irradia sim do MagistérioseculareeternodaSantaIgreja,doseuensinamentopermanente,rectilíneo,transparente,esempreconformecomaTradiçãoanterior.

Por tudo isso, e porque amamos aFé, única luz que neste mundo nospode conduzir a Deus, a única quepode guiar a todo o homem paraDeus, por isso- torno a citar-: « semnenhuma rebelião, nem amargura,nem ressentimento prosseguiremosa nossa obra à luz do Magistério desempre, convencidos de que nãopodemos prestar maior serviço àSanta Igreja, ao papa, e às geraçõesfuturas. E insistiremos nas nossasorações para que a Roma actual,infestada de modernismo, volte aser novamente a Roma Católica.»(cf Monsenhor Lefebvre). Nesteenquadramento procederemos, eseguiremos procedendo, ainda quenos queiram excluir, (como é o casopresente), ainda que nos pretendamexcluir com o alibi, bem prosaico,da “irregularidade canónica”. Aeste respeito Monsenhor LefebvreafirmavaemcartaaopapaJoãoPauloII:«Porvezesénecessárioabandonara legalidade para permanecer noDireito», palavras muito úteis paraqualquer jurista, e que o podempremunir e reordenar de separar oDireitodarealidadeedaVerdade.

Page 32: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

Analogamente Monsenhor Lefebvrefazia notar aí pelos anos setenta,noutracartaqueassinouemconjuntocom Monsenhor Castro Mayer, que«precisamenteossacerdoteseosfiéismais afectados e sacudidos por estasituaçãodaIgrejasão,poroutrolado,osmaisdedicadosaessamesmaIgreja,à autoridade do sucessor de Pedro,bemcomoaoMagistériotradicional.».E esta é a realidade. Se alguém estáaqui, ou vem aqui por algo distintodadefesadaFé,ouoamoràFéquerecebeu no Baptismo-equivoca-se!Não consiste noutra coisa senão nafidelidade à Fé o que nos capacitou,pela graça de Deus,, a conservar oculto conforme verdadeiramente sedeve fazer, bem como conservar amoral,aqualconsiste,simplesmente,na aplicação do Evangelho à vidaconcretadaspessoas,nunsprincípiosconcretos para que o homem opereessencialmente ordenado à LeiEternaeemharmoniacomoespíritoevangélico.

Consequentemente, além derendermosgraçasaDeus,peçamoseoremosparaqueElenosconservefiéis,para que mantenha a fidelidade daFraternidadeSãoPioXàIgreja,comotemsidoatéagora,porparadoxalquepossa parecer perante a vontade denos denegrirem e apresentarem-noscomo “rebeldes,” como “soberbos”,como os “cismáticos”; (agora esteúltimo argumento já lhes caiu dasmãosemvirtudedodecretopapalde��00�, pois nunca possuiu razão de

ser.Jásó lhesrestaoalibicanónico,comoacimareferi).

Porquê estes argumentos tãosecundários?Porquêesteusotãofútil,como arma de arremesso, de razõestão volúveis para nos acusarem deinfidelidade? A verdadeira fidelidadeà IgrejaéafidelidadeàFéda Igreja,e essa nós já a possuímos. A Fé daIgreja não consiste em algo volúvelou evolutivo através da História;constitui, pelo contrário, a Fé queNossoSenhorJesusCristoveiopregarequeseresumenoprincipalmistérioque é o da Santíssima Trindade,precisamente aquele que é o maioralvo dos ataques consubstanciadospelodiálogomodernoentrereligiões.

DestaformapeçamosaoCéu,nestediadeTodos-os-Santos,nestafestadehojequecelebraatodososquechegaramaosCéus,enãoapenasaossantosdealtar, que nos continuem a manter-nos fiéis à nossa Fé. Procedendoassim cumpriremos o essencial.Talvez haja, creio, algum sinal quenospermitaesperarquenalgumdia,não longínquo, deixaremos de serosúnicosa levantaravoz,eemnãonosconformarmoscomessesilêncioculpável de muitos outros que sedão conta dos acontecimentos masnão protestam. Existe um exemplorecente, e ainda que constitua umareacção tímida, há muitos anos quetal não se efectivava: trata-se de umbispo de Itália, Monsenhor Oliveri,bispo de Alvenga, o qual prefaciou

Page 33: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

o livro de um cónego de São Pedrodo Vaticano, publicado sob o título«Concílio Vaticano II um debatependente». Este prelado escreve que« se o Concílio Vaticano II falou nãoapenas duma maneira nova, mastambémafirmoucoisasnovas,entãoencontrar-nos-íamos perante ummagistérionãoinfalível-eaomesmotempo reformável.»Ora foi isto quemonsenhorLefebvreeaFraternidadeSão Pio X sustentaram durante ��0anos, enquanto eram agredidoscom os epítetos de « rebeldes» se oConcílioVaticanoIIémagistériovóstereis de aceitá-lo!». Agora pareceque alguma tímida voz se levanta,ou pelo menos ergue a pena, eescreve um poucochinho, algumacoisa. São pequenos sinais que nosdevemmanteresperançados,todaviasempre vigilantes, evidentemente,porqueaverdadenãoseimpõeporsimesma.Nãosetratadesonhar,masdeesperar,eporagoraestarmosbemdespertosparaotempopresente.

A todos vos encorajo nestaperseverança,quiserafelicitaraquelesque já levam quase esses ��0 anosde combate pela Fé, que não deveconstituir qualquer apego pessoala nenhum sacerdote, mas sim umvínculo à Fé e à luta pela Fé. Queroestimular-vos a todos em conjunto,para que reflictais essa disposição,essedesejovalentedelutarpelaFé,eissodeumaformaexterior,querdizer,acudindo aí onde efectivamente sedefendeaFé,eondenãoselançaum

espessovéudesilênciosobreonúmeroquase infinito e incontável de erros,de heresias, de desordens. O bomlutadoréaquelequeseapresentaparairparaafrente,nãoparapermanecerna retaguarda, e na frente vêem-secaraacara,unseoutros.Demaneiraqueavossapresençaaqui,bemcomoafidelidadenessaassistênciaàSantaMissa e à pregação que acompanha,por mandato da Santa Igreja, toda acelebração dominical e de preceito,constitua para vós a prova evidentede que não apenas conheceis ondese encontra o caminho da ortodoxiada Fé, bem como a verdadeira luzda Tradição, mas que outrossimopereis em conformidade, sempre,permanentemente, sem vosimportardes com o que se diz oudeixa de dizer à vossa volta. O querealmenteéimportanteéoqueDeuspensadenós,bemcomooamorquenutrimospelaSantaIgrejaeodesejodequeessaFé,queporgraçadeDeusnão perdemos, a possam recuperar,ou a possam fazer sua, tantas almasque tão desorientadas andam poressemundo.

QueaVirgemfiel,queNossaSenhora,Mãe da Igreja, nos auxilie nestafidelidade, e vos peço hoje, uma vezmais,pelafidelidadedaFraternidadeSãoPioX.

Page 34: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

Euforiasemfuturoouentusiasmodurável?

Pe.YvesleRoux�

“Carta do Reitor”, Janeiro��0��

A habituação ao mal é algo maisterrível que o mal em si: o silêncioque o hábito impõe permite abanalizaçãodomal,easnossasalmascontemplam, indiferentes e inertes,otristeespectáculodeumamultidãoque se abandona aos seus instintosmaisbaixos.Vencidosporumtorpormortal, tornamo-nos incapazes denos indignar perante os atentadosregularmente perpetrados contraa honra de Deus. O nosso silênciovergonhoso desvenda a letargia dasnossasalmas,insidiosamentelevadasaumainfamecumplicidade.

Contudo,pareceriaque,porvezes,umimpulso nos conduz, e que, tocadospela graça, nós saímos da nossainfame indolência. Infelizmente,temos que nos render às evidências:esse impulso prova ser apenas umarrepio momentâneo, que terminabem depressa e que não resiste àsvicissitudesdotempo.

Esta euforia efémera é a provatangível de que a origem do nossofervor é somente uma impressãopassageira. Um homem não pode,contudo, basear a sua conduta aosabor das suas emoções, sob risco

de se tornar como um cata-vento.É preciso que o homem seja elevadopor uma inspiração de grandeza enobreza,paracombateravulgaridadeque o rodeia e que lhe seca a alma.A euforia é somente um sentimentovagoque inebriamomentaneamentea alma, mas que não poderá nuncaseropilarsobreoqualnosdevemosapoiar para nos lançarmos numareconquistavitoriosa.

Por outro lado, se as nossas almasestiverem repletas de entusiasmo,serão capazes de tomar partenesta cruzada e levar a cabo estareconquista, que consiste doravanteemlibertarasalmasdosseustúmulos,paraqueCristopossarealizarnelasasmaravilhasdaSuaressurreição.

Com efeito, o entusiasmo é o frutodirecto da presença activa de Deusnuma alma. Essa actividade divinasó é possível se o homem aceitarreconhecerasuacondiçãodecriaturaeasuatotaldependênciafaceaDeus.Essalucidezindispensável,ohomemsóaadquiresevivernumaintimidadehabitual com Nosso Senhor JesusCristo. Para chegar a esse ponto, énecessário entrar nas vias da vidainterior, traçadas pela oração e pelarenúncia à vontade própria. Então,

Page 35: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

será capaz de, com frequência,remontaràsprofundezasdasuaalmaeunir-se,pelafé,àpresençadivina.

Esta união, simples e profunda, masinsensível e um pouco austera nassuas primícias, tornar-se-á na fontejorrante de água viva, que o faráser sempre profundamente serenoe alegre, desejoso de estabelecer oreinodeCristoeprontoparatodososcombatesnecessáriosparaoalcançar.Jamais derrotado ou abatido pelosnumerosos reveses que possa sofrer,que,vistosà luzdacruz, sãoaceitescomumaalegriasobrenatural:aobrade Deus estabelece-se sobre a rochadoCalvário.

Vexilla Regis prodeunt! Os nossosantepassados nos combates da Fé ��ergueram-se levados por este hino

litúrgico que celebra a vitória doestandarte da Cruz, força e vitóriade Deus. Saibamos, por nossa vez,seguir este caminho aberto peloSangue sagrado de Nosso Senhor,atravésdanossavidadeoraçãoedanossafidelidadeàsnossaspromessasde baptismo. As cruzes não estarãoausentes, mas a graça não faltará e,tomadaspeloentusiasmodacaridade,as nossas almas saberão dar-se paraque despontem, enfim, as virtudescristãs,sinalquenossoSenhorreinaenfim.

In Christo sacerdote et Maria,

O Pe. Yves le Roux, nascido em Paris em 1964, foi ordenado sacerdote no ano de 1990. Desenvolveu apostolado na Suíça e no Quebeque (Canadá) até 2003, quan-do foi nomeado reitor do Saint Thomas Aquinas Seminary (Winona,Minnesota, E.U.A.), o seminário norte-americano da Fraternidade Sacerdotal de S. Pio X, car-go que exerce desde então.Nota do tradutor: Na versão deste artigo em língua francesa, o autor refere-se aos Chouans, participantes de uma revolta católica e monárquica contra a revolução francesa, localizada principalmente na região da Bretanha, de 1784 a 1800. Prefe-rimos, neste caso, utilizar a estrutura da versão em língua inglesa, uma vez que a referência original não nos é familiar.

1.

2.

Page 36: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

���

OLauspereneemPortugal

Atentadossacrílegos

Sempre os portugueses demonstra-ramomaioramoreomaisprofundorespeito pela Sagrada Eucaristia. Osgrandes erros antieucarísticos nãotiveram entre nós considerável acei-tação,atémesmooquepôsaEuropaemfogodesdeoséculoXVI, comooprotestantismo, e o jansenismo. AsprimeirascontrovérsiasacercadaEu-caristia, desde o séc. XI até à Refor-ma, pode dizer-se que não deixaramquaisquer sinais duradouros entrenós.

Compreende-se, por isso, com quesentimentos de horror e de mágoao país deplorava qualquer atentadocontra as Sagradas Espécies sacra-mentais.Oprimeirodesacatosacríle-gofoiocometidoporumamulherdeSantarém, em ������� (?), na igreja deSanto Estevão; o segundo registou-senacatedraldeCoimbra,em������,masoquedefactomaisimpressionouanaçãoocorreunaCapelaReal,em��deDezembrode�����,penúltimodo-mingodoAdvento.

Celebravam-se imponentes festaspelo casamento do Príncipe D. João,filhodeD.JoãoIII,comaPrincesaD.Joana, filha de D. Carlos V. Estava aFamíliaReal,PreladosetodaaNobre-zaaassistiràMissaSolene.Quando

osacerdote,JuliãoSoares,capelãodeEl-Rei,levantouaHóstia,apósacon-sagração, um calvinista inglês, cha-mado Roberto Gardner ou Gardiner,judeumercadordeBristol,velosíssimo como diabo que era, sobe pelas costasdooficiante,queeradealtaestatura,tira-lhe das mãos a Sagrada Hóstia,atira-aaochãoederrubaocáliceeiaserconsagrado.

Todooreinovibradeintensador,aosaber do nefando crime. Em Lisboa,fez-se logo uma devota procissão dedesagravo em que o Soberano, des-calçoevestidodelutorigoroso,foiapédaSéatéS.Domingos,seguidodetodos os Nobres e Cavaleiros que seencontravamnaCorte,pormotivodocasamento.

As Ordens Religiosas e o povo tam-bém se encorporaram na procissão,descalçosevestidosdeluto.

D.JoãoIIIestevemuitosdiasencer-rado no seu gabinete, sem ver a luzdodia,nemreceberninguémnasuapresença.Nuncamaisoviramalegre,nemdepôsolutoenãotornouaco-mersenãoemlouçadebarro,atéquemorreuem��deJunhode���7.Fi-zeram-seaindaoutrasdevotasprocis-sõesepenitênciaspúblicas.

Page 37: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�7

Em Santa Engrácia

Aindaestavabemvivaamemóriades-tedesacato,quandode��para���deJaneirode����0secometenovosacri-légio,noMosteirodeSantaEngrácia.

Nessanoite,parecequeoselementossetinhamconjuradocontraacidade,fazendo desabar sobre ela medonhotemporalqueajudouacometerocri-me, abrindo ao criminoso as portasda modesta igreja, sede da nova fre-guesia que Pio V fundara em �0 deAgosto,apedidodaInfantaD.Maria,quetinhaaliperto,noCampodeSan-taClara,oseupalácio.

Namanhãdodia���,viu-sequetinhasidoarrombadaaportadosacrárioequeforamroubadosumcofrecom�0PartículaseumaHóstia,umVasodeprata dourada contendo também ���PartículaseoutraHóstia,eumacruzqueserviaderemateaoúltimocibó-rio.

Anotíciadestedesacatoespalhou-serapidamentenaCapitalondecausouamaiordor.

Como penitência e desagravo, este-ve na Sé o Lausperene, durante oitodias,porordemdoArcebispoD.Afon-soFurtadoMendonça.Aigrejaestavaornamentadadepanos reais da toma-da de Tunesecelebravam-seMissaseofíciosepregava-se.Terminandoesteoitavárionumdomingo,fez-senessemesmo dia uma solene procissão aque concorreram clero, e nobreza epovo,sendotantaagente,queprin-

cipiandoasairdaSéaomeio-dia,sóànoitechegouaSantaEngrácia,depoisdeterpercorridomuitasruas.

Na igreja de Santa Engrácia, conser-vou-seoLauspereneoutrosoitodias.A despesa da festa de cada dia foicusteada pelos diferentes fidalgos. Aigreja ficou depois interdita, passan-doasededafreguesiaparaaermidadeNossaSenhoradoParaíso.

Instituiu-se então uma grande Con-frariadefidalgos, intituladaEscravos do Santíssimo Sacramento, cujosesta-tutos foram assinados no dia �� deMaiodomesmoano.Oseupresiden-teeraoreieosIrmãoseramapenas�00fidalgos.

Nos dias ���, �7 e �8 de Janeiro decadaano,aIrmandadefaziaumafestaaoSantíssimoSacramento,aqueas-sistiamEl-Rei,oPatriarcaeoCabido.Asdespesasdoprimeirodiaficavama cargo da Família Real e as dos ou-trosdiaserampagaspelaIrmandade.A festa deste tríduo terminava comprocissão,emqueaspessoasreaisseencorporavam. Durante as festas dodesgravo, os Irmãos traziam ao pes-coço,pendentedefitaescarlate,umamedalhadecobredouradorepresen-tando o sacrário arrombado e a cus-tódiacomoSantíssimoSacramentoeváriosanjos.Noverso,lia-seestajacu-latória:BENDITOELOUVADOSEJAOSANTISSIMOSACRAMENTO.

Aindacomoactodereparação,surgiutambém uma procissão, a chamadaProcissão dos Ferrolhos, que se fazia

Page 38: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

�8

todososanosnanoitede��para���deJaneiroàmeia-noitedoConventodoDesagravo–Clarissas do Desagravo–entãofundado,paraaigrejadaPe-nhadeFrança.

Na Sé do Porto

Também por ocasião do desacato daSédoPorto,ocorridonanoitede�0para��deMaiode������,sefizeramdevoções com disciplinas e procissõescomo reparação pelo sacrilégio co-metido.OBispodadioceseportuen-semandou fazerumaprocissãocomtodooCabidoeacleresiaqueacidadeseofereceu para acompanhar.Obis-pofoicomocleroepovoderramandocopiosoprantobuscaroSenhorofen-didoaosítioemqueseencontravaeodepositounacatedral,easinagogaem que se atentara contra as Sagra-dasReservasfoiconvertidaemigrejaconsagradaaoCorpodeDeus.

Em Odivelas

Poucosanosdepois,em���7�,acons-ciência cristã do país e ofendida pornovo atentado sacrílego. Na igrejaparoquial do Menino- Deus, de Odi-velas, na noite de domingo para se-gunda-feira, �0 para �� de Maio, otrabalhador António Ferreira violouo tabernáculo e roubou as SagradasEspécies,quefoiescondernumsilva-doematadecaniços,ondehojeestáomonumentoaoSenhor Roubado,entreOdivelaseLisboa.

Em todo o reino se fizeram grandesmanifestaçõesdepesareváriosactosdereparaçãoedesagravo.OPríncipeRegenteD.PedroIIexpediu, logonodiaseguinte,cartasatodasasdioce-ses, dando conta da triste ocorrên-cia,ordenando lutoatéserestituiràmesmaigrejaoSacramentoquedelaforaroubadoemandadoque em todas as igrejas se expusesse a Sagrada Euca-ristia, pedindo-lhe, com demostrações de arrependimento das culpas e pecados de todos, queira, por meio destas rogativas aplacar o rigor do castigo que nossas cul-pas merecem.

Para desagravo daquele atentado,D. Pedro instituiu naquela igreja, nomesmodia,umafestaemqueseado-rava o Santíssimo Sacramento, comgrande solenidade, e mandou queestafestaseunisseàIrmandadedosEscravos do Santíssimo SacramentodeSantaEngrácia.AambasasfestasassistiaEl-Rei,comgrandedevoção.

NoséculoXVIII,trêsnovosdesacatosseregistamemPortugal:umnaigrejadoColégiodosPadresdaCompanhiadeJesus,deSetúbal,em�7��;outronoMinho,em�7����,eaindaoutroemPalmela,em�77�.

ParadesagravarodesacatodeSetúbal,D.JoãoVvestiu-sedelutopesado,as-simcomoaFamíliaRealeaCorte,efoiemprocissão,nodia��deAbril,da Sé de Lisboa, acompanhado dosInfantes,doNúnciodoPapa,doEm-baixadordeFrançaedetodaaCorte,oCabidoetodoocleroereligiões,à

Page 39: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��

igrejadeSãoRoque,comgrandede-voçãoereverência,conformenosin-formaD.AntónioCaetanodeSousa,nasProvas da História Genealógica,8º,tom.,pág.��8-��.Coimbra.

Tantascalamidadespúblicas,comoasqueafligiamoreinonosséculosXVIeXVII,osatentadossacrílegosentãoperpetrados com geral horror, nãopodiamdeixardeimpressionarosfi-éisemovê-losaactosdereparaçãoedesagravo.ComomeiodesatisfazeràjustiçadeDeusseinstituíraemMilão

aOraçãodasQuarentaHorasesees-palharaanovadevoçãonacidadedeRomaeportodooorbecristãoeche-garaaPortugal,aflitoportantosma-les: fomes, pestes, guerras, tremoresde terra,naufrágioseoutras calami-dadesgerais.

O Lausperene em Portugal, pág. �� a�8, por Manuel Vaz Genro, Lisboa,���8

Page 40: Queridos fiéis, Evidentemente, estou a falar do dia 1 de ... · Para que seja provada a santidade, a Igreja costuma, portanto, empreender um procedimento que se chama “processo”,

��0