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Quem Vê Currículo não Vê Posição? Um Estudo Baseado no Ranking da Você S/A e no Conceito da CAPES/MEC em Mestrados Profissionais

Autoria: Marcelo Moll Brandão, Ricardo Boeing da Silveira, André Torres Urdan

Resumo É necessário entender como se dá a relação entre o desenvolvimento acadêmico dos professores e seu reconhecimento pelo mercado. Com o intuito de analisar o impacto da qualidade dos professores, medida pelo currículo Lattes, nos rankings dos cursos de mestrado profissional em administração fornecidos pela CAPES e Você S.A. e com base nos dados contidos na Plataforma Lattes sobre os professores de 18 MPA’s (Mestrados Profissionais em Administração) foi investigado se existe características do perfil dos professores que estariam relacionadas com a posição na avaliação acadêmica e no ranking de mercado. Para desenvolver a pesquisa foram coletadas 13 variáveis de 341 currículos de professores dos programas de MPA’s. As variáveis coletadas formaram sete fatores que explicam 79,7% da variância das variáveis. Os fatores deixaram claras diferentes dimensões das competências dos professores representadas em seus currículos oficiais. Em seguida, os fatores e mais a variável formação acadêmica foram utilizadas para uma análise de clusters que obteve como resultado final dois clusters. Esses agrupamentos foram descritos nos resultados, mas apenas formação acadêmica, experiência acadêmica e produção acadêmica nível 1 demonstraram diferenças significativas entre os dois agrupamentos. Considerando os clusters e os sete fatores, uma regressão logística foi aplicada para avaliar a possibilidade de discriminação entre um perfil de professores “perfil ranking” e sem esse perfil. Esse resultado exploratório indica uma falta de diferenciação entre a maioria dos professores da amostra.

1. Introdução Que a formação de mestres e doutores contribui para o desenvolvimento sócio-

econômico cultural de um país, não há mais dúvida. Entretanto, a forma como esta concepção é desempenhada ainda gera opiniões divergentes a respeito da maneira ideal de como desenvolver tais pós-graduados com excelência. Com o intuito de minimizar estas divergências e avaliar estes programas de pós-graduação, dois órgãos responsáveis pela avaliação da produtividade dos pesquisadores foram criados. Estas realizam análises periódicas junto aos corpos docentes e discentes, verificando aspectos primordiais, julgados por elas como importantes para o aprimoramento da qualidade do ensino superior. De acordo com estes órgãos, denominados CAPES e CNPq, os programas que enfatizam a pesquisa acadêmica obtém êxito na avaliação que ocorre trienalmente e se destacam perante os demais, recebendo conceitos superiores a 5, numa escala de 3 a 7. Isto incrementa a reputação de suas escolas, atrai mais e melhores alunos e transforma seu aperfeiçoamento num ciclo contínuo, aonde a produção, tanto do corpo de professores como dos alunos é discutida com ênfase. Mais recentemente, porém, a grande competição no mercado tem atraído um novo perfil de aluno, mais interessado em resgatar conhecimento tácito (aplicado a prática da gestão de negócios) do que acadêmico. Tal realidade fez surgir uma nova modalidade de programa: O mestrado profissional, mais especificamente, em administração, almejando-se com isso atender a esta nova demanda. Sendo assim, novas características foram inseridas a estes novos cursos, na tentativa de corresponder as expectativas do aluno e as exigências do próprio mercado.

No mercado americano de MBA’s e nas escolas de negócio há um número maior de publicações com a preocupação de discutir a performance de mercado versus produção

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acadêmica (MILTRA e GOLDER, 2008; TRIESCHMANN et. al., 2000). No Brasil, essa discussão ainda é incipiente. Levantando-se os trabalhos realizados na área, não foram encontradas pesquisas que mensurem de forma direta a existência dessa relação. Porém, o crescimento do mercado de MBA’s e Mestrado Profissional demandam mais estudos sobre quais recursos são relevantes para potencializar a reputação das Escolas de Negócios.

Por outro lado, é necessário entender como se dá a relação entre o desenvolvimento acadêmico dos professores e seu reconhecimento pelo mercado. O papel do docente é fundamental tanto no mestrado acadêmico como profissional, sendo o papel e a formação deste ainda passível de discussão, assim como no mercado norte-americano se discute no contexto das escolas de negócio (FISCHER, 2005; MADZAR e CITRON, 2009). Para alguns pesquisadores, enfatizar a pesquisa acadêmica não é bom para a missão educacional das escolas de negócios (BENNIS e O’TOOLE, 2005). Tendo em vista tal situação, A revista Você/S.A. lança periodicamente uma publicação com o ranking de melhores programas de mestrado profissional em administração, com o objetivo de auxiliar os futuros mestrandos na escolha do melhor programa. Contudo, não se sabe se tal divulgação considera os mesmos aspectos levados em conta pela CAPES na avaliação dos cursos. Este observa as informações disponibilizadas no currículo Lattes como publicações, envolvimento em projetos de pesquisa, etc. Com isso, elaborou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Qual o impacto da qualidade dos professores, medida pelo currículo Lattes, nos rankings dos cursos de mestrado profissional em administração fornecidos pela CAPES e Você S.A.? Há uma demanda cada vez maior por profissionais de formação acadêmica sólida, bem como uma oferta de mestres e doutores para fora da academia (RIBEIRO, 2005) e para que isso se concretize precisa-se de investimento no humano, que na pós-graduação se traduz nos docentes (CASTRO e PORTO, 2007). Por isso, neste trabalho busca-se avaliar se as avaliações feitas pelo mercado e pela academia, realmente refletem a experiência acadêmica e a profissional dos docentes vinculados aos cursos de mestrado profissional em administração, recomendados pela CAPES.

Para Ribeiro (2006) todos os mestrados avaliados pela Capes, sejam eles acadêmicos ou profissionais, compartilham duas características, o rigor que atesta sua qualidade; e a promoção de uma mudança no perfil do aluno, um salto qualitativo em sua formação.

No Brasil, alguns trabalhos (OLIVEIRA et. al., 2007; MELLO e CRUBELLATE, 2008; CASTRO e PORTO, 2007) tiveram como base o curriculum do docente e as informações da CAPES e CNPq, porém não tiveram como o foco a avaliação do curso como um todo, mas o pesquisador.

Para Fischer (2005), a aceitação nos cursos profissionais de docentes acadêmicos e profissionais e graduados é polêmico, que envolve riscos e possibilidades; pois há uma valorização do saber prático e dos profissionais participantes que, acreditá-se, agregarão valor ao curso, independente de sua titulação. Reações a esse critério são compreensíveis, pois pode ser entendido como a substituição dos acadêmicos pelos praticantes.

Portanto, o presente artigo tem como objetivo analisar o impacto da qualidade dos professores, medida pelo currículo Lattes, nesses referidos rankings. Para tanto, apontou-se diferenças entre os grupos de professores e verificou-se a associação entre as variáveis do currículo lattes e os rankings dos cursos pelo acadêmico, fornecido pela CAPES, e pelo profissional, provido pela VOCE S.A.

2. Revisão da Literatura Neste capítulo são abordados dois temas pertinentes ao presente trabalho: A reputação

da marca, no caso a escola aonde o programa é desenvolvido, que depende da qualidade do

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produto gerado por elas (os mestres e doutores) ou pela imagem que o mercado tem de cada uma (muitas vezes proporcionada pela mídia, como a divulgação de “ranking das melhores” ou de avaliação de agências reguladoras. Neste sentido, faz-se necessário também a descrição destas agências, CAPES e CNPq e do Guia da Você S/A, que reflete a percepção do mercado no tocante á qualidade dos cursos de mestrado profissional em administração existentes no país. 2.1 Reputação da marca

Em Nunes e Haigh (2003, p.72) “a imagem é criada com base na cultura e não por ela mesma, ou seja, a imagem transforma-se numa expressão viva de sua cultura e propósito corporativo vividos na prática”. Sendo que esse propósito deve ser consciente e consistente em tudo que a organização faz, não apenas em produtos ou serviços.

Uma organização possui várias imagens projetadas a diversos públicos, seja qual for seu tamanho, e mesmo não sendo de seu interesse, o dimensionamento desta percepção é gerado (GEE, 1991). Chajet (1989), contudo, adverte que as organizações que crescem muito além de suas missões devem analisar as alterações de imagem percebidas e atualizá-las constantemente. Neste cenário é primordial que as organizações tenham sistemas de comunicação e identidade de marca coordenados.

Outro fator é a resposta do cliente aos valores propagados pela marca da organização e neste relacionamento as condicionantes são observadas por Gardner e Levy, (1955), Ogilvy (1976), Gray e Smeltzer (1985), Worcester (1986), Tavares (1997) e Marconi (1997): Qualquer que seja a imagem que uma organização pretenda projetar, ela depende de sua oferta específica e de um público específico, pois as ações da empresa não são igualmente visíveis e nem igualmente apreciadas por diversos observadores.

Segundo Downling (1993, p. 102-103) um argumento complementar a respeito da imagem organizacional é:

A formação da imagem é resultante de um processo que envolve a criação tanto da imagem do público interno quanto da imagem dos públicos externos. A imagem do público interno forma-se a partir de aspectos como visão da organização, suas políticas formais e cultura organizacional que afetam a atitude deste público com as atividades realizadas. Já as imagens dos públicos externos seriam formadas pela comunicação interpessoal do público externo com o público interno, experiência prévia com produtos, serviços e comunicações de marketing atreladas às atividades externas da organização.

Schultz e Barnes (2001) observam que a administração das mensagens de comunicação de marca são vitais neste processo de desenvolvimento da imagem. A indicação é deslocar as mensagens onde os clientes atuais e prospectivos estão – uma característica diferente de tentar conduzir as percepções dos clientes para onde se deseja. O segundo passo é determinar qual a mensagem mais pertinente a ser transmitida em nome da marca e a relevância associada às metas de comunicação institucional da organização. Todos estes aspectos podem ser implementados de forma estratégica, ou seja, é preciso produzir uma expectativa no cliente diante da marca, e abordá-lo logo em seguida, no momento e local adequados.

A referida reputação da marca da instituição, no caso da pós-graduação stricto sensu, pode influenciar os futuros mestrandos e doutorandos no momento em que optam por um determinado programa. As Agências de fomento do Ministério da Educação (CAPES e CNPQ) são responsáveis pelo controle destes programas e são descritas a seguir. 2.2 Avaliação do Mercado e Acadêmica

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Neste item será descrito as principais características das duas formas de avaliação feitas no Brasil, tanto em nível de mercado, pelo Você S/A, como em nível acadêmico, feito pela CAPES/MEC.

O Guia VOCÊ S/A – Melhores MBAs no Brasil, apesar do título e , também avalia os mestrados profissionais. Se constitui na principal referência em educação executiva no país e é realizado pela revista você s/a com o suporte da Nielsen. O ranking tem como base a qualidade dos cursos, a duração e os recursos tecnológicos que cada instituição oferece aos alunos, bem como a menção das escolas por diretores de recursos humanos de grandes empresas.

A CAPES, uma agência brasileira que opera no fomento e na formação de docentes/pesquisadores, tem sua origem ligada à necessidade de preparar os docentes de instituições federais brasileiras para as atividades de pesquisa e pós-graduação em um momento onde a pós-graduação no Brasil apresentava grandes carências. Atualmente, embora parte destas deficiências tenha sido eliminada, a CAPES continua incrementando atividades essenciais para a formação de pesquisadores no Brasil, notadamente aquelas vinculadas ao suporte financeiro para a realização de doutorado e pós-doutorado no país e no exterior. Entretanto, suas atividades são muito mais abrangentes e incluem a avaliação da pós-graduação no país nas diversas áreas do conhecimento. (OLIVEIRA et. al., 2007).

Para Borba et al. (2007), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é uma fundação do Ministério da Educação que objetiva o desenvolvimento da pós-graduação stricto sensu e está centrada no aprimoramento de pessoal no Brasil e no exterior. Ela também é responsável pela avaliação de programas e cursos de pós-graduação, divulgação e acesso da produção científica e promoção da cooperação científica internacional.

A CAPES avalia trienalmente cursos de mestrado acadêmico e doutorado em todos os Estados brasileiros e financia a produção e cooperação científica. Além disso, também é responsável pela concessão de mais de cinqüenta por cento das bolas de pós-graduação no Brasil. (INFOCAPES, 2007). De acordo com Mello e Crubellate (2008), a avaliação da CAPES inclui dois processos: a avaliação de programas de pós-graduação, onde são avaliados todos os programas integrantes do SNPG – Sistema Nacional de Pós-Graduação; e a avaliação das propostas de novos cursos, que tem como objetivo verificar se as propostas de cursos de mestrado e doutorado condizem com o padrão de qualidade demandado. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), outra importante agência brasileira, é destinada à formação de recursos humanos para a pesquisa no país e ao fomento de pesquisa científica e tecnológica, ligada ao Ministério da Ciência e da Tecnologia. Com o intuito de viabilizar informações acadêmicas e de mercado, o CNPq gerencia a plataforma Lattes. Ela reúne em um único sistema de informação a base de dados de currículos e instituições (ensino, empresarial, privado, sem fins lucrativos e governo) da área da ciência e tecnologia. O currículo Lattes apresenta, de forma sistemática, as informações dos pesquisadores, e as disponibiliza no site do CNPq. (BORBA et al., 2007)

De acordo com Oliveira et al. (2007), é o CNPq, que direciona os recursos destinados á pesquisa em nível nacional e, assim, estabelece as diretrizes fundamentais e as principais áreas a serem incrementadas pelos pesquisadores. Para a análise da produção bibliográfica o comitê estabelece critérios quantitativos e qualitativos. O comitê afirma ainda que somente em situações muito especiais estes poderão substituir os critérios quantitativos. Vale ressaltar que, ainda de acordo com Borba et al (2007), do total dos doutores registrados no currículo Lattes, 10% possuem titulação na área de Ciências Sociais e Aplicadas. O grande número de doutores nesta área coincide com o grande número de programas de mestrado (acadêmico e profissional) e doutorado em administração existentes e que são recomendados pela CAPES.

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Todavia, faz-se necessário uma avaliação mais aprofundada sobre o papel dos dados informados no currículo lattes e a avaliação desempenhada pela CAPES aos programas stricto sensu. Outro ponto que vale ser estudado é o papel destes cursos no mercado. Uma avaliação realizada pela revista VOCE/S.A., conforme citado anteriormente, cuida desse aspecto, publicando um ranking de melhores programas de mestrado profissional em administração no país.

Conforme Ribeiro (2006) o mestrado profissional pertence à pós-graduação Stricto Sensu e sua existência legal teve início com uma portaria da Capes, de número 80, baixada em novembro de 1998 (CAPES, 1998), que na verdade explicita a distinção entre duas modalidades de mestrado, o acadêmico e o profissional, que antes eram oferecidas de maneira similar. Espera-se com o mestrado profissional que o aluno, mesmo não pretendendo depois ser um pesquisador, incorpore certos valores e certas práticas com a pesquisa que façam dele, em definitivo, um usuário privilegiado da pesquisa (RIBEIRO, 2006).

A relação entre produção científica dos professores e reputação de programas de MBA foi evidenciada por Mitra e Golder (2008) no mercado americano, os quais encontraram correlação significativa entre produção científica dos professores vinculados aos programas e a reputação e posição em ranking de avaliação de qualidade. Tais evidências corroboram com as discussões até aqui discutidas. Teria sentido esperar uma forte relação entre o perfil do professor, suas publicações e a posição das Escolas de Negócios em rankings de avaliação da qualidade dos cursos (SIEMENS et. al. 2005; MITRA e GOLDER, 2008). Porém, há pesquisas que mostram o contrário: uma meta-análise de 58 estudos demonstrou que a relação entre pesquisa e performance no ensino é zero e a crença comum que pesquisa e ensino possui uma estreita relação é um mito (HATTIE e MARSH, 1996), sendo que a probabilidade da produtividade da pesquisa beneficiar o ensino é muito pequena (FELDMAN, 1987). A pequena porcentagem do corpo docente que conquista altos índices de resultado tanto na pesquisa como no ensino desmente a crença em que um membro do corpo docente pode conquistar ambos simultaneamente (FAIRWEATHER, 2002).

Diante desses pontos levantados, criaram-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

• H1a: Existe uma relação positiva entre produção acadêmica e presença no ranking do mercado

• H1b: Existe uma relação positiva entre produção acadêmica e presença no ranking da academia

• H2a: Existe uma relação positiva entre experiência profissional e presença no ranking do mercado

• H2b: Existe uma relação positiva entre experiência profissional e presença no ranking da academia

• H3a: Existe uma relação positiva entre experiência acadêmica e presença no ranking do mercado

• H3b: Existe uma relação positiva entre experiência acadêmica e presença no ranking da academia

3. Metodologia Para a realização da pesquisa, foi necessário o cumprimento de algumas etapas.

Primeiramente, identificaram-se os programas listados no ranking da Você S/A. (5) e os programas com nota igual ou superior a 5 na CAPES (4). Em seguida, buscou-se o número total de mestrados profissionais em administração recomendados também pela CAPES (18

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programas). Neste caso, foram deixados de fora da pesquisa os mestrados profissionais que apresentavam outra nomenclatura.

No ranking da Você S/A do ano de 2007, foram identificados os cinco cursos apresentados no Quadro 1, os quais estão em ordem de classificação.

Nome do Curso Instituição Estado Mestrado Profissional em Administração FGV/EAESP SP Mestrado Executivo FGV RJ Mestrado Profissionalizante em Gestão e Desenvolvimento UNITAU SP Mestrado Profissionalizante em Administração Ibmec RJ Mestrado Profissional em Administração EAUFBA BA

Quadro 1 – Ranking Você S/A – Melhores MBAs do país 2007 Dentro da grande área de Ciências Sociais e Aplicadas, a CAPES apresenta a área de

Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Dentro desta área, existem alguns programas stricto sensu recomendados por esta coordenação, conforme demonstrado na tabela 1 a seguir. Tabela 1: Programas stricto sensu recomendados pela CAPES em 2007.

Programas Mestrado Acadêmico

Doutorado Mestrado Profissional

Administração 40 18 11 Administração de Empresas 5 3 4 Administração de Micro e Pequenas empresas - - 1 Administração de Organizações 1 - - Administração e Controladoria 1 - - Administração e Desenvolvimento Empresarial - - 1 Administração e Negócios 1 - 1 Administração Estratégica 1 - - Gestão de Negócios 1 - - Gestão e Desenvolvimento Sustentável - - 1 Gestão e Estratégia em Negócios - - 1 Gestão e Políticas Públicas - - 1 Gestão Empresarial - - 1 Gestão Social e Trabalho - - 1

Fonte: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Como se pode perceber na tabela 1, é grande a quantidade de programas dentro da administração recomendados pela CAPES. Tal fato aumenta a quantidade de mestres e doutores formados pelo país e teoricamente pode influenciar positivamente a produção científica nacional, tanto dentro como fora do Brasil.

Num segundo momento, foram identificados os professores pertencentes a cada programa (341) e resgataram-se as informações sobre cada um deles junto a plataforma lattes. Neste momento, foram constatados 13 (treze) variáveis, sendo 12 (doze) numéricas, e apenas uma (1) categórica (FOR_AC: Formação Acadêmica). Todas as proxies utilizadas para a formação das variáveis estatísticas consideraram os dados de relatórios divulgado no site da Capes em 2008 para aqueles programas recomendados. Para o Programa da UNITAU que não era recomendado pela Capes, os dados dos professores foram coletados diretamente no currículo lattes, sendo respeitadas as mesmas regras de contabilização dos relatórios. As variáveis identificadas passíveis de participarem da pesquisa estão no Quadro 2.

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Variável Descrição

FOR_AC Form. acadêmica (Nível de Formação) TEMP_AC Tpo de exp. na academia (em anos) TEMP_EXE Tpo de exp. fora da acad. (em anos) ART_PER Artigos em periódicos ART_AN Artigos em anais Res_AN Resumo de anais LIV_CAP Livros completos, int., colab., publ. APRES_TR Apresentações REL_PESQ Relatórios de pesquisa OUTRAS_1 Outras produções PAR_BANCAS Participação em bancas ORIENT_1 Orientações PROJ_PESQ Projetos de pesquisa Quadro 2 – Variáveis da Pesquisa Fonte: elaborado pelos autores. Na seqüência, deu-se o tratamento dos dados, onde estes foram padronizados por meio

da distribuição Z (observação menos a média, dividido pelo desvio-padrão). Uma vez os dados padronizados, realizou-se a análise fatorial com o intuito de gerar as dimensões do perfil dos professores e resumir o número de variáveis.

Logo após a análise fatorial, foi realizada a análise de cluster para identificar a existência de diferentes grupos de professores. O objetivo principal desta análise foi avaliar se esses grupos teriam influência nos rankings, tanto da Você S/A, quanto da CAPES.

Posteriormente a geração dos fatores e a classificação dos Clusters, foram realizadas duas regressões logísticas para investigar a relação entre os fatores e as posições determinadas pelos rankings estudados. Estes rankings foram classificados como variáveis dependentes binárias (CAPES igual ou maior que 5 e Você S/A como presente ou não nesta classificação). Finalmente, após as regressões, uma análise discriminante pretendeu identificar a possibilidade de inferir via o perfil dos professores a presença dos programas em cada um dos rankings.

4. Resultados

As variáveis coletadas na Plataforma Lattes, especificamente, no currículo dos professores que fazem parte dos 18 programas de MPA da amostra foram utilizadas para desenvolver os testes de hipótese deste artigo. Tinha-se como objetivo geral: Analisar o impacto da qualidade dos professores, medida pelo currículo Lattes, nos rankings dos cursos de MPA classificados pela CAPES e Você S/A. Também eram objetivos do trabalho buscar um maior entendimento sobre os perfis dos professores envolvidos nestes programas, além de verificar se existe associação entre as variáveis do currículo Lattes e os rankings acadêmico (CAPES) e profissional (Você S/A).

A análise descritiva das 12 variáveis não apresentou problema de outliers que pudessem influenciar os testes posteriores. Como análise exploratória dos dados, a correlação de Pearson entre as 12 variáveis utilizadas demonstrou uma quantidade de correlações significantes que justificaram a busca de um maior entendimento da estrutura de correlação entre as variáveis. Para tanto, realizou-se uma análise fatorial exploratória. Essa técnica multivariada obteve como resultado sete fatores que, além de serem ortogonais entre si devido à utilização do método Varimax (HAIR, 2005), possibilitou o resumo das variáveis de 12 para 7 fatores.

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Para atender aos objetivos propostos e desenvolver todos os testes de hipótese necessários neste trabalho, serão utilizadas as técnicas multivariadas de análise fatorial, análise de agrupamento e regressão logística para análise discriminante. Todas as técnicas indicam que as mesmas devem ser aplicadas a variáveis padronizadas (HAIR, 2005). Dessa forma, a partir daqui, os resultados apresentados serão a partir das 12 variáveis selecionadas padronizadas (observação menos a média, dividido pelo desvio padrão).

Os 7 fatores (Tabela 2) explicam 79,7% da variância das 12 variáveis observadas em relação a informações dos currículos Lattes dos professores dos programas considerados na amostra. A estrutura de correlação apresentada pelas variáveis permite fazer algumas considerações a respeito das variáveis mensuradas. O primeiro fator (EXP_ACD – experiência acadêmica dos professores) é formado pelas variáveis que medem a “participação em bancas” (PAR_BANCAS), “número de orientações” (ORIENT) e o “tempo de academia” (TEMP_AC) que apresentaram respectivamente cargas fatoriais rotacionadas de 0,864; 0,834; e 0,682. O segundo fator (PRD_AC_N1 – produção acadêmica de nível 1), formado pelas variáveis observadas “número de publicações de livros” (LIVROS) e “resumo de artigos em anais” (RES_AN), obteve, respectivamente, cargas fatoriais de 0,855 e 0,817. O terceiro fator (PART_ET – participação em eventos acadêmicos e profissionais) foi formado pela variável que mensurou o “número de palestras e outras atividades” (OUTRAS) e pela variável que mediu “apresentação de trabalhos em eventos acadêmicos” (APRES_TR) apresentando, respectivamente, cargas fatoriais de 0,833 e 0,718. O quarto fator (PRD_AC_N2 – produção acadêmica nível 2) foi formado pelo “número de artigos publicados em periódicos” (ART_PER) e “artigos em anais” (ART_AN) e apresentaram cargas fatoriais de -0,915 e -0,521.

Todos os quatro primeiros fatores representam dimensões diferentes do perfil dos professores. Deve-se dar uma atenção à diferenciação notada entre diferentes tipos de publicações acadêmicas. Na prática, esta diferenciação faz sentido na medida em que muitas vezes, é mais difícil publicar em periódicos e congressos classificados pela CAPES.

Os fatores 5, 6 e 7 formaram fatores que representaram variáveis isoladas, que foram então entendidas no trabalho como três dimensões específicas do perfil do professor universitário ligados a programas de MPA. O fator 5 (EXP_EXE) mensurou apenas a variável “tempo de carreira executiva” (TEM_EXE) com carga fatorial apresentada de 0,960. O fator 6 (PESQ_MER) mensurou apenas o “número de relatórios de pesquisa” (REL_PESQ) que apresentou carga fatorial de -0,977 e por fim o fator 7 (PROJ_PESQ) foi formado pela variável que mensurou o “número de projetos de pesquisa” (PROJ_PESQ) e apresentou carga fatorial de -0,980. O modelo de análise fatorial foi validado por meio de uma matriz de correlação entre as variáveis observadas e aquelas geradas a partir dos fatores. Tal análise apresentou correlações próximas de zero, conforme esperado neste teste.

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Tabela 2 - Escores Fatoriais Rotacionados Variáveis EXP_ PRD_ PART_ PRD _ EXP_ PESQ_ PROJ_ ACD AC_N1 ET AC_N2 EXE MER PESQ Comunalidade PAR_BANCAS 0.864 -0.062 0.094 -0.109 0.026 0.048 -0.031 0.775 ORIENT 0.834 -0.025 0.101 -0.145 -0.078 0.090 0.010 0.742 TEMP_AC 0.682 0.052 -0.178 0.376 0.049 -0.143 -0.093 0.673 LIVROS -0.004 0.855 0.097 0.041 0.042 0.007 0.023 0.744 RES_AN -0.046 0.817 0.002 -0.186 -0.040 -0.007 -0.106 0.718 OUTRAS 0.133 -0.070 0.833 -0.047 -0.207 -0.112 0.067 0.778 APRES_TR -0.067 0.359 0.718 -0.062 0.269 0.078 -0.084 0.738 ART_PER 0.072 0.085 0.003 -0.915 0.031 -0.051 0.002 0.854 ART_AN 0.020 0.476 0.369 -0.521 -0.009 0.084 -0.144 0.663 TEMP_EXE -0.006 -0.003 -0.029 -0.022 0.960 -0.087 0.070 0.935 REL_PESQ -0.045 -0.016 0.044 -0.018 0.082 -0.977 -0.022 0.965 PROJ_PESQ 0.067 0.086 0.001 -0.025 -0.067 -0.023 -0.980 0.979 Variância 1.9442 1.7807 1.4085 1.3281 1.0615 1.0207 1.0202 9.5639 % Variância 0.162 0.148 0.117 0.111 0.088 0.085 0.085 0.797

Fonte: Elaborado pelos autores.

Utilizando-se das dimensões formadas pelos 7 fatores encontrados na análise anterior, e mais, a variável padronizada “formação acadêmica”, o próximo passo foi uma análise de agrupamentos para investigar a existência de grupos de professores na amostra. Tal investigação possibilitou atender um dos objetivos do trabalho anteriormente assinalado. Primeiramente, utilizou-se uma análise hierárquica pelo método Ward. Em seguida, com base no resultado inicial da análise hierárquica, foram definidos dois agrupamentos (distância entre os centróides dos agrupamentos de 2,727). A solução final via aglomeração dos indivíduos mais similares gerou o Quadro 2 a seguir. Nele foi possível perceber que apenas formação acadêmica, produção acadêmica e experiência acadêmica teriam mais diferenças entre os dois grupos de professores dados pela solução de agrupamento encontrada.

Agrupamento Características descritivas do grupo Grupo 1 285 professores

• Formação acadêmica abaixo da média geral (média do grupo = -0.42688). • Produção acadêmica nível 1 na média geral (média do grupo = -0.0828). • Experiência acadêmica na média geral (média do grupo = -0.0501). • Participação em eventos na média geral (média do grupo = 0.0408). • Produção acadêmica nível 2 na média geral (média do grupo = 0.0713). • Experiência executiva na média geral (média do grupo = 0.00762). • Produção de relatórios de pesquisa na média geral (média do grupo = -0.00311)

Grupo 2 85 professores

• Formação acadêmica acima da média geral (média do grupo = 0.6277). • Produção acadêmica nível 1 acima da média geral (média do grupo = 0.422). • Experiência acadêmica acima da média geral (média do grupo = 0.255). • Participação em eventos abaixo da média geral (média do grupo = -0.208). • Produção acadêmica nível 2 abaixo da média geral (média do grupo -0.363) • Experiência executiva na média geral (média do grupo = -0.0388). • Produção de relatórios de pesquisa na média geral (média do grupo = 0.0158).

Quadro 3 – Grupos de professores via Análise de Agrupamentos Fonte: Elaborado pelos autores. Obs: Os resultados são apresentados com base em distribuições padronizadas. Por essa razão os números representam a quantidade de desvios padrões abaixo ou acima da média conforme o sinal.

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Tabela 3 – Matriz de validação da solução final de agrupamento Grupo 1 Kmeans Grupo 2 Kmeans Total Grupo 1 Ward 258 8 293 Grupo 2 Ward 0 48 48 Total 285 56 341

Fonte: Elaborada pelos autores.

Como solução final da análise de agrupamento o método K-médias de aglomeração foi escolhido, seguindo o número de 2 agrupamentos sugerido pela solução anterior via método hierárquico. Para validação da solução dos agrupamentos, calculou-se uma matriz comparando as soluções por ambos os métodos. Esta matriz demonstrou que apenas 8 professores de 341 foram classificados em agrupamentos diferentes nas duas soluções (Tabela 3). Dessa forma, considerou-se que a solução de dois agrupamentos não depende do método de análise utilizado e que os objetivos exploratórios da pesquisa em relação a um maior entendimento do perfil dos professores de programas de MPA via informação pública foram alcançados. Porém, ainda não foi possível testar as hipóteses propostas no artigo.

Para relembrar, as hipóteses do trabalho são: a) H1a: Existe uma relação positiva entre produção acadêmica e presença no ranking de mercado; b) H1b: Existe uma relação positiva entre produção acadêmica e presença no ranking da academia; c) H2a: Existe uma relação positiva entre experiência profissional e presença no ranking do mercado; d) H2b: Existe uma relação positiva entre experiência profissional e presença no ranking da academia; e) H3a: Existe uma relação positiva entre experiência acadêmica e presença no ranking do mercado; f) H3b: Existe uma relação positiva entre experiência acadêmica e presença no ranking da academia.

Para testar as relações entre produção acadêmica, experiência profissional e acadêmica dos professores e a participação dos programas de MPA que eles fazem parte nos rankings da Revista Você S/A e da CAPES (notas igual ou superior a 5) foi utilizada a regressão logística. Essa técnica atendeu principalmente a característica binária da variável dependente, segundo indicação de Hair (2005) e Malhotra (2004). Com base nos resultados da regressão logística, realizou-se ainda uma análise discriminante onde se buscou um padrão de perfis de professores que influenciariam mais ou menos um programa de MPA estar melhor classificado nos rankings acadêmico e profissional. Uma análise para avaliar os fatores e se a solução final de agrupamento entraria no modelo foi realizada e em nenhuma das soluções os agrupamentos foram incluídos. Dessa forma, apenas os fatores foram utilizados.

O modelo com os 7 fatores como variáveis independentes (Tabela 4) só apresentou 2 fatores significantes a pelo menos 5%. Com base nos betas significantes desse modelo, das hipóteses H1b, H2b e H3b, apenas a última hipótese foi sustentada. O modelo foi considerado adequado com base no teste de aderência de Hosmer-Lemeshow (p-value = 0.182).

Tabela 4 – Resultado da Regressão Logística com a variável dependente ranking da CAPES Predictor Coef SE Coef Z P Ratio Lower Upper Constant -0.444013 0.118798 -3.74 0.000 F_EXP_ACD 0.446328 0.127024 3.51 0.000 1.56 1.22 2.00 F_PART_EV -0.658128 0.177732 -3.70 0.000 0.52 0.37 0.73 Log-Likelihood = -212.971 Test that all slopes are zero: G = 34.317, DF = 2, P-Value = 0.000 Goodness-of-Fit Tests Method Chi-Square DF P Pearson 337.656 337 0.480 Deviance 423.170 337 0.001 Hosmer-Lemeshow 11.363 8 0.182 Measures of Association: (Between the Response Variable and Predicted Probabilities)

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Pairs Number Percent Summary Measures Concordant 19328 69.0 Somers' D 0.38 Discordant 8544 30.5 Goodman-Kruskal Gamma 0.39 Ties 142 0.5 Kendall's Tau-a 0.19 Total 28014 100.0

Fonte: Elaborado pelos autores

Para a análise discriminante, foi utilizado o modelo:

Z = – 0,444v + (0,446 x F_EXP_ACD) – (0,658 x F_PART_EV)

Com base neste modelo, quanto maior a experiência acadêmica e menor participação em eventos, maior é a probabilidade dos professores dos programas de MPA estarem associados a cursos que fazem parte do programas avaliados com nota igual o superior a 5 pela CAPES. Os resultados de taxas de erro e acerto amostral têm como base o Escore (Z) e estão descritos no Quadro 4, a seguir. Foi estabelecido Z > 0 como corte para definir professores que foram classificados como aqueles que estão incluídos nos programas de MPA avaliados pela CAPES com nota igual ou superior a 5.

Taxas Descrição 60% Taxa amostral de acerto 40% Taxa amostral de erro 64% 0/0 Acerto Original/classificação p/ indivíduos ñ ranking da CAPES> 5 36% 0/1 Erro Original/classificação p/ indivíduos ñ ranking da CAPES> 5 54% 1/1 Acerto Original/classificação p/ indivíduos ranking da CAPES> 5

Quadro 4 – Taxas de erro e acerto de classificação para o ranking da CAPES. Fonte: Elaborado pelos autores. Considerando que, para um programa de MPA, o custo de contratar um professor que

não tenha o perfil que potencialize o programa em aumentar a nota de avaliação dada pela CAPES é maior do que deixar de contratar um com o perfil contrário, a pesquisa possibilitou a análise via um modelo parcimonioso com base em dados públicos do currículo Lattes dos professores candidatos.

O modelo que testou os 7 fatores como variáveis independentes e o ranking da Você S/A não foi adequado aos dados em nenhuma das várias tentativas. Utilizou-se para esta decisão, os mesmos parâmetros utilizados no parágrafo anterior. Como alternativa, foram escolhidas as variáveis com maior carga fatorial de cada fator como representantes ortogonais dos fatores para serem as variáveis independentes num modelo de regressão logística (Tabela 5) tendo o ranking Você S/A como variável dependente.

Tabela 5 – Resultado da Regressão Logística com a variável dependente ranking da Você S/A

Predictor Coef SE Coef Z P Ratio Lower Upper Constant -0.402170 0.124184 -3.24 0.001 TEMP_EXE_1 -0.678413 0.133659 -5.08 0.000 0.51 0.39 0.66 PAR_BANCAS_1 0.751719 0.153066 4.91 0.000 2.12 1.57 2.86 PROJ_PESQ_1 0.270704 0.124088 2.18 0.029 1.31 1.03 1.67 Log-Likelihood = -196.808 Test that all slopes are zero: G = 68.851, DF = 3, P-Value = 0.000 Goodness-of-Fit Tests Method Chi-Square DF P Pearson 331.760 328 0.432 Deviance 389.797 328 0.011

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Hosmer-Lemeshow 14.862 8 0.062 Measures of Association: (Between the Response Variable and Predicted Probabilities) Pairs Number Percent Summary Measures Concordant 21322 75.6 Somers' D 0.52 Discordant 6799 24.1 Goodman-Kruskal Gamma 0.52 Ties 79 0.3 Kendall's Tau-a 0.25 Total 28200 100.0

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com base nesse modelo, foi possível chegar aos resultados descritos na Tabela 5, que demonstraram apenas tempo de experiência executiva, participação em bancas e o número de projetos de pesquisa como variáveis com betas significantes na relação com o ranking da Você S/A. Porém, esse modelo foi marginalmente adequado via o teste de adequação Hosmer-Lemeshow (p-value = 0.062, aceito ao nível acima de 5%), mas adequado com base na parcimônia e percentual de pares de observações classificados corretamente de 75,6% e todos os betas do modelo significantes a 5%.

Não foi possível sustentar nenhuma das hipóteses relacionadas ao ranking de MPAs (H1a; H2a; H3a). Neste caso, os resultados podem estar sendo influenciados pelas características do processo de escolha dos programas, já que a participação inicialmente é voluntária e após avaliação e aprovação da revista, o programa é avaliado pelos critérios estabelecidos. Dessa forma, não ficaram claros os motivos que levam parte dos programas que são os melhores no ranking da CAPES não estarem presentes no ranking da Você S/A.

O parâmetro de custo e interesse dos programas de MPA em não classificar um professor que estaria fora do perfil de ranking como positivo, conforme o modelo do ranking da CAPES foi novamente utilizado. Porém, diferentemente da análise para o ranking da CAPES, neste foi estabelecido uma regra de corte com base na probabilidade de fazer parte do perfil desejado a partir de 51% de chance. As taxas de acerto e erro estão presentes no Quadro 4, a seguir.

Para a análise discriminante foi utilizado o modelo: Z = – 0,402 – (0,678 x TEMP_EXE) + (0,752 x PAR_BANCAS) + (0,271 x

PROJ_PESQ_1)

Quadro 4 – Taxas de erro e acerto de classificação para o ranking da Você S/A

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tanto o modelo utilizado para a análise discriminante da presença entre aqueles programas com pelo menos nota 5 na CAPES e o outro, da presença no ranking da Você S/A o máximo na taxa de acerto amostral foi de 60%. Isso significa que através do perfil dos professores, utilizando-se os modelos, é possível inferir sobre quais perfis de professores os programas deveriam buscar para aumentar suas chances de estarem nas pontas dos rankings, tanto acadêmico, como do mercado.

Destaca-se a falta de relação entre publicação dos professores e os rankings acadêmico e profissional. Tais resultados não corroboram com as evidências de Miltra e Golder (2008) e

Taxas Descrição 63.64 Taxa de acerto amostral. 36.36 Taxa de erro amostral. 0.59 1/1 Acerto Original/classificação p/ indivíduos ranking Você S/A 0.41 1/0 Erro Original/classificação p/ indivíduos ranking Você S/A 0.67 0/0 Acerto Original/classificação p/ indivíduos ñ ranking Você S/A 0.33 0/1 Erro Original/classificação p/ indivíduos ranking Você S/A

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Siemens et. al. (2005), onde, no mercado americano as pesquisas acadêmicas têm relação positiva com a posição dos rankings de mercado.

5. Considerações Finais

As variáveis coletadas no currículo dos professores, contidas na plataforma Lattes formaram sete fatores que explicam 79,7% da variância das variáveis, com comunalidades acima dos valores aceitáveis estatisticamente. Os fatores demonstraram diferentes dimensões das competências dos professores representadas em seus currículos oficiais. Tais informações poderão servir a outras pesquisas da área acadêmica de administração, além daquelas que busquem a evolução da gestão de recrutamento e seleção das Instituições de Ensino Superior (IES).

Dois agrupamentos de professores foram validados com base nas dimensões mensuradas pelos fatores encontrados nesta pesquisa. Tais grupos demonstraram alguns traços de diferenças relevantes entre os professores dos programas de MPA. Esses agrupamentos foram descritos nos resultados, mas apenas formação acadêmica, experiência acadêmica e produção acadêmica nível 1 apresentaram diferenças significativas entre os dois agrupamentos. Esse resultado exploratório indica uma falta de diferenciação entre a maioria dos professores da amostra.

Quanto aos fatores gerados na análise fatorial, a variável “formação acadêmica” e os resultados do agrupamento foram utilizados para investigar o quanto se poderia discriminar entre professores com “perfil ranking” e sem esse perfil, com base na amostra de professores dos 18 cursos de MPA, apenas parte dos sete fatores foram significantes para estabelecer uma regra de discriminação via regressão logística, no que tange ao ranking da CAPES, e três variáveis observadas foram significantes para determinar uma regra de discriminação para o ranking da Você S/A.

Com base nos resultados encontrados nesta pesquisa não foi possível aceitar a hipótese de que existe relação entre produção acadêmica de artigos e de outras publicações com a presença nos rankings considerados (H1a e H1b). Apenas a hipótese H3b da relação entre experiência acadêmica e nota igual ou superior a 5 no ranking da CAPES foi sustentada.

Tal como artigos e debates recentes em nível internacional, as evidências deste artigo reforçam a pertinência do debate sobre a maior ou menor importância da experiência acadêmica dos professores na qualidade dos cursos de administração brasileiros, apesar dos resultados ainda serem contraditórios.

Assim, algumas questões no que tange as possíveis explicações que levam apenas experiência acadêmica e executiva, projeto de pesquisa e participações em eventos foram significantes. Dessa forma, parece que  “Quem vê currículo não vê posição”, pois as dimensões que se mostraram significantes podem ser observadas nas redes de relacionamento de professores, e/ou nas atividades administrativas da academia.

A principal limitação deste artigo foi a falta de mais rankings de mercado para melhor análise da relação entre perfil dos professores e os rankings. Uma análise com outras informações da plataforma Lattes e uma avaliação comparativa, com todos os programas de MPA e demais programas acadêmicos da área de administração, poderia apresentar o quanto o perfil de professores seria relevante para os tipos de programas.

Futuras pesquisas poderiam investigar ainda, quais outras variáveis seriam mais explanatórias da posição em rankins acadêmicos e de mercado. A proposição de mensurações de mercado para avaliar a qualidade dos MPA’s também seria de interesse prático para a área acadêmica e para o mercado de educação continuada.

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