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Quem é? • Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritreia.

Residiu posteriormente em Trípoli, na Líbia, mudou-se para Itália e, em 1948, transferiu-se com a família para o Brasil, onde vive até hoje na cidade do Rio de Janeiro. É casada com o também escritor Affonso Romano de Sant’Anna e tem duas filhas, Fabiana e Alessandra Colasanti.

• De formação artista plástica, ingressou no Jornal do Brasil, dando início à sua carreira de jornalista. Desenvolveu atividades em televisão, editando e apresentando programas culturais. Foi publicitária. Traduziu importantes autores da literatura universal.

• Seu primeiro livro data de 1968, hoje são mais de cinquenta títulos publicados no Brasil e no exterior, entre os quais livros de poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens e ensaios sobre os temas literatura, o feminino, a arte, os problemas sociais e o amor. Hora de alimentar serpentes e Mais de 100 histórias maravilhosas são algumas de suas obras consagradas. Por meio da literatura, teve a oportunidade de retomar sua atividade de artista plástica, tornando-se sua própria ilustradora. Sua obra tem sido tem de numerosas teses universitárias.

microconto • Miniconto, ou microconto, ou nanoconto, é uma espécie

de conto muito pequeno, produção esta que tem sido associada ao minimalismo. O miniconto apresenta uma narração dentro de apenas uma linha. A ideia é que no mínimo de palavras possíveis, seja apresentado todo um contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado por aquelas palavras. Embora a teoria literária ainda não reconheça o miniconto como um gênero literário à parte, fica evidente que as características do que chamamos de miniconto são diferentes das de um "conto pequeno". No miniconto muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita.

Características do miniconto

• Concisão • Narratividade (muitos dos ditos minicontos

são, na verdade, tiradas líricas) • Totalidade (um miniconto não é uma story

line) • Participação do leitor ( imaginação) • Ausência de descrição • Retrato de "pedaços da vida"

O livro em questão:

• A serpente está presente nas mais diversas mitologias dos mais diversos povos. Como representação da sabedoria, astucia, da energia telúrica, proteção, guardiã dos portões do submundo em diversas culturas. Como guardiã que segura as águas do mar ou suporta a terra. Símbolo universal da renovação e a regeneração que pode conduzir para imortalidade. Ela aparece nas mitologias antigas e está presente nas religiões. Além disso, ao formar um anel com a cauda em sua boca, é também o símbolo da unidade em tudo e todos, a totalidade da existência.

• A Ouroboros ou Oroboro é uma criatura mitológica, uma serpente que engole a própria cauda formando um círculo e que simboliza o ciclo da vida, o infinito, a mudança, o tempo, a evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação. Muitas vezes, esse símbolo antigo está associado à criação do Universo.

• O que seria a Hora de alimentar serpentes? O título do livro de Marina Colasanti não é apenas o título de um dos contos que o compõem, mas a revelação da metáfora que pode ter gerado o livro: a hora de alimentar as serpentes, esse animal que é o símbolo do pecado, da traição, que se alimenta apenas do que é vivo e, portanto, a hora em que ele se alimenta é também a hora da morte. Esse é o espírito que guiou, aparentemente, a produção dos microcontos e contos que integram essa coletânea que é, como diz a orelha do livro, um grande diálogo de Colasanti com seu universo cultural, mas vai muito além disso.

A morte do autor • O livro é uma coleção de pequenas e grandes ironias da vida, expandidas,

incrementadas e alteradas com o objetivo de gerar sempre o inusitado.. • Seu pacote cultural será lido se houver conhecimento de seus “leitores-

autores”.... O intertexto só será lido se houver leitores • Colasanti trabalha com a desautomatização do pensamento adicionando

elementos inesperados às histórias que todos já ouvimos. É o caso, por exemplo, da série de contos, espalhados ao longo do livro, chamados Histórias da insônia, e numerados de acordo com sua ordem de aparição.

• À tradicional imagem do homem que conta carneirinhos pulando a cerca porque não consegue dormir, a autora primeiro adicionou a figura do lobo, depois explorou as possibilidades que o trio de personagens poderia produzir, todas elas, desde o ataque do lobo aos carneiros até a revolta dos carneiros que decidem ordenar ao homem que pule a cerca, passando pela decisão de fazer churrasco com o carneiro, são todas histórias de poucas linhas que são muito mais amigas da insônia e do sonho do que do sono.

História de insônia

• Figuras de linguagem: antítese, paradoxo, metáforas ( “o lobo em pele de cordeiro”) e a personificação dos animais ( fábula)

• HQ • Conto de fada com o lobo. Outor elemento

que entra nas histórias

• Permeado de simbologias, A hora de alimentar serpentes, de Marina Colasanti, Global editora, não se limita ao gênero Fantasia, apesar de o sê-lo. Com a narrativa curta ou curtíssima, os rápidos textos alternam entre contos.

• Mitológico, o prólogo já decifra uma escrita capaz de mergulhar no profundo de diversas filosofias; tecendo ideias. Duas orações costuradas, onde a linha para tecer é a cobra/ponto continuativo e o tecido, as palavras.

Prólogo

• “Enfiou a serpente na agulha. E começou a costurar”

Inferências e intertextualidade

• Verdade que a intertextualidade é marca forte na obra, vai desde a mitologia grega, passando por Hércules, o Minotauro e a Medusa, a Descartes, Matisse e Caravaggio, isso se tratando apenas das referências explícitas. Mas outras referências se evidenciam ao longo da leitura

• Quando um rapaz se apaixona por uma raposa, como não pensar em O pequeno príncipe, de Saint-Exupéry? Da mesma forma, as referências a um homem de máscara ou de capuz pode tanto ser uma alusão à questão do autoconhecimento como uma referência ao quadro Os amantes, de Magritte, e também (por que não?) uma referência aos dois.

• Além disso, e de um dos títulos citar La Fontaine, a quantidade de histórias com animais antropomorfizados, formigas, cigarras, lobos, e etc., traz à lembrança as fábulas, que nesse caso são amorais: a formiga, por exemplo, sente saudade do canto da cigarra. Também histórias sobre homens que não saem jamais de seu barco e que são pescadores trazem à mente A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. Um diálogo com o abismo, que responde ao olhar, remete a O que vemos, o que nos olha, de Didi-Hüberman. E por aí vai.

• Homero, Eça de Queiroz, Guimarães Rosa, Hopper, Matisse, Caravagio, história antiga, filosofia....

Temas recorrentes • Medo • Solidão • Autoconhecimento • O amor • O desejo • a condição do ser humano • a tatuagem como forma de desenhar o corpo, • a morte a loucura e a violência. •

• Em geral nos calamos sobre muitas dessas questões para evitar maiores constrangimentos e pelo bem e progresso da nação e da família brasileira, mas Colasanti tem prazer em enfiar o dedo na ferida e reconhecer as verdades que calamos é um sentimento doce-amargo que sempre vem mais do fundo e faz virar a página e procurar pela próxima ferida onde meteremos o dedo juntos, porque, pelo menos durante esse momento de leitura, não há solidão, mas reflexão, companhia e cumplicidade, as melhores coisas que a literatura pode nos oferecer.

• Velhice: é um dos temas mais interessantes do livro. Existe uma ironia muito brutal em reconhecer, diante de uma mulher idosa que caminha com um cão, também idoso, e uma bengala, que, dos três, apenas a bengala não está próxima do fim.

Gêneros literários

• Gênero narrativo: elementos da narrativa • Lírico: a poesia e suas possibilidades -

(sonoridade, concisão e criação de imagens) • Dramático: ato, espécie de roteiro ( contos

que parecem ser construídos para encenação até com rubricas)

Gramática valor semântico dos conectivos

• Vários contos apenas com conectivos como título ( ou, tão, pois, apesar de, apesar da, sem....)

• Pois “-teu pai, meu filho, era forte como o carvalho no fundo

do jardim. -mas não há nenhum carvalho, nem temos jardim. -justamente”

Imagens que aparecem no livro: Matisse: peixinhos vermelhos ( conto paris, com jarro

de peixes

Hopper

• Falcões da noite

Quarto de Hotel, mulher lendo uma carta ( Hopper)

Outros olhares, outras histórias

• “ENQUANTO O SONO Demora, o sono. Para ocupar-se na espera, ela começa a tricotar mentalmente. Que longa echarpe tem de manhã, tecida com o fio dos seus pensamentos. Mas é muito desigual, interrompida por malhas perdidas e amplos vazios. Jamais poderá usá-la.”

• •

• A mulher ‘interrompida por malhas perdidas e amplos vazios’, tricota, em seu íntimo, pensamentos que sequer serão usados, pensamentos produzidos em período de insônia. Naquele breve momento em que esperamos pela chegada de Morfeu e, enquanto isso, as ideias criam formas, às vezes, de monstro ou de sonhos acordados, que mais tarde já não fazem o menor sentido. Marina costurou com palavras a simbologia do retrato de um instante.

Depois do terceiro ato • “Difícil, para aquela atriz, não é suicidar-se

todas as noites no terceiro ato. É voltar à vida para receber os aplausos.”

• A atriz precisa voltar à sua consciência e ‘receber os aplausos’,

não mais como personagem e isso pode ser, no mínimo, perturbador, caótico e irônico. Mas a ironia não é pauta de um texto só, ela ganha forma na pele da serpente, aliás, ela é alimento para serpente, que rompe com um romantismo desnecessário.

“SEM NECESSIDADE

• Ofertou seu coração ao amado. Que, sem necessidade de transplante, abandonou o presente no fundo de uma gaveta. ”

• Na tentativa esdrúxula de organizar o mundo, o homem inventa necessidades e obrigações de contratos sociais que são, ironicamente, descumpridas pelo próprio homem. Não é possível acumular corações, como na sociedade capitalista que se acumula objetos. O que se faz então com corações para acumular?

Concluindo...

• A hora de alimentar serpentes não é um convite à reflexão, é a sedução para produzir pensamentos. É o reencontrar-se com o inusitado sem a intervenção de uma divindade única de certo ou errado. Uma caixa mítica da vida como ela é, satirizando a humanidade que esquece sua essência e fragmenta-se.