quem trabalha constrói sua história
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Quem trabalha constrói sua história
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1058
Agosto/2013
Belo Monte
Cada família que resolveu conviver com o Semiárido, que decidiu viver no sertão onde
nasceu e cresceu, acha um jeito de construir uma vida boa por aqui. Algumas percebem
que precisa ter vários tipos de produção.
Outras entendem que têm que
aproveitar da melhor forma os recursos
que a região oferece. Outras ainda
aprendem a beneficiar o que produzem,
a vender sua própria produção.
Muitos são os jeitos, muitas são as
alternativas. Muitas também são as
tecnologias e inovações que os próprios
agricultores e agricultoras têm
construído. Mas, independente do jeito
que essas famílias decidam viver e se
relacionar com sua região, todas têm
uma força em comum, todas têm um
modo de ver que torna isso possível. Elas
acreditam e têm a vontade de trabalhar.
Enxergam no trabalho seu instrumento
de libertação.
Valdiram Sarafim da Silva, Maria Erivânia da Silva, José Tauan da Silva. Essa família
nasceu no ano de 2006. Assim como muitas e muitas outras famílias, o jovem casal
precisou ir para conhecer o caminho de volta e o desejo de voltar. Quando eles foram
para a cidade de Santos, ainda eram somente Erivânia e Valdiram. Por lá, ficaram 4 anos
e seis meses. Ele trabalhando em um lava-jato, ela em serviços domésticos.
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Realização Apoio
De início começou a vender o
coentro. Mas não ficou só na
produção desta verdura. Planta
também alface, pimentão, couve,
repolho, cebolinha e quiabo. Ainda
tem as fruteiras como maracujá,
mamão, goiaba e pinha. Além
dessas, com o caráter produtivo da
cisterna-calçadão, virão romã,
manga e acerola.
Para aguar os canteiros, enquanto
não tem a água da cisterna, ele usa
uma barragem, que fica no terreno de um de seus irmãos. Pega a água com o carro de
boi de dois em dois dias, há quase 1 quilômetro de sua casa. Para ajudar na
produção, usa um biofertilizante que conseguiu em um intercâmbio e o esterco de
seu próprio gado.
E assim ele vem melhorando cada
dia mais a vida de sua família.
Colhendo os frutos do seu trabalho,
não pensa mais em deixar sua casa.
Continua cuidando do gado,
entregando o leite, mas não pensa
em continuar por muito tempo. Diz
que, com a cisterna, vai aumentar a
produção. Vai ocupar as duas
tarefas de terra que tem com o
plantio das fruteiras e das
hortaliças. Quer viver somente
disto. “Com o gado é muito difícil, diz ele, tem que investir muito e o retorno é
pouco”.
Mas para ele, uma coisa é certa, nunca mais pretende deixar sua terra. E está
encontrando sua maneira de não ter que fazer isso. Seu trabalho é sua autonomia.
Sua produção é sua segurança. O bem- estar da família é o seu incentivo.
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“Nunca investimos em nada por
lá”, afirma o casal. “O que a gente
ganhava lá, mandava para cá, para
comprar a criação”, conta Valdiram
sobre como conseguiu investir no
que viria a ser, por muito tempo, a
principal fonte de renda da família.
A criação de que Valdiram fala, são
as 8 cabeças de gado que
conseguiu comprar na esperança
de poder ter como voltar para o seu
verdadeiro lar.
Com o trabalho do casal, durante esse tempo, também foi possível terminar sua
casa, que tinham deixado ainda em construção. Dedicando-se ao trabalho, tinham
como único objetivo construir melhores condições para quando pudessem voltar.
Nem mesmo pensavam em aumentar a família enquanto estivessem por lá.
Quando voltaram, terminaram, ao mesmo tempo, a casa e a cisterna de placa, a
primeira conquista do casal, após fazer o caminho de volta. Depois veio o pequeno
José Tauan completando a família, que mais uma vez precisa demonstrar sua força
no trabalho.
Dessa vez a seca veio, mas a
família não teve que partir. Foi
muito trabalho conta Valdiram.
“Tudo o que a gente conseguia,
mal dava para alimentar o gado.
Até pensei em vender, mas nem
achava quem quisesse comprar.
Graças a Deus não chegamos a
perder nenhuma cabeça do
gado, mas ficamos muito tempo
no sufoco, pois só alimentava e
não tinha retorno, sem se quer
tirar um litro de leite.”
Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas
A comunidade onde moram, o sítio Boa Vista, tem pouco mais de 40 famílias e
mantém a cultura leiteira da região. Valdiram faz parte de uma associação que
comercializa o leite. Foi preciso muito trabalho e vontade para superar o período de
estiagem que se estendeu por quase três anos.
Ma se há uma coisa que esta família
possui é a força e a vontade para o
trabalho. Essa vontade foi fortalecida por
mais uma conquista. Desta vez, eles
conquistaram uma cisterna-calçadão.
Uma oportunidade, que ajudou Valdiram
a realizar mais um sonho. “Sempre pensei
em trabalhar com plantação de
verduras”, conta Valdiram.
Antes mesmo da cisterna-calçadão ser
construída já trouxe muitos resultados
para a vida dessa família. Durante o
curso de Sistemas de Irrigação
Simplificada e Manejo de Água para
produção alimentos, o SISMA, foram
construídos 2 canteiros na pequena
propriedade de Valdiram. Um canteiro
feito de tijolos e com a lona no fundo, o
chamado canteiro econômico e o outro
aproveitando garrafas plásticas.
Valdiram ficou tão animado ao ver
brotar os resultados daquele curso que
nem esperou a construção da cisterna-
calçadão. Foi construindo mais um e
mais um canteiro, até chegar aos 11 que
já mantém. Depois de 2 meses da
capacitação, ele já entrega sua
produção em toda sua comunidade e
nas comunidades vizinhas.