quem tem medo de foucault

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Quem tem medo de Foucault? Feminismo, corpo e sexualidade Tânia Navarro Swain espaço michel foucault – www.filoesco.unb.br/foucault 1 Quem tem medo de Foucault? Feminismo, Corpo e Sexualidade Dra. Tânia Navarro Swain Universidade de Brasília - Departamento de História Corpo e sexo parecem, à primeira vista, indissociáveis. Entretanto, se nos atemos a um dos pressupostos aventados por Foucault para a análise do real - a inversão das evidências [1] - desfaz-se este conjunto em múltiplas questões: que corpo é este, atravessado pelo sexo? Que sexo é este a cujas definições se atrelam características de meu ser? Corpo, superfície pré-discursiva, sobre a qual se instalam práticas, coerções e disciplinas? Sexo, detalhe anatômico ou delimitação incontornável do indivíduo no mundo? As práticas discursivas da atualidade que “[…] se caracterizam pelo recorte de um campo de objetos, pela definição de uma perspectiva legítima para o sujeito do conhecimento” [2] , criaram as condições de possibilidade para o surgimento de tais questões e as teorias feministas, em sua pluralidade, vem analisando os processos e procedimentos de transformação do corpo da mulher num sexo, amálgama que resulta em práticas de subordinação e assujeitamento. Quem diz corpo e sexo pensa também em mulheres e homens, divisão naturalizada do mundo em um esquema binário de implicações hierarquizantes e assimétricas. [3] Muitas vezes foi repetida a idéia, de forma implícita ou explícita nos discursos fundadores de autoridade da teologia, filosofia e outros, que o homem tem um sexo, a mulher é um sexo. Nesta afirmação, o corpo é obscurecido pela identidade de gênero, numa dupla acepção em que o masculino se desdobra em sexo, e o feminino nele se cristaliza. Mas como se analisa hoje este binômio sexo/gênero? As teóricas feministas criaram a noção de gênero como categoria analítica da divisão sexuada do mundo, trazendo à luz a construção dos papéis sociais naturalizados em torno da matriz genital/biológica. Se a divisão é binária, entretanto, a sexualidade faz parte integrante de suas definições, pois as práticas sexuais são os componentes que ancoram os papéis sexuados. O binômio sexo/gênero se traduz assim, implícita e naturalmente em sexualidade reprodutiva, heterossexual. Certas reflexões de Foucault cruzaram-se e alimentaram, em muitos casos, as teorias feministas na medida em que, justamente, desvelam no histórico-social quadros de disciplinarização, formas de adensamento político sobre os corpos, que produzem, em

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Quem tem medo de Foucault? Feminismo, corpo e sexualidade Tânia Navarro Swain

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Quem tem medo de Foucault? Feminismo, Corpo e Sexualidade

Dra. Tânia Navarro Swain Universidade de Brasília - Departamento de História

Corpo e sexo parecem, à primeira vista, indissociáveis. Entretanto, se nos atemos a

um dos pressupostos aventados por Foucault para a análise do real - a inversão das

evidências [1] - desfaz-se este conjunto em múltiplas questões: que corpo é este, atravessado

pelo sexo? Que sexo é este a cujas definições se atrelam características de meu ser? Corpo,

superfície pré-discursiva, sobre a qual se instalam práticas, coerções e disciplinas? Sexo,

detalhe anatômico ou delimitação incontornável do indivíduo no mundo?

As práticas discursivas da atualidade que “[…] se caracterizam pelo recorte de um

campo de objetos, pela definição de uma perspectiva legítima para o sujeito do

conhecimento”[2], criaram as condições de possibilidade para o surgimento de tais questões

e as teorias feministas, em sua pluralidade, vem analisando os processos e procedimentos

de transformação do corpo da mulher num sexo, amálgama que resulta em práticas de

subordinação e assujeitamento.

Quem diz corpo e sexo pensa também em mulheres e homens, divisão

naturalizada do mundo em um esquema binário de implicações hierarquizantes e

assimétricas. [3]

Muitas vezes foi repetida a idéia, de forma implícita ou explícita nos discursos

fundadores de autoridade da teologia, filosofia e outros, que o homem tem um sexo, a

mulher é um sexo. Nesta afirmação, o corpo é obscurecido pela identidade de gênero,

numa dupla acepção em que o masculino se desdobra em sexo, e o feminino nele se

cristaliza. Mas como se analisa hoje este binômio sexo/gênero?

As teóricas feministas criaram a noção de gênero como categoria analítica da

divisão sexuada do mundo, trazendo à luz a construção dos papéis sociais naturalizados

em torno da matriz genital/biológica. Se a divisão é binária, entretanto, a sexualidade faz

parte integrante de suas definições, pois as práticas sexuais são os componentes que

ancoram os papéis sexuados. O binômio sexo/gênero se traduz assim, implícita e

naturalmente em sexualidade reprodutiva, heterossexual.

Certas reflexões de Foucault cruzaram-se e alimentaram, em muitos casos, as

teorias feministas na medida em que, justamente, desvelam no histórico-social quadros de

disciplinarização, formas de adensamento político sobre os corpos, que produzem, em

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suas diversas tecnologias, padrões de funcionalidade e utilidade. Os registros anátomo-

metafísico e técnico-político[4] no caso da produção de seres sexuados/generizados,

costituiriam corpos ordenados em modelos centrados no sexo e desdobrados em

sexualidade, em esferas particulares submetidas aos sentidos circulantes no social.

Entretanto, no caso do feminismo, uma leitura menos atenta pode ater-se apenas

aos grandes traços esboçados por Foucault que contemplam epsodicamente a questão do

corpo e do sexo da mulher, e ver, nestas generalizações, um obstáculo para a decodificação

das táticas e estratégias que investem os corpos femininos. É assim que, como aponta

Monique Deveaux, críticas ou adoções parciais trazem Foucault ao debate feminista.[5]

A questão do sujeito disseminado aparece frequentemente como um obstáculo à

análise e à ação política das mulheres, na medida em que esvaziaria a especificidade de sua

situação enquanto indivíduos no mundo, cujo corpo sexuado é fundamento de sua

subordinação instituída de forma binária no social.

A constituição do sujeito “mulher” atravessou toda uma reflexão teórica articulada

aos movimentos feministas em diferentes países ocidentais e empenhou-se em desmantelar

a construção “natural” do feminino enquanto apenas o “Outro” do homem. Simone de

Beauvoir em 1949, nas primeiras páginas de seu livro “O segundo sexo”, cujo

cinquentenário foi celebrado em diferentes países em 1999, introduz esta questão: o que é

uma mulher? [6] A busca de um significante geral para a multiplicidade do ser-mulher

colocava a afirmação de um sujeito-em-si, não apenas um reflexo invertido ou uma

construção do olhar masculino.

Neste sentido, o sujeito que perde sua pregnância em Foucault, o autor que se

esvai em suas condições de produção vem, de certa forma, solapar uma longa elaboração

do sujeito conjugado no feminino. Da mesma forma, a questão do poder constitutivo das

relações sociais, dos micro-poderes descritos e analisados por Foucault parecem

obscurecer a opressão singular que cria e marca o feminino em suas delimitações sociais.

Ora, se Foucault considera o sujeito como um lugar de fala, isto não deixa de

circunscrever um domínio discursivo no qual se inscreve o próprio feminismo e as

reivindicações das mulheres em seus diferentes movimentos e momentos. De fato, as

estratégias e as táticas tão frequentemente sublinhadas por Foucault,[7] presentes no que

chama de “positividade de um saber” [8] apontam para a análise dos “[…] corpos

constituídos como sujeitos pelos efeitos do poder.” [9]

Desta forma, o feminismo, enquanto um movimento político transformador,

insere-se em um campo de poder/saber na medida em que interroga e desconstrói a

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naturalização dos corpos em papéis e práticas sociais, e ao mesmo tempo produz e critica

seus próprios discursos em desdobramentos que contemplam as variáveis etnias, classe,

raça, e o próprio sexo biológico na constituição do sujeito “mulher”. O sujeito dos

feminismos é assim múltiplo e se desloca de um grupo definido e do indivíduo singular,

pois produz-se em um movimento complexo e dinâmico, na análise das engrenagens de

constituição do corpo/sujeito/sexo, na experiência das práticas sociais generizadas -

enquanto mulher- e na crítica ao quadro epistemológico no qual se insere seu próprio

discurso.

No projeto genealógico de Foucault, os feminismos fariam parte da insurreição

dos “saberes dominados”, da ‘[...] imensa e proliferante criticabilidade das coisas, das

instituições, das práticas, dos discursos [...][10], saberes localizados em uma deixis discursiva

que levam em conta, em sua expressão, suas próprias condições de possibilidade,

criticando o instrumental analítico que elaboram ou utilizam. Na ótica de Foucault, “o

caráter essencialmente local da crítica indica na realidade algo que seria uma espécie de

produção teórica autônoma, não centralizada, isto é, que não tem necessidade, para

estabelecer sua validade, da concordância de um sistema comum.”[11]

Foucault convida a penetrar a rede constitutiva das relações sociais que

individualizam em níveis e patamares a fim detectar “[…] como funcionam as coisas no

nível do processo de sujeição ou dos processos contínuos e ininterruptos que sujeitam os

corpos, dirigem os gestos, regem os comportamentos, etc.” [12] O pensamento

foucaultiano, deste modo, casa-se à análise feminista na medida em que ambos pretendem

desvelar os discursos de verdade sobre o humano e seus recortes sexuados/sexualizados,

pois segundo este autor, “[…] somos julgados, condenados, classificados, obrigados a

desempenhar tarefas e destinados a um certo modo de viver ou morrer em função de

discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder” [13].

Esta mesma constatação tem sido o mote para discursos e movimentos feministas

na crítica das instituições sexuadas e binárias e do imaginário que as fundamenta: detectar

os mecanismos e estratégias da ordem do discurso hierárquico e assimétrico para melhor

subvertê-las. Falar, portanto, de igualdade/desigualdade não é o mesmo que mostrar as

engrenagens produtoras das hierarquias e das sujeições, históricas e fundamentadas apenas

em sua própria enunciação, pois como sublinha Foucault “[…] a ação do poder sobre o

sexo se faria pela linguagem ou por um ato de discurso criando, ao mesmo tempo em que

se articula, um estado de direito. Fala, e é a regra.”[14]

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Nesta ótica, a historicidade das práticas discursivas mostra a contingência das

representações sociais, da inteligibilidade instituída em imagens de corpo, em funções

definidas, em papéis sexuados cuja objetivação constrói a realidade que supostamente

refletem. Os discursos sobre o corpo e a sexualidade e a divisão hierarquizada dos seres

humanos em mulheres e homens são, de fato, efeito e instrumento de poder instituinte.[15]

Esta perspectiva penetra fundo os campos de saber sobre o sexo, o corpo e o

gênero, na medida em que a categorização binária do humano passa a ser uma identidade

passível de dissolução, já que constituídas em práticas discursivas e históricas, que segundo

Foucault “[…] tomam corpo em conjuntos técnicos, em instituições, em esquemas de

comportamento, em tipos de transmissão e de difusão, em formas pedagógicas que as

impõem e mantém, ao mesmo tempo.” [16].

A desnaturalização das funções sexuadas e dos corpos marcados biologicamente -

como veremos adiante - se faz a partir da própria noção de prática discursiva, “[…] este

conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço”[17],

que permite a identificação dos lugares de fala e de autoridade instituindo o sexo e

constituindo os corpos como eixo de partilha do mundo.

De fato, como aponta Foucault, o alvo é a decodificação do regime instituído de

produção da verdade - verdade sobre a identidade humana, que se cristalizou na divisão

sexual e binária da sociedade. É nesta ótica que Teresa de Lauretis estima encontrar o

sujeito do feminismo: não seria A mulher, nem as mulheres, mas um construto teórico,

uma forma de conceptualização, de compreender e explicitar certos processos,[18] entre os

quais as “tecnologias de produção do sexo” indicadas por Foucault. De Lauretis nomeia “

sex/gender/system” a imposição de imagens binárias de sexo, da qual a

heterossexualidade, enquanto prática normativa e naturalizada é constitutiva.

O eccentric subjet seria para esta autora o sujeito do feminismo, aquele que está

dentro e consciente de suas condições de produção, mas constituído por uma constante

atividade de des-identificação do ego, do grupo, da família, e des-locamento do próprio

ponto de entendimento e articulação conceitual [19], um constante cruzar de fronteiras, um

remapeamento dos limites entre corpos e discursos, identidades e comunidades[20] Neste

sentido, para esta autora, o feminismo não expande apenas limites e inclui categorias, mas

representa e traz uma mudança na consciência histórica, na medida em que reconhece e

articula o situacional do presente, o político-histórico e o político-pessoal do próprio

pensamento para melhor questionar suas evidências, seu instrumental teórico e suas

práticas .[21]

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Não estamos longe de Foucault quando afirma que […] o problema

político essencial para o intelectual […] é saber se é possível constituir uma nova política

de verdade. [22] Para este autor, “Não se trata de libertar a verdade de todo sistema de

poder […], mas de desvincular o poder de verdade das formas de hegemonia (social,

econômicas, culturais) no interior das quais ela funciona no momento.”[23]

Na identificação da heterossexualidade como produção de um saber sobre o

humano e de uma prática normativa que exercem o poder de naturalização do binário, de

Lauretis aplica esta fórmula foucaultiana e adensa a análise da instituição dos corpos

sexuados.

O sex/gender/system, cujo eixo é o exercício de uma prática sexual codificada e

polarizada imbrica-se às considerações de Foucault a propósito dos caracteres

fundamentais da sexualidade: “ […] não traduzem uma representação mais ou menos

embaçada pela ideologia ou um desconhecimento induzido pelas interdições; eles

correspondem às exigências funcionais do discurso que deve produzir sua verdade”[24]

Mas neste caso, o “sujeito do feminismo” para de Lauretis poderia parecer aqui

apenas como um significante geral para a crítica da produção do conhecimento e das

estratégias e táticas sociais; entretanto, seu afunilamento no estudo das “tecnologias de

gênero” (como por exemplo, o cinema) mostra que a des-identificação e o des-locamento

atuam quanto às matrizes modelares dos papéis e corpos sexuados, pois o “eccentric

subject” se encontra ao mesmo tempo dentro e fora das ideologias de gênero. Esta

postura incorpora, portanto o sujeito “mulher” ao mesmo tempo em que o ultrapassa ou

excede na crítica ao “aparato sócio-cultural da heterossexualidade”. [25]

O lugar de fala deste discurso, porém - quem fala, para quem, de

onde, segundo a clássica proposição de Foucault [26], é também “ex-cêntrico” na produção

do saber institucional da atualidade: enquanto feminista e assumindo uma postura política

é desqualificado; enquanto crítica da heterossexualidade como locus de poder na produção

do sex/gender/system é “ex-centrico” à produção acadêmica centrada sobre a categoria

gênero, cujo aspecto relacional re-naturaliza a divisão sexuada do humano.

Neste sentido Jane Flax observa a respeito do feminismo: “[…] nossa própria

busca de um ponto de Arquimedes pode obscurecer nossa inserção numa ‘episteme ’na

qual as afirmações da verdade podem tomar somente certas formas e não

outras.[…].[27] Insere-se assim em uma rede valorativa e prescritiva que não apenas define

as escolhas e as exclusões, mas igualmente, como indica Foucault, atua na “[…] fixação de

normas para a elaboração de conceitos e teorias”. [28]

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A questão teórica do sujeito disseminado ou apenas compreendido como um lugar

de fala em determinadas condições de produção tem na figura do autor o exemplo clássico

de Foucault como sendo:”[…] o princípio de agrupamento do discurso, como unidade e

origem de suas significações, como centro de sua coerência.”[29] Além disso, Foucault

explicita que “seria absurdo, é claro, negar a existência do indivíduo escrevendo ou

inventando. Mas […] o indivíduo que se põe a escrever um texto no horizonte do qual

flutua uma obra possível retoma para si a função de autor[…] tal como ele a recebe de sua

época ou tal como por sua vez, a modifica. ·

Numa analogia com o sujeito do feminismo, o corpo investido pelo social

enquanto feminino, em práticas concretas de violência e dominação cria na experiência das

mulheres definidas em sexo e corpo, este princípio de agrupamento do discurso, não

assujeitado à identidade construída, mas crítico da “verdade” que o produz, criando novas

instâncias discursivas de resistência. O sujeito do feminismo é aqui um lugar de fala que se

contrapõe à apropriação social do discurso, pois aparece como ex-cêntrico à sua ordem.

Desta maneira, a disseminação do sujeito não interfere na análise do quotidiano, da

experiência singular em seus corpos sexuados que as fazem “mulheres”, em configurações

de revolta ou assujeitamento

A noção de um poder também disseminado, constitutivo das relações sociais

aventada por Foucault, coloca-o novamente, como aponta Monique Deveaux [30] em

confronto ou em harmonia com certas teóricas do feminismo. Esta noção mostra a

construção do social em termos de poder/resistência, o que abre uma perspectiva nova às

análises do quotidiano e do detalhe, ancoradas em representações cristalizadas da

“verdadeira mulher”, reatualizadas nas tecnologias de produção do gênero e do sexo e

justificadoras da violência e da subordinação das mulheres

A noção de “dispositivo da sexualidade” em Foucault é a explicitação deste poder

que se exerce e se reproduz na construção de corpos sexuados, em um modelo binário que

acompanha a partilha do mundo em lícito e ilícito. Assim, a múltipla face do poder

desenha seu perfil na identificação dos corpos, no incentivo e na proliferação de práticas

sexuadas, sem, entretanto, abandonar a hegemonia da sexualidade binária e do eixo

reprodutivo. Como sublinha Foucault, o dispositivo da sexualidade convive com o

dispositivo da aliança, e a proliferação da sexualidade não apaga a pregnância da família

heterossexual, “[…] como se lhe fosse essencial que o sexo esteja inscrito não somente em

uma economia do prazer, mas em um regime ordenado de saber.[31]

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Os micro-poderes detectados por Foucault tecem o dispositivo da sexualidade,

investindo, modelando e construindo corpos sexuados, cujas práticas multifacetadas

representam a expansão da atividade sexual em formas diversas, mas ao mesmo tempo

controladas.Ou seja, a liberação da sexualidade não representa apenas proliferação, pois

suas novas necessidades criam urgências e padrões.

Alguns discursos feministas percebem esta trama cerrada de poderes múltiplos

como uma generalização muito ampla que poderia obscurecer relações assimétricas e de

dominação como no caso do gênero.[32] Entretanto, observando-se as “tecnologias de

produção do gênero”[33], corolário incontornável das “tecnologias do sexo” apontadas por

Foucault,[34] percebe-se o poder de criação de imagens e papéis masculino/feminino que

penetram e alimentam o dispositivo da sexualidade fixando identidades binárias como

matrizes de inteligibilidade do sexo . O “corpo inteligível” apontado por Foucault nos

registros ora de submissão e utilização, ora de funcionamento e explicação é igualmente o

corpo naturalizado da mulher em sexo e reprodução.

A proliferação de novas identidades – transexuais, bissexuais, homossexuais – em

sua cristalização, em suas reivindicações identitárias reproduzem as representações

hegemônicas na medida que se afirmam em “oposição a ”, “diferente de”, ou seja, o

múltiplo gira em torno do eixo unificador do corpo sexuado de forma polarizada.

A noção do “dispositivo” em Foucault é um poderoso instrumento teórico para a

análise da constituição dos corpos em configurações de gênero, na medida em que se

explicita segundo este autor, como sendo “[…] de natureza essencialmente estratégica,

[…], de uma intervenção racional e organizada nestas relações de força, seja para

desenvolvê-las em determinada direção, seja para bloqueá-las, para estabilizá-las, utilizá-las,

etc.”[35] Para Foucault, “[…]é isto o dispositivo: estratégias de relações de força

sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por elas. “[36] i Como não perceber os

indícios

que apontam para a análise das situações específicas, da experiência singular das

mulheres em configurações sociais diversas?

Contrário às grandes esquematizações totalitárias, Foucault concebe o poder como

uma “[…] multiplicidade de relações de força que são imanentes ao domínio onde se

exercem e são constitutivas de sua organização […] estratégias enfim, nas quais se efetuam,

cujo desenho geral ou cristalização institucional tomam corpo nos aparelhos estatais, na

formulação da lei, nas hegemonias sociais.”·

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Assim, os micro-poderes podem ser vistos instituindo os corpos em relações

dadas, que tem o mérito de excluir as generalizações abusivas, em termos de essências e

papéis universais. Se este poder é difuso, ele se exerce no adensamento das relações

sexuadas e sexuais instituindo a sociedade, o imaginário hegemônico e as representações

sociais que presidem a modelagem e a utilização dos corpos. Como assinala Foucault as

estratégias são anônimas, mas a […] racionalidade do poder é a das táticas muitas vezes

explícitas no nível onde se inscrevem[...] que se encadeando, se interpelando e se

propagando, encontram alhures seu apoio e sua condição e desenham dispositivos

gerais.” [37]

Existiriam, porém, sociedades em que o poder não seja o fio constitutivo das

relações sociais? Esta é uma questão que o feminismo coloca sobre os mecanismos

produtores do social à história, cujos discursos e problematizações tem sido construídos

igualmente em programas de verdade.

Nesta vontade de saber localiza-se a construção dos corpos biológicos constituídos

em sexo e é inegável que a sociedade ocidental reconstrói constantemente uma divisão

que, dentre todas, marca do selo da subordinação mais da metade de sua população.Como

sublinha Foucault “Deve-se supor que as relações de força múltiplas que se formam e

atuam nos aparelhos de produção, as famílias, os grupos restritos, as instituições servem de

suporte a grandes efeitos de clivagem que percorrem o conjunto do corpo social.” [38]

Na busca de desvelar a vontade de verdade que anima a necessária identificação

sexual e a delimitação das práticas sexuais, as figuras de feminino e masculino se erigem

como monumentos no sentido foucaultiano: não imagens unitárias de uma essência

revelada pelos indícios do corpo, mas apenas o resultado aparente de uma

homogeneização construída pelo arbítrio social. E afinal, neste meio século de feminismo

contemporâneo tem-se buscado, com a desnaturalização dos papéis sexuais, os

mecanismos de construção e apropriação dos corpos desenhados enquanto femininos,

numa arqueologia que procura “{…] a descrição intrínseca do monumento”.[39]

Se a constituição de categorias tais como gênero ou patriarcado, enquanto

instrumentos analíticos pontuais das relações sociais foi fundamental para a expansão das

teorias feministas, a crítica do sexo biológico enquanto determinante estratégico de

relações hierarquizadas ainda é incipiente, apesar de sua existência já nos anos 70. Ti Grace

Atkinsons, por exemplo, denuncia a heterossexualidade como instrumento de sujeição e de

apropriação das mulheres [40], idéia retomada e reelaborada por Monique Wittig e Adrienne

Rich nos anos 80.[41]

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Da mesma forma, Foucault examina a questão analisando o sexo biológico como

um efeito discursivo. Assim, as condições de possibilidade atuais delimitam o alcance do

feminismo em sua própria crítica, pois se a desnaturalização do sexo biológico promove a

queda dos bastiões mais poderosos da divisão binária da sociedade com seus efeitos de

apropriação e dominação, a identificação da heterossexualidade como locus e estratégia de

poder está longe de ser incorporada ao discurso feminista.

Entretanto o poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua

constituição biológica um fator “natural” que carrega características específicas e torna

indiscutível a divisão dos seres humanos em dois blocos distintos. Isto não significa que o

corpo humano não exista de forma sexuada, com um aparelho genital dado.

O que o poder cria é outra coisa: é a importância dada a este fator corporal, é o

sentido que se lhe atribui de revelador, de catalisador da essência do ser e da identidade do

indivíduo. Estamos falando assim do sexo-significação cuja constituição em discurso e

imagens é criada pelo próprio discurso e as representações nele contidas. O sexo-discurso

produz corpos aos quais se atribui uma sexo-significação de forma binária e

normatizadora, em torno da reprodução - o dispositivo da aliança- e em sexualidades

diversas que não cessam de se referir ao sexo “originário”, o reprodutor.

Meu argumento é que, neste sentido, é indissociável a significação discursiva da

significação corpórea atribuída ao humano em matrizes de inteligibilidade que produzem o

sexo em experiências de gênero .

O feminismo, em seu trabalho de des-naturalização do discurso biológico sobre a

mulher vem se ocupando particularmente desta questão, desde os anos 70: para Nicole

Claude Mathieu [42], por exemplo, passa-se da diferença sexual como eixo divisório do

humano à idéia da diferenciação social dos sexo, da construção social desta diferença., ou

seja, de seus mecanismos, estratégias, do desvelamento das representações que a

fundamentam. Desta forma, para esta autora, a análise compreende não apenas a

construção social dos gêneros mas a da instituição cultural do sexo biológico .

A noção de “diferença de sexos” engendra e delimita, restringe e produz uma certa

sexualidade que no caso das mulheres habita totalmente seu ser: SÃO seu sexo e existem

enquanto mulheres pela sua função específica: a reprodução. [43] Mathieu explicita que: “ O

gênero, isto é, a imposição de um heteromorfismo dos comportamentos sociais não é

concebido […] como a marca simbólica de uma diferença natural, mas como o operador

do poder de um sexo sobre outro.”[44]

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De fato, vontade de verdade, vontade de poder, a ancoragem do gênero no sexo

biológico é fundamento dos mecanismos de divisão e controle de um sexo sobre outro.

Ainda seguindo Foucault, se a sexualidade constituiu-se como uma área do

conhecimento foi a partir de relações de poder que a instituíram como objeto possível [45] e

neste sentido indaga este autor: “Em que tipo de discurso sobre o sexo, em que forma de

extorsão de verdade, que aparece historicamente em locais determinados (em torno do

corpo da criança, quanto ao sexo da mulher, por ocasião das práticas de restrição dos

nascimentos, etc) que relações de poder, as mais imediatas, as mais locais, se estabelecem?”

Se o trabalho de Foucault não se detém demoradamente sobre as questões relativas

ao feminino, aponta, como vemos, para as táticas sociais que fazem do corpo da mulher

superfície para o exercício do poder; aponta para a histerização, para a saturação em

sexualidade de seu corpo como inserção e comunicação orgânica com o corpo social, nos

mecanismos de regulamentação da fecundidade, de normatização das condutas, de

restrição, reprodução e asseguramento do espaço familiar. Neste sentido, sublinha, a

imagem em negativo da “mãe” é a “mulher nervosa” [46], ou seja, descontrolada,

desregrada, perdida em sua função e seu funcionamento específico.

A desnaturalização das funções sociais promovida pelo feminismo no binômio

sexo/gênero trabalha a definição biológica do sexo enquanto construtora da hierarquia de

gênero, instituída em práticas sociais [47] O “biopoder” se instala na espessura das

instituições que investem os corpos socializados.

Mas se o controle e a disciplina se fazem sobre um corpo constituído, superfície

pré-discursiva sobre a qual, como aponta Foucault, se inscrevem os acontecimentos[48] e as

prescrições sociais, o que aqui nos interpela é a própria construção destes corpos sexuados,

sobre os quais se instalam as expressões de gênero.

Foucault investe esta perspectiva quando indica a constituição do corpo na história

que o mostra como “[…] lugar de dissociação do Eu (que supõe a quimera de uma

unidade substancial), volume em perpétua pulverização.” [49] Corpo biológico constituído,

portanto em história: neste sentido, o corpo sexuado feito mulher aparece como estratégia,

objeto e alvo de um sistema de saber/poder, pois, como observa Foucault “[…] trata-se da

produção mesmo da sexualidade. Não se deve considerá-la como um dado da natureza que

o poder tentaria domar ou como um lugar obscuro que o saber tentaria, aos poucos,

desvelar.”[50]

A prática sexual, a sexualidade é forjada como um ponto de inflexão discursivo

que dá ao corpo um sentido sexuado “natural”, cuja objetivação cria os campos

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assimétricos de normatização. A heterossexualidade compulsória aparece assim como um

mecanismo regulador de práticas e definidor de papéis restritos aos desenhos morfológicos

e genitais.

A divisão binária dos sexos ancora o dispositivo da sexualidade e cria os corpos

femininos e masculinos, mas engendra ao mesmo tempo sexualidades múltiplas anômalas

que a reforçam enquanto modelo. Os matizes do desejo sexual são codificados em corpos

definidos cuja biologia não é apenas classificatória, mas um operador simbólico/funcional

de inserção e identificação do humano. Para Foucault, as tecnologias políticas que

investem o corpo tratam, de fato, “[…] de distribuir o vivente num domínio de valor e de

utilidade”[51] e o “[…] poder de qualificar, medir, apreciar, hierarquizar - opera suas

distribuições em torno da norma. [52]

Esta questão ocupa particularmente as teorias feministas na atualidade e a categoria

“heterogênero”[53] aponta para esta construção do biológico como resultado da experiência

do gênero na naturalização do sexo binário. Foucault coloca esta questão claramente

quando afirma que:

“A noção de ‘sexo’ permitiu regrupar segundo uma unidade artificial elementos

anatômicos, funções biológicas, condutas, sensações, prazeres e permitiu fazer funcionar

esta unidade fictícia como princípio causal, sentido omnipresente, segredo a ser descoberto

em toda parte: o sexo assim pode funcionar como significante único e como significado

universal. […]”·

O sexo afinal, sentido, essência e identidade do humano em práticas normativas

de sexualidade heterossexual.

Em perspectiva similar, Judith Butler argumenta que se no binômio clássico sexo

biológico/gênero social, o sexo seria um dado anatômico e o gênero construído

culturalmente, este último não seguiria necessariamente o sexo em um mesmo

sentido. [54] Sugere assim uma distinção radical entre os corpos sexuados e os gêneros

construídos socialmente, pois não haveria razão alguma para supor que os gêneros sejam

instituídos de forma binária em todas as sociedades e em todos os tempos.[55]

Assim, indica que se a categoria gênero se define por oposição ao sexo em um

sistema binário, ela o desconstrói em sua explicitação. Sublinha que se a construção do

gênero é teorizada como radicalmente independente do sexo, o gênero enquanto tal torna-

se um operador flutuante: assim o masculino pode ser significado em um corpo feminino

bem como o feminino em um corpo masculino. [56]

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Este é o corpo performativo para Butler, que encena a ligação sexo

biológico/gênero social e desmascara assim seu aspecto ilusório.De fato, para esta autora “

a produção do sexo como pré-discursivo pode ser compreendida como o efeito do

apparatus da construção social designada gênero”[57]

Donna Haraway, por sua vez, indica os campos de disputas de caráter

epistemológico, cultural e político do saber biomédico na construção dos corpos que os

definem “objetivamente” em ocasiões históricas particulares.[58] ; nesta perspectiva, não

hesita em designar os corpos biológicos como “[…] nódulos geradores, materiais e

semióticos” cujos limites se materializam na interação social.[59]

Este é um caminho analítico apontado igualmente por Foucault, na medida em

que questiona esta preeminência do corpo sexuado sobre suas expressões concretas: “[…]

o ‘sexo’está sob a dependência histórica da sexualidade. Não colocar o sexo do lado do real

e a sexualidade do lado das idéias confusas e das ilusões; a sexualidade é uma figura

histórica muito real, e é ela que suscitou como elemento especulativo, necessário a seu

funcionamento, a noção de sexo.”·

Se a questão da multiplicidade das práticas sexuais é mais presente nos trabalhos de

Foucault que o “sex gender/system”, que a análise das relações de poder na

constituição social dos gêneros, fundados em feminino/masculino, imbrica-se, como

vimos, em inúmeros pontos de intersecção com as teorias feministas, seja em

desdobramentos metodológicos, seja em questionamentos mais radicais.

Inversão de evidência maior que o sexo biológico como demarcador de lugares

sociais? Foucault afirma que:

“Ë pelo sexo, com efeito, ponto imaginário fixado pelo dispositivo da sexualidade,

que cada um deve passar para ter acesso à sua própria inteligibilidade […] à totalidade de

seu corpo[…] à sua identidade”.[60]

Neste caso, portanto, como sublinha Butler, “não há identidade de gênero atrás da

expressão de gênero; esta identidade é performativamente constituída pela expressão que

deveria ser o seu resultado.”[61] O gênero, portanto, cria o sexo e não a evidência de seu

contrário.

A noção de “heterogênero” enquanto categoria analítica desvela a ilusória

evidência do sexo biológico como demarcador dos limites identitários e permite a

desconstrução, ao menos teórica, do sex/gender/system dentro do dispositivo da

sexualidade marcado pelo selo do patriarcado, princípio e sistema gerador da divisão

binária e hierarquizada do humano.

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Nesta perspectiva, o feminismo e as reflexões de Foucault sobre poder/saber na

modelagem do corpo, do sexo e da sexualidade se imbricam e se complementam para o

deciframento da agonística das relações humanas.

Foucault, enquanto teórico é um extraordinário e incansável desbravador de

caminhos, abrindo brechas lá onde a espessura do conhecimento estabelecido erigia

muralhas intransponíveis. Seu modelo teórico é a ausência de modelos, a busca infindável

na eterna “mise en abîme” da construção do pensamento nas práticas do ser social.

Talvez ele mesmo desconstrua sua proposta de um sistema saber/poder, pois em

sua vontade de verdade não consigo detectar a vontade de poder. Vejo Foucault em suas

próprias palavras: “[…] sonho com o intelectual destruidor das evidências e das

universalidades, que localiza e indica nas inércias e coações do presente os pontos fracos,

as brechas, as linhas de força ; que sem cessar se desloca, não sabe exatamente onde estará

ou o que pensará amanhã, por estar muito atento ao presente[…]”[62] O

“eccentric subject” enquanto sujeito do feminismo parece responder a este desejo na

medida em que procura a modificação de um regime de verdade cujos discursos criam

seres sexuados para melhor demarcá-los em estruturas de poder.

[1] Michel FOUCAULT. L’ordre du discours, Paris, Gallimard, 1971, pg 53 [2] IDEM. Résumé des cours 1970-1982, Paris, Julliard., 1989, pg. 10 [3] Ver a este respeito, Christine DELPHY. « Penser le genre, quels problèmes ? », in Hurtig, Maire- Claude et alli. Sexe et Genre. De la hiérarchie des sexes. Paris, Ed. du CNRS, 1991. [4] Michel FOUCAULT. Vigiar e punir, Petrópolis- Rio de Janeiro, Ed.Vozes, 1987, pg.125/126 [5] Ver esta análise em Monique DEVEAUX . « Feminism and Empowerment, A Critical Reading of Foucault », Feminist Studies, Maryland, 20, n.2,Summer 1994, 223-248 [6] para edição brasileira: Simone DE BEAUVOIR. O segundo sexo, 2 vol., São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1966. [7] Michel FOUCAULT. Vigiar e punir, op.cit. pg.29 [8] Michel.FOUCAULT. A arqueologia do saber, Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1987. pg.220 [9] Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, Rio de Janeiro, Ed.Graal, 1979. pg.183 [10] Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, Rio de Janeiro, Ed.Graal, 1979. pg.169 [11] Idem, ibid. pg 169 [12] Idem, ibid. pg. 182 [13] Michel FOUCAULT. Vigiar e punir, op.cit. pg.180 [14] Idem, ibidem, pg.110 [15] Michel FOUCAULT.. Histoire de la sexualité I, la volonté de savoir, Paris, Gallimard, 1976, pg.133 [16], Michel FOUCAULT. Résumé des cours 1970-1982, Paris, Julliard 1989, pg. 10 [17] Michel FOUCAULT. A arqueologia do saber, op. cit. pg.136

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[18] Teresa DE LAURETIS . Technologies of Gender, Eessays on Theory, Film and Fiction, Bloomington/Indiana, Indiana University Press. 1987, pg. 5 [19] Teresa De LAURETIS. 1990. « Eccentric subjects: feminist theory and historical consciousness”, Feminist Studies, Maryland, 16, n.1 (Spring) p. 115/150. pg 139 [20] iodem, ibid. pg.138 [21] idem, ibidem [22] Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, op.cit., pg.14 [23] idem, ibid. [24] Michel FOUCAULT.. Histoire de la sexualité I, op.cit, pg.91 [25] Teresa De LAURETIS. 1990. « Eccentric subjects, op.cit. pag.139 [26] Michel FOUCAULT. L’ordre du discours, op.cit., pg.11 [27] FLAX,Jane. 1991. Pós-modernismo e relações de gênero na teoria feminista. In Heloísa Buarque de Holanda (org.) Pós- modernismo e política, Rio de Janeiro, Rocco. Pg. 235 [28] Michel FOUCAULT. Résumé des cours 1970-1982, op. cit. pg. 10 [29] Michel FOUCAULT. L’ordre du discours, op.cit, pg. 28 [30]Monique DEVEAUX . « Feminism and Empowerment, op. cit. pg 231 [31] Michel FOUCAULT.. Histoire de la sexualité I op. cit., pg. 93 [32] Monique DEVEAUX . « Feminism and Empowerment, op. cit, pg.231/232 [33] Teresa DE LAURETIS . Technologies of Gender, op.cit. [34] Michel FOUCAULT. Vigiar e punir, op.cit. pg 28 [35] Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, op.cit., pg 246 [36] idem, ibid. [37] idem, ibid, pg 123 [38] idem, ibid. pg. 124 [39] Michel FOUCAULT. A arqueologia do saber, op. cit. pg [40] Ti Grace ATKINSON. . L’odysée d’une Amazone, Paris, Des Femmes. 1975 [41] Monique WITTIG, . The straight mind and other essays, Boston: Beacon Press 1992.e Adrienne RICH, .. La contrainte à l'hétérosexualité et l'existence lesbienne, Nouvelles Questions Féministes, Paris, mars, n01, 1981, p.15-43 [42] Nicole-Caude MATHIEU. L’anatomie politique, catégorisations et idéologies du sexe, Paris: Côté Femmes., 1991, pg.133 [43] Idem, ibid. pg 134 [44] Idem, ibid. pg.135 [45] Michel FOUCAULT.. Histoire de la sexualité I, op. cit. pg 130 [46] Idem, ibid, pg 137 [47] Nicole-Caude MATHIEU. L’anatomie politique…, op. cit. pg.133 [48]Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, op.cit., pg 22 [49] idem, ibid. [50] Idem, ibid. pg. 139 [51] Idem, ibid. pg.189 [52] Idem, ibid.pg 190 [53] Chrys INGRAHAM, . The Heterosexual Imaginary: Feminist Sociology and Theories of Gender in SEIDMAN Steven (dir), Queer Theory/Sociology, Cambridge/Mass.: Blackwell Publishers, 1996. p. 168-192. pg. 169 [54] Judith BUTLER. Gender Trouble. Feminism and the subversion of identity, New York: Routledge. 1990. pg.6 [55] idem, ibid. [56] idem, ibid. [57] Idem, ibid. pg. 7 [58] Donna J. HARAWAY.. Ciência, Cyborgs Y Mujeres. La reinvención de la naturaleza, Valencia, Ediciones Catedra,1991, pg. 358/359

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[59] Idem, ibid. Pg.358 [60]Michel FOUCAULT.. Histoire de la sexualité I, op. cit. pg 205 [61]Judith BUTLER. Gender Trouble, op. Cit. pg. 25

[62]Michel FOUCAULT. Microfísica do poder, op.cit., pg 242

BIBLIOGRAFIA: ATKINSON. Ti Grace. 1975 . L’odysée d’une Amazone, Paris, Des Femmes. BUTLER, Judith, 1990. Gender Trouble. Feminism and the subversion of identity, New York: Routledge. CARABINE, Jean. 1996. « A straight playing field or queering the pitch ? Centring sexuality in social policy », Feminist Review, n0 54 (Autumn) p.31-64 DAUMER, Elisabeth . 1992. « Queer Ethics; or the Challenge of Bisexuality to Lesbian Ethics », Hypatia, vol.7, n0 7, p.91-105. DE BEAUVOIR, Simone. 1966. Le Deuxième Sexe. L’expérience vécue, Paris: Gallimard. DE LAURETIS, Teresa . 1987. Technologies of Gender,Eessays onTtheory, Film and Fiction, Bloomington/Indiana: Indiana University Press. De LAURETIS, Teresa . 1990. « Eccentric subjects: feminist theory and historical consciousness”, Feminist Studies, Maryland, 16, n.1 (Spring) p. 115/150. DELPHY, Christine. 1991. « Penser le genre, quels problèmes ? », in Hurtig, Maire- Claude et alli. Sexe et Genre. De la hiérarchie des sexes. Paris: Ed. du CNRS. DEVEAUX, Monique.1:994 « Feminism and Empowerment, A Critical Reading of Foucault », Feminist Studies, Maryland, 20, n.2,Summer, p.223/248 FLAX,Jane. 1991. Pós-modernismo e relações de gênero na teoria feminista. In Heloísa Buarque de Holanda (org) Pós- modernismo e política, Rio de Janeiro, Rocco. FOUCAULT, Michel. 1987a. A arqueologia do saber, Rio de Janeiro, Ed. Forense. FOUCAULT, Michel, 1971. L’ordre du discours, Paris, Galimard. FOUCAULT, Michel. 1976. Histoire de la sexualité I, la volonté de savoir, Paris: Gallimard. FOUCAULT, Michel. 1989. Résumé des cours 1970-1982, Paris, Julliard. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder, Ed.Graal. Rio de Janeiro, 1979. FOUCAULT, Michel,1987. Vigiar e punir, Petrópolis- RJ, Ed.Vozes

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HARAWAY, Donna J. 1991. Ciencia, Cyborgs Y Mujeres. La reinvención de la naturaleza, Valencia, Ediciones Catedra. INGRAHAM, Chrys. 1996. The Heterosexual Imaginary: Feminist Sociology and Theories of Gender in SEIDMAN Steven (dir), Queer Theory/Sociology, Cambridge/Mass.: Blackwell Publishers, p. 168-192 MATHIEU, Nicole-Caude. 1991 L’anatomie politique, catégorisations et idéologies du sexe, Paris: Côté Femmes. RICH, Adrienne .1981. La contrainte à l'hétérosexualité et l'existence lesbienne, Nouvelles Questions Féministes, Paris, mars, n01, p.15-43 WITTIG, Monique . 1992. The straight mind and other essays, Boston: Beacon Press.

Pequena biografia:

Tânia Navarro Swain, professora da Universidade de Brasília, Doutora em História pela Université de Paris III, Sorbonne Nouvelle, fez recentemente seu Pós-Doutorado em Montréal, Québec-Canadá, onde foi professora convidada no Institut de Recherches et Études Féministes,-IREF- na Université de Québec à Montréal (UQAM) no período de 1997/98; lecionou Teoria da História, igualmente, na Université de Montréal. Atualmente está implantando uma Linha de Pesquisa na Pós-Graduação intitulada: “Estudos Feministas em Representações Sociais: gênero e sexualidade” tendo criado uma disciplina com a mesma denominação na graduação do Departamento de História. Suas mais recentes publicações são:

- LIVRO: . Tânia Navarro Swain (org), "Histórias no Plural”. Brasília, EDUnB, 1995,Coleção Tempos. Capítulos de livros: . UNESCO-História da América Latina, vol 2, cap. 8- "O imaginário do Descobrimento do Brasil".Paris, abril de 2000 . “Au delà du binaire: les Queers et l’éclatement du genre” in Lamoureux, Diane.(org) Les limites de l’identité, sexuelle, Montréal, Ed. Rémue Ménage, 1998. . “Por mares nunca dantes navegados…”: construção do gênero nos discursos do descobrimento do Novo Mundo”in Almeida, Jaime (org) Caminhos da História da América no Brasil, ANPHLAC, 1998 ARTIGOS: .Feminismo e lesbianismo: a identidade em questão, Cadernos Pagu, (12), Campinas,SP, 1999 .“Amazones brésiliennes?Le discours du possible et de l’impossible » Recherches Qualitatives, ARQ, Université de Québec à Trois Rivières, vol, 19, 1999 .“Imagens de Gênero em Quadrinhos” Revista Universa, Brasília vol 5, 3, Outubro 1997 ."De deusa a bruxa: uma história de silêncio". Revista Humanidades,UnB/EdunB, vol.9, n.1/.31 1993/94.