quem e quem no casamento segundo a bilbia

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Quem é quem no casamento segundo a Bíblia Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 1 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1: O homem e a mulher à Luz dos fatos da criação......................02 Capítulo 2: A submissão da mulher à luz dos fatos da redenção................08 Capítulo 3: O amor do marido e o amor de Cristo.......................................12 Capítulo 4: O amor do marido e a união com Cristo....................................17 Capítulo 5: Um novo relacionamento...........................................................22 Referências Bibliográficas........................................................................ 25

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Quem e Quem No Casamento Segundo a Bilbia

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Quem é quem no casamento segundo a Bíblia Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior

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SUMÁRIO

Apresentação

Capítulo 1: O homem e a mulher à Luz dos fatos da criação......................02

Capítulo 2: A submissão da mulher à luz dos fatos da redenção................08

Capítulo 3: O amor do marido e o amor de Cristo.......................................12

Capítulo 4: O amor do marido e a união com Cristo....................................17

Capítulo 5: Um novo relacionamento...........................................................22

Referências Bibliográficas........................................................................ 25

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Quem é quem no casamento segundo a Bíblia Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior

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APRESENTAÇÃO

O presente opúsculo é obra despretensiosa. Trata-se de mensagens pregadas originalmente na Primeira Igreja Evangélica Congregacional em Juazeiro do Norte, Ceará, que, após alguns anos e muitos apelos, decidi torná-las acessíveis a um público mais largo.

Para tanto, os esboços foram mantidos. Tão somente preocupei-me em registrar, na medida em que a memória colaborou, os créditos das idéias que permeiam suas páginas.

Acrescente-se que, semelhantemente, é resultado de inquietante preocupação pastoral com a realidade que circunda a família neste início de terceiro milênio jungida a uma firme confiança na suficiência das Escrituras.

O divórcio tem batido à porta de um sem número de casais cristãos, ou que pelo menos assim se dizem. E não é por falta de “palestras para casais”, “encontros de casais” e coisa que valha. A despeito dessas iniciativas, e sem negar-lhes o valor, pululam com freqüência novos casos de separação conjugal e “casos” extraconjugais no seio da igreja e da liderança.

Todavia, devemos seguir aquela confiança apostólica segundo a qual “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas” 1.

Urge, nestes dias maus, lançarmos mão do que está ao nosso alcance, da parte de Deus, se desejamos impor algum óbice à tsunami que pretende levar à ruína a divina instituição da família. E, segundo lição irretocável do puritano Cotton Mather2, “quando as famílias estão sob uma má disciplina, todas as outras sociedades [estarão] mal disciplinadas”.

Pois bem, o que o leitor tem em mãos é humilde labor empreendido nesta seara, com exclusivo propósito de perpetrar exposições bíblicas que lancem as bases de um “novo” modelo de família e vida conjugal. Com efeito, é um retorno às origens. É um debruçar-se sobre o que o evangelho tem a nos ensinar sobre tão crucial tema.

Antes, porém, gostaríamos de salientar resumidamente alguns princípios que nortearão nossa caminhada:

1. O fato de sermos cristãos bíblicos não nos isenta automaticamente de toda uma mentalidade mundana já adquirida. O que cristãos verdadeiros possuem é uma predisposição à obediência e à submissão ao senhorio de Cristo. Daí a necessidade de construirmos uma nova vida sobre um novo alicerce que Cristo nos deu - um novo coração.

2. A Bíblia tem algo a dizer acerca de todo e qualquer aspecto da nossa vida. Não há área de nossa existência para a qual a Palavra de Deus não tenha padrões muito definidos e que não devam ser de domínio cristão.

3. Por fim, ressalte-se que estamos sendo governados pela seguinte idéia: desejamos saber o que Deus pensa, o que Ele deseja, o que Ele tem a dizer sobre "Quem é quem no casamento segundo a Bíblia". Não nos interessa o pensamento da sociologia, da antropologia secular, do evolucionismo... Nós desejamos saber a doutrina bíblica! Ela norteará a nossa vida. Gostaria de colocar o princípio da seguinte forma: "O cristão nada sabe além da Revelação bíblica".

Boa leitura!

1 II Co 10:4 2 Citado por RYKEN, Leland. Santos no mundo. São José dos Campos: Editora Fiel, 1992. p. 88

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Capítulo 1: Gn 2:18-25

O homem e a mulher à Luz dos fatos da criação “Embora o homem seja como a cabeça, entretanto é a mulher como o

coração.” William Gouge

INTRODUÇÃO

Toda a questão acerca dos papéis do homem e da mulher, na família como na sociedade, tem sido objeto de profundas reflexões.

As últimas décadas viram transformações cruciais no modo como a sociedade ver a mulher. Ela invadiu o mercado de trabalho. Mostrou que possui tanto potencial quanto o homem para lidar em áreas até então inimagináveis ao universo feminino.

E tal ocorreu a ponto de tais mutações serem absorvidas pelas nossas leis.

Até 1972 a mulher casada era juridicamente “relativamente incapaz”. Foi com o advento da Lei no. 4.121, de 27.08.72, que a mulher passou a uma posição jurídica de independência, análoga à do marido.

Assim, ela não precisaria mais de autorização marital para estar em juízo, por exemplo, exceto nas ações que versassem sobre bens imóveis. O que não representaria nenhuma desvantagem, visto que o homem viria a possuir igual necessidade.

A vigente Constituição Federal (1988) traz dois dispositivos que consagram a mudança. Se não, vejamos: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos dessa Constituição” 3 e “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” 4.

Esta última citação é mais importante ainda à nossa meditação. Ela abole, terminantemente, a figura do pater famílias, estabelecendo rigorosa paridade de direitos. Coisa que o novo Código Civil, de 2002, também o fez.

Enfim, restaram revogadas todas as regras legais que colocavam a mulher numa posição de dependência em relação ao marido.

Veja! Estou citando a lei para pontuar uma bem recente e radical transformação da visão social no que toca à importante questão dos papeis do homem e da mulher na sociedade e na família.

3 Art. 5º., I 4 Art. 226, parágrafo 5º.

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Portanto, neste momento da história da sociedade brasileira, urge saber o que Deus tem a nos ensinar sobre o tema. Enfim, o que a Bíblia nos ensina sobre tão relevante questão.

Ponderaremos, neste passo, a partir dos fatos da criação, conforme delineados em Gênesis, capítulos um a três. Eles possuem as idéias fundamentais que nortearão nossa primeira reflexão.

Aprendamos, pois, com os fatos históricos da criação. OS FATOS DA CRIAÇÃO

Deus criou primeiro o homem. Mas a solidão do homem é "não bom” 5.

"O homem foi feito alma vivente" e colocado no jardim do Éden6. Éden significa "prazer", "deleite". Era um lugar de delícias. Lá havia toda sorte de suprimentos. Uma terra cercada de rios, cheia de ouro e outras pedras preciosas7. Tudo estava sob a administração do homem. Tudo lhe pertencia. Nada lhe faltava, exceto "uma auxiliadora que lhe seja idônea".

Ser humano, ser gente, é estar com alguém. O homem só se reconhece na relação "eu-tu". Por isso sua explosão poética em Gn 2:23 ("osso dos meus ossos, carne da minha carne"). Adão se reconheceu no encontro com a mulher. Ele tinha Alguém sobre ele – o Criador, e sob ele – toda a criação, mas não havia ninguém como ele, que partilhasse a existência a seu lado. Quando Deus lhe trouxe a mulher ele a percebeu como parte de si mesmo. “É fácil concluir que macho e fêmea formavam de início um só. Mas agora, separados os seres, não deixa de ser evidente uma íntima interdependência” 8.

“Ao ver Eva, Adão irrompe, muito apropriadamente, em um poema: ‘Esta é ela! Osso dos meus ossos, Carne da minha carne! Mulher será ela chamada, Porque do homem foi tomada. ’ Há treze palavras hebraicas neste pequeno poema. A primeira é ‘esta uma’, bem como a décima terceira e a sétima, que está exatamente no meio. Não há dúvida de que Adão está dizendo: ‘Esta mulher em primeiro lugar, em último e sempre!’ Não há dúvida quanto ao seu júbilo; ele quer que Deus não vá adiante na busca de uma companheira para ele.” 9

Em primeiro lugar, podemos aprender dos fatos da criação que há

uma semelhança fundamental entre o homem e a mulher que não se coaduna com a idéia de superioridade do homem. Disto inferimos dos seguintes fatos:

5 Gn 2:18 6 Gn 2:7, 8 7 Gn 2:9-14 8 DAVIDSON, F; colaboradores A. M. Stibbs, E. F. Kevan; editado em português por Dr. Russell P. Shedd. O Novo Comentário da Bíblia, 3ª. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 85 9 Editor Geral: ALLEN, Clifton. Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento. Tradução de Adiel

Almeida de Oliveira, 2ª. Ed. Rio de Janeiro, Vol 1. p. 181

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1- No fato de que ambos estão na imagem de Deus10. A imagem e a semelhança de Deus são respeitantes àqueles atributos divinos que Ele comunicou à espécie humana. São atributos morais (a santidade, por exemplo), emocionais (bondade, compaixão) intelectuais (conhecimento, sabedoria) e sociais (capacidade da comunicação, da sociabilidade) que o Criador comunicou ao homem e a mulher. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.

2- A semelhança dos nomes indica forte ligação (Ish e Ishshá). “Chamar-se-á varoa (ishshá), porquanto do varão (ish) foi tomada”.

3- A parte do homem que formou Eva indica igualdade. Nas palavras de um antigo puritano: "A mulher não foi feita da cabeça do homem para mandar nele, nem dos pés do homem para ser pisada por ele; mas de debaixo do braço para ser protegida e de perto do coração para ser amada".

4- O fato de Deus haver criado Eva sem a participação de Adão. “O SENHOR fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu (...)” 11. No que aduzimos deste fato que o homem não poderia jamais dizer à mulher: "você é a minha criação". Com efeito, quando Deus criou Eva Adão estava dormindo, o que certamente demonstra que nenhuma forma de participação lhe restou. Ao contrário, quando Adão viu a Eva, percebeu sua limitação materializada, e não sua superioridade. Viu sua incompletude em carne e osso, e não uma escrava que pudesse subjugar. "Meu amor, você é o que me faltava!". Agostinho diz que o homem deu "osso", força, proteção à mulher; e a mulher deu "carne", cobrindo com sensibilidade a dureza do homem.

O que elencamos dos fatos da criação demonstra que há uma semelhança essencial entre homem e mulher que não pode conviver com qualquer forma de escravidão desta.

Em segundo lugar, percebemos que não há uma igualdade absoluta. O fato líquido e certo é que homem é homem e mulher é mulher. Se não, vejamos:

1. Há uma diferença não apenas anatômica, mas fisiológica. Fisicamente, o homem foi criado para ser mais forte, e o é, mesmo no que diz respeito às emoções. Há, sim, uma diferença, ainda que relativa. E assim o é pela forma como Deus distribuiu as funções12.

10 Gn 1:27 11 Gn 2:21 12 “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil...” (I Pe 3:7).

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2. Há claramente um aspecto de liderança do homem. A questão não é de superioridade ou inferioridade, é de ordem! Em Gn 2:18 diz-se-nos: "far-lhe-ei uma auxiliadora idônea". Em outros termos, dar-lhe-ei um "auxílio", um "socorro".

Percebe-se, todavia, que a idéia do texto passa ao largo de qualquer hipótese de inferiorização da mulher. Esta palavra, que não é feminina, ocorre vinte e duas vezes no Antigo Testamento. Destas, quinzes vezes referem-se ao Senhor como nosso auxílio. Quão nobre é o papel da mulher, uma vez que a Bíblia a coloca ao lado de Deus na função de auxiliar o homem!

3. Vê-se ainda a liderança do homem no fato deste dar nome à sua

auxiliadora. Ele lhe diz que “chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” 13. O texto ainda nos informa que “deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos” 14. Um ato que demonstra função óbvia de liderança, conforme podemos deduzir de Gn 2:19 e 1:1015.

4. Acresça-se ainda que o modo como Deus trouxe Adão à prestação de contas, após a desobediência, nos ensina que havia dado a liderança a este. Quando a ordem foi desobedecida, tomando Eva as decisões, talvez sem consultar seu marido, ou mesmo tendo Adão se abstido de participar delas, ambos caíram, pecaram e, neles, toda a raça. Deus havia dado a Adão a ordem “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”. Ele come. E Deus o busca com as seguintes palavras: “Visto que atendeste à voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses...” 16 (grifei).

5. Por fim, observamos que a ordem para deixar pai e mãe é dirigida ao homem: “Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher (...)”. Afinal, por quê?

Significa que o homem não verá mais a si mesmo, prioritariamente, como filho dos seus pais. Até este momento ele esteve considerando a si mesmo, primordialmente, como filho. Agora há necessidade de um reajustamento mental, assevera Lloyd-Jones17. Diz o doutor que é o homem que, após o casamento, “não está mais numa condição de subserviência; agora é o chefe de uma nova família (...) Na realidade, deixar pai e mãe

13 Gn 2:23 14 Gn 3:20 15 “À porção seca chamou Deus terra e ao ajuntamento das águas, Mares” e “Deu nome o homem a todos os animais domésticos (...)”. 16 Gn 2:15-17; 3:17 17 LLOYD-JONES, D. M. Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas. p. 178

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significa que não deve permitir que seu pai e sua mãe mandem nele como sempre mandavam, até então”.

Destarte, podemos entender por que a ordem – deixar pai e mãe - não é dada à mulher, apesar desta também ter que cumpri-la. O homem está em posição de sujeição aos pais até o casamento, momento a partir do qual torna-se líder de sua própria família. A mulher não. “À mulher cabe ter deferência para com os seus pais; casada, passa a tê-la para com o seu marido. Ela está sempre na condição de mostrar deferência; nunca é a cabeça” 18.

Estamos vendo que há uma semelhança essencial, mas não uma igualdade absoluta. Repisemos mais uma vez: a questão é de ordem e não de inferioridade ou superioridade.

CONCLUSÃO

Devemos, pois, concluir tomando algumas decisões: Primeiro, esqueçamos de uma vez por todas as idéias da inferioridade,

de um lado, e da igualdade absolutas, de outro, da mulher em relação ao homem. Se a "inferioridade" ultraja e humilha, a igualdade absoluta cria rivalidades desnecessárias.

Devemos ainda abolir a idéia de que a superioridade relativa do homem pressupõe inferioridade da mulher. Paremos hoje de ver submissão voluntária como inferioridade inerente.

Segundo, decida hoje, mulher, colocar todos os seus talentos à disposição do seu marido. Deus não lhe deu talentos para que sejam motivos de competição e rivalidade, mas para "auxílio" e "socorro" do seu marido. Usar os talentos que possui para humilhar, inutilizar, suplantar o marido, é usurpar um lugar que não é seu, o que representa uma tremenda rebeldia ao plano de Deus. A mulher virtuosa põe seus talentos a serviço do seu marido, um honroso ministério!19. “O ensino bíblico é que Deus deu ao homem (e especialmente ao homem no relacionamento do casamento) uma certa liderança, e que sua esposa se achará a si mesma e a seu verdadeiro papel dado por Deus, não em rebelião ao seu marido, ou contra a liderança dele, mas sim, numa submissão voluntária e alegre” 20.

O Dr. Frederick K. C. Price21 tem uma valiosa advertência àquelas mulheres que lograram oportunidade de uma melhor formação intelectual, em relação ao marido. Ouçamo-lo:

18 Op. Cit. p. 182 19 Pv 31:10-23 20 STOTT, Jonh R. W.. A Mensagem de Efésios: A Nova Sociedade de Deus. São Paulo: ABU Editora. p.165 21 PRICE, Frederick K. C. Casamento e Família: Uma visão para o viver familiar. Rio de Janeiro: Graça Editora. p. 113, 114

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“Se você está nessa categoria, talvez não esteja querendo receber informações dele porque ele não é tão estudado quanto você. Ele não tem tantos conhecimentos teóricos quanto você. Mas ir à escola e conquistar um grau não a torna necessariamente ‘educada’. Você pode conhecer muitos fatos, mas pode não saber como lidar com as coisas da vida. Você pode ter conhecimento, mas ele pode ter sabedoria.

Portanto, esteja desejosa de ouvir e não pense que seu diploma signifique que você seja mais inteligente. O que é mais importante: sua educação ou seu casamento? Se ele é um bom sustentador, um bom marido, um bom pai para as crianças, então, o que importa a educação (...)

O que quero dizer é: tenha cuidado e use sabedoria para que não se deixe lesar e perder algo bom simplesmente porque seu marido não foi à faculdade. Se você o desprezar, não será possível honrá-lo ou respeitá-lo.”

O citado autor ainda assevera que “em harmonia com esse mesmo assunto, estão situações onde as esposas possuem as casas ou ganham mais dinheiro”, e conclui que “o marido continua sendo o cabeça da casa, não importa quem a possua ou de onde venha o dinheiro para mantê-la”.

Terceiro, decida hoje, homem, ser líder de seu lar, e líder segundo o coração de Deus. Costuma pairar na mente do homem a idéia que sua tarefa é trazer dinheiro para casa e nada mais. Esse egoísmo cômodo do marido tirou-lhe o poder de uma influência benéfica, ordenada por Deus. Lidere! Mas o faça para o benefício do seu lar.

Enfim, foi assim que fez o Criador: o homem lidera para o benefício da sua casa e a mulher auxilia esta liderança submetendo a ela seus dons, talentos e oportunidades.

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Capítulo 2: Ef 5:22-24

A submissão da mulher à luz dos fatos da redenção

“Quando dois tornam-se um pelo casamento, eles podem alegremente conceder a devida benevolência um ao outro; como dois instrumentos musicais corretamente ajustados fazem uma das mais agradáveis e

doces harmonias num bem afinado dueto.” Anônimo

INTRODUÇÃO

Até aqui estivemos observando o que o Antigo Testamento tem a nos ensinar sobre toda essa polêmica questão da posição do homem e da mulher. Estivemos, portanto, pondo os fundamentos.

Observamos como Deus estabeleceu as coisas e o modo como deveriam ter permanecido.

Tudo, porém, foi lesado pelo pecado. A harmonia cedeu lugar à acusação e à transferência de culpa. A complementaridade foi substituída pela rivalidade. “O teu desejo será para o teu marido e ele te governará (...)” 22. A despeito do dissídio entre os estudiosos23, acredito, pela similaridade com o texto hebraico de Gn 4:724, que “o teu desejo” seria o anseio da mulher em liderar o marido e, consequentemente, comandar a relação. Mas, seu marido não haveria de se conformar a isto, visto que se diz: “ele te governará”. A guerra entre os sexos começou aqui!

Em certo sentido, só precisamos travar toda essa discussão por causa da ocorrência do pecado.

A mensagem evangélica propugnará por um retorno às origens. “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher (...)” 25.

Mas, outrossim, vejamos agora que o cristianismo tem muito a somar a toda esta questão. A pregação apostólica arremata: "Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja (...)".

22 Gn 3:16. 23 Champlin informa-nos que, para Adam Clark, o termo “desejo” seria apetite sexual e, para Ellicot, seria “anseio natural pelo casamento”. Para ele, Champlin, o texto significa que “não somente o desejo sexual da mulher (...) mas toda a sua vontade, prazer e desejos, que ficariam sujeitos ao veto e aprovação do seu marido. A afirmação destaca a dependência da mulher ao marido”. CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números, Vol. 1, 2ª. Ed.. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 36 24 “(...) eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”. 25 Mt 19:4

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Somos levados a considerar a relação entre Cristo e Sua igreja, sendo Ele a cabeça do corpo, que é a igreja. OS FATOS DA REDENÇÃO

Já havíamos afirmado as inferências necessárias que aprendemos dos fatos da criação: o homem lidera e a mulher auxilia essa liderança.

Trataremos, neste passo de nosso estudo, do lado que auxilia, e o faremos abordando o grandioso e controvertido tema da submissão cristã.

Em nosso texto, o apóstolo vem lidando com um princípio: "Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” 26. A partir daqui ele vai aplicar este princípio a relacionamentos específicos. Por isso começa com o dever das mulheres: "Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos...".

E responder-nos-á perguntas vitais para nossos dias, quais sejam: o “Por quê?”, o “o que é?”, o “até aonde?” e o “como?” da submissão. Se não, vejamos:

1. Primeiro, asseveramos que a razão da submissão da mulher

cristã é o amor a Cristo. "Como ao Senhor". Mas o que significa isto? Estaria o apóstolo dizendo

que a submissão da mulher deve ser absoluta? A pergunta é pertinente porque a nossa submissão a Cristo é de caráter absoluto. Estaria o apóstolo dizendo que a mulher é escrava do marido? Nós somos "escravos" de Cristo. Seria o marido o senhor absoluto da mulher? Não, certamente que não! O que o apóstolo está nos dizendo é que um de seus deveres para com o Senhor é a submissão ao marido. Lloyd-Jones parafraseia a instrução do apóstolo assim: "Vocês, mulheres, sujeitem-se a seus maridos porque isto faz parte de seus deveres para com o Senhor, porque é uma expressão de sua sujeição ao Senhor” 27. Neste diapasão, se a mulher não se sujeita ao seu marido, quem acreditará na sua submissão a Cristo? Se você não é capaz de sujeitar-se relativamente ao seu marido, quem acreditará em sua sujeição absoluta a Cristo? Além disso, vale dizer que o Senhor Jesus é bem mais exigente - é verdade que bem mais compassivo também - que o seu marido. Aqui está toda a diferença: "Como ao Senhor". Mulheres podem submeter-se ao marido por diversas razões: medo, conveniência, dependência financeira, formação, etc. Mas somente a mulher cristã se submete pela razão certa: Amor a Cristo! Isto norteia sua vida.

2. Segundo, afirmamos que a essência da submissão da mulher cristã é saber deixar-se cuidar.

26Ef 5:21 27 Op. Cit. p. 79

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Notemos a expressão "sendo este mesmo o salvador do corpo". Ela não está aqui por acaso. Quando se diz que Cristo é o "salvador do corpo" não refere-se ao sentido de redenção espiritual e vida eterna. Se a menção aqui fosse esta, não poderia haver qualquer analogia, uma vez que o marido não é o "salvador" espiritual da sua esposa.

A palavra Salvador aqui é usada, como em outros lugares, em um sentido mais amplo28: Aqui se diz que Cristo é o "Preservador" da igreja. É Ele quem vela por ela, quem cuida, quem a alimenta, quem a sustém, quem a protege e o que prover para ela. O verbo "salvar" também é usado neste sentido mais amplo, às vezes significando cura29, outras vezes livramento30, tanto quanto o substantivo “salvação” 31.

De forma que a esposa deve compreender que esta é sua posição na relação: ser guardada, preservada, velada, defendida, sustentada, protegida pelo esposo. Aqui está, pois, o cerne da submissão. O marido é o preservador, o "salvador do corpo".

3. Terceiro, inferirmos que a extensão da submissão da mulher cristã é a sua consciência.

O que Paulo quis dizer com a frase: "As mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos"? Uma regra básica das Escrituras é que ninguém deve agir contra a sua consciência. Nas questões de opinião pessoal, eu a mulher aquiesça, mas não permita que seu marido lhe conduza ao pecado e interfira em sua relação com Deus e com o Senhor Jesus.

A regra aqui aventada pertine a toda e qualquer forma de submissão. O homem deve sujeitar-se às autoridades constituídas, mas é óbvio que há limites. Submissão ilimitada somente a Deus! Os filhos devem sujeitar-se a seus pais, mas há limites a isto. Igualmente, os servos, a seus senhores.

Naquilo que a consciência cristã estiver ferida a sujeição restará maculada e será imprópria. Afinal, ninguém poderá tomar o lugar de Deus na vida de outrem.

Por outro lado, naquilo que é possível transigir, a mulher deve aconselhar, ser ouvida, ouvir, argumentar, agir sabiamente nos bastidores, mas nunca decidir tomar outra direção por conta e risco.

4. Por fim, aduzimos que a prática da submissão dá-se na ação

sincronizada entre a mulher e seu marido. Aprendamos que a esposa é para o esposo o que o corpo é para a

cabeça, ou o que a Igreja é para Cristo. O que nos conduz mais uma vez à idéia de "complementaridade", de "inteireza", de "integralidade". Assim como

28 “...porquanto temos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (I Tm 4:10) 29 Mt 9:21: At 4:9 30 Mt 14:30; Jo 12:27; At 27:20,31 31 Lc 1:71

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o corpo forma uma unidade orgânica com a cabeça, marido e mulher são "uma só carne". Cristo e Sua Igreja são um. A cabeça e o corpo são um. Marido e mulher são um!

A analogia do corpo não ensina completa passividade da esposa - isto é levar a analogia para além do que pretende o apóstolo. A analogia do corpo ensina que: A esposa jamais deve tornar-se culpada de ação independente. Como um corpo em plena sintonia com a cabeça, assim deve a mulher agir em relação a seu esposo. É cômico imaginar os membros de nosso corpo agindo inteiramente livres do controle da mente. Mas quando aplicarmos isto à família é trágico e feio. Chamamos de "convulsão" a atitude desgovernada do corpo.

Damos um passo à frente e aprendemos que marido e mulher agem de forma coordenada, como fazem a cabeça e o corpo, mas a liderança é do marido, como é da cabeça. A esposa não deve agir antes do marido, nem deve retardar a ação. Deve agir em conjunto e sob a sua liderança.

CONCLUSÃO

Volto a afirmar que isto não sugere qualquer tipo de inferioridade. “No

Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” 32. É uma questão de ordem. Assim como Deus o Pai é a cabeça de Cristo (o que não implica em inferioridade, mas em submissão voluntária - Fp 2:5-8), o homem é a cabeça da mulher (I Co 11:3).

Numa palavra sucinta, Stott33 esclarece que “a submissão é o reconhecimento humilde da ordem divina da sociedade” 34.

32 I Co 11:11,12 33 Op. Cit. p. 162 34 “Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva” (I Tm 2:13).

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Capítulo 3: Ef 5:25-27

O amor do marido e o amor de Cristo

“É uma misericórdia ter um amigo fiel que lhe ama inteiramente, ... a quem você pode abrir sua mente e comunicar seus afazeres... E é uma misericórdia ter tão perto um amigo para ser um ajudador à sua alma e

... suscitar em você a graça de Deus” Richard Baxter

INTRODUÇÃO

Lembremo-nos que iniciamos nossas reflexões lançando os alicerces como estabelecidos nos fatos da criação. Deixamos ali fincados os princípios da semelhança essencial entre o homem e a mulher e da não igualdade absoluta. Inferimos que a liderança foi dada ao homem, que deve exercê-la para a felicidade de seu lar e que a mulher auxilia essa liderança, submetendo a ela seus dons, talentos e oportunidades. Assim, não deve a mulher jamais usar vantagens ocasionais para humilhar, de algum modo, seu marido, nem, através delas, arvorar-se a uma vida independente. Outrossim, o marido exercerá a liderança motivado e limitado pelo amor, como veremos a seguir.

Tudo nas Escrituras é tremendamente equilibrado. É possível que quem leia até Efésios 5:24 veja algum desequilíbrio. Pura precipitação. Até aqui a apóstolo esteve dizendo (indiretamente) ao marido: "Você é a cabeça, é o líder no relacionamento". Mas aqui ele vai equilibrar isto: "Marido, ame a sua esposa e sua liderança jamais será tirânica". O poder é sempre moderado pelo amor. Esse poder é o poder do amor. É uma liderança, sim, mas sempre governada pelo amor e pelo autocontrole. “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”35. Notemos que Deus nos dá moderação para ponderarmos entre o poder e o amor.

Precisamos, todavia, considerar "que amor é este". Há, ao menos, quatro vocábulos do idioma grego que costumam ser

aceitos como amor. Um deles é o amor "eros" que descreve a atração física e o desejo sexual. Palavra que não encontramos no Novo Testamento.

Um Outro é o étimo “storge”, que denota afeição de família, ou afeição natural. No Novo Testamento só ocorre a forma negativa de um substantivo

35 II Tm 1:7

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correlato – “astorgos”- em Rm 1:31, traduzido por “sem afeição natural” e em II Tm 3:3, por “desafeiçoados”.

No Novo Testamento dois verbos costumam ser traduzidos como amar. Um deles, “phileo”, com efeito, significa "gostar de". É esta palavra que expressa o que Pedro descobriu que sentia pelo Senhor após a traição, agora avaliando a si mesmo de forma mais modesta e acreditando que o Senhor realmente lhe conhecia36. Esse amor às vezes acontece com significado de "beijar” 37 e tem raiz comum com "amizade" (filia), com "beijo" (filema), "amigo" (filos). Enfim, esse é o amor que exige afinidades para acontecer.

Mas a palavra que Paulo usa para exortar os maridos a que ame sua esposa é "agapao". A palavra sempre é usada para expressar o amor de Deus. É o amor que é fruto do Espírito 38.

Acerca destes vocábulos, Mauro Clark39 anota que “phileo significa basicamente ter amizade, simpatia. Um sentimento baseado nos sentidos e na emoção”. Enquanto que “agapao, apesar de raro na literatura grega antiga, tornou-se o verbo escolhido pelo Espírito Santo para designar e caracterizar a prática do genuíno amor cristão (ágape)”.

Mas o apóstolo não está vendo qualquer contradição entre "eros", “storge”, "phileo" e "agapao". Não! Ele já pressupõe que há atração sexual. E tem que haver! Ou, pelo menos, é bom que haja. Ele também pressupõe que há afinidades, há gostos comuns, há paixão, há afeição familiar. Tudo isso pode e deve compor o repertório da relação conjugal. Mas até aqui não há nada de exclusivamente cristão.

É possível haver bons casamentos nessa base, simplesmente natural. E o cristianismo não vai desfazer isto. Ao contrário, vai completar, vai santificar, vai aperfeiçoar. Podemos dizer que um não cristão está impossibilitado de viver este amor. Ele só está acessível a cristãos: "Vós, maridos, amai (agapa) vossas mulheres...".

Assim como aquela submissão cristã, que tem como razão basilar devoção pessoal a Cristo, só está acessível a mulheres cristãs, semelhantemente, somente maridos cristãos podem dar esse passo adiante, e amar sua esposa deste modo.

E é debruçado sobre o tema do amor que abordaremos, neste ponto, o lado que lidera, que é cabeça na relação.

36 Jo 21:15-17; Mc 14:27-31 37 Mc 14:44 38 Gl 5:22 39 CLARK, Mauro. Você Ama de Verdade? São Paulo: Candeia, 1999. p. 15, 16

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O AMOR DE CRISTO PELA IGREJA Paulo nos ajuda. Ele quer que entendamos mais a respeito deste amor.

E para facilitar nossa compreensão ele nos leva a relação aonde este amor é perfeitamente demonstrado: "Como também Cristo amou a sua igreja".

Vejamos as características deste amor:

1. É um amor prático, ativo, dinâmico. Não é um amor apenas de "intenções", de "ameaças" e de promessas vazias. "Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela". Não é que Ele desejou fazer. Ele fez! A Bíblia, quando refere-se a este amor o desconhece se não houver seu caráter essencialmente prático40. Este amor não é algo simplesmente sentimental, carnal. Não é o amor cantado pelos poetas. É amor que exige prática, que é visível e palpável, que há como aferir-lhe a autenticidade41.

A questão é, marido, o que você faz. Não é exatamente o que você diz, muito embora dizer o que sentimos e expressar nossa estima pela esposa seja de valor inestimável! Todavia, posso garantir-lhe que não é a paixão adolescente que sustenta um casamento. Não é o amor que tão somente manda flores, mas o que não abandona na enfermidade e na velhice, e o que mantém o compromisso marital e a fidelidade nas vicissitudes e tentações.

Por que, não raro, quem diz que ama trai, abandona, calunia e engana? Só uma explicação razoável: não ama de verdade!

2. É um amor incondicional. O Senhor ama a igreja apesar dela.

Quando a encontrou era indigna, Ele precisou purificá-la "com a lavagem da água, pela palavra". Não foram seus dotes que o atraíram. Ela não tinha qualquer atrativo e nenhuma vantagem sobre os outros povos42. Ele simplesmente a amou, incondicionalmente43.

Arrependa-se, marido, das tantas vezes que você impôs condições para não destruir seu lar. E faça isto lembrando-se da maneira como você foi salvo. Gratuitamente. O Senhor nada viu de bom em você. Ele simplesmente te amou.

3. É um amor obstinado. "... Como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” 44. O Senhor sabe que é um processo.

40 “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (I Jo 3:16-18). 41 “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama... Se alguém me ama, guardará a minha palavra...” (Jô 14:21, 23). 42 Dt 9:4-6 43 Rm 5:6,8,10 44 Jo 13:1b

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Primeiro purificou-a (regeneração, perdão de pecados, justificação). Mas isto é só o começo. A partir daí apenas iniciou Seu labor que Ele está comprometido em empreender e levar a bom termo, a santificação. E porque é Cristo quem faz, esse processo é sempre bem sucedido. Ele sempre alcança o fim desejado: “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”. Cristo nada deixou de fazer, a partir da doação de si mesmo, até vê-la perfeita.

E você, marido, quantas vezes ameaçou deixar sua esposa por achar nela defeitos! O amor de Cristo pela Sua igreja é algo que tem continuidade. Assim deverá ser o seu. Se você resolve deixá-la pelos problemas que ver nela você está assinando um atestado de incompetência, você está dizendo: "Eu não sou capaz de contribuir para o aperfeiçoamento da minha esposa".

É frustrante estar com alguém que continuamente lhe impõe exigências sob pena de abandonar a relação. Isto apenas prova à esposa que o casamento nada vale a seu marido. Ela ressentir-se-á por saber que para ele é tão simples deixá-la. E concluirá que a convivência com ela é coisa absolutamente indiferente, que ele poderá descartar sem dores.

Veja Cristo, em quem você acha que Ele confia? Na igreja? De forma nenhuma. Ele confia em Seu próprio trabalho, por isso jamais a abandona.

4. É um amor exclusivo. Em nenhum lugar das Escrituras encontramos que Cristo morreu por todos, sem exceção. O apóstolo está a nos afirmar que "Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (grifei).

Na oração sacerdotal, em consonância com seu sacrifício, o Senhor disse: "Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste... Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste e guardaram a Tua palavra... Eu rogo por eles, não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste porque são teus... É por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” 45.

Ó, marido, pense na exclusividade do amor de Deus por você! Pense em quão fiel é o marido da igreja, que a escolheu dentre todos e a separou para si, para dar-lhe de forma exclusiva o Seu amor46. Assim haja você. Dedique todo o seu amor a sua esposa. Seja fiel a ela. Só tenha olhos para ela.

5. É um amor outro-centralizado. Aqui talvez resida o maior fator distintivo do amor que ora consideramos: sua capacidade sacrificial. Cristo não pensou em si. Não considerou sua igualdade com Deus um empecilho à

45 Jô 17:2, 6, 9, 19; ver At 20:28 46 I Pe 2:9

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obra redentora47. Ele não pensou: "Ah, não posso nascer homem, tenho que manter minha posição e meus privilégios. Por que, sendo Deus, me rebaixaria à condição humana?" Não, não. Se eu e você estamos aqui, se somos novas criaturas, se há igreja, isto é o resultado deste amor que é capaz de pensar mais no outro do que em si.

Marido, considere seu egoísmo. Veja como você não é capaz de renunciar. Se for este seu caso, arrependa-se agora! O que seria de você se Cristo assim agisse. Tenha você o mesmo sentimento que houve em Cristo! Aprenda a renunciar seus prazeres, gostos e projetos pessoais pela sua esposa. CONCLUSÃO

Arthur G. Patzia48 consigna que “desses princípios torna-se óbvio que a autoridade do marido é regulada pelo exemplo de Cristo e o princípio do amor. O autoritarismo, a auto-afirmação e o egoísmo não têm lugar num casamento baseados nos princípios cristãos”.

Adverte o autor ainda que o texto que ora analisamos não pode ser considerado um documento que legaliza a autoridade. E tanto é assim que Paulo atribui maior responsabilidade ao marido, visto que o amor (ágape) com o qual é exortado a amar a esposa exige a subordinação dos próprios interesses em benefício dela.

Frederick Price49 lamenta com as seguintes palavras: “Estou bastante certo de que há muitos homens cristãos que não amam suas esposas, pois, se as amassem, não as tratariam da maneira que tratam”.

47 Fp 2:5-8; Jo 17:5 48 PATZIA, Arthur G. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Efésios, Colossenses, Filemon. São Paulo: Editora Vida, 1995. p. 259 49 Op. Cit. p. 84

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Capítulo 4: Ef 5:28-30

O amor do marido e a união com Cristo “O homem cujo coração foi cativado pela mulher que ele ama... sonha com ela à noite, tem-na sob sua mira e apreensão quando se levanta, distrai-se com ela ao sentar-se à mesa, anda com ela quando viaja...

Ela repousa em seu peito e seu coração confia nela...” Thomas Hooker

INTRODUÇÃO Paulo está tentando, inspirado pelo Espírito Santo, nos ajudar a compreender a maneira como os maridos devem amar sua esposa. E ele tem feito isso, e continuará a fazer nestes próximos versículos, traçando uma analogia da relação conjugal com a doutrina da união espiritual entre Cristo e a igreja. A idéia é que ambos os relacionamentos se iluminam um ao outro. A relação conjugal nos dá um vislumbre da nossa união com Cristo, o que é um grande mistério (v. 32). E a nossa união com Cristo inspira e demonstra a maneira como o marido deve amar a esposa. “Grande é este mistério”. A UNIÃO DE CRISTO COM A IGREJA A Palavra "mistério" não têm em si a idéia de enigma indecifrável, ela possui as seguintes características: 1. Um mistério não está acessível à mente não-regenerada e não-iluminada

pelo Espírito de Deus; 2. Um mistério é uma verdade que estava escondida, mas foi revelada; 3. Um mistério é uma verdade postulada que precisa ser crida, mas que não

pode ser compreendida em sua plenitude. Um comentário disto se encontra em I Co 2:6-16.

Patzia50 observa argutamente que “as referências a mistério em

Efésios têm como tema a unidade” (grifo do autor). Com efeito, a primeira menção, em 3:3-6, a mistério, pertine à união entre judeus e gentios no corpo de Cristo. Aqui, trata-se da união entre Cristo e a Igreja.

50 Op. Cit. p.264

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Assim, desejamos atentar, com o máximo de clareza, à verdade que nos é dada à compreensão sobre a relação entre Cristo e Sua Igreja. Enquanto olhamos boquiabertos para esta maravilha, o Senhor nos ajudará a entender nosso dever de marido, mesmo antes das questões mais práticas a serem analisadas.

O versículo 30 nos diz: "Por que somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos” 51. O apóstolo quer nos conduzir novamente a Gn 2:22, 23. Aqui, como já notamos, enquanto Adão dormia Deus tirava de dentro dele uma mulher para dar-lhe.

Já referimo-nos a isso. Adão tinha tudo, mas sentia-se incompleto. Faltava-lhe um auxílio que lhe completasse. Foi isto que Adão reconheceu ao encontrar Eva: "Você é parte de mim. Você me completa. Você é a minha plenitude".

Adão viu a Eva como tirada dele, de dentro dele. O nome mulher (Ishshá) indica isto, porquanto do homem (Ish) foi tomada.

O Novo Testamento, por sua vez, nos ensina que Adão era "a figura daquele que havia de vir” 52. E Cristo é chamado de "o último Adão" e "o segundo homem” 53.

Vejamos o que aconteceu. Ao contrário de Adão, Cristo não tinha necessidade alguma. Ele é Deus

completamente desde toda a eternidade. Não obstante, resolveu impor a Si mesmo certa limitação.

Podemos dizer que na cruz Deus estava formando, de dentro de Cristo, de seu sangue, de Sua vida derramada, uma esposa para dar-Lhe. A partir do momento em que Cristo resolveu limitar a Si mesmo, ser cabeça de um corpo, ser o esposo de uma esposa, Ele já não seria completo sem ela. Daí dizer-se que a Igreja é o corpo de Cristo e a Sua plenitude54.

Podemos inferir que jamais compreenderemos profundamente o nosso próprio casamento sem adentrarmos nestas coisas, neste grande mistério!

Vamos aprender as verdades que saltam do que dissemos até aqui: 1. O apóstolo está a nos dizer que somos parte da própria natureza

de Cristo: "Somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos". Por isso, quando Cristo diz que nos ama, simultaneamente diz que ama a Si mesmo.

Outrossim, os maridos são levados a ver sua esposa como parte de si mesmos: Amá-la é amor próprio. Maltratá-la é auto-flagelo.

51 O Texto Recebido e o Texto Majoritário trazem a versão mais longa. As versões de Almeida “Corrigida” contemplam a expressão “da sua carne e dos seus ossos”. No que bem fizeram, segundo concebo. 52 Rm 5:14 53 I Co 15:45, 47 54 Ef 1:22, 23

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Por isso é estranha a idéia de ódio pela esposa. Odiá-la é odiar-se. Ela é parte de você, homem! É masoquismo puro! Numa proposição: quem não ama a sua esposa não se ama.

Antes, o que um homem faz pela sua própria carne? Paulo usa duas palavras para expressar o que um homem faz pelo seu

próprio corpo. Primeiro, ele o alimenta. Ele lhe prover alimento, comida, nutrição. Paulo já vem falando sobre a provisão de Cristo em Ef 4.11-12. Cristo alimenta a Sua Igreja. Ele próprio é seu alimento55. Ele deu-lhe a palavra como alimento e tudo quanto lhe conduz à vida e à piedade56. Esta palavra – “alimenta” - é usada aqui e em Ef 6.4, quando se diz aos pais em relação aos filhos: “criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”.

Segundo, ele cuida. O termo transmite a idéia de cuidado especial, de proteção, de provisão plena, de vigilância constante. Só ocorre aqui e em I Ts 2.7, quando Paulo diz aos tessalonicenses que ele e os missionários que o acompanhavam se portaram carinhosamente para com eles, “qual ama que acaricia seus filhos”.

Estas palavras resumem o cuidado de Cristo pelo Seu povo, o cuidado de um homem pelo seu corpo e o modo como os maridos cristãos devem tratar a sua esposa.

2. O apóstolo salienta igualmente o fato de que casamento não é mera relação externa. O casamento não é um contrato, uma sociedade, não é apenas o fato de duas pessoas resolverem dividir as contas e o teto 57. Casamento não é uma sociedade.

Harriet e Gerard Von Groningen58 bem sublinham que não podemos falar em casamento em termos de contrato. Com efeito, eles afirmam: “em negócios, podemos falar de aliança no sentido de contrato quando as duas partes concordam em cumprir seu lado no arranjo e quando o tempo do arranjo se esgota, o contrato já não vale mais. O casamento como um contrato dá a opção de existir por um tempo, até que os resultados sejam alcançados, dependendo do que é negociado entre um homem e uma mulher”.

Há algo muito mais profundo, além disto!

55 Jo 6.31-32, 49-51 56 I Pe 2:2; II Pe 1:3 57 A propósito do tema, são três as teorias jurídicas acerca do casamento. Alguns o vêem como um mero contrato. Outros, como uma instituição estatal. E ainda há aqueles que concebem a teoria mista, segundo a qual o casamento é uma instituição com elementos contratuais. Para nós, no entanto, “o matrimônio é uma alta, santa e abençoada ordem de vida, ordenada não pelo homem, mas por Deus, (...) no que um homem e uma mulher são acoplados e entretecidos numa carne e corpo no temor e amor de Deus, pelo livre, amável, entusiástico e bom consentimento de ambos, com a intenção de que os dois habitem juntos como uma carne e um corpo, e uma mente e vontade, em toda honestidade, virtude e santidade, e passem suas vidas a compartilhar igualmente de todas as coisas quanto Deus lhe enviará, com ação de graças”. Thomas Becon, citado por RYKEN, Leland. Op. Cit. p. 64 58 GRONINGEN, Harriet e Gerard Von. A Família da Aliança. São Paulo: Editora Cultura Cristã. p. 45

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Doutrinam esses citados autores que “casamento é uma relação de ligação entre um homem e uma mulher. Casamento é um vínculo de amor e de vida que une um homem e uma mulher que então estão unidos para o resto de suas vidas até que a morte os separe” 59.

Há uma ligação muito mais íntima do que aquela que percebemos, ou mesmo que concebemos60. "Porque somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão os dois uma só carne". E este fato só poderá ser percebido com razoável entendimento a partir da compreensão da união entre Cristo e Sua Igreja.

E isso faz do casamento uma instituição ímpar. É um relacionamento com precedência sobre todos os outros relacionamentos humanos. Enquanto que o filho “deixa pai e mãe”, “o que Deus ajuntou não separe o homem” 61. O casamento não foi feito para terminar, senão com a morte. De nenhum relacionamento se diz: “serão dois numa carne”.

Portanto, divorcio não pode ser visto como a rescisão de um contrato, ou o desfazimento de uma sociedade. O divórcio assemelha-se à violência de uma amputação!

Não, marido, a sua esposa não é apenas sua companheira, ou sua sócia. Ela é parte de você! Ela é a sua melhor metade.

3. A doutrina da União entre Cristo e a Igreja tem algo tremendo ainda a nos ensinar, a saber, que tudo o que Cristo é e possui compartilha com Sua Igreja.

Cristo deu-lhe Sua vida62. Com o que podemos aprender que o homem não tem o direito de pensar em si, isoladamente. Ele não é mais um ser livre. Ele empenhou sua vida. Uma vez que resolveu casar-se não deverá mais viver como se solteiro fosse. O homem que age e decide isoladamente não sabe o que é casamento! Cristo deu-lhe o Seu nome (à Igreja). Agora somos chamados de cristãos como prova do empenho de Sua vida.

Cristo deu à Igreja Sua posição63. Aquele que disse "Eu sou a luz do mundo", também disse "vós sois a luz do mundo” 64. Cristo levou uma plebéia ao trono, uma ré à posição de juíza65. Cristo deu-lhe toda a Sua dignidade!

59 Op. Cit. p. 46 60 “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4:15, 16). 61 Mt 19:6 62 "Cristo, que é a nossa vida" (Cl 3.4). “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). 63 Ef 2.5-6; Jo 17.22 64 Jô 8:12; Mt 5:14 65 Ap 3:21; I Co 6:2

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Cristo deu-lhe Seus privilégios: O amor do Pai, o acesso ao Pai e a herança do Pai66. Há maridos egoístas. Que não sabem fazer com que sua esposa participe de seus bens. Aprendamos, pois, com Cristo!

Cristo fez-lhe participante de Seus planos e propósitos67, a ponto de sermos chamados "cooperadores de Deus", tanto quanto de Seus sofrimentos e perseguições68. Aprendamos com Cristo a compartilhar a inteireza de nossa vida com a esposa que o Senhor nos deu. A esposa deverá ser parte integrante da caminhada do marido cristão!

Lamentavelmente, Price69 anota que “alguns homens gastam mais dinheiro com seus carros do que com suas esposas (...) Conheço algumas esposas quem nem ao menos sabem onde seus maridos trabalham. Não sabem quanto dinheiro eles ganham. O marido simplesmente chega e lhes entrega algum dinheiro, talvez o bastante para o supermercado e algumas dívidas. Imagine você se isso realmente dá a essas esposas um sentimento de segurança!” CONCLUSÃO

Amar como Cristo amou e amar como a uma parte de si. É assim, com essa dimensão, que os maridos são desafiados a amar.

Amar com aquele amor ágape. É contido na moldura desse amor que a liderança bíblica do homem sobreleva-se àquela altitude delineada pelo Criador.

66 Jo 17:23; Ef 3:11-12,14; 2:18; I Co 3:21-23; Rm 8:17 67 I Co 3:9 68 Jo 15:20; Cl 1:24 69 Op. Cit. p. 89

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Capítulo 5: 31-33

Um novo relacionamento

“Maridos e mulheres deveriam ser como dois doces amigos gerados sob uma constelação, sazonados por uma influência do céu da qual

nenhum dos dois pudesse dar alguma razão, salvo que a misericórdia e a providência primeiro os fizesse assim, e depois os unisse, dizendo,

vê, Deus nos determinou a partir deste vasto mundo um para o outro.”

Daniel Rogers O Apóstolo arremata seu ensino com duas proposições finais e, à guisa de conclusão, relembra tudo o que disse em termos céleres. Se não, vejamos:

1. Cada um ame a sua própria mulher como a si mesmo; 2. A mulher reverencie, respeite, seu marido. Espero ter sido eloqüente o suficiente para mostrar o equilíbrio das

Escrituras. Paulo não ficou devendo. O seu ensino, ou o de qualquer parte da Bíblia, não haverá jamais de fomentar relacionamentos eivados de opressões injustas e desequilíbrios entre as partes.

O homem ame sua mulher como a seu próprio corpo, como a si mesmo, cuidando e sustentando. E a mulher respeite o seu marido. Quanto à primeira injunção já acenamos a ela.

No respeitante ao temor da mulher pelo marido70, não se trata de nenhuma fobia desequilibrada, mas de tratamento com “deferência”, “respeito”. Refere-se àquela anuência, ou condescendência, voluntária e respeitosa. A mulher agora percebe que o esposo é a cabeça nesta relação e, em certo sentido, transfere o respeito que tinha pelos seus pais para o seu

70 “A mulher reverencie o marido”. A mulher “tema” ao marido. “Fobos” (substantivo) ou “fobeo” (verbo) são termos polissêmicos. Podem significar “terror”, “medo”, “alarme”, “susto”, “reverência”, “respeito”, “ansiedade”, “timidez”. De modo que há uma conotação claramente negativa em torno dessa palavra. “Por que Deus não nos deu espírito de temor” (II Tm 1:7). O temor é mal quando nos desanima, quando tolhe nosso potencial e nos leva à negligência (Mt 25:24-26), quando nos leva à ansiedade e expressa a nossa falta de fé (Mt 10:26-31). Por outro lado, há um temor que nos leva a dar às pessoas a dignidade que lhes é devida. Nesse sentido, precisamos temer as autoridades (Rm 13:3), aos senhores (Ef 6:5). Esse “medo bom” expressa a nossa reverência diante de Deus (Ef 5:21; Cl 3:22).

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novo líder: o esposo – como mencionado alhures. Também não significa a tirania do marido, nem a escravidão da mulher, como já argumentado.

Por outro lado, a grande e irretocável idéia que perpassa toda a palavra de Deus, ostensivamente observada nos fatos da criação e da redenção, é a ordem pela qual o Criador Soberano estabeleceu o matrimônio: “Não é bom que o homem esteja só. Dar-lhe-ei auxílio”. O homem lidera e a mulher o auxilia.

Que se conclui? Que estivemos a preconizar nada menos que um novo relacionamento

- ou melhor, um retorno ao antigo – permeado pelas seguintes características:

1. Unidade. Estou falando sobre a forte relação de complementaridade

da relação conjugal, onde a diversidade produz a unidade. E serão dois numa só carne. A unidade jamais será fruto da uniformidade. Ela brota exatamente daquela relativa distinção já referida. Por que homem e mulher não são absolutamente iguais, é que podem ser uma só carne.

“Embora igual ao homem em muitos aspectos, em outros a mulher é também diferente, especialmente em sua estrutura física e psíquico-emocional. Estas diferenças fazem parte do plano divino no sentido de homem e mulher complementarem-se. As diferenças e igualdades é que tornam possível a unidade completa entre eles, fazendo-os uma só carne” 71.

2. Harmonia. Neste “novo” relacionamento não há guerra entre os

sexos. A mulher não deseja ser líder. O homem não deseja estar subordinado. Cada um assume a sua posição segundo o plano do Criador. Por outro lado não há abusos. O líder não é um carrasco. A mulher não é uma escrava. A diversidade também produz harmonia.

Por outro lado, a harmonia será o ambiente adequado a que seja provido um dos propósitos do casamento, a saber, o companheirismo. Ele supre o dilema da solidão, se harmônico. Se não, propiciará uma solidão mais terrível ainda, a solidão acompanhada, mãe cruel dos horrendos sentimentos de rejeição.

3. Crescimento. Você já deve ter percebido que o cristão tem uma

visão única sobre o casamento. Somente ele tem um referencial supremamente mais digno, qual seja: A união entre Cristo e a igreja e o amor de Cristo pela igreja. O relacionamento conjugal cristão não estagna, não decresce, quando trafega em vias normais, porquanto persegue esse ideal.

71 COSTA, Jáderson Martins. Revista para Escola Dominical: Família, um projeto tão divino e tão humano. Departamento de Educação Religiosa e Publicações da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. .

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O casamento construído sobre essas bases cresce em confiança, em estabilidade, em amizade e em compreensão. Cresce, igualmente, em amor, posto que as virtudes cristãs aperfeiçoam-se na medida de nossa convivência com Cristo.

Por fim, se há unidade e harmonia, um não temerá pelo crescimento do outro, como pessoa, como cristão e como profissional. Um não representará qualquer ameaça ao outro. Não receará que o progresso do outro constitue-se um obstáculo à permanência harmônica da relação.

Repise-se, todavia, que este novo relacionamento só está acessível a novas criaturas. Esse padrão é alto demais para não regenerados. Seus referenciais não são cogitáveis pela mente natural. O que produz este relacionamento é o fato de que ambos, marido e mulher, amam a Cristo! Porque amam a Cristo o seu ego está subjugado, cativo à vontade do Senhor. Por isso são capazes de esquecerem de si mesmos para se dedicarem um ao outro.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, Clifton. Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira, 2ª. Ed. Rio de Janeiro, Vol 1. CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números, Vol. 1, 2ª. Ed.. São Paulo: Hagnos, 2001. CLARK, Mauro. Você Ama de Verdade? São Paulo: Candeia, 1999. DAVIDSON, F; colaboradores A. M. Stibbs, E. F. Kevan; editado em português por Dr. Russell P. Shedd. O Novo Comentário da Bíblia, 3ª. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997. GRONINGEN, Harriet e Gerard Von. A Família da Aliança. São Paulo: Editora Cultura Cristã. LLOYD-JONES, D. M. Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas. PATZIA, Arthur G. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Efésios, Colossenses, Filemon. São Paulo: Editora Vida, 1995. PRICE, Frederick K. C. Casamento e Família: Uma visão para o viver familiar. Rio de Janeiro: Graça Editora. RYKEN, Leland. Santos no mundo. São José dos Campos: Editora Fiel, 1992. Revista para Escola Dominical: Família, um projeto tão divino e tão humano. Departamento de Educação Religiosa e Publicações da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. STOTT, Jonh R. W.. A Mensagem de Efésios: A Nova Sociedade de Deus. São Paulo: ABU Editora. The Greek New Testament, according to the Majority Text. Edited by HODGES, Zane C. e FARSTAD, Arthur L.