queluz de baixo versão original beautiful …...mas, para ser franca, fui eu a carregar no botão....

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A presente edição segue a grafia do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa [email protected] www.marcador.pt facebook.com/marcadoreditora © 2015 Direitos reservados para Marcador Editora uma empresa Editorial Presença Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena Tradução para a língua portuguesa © 2015 por Marcador Editora Versão original BEAUTIFUL STRANGER Copyright © 2013 por Lauren Billings e Christina Hobbs Venstra Publicado por acordo com a editora original, Gallery Books, uma divisão da Simon & Schuster, Inc Este livro é uma obra de ficção. Todas as referências a acontecimentos históricos, pessoas ou lugares reais são usados ficticiamente. Outros nomes, personagens, lugares e eventos são pro- dutos da imaginação do autor e qualquer semelhança com fatos reais, lugares ou pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência. Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reproduzir este livro ou partes dele de qualquer forma. Título original: Beautiful Stranger Título: Estranho Irresistível Autora: Christina Lauren Tradução: Cristina B. Silva Revisão: Silvina de Sousa Paginação: Maria João Gomes Arranjo de capa: Bruno Rodrigues / Marcador Imagem de capa: Shutterstock Imagem de contracapa: © iStockPhoto Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda. ISBN: 978-989-754-128-5 Depósito legal: 388 393/15 1.ª edição: março de 2015

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Page 1: Queluz de Baixo Versão original BEAUTIFUL …...Mas, para ser franca, fui eu a carregar no botão. Em apenas uma semana, arrendei a minha casa, vendi o meu carro e deixei o meu namorado

A presente edição segue a grafia do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

[email protected]/marcadoreditora

© 2015Direitos reservados para Marcador Editorauma empresa Editorial PresençaEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730-132 Barcarena

Tradução para a língua portuguesa © 2015 por Marcador EditoraVersão original BEAUTIFUL STRANGER Copyright © 2013 por Lauren Billings e Christina Hobbs VenstraPublicado por acordo com a editora original, Gallery Books, uma divisão da Simon & Schuster, Inc

Este livro é uma obra de ficção. Todas as referências a acontecimentos históricos, pessoas ou lugares reais são usados ficticiamente. Outros nomes, personagens, lugares e eventos são pro-dutos da imaginação do autor e qualquer semelhança com fatos reais, lugares ou pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reproduzir este livro ou partes dele de qualquer forma.

Título original: Beautiful StrangerTítulo: Estranho IrresistívelAutora: Christina LaurenTradução: Cristina B. SilvaRevisão: Silvina de SousaPaginação: Maria João GomesArranjo de capa: Bruno Rodrigues / MarcadorImagem de capa: Shutterstock Imagem de contracapa: © iStockPhotoImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.

ISBN: 978-989-754-128-5Depósito legal: 388 393/15

1.ª edição: março de 2015

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Prólogo

Sara

Q uando a minha velha vida morreu, não se foi tranquilamente. Foi detonada.

Mas, para ser franca, fui eu a carregar no botão. Em apenas uma semana, arrendei a minha casa, vendi o meu carro e deixei o meu namorado mulherengo. E embora tenha prometido aos meus pais superprotetores que teria cuidado, foi só já no aeroporto que liguei à minha melhor amiga a contar-lhe que ia mudar-me.

Foi quando tudo pareceu encaixar-se, num momento de per-feita lucidez.

Estava pronta para começar de novo.– Chloe? Sou eu – disse, com a voz trémula, enquanto olhava à

volta do terminal. – Vou para Nova Iorque. Espero que o emprego ainda seja meu.

Ela gritou, deixou cair o telefone e tranquilizou alguém – pro-vavelmente Bennett – dizendo que estava bem.

– A Sara vem para cá – ouvi-a explicar. E o meu coração apertou-se só de pensar em estar com eles, no início desta nova aventura. – Mudou de ideias!

Ouvi um som de celebração, umas palmas, e ele disse algo que não entendi bem.

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– O que disse ele? – perguntei.– Perguntou se o Andy também vem contigo.– Não. – Fiz uma pausa para lutar contra o sentimento mau

que tomava conta da minha garganta. Eu namorara com o Andy durante seis anos e, por mais feliz que estivesse, a reviravolta drástica na minha vida ainda me parecia surreal. – Acabei com ele.

Ouvi-a respirar rápida e profundamente.– Estás bem?– Melhor do que bem. – E estava mesmo. Penso que não me

apercebera de como estava bem até àquele momento.– Acho que é a melhor decisão que poderias ter tomado – ob-

servou. E fez uma pausa para ouvir o Bennett a falar ao fundo. – O Bennett diz que vais atravessar o país como um cometa.

Mordi o lábio, a conter um sorriso.– É quase isso. Estou no aeroporto.Chloe soltou uns sons incompreensíveis e prometeu apanhar-

-me no Aeroporto de LaGuardia.Sorri, desliguei e entreguei a minha passagem ao comissário de

bordo, enquanto pensava que um cometa é demasiado direcionado, demasiado focado. Eu parecia mais uma estrela velha, sem energia, com a minha gravidade a puxar-me para dentro, a esmagar-me. Ficara sem energia para a minha vida demasiado perfeita, o meu emprego demasiado previsível, a minha relação sem amor – exausta aos vinte e sete anos. Como uma estrela, a minha vida em Chi-cago colapsou debaixo do próprio peso, pelo que decidira partir. Grandes estrelas deixam para trás buracos negros. Pequenas estrelas deixam para trás anãs brancas. Eu mal deixava para trás uma sombra. Toda a minha luz ia comigo.

Estava pronta para recomeçar como um cometa: reabastecer, reacender e arder pelo céu fora.

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um

L evas o vestido prateado, ou mato-te – disse Julia, da zona da cozinha, como eu começara a chamar aquele espaço.

Não era de facto suficientemente grande para ser chamada cozinha.Eu saíra de um prédio grande e tortuoso, de estilo vitoria-

no, nos arredores de Chicago, para um apartamento adorável em East Village, do tamanho da minha antiga sala de estar. Pareceu--me ainda mais pequeno depois de desencaixotar todas as coisas, arrumá-las nos lugares e receber as minhas duas amigas mais próximas. A sala de estar/de jantar/área de cozinha tinha janelas que se projetavam para fora do prédio, mas o efeito não era muito palaciano, dando-lhe antes um ar de aquário. A Julia estava de visita apenas durante o fim de semana, para uma noite de celebração, mas perguntara-me já umas dez vezes porque escolhera uma casa tão pequena.

A verdade é que a escolhera por ser diferente de tudo o que vira. E porque apartamentos pequenos são basicamente a única op-ção em Nova Iorque quando se vai para lá morar pela primeira vez.

No quarto, ajeitei a bainha do vestido minúsculo e cheio de lantejoulas, e fiquei a olhar para a quantidade de perna branca que mostrava naquela noite. Odiei quando o meu primeiro instinto foi

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o de me perguntar se o Andy acharia que estava a revelar demasia-do, e o segundo foi aperceber-me de que adorava aquilo. Teria de apagar todos os programas Andy antigos, imediatamente.

– Dá-me uma boa razão para não vestir isto.– Não consigo encontrar nenhuma. – A Chloe entrou no

quarto, com um vestido azul-escuro que ondulava à sua volta como uma espécie de aura. Estava incrível, como sempre. – Vamos beber e dançar, e então mostrar alguma pele é um requisito.

– Não sei quanta pele quero mostrar – comentei. – Estou foca-da em manter a minha condição de rapariga solteira durante algum tempo.

– Bem, algumas mulheres vão ter o rabo à mostra; portanto, de qualquer forma, não te vais destacar, se é isso que te preocupa – disse ela a apontar para a rua lá em baixo. – E é tarde demais para mudares de roupa. A limusina já chegou.

– Tu é que devias ir com o rabo à mostra. Tens andado a apa-nhar banhos de sol toda nua e a beber o dia inteiro numa casa de campo em França – respondi-lhe, a rir-me.

Chloe fez um pequeno sorriso comprometido e agarrou-me pelo braço.

– Vamos lá, giraça. Passei as últimas semanas com o meu cretino irresistível. Estou pronta para uma noite fora com as raparigas.

Entrámos no carro que nos esperava e a Julia abriu o champa-nhe. Com apenas um gole borbulhante, o mundo inteiro pareceu evaporar-se até sermos apenas três jovens amigas, numa limusina, a descer a rua para celebrar uma nova vida.

E não íamos celebrar apenas a minha chegada: Chloe Mills estava noiva, a Julia encontrava-se de visita e a recém-solteira Sara tinha a vida para viver.

A discoteca estava escura, ensurdecedora e cheia de corpos que se contorciam: na pista de dança, nos corredores, encostados ao bar. Uma DJ tocava num pequeno palco e cartazes que cobriam toda a entrada garantiam que era a mais nova e mais fantástica DJ que Chelsea tinha para oferecer.

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A Julia e a Chloe pareciam ambientadas. Eu sentia-me como se tivesse passado a maior parte da infância e da vida adulta em eventos calmos e formais; ali era como se tivesse saído das páginas da minha história tranquila de Chicago para entrar no mais quin-tessencial conto nova-iorquino.

Era perfeito.Forcei o caminho até ao bar: rosto corado, cabelo húmido e

pernas que pareciam não terem sido usadas daquela forma havia vários anos.

– Desculpe! – gritei, para chamar a atenção do barman. Embora nem sequer soubesse que bebidas eram, já pedira

mamilos escorregadios, mistura de cimento e peitos roxos. Com a discoteca lotada e a música tão alta que me fazia tremer os ossos,ele nem se dava ao trabalho de levantar a cabeça. Admito que estava muito ocupado e que preparar as mesmas bebidas chatas o tempo todo era entediante. Mas eu tinha uma amiga, que acabara de ficar noiva, a dançar como uma doida na pista e a querer mais bebidas.

– Ei! – chamei, batendo com a mão no balcão.– Parece fazer tudo o que pode para te ignorar, não é?Olhei para cima – e mais para cima –, para o homem encostado

a mim no bar cheio de gente. Tinha quase a altura de uma sequoia e acenou com a cabeça em direção ao barman.

– Nunca deves gritar com um barman, flor. Sobretudo por causa do que queres pedir: o Pete detesta preparar bebidas de meninas.

Claro. Só a mim: encontrar um homem lindo apenas alguns dias depois de jurar que nunca mais ia querer nenhum. Com um sotaque britânico. O universo era mesmo uma cabra hilariante.

– Como sabes o que vou pedir? – O meu sorriso aumentou, numa tentativa de imitar o dele, mas provavelmente um pouco mais tonto. Dei graças a Deus pelas bebidas que eu já enfiara, uma vez que a Sara sóbria responderia com monossílabos, um aceno de ca-beça desajeitado, e nada mais. – Talvez fosse pedir uma Guinness. Nunca se sabe.

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– Pouco provável. Vi-te pedir pequenas bebidas roxas a noite toda.

Ele estivera a ver-me a noite toda? Não pude decidir se isso era fantástico ou um pouco assustador.

Mudei de posição e ele seguiu os meus movimentos. Tinha feições angulares, com um queixo fino e uma zona cavada por baixo das maçãs do rosto, os olhos pesados e em contraluz, com sobrancelhas escuras, uma covinha profunda na bochecha esquerda quando o sorriso surgiu nos seus lábios. Aquele homem tinha com certeza mais de um metro e oitenta, com um tronco que daria para as minhas mãos explorarem durante semanas.

Olá, Big Apple.O barman voltou e ficou a olhar, impaciente, para o homem ao

meu lado. O meu estranho irresistível mal levantou a voz, mas era tão grave que se ouvia sem dificuldade.

– Três dedos de McKellans, Pete, e o que esta menina pediu. Ela está à espera há séculos, sabes?

Virou-se para mim com um sorriso que me provocou um formigueiro bem dentro da barriga.

– Quantos dedos queres?As suas palavras explodiram na minha cabeça e as minhas veias

encheram-se de adrenalina.– O que acabaste de perguntar?Inocência. Tentou mostrar-se inocente, suavizando a expressão

no rosto. Não sei como, resultou, mas pude ver pela forma como os seus olhos se estreitaram que não havia uma única célula inocente no seu corpo.

– Acabaste de me oferecer três dedos? – questionei.Ele riu-se e esticou em cima do balcão, entre nós, a maior mão

que eu já vira. Só os dedos de uma mão poderiam envolver uma bola de basquetebol.

– Flor, é melhor começares com dois.Olhei melhor para ele. Tinha uns olhos amáveis e mantinha-se

não demasiado próximo, mas o suficiente para que eu percebesse que estava ali apenas para conversar comigo.

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– Fazes boas insinuações.O barman bateu com os dedos no balcão e perguntou qual era

o meu pedido. Aclarei a voz e pedi, determinada:– Três broches.Ignorei o seu ar irritado e voltei-me de novo para aquele estranho.– Não pareces nova-iorquina – disse ele, com o sorriso a des-

vanecer-se, mas sem que os olhos deixassem de sorrir.– Nem tu.– Touché. Nasci em Leeds, trabalhei em Londres e mudei-me

para cá há seis anos.– Cinco dias – admiti, enquanto apontava para o meu peito.

– De Chicago. A empresa em que trabalhava abriu um escritório aqui e trouxe-me para chefiar o departamento financeiro.

Uau, Sara. Demasiada informação. Podes estar a incentivar um per-seguidor obsessivo.

Passara tanto tempo desde que olhara para outro homem. Era óbvio que o Andy fora um mestre neste tipo de situação, mas eu já não sabia seduzir. Olhei para trás, para tentar ver a Chloe e a Julia a dançarem, mas não as vislumbrei por entre o emaranhado de cor-pos na pista. Estava tão enferrujada naquele ritual, que me tornara quase virgem.

– Finanças? Também sou um homem de números – disse, e esperou que eu olhasse novamente para ele, antes de abrir mais um pouco o sorriso. – É bom ver mulheres a trabalhar nessa área. Há demasiados homens chatos de calças a ter reuniões só para se ouvi-rem a dizer o mesmo vezes sem conta.

– Sou chata, às vezes. E também uso calças de vez em quando. – retorqui, a sorrir.

– Aposto que também usas calças de baixo.Cerrei os olhos.– Isso significa outra coisa qualquer em Inglaterra, não é? Estás

com mais insinuações?O seu riso espalhou-se morno pela minha pele.– Calças de baixo são aquilo a que vocês, americanos, cha-

mam roupa interior, ou íntima.

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Aquele «íntima» soou quase como uma palavra que ele sol-taria durante o sexo, e isso fez com que algo dentro de mim se derretesse. Enquanto fiquei embasbacada a olhar para ele, o meu estranho inclinou a cabeça para olhar melhor para mim.

– És encantadora. Não tens ar de quem frequenta muito estes espaços.

Ele estava certo. Mas seria assim tão evidente?– Não sei bem como interpretar isso.– Encara-o como um elogio. És a coisa mais interessante deste

sítio – comentou, aclarando a voz. Depois, olhou para o Pete, que regressava com as bebidas. – Porque vais levar todas estas bebidas pegajosas para a pista?

– A minha amiga acabou de ficar noiva. Esta é uma saída à noite só para raparigas.

– Então é pouco provável que saias daqui comigo.Pestanejei, e voltei a pestanejar, com força. Com aquela suges-

tão sem rodeios, estava oficialmente fora do meu domínio. Muito fora.

– Eu… o quê? Não.– Pena.– Falas a sério? Acabaste de me conhecer.– E já estou com uma vontade enorme de te devorar. – As suas

palavras foram pronunciadas lentamente, quase murmuradas, mas ecoaram na minha cabeça como uma explosão. Era evidente que ele não era novato neste tipo de interação – uma proposta de sexo sem compromisso –, e embora eu o fosse, quando olhou para mim daquela forma, soube que estava destinada a segui-lo para onde ele quisesse.

Os shots pareceram afetar-me de uma só vez e troquei um pouco as pernas à sua frente. Ele endireitou-me colocando uma mão no meu ombro e sorriu com malícia.

– Calma, flor.Voltei a pestanejar para despertar a mente.– Está bem, quando sorris para mim assim, quero trepar por

ti. E Deus sabe que passou uma eternidade desde que alguém me

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agarrou como deve ser – disse. Depois, olhei para ele de cima a baixo, com qualquer pretensão de pertencer a uma sociedade civi-lizada totalmente esquecida. – E algo me diz que podias muito bem fazer esse trabalho… Caramba, olha bem para ti. – E olhei. Mais uma vez. Respirei fundo e ele sorriu-me, divertido.

– Mas nunca fiquei a conversar com um estranho num bar, e estou aqui com amigas, a celebrar o casamento fantástico que uma delas vai ter – disse-lhe, enquanto pegava nos meus shots. – Portanto, vamos ter de beber isto tudo aqui.

Ele anuiu com a cabeça, devagar, e o seu sorriso tornou-se um pouco mais luminoso, como se acabasse de aceitar um desafio.

– Está bem.– Vemo-nos mais tarde.– Promessas.– Aproveita os teus três dedos, estranho.Ele riu-se. – E tu, os broches.

Encontrei a Chloe e a Julia sentadas à mesa, estouradas e trans-piradas, e fiz deslizar as bebidas para perto delas. A Julia colocou uma em frente da Chloe e levantou a outra.

– Que os vossos broches possam descer facilmente – disse. Envolvendo o copo com a boca, levantou as duas mãos e inclinou a cabeça para trás, engolindo o shot de uma só vez, sem pestanejar.

– Bolas – murmurei, enquanto olhava para ela, surpreendida, e a Chloe ria-se ao meu lado. – É assim que tenho de fazer? – Baixei o tom de voz e olhei à minha volta. – Como num broche a sério?

– É um milagre o facto de eu ainda ter reflexos faríngeos. – A Julia limpou a boca com o braço, sem cerimónias, e expli-cou: – É assim que se bebe na faculdade. Vamos lá. – Bateu com o cotovelo na Chloe. – Agora tu.

A Chloe inclinou-se para a mesa, tomou o shot sem usar as mãos, como fizera a Julia, e chegou a minha vez. As minhas amigas voltaram-me para me verem.

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– Conheci um tipo muito giro – disse sem pensar. – Lindo de morrer e com uns cinco metros de altura.

A Julia ficou de queixo caído a olhar para mim.– Então porque estás aqui a fazer falsos broches connosco?Ri-me, enquanto abanava a cabeça. Não fazia a menor ideia de

como responder àquilo. Podia ter saído com ele e acabado a noite na terra dos broches, se fosse uma pessoa bem mais aventureira.

– Hoje é a noite das miúdas. Vocês estão cá só dois dias. Eu estou bem.

– Que se lixe essa conversa. Vai aproveitar.A Chloe apoiou-me.– Estou contente por encontrares alguém que consideres lindo

de morrer. Há séculos que não te via sorrir assim por causa de um homem – disse. E o seu rosto mudou para uma expressão mais séria enquanto reconsiderava o que dissera. – Pensando bem, acho que nunca te vi sorrir por causa de homem algum.

E com a verdade tão exposta naquela mesa, peguei na minha bebida, ignorando o protesto da Julia sobre a minha péssima forma, virei-a e bebi tudo de uma vez. Era doce, deliciosa e o que preci-sava para limpar a cabeça do parvalhão em Chicago e do estranho irresistível do bar. Arrastei as minhas amigas e levei-as para a pista.

Em poucos segundos, senti-me como se não tivesse ossos, nem cabeça, parecia flutuar. A Chloe e a Julia saltavam à minha volta, a gritar as letras das músicas, também perdidas no meio da massa de corpos suados que nos rodeavam. Queria que a minha juventude se prolongasse mais um pouco. Longe da rotina, da vida ocupada em Chicago, podia ver que não a aproveitara. Só ali, com a DJ a mis-turar as músicas, me apercebi de como poderia ter passado os meus dias quando tinha vinte e poucos anos: debaixo das luzes, a dançar num vestido curto, a conhecer homens que desejavam devorar-me, a ver as minhas amigas serem selvagens, descontraídas e jovens.

Não fora obrigada a ir morar com o meu namorado quando tinha vinte e dois anos.

Podia ter vivido uma vida longe do mundo certinho das apa-rências e dos sorrisos forçados.

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Em vez disso, podia ter sido esta rapariga: vestida para matar, a dançar como se não houvesse amanhã.

Felizmente, ainda não era demasiado tarde. Vi a Chloe a sorrir para mim e sorri-lhe de volta.

– Estou tão feliz por estares aqui! – gritou ela, por cima da música.

Comecei a responder com outro juramento de amizade eter-na, meio a gritar por entre o álcool; mas mesmo atrás da Chloe, por entre as sombras da pista de dança, estava o meu estranho. Os nos-sos olhos encontraram-se e não parámos de olhar um para o outro. Bebia os seus três dedos de whisky com um amigo, mas notei, pela pouca surpresa que mostrou quando foi apanhado a olhar-me, que estivera a ver cada um dos meus movimentos.

O efeito desta perceção foi mais potente do que o álcool. Aqueceu cada centímetro da minha pele, queimou o meu peito e continuou a descer: o calor passou pelas minhas costelas e concen-trou-se no fundo da barriga. Levantou o copo, bebeu um gole e sorriu. Senti os meus olhos fecharem-se levemente.

Queria dançar para ele.Nunca, em toda a minha vida, me sentira tão sexy, a controlar de

forma tão completa o que queria. Tinha feito o mestrado, arranjado um bom emprego e até redecorado a minha casa. Mas nunca me sentira uma mulher crescida como naquele momento, a dançar como uma louca com um belo estranho por entre as sombras, a ver-me.

Aquele – aquele – momento era como eu queria recomeçar.O que significava ser devorada? Será que queria dizer aqui-

lo de um modo tão explícito como parecia? A cabeça dele entre as minhas coxas, braços a envolver as minhas ancas e a manter as minhas pernas abertas? Ou será que quis dizer por cima de mim, dentro de mim, a chupar-me a boca, o pescoço, os seios?

O sorriso abriu-se no meu rosto e levantei os braços em dire-ção ao teto. Podia sentir a bainha do meu vestido a subir pelas coxas e não queria saber. Perguntei-me se ele notara. Esperava que sim.

Se pensasse que ele desaparecera, arruinaria o momento; por isso, não voltei a olhar para ele. Não estava habituada ao protocolo

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da sedução de discoteca; talvez a sua atenção não tenha durado mais de cinco segundos, talvez durasse a noite inteira. Não tinha importância. Podia fingir que ele se encontrava ali, na escuridão, enquanto eu estivesse ali, por baixo das luzes. Aprendi a nunca es-perar muita atenção do Andy, mas, com aquele estranho, queria que os seus olhos queimassem a minha pele até chegarem onde o meu coração batia contra as minhas costelas.

Entreguei-me à música, às memórias da sua mão no meu ombro, dos seus olhos escuros e da palavra devorar.

Devorar. Uma música misturou-se com outra, e com mais outra, e antes que eu pudesse apanhar ar, os braços da Chloe envol-viam os meus ombros e ela ria-se no meu ouvido, a saltar comigo para cima e para baixo.

– Atraíste uma plateia! – Ela gritou tão alto, por cima da mú-sica, que me fez estremecer e afastar um pouco.

Fez um sinal para o lado, com a cabeça, e só então notei que estávamos rodeadas por um grupo de homens de roupa justa e es-cura, e dançavam de forma sugestiva. Olhei de novo para a Chloe e vi que os seus olhos brilhavam e eram tão familiares: era aquela mulher obstinada que eu conhecia tão bem, que trabalhou muito para chegar ao topo de uma das maiores empresas de marketing do mundo e que sabia o que aquela noite significava para mim. De repente, um ar frio espalhou-se pela minha pele, vindo dos ventila-dores, e pestanejei de volta à consciência, ainda zonza por estar em Nova Iorque, a recomeçar. A gostar de mim.

Mas atrás da Chloe, as sombras eram escuras e vazias; não havia nenhum estranho ali parado a olhar para mim.

Senti um arrepio na barriga.– Preciso de ir à casa de banho – disse.Forcei a minha saída pelo círculo de homens, para fora da

pista, e segui as indicações para o segundo piso – basicamente uma varanda que circundava toda a discoteca. Andei por um corredor estreito até chegar à casa de banho, tão iluminada que me feriu os olhos. O espaço estava estranhamente vazio e a música no piso de baixo parecia saída da água.

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Ajeitei o cabelo, congratulei-me mentalmente por ter escolhido um vestido que não se engelhava, e retoquei o bâton.

Saí da porta diretamente para uma parede em forma de homem.Estivéramos próximos no bar, mas não tão perto. Não com

a minha cara a bater-lhe no pescoço, o seu cheiro a envolver-me. Não cheirava como os homens na pista, mergulhados em perfume. Cheirava a limpo, como um homem que lava a própria roupa e que também tem um toque de whisky nos lábios.

– Olá, flor.– Olá, estranho.– Estive a ver-te dançar, miúda pequena, selvagem.– Vi-te – respondi, sem conseguir respirar normalmente. As

minhas pernas estavam bambas, como se não soubessem se haviam de colapsar ou voltar a dançar na pista, ao ritmo da música. Mordi o lábio inferior para conter um sorriso. – És tão esquisito. Porque não foste dançar comigo?

– Porque me parece que preferes ser observada.Engoli em seco, boquiaberta e sem desviar o olhar. Não perce-

bi de que cor eram os seus olhos. No bar, pareceram-me castanhos. Mas havia algo mais claro a sobressair naquela zona da discoteca, mesmo por baixo dos flashes. Tons de verde, amarelo, algo de hipno-tizante. Não só fiquei a saber que ele me vira – e gostara –, como dançara inteiramente entregue à fantasia de o ver devorar-me.

– Imaginaste que eu estava a ter uma ereção?Pestanejei. Mal podia acompanhar a sua frontalidade. Homens

assim sempre existiram, homens que diziam o que eles – e eu – pen-savam sem parecerem assustadores, ou rudes, ou agressivos? Como conseguia?

– Uau – sussurrei. – Estavas?Ele inclinou-se, pegou na minha mão e encostou-a com fir-

meza ao sítio onde estava ereto, já a formar um arco na minha pal-ma. Sem pensar, envolvi os meus dedos à sua volta.

– Isto é de me veres dançar?– Danças sempre assim tão bem?Se não estivesse tão estupefacta, teria soltado uma gargalhada.

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– Nunca.Ele analisou-me, com o sorriso ainda nos olhos, mas os lábios

fixos em algo mais excitante.– Vem comigo para casa.Desta vez, ri-me.– Não.– Vem para o meu carro.– Não. Não há forma de sair desta discoteca contigo.Baixou-se e plantou um pequeno beijo no meu ombro, antes

de dizer:– Mas quero tocar-te.Não fingi que não desejava o mesmo. Estava escuro, havia luzes

a piscar freneticamente e a música estava tão alta que parecia querer roubar-me a pulsação. Que mal poderia vir de uma noite louca? No fim de contas, o Andy tivera tantas.

Levei-o para lá das casas de banho, através do corredor estreito, até uma pequena alcova abandonada com vista para a cabine da DJ. Estávamos num espaço sem saída, sozinhos num canto, mas nada escondidos. Além da parede ao fundo da discoteca, o espaço à nossa volta era descoberto; apenas uma pequena parede de vidro evitava que caíssemos na pista de dança no piso de baixo.

– Está bem. Toca-me aqui.Ele franziu o sobrolho, percorreu as minhas clavículas com um

dedo comprido, de um ombro ao outro.– O que estás exatamente a oferecer-me?Olhei para aqueles olhos estranhos e iluminados, que pareciam

muito divertidos com tudo o que acontecia. Mostrava-se normal, tão sensato para alguém que me seguira numa discoteca e dissera de forma espontânea que desejava tocar-me. Lembrei-me do Andy e de como era raro desejar o meu toque, a minha conversa, o meu qualquer coisa – a não ser para manter as aparências. Seria assim com ele? Uma mulher puxava-o para o lado, oferecia-se, e ele aprovei-tava antes de voltar para casa, para mim? Entretanto, a minha vida tornara-se tão ínfima que já nem me lembrava de como preenchia as longas noites sozinha.

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Seria egoísmo a mais querer tudo? Uma carreira de sonho e um momento de loucura aqui e ali?

– Não és psicopata, pois não?Riu-se e baixou-se para me beijar a maçã do rosto.– Estás a fazer-me sentir um pouco louco, mas não, não sou.– Eu só… – comecei e depois olhei para baixo. Encostei a mi-

nha mão aberta ao seu peito. A camisola cinzenta era incrivelmente suave. Pensei que devia ser de caxemira. As calças de ganga escuras assentavam-lhe na perfeição. Os sapatos pretos estavam impecáveis. Tudo nele era meticuloso. – Acabei de me mudar para cá.

Parecia uma explicação aceitável para o quanto a minha mão tremia encostada a ele.

– E um momento como este não parece muito seguro, pois não?

Abanei a cabeça.– Nada mesmo – respondi. – Mas, depois, estiquei o braço,

agarrei-lhe no pescoço e puxei-o para mim. Ele acompanhou o movimento e sorriu, antes de os nossos lábios se encontrarem. O beijo foi a combinação perfeita de suavidade e firmeza, com o whisky a aquecer os seus lábios contra os meus. Ele gemeu um pou-co quando abri a boca e o deixei entrar, e a vibração incendiou-me. Queria sentir cada um dos seus sons.

– Tens um sabor tão doce. Como te chamas? – perguntou.Com aquilo, senti a primeira onda real de pânico.– Nada de nomes.Afastou-se para olhar para mim, com o sobrolho a erguer-se.– O que hei de chamar-te?– O que me tens chamado.– Flor?Disse que sim com a cabeça.– E o que vais chamar-me quando estiveres a vir-te? – pergun-

tou, dando-me de seguida mais um pequeno beijo.O meu coração disparou com aquele pensamento.– Penso que não importa muito o que te chamo, pois não?Encolheu os ombros.

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– Imagino que não.Peguei na mão dele e levei-a à minha cintura.– Tenho sido a única pessoa a provocar-me orgasmos no último

ano.Conduzi os seus dedos até à bainha do meu vestido e mur-

murei:– Podes mudar isso?Senti o seu sorriso na minha boca quando se inclinou para me

beijar de novo.– Falas a sério.A ideia de me entregar àquele homem no canto escuro assus-

tava-me um pouco, mas não o suficiente para mudar de ideias.– Falo a sério.– Vais dar-me dores de cabeça.– Prometo que não.Ele afastou-se o suficiente para examinar os meus olhos. Os

seus olhos moveram-se até o seu olhar voltar a mostrar aquele sor-riso divertido.

– O facto de não teres a menor ideia de como és…Virou-me. Depois, pressionou o meu corpo contra a parede de

vidro para que eu visse a massa de corpos que se contorciam lá em baixo. As luzes pulsavam à minha frente em barras de ferro que se estendiam pela discoteca; iluminavam o piso de baixo, mas o nosso canto mantinha-se na maior escuridão. Um vapor começou a su-bir, vindo das aberturas na pista, e cobriu até aos ombros de quem dançava; formavam-se ondas à superfície à medida que as pessoas se moviam.

Os dedos do meu estranho tocaram na bainha do meu vesti-do, por trás. Ele subiu-o e fez deslizar a mão pelas minhas cuecas, passando pelas nádegas e por entre as pernas, onde eu desejava mais do que tudo o seu toque. Mesmo naquela posição vulnerável, não fiquei incomodada e curvei-me em arco, para trás, já perdida.

– Estás encharcada, querida. De que gostas? Da ideia de es-tarmos a fazer isto aqui? Ou de te ter visto a pensar em foder-me enquanto dançavas?

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Não disse nada, com medo de saber a resposta, mas gemi quando ele inseriu um dedo comprido dentro de mim. Pensa-mentos sobre o que deveria fazer evaporaram-se assim que pensei na Sara chata de Chicago. A Sara previsível que fazia sempre aquilo que esperavam dela. Já não queria ser essa pessoa, mas ser atrevida, selvagem e jovem, viver para mim pela primeira vez na vida.

– És pequena, mas quando estás assim, escorregadia, acredito que aguentas bem os três dedos – disse ele. E riu-se num beijo que colou na minha nuca enquanto um dedo circulava pelo meu clitó-ris, como que a provocar-me lentamente.

– Por favor – sussurrei. Não sabia sequer se me ouvia. O seu rosto estava encostado ao meu cabelo e sentia o seu pénis na minha anca; tirando isso, não tinha consciência de nada, uma vez que o seu dedo comprido deslizava outra vez dentro de mim.

– A tua pele é incrível. Principalmente aqui – afirmou, e bei-jou-me o ombro. – Sabias que a tua nuca é perfeita?

Virei-me e sorri-lhe. Os seus olhos estavam muito abertos e claros e, quando se cruzaram com os meus, voltaram a curvar-se num sorriso. Nunca olhara alguém nos olhos tão de perto enquan-to estava a ser tocada daquela forma, e algo naquele homem, na-quela noite e naquela cidade fez com que eu não tivesse a menor dúvida de que tomara a melhor decisão.

Querida Nova Iorque, és brilhante. Com amor, Sara. P. S. – Isto não é o álcool a falar.

– Não tenho muitas oportunidades de olhar para a minha nuca.– Uma pena, de facto. – Ele retirou a mão e senti um pequeno

arrepio onde tinham estado os seus dedos quentes. Enfiou a mão no bolso, de onde retirou um pequeno pacote.

Um preservativo. Tinha um preservativo no bolso. Eu nunca pensaria em levar um preservativo para uma discoteca.

Virou-me para que o encarasse e fez-nos rodar aos dois, en-costou-me à parede. Beijou-me com suavidade e depois com mais intensidade, faminto. Quando pensei que ia perder o fôlego, des-viou a boca e chupou-me a maçã do rosto, a orelha, o pescoço

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no local onde a minha pulsação se fazia sentir com toda a força.O meu vestido caíra de novo para as coxas, mas os seus dedos brincavam na bainha, subindo-o lentamente.

– Pode aparecer alguém aqui – lembrou, dando-me uma úl-tima oportunidade de pôr um travão naquilo, e embora já tivesse baixado as minhas cuecas o suficiente para que eu pudesse tirá-las apenas levantando os pés.

Não me importava. Nem um pouco. E talvez uma pequena parte de mim desejasse que alguém aparecesse por ali, para ver aquele homem perfeito tocar-me daquela forma. Não conseguia pensar em praticamente mais nada que não fosse onde estavam as suas mãos, como o meu vestido estava acima da minha cintura, como ele se esfregava com tanta força na minha barriga.

– Não quero saber.– Estás bêbeda. Demasiado bêbeda para isto? Quero que te

lembres, se te foder.– Então faz com que seja memorável.Ele levantou a minha perna, expondo a minha pele despida ao

frio do ar condicionado que soprava por cima de nós, e prendeu o meu joelho à volta da sua cintura, o que me fez estar grata por usar saltos altos. Estendi a mão entre nós e comecei a desabotoar-lhe as calças, baixei-lhe os boxers o suficiente para o soltar, e envolvi a sua ereção e esfreguei-a em toda a minha humidade.

– Raios, flor. Deixa-me tratar disto.As suas calças estavam abertas, mas tinham caído apenas um

pouco abaixo da cintura. Se alguém nos visse por trás, poderia pen-sar que dançávamos, ou simplesmente nos beijávamos. Mas ele pul-sava na minha mão e a realidade da situação levava-me à loucura. Ele ia ter-me ali mesmo, com vista sobre a pista de dança lá em baixo. Naquela multidão, havia pessoas que me conheciam como a Sara boazinha, a Sara responsável, a Sara do Andy.

Nova casa, novo emprego, nova vida. Nova Sara.O meu estranho era pesado e tão comprido na minha mão.

Desejava-o e temia também que pudesse magoar-me. Não me lembrava de alguma vez ter tocado num homem tão duro.

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– És grande – deixei escapar.Ele sorriu. Era um lobo pronto a devorar-me e, com os dentes,

abriu rapidamente a embalagem do preservativo.– Essa é a melhor coisa que se pode dizer a um homem. Podias

até dizer-me que não sabes se vai caber.Passei a ponta na minha entrada e tremi com isso. Ele estava

tão quente: pele macia, uma rocha por baixo.– Merda. Vou vir-me por todo o lado se não parares já com

isso – disse. As suas mãos tremeram um pouco, com a pressa, en-quanto se afastava para pôr o preservativo.

– Fazes sempre isto? – perguntei.– Isto o quê? Sexo com uma mulher atraente que não quer

dizer-me o nome e prefere que lhe dê uma queca num corredor público a ir para um local apropriado como uma cama ou uma li-musina? – perguntou. Depois, começou a entrar, lentamente. Acen-deu-se uma luz nos seus olhos e, meu Deus, eu não sabia que fazer sexo com um estranho podia ser assim tão íntimo. Ficou a olhar para cada reação no meu rosto. – Não, flor. Tenho de admitir que nunca fiz isto antes.

A sua voz era firme, mas as suas palavras começaram a falhar por estar tão dentro de mim, ali, naquela discoteca caótica, com música e luzes pulsantes à nossa volta, com pessoas a passar a apenas alguns metros sem fazerem a menor ideia do que acontecia. E, no entanto, o meu mundo reduzia-se ao espaço onde ele me preen-chia, onde roçava firmemente contra o meu clitóris a cada estocada, onde a pele morna das suas ancas se pressionava contra as minhas coxas.

Não houve mais conversa, apenas pequenos movimentos de vaivém que se tornavam cada vez mais rápidos e intensos. O espaço entre nós enchia-se de sons abafados, de desejo e súplica. Mordeu--me o pescoço e agarrei-me aos seus ombros, com medo de cair no vão ou noutro sítio qualquer, não numa pista de dança, mas num mundo onde não poderia fartar-me de estar assim exposta, tendo prazer à frente de quem quisesse ver-me, principalmente aquele homem.

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– Céus, és fantástica. – Inclinou-se para trás, olhou para baixo e acelerou um pouco. – Não consigo deixar de olhar para a tua pele perfeita e, raios, para o sítio onde estou a mover-me em ti.

A luz favorecia-o claramente, já que da minha perspetiva ele estava iluminado apenas por trás, e eu só podia ver a silhueta do meu estranho. Quando olhava para baixo, via apenas sombras e a sugestão de movimento: ele para dentro de mim, e de novo para fora. Escorregadio e duro, a pressionar-se contra mim a cada inves-tida. E, como que para sublinhar que eu não precisava de ver nada, as luzes diminuíram para um tom quase negro, acompanhando o som de uma batida lenta e oscilante que preencheu a discoteca.

– Filmei-te a dançar – murmurou.Passaram-se alguns instantes antes de registar as suas palavras,

abstraindo-me de o sentir a mover-se dentro de mim.– O… o quê?– Não sei porquê. Não vou mostrar a ninguém. Eu só… –

olhou para o meu rosto e baixou um pouco a velocidade, talvez para me deixar pensar.

– Estavas tão possuída. Queria lembrar-me. Caramba, parece que estou a confessar os meus pecados.

Engoli em seco. Ele voltou a aproximar-se e beijou-me antes que eu perguntasse:

– É normal eu gostar que tenhas feito isso?Ele riu-se na minha boca, retomando os movimentos de vai-

vém, com estocadas lentas e deliberadas.– Aproveita, apenas, certo? Gosto de te observar. Dançavas para

mim. Não há nada de mal nisso.Levantou-me a outra perna, envolvendo as duas à volta da sua

cintura e então, por vários segundos perfeitos na escuridão, come-çou a mexer-se a sério. Rápido e com urgência, deixou escapar os mais deliciosos gemidos. E se alguém aparecesse no nosso pequeno canto no corredor, não havia dúvida quanto ao que fazíamos. Só de pensar nisso – onde estávamos, o que fazíamos e a hipótese de al-guém ver aquele homem a possuir-me com tanta força – perdi-me. A minha cabeça descaiu para trás, contra a parede, e pude senti-lo

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senti-losenti-lo a crescer no meu ventre, tão profundamente e com tanto peso,

arrepios a descer-me pela espinha e a explodir na minha vagina com tanta força que tive de gritar, sem me importar com o facto de alguém poder ouvir-me. E nem precisei de olhar para o seu rosto para saber que me observava enquanto me desfazia num orgasmo.

– Oh, Meu Deus. – As suas ancas perderam o ritmo e, então, soltou um gemido grave, com os dedos enterrados na minha cin-tura.

Vai marcar-me, pensei. E depois: Espero que marque.Quando saísse, queria uma lembrança daquela noite, e daquela

Sara, para melhor distinguir a nova vida – que estava tão determi-nada em construir – da velha. Ele parou, apoiado em mim, enquan-to encostava os lábios ao meu pescoço, com suavidade.

– Incrível, pequena estranha. Acabaste comigo.Pulsava dentro de mim – eram réplicas do seu orgasmo – e eu

queria que ele ficasse enterrado bem fundo, daquela forma, para sempre. Imaginei como estaríamos para quem nos visse do outro lado da discoteca: o homem encostado a uma mulher numa parede, com um bocado das pernas dela visíveis à volta das ancas dele, no meio da escuridão.

Com a sua mão enorme, acariciou a minha perna, desde o cal-canhar até à cintura e, então, com um pequeno gemido, retirou-se, pôs os meus pés no chão, deu um passo para trás e tirou o preser-vativo.

Meu Deus, eu nunca estivera sequer perto de fazer algo tão insensato. O meu sorriso espalhou-se pelo meu rosto, mesmo com as pernas a tremer ao ponto de quase colapsarem.

Não te passes, Sara. Não te passes.Fora perfeito. Tudo fora tão perfeito, mas tinha de acabar ali.

Faz tudo de forma diferente. Sem nomes, sem amarras. Sem arrependi-mentos.

Ajeitei o vestido e pus-me na ponta dos pés para lhe beijar os lábios mais uma vez.

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– Foi incrível.Ele concordou, a gemer um pouco no meio do beijo.– Foi sim. Será que podemos…?– Vou descer – disse. Comecei a afastar-me e fiz-lhe um pe-

queno aceno com a mão.Ficou a olhar para mim, confuso.– Estás…– Bem. Estou bem. Tu estás bem?Ele assentiu, atordoado.– Então… obrigada. – Com a adrenalina ainda a correr-me

nas veias, voltei-me antes que ele respondesse, e deixei-o ali, com as calças abertas e os lábios torcidos num sorriso surpreendido.

Minutos depois, encontrei a Chloe e a Julia, prontas para irem embora. De braço dado, saímos da discoteca e, após entrarmos na limusina, enquanto eu revivia silenciosamente cada segundo do que acabara de acontecer, lembrei-me: tinha deixado as cuecas no chão, aos pés dele, e o vídeo da minha dança no seu telemóvel.