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QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS: UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013) Reedição, revista e adaptada 1 RELATÓRIO FINAL Novembro de 2014 I Enquadramento e objetivos Na Europa todos os anos morrem 1500 crianças e jovens entre os 0 e os 19 anos na sequência de uma queda. Apesar de não ser a maior causa de morte nestas faixas etárias, é uma causa frequente de incapacidade, com um risco significativo de sequelas a longo prazo, e muito provavelmente o acidente com maior número de hospitalizações e impacto nas atividades do dia-a-dia das famílias. Calcula-se que, por cada criança que morre na sequência de uma queda, 4 ficam com incapacidades permanentes, 37 são internadas e 690 pessoas faltam ao trabalho ou à escola (OMS, 2004). Em Portugal, as quedas são a maior causa de idas às urgências (ADÉLIA, 2006-2008) e de internamentos, representando 4% das mortes acidentais com crianças e jovens (APSI, 2012). De acordo com a OMS, até 90% das mortes por quedas poderiam ser evitadas na Europa. A criação e manutenção de ambientes e produtos seguros para as crianças e jovens são fundamentais para a redução da sua exposição ao risco de quedas graves. Com o objetivo de caracterizar as quedas nas crianças e jovens, e promover um conhecimento mais aprofundado das suas consequências e condições em que ocorrem, a APSI realizou um estudo retrospetivo sobre este mecanismo de acidente no período de 2000 a 2009 (publicado em 2011), que agora atualiza a partir da análise de dados disponibilizados por diferentes organismos. Para além do seu impacto, em termos da mortalidade (INE) e internamentos (ACSS), foi possível, a partir da análise de dados do ADÉLIA relativos a alguns dos anos em estudo (INSA) e da recolha de casos divulgados na imprensa (APSI), identificar alguns dos padrões de ocorrência deste tipo de acidentes (local do acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada, produtos envolvidos). Este conhecimento mais específico é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim como para o estabelecimento de prioridades de intervenção. II Metodologia O presente estudo sobre quedas em crianças e jovens em Portugal teve como base a análise da informação referente a mortalidade, entre 2000 e 2012; internamentos, entre 2000 e 2013; idas às urgências, entre 2003 e 2013 e casos de quedas registados pela imprensa, entre 2000 e 2013. Esta informação foi cedida, respetivamente, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e pelo Observatório Nacional de Saúde (ONSA) do Instituto Ricardo Jorge (Sistema ADÉLIA, Acidentes Domésticos e de Lazer, Informação Actualizada). Os casos relatados na imprensa foram recolhidos pela APSI. A unidade de análise é a queda acidental que inclui as quedas sofridas pelas crianças e jovens de forma não intencional. O universo de estudo são as crianças e jovens entre os 0 e os 18 anos, sendo que, no caso da mortalidade e por não ser possível desagregar os 19 anos, os dados apresentados incluem esta idade. A análise e caracterização das quedas tiveram em conta a informação disponível sobre diversas variáveis explícitas nas diferentes fontes de dados (INE, ACSS, ADÉLIA, APSI). A partir de 2002, a classificação dos dados referentes à mortalidade passou a utilizar uma codificação diferente e, como tal, optou-se por fazer a análise global de mortes considerando todos os anos

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QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS:

UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013) — Reedição, revista e adaptada —

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RELATÓRIO FINAL – Novembro de 2014

I – Enquadramento e objetivos Na Europa todos os anos morrem 1500 crianças e jovens entre os 0 e os 19 anos na sequência de uma queda. Apesar de não ser a maior causa de morte nestas faixas etárias, é uma causa frequente de incapacidade, com um risco significativo de sequelas a longo prazo, e muito provavelmente o acidente com maior número de hospitalizações e impacto nas atividades do dia-a-dia das famílias. Calcula-se que, por cada criança que morre na sequência de uma queda, 4 ficam com incapacidades permanentes, 37 são internadas e 690 pessoas faltam ao trabalho ou à escola (OMS, 2004). Em Portugal, as quedas são a maior causa de idas às urgências (ADÉLIA, 2006-2008) e de internamentos, representando 4% das mortes acidentais com crianças e jovens (APSI, 2012). De acordo com a OMS, até 90% das mortes por quedas poderiam ser evitadas na Europa. A criação e manutenção de ambientes e produtos seguros para as crianças e jovens são fundamentais para a redução da sua exposição ao risco de quedas graves. Com o objetivo de caracterizar as quedas nas crianças e jovens, e promover um conhecimento mais aprofundado das suas consequências e condições em que ocorrem, a APSI realizou um estudo retrospetivo sobre este mecanismo de acidente no período de 2000 a 2009 (publicado em 2011), que agora atualiza a partir da análise de dados disponibilizados por diferentes organismos. Para além do seu impacto, em termos da mortalidade (INE) e internamentos (ACSS), foi possível, a partir da análise de dados do ADÉLIA relativos a alguns dos anos em estudo (INSA) e da recolha de casos divulgados na imprensa (APSI), identificar alguns dos padrões de ocorrência deste tipo de acidentes (local do acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada, produtos envolvidos). Este conhecimento mais específico é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim como para o estabelecimento de prioridades de intervenção. II – Metodologia

O presente estudo sobre quedas em crianças e jovens em Portugal teve como base a análise da informação referente a mortalidade, entre 2000 e 2012; internamentos, entre 2000 e 2013; idas às urgências, entre 2003 e 2013 e casos de quedas registados pela imprensa, entre 2000 e 2013. Esta informação foi cedida, respetivamente, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e pelo Observatório Nacional de Saúde (ONSA) do Instituto Ricardo Jorge (Sistema ADÉLIA, Acidentes Domésticos e de Lazer, Informação Actualizada). Os casos relatados na imprensa foram recolhidos pela APSI. A unidade de análise é a queda acidental que inclui as quedas sofridas pelas crianças e jovens de forma não intencional. O universo de estudo são as crianças e jovens entre os 0 e os 18 anos, sendo que, no caso da mortalidade e por não ser possível desagregar os 19 anos, os dados apresentados incluem esta idade. A análise e caracterização das quedas tiveram em conta a informação disponível sobre diversas variáveis explícitas nas diferentes fontes de dados (INE, ACSS, ADÉLIA, APSI). A partir de 2002, a classificação dos dados referentes à mortalidade passou a utilizar uma codificação diferente e, como tal, optou-se por fazer a análise global de mortes considerando todos os anos

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(2000-2012) e a análise específica considerando apenas os dados a partir de 2002. Desta forma, os dados relativos à mortalidade cuja causa foi a queda acidental foram caracterizados segundo as variáveis: sexo, grupo etário, tipo de queda e tipo de lesão associada à queda. Os dados do ACSS resultam de duas extrações: os dados entre 2000 e 2008 foram extraídos a 23 de Maio de 2012 e os dados entre 2009 e 2013 a 23 de Outubro de 2014. Estes permitiram analisar e caracterizar os internamentos por queda não intencional entre 2000 e 2013 segundo as variáveis: sexo, grupo etário e tipo de queda. A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA (respeitantes a 54.889 idas às urgências, entre 2003 e 20131) foi realizada de acordo com as seguintes variáveis: sexo, grupo etário, local de ocorrência, atividade desenvolvida durante o acidente, tipo de lesão e parte do corpo lesionada. No estudo dos casos dos recortes de imprensa foram analisados os acidentes por queda registados na imprensa nacional no período de 2000 a 2013 e foram caracterizados segundo as variáveis: sexo, grupo etário, zona do país, tipo de queda, local de ocorrência, atividade desenvolvida durante o acidente, produtos envolvidos no acidente, produtos causadores da lesão, tipo de lesão e parte do corpo lesionada. As notícias na imprensa referentes a quedas foram selecionadas e comparadas entre si para se retirar o máximo de informação possível sobre o acidente. A análise de dados do ADÉLIA e dos casos recolhidos na imprensa, apesar de não serem representativos do universo de estudo, permite identificar alguns dos padrões de ocorrência deste tipo de acidentes (local do acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada, produtos envolvidos). Este conhecimento mais aprofundado, que não surge nos dados referentes à mortalidade e internamento, é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim como para o estabelecimento de prioridades de intervenção. Por esta razão, este estudo reúne e analisa de forma complementar as diferentes fontes de dados. Em traços gerais, os dados do ADÉLIA e o estudo do registo de imprensa da APSI corroboram as tendências encontradas no que diz respeito ao sexo, idade das crianças e tipo de queda associada. Para efeitos de elaboração das conclusões, considerou-se sempre a fonte de dados com maior representatividade e/ou fiabilidade. III – Resultados

1 - Quedas em crianças e jovens até aos 19 anos – Mortalidade Entre 2000 e 2012 (INE) 109 crianças morreram em consequência de uma queda, de acordo com a seguinte distribuição:

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

20 15 15 13 8 9 6 5 6 5 4 2 1 (CID 9: 880-884, 887, 888/CID-10: W06, W13-W19, INE)

Entre 2002 e 2012 (INE) das 74 crianças que morreram por quedas:

o 77% eram do sexo masculino e 23% do sexo feminino. o 34% tinham idades entre os 15 e 19 anos; 31% entre os 0 e os 4 anos e 19% entre os 5 e os 9

anos e 16% entre os 10 e os 14 anos.

1 Estes dados não representam todas as idas às urgências mas apenas as registadas nos serviços de urgência da rede de hospitais e centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde que integram o sistema ADELIA.

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o 46% foram devido a uma queda de altura elevada:

Destas, 22 crianças (13 do sexo masculino e 9 do sexo feminino) morreram por uma queda de/ou para fora de edifícios ou outras estruturas. 9 ocorreram em crianças entre o 0 e os 4 anos, 7 em crianças entre os 5 e os 9 anos e 3 crianças entre os 10 e 14 anos e entre os 15 e 19 anos.

12 crianças morreram por outras quedas de altura elevada. Nesta categoria encontram-se as mortes por queda de leito, queda de árvore, queda de penhasco, mergulho ou salto para a água causando outro traumatismo que não o afogamento ou submersão e “outras quedas de altura elevada”.

o Desconhece-se o tipo de queda associado à morte da criança em 51% dos casos.

Distribuição percentual de mortes por tipo de queda 2002 e 2012 (INE)

Tipo de Queda Subtotal % do Tipo de Queda

Conhecido

% do Tipo de Queda

Desconhecido

Queda de altura elevada

W13 – Queda de, ou para fora de, edifícios ou outras estruturas

22 (65%)

34

(94%)

34

(46%) W06, W14, W15, W16, W17 – Outras quedas de altura elevada

12 (35%)

Queda do mesmo nível

W18 – Outras quedas no mesmo nível

2 (100%)

2 (6%)

2 (3%)

Total de mortes cujo tipo de queda é conhecido 36

Queda desconhecida

W 19 – Queda sem especificação 38 (100%)

38 (51%)

Total de mortes cujo tipo de queda é desconhecido 38

Total de mortes 74

(CID-10: W06, W13-W19, INE)

o O tipo de lesão associada à mortalidade por queda é, maioritariamente, a lesão traumática

intracraniana (43%), a lesão traumática múltipla não especificadas (18%) e fraturas do crânio e dos ossos da face (9%).

2 - Quedas em crianças e jovens até aos 18 anos – Internamentos Entre 2000 e 2013 (ACSS) registaram-se em Portugal Continental 60 705 internamentos por queda em crianças e jovens até aos 18 anos, de acordo com a seguinte distribuição:

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

5906 5981 6080 5715 4933 4767 4414 3483 3562 3314 3220 3165 3089 3076 (CID 9: E880-E888, ACSS)

Numa análise mais específica dos internamentos por queda verificou-se que: o 69% das crianças são do sexo masculino e 31% do sexo feminino.

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o As crianças com idades entre os 5 e os 9 anos (29%) e os 0 e os 4 anos (28%) registaram uma maior percentagem de internamentos, seguidas das crianças com idades entre os 10 e 14 anos (26%).

Número e percentagem de internamentos por grupo etário entre 2000 e 2013 (ACSS)

Grupo etário Total Percentagem

0-4 17128 28%

5-9 17279 29%

10-14 15961 26%

15-18 10337 17% (CID 9: E880-E888, ACSS)

o No total de internamentos cujo tipo de queda é conhecido (32% do total), as quedas de altura

elevada (E880 a E884) são responsáveis pelo maior número de internamentos em crianças e jovens até aos 18 anos (64%). Nas quedas de altura elevada, a categoria "outras quedas de altura elevada” (65%), as quedas de um edifício ou outra estrutura (18%) e as quedas de escadas ou degraus (13%) são as responsáveis pelo maior número de internamentos. Nas quedas no mesmo nível as que originam mais internamentos são as por escorregão ou tropeção (68%).

o Em 68% dos internamentos não se conhece o tipo de queda associada.

Distribuição percentual de internamentos por tipo de queda 2000 e 20013 (ACSS)

Tipo de Queda Subtotal % do Tipo de Queda

Conhecido

% do Tipo de Queda

Desconhecido

Queda de altura elevada

E880 – Queda de escadas ou degraus

1648 (13%)

12557 (64%)

12557 (21%)

E881 – Queda de escadote ou andaime

154 (1%)

E882 – Queda de um edifício ou outra estrutura

2218 (18%)

E883 – Queda em buraco ou outra abertura na superfície

348 (3%)

E884 – Outras quedas de altura elevada

8189 (65%)

Queda no mesmo nível

E885 – Queda no mesmo nível – escorregar ou tropeçar

4784 (68%)

7027 (36%)

7027 (11%) E886 – Queda no mesmo nível –

colisão ou empurrão 2243 (32%)

Total de internamentos cujo tipo de queda é conhecido 19584

Queda desconhecida

E887 – Fractura de causa não específica

2718 (7%)

41121

(68%)

E888 – Outra queda não específica

38.403 (93%)

Total de internamentos cujo tipo de queda é desconhecido 41121

Total de internamentos 60705 (CID 9: E880-E888, ACSS)

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A análise do tipo de queda nas várias idades permite observar que:

o O internamento por queda de escadas ou degraus, de escadotes ou andaimes e “outras”

quedas de um nível para o outro é mais elevado no grupo etário dos 0 aos 4 anos. o O internamento por queda de um edifício ou outra estrutura ocorre maioritariamente nas

faixas etárias dos 0 aos 4 anos e dos 5 aos 9 anos. o O internamento por queda em buraco ou outra abertura na superfície é maior frequente entre

os 15 e os 18 anos. o O internamento por queda no mesmo nível (escorregar ou tropeçar) é mais elevado nas idades

dos 5 aos 9. o O internamento por queda no mesmo nível (colisão ou empurrão) é mais frequente nas idades

entre os 10 aos 14 anos e os 15 aos 18 anos.

Distribuição percentual de internamentos por tipo de queda e grupo etário 2000 e 2013 (ACSS)

Tipo de Queda

0-4

5-9

10-14

15-18

Total

Queda de altura elevada

E880 – Queda de escadas ou degraus

774 (47%)

389 (24%)

303 (18%)

182 (11%)

1648

E881 – Queda de escadote ou andaime

72 (47%)

29 (19%)

28 (18%)

25 (16%)

154

E882 – Queda de um edifício ou outra estrutura

650 (29%)

630 (28%)

529 (24%)

409 (19%)

2218

E883 – Queda em buraco ou outra abertura na superfície

47 (14%)

62 (18%)

113 (32%)

126 (36%)

348

E884 – Outras quedas de um nível para outro

4105 (50%)

2018 (25%)

1264 (15%)

802 (10%)

8189

Queda no mesmo nível

E885 – Queda no mesmo nível – escorregar ou tropeçar

1075 (22%)

1628 (34%)

1370 (29%)

711 (15%)

4784

E886 – Queda no mesmo nível – colisão ou empurrão

99 (5%)

345 (15%)

917 (41%)

882 (39%)

2243

Queda desconhecida

E887 – Fratura de causa não específica

303 (11%)

633 (23%)

965 (36%)

817 (30%)

2718

E888 – Outra queda não especificada

10000 (26%)

11545 (30%)

10472 (27%)

6383 (17%)

38403

Total de internamentos por queda 17128 17279 15961 10337 60705 (CID 9: E880-E888, ACSS)

3 - Quedas em crianças e jovens até aos 18 anos – Idas às urgências A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA, respeitantes a 54.889 idas às urgências entre 2003 e 2013, na sequência de uma queda acidental, permite verificar que:

o 60% eram crianças do sexo masculino, 40% crianças do sexo feminino.

o 31,5% das crianças tinham idade compreendida entre os 0 e os 4 anos; 27% entre os 5 e os 9

anos, 31,5% entre os 10 e os 14 anos e 10% entre os 15 e os 18 anos.

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Distribuição percentual dos acidentes por queda por grupo etário (ADÉLIA)

o 41% dos acidentes ocorreram em casa, 35% em locais de educação/ensino, 8% em áreas de transporte, 5% ao ar livre e em área desportiva (exequo) e 3% em área de diversão e entretenimento.

Distribuição percentual dos acidentes por queda pelo local de ocorrência (ADÉLIA)

A análise conjunta do local de ocorrência da queda por grupo etário indica que: o Em casa e nas áreas de serviço e comércio as quedas ocorreram em maior percentagem nas

crianças com idades entre os 0 e os 4 anos (58%, 62%, respetivamente). o Nos locais de educação/ensino, nas áreas desportivas e ao ar livre em crianças entre os 10 e os

14 anos (51%, 46% e 34%, respetivamente).

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o Nas áreas de transporte houve mais quedas acidentais com crianças entre os 5 e 9 anos e os 10 e 14 anos (33%).

o Nas áreas de diversão e entretenimento em crianças entre os 5 e os 9 anos (38%). No que diz respeito à atividade desenvolvida na altura do acidente, bem como, ao tipo de lesões e parte do corpo mais afectada, a análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA, permitiu ainda observar que: o 53% das crianças desenvolviam atividades de lazer na altura da queda, 12% desporto/exercício

físico, 5% atividade educativa e 3% atividade vital. 23% desenvolviam outro tipo de atividade ou atividade desconhecida.

Distribuição percentual dos acidentes por queda por atividade desenvolvida (ADELIA)

o 42% das crianças sofreram contusões ou hematomas, 16% concussões, 12% esfolamentos e 12% ferida aberta. Em 16% dos casos não é especificado o tipo de lesão associado à queda.

o 54% das crianças que sofreram lesões na cabeça tinham entre os 0 e os 4 anos, 37% das que sofreram lesões no tronco entre os 10 e 14 anos e 46% das que sofreram lesões nos membros tinham entre os 10 e 14 anos.

o Os membros foram a parte do corpo mais afetada (43%), seguidos da cabeça (35%) e do tronco (13%). 3% das crianças sofreram lesões múltiplas (em várias partes do corpo).

4 - Estudo de casos de quedas recolhidos em recortes de imprensa (2000 a 2013) Entre 2000 e 2013 registaram-se na imprensa 168 acidentes por quedas em crianças e jovens até aos 18 anos, sendo que:

o 57% ocorreram em crianças do sexo masculino e 29% em crianças do sexo feminino; em 14% dos casos desconhece-se o sexo da criança.

o 78% das quedas ocorreram em crianças com idade até aos 9 anos de idade. Mais especificamente 46% em crianças entre os 0 e os 4 anos, 32% em crianças entre os 5 e 9

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anos. Verificaram-se menos acidentes por quedas entre os 10 e 14 anos (19%) e entre os 15 e os 18 anos de idade (4%). Em 2% dos registos desconhece-se a idade da criança.

Distribuição percentual dos acidentes por queda por grupo etário (Recortes de Imprensa)

o A casa é o local onde se registaram mais acidentes por queda (51%), seguido dos acidentes ao

ar livre (12%), nas áreas de transporte (10%), nos locais de educação/ensino (17%), e em áreas de diversão ou entretenimento (4%). 7% dos registos não identificam o local de ocorrência do acidente.

Distribuição percentual dos acidentes por queda por local de ocorrência (Recortes de Imprensa)

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o 81% das quedas são de altura elevada e 9% são quedas no mesmo nível. Em 10% dos registos não é mencionado o tipo de queda.

o Das quedas de altura elevada, 47% ocorreram de um edifício ou outra estrutura, 9% quedas em buracos ou outras aberturas (ex: poços, abertura de contentor ao nível do solo, buraco em obras, caixa de escoamento de águas aberta, …) e 7% foram quedas em/ou de escadas ou similares. 18% foram outras quedas de altura elevada (ex: cavalo, postes de AT, falésia, carro, equipamentos desportivos e parque infantil),

o As quedas ao mesmo nível são quedas por escorregão, tropeção, colisão e empurrão (4.5%) ou quedas de equipamento de uso individual com rodas (4.5%).

Distribuição dos acidentes por tipo de queda (Recortes de Imprensa)

o As quedas de outro nível em escadas ou similares e as quedas no mesmo nível são mais frequentes em crianças com idades entre os 5 os 9 anos (n=6 e n=5, respetivamente).

o As quedas de edifício ou outra estrutura são mais frequentes em crianças dos 0 aos 4 anos (n=50). E as quedas em buracos ou outras aberturas similares também mas com bastante menor expressão (n=5).

o As outras quedas de um nível para o outro ocorrem maioritariamente nas faixas etárias dos 10 aos 14 anos (n= 12) e dos 5 aos 9 anos (n=7).

o As quedas de equipamento de uso individual com rodas em crianças entre os 10 e os 14 anos (n=5).

Ao analisar o tipo de queda e o local onde ocorreu o acidente podemos verificar que: o 51% das quedas ocorreram em casa sendo que as mais frequentes são as quedas de edifício ou

outra estrutura (n=69), as quedas de escadas (n=6) e as quedas em buraco ou outra abertura (n=5).

o As outras quedas de um nível para o outro são mais frequentes ao ar livre (n=9) e em áreas de transporte (n=9).

o As quedas ao mesmo nível ocorrem maioritariamente na escola (n=4).

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Quanto à atividade no momento do acidente: o 36% das crianças estavam a desenvolver uma atividade de lazer quando ocorreu o acidente e

3% desenvolviam uma atividade vital/básica e 2,5% uma atividade educativa ou de desporto/exercício físico. 5% realizava uma outra atividade e em cerca de metade dos registos (51%) não é especificada a atividade que a criança desenvolvia na altura do acidente. Distribuição percentual dos acidentes por queda por atividade desenvolvida (Recortes de Imprensa)

Já no tipo de lesão e partes do corpo afetadas na sequência de uma queda: o As lesões mais frequentes são as fraturas (12%), as contusões (10%) e as

escoriações/esfolamentos (9%). o A cabeça é a parte do corpo mais lesionada (27%), seguida dos membros (10%). Em 18% dos

acidentes registados as crianças lesionaram várias partes do corpo e em 39% dos registos não é identificada a parte do corpo lesionada.

Distribuição percentual dos acidentes por queda por parte do corpo lesionada (Recortes de Imprensa)

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Uma análise dos produtos envolvidos nos acidentes por queda permite observar que as varandas e as janelas de edifícios são os produtos que aparecem mais vezes associados às quedas (40%), logo seguidas dos buracos ou outras aberturas (9%), escadas (7%), muro (6%), bicicleta (3%) e teto/telhado/terraço (4%). Em 13% dos acidentes não é referido o produto envolvido no acidente

Produto envolvido no Acidente (Recortes de Imprensa)

Produto Frequência Percentagem

Escada Varanda/Janela Teto/Telhado/Terraço Banco/Cadeira Slide Baloiço Berço/Cama Bicicleta Carro/TCC/Trator Insuflável Buraco ou outra abertura Bola Cavalo Falésia/Morro/Ravina Muro Ponte Pavimento Pessoa Blocos de Cimento Poste de Alta Tensão Produto Não Especificado Sem Resposta Total

11 66 7 1 1 1 2 8 4 2 15 2 1 3 9 1 2 4 1 2 22 3 165

6,7 40 4,2 0,6 0,6 0,6 1,2 4,8 2,4 1,2 9,1 1,2 0,6 1,8 5,5 0,6 1,2 2,4 0,6 1,2 13,3 1,9 100,0

Quanto aos produtos que causaram a lesão foi possível verificar que os pavimentos, no geral, representam 76% dos produtos causadores da lesão, dos quais 47% dizem respeito a pavimentos de estrada, rua ou passeio. Em 11% dos casos não é especificado o produto causador da lesão.

Produto causador da Lesão (Recortes de Imprensa)

Produto Frequência Percentagem

Pavimento Espaços Jogo e Recreio/Escola Pavimento Ajardinado/Vegetação Pavimento Estrada/Passeio/Rua Pavimento Naturais/Materiais Soltos Solo Pavimento Não Especificado Carro Fios/Ferros/Obras Degraus Fundo de Buraco ou outra abertura/poço Árvore Lareira Produto Não Especificado Blocos de Cimento Precipício Sem Resposta Total

3 5 78 9 8 23 1 2 3 10 1 1 18 1 2 3 168

1,8 3 47,3 5,5 4,8 13,9 0,6 1,2 1,8 6,1 0,6 0,6 10,9 0,6 1,2 1,8 100,0

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IV – Conclusões 1. Nos últimos 14 anos, pelo menos 109 crianças e jovens morreram na sequência de uma queda e

mais de 60.500 tiveram que ser internadas. A maior parte das mortes (INE, 2000-2012) na sequência de uma queda ocorreram em crianças e jovens do sexo masculino (77%) com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos (34%). Das restantes, 31% ocorreram entre os 0 e os 4 anos, 19% entre os 5 e os 9 anos e 16% os 10 e os 14 anos. Nos internamentos (ACSS, 2000-2013), 69% das crianças são do sexo masculino e 31% do sexo feminino. As crianças mais frequentemente internadas tinham idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos (29%) e os 0 e os 4 anos (28%), seguidas das crianças com idades entre os 10 e 14 anos (26%) e os 15 e os 18 anos (17%). Em muitos casos, o tipo de queda associada a estes acidentes não é conhecida. No entanto e a partir das situações onde existe esta informação (49% das mortes e 32% dos internamentos), é possível identificar qual o tipo de queda que provoca mais mortes e internamentos.

2. A maior parte das mortes resultam de quedas de edifícios e outras estruturas.

De acordo com os dados disponibilizados pelo INE (2002-2012), 30% das mortes resultaram de uma queda de edifícios ou outras estruturas. A maior parte destes casos aconteceu com crianças até aos 9 anos (9 casos com crianças entre o 0 e os 4 anos e 7 casos entre os 5 e os 9 anos). São ainda referidas mortes que resultaram de queda de leito, queda de árvore, penhasco, ou mergulho ou salto para a água. Em metade dos casos não se conhece o tipo de queda. O tipo de lesão mais frequentemente associado a estas mortes é a lesão traumática intracraniana.

3. As quedas de altura elevada são responsáveis pelo maior número de internamentos.

64% dos internamento cujo tipo de queda é conhecido (ACSS, 2000-2013) deveram-se a uma queda da altura elevada. Destas, a categoria “outras quedas de altura elevada” representa 65%, as quedas de um edifício ou outra estrutura representam 18% e as quedas de escadas ou degraus 13%. As quedas no mesmo nível representam 36% dos internamentos, sendo que a maior parte são quedas por escorregão ou tropeção (68% das quedas no mesmo nível).

4. Os internamentos que resultam de quedas de altura elevada são mais frequentes nas crianças mais novas. Os internamentos resultantes de quedas de escadas ou degraus, queda de escadote ou andaime e queda de um edifício ou outra estrutura são mais frequentes nas crianças entre os 0 e os 4 anos de idade (47%, 47% e 29%, respetivamente). A queda de um edifício ou outra estrutura também ocorre frequentemente na faixa etária dos 5 aos 9 anos (28%). As crianças mais velhas, dos 15 aos 18 anos, são as que sofrem mais quedas em buracos ou aberturas (38%). Os internamentos por quedas por escorregão ou tropeção são mais frequentes em crianças entre os 5 e 9 anos (34%), enquanto as quedas por colisão ou empurrão são mais frequentes a partir dos 10 anos (80%).

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5. A maior parte das quedas ocorreram em casa e na escola.

A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA (respeitantes a 54.889 idas às urgências, entre 2003 e 2013) mostra que 41% das quedas aconteceram em casa e 35% na escola. Em casa mais de metade das quedas (58%) ocorre com crianças até aos 4 anos. Nos locais de educação/ensino, a maior parte (51%) acontece entre os 10 e os 14 anos. Mais de 53% das crianças estavam a realizar atividades de lazer no momento da queda. No tipo de lesão, 42% das crianças sofreram contusões ou hematomas, 16% concussões, 12% esfolamentos e 12% ferida aberta, sendo os membros e a cabeça as partes do corpo mais afetadas (43% e 35% respetivamente).

6. As varandas e as janelas são o produto que aparece mais vezes associado às quedas acidentais. O estudo de casos dos registos de recortes de imprensa da APSI (168 casos, entre 2000 e 2013) permite identificar as varandas e as janelas como os produtos mais vezes associados às quedas (40%). A seguir aparecem os buracos ou outras aberturas (9%) e as escadas (7%). Quanto aos produtos que causaram a lesão foi possível verificar que os pavimentos representam 76% dos produtos causadores da lesão, dos quais 47% dizem respeito a pavimentos de estrada, rua ou passeio.

V – Medidas necessárias Os resultados deste estudo mostram claramente que as quedas com consequências mais graves estão relacionadas com os espaços construídos e que a construção ainda não salvaguarda de forma eficiente a segurança das crianças. É necessário projetar e construir habitações e estabelecimentos educativos adaptados às características e necessidades das crianças e urgente reabilitar os edifícios já existentes. Só desta forma será possível reduzir o nº de mortes e internamentos resultantes de quedas de edifícios e quedas de escadas. Tanto as construções novas como as já existentes devem garantir a segurança de todos os seus utilizadores de forma a não apresentarem riscos inaceitáveis de acidente durante a sua utilização normal e previsível, como aliás prevê o Regulamento Europeu para os Produtos de Construção. A adaptação dos ambientes construídos é essencial. A colocação de guardas eficazes nas varandas e terraços (não escaláveis e difíceis de transpor ou gerar desequilíbrios), de limitadores de abertura nas janelas (abertura máxima 9 cm) e cancelas em escadas (no topo e em baixo) são medidas fundamentais. Em 2009, foi publicada uma Norma Portuguesa para Guardas para Edifícios (NP 4491:2009), que apesar de aplicação voluntária, é uma referência e um instrumento técnico indispensável no projeto, construção e reabilitação de guardas eficazes na prevenção de quedas de crianças. Sendo a proteção dos utilizadores um requisito essencial do Regulamento de Produtos de Construção, a conformidade com a NP 4491:2009 é determinante já que garante a segurança na utilização dos edifícios. É fundamental que projetistas e construtores cumpram a norma portuguesa para guardas para edifícios. É necessário que o poder local garanta a criação de regulamentos harmonizados de construção e que esta norma seja adotada no âmbito dos Regulamentos Municipais de Urbanização e Edificação. Que o poder central crie legislação que obrigue à proteção de varandas, janelas, escadas e outros desníveis em determinados edifícios (existentes).

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Que seja definida uma política e estabelecida uma estratégia para a reabilitação dos edifícios já existentes. Esta deve prever uma intervenção coordenada das autarquias e/ou do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana e Edificação, bem como dos serviços de saúde pública e ação social, para uma avaliação de risco do edificado existente e eventual adaptação aos requisitos das novas normas (Menezes, H.; Eloy, S.; APSI, 2009). Paralelamente, é necessário fomentar a inclusão da avaliação de risco de acidente nas visitas domiciliárias, que inclua a educação para a saúde e avaliação de risco, na perspetiva de prevenção das quedas, assim como, promover a formação dos estudantes e profissionais ligados ao projeto e construção de edifícios. Este estudo mostrou ainda a necessidade de melhorar o sistema de registo e codificação dos acidentes por queda. A percentagem de quedas relativamente às quais se desconhece a causa específica é muito alta (51% das mortes e 68% dos internamentos), para além do que, a categoria “outras quedas de um nível para o outro”, abarca um número muito elevado de quedas não especificadas (sabe-se que são de um nível para o outro, mas não se conhece o tipo de queda específico). Este facto, impossibilita um conhecimento completo e detalhado da realidade e pode “mascarar” alguma situação relevante em termos das quedas com crianças e jovens. Para além disso, informações mais pormenorizadas das condições em que as quedas ocorrem, no levantamento associado à mortalidade e internamentos (que implicariam a inclusão de mais parâmetros de registo), são essenciais para um retrato mais fiel da realidade e consequentemente uma definição de estratégias mais direcionadas e eficazes.

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VI - Referências Bibliográficas World Health Organization, WHO (2008). World and European Report on Child Injury Prevention.

INSA, 2011. ADELIA, Acidentes Domésticos e de Lazer: Informação Adequada. Relatório 2006 – 2008.

APSI, 2012. Resumo do Perfil de Segurança Infantil de Portugal e Relatório de Avaliação de Segurança

Infantil de Portugal 2012.

APSI, 2008. A sua varanda é segura?

Menezes, H.C: (2009). Segurança das Crianças nos ambientes construídos. Responsabilidade e Boas

Práticas, in actas do colóquio “Os dez anos do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação”,

AdUrbem, Novembro, 27, 2009, LNEC:

Ficha Técnica

Edição: APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil

Autoria: Inês Pessoa e Costa, Sandra Nascimento, Sónia Anjos

Data de Publicação: Novembro 2014

1ª edição do estudo: Apoio Century 21

Agradecimentos

À Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), Instituto Nacional de Estatística

(INE), Instituto Ricardo Jorge (INSA), pela cedência de dados.

Apoio: