que o segmento valha - ulisboa · 2019-03-07 · o euros, em comparação com os 88 milhões...

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lojas com entradas secretas, automóveis personalizados na fábrica e pedidos extravagantes como contratar um c/zefMichelin para servir os amigos. Por Sônia Bento, Ana Taborda, Carolina Rodrigues, Juliana Nogueira Santos e Vanda Marques NEGOCIO. ESTIMA-SE QUE O SEGMENTO VALHA 10 MIL MILHÕES

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Page 1: QUE O SEGMENTO VALHA - ULisboa · 2019-03-07 · O euros, em comparação com os 88 milhões registados em 2016. A marca que mais contribuiu para este cresci-mento foi a gigante LVMH,

Há lojas com entradas secretas,automóveis personalizados na

fábrica e pedidos extravagantescomo contratar um c/zefMichelin

para servir os amigos.Por Sônia Bento, Ana Taborda, Carolina Rodrigues,

Juliana Nogueira Santos e Vanda Marques

NEGOCIO. ESTIMA-SE QUE O SEGMENTO VALHA 10 MIL MILHÕES

Page 2: QUE O SEGMENTO VALHA - ULisboa · 2019-03-07 · O euros, em comparação com os 88 milhões registados em 2016. A marca que mais contribuiu para este cresci-mento foi a gigante LVMH,

émpre que compravauma carteira Louis

Vuitton, na Avenidada Liberdade, Mikas

pedia às funcionárias,de quem já era co-nhecida, que lhe co-

locassem a embalagem da marcanum saco branco, para não se sentir

constrangida no caminho até ao car-ro. A angolana, de 43 anos, que viveem Portugal há cerca de 16, fazia o

mesmo na Prada, na Loja das Meias

ou no El Corte Inglês, onde chegavaa gastar milhares de euros em artigosda Carolina Herrera e em produtosde perfumaria e maquilhagem. Eramos tempos da recessão económica,

agravados em 2011 com o pedido de

ajuda externa à Comissão Europeia,Fundo Monetário Internacional e

Banco Central Europeu, em que con-

sumir artigos de luxo era malvisto -e nas lo]as das marcas internacionaisda principal avenida de Lisboa, o pe-dido dos sacos brancos passou a ser

frequente por parte dos clientes por-tugueses, que não queriam ostentarsinais de riqueza.

OO segmentodo luxo podevalers%doPlßem Portugal

EM 2018, OMERCADO

DO RETALHODO LUXOFEZ 97,5

MILHÕESDE EUROS

EM VENDAS

Nos últimos anos, esse estigma foi

desaparecendo - tal como os sacosbrancos das lojas da Avenida da Li-berdade. Com a saída da troika de

Portugal, em 2014 e o aumento da

confiança, o consumo dos chamados

personal luxury goods (bens que nãosão de primeira necessidade mas sãc

altamente desejados) voltou a au-mentar: segundo os dados da agên-cia Euromonitor, só o mercado do

retalho de luxo em Portugal valemais 10 milhões de euros do que hádois anos. O setor fechou 2018com vendas de 97,5 milhões de O

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O euros, em comparação com os 88milhões registados em 2016. A marca

que mais contribuiu para este cresci-

mento foi a gigante LVMH, dona de

marcas como Louis Vuitton, TagHeuer ou Moet & Chandon. Sozinha,

agrega 24,4% de todo o mercado, se

guida da Prada (17,8% de quota de

mercado) e da Hermes (13,5%).

Mas, se nestes dados forem incluí-dos ainda os dados das compras de

carros, casas, viagens e experiênciasde luxo, os valores podem atingir va-lores bem mais elevados. "Em Portu-

gal, não existem dados consolidados.

Há uma estimativa que indica que o

segmento do luxo pode valer 5% do

PIB, o que quer dizer que no nosso

caso pode chegar aos 10 mil milhõesde euros", explica Helena AmaralNeto, da Luxulting - Luxury Consul-

ting e coordenadora de cursos exe-cutivos na área do luxo no Instituto

Superior de Economia e Gestão.

OManuel Casal,dono da Stivali,em Villa Pedra, oseu turismo ruralde luxo, em Soure

"CONSEGUI-MOS QUE ABOUTIQUEDOS RELÓ-

GIOS ABRISSEÀS 3H DAMANHÃ",DIZ SARA

AMBRÓSIO

Não há pedidos impossíveisEste crescimento do mercado não

passou despercebido às grandes em-presas mundiais. Foi o caso da Quin-tessentlally, a maior firma de assis-

tentes pessoais de luxo do mundo,

que chegou a Portugal em 2016. Comescritório na Avenida da República, a

firma britânica tem 10 "gerentes de

estilo de vida" - portugueses, comcerca de 30 anos e experientes emhotelaria e atendimento ao cliente

em serviços de alta qualidade - quepersonalizam e preparam tudo o queum membro desejar. Seja um encontro privado com uma celebridade ou

um che/de topo, seja uma festa pri-vada, uma produção para uma pro-posta de casamento espetacular ou arecriação da caverna do Batman.Nada é impossível. Já enviaram de

helicóptero um detetor de metais

para os Alpes para ajudar um mem-bro que perdeu as chaves na neve, e

conseguiram em poucas horas um

relógio Patek Philippe, que tinha umafila de espera de sete a 10 anos.

O acesso é exclusivo - e caro. E

nem todos os membros são iguais.Há vários níveis: o Dedicated, o Elitee o Global Elite. Para ser aceite, o po-tencial cliente faz o contacto inicial.

Depois um agente vai ao seu encon-tro e só então o informa do valor do

custo anual. A empresa não revela

valores, mas ao que a SÁBADO apu-rou, essa anuidade vai dos 5 mil aos

30 mil euros, conforme o nível.

O associado Global Elite tem direi-to a pedir todos os serviços, tanto aonível pessoal como profissional. "0membro pode pedir tudo o que a sua

imaginação ditar e que podem ser as

coisas comuns, como entregas de

flores, transferes ou bilhetes para umconcerto, como experiências maisexuberantes: alugar uma ilha privada, fechar uma ponte em Sydney ou

fazer uma viagem ao espaço", diz àSÁBADO. Raquel Faim, lifestyle ma-nageràí Çmintessentially Portugal.

Os outros níveis têm algumas dife-

renças: no Elite o serviço só esta dis-

ponível em Portugal e em mais três

países à escolha; e o Dedicated só

abrange Portugal e tem várias limita-

ções nos diferentes serviços.Os portugueses representam cerca

de 30% dos clientes da empresa emLisboa. E o que pedem? "O sigilo é

fundamental e as pessoas são muito

exigentes com isso", diz a responsa

vel. O máximo que revela é que jálhe solicitaram a marcação de umareunião no Dubai e um encontrocom uma celebridade internacional.Também não diz qual - apenas queconseguiu.

Há um ano surgiu a Theritage Con-

cierge, fundada por portugueses e

centrada no mercado local - que nãodemorou muito a ter de dar provas.Sara Ambrósio, head of operatíons da

empresa, recorda se de um telefonema que chegou a menos de uma se-mana do aniversário do cliente, por-tuguês, que queria um rooftop priva-do e um chefcom pelo menos umaestrela Michclin a preparar a refeição

para os seus convidados. Era umadata especial c Sara Ambrósio sabia

que nada podia falhar. "Alugar o

rooftop [em Lisboa] foi o mais fácil,

Mas também conseguimos pôr lá o

che/Juan Amador, que teve um res-taurante com três estrelas Michelin, a

cozinhar", conta. "Também já houve

portugueses que nos pediram umareserva num restaurante Michelin

com menos de 24 horas de antece-

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dência. O restaurante estava cheio e

tinha uma lista de espera de mais de

um mês, mas conseguimos que alte-rassem o layout da sala e colocassem

uma mesa extra para acomodar três

pessoas", conta Ana Rebelo, CEO da

mesma empresa.Estes luxos são comuns em Portu-

gal, mesmo quando quem os procu-ra tem outra nacionalidade. Foi o

que aconteceu quando um clientelhes ligou a pedir um solitário comum diamante Graff, os mais caros e

exclusivos do mundo, com peçasque podem atingir as várias dezenas

de milhões de euros. Problema: pre-cisava do diamante nessa madruga-da, para na manhã seguinte pedir anamorada em casamento. "Conse-

guimos que a Boutique dos Relógiosda Avenida da Liberdade abrisse às

3h da manhã para o receber, numasala privada. Prepararam inclusive

uma ceia", conta Sara. "E a respostafoi sim", brinca Ana Rebelo.

Há duas formas de recorrer aos

serviços da Theritage Concierge: ser

membro durante 8 a 30 dias (o Ex-

pcrience) ou pagar um fee anual,

cujo montante a empresa não re-vela, para ter assistência persona-lizada permanente - que já foiusada na primeira visita de ummilionário dos Emirados ÁrabesUnidos a Portugal. "Estava cá

pela primeira vez e queria umapraia privada com serviço de

catering, mas em Portugal não é

possível fechar praias e o hotelonde ele estava, apesar de sermuito bom, não lhe servia o cate-ring na praia", explica Sara. Tive-ram meia hora para contornar a

questão. E pouco mais que isso

para pôr uma equipa fardada na

praia, num dia com 40 graus. "Aforma que arranjámos de criar umambiente recatado e premium foilevar também mobília, cadeiras,mesa e um toldo." Além de

frappés, champanhe, vinho e ma-risco - incluindo lagosta.

Entradas discretasA exclusividade pode passar pelamarcação de um atendimento priva-do numa das luxuosas lojas da Aveni-da da Liberdade onde, comprovou aSÁBADO numa visita recente, os pre-

ços facilmente atingem os muitos milhares de euros. Na Bulgari, porexemplo, jóias, carteiras e relógios

podem custar entre os 3 mil e os 40mil euros. Na Prada a nova coleção

personalizável de sapatos - com apossibilidade de escolher um dos

vários materiais, cores e tom dasola com as iniciais gravadas - vai

dos 650 euros aos 1.900 euros.

Mais abaixo, na Louis Vuitton. está

à venda uma carteira em pele decrocodilo que custa 29 mil euros, cujafila de espera é de quatro meses, e

outra, em pele de avestruz, de 15 mileuros. A loja vende também peças de

deslgn de edição limitada, como a

Cocoon, uma cadeira suspensa novalor de 65 mil euros.

Todas têm um atendimento per-sonalizado e uma zona privadapara atender clientes especiais. NaLouis Vuitton essa área fica no se-

gundo andar, onde os clientes po-dem escolher as peças enquantobebem uma flúte de champanhe.No piso há também uma porta de

' correr que pode ser fechada paraproporcionar mais privacidade.

Na Stivali, a histórica casa multi-marca da Avenida da Liberdade, quevende Valentino, Saint Laurent, Dolce& Gabbana e Elie Saab, a maior partedas clientes não gosta de dar nas vis-tas, assegura à SÁBADO o fundador e

proprietário Manuel Casal. "Não que-rem sair daqui com os sacos na mão

e andar a passear na aia. Temos uma

garagem com 16 lugares e acesso di-reto à loja, os clientes podem entrar e

sair para o estacionamento sem se-rem vistos. Sobretudo se usarem umdos três gabinetes mais reservados e

discretos, que temos no primeiro an-dar. Estes gabinetes também permi-tem sair para a rua, por uma das três

portas de acesso à loja, sem passar

pela entrada principal, virada para aavenida, onde há sempre mais pes-soas", diz.

Além disso, também é possívelpedir para ser atendido fora de ho-ras, quando a loja está fechada, seja

por discrição ou questões práticas."Há imensa gente que sai às 20h e

pede para ser atendida das 20h às

22h, pessoas do Norte que vêm cá a

trabalho", conta. Depois há as ur-gências de última hora, jantaresmarcados no próprio dia, que moti-vam visitas dos motoristas. "Já nosaconteceu com clientes que esta-vam no Algarve ou no Porto. Da úl-tima vez vieram buscar um vestidode noite, comprido, para um ani-versário, uma coisa chiquíssima."

A maioria dos clientes - cerca de

70% - é portuguesa, muitos do Nortedo País: "São jovens executivas, ar-

quitetas, médicas, advogadas, em-presárias e figuras da televisão. Com-

pram, por exemplo, um bom casaco,

básico, que usam tanto à tarde comoà noite, e a importância não está na O

A STIVALITEM GARA-GEM COM

ACESSO DI-RETO ALOJA

PARA OSCLIENTES

ENTRAREM ESAÍREM SEM

SEREMVISTOS

ORaquel Faim é

lifestyle managerda Quintessen-tially, a maiorempresa de assis-tentes de luxo domundo

Famosos que consomem artigos de luxoRelógios, sapatos e carteiras que atingem milhares de euros

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O etiqueta. O que é caro não é sinó-nimo de luxo mas de qualidade, e as

pessoas são cada vez mais discretas,

preferem as marcas em que o logoti-

po não é ostensivo." Nomes 0 "Não

me arranca nenhum. As pessoas vêm

aqui porque apreciam a discrição.Podia dizer-lhe dezenas de nomes de

cair para o lado, só que depois tinha

que fechar a porta."A confidencialidade é um ponto

em comum entre as várias áreas do

sctor do luxo. Entre os vendedoresde jóias e relógios, a Torres loalhei-ros - que possui um extenso portf ó-lio de marcas de prestígio, como Ro-lex, A. Lange & Sõhne, Boucheron,Chanel, Chopard, Chaumet ou

Franck Muller - tem um setviço pri-vate com disponibilidade perma-nente. O responsável desta área de

negócio é Fernando Matos, que pas-sa a maior parte dos dias em encon-tros com clientes a quem vai mostrarnovidades ou esclarecer dúvidas.

Como a sua disponibilidade é total -e o seu contacto direto acessível aosclientes -, sem entrar em detalhes,Fernando Matos conta que o seu te-lefone já tocou fora de horas. "Mas

não posso adiantar mais nada porquestões de segurança, tanto minhacomo dos clientes", diz.

Já Manuel Seabra, das joalhariasDavid Rosas, garante que a maioriados clientes é estrangeira. 'São do

setor financeiro, consultores, advo-gados ou empresários, com um

grande poder de compra e um gos-to especial e conhecimento sobre

relógios. Como sabem que somos

representantes exclusivos da Patck

Philippe fcom preços a partir dos

11.300 euros] em Portugal, têm a

expectativa de poderem encontraro modelo pretendido na altura em

que visitam Portugal."

OFernando Matos éo responsável doserviço private daTorres Joalheiros,que está disponí-vel 24 horas pordia

PARACONVENCEROS CLIENTES,

A LAM-BORGHINILEVA-OS AVISITARAFÁBRICA

EM ITÁLIA

OsiteFarfctch ó umaempresa online

que vende as

maiores marcasde luxo. Foi

fundada em2008 por

José Neves

Escolher o carro na fábrica0 setor automóvel c aquele em queas vendas de marcas de luxo maiscresceram nos últimos anos: de

acordo com os números divulgadosanualmente pela Associação do Co-mércio Automóvel de Portugal(ACAP), em 2018 os portuguesescompraram mais 10 mil carros das

principais marcas de luxo (Lam-borghini. Aston Martin, Bentley, Fer-

rari, Maserati, Porsche, Lexus, Jaguar,Land Rover e Mercedes-Benz) do

que em 2013. Ao todo, só no ano

passado estas marcas venderam19.177 automóveis. A maior fatia per-tence à Mercedes-Benz que vendeu16.464 automóveis. Mas foi em 2017

que a marca alemã teve o maiorsucesso em Portugal: vendeu umexemplar do AMG Project One, umaedição limitada de 275 viaturas aonível mundial, que custa 3 milhõesde euros. Sabe-se que o compradoré do Norte e que o negócio foi feito

em agosto de 2017 - mas o carroainda não começou a ser produzido.

A marca que teve um crescimentomais significativo foi a Lamborghini.Bastaram sete unidades vendidas em2018 para aumentar em 600% as

vendas em relação a 2013 quandofoi vendida apenas uma. Para con-vencer os clientes, a marca apostanum tratamento personalizado queinclui uma visita à fábrica. MiguelCosta, diretor-geral da Bentley Lis-boa e da Lamborghini Lisboa, expli-ca que o serviço premium inclui aoferta da viagem a Manchester - no

caso de querer escolher o seu

Bentley - ou a Sant'Agata Bolognese,a 30 km de Bolonha - no caso da

Lamborghini. "É a ferramenta quemais utilizamos, quando existe ummanifesto interesse. No caso da

Lamborghini, funciona com agendaprévia c levamos o cliente para con-figurar o carro. Tem lá outros quenão há no showroom. A tal costumi-

zação tem um leque de ofertas e

ideias e com os engenheiros da

fábrica e é uma experiência mais

gratificante", explica à SÁBADO.

A maioria dos clientes que rece-bem na loja no Estoril - mudaramde Lisboa para ser mais cómodo e

porque a maioria dos visitantes são

dessa zona - são portugueses, cercade 60%. Os restantes são estrangei-ros a residir em Portugal: brasileiros,franceses, ingleses ou angolanos."Podem escolher cor, os interiores,

personalizar os bancos com o quequiser. Pode bordar o nome ou umafigura. No caso da Bentley. nas ma-deiras também é possível. 0 cliente

português é muito conservador, ti-rando opções de cor arrojadas. Por

exemplo, o Lamborghini Aventador

SV) em violeta. Parece extravagante,mas um apreciador da marca perce-be que é uma homenagem aos pri-meiros Lamborghini Miura que eramvioleta", explica Miguel Costa. O res

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ponsável diz ainda que os clientes

asiáticos são os que fazem pedidosmais excêntricos: além da pinturaamarela, já teve casos em que inclui

ram nas madeiras de um Bentleyuma figura do horóscopo chinês.

A Porsche, com 260 carros vendi-dos em 2018, e a Ferrari, com 23,também têm acompanhado a ten-dência de crescimento. A fábrica ita-liana tem uma produção limitada acerca de 8 mil automóveis para criar

o efeito de exclusividade. Essa é a

razão pela qual para comprar umFerrari dos mais exclusivos, persona-lizados e caros não basta ter muitodinheiro. Um dos requisitos que dão

prioridade é ser cliente da marca.

Miguel Madeira Alves tem a carac-terística de ter um veículo de cadauma destas marcas. Comprou o pri-meiro Porsche cm 2009, um modelo911 Carrera, e já vai no sexto - o últi-mo é um Panamera, com matriculade 2018. Ter um Ferrari era um so-nho que conseguiu realizar em 2013.

O 458 Itália custou-lhe 213 mil euros

c gasta cm média 19 litros aos 100

quilómetros. Não anda com ele to-dos os dias porque, diz, só tem dois

lugares e "não dá jeito". O empresá-rio de Lisboa, 53 anos, que tem umlaboratório de controlo de qualidade,só tira o Ferrari da garagem em oca-siões especiais: "Levo-o, por exem-plo, quando vou jantar com a minha

mulher. Portugal é um país simpáticopara se ter um carro potente porqueas pessoas olham para o Ferraricomo uma obra de arte e até hojeninguém teve coragem de o riscar.Mas também há os que me chamamfascista e outras coisas. Faz parte",conta Miguel Alves.

OHelena AmaralNeto foi fotografa-da no Verride San-ta Catarina, umdos boutique-ho-téis mais luxuososde Lisboa

490mil milhões

é o valor esti-mado que as

vendas globaisdo luxo alcan-

cem em 2020,segundo um

estudo da

consultora

Ernest&Young

ComprasOs portuguesesainda preferemcomprar em lo-

jas físicas, 89%,bem acima da

média euro-peia, que se en-contra nos 60%

UM FATO DEMIGUEL VIEIRA PODE CUS-TAR €2.000. 0ESTILISTA JÁ

VESTIU 10PESSOAS

NO MESMOCASAMENTO

Casar em grande estiloOutra das áreas do segmento de luxo

em expansão é a dos casamentos.

No Ritz Penha Longa Resort, porexemplo, fazer um casamento podecustar 198 euros por convidado. Mas

a verdadeira exclusividade pode es-tar nos preparativos. Ura vestido de

noiva exclusivo, desenhado à medi-da por Miguel Vieira, exige pelo me -

nos cinco encontros especiais com o

estilista: "Tenho que estar uma pri-meira vez com a cliente para perce-ber o que ela quer. E são trabalhos

sempre complicados, porque nor-malmente há um ideal que vem des-de a infância", conta à SÁBADO. "No

segundo faço a proposta. No terceirofazemos a primeira prova, geral-mente com toda a gente a tirar foto-

grafias. Os outros dois momentossão para a prova."

Miguel Vieira já chegou a vestir 10

pessoas para o mesmo casamento,incluindo o pai do noivo e cinco

amigos, todos de fraque. "0 proble-ma é que passo muito tempo fora O

EntrevistaHELENA AMARAL NETO

"Portugal temuma oferta queo torna único"

Qual é o perfil do português con-sumidor de luxo?Nâo há um perfil específico. Temosdos jogadores c treinadores de fute-bol a famílias tradicionais ultradis-cretas para quem o luxo não repre-senta ostentação. Em Portugal hámuita discrição no consumo, não te-mos uma cultura de show-off ou

pelo menos não é visível como naChina ou no Médio Oriente, em quetudo o que não brilhar não interessa.

Mesmo quando estamos a falar decarros potentes?Podemos ter um carro ultrapotentemas sem logotipo. À medida que os

povos se habituam a lidar com pro-dutos de luxo procuram cada vezmenos ostentação. Nos países do

Médio Oriente, a Ralph Laurcn de-senvolveu uma coleção específicaem que tem o seu logotipo em tama-nho XXL. Mas estas T-shirts não ven-dem nos países europeus. Uma das

tendências nos mercados mais sofis-

ticados é o fenómeno do no logo, porexemplo, uns ténis todos brancos,

sem marca.Em que é que Portugal se distin-

gue para estar na rota do luxo?Temos uma oferta que não existe cmmais lado nenhum e é ela que nos

toma únicos e deve ser preservada.Não devemos replicar o que existe

no Dubai, em Miami ou em Paris. O

turista de luxo quando escolhe

Lisboa procura o que não encontranoutras cidades. Quer conhecerAlfama c a Mouraria, quer ficar nohotel que é um palácio reabilitado e

quer saber qual é a tasca onde os

locais vão almoçar.Qual é a nacionalidade que mais

procura estas experiências?Os que mais nos visitam continuama ser os ingleses, os que mais procu-ram luxo são chineses, brasileiros e

os do Norte da Europa, suecos e no-ruegueses. Há uma aposta grande nomercado norte-americano, que ain-da é muito pequeno, mas tem umenorme potencial.

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O do Pais e é preciso arranjar agen-da. Os clientes exigem que seja eu,não pode ser um assistente." Em99,9% dos casos, diz, são portugueses, e é muito comum vestir, pelomenos, a noiva e o noivo. Preços?"Não posso revelar", diz o estilista, "é

muito variável, não há um intervalo".

Apesar de não falar em valores, é

fácil perceber que serão sempre ele-vados - um fato de homem do esti-lista de São João da Madeira custa

entre os 700 e os 2 mil euros, nuncamenos. Sobretudo por causa das

matérias-primas. "Trabalho com ca-xemiras e alpacas, nunca quis passar

para o poliéster para baixar os pre-ços. E verifico que há uma grandeapetência por esse tipo de produtos.As pessoas preferem ter um pulloverde caxemira a 10 pullovers de quali-dade inferior", diz. Mesmo os portu-gueses? "O meu foco sempre foramos portugueses. Sempre segundo a

máxima: o guarda-vestidos de umhomem e de uma mulher pode ter

pouca roupa, mas deve ter boas peças, intemporais. São clientes queapreciam a matéria-prima, os deta-lhes de luxo. Cerca de 20% dos nos

sos clientes são portugueses, a maior

parte mulheres, entre os 25 e os 35,

40 anos, e gradualmente a procuratem vindo a ser maior."

Apesar de tudo ser pensado ao

pormenor, imprevistos acontecem."Um dia meto-me no carro para ir

entregar um fato de noivo e estava

stressadissimo, porque tinha de irvestir os dois, a noiva e o noivo, a ca-sas diferentes. O noivo levava umacamisa com botões de punho e ai -

guém tinha embrulhado os botões

num papelinho, parecia um papel de

jornal. Ia no carro com aquele pape-linho no banco do lado e aquilo esta-va-me a irritar, por isso atirei-o paraa rua. Sõ depois do camião que vi

nha atrás lhe passar por cima é queme lembrei que podiam ser os bo-tões. Acabei por tirar os da minhacamisa para improvisar uns botõesde punho. Acho que qualquer de-signer internacional ia bloquear e fa-zer uma chamada para o diretor

criativo, mas nós portugueses temosesta capacidade de desenrascanço."

Os luxos dos casamentos podemestender-se também às bebidas. Hámilionários portugueses que em casasó bebem Ruinart e outros que fa-zem fila para ter este champanhenas festas e casamentos da família.Uma fila cara. "Se estivermos a falarde um casamento com 300 pessoas- e |á aconteceu - só para o brindesão precisas 60 garrafas, o que fica

ema cerca de 4 mil euros. E os portu-gueses que nos compram Ruinart

compram muito mais que isso, não é

só para o brinde", explica Inês Ma-chado, diretorade marketinge co-municação da Empor Spirits, espe-cializada na representação de bebi-das premium. Ou pelo menos tentam

comprar. "Temos de recusar muitos

pedidos, ou vender apenas parte das

garrafas pretendidas. Não temos

quantidades suficientes para dar res-

posta, é uma guerra", brinca. "Nocaso da Ruinart todos os canais de

vendas cresceram e só temos direito

a um determinado número de garra-fas por ano, não chegam para os pe-didos. Por nós vendíamos para toda

a gente, mas não conseguimos."Além de um aumento de consumo

desta marca de champanhe, desde2016 que a garrafa mais vendida

pela Empor deixou de ser a mais ba-rata, a de Ruinart Brut, que num res-taurante custará sempre entre 80euros e 100 euros - agora vende-sesobretudo o Blanc de Blancs, umchampanhe feito apenas com uva

Chardonnay. com um preço médiode 120 euros. "O aumento das yendas do Blanc de Blancs foi a dois dí-gitos", acrescenta Inês Machado.

Os pedidos especiais dos clientes

são habituais. "Temos um português

que é quadro de direçâo de um banco e viaja imenso. É um cliente habi-tual da nossa garrafeira e sempreque bebe um vinho estrangeiro de

que gosta muito envia-nos uma

mensagem com uma fotografia para

OPaulo Morais jáfechou o restau-rante para servirapenas quatropessoas: pagaram1.200 euros

EM 2018 OVINHO MAISCARO VEN-DIDO PELA

EMPOR,NA RUA

CASTILHO,CUSTOU

2.500 EUROS

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o encontramos aqui", conta. Tam-bém foi um português que, em 2018,

comprou o vinho mais caro vendido

pela garrafeira da Empor, na ruaCastilho, nesse ano eleita a melhorde Portugal. "Uma garrafa de Quintado Noval Nacional 2016. que custou2.500 euros." É nesta garrafeira quea Empor organiza provas exclusivas,sobretudo de vinhos, como o Barca

Velha, os Vega-Sicilia (com garrafasentre mais de 100 e os 1.000 curos),vinho da Madeira Barbeito (200 a500 euros por garrafal ou Quinta doCrasto. "O preço da prova são 50 eu-ros, a lotação máxima 45 pessoas,temos sempre casa cheia e uma lista

de espera com uma média de 10 a 15

clientes", explica Inês. "A própriaEmpor tem tido um crescimento atrês dígitos, o que demonstra que ha-via uma grande procura no mercadodas bebidas premium." No caso dos

whiskies japoneses Nikka. "sobretu-do das referências mais caras, tam-bém temos sempre mais procura do

que garrafas para vender".

Gosto por comer e beberA predisposição para os portugueses

comprarem produtos de luxo é

notória também numadas necessidadesmais básicas: a

alimentação.De acordocom o recente

estudo Changing Conswner Prosperity, a consultora Nielsen destaca

que 36% dos consumidores portu-gueses escolhe lojas de segmentosmais altos para comprar carne, pei-xe ou marisco. Um valor que temvindo a crescer. Um dos reflexosdesse aumento é o espaço gourmetdo El Corte Inglês de Lisboa, que noano passado deixou de estar inseri-do no supermercado e duplicou aárea ao mudar-se para um piso ex-clusivo. "As vendas têm crescido to-dos os anos, desde que inaugurámoso espaço há 17 anos", garante ã SÁ-BADO a diretora de comunicaçãoSusana Santos. "Os portugueses vêm

cá para encontrar produ-tos que não há

noutros sítios.

Temos 8.000produtos, da

charcutaria aoschocolates. A nossa

garrafeira é uma das mais ricas da

cidade", garante. Um dos produtosmais vendidos é o presunto ibérico.

Preço: 500 euros cada.Se há mercado para os produtos de

luxo na área da alimentação, nãoadmira que na restauração essa dis-

ponibilidade vá ainda mais além:

como pagar 1.200 euros para jantarsem ninguém ao lado. Aconteceu no

Kanazawa, o restaurante japonêsmais exclusivo de Lisboa (em Algés),com apenas oito lugares. "Acho quefoi o pedido mais extravagante queme fizeram. Um grupo de quatropessoas queria estar á vontade, sem

mais ninguém na sala, e perguntou-nos se podíamos fechar o restau-rante para eles", conta o che/ Paulo

Morais. "Tiveram de pagar os oito

lugares. Tinham escolhido o menukalseki. que custa 150 euros porpessoa, com vinhos incluídos, e emvez de quatro menus pagaramoito", conta. "Até fomos meiguinhosno preço", brinca, "foi só mesmo o

valor base do menu' 1

.

Paulo Morais esperava outros pedi-dos especiais do grupo. Não aconte-ceu. "Pelo que percebi não havia ne-nhum aniversário ou circunstância

especial, queriam mesmo estar sos

segados. E só beberam água e saque,

portaram-se bem", graceja. No Ka-nasawa, os menus variam entre os

60 euros e os 150 euros e cerca de

metade dos clientes são portugue O

OO empresárioMiguel MadeiraAlves realizou osonho de ter umFerrari em 2013.O 458 Itália custou--1he213 mil euros

RESERVAR OCOMBOIO

THE PRESI-DENTIALCUSTA 40

MIL EUROSE HÁ QUEM

FAÇA FESTASFAMILIARES

OUm AMG ProjectOne, no valor de3 milhões deeuros, foi enco-mendado parao Norte do país

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O ses. "Nos últimos tempos nota-se

que os portugueses têm uma maiorpredisposição para gastar. Já nem

consigo acompanhar o número derestaurantes que abrem", confessaPaulo Morais, que tem vários clientesassíduos. "Todos os meses mudamos

o menu. Acho que ainda não houvenenhum português que viesse as 12

vezes, mas sete ou oito sim. Os queregressam são os mais comuns entreos nacionais."

Uma das mais recentes tendênciasdo mercado do luxo é aliar uma re-feição a uma experiência. Por exem-plo, almoçar no restaurante Sal, emcima do areal da Praia do Pego, noCarvalhal - onde facilmente se pagacerca de 50 euros por pessoa, se não

se exceder nos pedidos e que a re-vista Conde Nast Traveler]á elegeucomo um dos melhores do mundo -,mas chegar lá de helicóptero. Nãoseria inédito, garante Ruben Bensi-

mon, da Lisbon Helicopters: "Cercade 6096 dos nossos clientes são por-tugueses e esse é um dos serviços

que nos pedem: ir de helicóptero atéà Comporta, esperar duas horas poreles, e trazê-los de volta a Lisboa.

Geralmente são casais que vão al-moçar ao Sal." Neste caso, a desloca-

ção implica pouco mais de uma horade voo e uma fatura que ronda os

1.100 euros - se for num helicóptero

que permite levar três passageiros,

porque o preço sobe se forem seis

pessoas, o máximo que o maior veí-culo da Lisbon Helicopters permitetransportar. "Também nos pedem o

mesmo serviço, mas para almoçarno Oitavos", um dos hotéis mais lu-xuosos de Cascais, "ou para fazer

passeios no Douro, neste caso commais horas de voo". Alguns clientes

também lhes pedem flores frescas

ou garrafas de champanhe Moêt &

Chandon a bordo. "E acontecemimensos pedidos de casamento nos

nossos helicópteros", acrescenta Ruben Bensimon.

O DONO DAVILLA PEDRA,

EM SOURE,INSTALOUUM HELI-

PORTO PRI-VADO PARAOS CLIENTES

MAISEXCLUSIVOS

NovidadeSó em fevereiro,os portuguesescompraram 109automóveis da

Tesla. Os preçosvariam entre os

€56.900 e os€102.700

OGonçalo Castel--Branco é o autordo projeto ThePresidential eanfitrião da

viagem nohistórico comboio

As nannies de luxoOs clientes portugueses têmaumentado nos últimos anos

Há cada vez mais pais a con-tratarem amas para ficarem emcasa com os filhos. É o que reve-la à SÁBADO, Filipa Almeida, da

Nanny Portugal. O serviço desegunda a sexta custa entre850 a 1.200 euros por mês. Hátambém mais pessoas a levaremnannies de férias, com um custoentre os 100 e os 170 euros/dia:1.700 euros por 10 dias.

Roteiros no DouroA norte do País, considerada umadas experiências de luxo mais dife-renciadoras, o The Presidential trazos melhores talentos culinários abordo daquele que foi o comboio

presidencial, num percurso pela li-nha do Douro. Construído em 1890 e

restaurado em 2010, recebeu chefesde Estado e convidados de honracomo a Rainha Isabel II e o PapaPaulo VI. A viagem de um dia parteda estação de S. Bento, no Porto,com paragem na Quinta do Vesúvio,em Vila Nova de Foz Côa, e regressaao Porto. A próxima edição terá 12

viagens, entre 20 de setembro a 26de outubro e custará €650 por pes-soa. Cerca de 70% dos clientes habi-tuais são estrangeiros, à exceção da

última edição em que os portugueseseram a maioria.

Por ano, reservam 12 datas e mais

quatro para quem pretende compraro comboio inteiro, o que já aconte-ceu muitas vezes, mesmo custando40 mil euros. "Uns milionários chi-

neses quiseram o comboio só paraeles. Eram uma família de quatropessoas e dois seguranças, e estavam

dispostos a pagar o que fosse e aindadavam um donativo para o MuseuNacional Ferroviário, onde se en-contra a composição. Só que, entre-tanto, isso não foi possível porque o

comboio já tinha atingido o limite de

quilómetros", conta Gonçalo Castel--Branco, criador do projeto The Pre-sidencial, distinguido pelo Bea

World, os "óscares" mundiais do se-tor do turismo, em 2017. Também jáhouve portugueses a fazer reservas

para festas familiares: "Já tivemos

um casal que comemorou as bodasde ouro no comboio e até um pedidode casamento."

No fundo, trata-se de privilegiar a

qualidade, em vez da quantidade."Passámos de um País focado no

golfe e na praia para uma oferta aomais alto nível, claramente de luxo.E é um luxo português, em que a

simplicidade passou a ter uma im-portância enorme e que é, aliás,uma das tendências no luxo: a tran-quilidade, o bem-estar e a exclusi-vidade. Experiências únicas são

hoje os novos luxos", explica Hele-na Amaral Neto.

É por isso que há muitas unidades

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hoteleiras a aumentar este tipo de

oferta. A herdade São Lourenço do

Barrocal, em Monsaraz, com as suas

extensas áreas de vinhas, olivais e

hortas biológicas, oferece um retirode Transformação de Vida e de

Bem Estar, com duas instrutoras da

Austrália e dos EUA, em junho. O

programa de cinco dias, que inclui

alojamento e refeições, custa €2.700por pessoa. Outro exemplo da apostano wellness é o Vila Vita Pare Resort

& Spa, em Porches, no Algarve, queacaba de inaugurar um spa, comSOO ml A infindável lista de trata-mentos inclui um programa de rela-xamento a partir de €660. Villa Pe-dra, situada em plena encosta daserra de Sicó, em Soure, é um turis-mo rural com 14 casas rústicas, pro-curado maioritariamente por estran-

geiros de todo o mundo. "As pessoasdão cada vez mais prioridade aoluxo da simplicidade. É um turista

que pode pagar um Ritz em Lisboa,mas prefere vir para o campo, apre-ciar a vida saudável e a comida com

produtos da região. Temos muitosholandeses, alemães, italianos, ingle-ses, irlandeses e franceses. Canadia-nos e norte-americanos também e

sobretudo gente nova", diz ManuelCasal, dono da Stivali. Para os clien-tes mais exclusivos, o também pro-prietário da Villa Pedra, instalou ali

um heliporto privado, com um H daHermes escolhido por ele próprio.

Outra característica que situa Por-

tugal na rota do luxo é o vinho, A Wi-ne Tourism in Portugal (WINTP) or-ganiza tours luxuosos no Porto e no

Douro a bordo de um cruzeiro privado de sete dias, que custam 4.400euros por pessoa. "Quem nos procurapretende acima de tudo um serviçoexclusivo, qualidade e autenticidadeem cada experiência. Num único

contacto, o cliente pode reservar um

palácio para desfrutar de um menude degustação ou um encontro priva-do com o proprietário de uma quintaou um enólogo. Um passeio de heli

cóptero, numa embarcação de luxo

com paragem nas quintas mais pres

tigiadas ou um serviço de sommelier

privado com prova de vinhos rarossão algumas das experiências", refereSílvia Ferreira, CEO da WINTP.

Viagens personalizadasNo fundo, vão ao encontro da

palavra-chave no setor da viagens:personalização. "Há cinco anos os

nossos produtos mais populareseram os pacotes ]á feitos, porque as

pessoas tinham plafonds mais aper-tados", diz à SÁBADO António Al-verca, diretor da Leaving Tours, umadas agências nacionais que permiteaos consumidores personalizar aodetalhe os percursos. "Agora, com

plafonds maiores, querem fugir do

turismo massificado e descobrir des-

tinos novos,"Em média, um cliente português

chega à Leaving Tours com um pla-fond entre os 5.000 e os 6.000 euros

e tem como preferência destinos

asiáticos, como o |apão, a Tailândiaou a Polinésia Francesa. As condi-

ções mínimas requeridas envolvem

sempre voos diretos em primeiraclasse, hotéis de cinco estrelas pertoda praia (sempre que aplicável) e

suítes com vista."Tem aumentado também a pro-

cura de circuitos que comecem porum safári na Tanzânia, em que se

explora a reserva, e terminem nas

praias de Zanzibar", afirma AntónioAlverca. Muitos clientes optam ainda

por pedir um jantar para dois no

meio da selva, um extra que podecustar até mais 500 euros.

Na WINTP, os clientes são maiori-tariamente norte-americanos e ca-nadianos, ainda que haja um núme-ro considerável de portugueses. 0core da WINTP são os itinerários

personalizados, em que o cliente de-cide como organizar a sua rota paravisitar Portugal com o auxílio de uma

equipa de especialistas no turismovinícola e gastronómico. "O sigilo e aconfidencialidade são a alma deste

tipo de negócios. Já tivemos clientes

a usufruir de tours entre 15 e 20 dias,

com tudo planeado à sua medida,

alojamento de luxo, restaurantescom estrela Michelin, embarcaçõesde topo e todas as características de

exclusividade. Nestes casos, as cota-

ções atingem valores elevados", O

OCaetano Beirãoda Veiga Júnior é

o dono da Empor,que vendeRuinart, aexclusiva marcade champanhe

UMCRUZEIRO

PRIVADO DESETE DIAS

NO PORTO ENO DOURO

CUSTA 4.400EUROS POR

PESSOA

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O revela a fundadora da WINTP. 0The Yeatman. selecionado pela Virtuoso — a principal rede global de

agências especializadas em viagensde luxo e experiências -, também

segue a temática vínica. A Presiden-

cial, a suite mais luxuosa deste hotelde Vila Nova de Gaia, rem uma cama

king size em forma de balseiro. Com

uma área de cerca de 170 m 2e vista

para o Douro, dispõe de dois quartose piscina privativa num terraço de115 m

2,

com jardim. O preço por noiteronda os €2.500.

Ao nível mundial, as vendas de to-dos os setores do luxo em 2018 estãoestimadas em 1,2 triliões de euros,valor que exclui o imobiliário quemovimenta quantias ainda mais as-tronómicas. O setor, já se sabe, temestado em alta nos últimos anos - eisso inclui o segmento de luxo, das

casas vendidas por mais de 1 milhãode euros.

Na Quinta da Marinha, em Cascais

a constaição no último grande lotede terreno disponível vai começarainda este mês. Há mais de 10 anos,desde a construção do hotel Shera-ton, que não havia um projeto destadimensão na zona, com um investi-mento superior a 100 milhões de euros. No Bloom Marinha, um condo-mínio privado de moradias, todas

com jardim e piscina, as vendas têmsido feitas de forma privada, ainda

sem qualquer promoção.A SÁBADO sabe que cerca de 50%

das 88 moradias já estão vendidasmais ou menos metade delas a

portugueses. "Tem havido

uma procura muito grande.Há muitas pessoas que querem uma moradia com jar-dim, daí o atrativo de um con-domínio de moradias. Depoisnão são casas exageradamentegrandes, há muitas pessoas, no

meadamente portugueses, que dei-

xaram de ter os filhos a viver comeles e querem casas mais pequenas.A segurança é outro dos atrativos.Muita gente não quer moradias sol-

tas por medo", diz uma íonte ligadaao imobiliário da zona.

O preço não é um problema paraos clientes que procuram o exclusivocondomínio |unto ao golfe, que con

tara com segurança privada, serviçosde reservas, de manutenção de

quartos c de limpeza - incluindo de

jardins e piscinas - além de umaárea infantil e de supermercado. Amoradia mais pequena, um Tl comuma área total de 320 metros qua-drados (145 de construção coberta)

não custará menos de 700 mil euros:

e no caso dos 16, a maior tipologiadisponível, com 2.900 metros qua-drados de terreno e uma casa de 850metros quadrados, o valor de venda

chega aos vários milhões. "O projetotem uma arquitetura muito contem-

porânea, com muita luz. uma envol-vente muito verde. Não há muitaoferta deste tipo", diz à SÁBADO

Adriano Callé Lucas, o arquiteto res

ponsável pelo pro]eto e presidentedá Zaphira Capitai, promotora e

maior acionista do empreendimento.Para além de os portugueses esta-

rem a comprar mais casas a um pre-ço médio por metro quadrado

muito elevado, estão-no a fa-zer com menos ajuda da

banca. Segundo os dados

do Instituto Nacionalde Estatística, a avaliação bancária das

casas está em máxi-

mos de 11 anos, atingindo os 1.226

euros por metro quadrado. No en-tanto, e como afirmou Luís Lima,presidente da Associação dos Pro-fissionais e Empresas de MediaçãoImobiliária de Portugal (APEMIP),ao ]ornal Expresso, em Lisboa e noPorto "dois terços dos negócios dis

pensam o crédito bancário", ou

se|a, estão a ser pagos a pronto pa-gamento, sem endividamento.

"A localização é palavra-chave e

um ponto que desde cedo tivemosna nossa mente: temos de ter casas

em zonas que as pessoas procu-ram", explica Miguel Tilli da Home-lovers, a agência imobiliária funda-da no Porto, em 2011. A Homeloversrevela, embora não identifique o lo-cal por razões de confidencialidade,

que já vendeu um palacete TlO, de850 m

2,com anexo, garagem para

cinco carros, jardim, campo de fute

OMetade das mora-dias do últimogrande lote daQuinta da Marinhajá estão vendidas

A SUÍTEPRESIDEN-

CIAL DO THEYEATMANTEM UMA

CAMA KINGSIZE EM

FORMA DEBALSEIRO

OFilipe Lourenço édiretor da PrivateLuxury. A imobiliá-ria tem uma iistade espera paracomprar palacetes

Lisboa na rota do luxoA capital tem recebido várioseventos sobre o segmento alto

Depois de em abril de 2018ter recebido o maior eventointernacional do luxo, a CondeNast International Luxury Con-

ference, Lisboa prepara-se paraa Luxury Shopping Talks' 19.a 3 de abril. Esta conferênciavai debater a importância de

Portugal como destino de

compras de luxo, com oradoresnacionais e internacionais.

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boi, piscina e uma fonte antiga, por7 milhões de euros.

Os portugueses continuam a ser os

principais clientes das agências imo-biliárias de luxo, embora sejam se-

guidos de muito perto pelos consu-midores de mercados globais: o chi

nês. o sul-africano, o angolano, o

brasileiro e o norte-americano. NaPorta da Frente Christie's, o compra-dor português dominou com 155

vendas e um valor médio a rondar os

€800 mil; o brasileiro com 86 e €1milhão e o francês com 17 negócios e

um valor médio de €1.2 milhões, em2018, ano em que a agência mais

propriedades vendeu desde a sua

fundação, em 1995.

Sala com vista para o carroNum setor exclusivo há histórias ca-ricatas, tendo em conta as diversas

culturas de clientes estrangeiros que

procuram as imobiliárias. "Lembro--me de um cliente que queria um

apartamento ou uma moradia comuma exigência fundamental: umasala com vista para a garagem ouuma forma de trazer o seu potentecarro desportivo para dentro de

casa", conta à SÁBADO Filipe Lou-

renço, diretor da Private Luxury. "Naaltura em que procurava um imóvel

com essa característica tão rara nãohavia nenhum disponível."

Outro caso bizarro foi o de umitaliano, que já era dono de diversos

palácios e palacetes por todo o mun-do e que queria comprar um em

Portugal que estivesse "localizadoem cima do mar". Também há clien-tes que se revelam preocupados emverificar se a casa que lhes interessa

"tem boas energias", recorrendo ao

uso de uma espécie de pêndulo. Os

palacetes na Private Luxury têm umalista de espera de 25 clientes, "maio-ritariamente de proveniência euro-

peia ou árabe". No entanto o último

palácio, comercializado por esta

imobiliária, construído em finais do

século XVII, foi vendido a um suíço.O imóvel situava-se na região de

Lisboa, tinha uma área de 2 mil m 2etetos trabalhados. "Era um clientecom grande interesse por patrimóniohistórico, particularmente pela ge-nuinidade e arquitetura portuguesa",revela Filipe Lourenço. O

OEste palácio emSintra está à ven-da por 8 milhõesde euros

1/3das vendas

de todos os

produtos deluxo no mjndosão feitas porchineses. São

os maio-os

globe shoppers

UM Tl COM320 METROSQUADRADOSNA QUINTA

DA MARINHANÃO CUSTA-

RÁ MENOSDE 700 MIL

EUROS

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