que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «deix «deixem que as crianças venham a...

35
que as crianças venham a mim» Mensagens bíblicas-teológicas para o ministério com a infância e com a juventude «Deixem SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA

Upload: others

Post on 03-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

que as crianças venham a mim»

Mensagens bíblicas-teológicas para o ministério com a infância e com a juventude

«Deixem

SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA

Page 2: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

2 «Deixem que as crianças venham a mim»

«Deixem que as crianças venham a mim»SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA

Este documento foi preparado pelo Movimento com a Infância e a Juventude (MIJ com o propósito de proporcionar às igrejas, instituições teológicas, organizações cristãs e líderes eclesiásticos em geral, um recurso educativo para uma reflexão bíblica, teológica e pastoral sobre o ministério com as meninas, meninos, adolescentes e jovens. Não pretende ser um documento conclusivo, senão um ponto de partida para posteriores reflexões e, sobretudo, para assumir maiores e melhores compromissos em este prioritário ministério.

O processo de redação1 foi participativo: durante um ano, a Mesa da Bíblia e Teologia do MJNJ trabalhou em diferentes versões do documento que depois pôs em mãos de mais de 120 líderes de igrejas para que fosse discutido, corrigido e melhorado.2 Este texto é o resultado de um longo processo no qual participaram pastores e pastoras, teólogos e teólogas, docentes e outros líderes de diferentes igrejas do continente, entre adolescentes, jovens e adultos.

Por sua parte, esta segunda edição é publicada um ano depois da primeira com algumas mudanças gramaticais, com a ampliação de certos temas e maior coerência e ordem em seu desenvolvimento.

Agora o documento será propriedade daqueles que desejem unir-se a este processo participativo: lendo-o, discutindo-o e meditando-o. O texto está dividido em parágrafos e cada parágrafo tem um número, isto com o objetivo de que seja possível fazer referências (citar partes específicas) com maior facilidade no processo de estudo e reflexão. Nossa oração radica em que o que começou como um texto escrito se converta, pela graça de Deus e pelo compromisso do seu Povo, em um movimento que, juntos com a infância e a juventude, faça possível uma Igreja inclusiva onde, aqueles que tenham sido considerados por sempre pequenos passem hoje a ser protagonistas da Missão e foco central do ministério.

Lembremos o que nos ensinou nosso Mestre: «Deixem vir a mim as criancinhas. Não as impeçam de vir a mim, porque o reino de Deus é dos que são como eles. Eu garanto que a pessoa que não confia em Deus como o faz uma criança, não poderá entrar no reino de Deus». (Lucas 18:16-17).3

Enrique Pinedo Coordenador do Movimento com a Infância e a Juventude

Harold SeguraMembro do Comitê Diretor e Coordenador da Mesa de Bíblia e Teologia

São José, Costa Rica, março 1 de 2016

1 A equipe de redação foi formada por Nicolás Panotto (Argentina), Edesio Sánchez (México), Ruth Alvarado (Peru), Ángel Manzo (Equador), Juan José Barreda (Peru - Argentina) e Harold Segura (Colômbia - Costa Rica). Também participaram como leitores e corretores da primeira edição: Luciana Noya (Uruguai), Illich Avilés (Nicarágua) e Priscila Barredo (México - Costa Rica). O editor geral foi o Coordenador da Mesa de Bíblia e Teologia: Harold Segura.

2 Foram tomados em conta as contribuições que surgiram do trabalho em grupo de mais de 100 participantes do Congresso Mesoamericano A Infância, Coração da Missão, celebrado em San Salvador, El Salvador, em outubro de 2014 e convocado pelo Movimento Juntos com a Infância e a Juventude e também do encontro de teólogos, biblistas e pastores reunidos na Conferência Latino-americana sobre Teologia da Infância, auspiciada por Child Theology Movement, em Quito, Equador, de 17 a 21 de agosto de 2015.

3 Todos os textos bíblicos foram pegos da Bíblia Tradução em Linguagem Atual, TLA, Sociedades Bíblicas Unidas, 2003.

Page 3: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

3 «Deixem que as crianças venham a mim»

ÍNDICEPRIMEIRA PARTE: Nossas meninas e meninos hoje

Infância em situação de risco social. Infância vulnerável e vulneradaUm problema «de grandes»O adulto centrismo nas nossas igrejasOnde estão nossas meninas e meninos?

SEGUNDA PARTE: As meninas e os meninos no reino de Deus

O que é e o que pode ser Os pequenos e as pequenas do reinoO reino e a famíliaMeninos e meninas: sujeitos teológicos do reino

TERCEIRA PARTE: Do Deus Patriarca ao Deus Família

Imagens de DeusSobre a comunidade do Deus Trinitário e a família

QUARTA PARTE: Eclesiologia desde a infância

Igrejas de meninos e meninas Igrejas que aprendem a brincarMeninos e meninas no centro Teologia e brincadeirasMissão desde a infância: conversão, evangelização, discipulado e pastoral

QUINTA PARTE: Desafios: transformar e ser transformados

Igreja serviçal e proféticaIgreja sensível e disposta a aprender Igreja intergeracional e inclusivaIgreja gentil e promotora de justiçaIgreja formadora e protetora

Proposta de mediação pedagógica

5

8

11

14

18

21

Page 4: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

4 «Deixem que as crianças venham a mim»

INTRODUÇÃO

0. Meninos, meninas e adolescentes representam os setores mais numerosos de nossas sociedades latino-americanas e, além disso, são os mais vulneráveis em contextos de pobreza, injustiça e desproteção.4 Eles formam parte dos grupos mais afetados por diversas problemáticas como a violência, migração, HIV e AIDS, entre outros. Dito panorama forma parte da realidade cotidiana em nossas comunidades e igrejas. Consequentemente, para enfrentar esta situação devemos indagar sobre as estatísticas e outros dados quantitativos, especialmente em torno a suas causas. A partir daí, é nossa responsabilidade refletir em como podemos agir desde nossas perspectivas de fé. Como povo de Deus devemos nos interrogar sobre o que nos ensinam as Escrituras, repensar nossa ética cristã, avaliar nossa missão e as possibilidades concretas com as que contamos para agir como agentes de transformação.

4 Ver relatório 2014 de UNICEF: http://www.unicef.org/spanish/sowc2014/numbers/

Page 5: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

5 «Deixem que as crianças venham a mim»

Nossas meninas e meninos hoje

1

Page 6: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

6 «Deixem que as crianças venham a mim»

1. As estatísticas e os estudos sobre a situação dos meninos, meninas e adolescentes na América Latina nos mostram uma imagem que deve nos preocupar seriamente: a «infantilização da pobreza». O subgrupo mais numeroso dentro dos setores empobrecidos e indigentes na nossa região são meninos e meninas. A pobreza é entendida não somente como carência econômica, mas também como falta de acesso a serviços básicos de saúde, à educação formal, a espaços para participação e espaços de proteção. A violência, o abandono, a discriminação, a exclusão, a desproteção e a propagação de enfermidades, entre outras problemáticas, se apresentam com maior magnitude em contextos de pobreza.

2. Na América Latina, mais de seis milhões de meninos e meninas sofrem de abuso físico, incluindo o abandono. Mais de 80.000 meninos e meninas menores de 18 anos morrem cada ano por abuso dos seus pais. Os 5 países com porcentagens mais elevadas de violência são Nicarágua, República Dominicana, Peru, Costa

Infância em situação de risco social. Infância vulnerável e vulnerada

Rica e El Salvador. Esta situação também se reflete nas igrejas, especialmente a partir de uma interpretação errônea das Escrituras no que diz respeito ao castigo físico. Estas, em muitos casos, servem como motivadoras ou legitimadoras de situações de abuso e violência no seio de famílias cristãs.

3. Em uma investigação realizada no Peru e na Bolívia5

sobre as igrejas evangélicas e a violência doméstica, no parágrafo sobre crenças e práticas de castigo e disciplina dados aos meninos e meninas, é constatado que mais da metade das famílias evangélicas está de acordo ou parcialmente de acordo com o castigo físico; mais da terceira parte afirma que o faz com instrumentos como cintos, varas ou outros objetos. Também foi comprovado que no Peru o castigo físico em lares evangélicos é praticado com mais frequência que em outras famílias da sociedade peruana, e na Bolívia, apesar da diminuição no uso do castigo físico dentro do âmbito familiar, aumentou o castigo psicológico. Em ambos os países são as meninas que mais sofrem com castigo físico.

4. Em esta mesma investigação foi demonstrado que o número de abusos sexuais feitos contra os meninos é alto: um 90% dos casos corresponde às meninas, sendo familiares ou pessoas conhecidas da vítima os causadores desses abusos mais comuns. A esse respeito, as porcentagens de abuso sexual em adolescentes entre 15 e 19 anos alcançam um 20% em vários países do continente. Além disso, o problema do Tráfico6 de menores é crescente na região: na América Latina 2 milhões de meninos, meninas e adolescentes são vítimas de exploração laboral e exploração sexual comercial.

5. O impacto que a epidemia do HlV e AIDS está tendo na infância é devastador. Mais de 2 milhões de meninos e meninas vivem com HIV e AIDS no mundo e se calcula que 47.000 estão na América Latina e no Caribe. Apesar de que na Região tenham conseguido avançar no cuidado e no tratamento das pessoas adultas, não acontece a mesma coisa com os meninos e meninas. Sem o entorno protetor de suas famílias

os meninos e meninas vulneráveis e em situação de orfandade devido ao HIV e AIDS se enfrentam a um maior risco de desnutrição, violência, exploração e abuso.

6. Um grupo que poucas vezes é visto dentro do círculo de vítimas ou em situação de risco são os meninos e as meninas envolvidas na delinquência. Em muitos casos, existem bandas ou «tribos urbanas» organizadas que recrutam menores, alguns de muito pouca idade, que são influenciados para manter estilos de vida impregnados pela violência. São diversos os fatores que contribuem para o envolvimento desses meninos em estas bandas delitivas: casos de violência dentro da família das que eles querem fugir, discriminação racial, pobreza extrema, anomalia social por migração, corrupção policial, ambição por obter certas posses influenciada pela sociedade de consumo, etc. Estes grupos não somente se caraterizam pela delinquência, senão que também por um forte sentido de propriedade, comunidade de respeito e autonomia que muitas vezes não sentem em suas famílias nem por parte do resto da sociedade.

7. Como outra cara de esta realidade, devemos reconhecer que existem cada vez mais políticas sociais e iniciativas de diversos atores em favor dos meninos e das meninas. Durante a última década vários governos na América Latina vêm se aprofundando no estabelecimento de políticas públicas comprometidas com este setor desde oportunidades mais igualitárias em educação, saúde, gênero, justiça em casos de violência doméstica até a geração de contextos de igualdade de oportunidades para aqueles que estão em condição de pobreza. No entanto, as problemáticas antes mencionadas persistem e os meninos, meninas, adolescentes e jovens representam o setor de maior vulnerabilidade com respeito aos problemas sociais de nossas sociedades.

Um problema de «grandes».

8. As cifras citadas no parágrafo anterior mostram uma realidade que vemos ao nosso redor dia a dia. Agora, a pergunta é: Por que os meninos e as meninas do

5 Relatório, Dentro de quatro paredes. Evangélicos e a violência doméstica no Peru e na Bolívia: http://institutopaz.net/recursos/resumen-ejecutivo-dentro-de-las-cuatro-paredes http://institutopaz.net/recursos/resumen-ejecutivo-dentro-de-las-cuatro-paredes-bolivia6 OTráficodepessoasrepresentaocomércioilegaldepessoascomfinsdeexploraçãosexual,trabalhoforçadoeoutrostiposdeescravidão.

Page 7: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

7 «Deixem que as crianças venham a mim»

nosso continente são o grupo mais vulnerável? O que existe de particular com as circunstâncias deste setor para ser considerado vítima de tais premências? As respostas a estas perguntas estão estreitamente vinculadas às formas nas que compreendemos e definimos quem são nossos meninos e meninas, o qual se relaciona, ao mesmo tempo, com o lugar que têm nas sociedades latino-americanas. A maneira em que responderemos à pergunta básica do que significa ser menino e menina resultará em diversas formas de agir, de entender a realidade e de reconhecer a infância em nossas comunidades. Diante das diferentes compreensões sobre a infância corresponderão certas maneiras de agir dirigidas a ela.

9. Muitas vezes as práticas e circunstâncias de exclusão são dadas por naturalizar a condição dos meninos e das meninas dentro de certos esquemas e estruturas rígidas e erradas. Daqui emergem muitas interrogantes cujas respostas necessitarão ser abordadas contextualmente e como diálogo entre distintas áreas de estudos (sociais, médicas, psicológicas, teológicas, entre outras), onde a definição de menino ou menina não se reduza a categorias biológicas, e que, por outro lado, se pense desde nossa diversidade de realidades latino-americanas. Por isso, ao longo deste documento nos perguntaremos: Que lugares têm as meninas e os meninos em nossas comunidades e igrejas? A partir de quais contextos são definidos o que é ser menino ou menina? As compreensões que conhecemos deles, a que perspectivas respondem? É possível que as mesmas legitimem sua condição de vulnerabilidade, ou ainda mais, que ponham os meninos e meninas em situação de risco?

10. A situação de risco na que se encontram os meninos e as meninas responde principalmente à cosmovisão adulto cêntrico que forma parte de nossas sociedades. O que queremos dizer com isso?

a. Que os meninos e meninas têm um lugar de inferioridade com respeito às pessoas adultas, o que se reflete em carência de direitos, de espaços de inclusão, etc.

b. Que existe uma divisão entre adultos e meninos

que se apresenta «naturalizada», em outras palavras, desde compreensões e definições que são aceitas porque estão – supostamente - inscrito em nossa condição humana - biológica e corporal -, em lugar de responder a cosmovisões sociais, culturais e temporais com respeito às determinações etárias transitórias e questionáveis. Esta divisão está baseada em caracterizações de ambos os grupos.

c. Que rege uma distinção muito marcada entre as «coisas que têm que ver com meninos e meninas» e as «coisas dos adultos». Isto produz distinções nas próprias relações de poder, de direito e de valor entre ambos os grupos onde os adultos são considerados superiores aos meninos e meninas.

d. Que há uma «lógica do adulto» e uma «lógica da infância» com respeito a como ver a vida, que se contrapõem entre si e não encontram maneira alguma de vincular-se, onde a primeira é vista como aquela a que se deve aspirar a chegar e a segunda como uma etapa inicial que deve ser superada.

11. Em resumo, um trabalho comprometido com a infância e com a adolescência implicará atender não só as consequências de certas práticas e contextos, senão também as visões, ideários e discursos que permitem ditas circunstâncias. Em outras palavras, necessitamos questionar o adulto centrismo presente em nossas sociedades, já que estes fenômenos dão lugar a que os meninos e meninas sejam vítimas de maltrato, violência e exclusão a partir de um uso desmedido de poder dos adultos, que se legitima a partir do suposto lugar de superioridade que possuem.

O adulto centrismo em nossas igrejas

12. O adulto centrismo afeta as nossas igrejas? Lamentavelmente a resposta é afirmativa. Podemos encontrar diversas cosmovisões que consideram inferior o lugar da infância, agora fundamentadas em leituras bíblicas e princípios doutrinais. Isto se vê refletido nos modos de organização ministerial, práticas sociais e estruturas de liderança onde a exclusão dos meninos e meninas se faz evidente.

13. Concretamente, podemos ver este adulto centrismo no lugar secundário que têm os meninos, meninas e adolescentes na organização da igreja e no

pouco protagonismo que possuem nas atividades consideradas como exclusivas das pessoas adultas. Desde uma perspetiva ainda mais ampla vemos esta dinâmica nas formas em que são compreendidas as doutrinas e as imagens de Deus, as quais respondem a uma visão adulta e masculinizada que representam somente de maneira parcial a revelação bíblica. Também é possível mencionar algumas práticas, tais como o batismo, a Santa Ceia do Senhor, a liturgia, entre outras, onde a infância e a adolescência estão, em muitos casos, completamente excluídas.

14. Mas, como já mencionamos, o adulto centrismo também é apresentado como uma forma de compreender a vida e o mundo. Categorias como força, domínio, controle, êxito, suspeita, rivalidade, entre outros, estão vinculadas a uma mirada adulta. Estas se contrapõem às categorias que são feitas com respeito à infância que estão ligadas a ideias como entrega, confiança, brincadeira, companheirismo e abertura para as outras pessoas. A oposição destas cosmovisões implica diversas definições sobre o lugar dentro da igreja, formas de vinculação na comunidade, práticas de espiritualidade, modos de exercer o poder, lugares dentro da hierarquia na estrutura eclesiástica, posicionamentos dentro do núcleo familiar, entre outros, que determinam a cada grupo em forma particular e as enfrenta de forma quase irreconciliável.

Onde estão nossas meninas e meninos?

15. Diante deste panorama uma proposta de mudança implica necessariamente ir ao fundo desta problemática: as cosmovisões (sociais, culturais e religiosas) que sustentam e fundamentam a posição de vulnerabilidade da infância. Em outros termos, os meninos e as meninas necessitam um novo lugar em nossas famílias, nossas comunidades, nossas escolas, nossas igrejas e nossos países. Por isso, hoje em dia se fala das meninas e dos meninos como sujeitos de direito onde se reconhece sua capacidade de eleger, de criar, de crescer, de participar, de acreditar e de ter voz.

Page 8: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

8 «Deixem que as crianças venham a mim»

As meninas e os meninos no reino de Deus«Então ele se sentou e chamou os doze e lhes disse: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último de todos, e o servidor de todos. E pegou um menino, e o pôs em meio deles; e pegando-o em seus braços, lhes disse: aquele que receba em meu nome a uma criança como esta me receberá a mim; e aquele que a mim me recebe, não me recebe a mim, mas sim Aquele que me enviou». (Marcos 9:35-37)

2

Page 9: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

9 «Deixem que as crianças venham a mim»

16. Jesus nos ensinou que o reino de Deus não está correspondido com as perspectivas de outros reinos. E o demonstra pondo uma menina ou um menino camponês em meio dos discípulos e mostrando-lhes que o Messias se identificava com ele ou com ela,7

vulnerável e cheio de esperanças e sustentada pelo amor de Deus.

17. A imagem de um reino de Deus se inspira nas esperanças do antigo Israel, especialmente em aquele tempo em que os povos seriam diretamente guiados por ele. Para que isto sucedesse Deus faria surgir a uma pessoa que o obedecesse em tudo e que seria um fiel testemunho para os demais: o Messias. Assim, em circunstâncias de crise moral, em situações de grandes conflitos sociais, e ainda mais, quando sofriam a opressão de governos estrangeiros que os maltratavam o povo fiel de Israel intensificava sua esperança na intervenção de Deus através de seu elegido e em prol do estabelecimento de um tempo de justiça, de arrependimento, de reconciliação, e de abundância; especialmente para aqueles que confiam em Deus e em aqueles que praticam seus ensinamentos.

18. O reino praticado e proclamado por Jesus se inspira em esta esperança, especialmente sobre a realidade da ação de Deus sobre os povos e suas circunstâncias. Em efeito, teve que ver com optar pelos mais desfavorecidos da sociedade daquele momento:

atender aos pobres, aos cativos, e lutar contra as injustiças no âmbito social, político, econômico e religioso (Mt 5:3, Lc 4.16-20). Para Jesus a vida no reino implicou atos de amor e de justiça onde muitas vezes rompeu com ideologias que legitimavam a exclusão às mulheres, a marginalização dos doentes, o desprezo aos estrangeiros, o abuso aos débeis e o menosprezo aos meninos. Com respeito a este último, é chamativa a aproximação que teve Jesus com meninas e meninos como mostra o Evangelho de Marcos: ao jovem paralítico em 2:1-12; a filha de Jairo em 5:22-24; 35-43; a filha da mulher sírio fenícia em Mc 7:25-30; ao jovem epiléptico em Mc 9:17-29, entre tantas outras alusões indiretas. Na incorporação destas histórias no Evangelho de Marcos, e nas histórias mesmas é possível apreciar que os ensinamentos e as vivências do reino de Deus estão estreitamente vinculados à vida dos meninos.

Os pequenos e as pequenas do Reino 19. Ao longo de toda a Bíblia existe um grupo de pessoas

ao que se ordena cuidar: as viúvas, os órfãos e os estrangeiros (Ex 22:22; Dt 14:29; 24:17,19-20,21; 26:13; 27:19; Sal 68:5; Jer 49:11; Sant 1:18, cf. Jn 14:18). Estes representavam setores com muitos direitos negados, como o da herança, o trabalho justo, o voto nas decisões sociais, a dignidade social, etc. No caso particular dos órfãos se refere não só a uma situação de simples «filhos sem pais», senão a meninos e meninas abandonados. Trata-se de aqueles cujos parentes próximos não quiseram cuidar depois da morte dos seus pais. Também, pode indicar a meninos e meninas cujos pais e familiares foram assassinados na guerra e vagam em busca de sustento, como também de pequenos e pequenas excluídos do grupo familiar por motivos de «impureza», em outras palavras, por ter doenças contagiosas, alguma deformidade física ou algum problema mental.

20. Estes também são os pequenos e as pequenas por quem Jesus tem um especial interesse e que também são metáfora de vida no reino. Particularmente, em Mateus 18 Jesus fala dos pequenos e das pequenas fazendo uma alusão a aqueles que seguem a Jesus

sendo como meninos (18:3). A metáfora pequeno faz menção à renúncia das categorias de poder e domínio contemporâneas e é um chamado a assumir uma opção de vida de serviço desde a vulnerabilidade como condição de confiança em Deus e de entrega ao próximo. «Como esta menina» posta em frente aos discípulos não é somente uma menor, é também uma camponesa, uma menina exposta a muitas situações difíceis pelo simples fato de ser mulher e menor. Sua condição de fragilidade seria ainda maior se se tratasse de uma menina estrangeira ou órfã. É assim que os pequenos e pequenas do reino vêm a ser metáfora de condição de vida desde a qual Jesus serve e convoca a seus seguidores a servir aos demais.

O reino e a família

21. O tema da família na Bíblia está incluído em esta proposta do reino de Deus como uma instância central de identidade, educação, convivência, relação e crescimento na fé. Deve-se em primeiro lugar, reconhecer que a Bíblia não apresenta nenhum modelo ou paradigma único do que poderia chamar-se família ideal ou família cristã, como se costuma crer. Pelo contrário, descrevem diversas concepções e organizações de família vinculadas com seus contextos. As relações familiares e as famílias não foram iguais em contextos de guerra e de paz e houve grandes diferenças entre âmbitos rurais e pequenas urbes. Por outro lado, a família não foi igual para quem era livre que para quem tinha sido escravo, para as grandes massas pobres que para os poucos ricos em tempo de Jesus. Pensar em um modelo, e em este como único, é uma agressão à Bíblia com respeito ao testemunho que ela dá.

22. No entanto, podemos encontrar, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, alguns elementos caraterísticos de como era entendida a família guiada por Deus. Consistia em um lugar de pertença e identidade (por exemplo, «fé de Israel», «filho do carpinteiro», etc.). Em muitos casos a família abrangia todo o clã (como as famílias de Abraão e Lot), e em estas os meninos e meninas foram criados não somente pelos pais senão que também pelos

O que é e o que pode ser

7 Historicamente sempre se pensou que Jesus escolher a um “menino ”, um rapazinho. Possivelmente esta crença na maioria das pessoas deve-se ao fato de que as traduções escolheram “menino ” em vez de “menina ” apesar de que o texto grego usa o neutro para se referir ao menino ou menina . Em este sentido, é tão legítimo imaginar que se tratou de um menino como de uma menina.

Page 10: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

10 «Deixem que as crianças venham a mim»

tios, primos mais velhos e avós, mesmo sem ter sido reconhecidos pertencer à mesma linhagem. Familiares que não se conheciam se sentiram comprometidos a ajudar-se mutuamente pelo fato de ter uma história em comum, e em certos casos, compartilhavam uma bênção familiar ou uma promessa.

23. Outro aspecto central é o da educação na fé. As famílias foram um espaço fundamental onde foi cultivada a fé em Israel e, posteriormente, a fé cristã. No entanto, não foi o único lugar. Existiam também espaços comuns de diálogo e reflexão que depois chegaram a ser o que conhecemos como Sinagoga ou a própria Ekklesia (igreja). Sábios e mestres serviram na educação do povo. No entanto, se esperava que o menino e a menina fossem instruídos na fé pelos anciãos e sábios do próprio grupo familiar, ou mais particularmente, pelos pais.

24. Vinculado a isto, a família foi entendida como uma construção de relações de cuidado mútuo. Em esta construção de relações e acordos chamado “família”, os mais fortes e com mais possibilidades deviam cuidar dos mais vulneráveis e débeis. Assim, os cuidados sobre anciãos, doentes, os criados e os meninos e meninas são, particularmente importantes e estão prescritos na Lei de Deus.

25. Apesar de que em estes mandamentos também estavam aqueles que se guiavam por outras perspectivas ou aqueles que os aplicavam de forma diferente. Não é possível negar, por exemplo, que o tratamento dado à mulher era bastante diferente ao dado aos homens, pois elas eram tratadas, em muitos casos, como uma posse e uma serva (cf. Ex 20:17). O mesmo pode ser dito da relação com os meninos e meninas, onde os adultos eram considerados mais importantes. Somam-se os casos de pessoas que pertenciam a uma família sem ter vínculo sanguíneo ou sendo estrangeiras. Em estes casos, a servidão e os escravos, embora fossem considerados parte da família, recebiam um tratamento diferente. Geralmente eram cometidos abusos contra eles, e quando estes eram contra meninos ou meninas, as condições podiam ser piores.

26. Na mirada de Jesus e do Novo Testamento a família ocupará um lugar importante, mas será revisada profundamente. Ela não a conforma gente unida por laços sanguíneos, senão por decisão pessoal de irmanar-se mutuamente sob a guia de Deus Pai. Apesar de ser certo, Jesus não chama a romper com a família sanguínea per se, sim convoca a se unir com pessoas e construir laços familiares com outros na vida no reino. A este respeito, faz um chamado a levar em consideração os mais vulneráveis entre nós e a construir uma vida solidária e unida. A vocação é amar-se no cuidado de uns a outros (Jn 13:34-35), assim como também, deixar-se amar pelos mais vulneráveis como uma maneira de crescer com eles.

Meninos e meninas: sujeitos teológicos do reino

«Em aquela mesma hora Jesus se alegrou no Espírito, e disse: Eu Te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e entendidos e as revelastes às crianças. Sim, Pai, porque assim o quisestes».

27. Mc 9.35-37 reflete como Jesus coloca os meninos como metáfora do reino e o lugar ativo que eles têm no mesmo. Tudo o que os seguidores de Jesus tinham vivido, tudo aquilo do que se alegravam e gloriavam, tinha sido escondido dos sábios, dos entendidos da lei e dos líderes religiosos da época e foi revelado aos meninos e meninas. Por isso, desde este contexto, temos que entender que os meninos e meninas eram concebidos como «voz da divindade», tanto na tradição judia como na religiosidade da antiguidade greco-romana.

Em este relato Jesus contrapõe duas lógicas: a dos

sábios e entendidos – adultos, supostos conhecedores de todos os detalhes e intérpretes autorizados dos documentos religiosos - e a dos meninos e das meninas. Os primeiros representam a razão, a inteligência, o cálculo, o controle; todos esses adjetivos que definem a cúspide da suposta maturidade que permite falarem com objetividade, determinação, integridade e direito; ou seja, de Deus mesmo. Mas, ao final, os eleitos para receber os mistérios divinos são os meninos e as meninas. Jesus os coloca como exemplo, como

sujeitos teológicos, como chave de revelação.

28. Jesus utiliza a imagem da infância como metáfora do reino em várias ocasiões (Mt 18.1-2, 19.13-14, Mc 10.15-16, Lc 18.14-17). Esta afirmação foi interpretada de diferentes maneiras: como uma atitude pessoal, um lugar social, uma característica de atitude, entre outras. Mas, justamente é o contraste que está explícito em esta mensagem o que nos mostra uma melhor compreensão do seu significado. Usar a imagem da infância é fazer uma inversão irônica da rigidez da Lei, a qual, como se estipulava em esses tempos, não requer do seu seguimento ou cumprimento por parte dos meninos e meninas. Desde esta perspectiva podemos dizer que Jesus define o reino como uma realidade que vai mais além do cumprimento de um padrão religioso e de uma maneira particular de ver a Deus, mesmo centralizada na interpretação de adultos homens sábios da lei.

29. Como sabemos, os textos bíblicos não são somente histórias que descrevem os fatos em uma forma lineal. Pelo contrário, são sucessos que possuem um significado simbólico muito profundo. O que significa, então, ver a Deus desde os meninos e meninas e não desde aqueles que possuem a autoridade (moral, espiritual, institucional, acadêmica) para fazê-lo? Podemos afirmar que estas duas lógicas presentes na mensagem representam em si maneiras distintas de ver a Deus. E não somente nos referimos a imagens ou discursos específicos senão, além disso, de formas diferentes de aproximar-se ao divino.

30. Em Mc 9.35-37 o menino posto no centro como metáfora do reino tem vários sentidos: representa a afirmação de Jesus de que o reino implica um compromisso especial com aquelas pessoas que a sociedade excluiu, cuja situação é de vulnerabilidade e injustiça. Enquanto, existem aqueles que mantém essas fronteiras injustas Deus atua para incluir e fazer justiça. Mas, também, essa ação de Jesus é uma afirmação de empoderamento onde as meninas e meninos simbolizam a metáfora da revelação de Deus em contraposição ao que se crê correto e verdadeiro - buscas que caracterizam a maturidade.

Page 11: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

11 «Deixem que as crianças venham a mim»

Do Deus Patriarca ao Deus Família

3

Page 12: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

12 «Deixem que as crianças venham a mim»

31. Existem distintas imagens de Deus de onde provém? Deus decide revelar-se através da história. E é em ela onde lhe damos nomes ao dizer-lhe Pai, Amigo, Salvador ou lhe damos características como Amoroso, Misericordioso, Compassivo, Generoso e outros mais. A compreensão de Deus e a forma em que O descrevemos e conhecemos tem uma relação direta com como o experimentamos no dia-a-dia de nossa fé e no seguimento da Palavra. Mais ainda, as imagens de Deus que utilizamos se vinculam com as práticas e cosmovisões que promovemos.

32. As imagens de Deus são só expressões parciais sobre o que é e como atua o divino; já que Deus é sempre mais do que possamos pôr em palavras: nenhum discurso pode descrevê-Lo de maneira final ou acabada. Consequentemente, ninguém pode dizer que possui o conhecimento total de Deus. Os discursos religiosos tornam-se perigosos quando não reconhecem dita dinâmica. Nossa tendência é acreditar que nossas formas particulares de compreender e definir a Deus são absolutas, esquecendo-nos que nos encontramos sempre interpretando sua ação desde nossas leituras do texto bíblico e as diversas experiências que temos. Mais perigoso ainda é quando uma prática, um discurso, uma ação ou uma cosmovisão particular tenta apresentar-se como absoluta em nome de Deus, e por essa razão se vê a si mesma isenta de todo questionamento. Por isso devemos nos perguntar: Que concepção de Deus sustenta o adulto centrismo em nossas igrejas? A que imagem de Deus nos referimos quando falamos do reino?

33. Uma das imagens mais utilizadas no mundo cristão para falar de Deus é a de Pai. Esta designação O descreve em seu vínculo com seus fiéis seguidores

Imagens de Deus

que são chamados de filhos e filhas. Esta imagem não está baseada na imposição de um título honorífico nem na prerrogativa autoritária por sua condição de progenitor. Sem perder suas virtudes e lugar de exaltação, é importante observar que Deus é Pai já que se relaciona como tal com seus filhos e filhas. A práxis paterna de Deus representa também uma demanda de reciprocidade a seus seguidores que queiram ser designados como filho ou filha. É chamativa a expressão: «para que sejam filhos do seu Pai» (Mt 5:45; cf. 1Jn 3:1.10; 4:15), onde se põe em manifesto a ética e a vida daquele que por parecer-se ao Pai é chamado seu filho ou filha.

34. A imagem de Deus como Pai está influenciada contextualmente, embora não subordinada, pelo vínculo que pai e filho/a estabelecia na época. Conservar a honra do chefe de família ou paterfamílias pela obediência e o bom testemunho da criação recebida era, sem dúvidas, uma das maneiras mais importantes de honrar o pai. A honra como construção social levava os pais a desempenharem todas suas tarefas de cuidados de seus filhos e filhas em termos de amor, justiça e dedicação.

Com as divergências que hoje podemos ter no que

diz respeito ao significado e desenvolvimento do que é a paternidade, os ensinamentos e os testemunhos bíblicos sobre um Deus Pai que guia, ensina, cuida, dialoga e acompanha de perto e livremente a seus filhos, não somente está vigente, senão que é muito necessária. Em testemunho de Jesus, seu Filho, podemos ver a um Pai que rompe com alguns modelos históricos autoritários, violentos, e de uma relação carregada de diferenças entre os filhos e as filhas. O testemunho do Novo Testamento continua no caminho aberto pelo Filho para superar práticas machistas e paternalistas que desqualificam e menosprezam os meninos e meninas.

35. Toda imagem é uma construção de sentido a partir de uma situação que tenha sido vivida, de um encontro com uma pessoa com a que se teve uma relação ou com a qual se deseja compreender. Em esta direção, a concepção que se tenha da paternidade em cada cultura e pessoa, influenciará na

maneira de vincular-se e compreender a este Deus Pai. Lamentavelmente, estão aqueles que concebem a Deus como Pai e o veem como um ser castigador, castrador, intransigente, autoritário, ou insensível. Mas, é esta a maneira como as Escrituras apresentam predominantemente a Deus como Pai? É possível que na metáfora divina de Pai estejamos projetando ou incluindo características, papéis e sentimentos que correspondem a outras vivências e não precisamente a aquela imagem expressada nas Escrituras, e a partir do testemunho de Jesus Cristo (cf. Heb 1:1-2)? Uma clave fundamental para discernir o que Jesus quis dizer por Pai é saber sua vinculação, suas ações recíprocas e seus ensinamentos sobre Deus.

36. A construção da imagem de Deus não deve estar baseada exclusivamente nos nomes que Lhe são designados nas Escrituras. Eles são produto da revelação de Deus na história do seu povo, em outras palavras, são designações que seu povo lhe dá com base em como ele interage com este. Assim, fazendo justiça à revelação bíblica, também é importante pensar em Deus através de suas ações culturalmente designadas como maternas. Este Deus cria seus filhos, os alimenta, é gentil com eles, compreensivo, próximo afetivamente, os ama enormemente. No atuar de Deus a favor de sua criação nos vemos obrigados a dar-Lhe nomes e papéis que possivelmente não estejam explícitos nas Escrituras, mas que estão inspirados em seus Testemunhos.

37. O que entendemos por “imagem de Deus” não responde a um exercício neutro, senão que tem que ver com a interpretação que tenhamos da revelação divina, bem como também, de nossas opções de vida. Quando pensamos em Deus com relação à infância devemos advertir centenas de detalhes e testemunhos bíblicos que possivelmente tenhamos colocado de lado, por razões ideológicas. Perceber a ação de Deus por seus múltiplos gestos históricos revelados em Jesus de Nazaré e pensar em sua maneira de aproximar-se a nós como menino, menino pobre. Como alguém perseguido, imigrante, trabalhador, filho maior, amigo, salvador, crucificado, ressuscitado. Porque Deus se revelou a nós, principalmente, através do seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1:1-2).

Page 13: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

13 «Deixem que as crianças venham a mim»

Sobre a comunidade de Deus Trino e a família

38. Relacionado ao dito no ponto anterior surge outro tema básico e essencial na teologia cristã que muitas vezes se deixa de lado: quando falamos de Deus falamos de um Deus trino. As imagens com as que o Novo Testamento expressa a relação entre as três pessoas da Trindade são comunitárias. Sua comunhão é expressa muitas vezes em termos de laços familiares: comunidade de vida, amor profundo, cuidados mútuos, uma visão e missão comum, incorporação de outros a unir-se com vínculos familiares, entre outros traços. No ministério de Jesus é dominante o papel de Pai que Lhe designa a primeira pessoa da trindade. Ele se define e é definido como o Filho. O Espírito Santo é o outro paráclito, em outras palavras, continua o ministério e vinculação de Jesus em harmonia perfeita com o Pai. A importância que tem esta vinculação entre Jesus e a Primeira Pessoa da Trindade a podemos notar, por exemplo, no Evangelho de Mateus onde a Primeira Pessoa da Trindade é chamada 45 vezes Pai.

39. Pensar na trindade como família nos leva a abrir-nos a outras imagens e papéis familiares. Tanto no Antigo como no Novo Testamento podemos nos encontrar com um Deus que está vinculado com seu povo seguindo papéis que em sua época foram estipulados como femininos ou maternais. Esta última observação vai depender muito do conceito de masculinidade que se tenha, ainda hoje, e como se constrói a ideia de paternidade ou maternidade. O certo é que não estão isentos da natureza divina, seu amor carinhoso e sacrificado, sua dedicação à criação, e não só à criação, do seu povo como se fossem meninos e meninas pequenos.

Sua delicadeza e ternura podem ser percebidas em sua pedagogia e no tratamento Misericordioso com seu povo quando o mesmo Jesus fala em primeira pessoa e diz em nome do Pai: «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos, como reúne a galinha os seus pintinhos embaixo das suas asas, mas não quisestes! (Mt 23:37; Lc 13:34). Esta mesma vulnerabilidade, teologicamente falando, se expressa na segunda pessoa da Trindade encarnada. Em Jesus podemos conhecer ao «Deus conosco» em

um menino de fraldas. Em essa mesma direção está o relato já citado de Marcos 9:35-37 (e paralelos) no que põe a uma menina de seus seguidores e os motiva a vê-la como metáfora de Deus encarnado. Este detalhe teológico não é menor quando queremos compreender o que Jesus nos diz como Filho do Pai, e como irmão mais velho.

40. A Trindade está vinculada aos laços familiares e em especial aos meninos e meninas quando Jesus é apresentado como o irmão mais velho. O Evangelho de João e as suas cartas utilizam o termo unigênito para falar da natureza exclusiva e da relação particular de Jesus com o Pai (Jn 1:14, 18; 3:16, 18; 1 Jn 4:9). Jesus é também chamado primogênito (Rom 8:29; Heb 1:6), termo que o vincula com seus irmãos e filhos de Deus. Neste sentido, Jesus é o irmão mais velho entre muitos irmãos e irmãs. Em Hebreus 2:11-18 fala-se de Jesus sob a figura do sacerdócio como o líder entre outros irmãos. Em esta relação de irmãos, e a diferença das comunidades sacerdotais, as mulheres, os estrangeiros, e as meninas e meninos, não estão excluídos senão, pelo contrário, formam parte fundamental do ministério da família de Deus.

41. A proximidade de Deus com Jesus transmite a mensagem de um Deus que está muito perto de nós; é um Deus próximo, vinculado estreitamente com sua criação e em especial com «os pequenos». Que Jesus seja o irmão mais velho implica sua vinculação como tal com os irmãos menores onde nos encontramos novamente com a metáfora de menino. A Trindade como família é uma família aberta a somar a novos membros as suas relações de amor e compromissos. A missão que Deus Pai encomenda a Seu Filho é continuada pelo Espírito Santo que capacita os filhos e filhas de Deus para levar adiante o objetivo de reconciliar o mundo consigo mesmo. É valioso que a missão dos filhos e filhas de Deus não seja compreendida como uma tarefa paralela ao fato de ser família de Deus. Uma família na qual os meninos e as meninas são membros principais, e ainda mais, metáfora de vida.

Page 14: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

14 «Deixem que as crianças venham a mim»

Eclesiologia desde a infância

4

Page 15: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

15 «Deixem que as crianças venham a mim»

Igrejas de meninos e meninas 42. Os meninos e as meninas como metáfora do reino

não somente reformularam a vida dos primeiros seguidores de Jesus, senão que também guiaram a imaginação do que foi concebido como a igreja. O mesmo termo igreja foi um mais dentro de outros (corpo, casa, família, templo) para descrever e compreender as relações e os acordos que o grupo de seguidores de Jesus defendia. No entanto, o uso de dito termo foi resignificado à luz dos ensinamentos de Jesus, por exemplo, quanto ao envolvimento de escravos, de mulheres, meninos e estrangeiros. Em a ekklesia grega não participavam estes grupos de pessoas, embora a igreja cristã nos seus inícios tenha sido conformada em uma grande porcentagem por eles.

43. Se os seguidores de Jesus deviam ser como meninos para formar parte do reino de Deus, como deveriam ser as igrejas que formavam? A igreja foi pensada a si mesma desde a metáfora menino e também – embora não exclusivamente - desde a realidade dos meninos. Se, como foi dito anteriormente, Marcos 9:35-37 ensina sobre a simplicidade e a vulnerabilidade como qualidades centrais nos seguidores de Jesus, a igreja que quer ser testemunho de vida no reino deverá constituir suas relações com base em ditas condições de vida. Ela deve ser uma comunidade de meninos, de gente simples, que confia no seu Senhor e que se entrega aos demais em amor que cria laços onde as relações de poder circulam em busca de abençoar o próximo e dar testemunho da presença de Deus. Pelo contrário, quando uma igreja constrói seus vínculos em base ao poder de uns sobre os outros, os meninos e as meninas ficam iniludivelmente postergados ou ainda oprimidos. Mas também, com esta postergação

fica excluída a possibilidade de que dita igreja seja verdadeiro sinal da presença de Deus na terra. Por isso, não há que confundir uma igreja na que haja “meninos” com uma cujo ADN está constituído com ser como meninos, tal qual o ensinou Jesus.

44. Uma igreja que leve a sério as palavras de Jesus necessitará abrir mão do seu adulto centrismo. Não se pretende ignorar o fato de que a metáfora do menino ou menina tem suas limitações como toda metáfora. Pensar em uma igreja de meninos não é falar de uma igreja «infantilizada» mas sim de uma igreja que questione as perspectivas adulto cêntricas regidas, entre outros, por exemplo, por relações de domínio, por perspectivas éticas baseadas na desconfiança, pela exaltação da força e o menosprezo da debilidade, por um sentido competitivo da vida e, literalmente, pela postergação dos meninos como sujeitos «imaturos» ou «incompletos». Está claro que não se quer ignorar o processo de «crescimento» no qual se encontram os meninos e as meninas. O que se questiona, mais bem, é que se entende por crescimento. Ou seja, devemos questionar a ideia de «maturação» que inculcamos em meninos e meninas que confiam em nós. Desde que lugar nos sentimos capazes e capacitados para “formá-los” e como é que a relação de mutualidade entre adultos e meninos fica quebrada pelo adulto centrismo, a ponto de comunicar uma mirada tergiversada do reino de Deus.

45. Enquanto em alguns setores há um despertar positivo respeito à relação dos meninos com o resto da igreja, lamentavelmente, a grande maioria das igrejas, e das pessoas que criam opinião em estas, continuam anunciando uma visão anti-reino. Esta afirmação tão categórica está diretamente relacionada às palavras de Jesus que nos disse que se não somos como um destes meninos, não poderemos entrar no reino dos céus (Mt 18:3). O adulto centrismo forma parte dessa visão anti-reino. Em certos espaços, ainda, a “evangelização” e o “discipulado” implica perder a fé no próximo, cuidar-se dos riscos de amar, obedecer a cegas, proibir-se ou brincar e gozar sensorialmente, estruturar a vida e seguir a sequência do mandado eclesiástico, entre outros aspectos onde se confunde a missão com a religiosidade. A igreja deve questionar

seu adulto centrismo, mas também, sua concepção de adulto à luz dos ensinamentos do reino e sob a guia de meninos e meninas que a reevangelizem.

Igrejas que aprendem a brincar

46. Uma das caraterísticas da infância é a brincadeira (embora lamentavelmente muitas vezes isso não aconteça, já que inclusive o direito a brincar lhes é arrebatado). Esta não é somente uma atividade recreativa senão a maneira em que aprendem a sociabilizar-se e a compreender o mundo que os rodeia. A brincadeira se diferencia consideravelmente da maneira em que o adulto centrismo tenta compreender a realidade: o desfrute se posiciona sobre o cumprimento, a espontaneidade por sobre as regras, o corpo e os afetos por sobre a razão, o estético por sobre o escrito.

47. Em este sentido, as igrejas necessitam partir também da lógica da brincadeira. O que queremos dizer com isto? Que o ser da igreja reflete mais abertamente as caraterísticas das brincadeiras na liturgia, na organização institucional, nos esquemas de liderança, de predicação e ensinamento, entre outras. Isto significa que o afetivo, o lugar da espontaneidade, os movimentos do corpo, a flexibilidade, o questionamento ao estabelecido, o uso da imaginação e a pluralidade das formas de fazer as coisas – bem como a maioria dos nossos meninos e as meninas o vivenciam dia a dia – tomem um lugar central em nossas comunidades eclesiásticas. Que sejamos originais e que usemos a criatividade em nossos cultos, que as liturgias sejam mais inclusivas, que exista maior participação da voz dos meninos e das meninas na tomada de decisões e nos projetos eclesiásticos, entre outros elementos que poderíamos mencionar.

Meninos e meninas no centro

48. De tudo que foi desenvolvido até aqui podemos dizer que uma igreja que caminha pelas veredas do reino de Deus põe a infância como um dos seus agentes principais. Com isto não queremos insinuar que os meninos e as meninas sejam o único sujeito a tomar em conta desde a perspectiva do reino. Os meninos e meninas necessitam de um lugar de maior

Page 16: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

16 «Deixem que as crianças venham a mim»

centralidade. Mais ainda, compreender o reino em esta premissa nos mostra a importância que possui um compromisso com toda pessoa e toda circunstância que reflita a presença de injustiça e exclusão.

49. Como dissemos, falar de meninos e meninas no centro é outorgar maior protagonismo a um setor cuja vulnerabilidade provém da invisibilidade e da exclusão. Isso implica dar-lhes poder, reconhecer sua capacidade criativa, seu direito a voz, entre outros. Para isto deveremos reimaginar nossas estruturas eclesiásticas, tanto na teologia e na pastoral que a sustentam, como na participação dos seus membros. Como permitir que estejam realmente “no centro” para que essa expressão deixe de ser somente um clichê? Como aprender a ouvir melhor sua voz, aprender da sua condição, considerar profundamente suas perspectivas? A igreja deve ser reevangelizada em termos de voltar a compreender a mensagem salvadora de Jesus que nos apresenta na condição de pessoas. Temos que aprender a “ler vidas humanas”, o qual nos traz aos textos bíblicos onde Jesus primeiramente “viu a pessoa” e discerniu a vontade de Deus.

50. Que os meninos estejam no centro, então, nos convoca a:

a. Desprover do adulto centrismo que condiciona nossa maneira de vê-los e os menospreza;

b. Revisar nossa concepção de infância e de maturidade, especialmente desde sua vinculação, sem ver o segundo como a superação do primeiro;

c. Observar que a vulnerabilidade e a vulneração são condições e práticas diferentes. A vulnerabilidade é uma condição que em si mesma não é negativa. Requer de um grande cuidado, mas também possibilita a geração de relações de mútua entrega e cuidado que são difíceis de gerar quando se está à defensiva. A vulneração é uma prática que faz indefensa a uma pessoa e a leva a sofrer os estragos de condições pessoais e sociais hostis para sua pessoa. Assim, o adulto centrismo, por exemplo, torna vulneráveis os meninos e meninas porque o desqualifica, não adverte de suas qualidades intrínsecas e pode coisificá-lo

legitimando seu maltrato. Em este sentido, que os meninos “estejam no centro” implica advertir sua vulnerabilidade como riqueza, mas também, advertir que podemos fazer-lhe um grande dano.

Teologia e brincadeira

51. Toda maneira de compreender a fé, a espiritualidade e a igreja estão estreitamente vinculadas a uma visão de Deus e a uma teologia. Em outras palavras, nossas compreensões e definições de Deus darão lugar, permitirão, tornarão possíveis (ou não!) certas práticas e cosmovisões. Com esta afirmação partimos de que a teologia é uma prática que desenvolve todo crente e toda igreja em sua vida diária ao ver suas circunstâncias à luz da fé. Já vimos que existe uma imagem preponderantemente adulto cêntrico de Deus, o qual também legitima e promove certas imagens, práticas, cosmovisões e dinâmicas. Por isso nos perguntamos: Como construir uma teologia que seja mais sensível a nossos meninos e meninas? Como desenvolver uma teologia na que os meninos também sejam seus artífices e não seus meros receptores?

52. O caminho que necessitamos percorrer consiste em facilitar uma teologia desde a infância. Isto significa construir espaços onde meninos e meninas sejam escutados sobre os assuntos da fé, da Bíblia e da Igreja. Logicamente que as pessoas adultas têm muito que ensinar. Mas também podemos criar espaços onde as apreciações e imagens da infância nos ensinem mais de Deus. Ao vincular a teologia com a infância, a brincadeira surge como lugar e como lógica de encontro com Deus desde o próximo. Quando se pensa em lugar, estamos falando do mundo do qual formamos parte, assumimos nosso posicionamento e condição em frente a este. Pensar o mundo como uma brincadeira nos leva a reformular o mundo que ignoramos e do qual, ainda assim, formamos parte: o mundo dos sentidos, da recreação, da não-ordem da imaginação libertadora ou da estrutura rígida que aprisiona. O mundo do qual formamos parte está organizado pelo controle, pela competitividade, pela eficiência, pela superioridade, entre outros, onde tudo requer ser ordenado (o primeiro, o segundo...

cf. “um Deus de ordem”), organizá-lo por categorias (líderes, convertidos, os do mundo, classes sociais, etnias), por níveis de êxito (excelência, objetivos de trabalho, conquistas), etc.

Em uma teologia desde a infância, a brincadeira nos ajuda a experimentar a realidade desde outros parâmetros, como por exemplo, desde o lado das relações (amizade, companheirismo), desde a criatividade construtiva (brincadeira como construção de acordos e lógicas imaginárias), desde os terrenos da vida (não submetida a regras rígidas), bem como também nos permite entender a centralidade da vida humana desde o desfrute.

53. Com lógica descrevemos o processo vivencial pelo qual organizamos nosso conhecimento e a realidade da que formamos parte. Lógica não é o mesmo que racionalismo. Na lógica teológica da brincadeira está envolvida toda a vida humana, obviamente, também seu corpo e suas percepções. A lógica da brincadeira é diferente das lógicas controladoras racionalistas. Na brincadeira não se sabe tudo, nem se necessita sabê-lo. Sua busca é a vinculação com o outro como um fim em si mesmo, não como meio. As relações utilitárias são superadas por uma noção de “nós” que se irmana ao suprir-se mutuamente necessidades da alma como: ou divertir-se, ou imaginar novas realidades, ou fazer acordos mútuos, poder dedicar tempo a si mesmo, empoderar destrezas motoras que normalmente são postergadas, etc.

Na lógica da brincadeira se conhece a Deus desde

todo o ser. O processo de conhecimento teológico que se exercita envolve toda a vida humana e não somente a racionalidade. Conhece-se a Deus a partir do corpo, das emoções, dos sentidos, do comunitário, desde as frustações, desde a imaginação.

54. Isto representa grandes mudanças em como a igreja se reconhece a si mesma como uma comunidade de aprendizagem. Por isso nos perguntamos: Como são construídas as instâncias educativas nas igrejas? Têm os meninos e meninas possibilidade de fazer teologia, de manifestar sua visão de quem é Deus e como

Page 17: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

17 «Deixem que as crianças venham a mim»

atua ou somente são recipientes de ensinamento de uma pessoa adulta? Influenciam seus métodos para conhecer a Deus nos métodos que temos os adultos?

Missão desde a infância: conversão, evangelização, discipulado e pastoral

55. Considerar a missão desde os meninos e meninas é mudar as lógicas tradicionais das nossas Igrejas. Nas práticas eclesiásticas costumam ser as pessoas adultas que evangelizam os meninos e tratam de guiá-los a Jesus, convertendo-os somente em recipientes de evangelização e não em sujeitos de missão. Uma revisão da mensagem de Jesus partindo da teologia desde a infância nos deve levar a revisar nosso conceito bíblico e as práticas de evangelização.

56. Geralmente é concebida a conversão no marco da experiência adulto cêntrico e pragmática onde o menino ou a menina segue uma fórmula predeterminada (levanta sua mão, faça a oração e passe para o altar) para obter «a salvação» como um objeto. Mas as Escrituras nos ensinam que a evangelização é um processo onde a metáfora de “seguimento” (a Jesus) é uma das mais importantes no tocante à apropriação da vida plena no reino de Deus como estilo de vida. Em este sentido, a evangelização não é somente produto de uma decisão de fé pessoal em um momento determinado, senão que também é o resultado de um contexto que permite que a boa nova se faça real na história. Dito isto, a evangelização não é somente anunciar as “boas novas”, senão acompanhar à apropriação das mesmas. Vista assim, se entenderá que se trata de um processo de toda a vida.

Por tudo isto, observaremos que a evangelização não é uma ação baseada em uma decisão pessoal, senão que está relacionada também com as condições sociais que permitam que esta seja uma realidade na integralidade da vida do crente. Ou seja, a evangelização é o processo de acompanhar as pessoas a viver a vida plena e, em muitos casos, a romper os impedimentos que o impedem de gozar completamente de dita vida.

57. A conversão pensada desde a infância nos convida a considerá-la como uma vivência de fé que nos

transforma e muda constantemente dentro do caminho da vida. Das poucas referências que temos da infância de Jesus o evangelista Lucas faz uma menção particular ao dizer-nos que “O menino crescia e se fortalecia, e se enchia de sabedoria, e a graça de Deus repousava em Ele” (Lc 2.40). Uma descrição similar acontece com relação a São João Batista (Lc 1.80).

58. Os meninos e meninas crescem de forma integral: física, emocional, social, espiritual e intelectualmente. Partindo desta experiência a igreja poderia exercer seu trabalho evangelizador e discipular a partir de cada um de estes processos. Por isto devem ser considerados agentes de transformação na sociedade (Is 11.6). Em este sentido, o discipulado se transforma em uma aventura de acompanhamento e cuidado da fé, o trabalho pastoral se atreveria à travessura de mudar os esquemas de controle para “entreter” e “acalmar” -aspectos típicos das liturgias tradicionais - incorporando a inclusão na vida comunitária e sua participação na liderança e ministério e fazê-los visíveis no ministério da Igreja. Da mesma maneira, podemos pensar na liturgia e no culto como espaços de participação dos meninos e das meninas bem como sua inclusão em práticas tão centrais como a administração e participação da Ceia do Senhor.

59. Conscientes da vulnerabilidade dos meninos e das meninas, que são parte de um mundo em pecado, devemos optar por uma evangelização que cuide suas vidas contra as estruturas e pessoas que lhes são hostis. O trabalho pastoral da Igreja deve optar pelo cuidado do bem-estar dos meninos e das meninas, o que implica uma radical resistência e denúncia em contra de toda prática que atenta contra a vida plena: violência, desnutrição, tráfico, maltrato, abusos, exploração e outras. Uma pastoral que cala estas realidades se faz cúmplice de ditas injustiças já que não cumpre com seu papel de assinalar o pecado e chamar ao arrependimento.

60. A evangelização desde a infância oferece horizontes mais amplos que a evangelização para a infância, já que sugere à igreja novas pautas para o acionar da missão com os meninos e meninas, não somente velando por suas “almas”, senão seguindo o chamado de Jesus a ser como eles, compartilhando uma mensagem

restauradora das relações humanas desde a simplicidade e a vulnerabilidade que requer um amor maduro e uma grande fortaleza espiritual. Porque somente dando se recebe, porque entregando a vida esta será achada.

Igrejas que se fazem escutar

61. As igrejas devem ser voz profética da situação de risco e vulnerabilidade dos meninos e das meninas, mas não como um elemento externo a ela senão partindo do contexto dos meninos e das meninas da mesma comunidade de fé e seu contexto. Por isso, acreditamos que alguns compromissos que as comunidades eclesiásticas podem assumir são os seguintes:

a. Que a situação dos meninos e meninas tenha um lugar de maior importância nos momentos de predicação, ensinamento e liturgia das comunidades.

b. Com base no aprendido desde os meninos e das meninas, que a igreja se atreva a revisar suas estruturas e suas relações de poder internas. Ou seja, atrever-se a ser mais flexíveis, relacionais, transparentes, confiáveis, como uma ação onde se aceita “ao menino ou menina no centro” tal qual o faria Jesus.

c. Que exista maior protagonismo dos meninos e meninas em diversas áreas da igreja como nos espaços de ensinamento, nos ministérios e nos momentos litúrgicos.

d. Que incorporemos práticas e dinâmicas, geralmente aplicadas à infância, nas interações de toda a igreja e seus membros para revisar aquelas fronteiras que dividem tão veementemente os grupos de diferente faixa etária. Aqui é central a inclusão da dimensão estética (uso das imagens, do teatro), de um diálogo participativo dentro da comunidade (o uso do narrativo, pregações e ensinamentos construídos conjuntamente e não transmitidos em uma só direção) e a inclusão de atividades relacionadas com o lúdico (jogo, dança, pintura, escultura, etc.).

e. Que sejam abertos espaços de trabalho conjunto com outras organizações sociais (religiosas ou não) comprometidas com a situação de vulnerabilidade da infância nos bairros e nas comunidades da igreja.

Page 18: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

18 «Deixem que as crianças venham a mim»

Desafios: transformar e ser transformados

5

Page 19: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

19 «Deixem que as crianças venham a mim»

Ações valentes e valiosas

62. A situação das meninas, meninos, adolescentes e jovens no nosso continente requer de ações valentes (proféticas) e coordenadas por parte das igrejas, instituições e organizações cristãs. A mensagem de Jesus nos convoca a agir em um duplo sentido: a envolver-nos com os meninos e meninas em processos que promovam seu bem-estar integral e, por outra parte, a permitir que a infância confronte nossos modelos de vida adulto cêntrico, e nos conduza por caminhos de transformação humana. É um processo de transformação em dupla via: fazer mais do que até agora fizemos a favor dos meninos e meninas e deixar que a infância faça o muito que pode fazer a favor do nosso mundo adulto. Em outras palavras, transformar e ser transformados.

63. Os desafios de nossas igrejas, e dos cristãos e cristãs em particular, são muitos; alguns deles foram enunciados com urgência pastoral no presente documento. O seguinte é um breve resumo desses desafios:

Igreja serviçal e profética

64. O Senhor quer uma Igreja que dê testemunho de seu amor entre as pessoas mais necessitadas e, como se afirmou na primeira parte deste documento, a infância não é uma, senão a primeira dessas populações. Mas além da pobreza, bem conhecidas são as estatísticas

da violência (incluída a violência de gênero, contra as meninas), o abandono, a exploração sexual comercial, o limitado acesso à educação, os problemas sanitários, o HIV e a AIDS, entre muitos mais.

65. O papel das igrejas na sociedade civil – especialmente em espaços políticos, organismos e instituições que trabalham pela infância – é cada vez mais notório. Vemos a ONG, municípios, escolas (privadas e públicas), organizações civis, entre outros que buscam comunidades eclesiásticas ou organizações baseadas na fé para desenvolver projetos, conformar grupos consultivos, acompanhar casos de emergência, elaborar propostas legislativas a favor da infância, etc.

66. Portanto, o desafio não consiste em iniciar algo que até agora não tenhamos feito, senão em aprofundar o que já estamos fazendo, em aprender das melhores experiências e em revisar a efetividade do realizado, em dar-lhe, além do seu sentido social, o caráter político a essas ações e em assumir o papel que nossas igrejas podem cumprir no campo da incidência pública a favor dos direitos da infância. O ministério focado na promoção e na defesa dos direitos da infância é ainda um campo inexplorado para muitas igrejas.

67. Os desafios que se apresentam com vistas a cumprir com maior fidelidade e pertinência o papel serviçal e profético (Prov 31.8-9), têm que ver com levantar a voz junto aos diversos atores sociais comprometidos com a situação da infância e da adolescência no que se refere à conscientização sobre a situação deste setor social, a necessidade de criar mais políticas públicas, denunciar situações, discursos e práticas de abuso e violência e, sobretudo, ser um agente de mudança através do acompanhamento pastoral e a atenção de problemáticas específicas em nossas comunidades.

Igreja sensível e aprendiz

68. Necessitamos reconhecer que nossas igrejas têm concepções erradas sobre a infância e o mundo que conforma. Este é um desconhecimento que compartilhamos com a sociedade em geral. Falamos dela e acreditamos ter a última palavra, mas, a verdade

é que a temos explorado pouco e a desconhecemos muito. Umas vezes consideramos que são seres inferiores, outras (que são) como seres em vias de «chegar a ser pessoas» ou como pequenos adultos que ainda não alcançaram os saberes e as condições necessárias para chegar a sê-lo. Em esta percepção da infância, os adultos somos superiores a ela.

69. Não está por demais assinalar aqui os efeitos negativos que estas percepções têm para nosso ministério a favor da infância e também para o ministério que a infância deve desenvolver a favor das pessoas adultas. Por isso, como assinala o documento, necessitamos transformar as maneiras de como até agora estamos compreendendo o mundo da infância. Desta compreensão dependem, em muito, as formas e maneiras como atuemos em direção a ela e o lugar que lhe concedamos em nossos contextos sociais.

70. O diálogo interdisciplinar com as ciências da educação, da psicologia, da antropologia, da política, da teologia e outras mais é urgente em este caminho de aprendizado. Necessitamos revisar, entre outros assuntos, nossas maneiras tradicionais de compreender a infância, bem como nossas visões da infância, os discursos teológicos que estamos empregando e as formas de nos relacionar com as meninas e os meninos.

71. Jesus, por exemplo, tinha uma compreensão da infância que nos ajuda a entender a forma em como a respeitava, valorizava e lhe concedia seu lugar na sociedade e no reino (Lc 10:21). Pôs os meninos como exemplo diante dos discípulos adultos (Mt 18:1-2; 19:13-14), lhes serviu da mesma maneira que o fazia com aqueles que os seguiam, mostrando com isso que também eram seus discípulos sem distinção alguma com o resto (Mc 10:15-16). Mas o gesto do abraço com a menina ou menino que pôs no centro mostrou uma vinculação e identificação com eles que teve com poucos. Isto nos faz pensar em uma igreja que se identifique com eles em suas estruturas e ações.

Igreja intergeracional e inclusiva

Page 20: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

20 «Deixem que as crianças venham a mim»

72. As igrejas, geralmente, estão integradas por pessoas jovens e adultas. Além dessa composição, também sabemos que a mentalidade que rege nossa cultura eclesiástica, bem como a cultura em geral, é adulto cêntrico. Em outras palavras, que nos relacionamos, vemos a sociedade e vivemos a espiritualidade «à maneira dos adultos».

73. Esse adulto centrismo se traduz em práticas eclesiásticas que apresentam a pessoa adulta como o modelo do acabado e completo e as meninas e os meninos como pessoas que estão à espera de «chegar a ser grandes». Assim, o mundo adulto se entende como superior ao da infância e por isso são desenvolvidas relações assimétricas de poder entre as pessoas adultas, consideradas superiores, e a infância considerada inferior. Este adulto centrismo caracteriza a nossa cultura e delimita muitos de nossos modelos de vida familiar, de organização social e de espiritualidade cristã.

74. Possivelmente o anterior nos ajude a compreender as razões pelas quais a voz das meninas e dos meninos não é escutada da mesma forma como se percebe a autoridade das pessoas adultas. Em muitos casos, nem sequer é escutada. Que diferente nosso comportamento ao de Deus! Jesus mostrou o rosto inclusivo de Deus com os meninos e as meninas, reconheceu sua presença, escutou sua palavra e os designou, como já foi dito antes, sinais do seu Reino (Mt 19.14).

75. O desafio não é menor: que as igrejas escutem a voz das meninas e meninos e que lhes permita ser protagonistas, sujeitos de ação e de direito como uma prática eclesiástica e social que lhes dê

empoderamento, os inclua e busque sua plenitude de vida. O desafio é ser igrejas inclusivas, que tenham em conta o valor da infância e validem seu lugar na igreja e na sociedade em geral.

Igreja gentil e justa

76. As cifras de violência contra as meninas e os meninos são alarmantes. Perante essa realidade lacerante, as igrejas devem desempenhar o papel de defensoras da infância não somente lutando por seus direitos e proteção senão também vivendo de tal maneira que deem testemunho de proteção, segurança e justiça. A proteção que buscamos lá, fora das igrejas, e a fazemos patente aqui, dentro das igrejas (igual podemos dizer da segurança, da ternura, da justiça e do bem-estar pleno). As igrejas podem ser lugares seguros de proteção amorosa e de cuidado gentil para as meninas e os meninos em ordem com o modelo que nos herdou o Amigo Jesus.

77. Em este sentido, a igreja deve refletir sobre a relação entre diversas práticas de castigo físico aos meninos e meninas – legitimadas desde leituras reducionistas do texto bíblico - e a promoção de contextos de abuso e violência. É uma responsabilidade das comunidades de fé o assumir a disciplina positiva e promover ou deixar atrás as práticas de castigo em qualquer uma das suas formas. Aqui, é importante ressaltar que ter limites é necessário e é um direito dos meninos e meninas, o que implica formação e guia aos pais / mães para desenvolver seus próprios juízos, sua capacidade de autocontrole, sua autoestima e sua autonomia bem como comportamentos sociais adequados na cultura em que vivem. Assim, a disciplina positiva, com base no respeito à infância, permite o desenvolvimento de suas potencialidades.

78. O bom tratamento deveria ser a característica distintiva do ministério das igrejas para com a infância: espaços seguros onde participem com liberdade, onde aprendam sobre Deus e experimentem seu amor em um ambiente de respeito e de valorização, onde seus direitos sejam reconhecidos, onde seu valor seja considerado e onde suas contribuições sejam levadas em consideração como um dom de Deus para a transformação de todos.

Igreja formadora e protetora

79. A igreja tem como uma parte de sua missão a formação na fé. Mas essa formação não se limita à transmissão dos ensinamentos doutrinais comumente resumidos nos credos confessionais ou nas declarações de fé, senão que abrange, entre outros, a educação para a vida diária, para a responsabilidade cidadã e para a prática dos valores do reino de Deus. É uma educação orientada à formação de cidadãos e cidadãs do reino de Deus que vivem sua fé com solidariedade e que reclamam com dignidade seus direitos.

80. A formação é uma tarefa de toda a vida que começa no círculo mais próximo que é, na maioria dos casos, a família. E a igreja cumpre com as famílias - e com as demais pessoas cuidadoras das meninas e dos meninos um papel educativo primordial para que sejam espaços saudáveis, sanadores, formativos e justos, de cuidado e aprendizado.8

8 As comunidades de fé e as organizações que desenvolvem programas, serviços ou têm contato direto com pessoas menores de 18 anos fariam bem em adotar uma política por escrito para mantê-los protegidos. Isto é conhecido geralmente como política de proteção de meninos, meninas e adolescentes. Esta política deve ajudar a criar um ambiente seguro e positivo e demonstrar que a Igreja ou Organização assume com seriedade sua responsabilidade de cuidá-los. Não devemos ignorar que, lamentavelmente, em meio de tantas pessoas genuinamente interessadas pelas meninas e pelos meninos tambémseinfiltrampessoasinescrupulosasecommásintenções(abusadoressexuaisoutraficantesdemeninos,meninaseadolescentes);éporestarazãoquedevemsertomadasmedidascontundentesparareduzirapossibilidadedequeestaspessoasseinfiltrem.VisãoMundialpublicouumcadernoinformativoaesserespeito,intitulado:Igrejaseorganizaçõessegurasparaainfânciaeaadolescência,quepode ser visto aqui: http://www.wvi.org/es/IglesiasSeguras

Page 21: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

21 «Deixem que as crianças venham a mim»

Proposta de mediação pedagógica

Page 22: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

22 «Deixem que as crianças venham a mim»

A Equipe que forma a Mesa de Bíblia e Teologia, do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude, preparou um valioso material para promover a reflexão bíblica, teológica e pastoral sobre o ministério com meninas, meninos, adolescentes e jovens. Esta é a segunda edição de essas Leituras bíblicas-teológicas para o ministério com a infância e a juventude e, da mesma forma que na primeira edição, são oferecidos a seguir quatro workshops, e eles têm a finalidade de animar e introduzir pessoas de igrejas, de instituições teológicas, de organizações cristãs e de líderes em geral, cujo trabalho esteja relacionado com o estudo do material.

Page 23: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

23 «Deixem que as crianças venham a mim»

1. A estrutura de cada um dos workshops está iluminada pelo texto bíblico de Lucas 10:30-37. Propõe-se uma aproximação desde a visão da realidade da infância, da adolescência e da juventude.

2. As ilustrações tentam plasmar, de forma gráfica, o que está exposto no documento. Através das imagens busca-se trabalhar, de forma inclusiva, com aqueles que tenham dificuldade com a leitura. Além disso, se busca explorar e integrar outras vias de conhecimento, como são a visual e a memória emocional, e provocar uma conversação ainda mais rica em possibilidades para compartilhar experiências e criar conhecimentos significativos. Deve ser levado em consideração que a proposta gráfica não esgota o material escrito. Por essa razão é muito relevante a leitura compartilhada e comentada, de todo o documento. Os workshops estão orientados a realizar a leitura de forma seccionada.

3. No primeiro workshop trabalha-se a partir de duas ilustrações; o segundo, terceiro e quarto workshop é iniciado com a visualização de uma ilustração; no quinto workshop não se utiliza ilustração como ponto de arranque da reflexão. Todas as ilustrações fazem referência aos conteúdos desenvolvidos no documento preparado pela equipe que conforma a Mesa de Bíblia e Teologia do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude.

Cada ilustração está acompanhada de umas perguntas geradoras. As perguntas têm a intenção de proporcionar o diálogo

com respeito aos conteúdos da ilustração correspondente ao workshop que está sendo desenvolvido. Sugere-se ir fazendo um processo de reflexão acumulativo, de maneira que em cada workshop sejam integrados os

aspectos mais sobressalentes do workshop anterior. Esta tarefa deve ser especialmente assumida por parte da pessoa coordenadora ou facilitadora dos workshops. Recomenda-se levar um caderno para fazer anotações e anotar as contribuições das pessoas participantes e dar a retroalimentação ao processo de reflexão com as contribuições que as mesmas vão fazendo. Estas anotações têm grande importância e seria conveniente que os façam chegar à equipe que forma a Mesa de Bíblia e Teologia, do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude para que lhes sirva de insumos para seu trabalho no futuro.

4. No final de cada workshop é indicado o parágrafo do texto no qual encontrarão informação mais detalhada do conversado e as pessoas são convidadas para ler a seção que tem relação com a ilustração e o workshop correspondente.

Page 24: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

24 «Deixem que as crianças venham a mim»

PRIMEIRO WORKSHOP:

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração n° 1 e a compartilhar o que nos chame mais a atenção. Vamos nos regozijar no projeto comunitário de amor, solidariedade e justiça ao que estamos convidadas e convidados. Depois vamos nos deter na segunda ilustração e pôr atenção a todas as situações expostas na ilustração N° 2. Podem anotar em um flipchart ou em um papelógrafo para deixá-las visíveis e retomá-las depois.

2. Depois vamos conversar sobre nossas próprias experiências em relação com as situações expressadas na ilustração. Podemos nos interrogar sobre os seguintes aspectos:

A infância, a adolescência e a juventude estão pelos caminhos de nossas comunidades “nus, espancados, meio mortos” Lc. 10:30

Introdução: No primeiro workshop vamos afirmar nossa postura de pessoas crentes em Deus de Jesus Cristo que nos convida a seu projeto de amor, misericórdia e justiça. Também vamos reconhecer as situações pelas quais passam as meninas, meninos, adolescentes e jovens na atualidade e que se contradizem com o conceito de “ter vida em abundância”. A reflexão deve ser orientada a conectar os dados “frios” das enquetes com histórias locais, próximas e conhecidas, com rostos e nomes.

• Conhecemos casos parecidos aos expostos na ilustração n° 2?

• Existe na nossa realidade outras situações de violência, risco social da infância, da adolescência e da juventude que não estão expressadas na ilustração n° 2?

• Quais são essas outras situações?• Como nos sentimos diante dessas situações

pelas quais passam muitas meninas, meninos, adolescentes e jovens?

• Como nos questiona essa realidade a partir da nossa identidade cristã?

• Sugere-se um momento de devoção que possa consistir nos seguintes passos: escrever sobre pedaços de papel os nomes de meninas, meninos, adolescentes e jovens que estejam em situações de risco, de violência, de desamparo. Estes

1

serão colocados sobre o piso ao redor da ilustração n° 1. Serão acesas velas em sinal de compromisso por transformar as condições nas quais vivem essas meninas, meninos, adolescentes e jovens e serão convidados a viver no Projeto de Jesus, representado na ilustração.

3. Recomenda-se ler a primeira parte do documento, começando no numeral 1 até o numeral 7.

Page 25: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

25 «Deixem que as crianças venham a mim»

Page 26: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

26 «Deixem que as crianças venham a mim»

SEGUNDO WORKSHOP:

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração e a compartilhar aquilo que nos chama a atenção. É importante destacar as atitudes das pessoas adultas que aparecem na ilustração. Pode-se fazer uma chuva de ideias e anotá-las no flipchart.

2. Depois vamos conversar sobre nossas próprias experiências em relação com as situações expressadas na ilustração n° 3. Podemos nos perguntar:

• Conhecemos casos parecidos?• Existe em nossa realidade outras situações

onde as pessoas adultas agem de forma parecida as que aparecem na ilustração?

Reconhecendo os vitimários Lc. 31-32

Introdução: este segundo workshop faz referência às pessoas adultas, que são as responsáveis pelo bem-estar da infância, da adolescência e da juventude; mas que não cumprem com sua tarefa. Vamos conversar sobre quem são os “assaltantes” e quem são os que agem com indiferença e falta de compromisso.

• Que papel desempenha a comunidade eclesial nesta problemática?

• O que se faz atualmente a nível eclesial e civil para transformar as situações comentadas?

• Como podemos melhorar o que já está sendo feito?

• Sugere-se um momento de devoção que possa consistir nos seguintes passos: colocar sobre o piso elementos que representem as atitudes de egoísmo, violência, falta de interesse, abandono, falta de amor, etc. que as pessoas adultas expressam a respeito da vida de meninas, meninos, adolescentes e jovens (podem ser algumas espinhas, pedras, terra árida, etc.). Depois podem ser colocadas sobre

2

as pedras algumas flores, água sobre a terra seca, sementes e frutas (que representem a capacidade de transformação que temos como pessoas cristãs sempre convidadas a promover mudanças por meio de seguimento de Jesus Cristo).

3. Recomenda-se ler a primeira parte do documento, começando no numeral 8 até o numeral 15.

Page 27: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

27 «Deixem que as crianças venham a mim»

Lc. 10:30

ASSISTÊNCIA

MÉDICA

TESTEHIV

POSITIVO

LIXO

Page 28: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

28 «Deixem que as crianças venham a mim»

TERCEIRO WORKSHOP:

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração e compartilhar o que mais nos chama a atenção.

2. Depois vamos conversar sobre nossas próprias experiências em relação com as situações expressadas na ilustração. Podemos nos perguntar:

• Conhecemos experiências parecidas? • Existe na nossa realidade iniciativas eclesiais

ou civis similares que apóiam a infância, a adolescência e a juventude? Recomenda-se anotar o que for comentado para ter um mapa de atores envolvidos na transformação da realidade.

Nosso compromisso pela transformação das diferentes formas de violência exercidas contra a infância, a adolescência e a juventude Lc. 10:33-37

Introdução: este terceiro workshop faz referência às iniciativas que são promovidas para alcançar o bem-estar da infância, da adolescência e da juventude.

• Como pessoas crentes em Deus da Vida e seguidoras de Jesus e seu projeto libertador. O que nos motiva a trabalhar pelo bem-estar da infância, da adolescência e da juventude?

• Que tanto conhecemos e integramos no nosso cotidiano a legislação onde são plasmados os direitos da infância e da adolescência?

• Sugere-se um momento de devoção que possa consistir nos seguintes passos: colocar sobre o piso a ilustração n° 2 (utilizada no primeiro workshop), onde são expostas as situações pelas que atravessam as meninas, meninos, adolescentes e jovens. Ao redor da ilustração serão colocados

3

exemplares de alguns documentos da legislação vigente a favor das pessoas menores de idade ou, em sua ausência, serão escritos seus nomes em pedaços de papel. Podemos, também, escrever o nome de algumas instituições e projetos que trabalhem pelo bem-estar das meninas, meninos, adolescentes e jovens. Será feita uma oração de ação de graças por essas iniciativas e as pessoas darão suas mãos em sinal de apoio e compromisso a favor dessas organizações e projetos.

3. Recomenda-se ler o segundo parágrafo do documento, que inclui do numeral 16 ao numeral 30.

Page 29: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

29 «Deixem que as crianças venham a mim»

Lc. 10:31-32

ESPERE, QUANDO VOCÊ FOR ADULTA PODERÁ DECIDIR SOBRE SUA VIDA!

AS PESSOAS ADULTAS SEMPRE TÊM RAZÃO!

OS CASTIGOS DO SENHOR!

DIR

EITO

S DO

MEN

INO

E DA

MEN

INA

Page 30: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

30 «Deixem que as crianças venham a mim»

QUARTO TALLER:

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração e compartilhar o que mais nos chama a atenção e por quê.

2. Depois vamos conversar sobre nossas próprias experiências em relação com as situações expressadas na ilustração. Podemos nos perguntar:

• Qual é a valoração que prevalece com respeito à infância, a adolescência e a juventude?

• Durante sua infância, adolescência e juventude escutaram frases como as seguintes: “as meninas e os meninos, bem como as pessoas adolescentes e jovens não sabem, não podem opinar, suas contribuições não são valiosas, não têm experiência, não sabem o que lhes convêm,

Los niños, adolescentes y jóvenes son personas activas y propositivas.

Introdução: este quarto workshop faz referência às capacidades próprias dos meninos, adolescentes e jovens como pessoas e a necessidade de reconhecê-las, valorizá-las, legitimá-las e integrá-las no cotidiano pastoral, eclesial, familiar e social.

necessitam sempre e em todos os casos dos bons critérios das pessoas adultas que os orientam”

• São certas estas frases?• Existe na nossa realidade eclesial ou civil

experiências onde sejam valorizadas e integrem de forma respeitosa a infância, a população adolescente e jovem?

• Que podemos fazer para reconhecer, valorizar, impulsionar e integrar as contribuições da infância, da adolescência e da juventude?

• Sugere-se um momento de devoção que pode consistir nos seguintes passos: colocar sobre o piso a ilustração utilizada no desenvolvimento deste workshop. Colocar ao redor da ilustração uma vela grande acesa, uma planta em crescimento,

4

um pedaço de pão, um copo de leite, alguns brinquedos como sinal da alegria e da criatividade da infância. Estão convidados a pensar em meninas, meninos, adolescentes e jovens que exalam energia, vitalidade, inteligência, amor e que nutrem as famílias e comunidades com seus dons.

3. Recomenda-se ler a terceira, quarta e quinta parte do documento, que inclui do numeral 31 até 61.

Page 31: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

31 «Deixem que as crianças venham a mim»

Lc. 10:33-37

DEUS ÉUMA FAMÍLIA

DOENÇAS

SEXUALMENTE

TRANSMISSÍVEIS

Page 32: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

32 «Deixem que as crianças venham a mim»

QUINTO WORKSHOP:

1. Organizados em grupos de três pessoas, leem e comentam a quinta parte do documento que inclui do numeral 62 até o , até o final do documento.

2. Nomeiem uma pessoa do grupo para que comente na plenária o que for conversado no subgrupo.

3. Sublinhem o que mais chama a atenção e escolham algumas ideias para compartilhar na plenária.

4. Anote-se no flipchart ou no papelógrafo os desafios que vamos descobrindo das leituras.

5. Comentem na plenária o conversado nos grupos.

6. Sugere-se um momento de devoção que pode consistir nos seguintes passos: a pessoa facilitadora entregará a cada pessoa

as pessoas menores de idade são agentes do reino de Deus.

participante uma silhueta de menina, menino, adolescente ou jovem desenhada em papel, de preferencia de várias cores, para expressar a diversidade que nos constitui. Cada pessoa escreverá ou desenhará sobre a silhueta ou expressará de forma verbal um desejo que tem para a vida das pessoas menores de idade. A pessoa facilitadora segurará nas suas mãos a ilustração n° 1, utilizada no primeiro workshop. Previamente terá feito pequenas aberturas e colocado neles fios de diferentes cores de onde se amarrarão as silhuetas que cada pessoa recebeu. Desta maneira é possível expressar o desejo de formar parte do projeto de amor a que Jesus nos convida sem importar a idade, nem a condição social ou origem étnica ou qualquer elemento de nossa identidade.

5Introdução: este quinto workshop faz referência às capacidades próprias dos meninos, adolescentes e jovens como pessoas e a necessidade de reconhecê-las, valorizá-las, legitimá-las e integrá-las no cotidiano pastoral, eclesial, familiar e social.

Page 33: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

33 «Deixem que as crianças venham a mim»

NÃO AO CASTIGO FÍSICO

SEM VIOLÊNCIA

APRENDEMOS

CARINHO

BRINCADEIRA

ESTUDO PORQUE QUERO CONSEGUIR...

ESTUDO

SAÚDE

ALIMENTAÇÃO

TEMOS

EXIGIMOS UMA VIDA LIVRE DE TODO TIPO DE VIOLÊNCIA

DIREITOS

MELHOR

Lc. 10:33-37

NÃO ME BATA!

Page 34: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

34 «Deixem que as crianças venham a mim»

Materiais necessários para levar adiantecada encontro:Workshop N° 1• Ilustrações n° 1 e n° 2.

Recomenda-se ter pelo menos uma cópia das ilustrações por cada duas pessoas, o que dará a oportunidade às pessoas participantes de observar de perto cada detalhe e promoverá sua participação. Em caso de contar com a equipe e as condições necessárias, a ilustração pode ser projetada e será necessária somente a ilustração impressa para a atividade de devoção.

• Flipchart ou papelógrafo• Marcadores coloridos• Fita adesiva ou aderência

para sustentar os pedaços de papel no flipchart ou papelógrafo

• Tirinhas de papel, marcadores e lápis

• Velas e fósforos• Tudo que for necessário para

o lanche

Workshop N° 2• Ilustração n° 3. Recomenda-

se ter pelo menos uma cópia da ilustração por cada duas pessoas, o que dará a oportunidade às pessoas participantes de observar de perto cada detalhe e promoverá sua participação. Em caso de contar com a equipe e as condições necessárias, é possível projetar a ilustração e será necessária somente uma ilustração impressa para a atividade de devoção que é sugerida mais adiante.

• Flipchart ou papelógrafo• Marcadores coloridos• Fita adesiva ou aderência

para sustentar os pedaços de papel no flipchart ou papelógrafo

• Elementos para o momento de devoção (espinhas, pedras, terra árida que serão utilizadas para expressar as atitudes hostis das pessoas adultas em contra das meninas, meninos, adolescentes e jovens. Também serão necessárias algumas flores ou ramas verdes, recipiente com água, alguma fruta ou semente

• Tudo que for necessário para o lanche

Workshop N° 3• Ilustração n° 4. Recomenda-

se ter pelo menos uma cópia da ilustração por cada duas pessoas, o que dará a oportunidade às pessoas participantes de observar de perto cada detalhe e promoverá sua participação. Em caso de contar com a equipe e as condições necessárias a ilustração poderá ser projetada e será necesária somente uma ilustração impressa para a atividade de devoção que é sugerida mais adiante.

• Flipchart ou papelógrafo• Marcadores coloridos• Fita adesiva ou aderência

para sustentar os pedaços de papel no flipchart ou no papelógrafo

• Ilustração n° 2 fotocopiada para o momento da devoção

• Exemplares da legislação vigente, a favor dos direitos das pessoas menores de idade ou, em sua ausência, tirinhas de papel com os nomes dessas legislações (pode ser A Convenção dos Direitos da Infância)

• Tudo que for necessário para o lanche

Workshop N° 4• Ilustração n° 5 para o

arranque da reflexão. Recomenda-se ter pelo menos uma cópia da ilustração por cada duas pessoas, isto dará a oportunidade às pessoas participantes de observar de perto cada detalhe e promoverá sua participação. Em caso de contar com a equipe e as condições necessárias, a ilustração pode ser projetada e será necessária somente uma ilustração impressa para a atividade de devoção que é sugerida mais adiante.

• Flipchart ou papelógrafo• Marcadores coloridos• Fita adesiva ou aderência

para sustentar os pedaços de papel no flipchart ou papelógrafo

• Tudo que for necessário para o lanche

Workshop N° 5• Flipchart ou papelógrafo• Marcadores coloridos• Fita adesiva ou aderência

para sustentar os pedaços de papel no flipchart ou papelógrafo

• Ilustração n° 1 fotocopiada com pequenas aberturas perfuradas onde são colocados os fios coloridos

• Silhuetas de meninas, meninos, adolescentes e jovens desenhados sobre papéis coloridos e de vários tamanhos

• Tudo que for necessário para o lanche

Page 35: que as crianças venham a mim» · 2018. 10. 17. · 2 «Deix «Deixem que as crianças venham a mim» SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA Este documento foi preparado pelo Movimento

Nossa identidade gráfica atual representa essa essência dinámica, criativa e contextual do Movimento com a Infância e a Juventude. É demonstração da transformação, pertinência e influencia que caracterizam nossos esforços e iniciativas com as igrejas e, especialmente,

com as meninas, meninos, adolescentes e jovens da América Latina e Caribe.

movimientonj.orgFacebook:/MovimientoNJTwitter: @MovimientoNJ