quase michelângelo

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Quase Michelângelo Horas em frente a própria obra. A expressão congelada. Olhos vidrados. Meio sorriso. O tique retorna; um olho pisca. O corpo imóvel. Uma mão se move lentamente e inconsciente até a obra. O toque da vida não funcionou. Frustrou-se. Os quatro olhos vidrados se tocaram, sublimes… -Fala comigo! Fala!!! As duas mãos se beijaram. Uma janela se abriu; a luz entrou. Um dedo se movimentou. Mas o artista nem se deu conta de que foi com a batida do cinzel. A felicidade o atingiu bruscamente, o sorriso se abriu por inteiro, e então o artista e a escultura dançaram uma linda valsa mágica!! Foi quando, no fim da tarde, o sol se pondo, a pedra errou o passo e escorregou, e os pedaços se espalharam pelo chão. Raquel Fernandes . 2012

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Texto poético de autoria própria, em que trava-se uma forte relação atemporal entre criador e criatura

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Page 1: Quase Michelângelo

Quase Michelângelo

Horas em frente a própria obra.

A expressão congelada.

Olhos vidrados.

Meio sorriso.

O tique retorna; um olho pisca.

O corpo imóvel.

Uma mão se move lentamente e inconsciente até a obra.

O toque da vida não funcionou.

Frustrou-se.

Os quatro olhos vidrados se tocaram, sublimes…

-Fala comigo! Fala!!!

As duas mãos se beijaram.

Uma janela se abriu; a luz entrou.

Um dedo se movimentou.

Mas o artista nem se deu conta de que foi com a batida do cinzel.

A felicidade o atingiu bruscamente, o sorriso se abriu por inteiro, e então o

artista e a escultura dançaram uma linda valsa mágica!!

Foi quando, no fim da tarde, o sol se pondo, a pedra errou o passo e

escorregou, e os pedaços se espalharam pelo chão.

Raquel Fernandes . 2012