quando o pornô vai à cidade - joão pena

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 170 JOÃO SOARES PENA Urbanista, mestre PPG Arquitetura e Urbanismo/UFBA e membro do Laboratório Urbano INTRODUÇÃO O presente texto apresenta a pesquisa de mestrado intitulada Espaços de excita- ção: cines pornôs no Centro de Salvador  (PENA, 2013), desenvolvida no Progra- ma de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (PPG-AU/FAUFBA), apontando alguns de seus resultados. A inves- tigação trata dos cines pornôs existentes no Centro de Salvador e sua relação com esta área, ou seja, a cidade. 2  Nosso interesse está na apreensão e compre- ensão de processos urbanos que fogem daqueles presentes na prática tradi- cional do urbanismo 3  e, consequentemente, do ordenamento urbano. Nesse sentido, buscamos entender como as práticas sexuais – especicamente, aqui, as relacionadas aos cines pornôs – se inserem e se relacionam, a partir de seus praticantes, com a cidade. QUANDO O PORNÔ VAI À CIDADE 1  

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Texto analisando a relação entre os cines pornôs e a cidade em Salvador.

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    Joo SoareS PenaUrbanista, mestre PPG Arquitetura e Urbanismo/UFBA e membro do Laboratrio Urbano

    INTRODUO

    O presente texto apresenta a pesquisa de mestrado intitulada Espaos de excita-o: cines porns no Centro de Salvador (PENA, 2013), desenvolvida no Progra-ma de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (PPG-AU/FAUFBA), apontando alguns de seus resultados. A inves-tigao trata dos cines porns existentes no Centro de Salvador e sua relao com esta rea, ou seja, a cidade.2 Nosso interesse est na apreenso e compre-enso de processos urbanos que fogem daqueles presentes na prtica tradi-cional do urbanismo3 e, consequentemente, do ordenamento urbano. Nesse sentido, buscamos entender como as prticas sexuais especificamente, aqui, as relacionadas aos cines porns se inserem e se relacionam, a partir de seus praticantes, com a cidade.

    Quando o porn vai cidade1

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    importante situar que os cinemas porns estudados se inserem na trajetria dos cinemas de rua em Salvador, cujo princpio data do ano 1897, quando hou-ve a primeira exibio de filme na cidade. Ao longo dos anos, vrias mudanas ocorreram tanto na configurao desses espaos quanto na relao entre eles e a cidade. Salvador, que tivera outrora inmeros cinemas de rua em funcionamen-to, passou a contar com apenas dois, funcionando como porns. Assim, enfati-zamos, neste texto, a dinmica atual desses dois lugares e sua relao com a rea onde esto inseridos.

    Para a realizao da pesquisa fizemos uma aproximao do urbanismo com a an-tropologia urbana, assumindo o que Magnani (2002) chama de olhar de perto e de dentro. Isto permite-lhe captar determinados aspectos da dinmica urbana que passariam desapercebidos, se enquadrados exclusivamente pelo enfoque das vises macro e dos grandes nmeros. (M AGNANI, 2002, p. 16) Essa viso macro seria o que o autor chama de olhar de fora e de longe, o qual se refere aos enfoques corriqueiros sobre a cidade. Nesse sentido, buscamos nos aproximar do nosso objeto, assumindo uma postura de perto e de dentro ou, ainda, como diria Biase (2012), uma abordagem ou postura antropolgica4 para, a partir da, compreend-lo no contexto do Centro da cidade.

    A chegADA DO pORN em SAlvADOR

    Os filmes pornogrficos passaram a ter espao no mercado exibidor brasileiro no final da dcada de 1970. Em Salvador, os filmes porns foram exibidos, de forma geral, nos cinemas de rua distribudos pela cidade, sobretudo os do Cen-tro, a partir do final dessa mesma dcada. Os filmes porns inicialmente eram exibidos nos cinemas comerciais, inclusive, nas melhores salas. Contudo, com o passar do tempo, eles restringiram-se a algumas salas que se especializaram nesse gnero. De acordo com Leal e Leal Filho (1997), nos anos 1970 havia cinco cines porns em Salvador: Jandaia, Pax, Liceu, Tupy e Astor. Todos eles estavam localizados na rea central, relativamente pertos um do outro, configurando o que Magnani (2002) chama de mancha, ou seja, reas contguas onde h equi-pamentos que favorecem a existncia de uma prtica ou atividade predominan-te. Neste caso, tratava-se de uma mancha de lazer por competio, j que todos esses estabelecimentos ofereciam o mesmo servio.5

    No final dos anos 1970 e comeo dos 1980, as sesses de filmes porns inicia-vam-se tarde, a partir das 14h at as 22h, e eram contnuas, ou seja, era possvel ver mais de uma vez ao filme aps o pagamento do ingresso, desde que no se sasse do cinema. Nesse perodo, os espectadores lotavam os cinemas, haven-do filas enormes (de cerca de 600 a 700 m) de quem aguardava pelo incio da

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    exibio. Os frequentadores eram geralmente homens jovens ou de meia idade, poucos casais e pouqussimas mulheres ou grupos de amigas. A programao dos cinemas que exibiam filmes com contedo sexual geralmente continha um filme de ao (artes marciais, como kung fu) seguido de um filme de sexo (soft ou hard core),6 cuja censura era sempre indicada nos anncios dos jornais, permiti-do apenas para maiores de 18 anos.

    Podemos perceber que as dobradinhas kung fu-porn atraam bastante pbli-co, e foi uma alternativa para cinemas de rua nos anos 1980 manterem a fre-quncia de muitos espectadores, pois neste perodo esses cinemas de rua esto perdendo sua importncia. Contudo, entre meados e final desta dcada, de-sapareceram os lanterninhas e a vigilncia no interior das salas comporta uma maior tolerncia. (VALE, 2000, p. 34) O lanterninha era responsvel por manter a ordem na sala, evitando ou coibindo atos imprprios, alm de orientar o espectador. Coincidentemente ou no, o desaparecimento dessa figura acon-teceu no momento em que esses cines porns passaram a abrigar o exerccio de prticas sexuais entre seus frequentadores que eram, majoritariamente, do sexo masculino. Se, por um lado, isto afastou alguns frequentadores que no estavam interessados nessas prticas, por outro, atraiu pessoas que iam em busca de parceiros.

    A partir da, a possibilidade de encontrar parceiros para prtica sexual passou a ser o sustentculo desses espaos, sendo o filme apenas um pano de fundo que, apesar de ser assistido por alguns com ateno, no se configura como o objetivo da maioria que procura esses cines porns atualmente. Neles, o sexo deixa a tela e passa a ser protagonista na sala de exibio entre os frequentadores, com a realizao de suas prticas sexuais.

    NO eScURINhO DO cINemA

    Dos diversos cinemas de rua existentes em Salvador, apenas dois mantiveram-se em funcionamento, ambos porns. So eles: o Cine Astor, fechado no incio de 2013; e o Cine Tupy, qual continua em atividade. Eles esto localizados no Centro de Salvador, rea que, apesar das mudanas ao logo do tempo, continua sendo importante devido quantidade de servios diversos que oferece cida-de e de toda a infraestrutura que possui. Se, por um lado, houve a retirada dos rgos administrativos do Estado dessa rea, por outro, h uma srie de rgos da administrao municipal, inclusive a Prefeitura, que a funcionam cotidiana-mente, alm de um forte comrcio popular. Isto atrai uma grande quantidade de pessoas para essa rea, tanto para trabalhar e para resolver uma srie de questes junto ao poder pblico quanto para as prticas de consumo.

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    Todo esse movimento que acontece durante o dia vai cessando e, ao cair da noi-te, ,no o observamos mais. Ento, as ruas esto mais vazias (menos carros e pe-destres), as lojas fechadas; as pessoas que procuram o Centro no so as mesmas ou os interesses so diferentes e a ambincia j outra. Saem os trabalhadores de rua que comercializam eletroeletrnicos, CDs e similares e aparecem outros su-jeitos que tambm tm a rua como local de trabalho, como os michs, os traves-tis e as garotas de programa. Entretanto, durante o dia que os cinemas mantm seu funcionamento devido ao fluxo de pessoas na rea , cessando noite por conta tambm, da falta segurana.

    O Cine Tupy foi inaugurado em 1956 e est localizado na Avenida J. J. Seabra, conhecida como Baixa dos Sapateiros, uma rea de comrcio popular intenso. Com sua fachada discreta s notado pelos inscritos Tupy todos os dias 2 filmes erticos , funciona todos os dias das 10h00 s 18h30. O ingresso custa R$ 6,50 (meia-entrada para todos) e d o direito de permanecer no cine o tempo que se quiser at o fim do expediente.

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    Inaugurado em 1953, o Cine Astor tornou-se porn nos anos 1970, atividade que manteve at 2013. Localizado na Rua da Ajuda, paralela Rua Chile, o Astor estava prximo a importantes equipamentos urbanos, como a Cmara de Vere-adores, o Elevador Lacerda, a Prefeitura Municipal, o Palcio Rio Branco, o ter-minal de nibus da Praa da S etc., onde h, tambm, uma presena intensa de turistas. Entretanto, essa rua no to movimentada quanto a Rua Chile, o que, aliado discrio de sua fachada, lhe confere pouca visibilidade, tanto que mui-tas pessoas desconheciam completamente a existncia desse espao ou, quando j ouviram falar a respeito, acreditavam que o mesmo j estava fechado (antes dele ter fechado de fato).

    Pagando cerca de R$ 5,00, era possvel ter acesso ao cinema, cuja sesso era con-tnua, ou seja, o espectador poderia ficar o quanto quisesse na sala pelo valor de um nico ingresso.

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    O fechamento do Cine Astor poderia ter significado uma retrao do segmen-to porn no Centro, mas o que aconteceu foi exatamente o contrrio. Aps o fechamento, houve a reabertura provisria no prdio em frente, sendo poste-riormente deslocado para a Rua Ruy Barbosa, abrindo com o nome de Colnia Filmes. Nesse momento, um antigo funcionrio do Astor resolveu manter o es-pao at ento provisrio, enquanto sala de exibio de filmes porns, chamado, aqui, de Cine Cabine. Curiosamente, o fechamento do Astor deflagrou, ento, o aumento no nmero de salas porns na cidade. claro que estamos em uma situao diferenciada, pois eles no funcionam mais como os antigos cinemas de rua com sua estrutura original, apesar de tentarem reproduzir, nesses novos espaos, a ambincia que existia naquele tipo de cinema.

    Aps passar pela porta dos cines porns, a realidade que se mostra em seu in-terior distingue-se fortemente do que vemos a alguns metros de distncia, bem em frente a esses locais. A ambincia desses espaos sugere o estabelecimento da noite durante o dia em espaos determinados e propicia o aparecimento de certas posturas e prticas no to comuns luz do dia. A sala deixa de ser apenas um cinema, pois certas prticas emergem ao nosso olhar. A escurido possibilita um possvel anonimato, uma vez que muito difcil enxergar completamente

    os detalhes da fisionomia da pessoa com quem se est praticando sexo ou mesmo de quem est l.

    Entre os frequentadores dos cines h quem esteja simplesmente bus-cando divertimento, mas h quem use o local como ponto de trabalho, como o caso dos garotos de programas ou boys, os travestis e as garotas de programa, alm dos prprios funcionrios que so responsveis pelo funcionamento dos estabelecimentos.

    Entre eles podemos, antes de tudo, constatar que a frequncia majoritaria-mente masculina. Entretanto, podemos fazer, pelo menos, trs distines en-tre essas pessoas: os caadores, que so os que procuram interagir com outros frequentadores sem precisar pagar; os homens que procuram os travestis e os que procuram pelas garotas de programa. A prostituio feminina acontecia no Astor, onde tambm havia a atuao de travestis e boys, e se mantm no Colnia Filmes e no Cine Cabine. J no Tupy no h garotas de programa, apenas boys e travestis. Entretanto, o melhor cine para os boys o Tupy, pois nele h mais pessoas que buscam seus servios.

    Desse modo, h uma especializao dos cinemas, pois, de acordo com os inte-resses do pblico, h tipos de profissionais do sexo que tm mais chances de atuar em cada um deles. Entretanto, isso no excludente a uma ou outra pr-

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    tica sexual. Entre as razes pelas quais os profissionais do sexo escolheram os cines porns, em vez de outros espaos que acolhem essas prticas, esto a segurana desses locais e o retorno financeiro, j que eles pagam apenas o ingresso, ou seja, no h nenhuma outra taxa que seja cobrada pela administrao dos cines.

    Na pesquisa de campo, fizemos uso da etnografia, m-todo da antropologia, que consiste num mergulho na realidade que se pretende compreender. Nesse senti-do, interessante notar que, entre os profissionais do sexo com os quais tivemos contato, de maneira geral, os garotos moram em bairros perifricos, j os traves-tis habitam a rea central da cidade. Alm disso, alguns deles atuam em outros locais alm dos cines, sejam saunas, clubes de sexo ou a prpria rua noite. Assim, atuando em vrios desses espaos da cidade, eles po-dem estabelecer certa conexo entre eles, no apenas do ponto de vista espacial, mas, tambm, em relao aos frequentadores desses diferentes lugares.

    Nos arredores dos cinemas existem hotis,-que, na verdade, funcionam como motis e so frequentemente utilizados por frequen-tadores desses cinemas quando estes no desejam realizar suas prticas sexuais nestes lugares. Geralmente, isto acontece quando se trata de programa com os profissionais do sexo. Alm disso, no Centro h outros espa-os que, de algum modo, esto relacionados a esses cines porns, seja pela proximidade espacial, seja pelos frequentadores em comum ou por, haver de certa maneira, a mediao da imagem nas prticas que acontecem em seu interior. Trata-se das saunas e clubes de sexo existentes no Centro, os quais, juntamente com os cines porns, configuram uma mancha de espaos de prticas sexuais nessa regio.

    No caso dessa mancha especificamente, o regime de visibilidade um tanto curioso, pois, ao mesmo tempo em que alguns deles esto em reas com certo movimento, a discrio da fachada dos estabelecimentos dificulta sua identifi-cao por pessoas que no sejam frequentadoras, que sejam simples transeun-tes, ou seja, que no frequentem esses lugares. Magnani (2002) acrescenta que a

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    mancha o lugar de cruzamentos inesperados e no previstos. Numa determi-nada mancha sabe-se que tipo de pessoas ou servios se vai encontrar, mas no quais, e esta a expectativa que funciona como motivao para seus frequenta-dores. (M AGNANI, 2002, p. 23)

    Esses espaos integram o que podemos chamar de circuito gay de Salvador, ou seja, locais com frequncia de pessoas homo-orientadas extrapolando os limites do Centro com a existncia de diversos outros espaos e estabeleci-mentos na cidade. Apesar da maior independncia do ponto de vista espacial, o circuito compreende a totalidade de equipamentos que oferecem deter-minado servio ou servem para a realizao de uma prtica. Assim, mesmo

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    sem uma contiguidade espacial, os espaos geralmente so conhecidos pelos integrantes desse circuito, mesmo considerando que nem todos frequentam todos os lugares.

    cONclUSO

    O porn sempre esteve no cinema, desde seus primeiros anos. Entre-tanto, sua forma de produo e exibio mudou ao longo do tempo. Do mesmo modo, o cinema porn sempre esteve na cidade, mesmo que de maneira clandestina e em lugares mais restritos. possvel in-dicar que h certa relao entre as imagens em movimento e as prticas sexuais que ocorrem no interior dos cines porns, o que j acontecia, de certa maneira, desde os primeiros filmes feitos para excitar. Pode-mos dizer que, atualmente, nos cines porns de Salvador, os filmes de sexo explcito so um pano de fundo, pois o que realmente sustenta esses cinemas so as prticas sexuais entre os frequentadores.

    Os cines porns mantm estreita relao com a dinmica do Centro de Salvador, pois seu funcionamento est relacionado ao fluxo de pes-soas nesta rea, interessadas nesse tipo de espao, os quais podem lhe conferir certo anonimato. Alm disso, a abertura dos dois novos cines sintomtica a respeito de uma pulso ertica que existe no Centro e indica uma dinmica peculiar nesta rea ligada aos espaos de prtica sexual. Assim, indo de encontro tendncia do desaparecimento, es-ses estabelecimentos tomaram um novo flego e se mantm no Cen-tro com suas fachadas discretas e seu interior fervilhando.

    Algumas das questes apontadas aqui no esto na ordem do dia do urbanismo em seus diagnsticos, planos, projetos etc., e com isto no estamos dizendo que deveriam estar; ou seja, no se trata de ordenar essas prticas, como fazemos com as distintas atividades urbanas, mas preciso consider-las ao realizarmos intervenes urbansticas, pois elas tambm so constituintes da dinmica urbana.

    Aspectos abordados ao longo deste texto contribuem para com-preendermos a dinmica do Centro e da prpria cidade sob outra perspectiva que no seja uma abordagem tradicional do urbanis-mo. No se trata apenas de entender, por exemplo, como se do o uso e a ocupao do solo, ou quais atividades econmicas funcio-nam nessa rea, pois existem atividades que atraem pblicos espe-cficos (como cinemas pornogrficos e saunas) e que funcionam se-

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    1A dissertao foi defendida em no-vembro/2013. Banca: Washington Luis Lima Drummond (orientador) e Paola Berenstein (co-orientadora) (PPGAU/UFBA). Francisco de Assis Costa (PPGAU/UFBA). Milton Jlio de Carvalho Filho (IHAC/UFBA).

    2A pesquisa teve incio em 2009, quando o autor era estudante de Ba-charelado em Urbanismo na UNEB, tendo como primeiro resultado um artigo (PENA; BOUAS; NUNES, 2009), apontando as ideias iniciais que foram desenvolvidas e aprofun-dadas posteriormente na pesquisa de mestrado.

    3 Falamos da prtica e no do pr-prio urbanismo, pois os resultados dele, enquanto campo que se dedica a pensar e intervir na cidade, depen-de da forma como ele operado/apropriado e das ferramentas que so utilizadas, pois, como sabemos, h uma srie de interesses distintos e foras que operam sobre o urbano.

    4 Biase (2012, p. 198) defende a antropologia no apenas como disciplina cientfica, mas, tambm, como uma postura, uma forma de apreender, de abordar e de olhar de dentro, intimamente, criar ferra-mentas, toda uma maneira de fazer,

    de pensar e de estar frente ao outro [...] uma antropologia que poderia ser defendida, praticada e reivin-dicada pelos arquitetos, urbanistas e atores de outras disciplinas. A prpria autora tem sua formao inicial em arquitetura e urbanismo, tendo realizado doutorado em an-tropologia social e etnologia, e tem realizado pesquisas que relacionam essas duas reas.

    5 Para maiores detalhes acerca da trajetria dos cinemas de rua em Salvador, sua relao com esta ci-dade e a chegada dos filmes porns, cf. Pena (2012, 2013) e Leal e Leal Filho (1997).

    6 Abreu (1996) explica que os filmes que tem a temtica sexual so definidos basicamente de dois modos: soft core e hard core. Soft core refere-se aos filmes erticos, ou seja, que no tm cena de sexo explcito, apenas sugerido. J hard core define os filmes em que o sexo aparece de forma explcita e o que realmente importa, haja vista a excessiva exibio de aes sexuais, do pnis ereto e da penetrao.

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    gundo sua prpria lgica. Foi assim que para compreender melhor a nossa questo, buscamos utilizar a etnografia, no sentido de nos aproximarmos do nosso objeto para apreend-lo e compreend-lo. Acreditamos que as trocas entre distintos campos do conhecimento podem ser bastante ricas, contribuindo para uma melhor compreenso do objeto de estudo, no nos-so caso, a cidade.

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    ABREU, Nuno Cesar. O olhar porn: a representao do obsceno no cine-ma e no vdeo. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

    BAUDRY, Patrick. O porn como experincia urbana. Cadernos PPGAU/FAUFBA, Salvador, v. 7, n. 1, Edio especial - Paisagens do Corpo, p. 55-65, 2008.

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    BOCCANERA JNIOR, Silio. Os cinemas da Bahia, 1897-1918. Sal-vador: EDUFBA; EDUNEB, 2007.

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