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QUANDO A VIOLÊNCIA FAZ PARTE DO CONTRATO: estudo de recepção da Folha de Pernambuco Maria Salett Tauk Santos(*) Este texto trata de alguns pressupostos teóricos e resultados parciais de uma pesquisa empírica mais ampla, um estudo de recepção do Jornal Folha de Pernambuco, que está sendo realizado pelos professores e alunos do Programa de Mestrado em Administração Rural da UFRPE, com feirantes do bairro de Casa Amarela, no Recife. É notória a ênfase que o Jornal dá à violência criminal em suas edições diárias. Partindo desse pressuposto o itinerário da presente análise é demonstrar que: 1º. a Folha combina ao noticiário policial procedimentos que vão ao encontro da maneira de pensar e agir das culturas populares, o que favorece o contrato de leitura com contexto popular; 2º. a violência criminal constitui o elemento mais visível do contrato do Jornal com os leitores populares, no caso os feirantes; esses leitores entretanto constróem um sentido para a violência que nunca é o eco da proposta do Jornal. Palavras-chave: estudo de recepção, mídia e violência, cultura popular. A grande manchete de 1998 em relação ao jornalismo em Pernambuco foi sem dúvida o lançamento de um jornal, da grande imprensa, popular de fato: a Folha de Pernambuco. Popular no sentido antropológico que se define pelo uso, como veremos adiante. Em outras palavras as pessoas de contextos populares lêem, consomem, usam enfim a Folha de Pernambuco. São escassas as experiências no Brasil de jornais da grande imprensa lidos e apreciados nos contextos populares. O Dia e A Notícia do Rio de Janeiro são desses raros exemplos de jornais que o povo lê. Nas décadas de 60 e 70 surgiram no Brasil muitas experiências de jornais produzidos fora do circuito hegemônico da grande imprensa, destinados à leitura em contextos populares. Estes jornais conhecidos como alternativos, e dirigidos por segmentos específicos, geralmente de intelectuais, tinham uma postura marcadamente política.(1) A partir da década de 80, com o fim da ditadura militar, a imprensa popular se revigora no âmbito dos movimentos populares comunitários, agora produzida pelo povo, mantendo entretanto o caráter alternativo, isto é, fora do circuito da grande imprensa. O sinal desse vigor foi a criação em 1992 de

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QUANDO A VIOLÊNCIA FAZ PARTE DO CONTRATO:estudo de recepção da Folha de Pernambuco

Maria Salett Tauk Santos(*)

Este texto trata de alguns pressupostos teóricos e resultados parciais de umapesquisa empírica mais ampla, um estudo de recepção do Jornal Folha dePernambuco, que está sendo realizado pelos professores e alunos doPrograma de Mestrado em Administração Rural da UFRPE, com feirantesdo bairro de Casa Amarela, no Recife. É notória a ênfase que o Jornal dá àviolência criminal em suas edições diárias. Partindo desse pressuposto oitinerário da presente análise é demonstrar que: 1º. a Folha combina aonoticiário policial procedimentos que vão ao encontro da maneira de pensare agir das culturas populares, o que favorece o contrato de leitura comcontexto popular; 2º. a violência criminal constitui o elemento mais visíveldo contrato do Jornal com os leitores populares, no caso os feirantes; essesleitores entretanto constróem um sentido para a violência que nunca é o ecoda proposta do Jornal.Palavras-chave: estudo de recepção, mídia e violência, cultura popular.

A grande manchete de 1998 em relação ao jornalismo em Pernambuco foisem dúvida o lançamento de um jornal, da grande imprensa, popular defato: a Folha de Pernambuco. Popular no sentido antropológico que sedefine pelo uso, como veremos adiante. Em outras palavras as pessoas decontextos populares lêem, consomem, usam enfim a Folha de Pernambuco.São escassas as experiências no Brasil de jornais da grande imprensa lidos eapreciados nos contextos populares. O Dia e A Notícia do Rio de Janeirosão desses raros exemplos de jornais que o povo lê.Nas décadas de 60 e 70 surgiram no Brasil muitas experiências de jornaisproduzidos fora do circuito hegemônico da grande imprensa, destinados àleitura em contextos populares. Estes jornais conhecidos como alternativos,e dirigidos por segmentos específicos, geralmente de intelectuais, tinhamuma postura marcadamente política.(1)A partir da década de 80, com o fim da ditadura militar, a imprensa popularse revigora no âmbito dos movimentos populares comunitários, agoraproduzida pelo povo, mantendo entretanto o caráter alternativo, isto é, forado circuito da grande imprensa. O sinal desse vigor foi a criação em 1992 de

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uma rede congregando 40 jornais comunitários que atuam nos movimentospopulares, a Rede dos Jornais populares do Estado de Pernambuco-Rejope.(2) Assim antes da criação da Folha de Pernambuco, os jornaisapreciados pelos contextos populares eram apenas os alternativos,produzidos no âmbito dos movimentos.A Folha de Pernambuco, como O Dia e A Notícia, tem como carro chefemais visível a reportagem da violência criminal tratada como “fait divers”,no sentido empregado por Roland Barthes, cujo tratamento à informaçãono lugar de uma abordagem política realça a história em função de umespaço fechado sobre si mesmo, intemporal, mítico. No “fait divers”,complementa Muniz Sodré “o que se consome são fantasias do real,alucinações da História, pois a informação é sempre construída pelo própriomass-medium e de uma maneira essencialmente mágica”. (3)A Folha através do seu “fait divers”, mostra, explicita, escancara, semcerimônia imagens e textos de crimes. Em suas edições diárias o trabalhometiculoso de uma editoria cujos repórteres varam a madrugada em busca deregistro da violência criminal que no dia seguinte aparecerá nas páginas dojornal transformado em hiper-realidade, mais real do que o real. Estética daviolência? Cultura do apocalipse? Se quisermos analisar a Folha pela sua facemais aparente, a ordem visual da violência no cotidiano, podemos recorreraos trabalhos que a partir de teorias antropológicas, sociológicas epsicanalíticas estudam a relação da mídia com a violência.MÍDIA E VIOLÊNCIAMarilena Chauí define a violência como “um ato de brutalidade, sevícia eabuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relaçõesintersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo epelo terror”.(4) Para ela as explicações para a violência, que coincidem como tratamento dado pela mídia, impedem que a violência real se tornecompreensível. Chauí discute a violência no âmbito da ética e da formulaçãoda ideologia do consenso: “de um lado o sujeito ético como vítima, comosofredor passivo, e, de outro lado, o sujeito ético piedoso e compassivo queidentifica o sofrimento e age para afastá-lo. Isso significa que, na verdade, avitimização faz com que o agir ou a ação fiquem concentrados nas mãos dosnão sofredores, das não-vítimas que devem trazer de fora, a justiça para osinjustificados”. (5) A imagem do mal e da vítima explica Chauí, dotados de poder midiático,“são poderosas imagens de espetáculo para a nossa indignação e compaixão,acalmando nossa consciência. Precisamos das imagens da violência e do malpara nos considerarmos sujeitos éticos”.(6) Assim o que prevalece em nossotempo não é a ética – predomínio do bem, do feliz, do justo mas a ideologiaética segundo a qual o bem se reduz à mera ausência do mal. É nessaperspectiva que Chauí enfatiza o papel importante dessa onda de “retorno àética” para construção da ideologia do consenso, tão presente nasmensagens veiculadas pelas mídias massivas contemporâneas: o “retorno à

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ética” é inseparável da ideologia do consenso, uma vez que enfatiza osofrimento individual e coletivo, as corrupções política e policial porque taisimagens conseguem obter o consenso da opinião: somos éticos porquesomos todos contra o mal”.(7)Nesse sentido, num estudo realizado com o Jornal O Dia, as análises deAntonio Serra demonstram as evidências empíricas de como um jornalpopular reforça no cotidiano a ideologia ética que separa o bem do mal.Embora considere que tudo aquilo que se refira à “vida popular” se espalhapelo jornal Serra faz a ressalva “será nas páginas policiais” que esta vidaganhará dimensão, e aí que seus protagonistas se tornarão atores plenos... Écomo “crime” que as ações deste “povo” poderão ser registradas, e atravésdesta categoria todos os demais aspectos de sua existência ganham“legitimidade informativa”.(8) Esta forma de apresentação consiste, naanálise de Serra, “em procurar demarcar a ordem e o seu desvio, tendo aofundo a massa indiferenciada, como espectadora, protegida ou participanteanônima. Destacando desta massa os protagonistas da ilegalidade ao mesmotempo se condiciona a individualização ao desvio”.(9) Assim ao colocar emprimeiro plano o “povo” como personagem o coloca como categoriadesviante, desvio que na análise de Serra se expressa através apenas daqueles“que se individualizam pelo crime”.Procedendo dessa maneira o jornal tende a conferir aos fatos e agentesqualidades definitivas que são cotidianamente reconhecidas e realimentadaspela leitura. Para Serra é o texto do jornal que acaba se impondo à vida real:“para o leitor de O Dia, a leitura é o reencontro cotidiano de sua condiçãode habitante de um universo marginal, em permanente perigo de desvio.Momento de distanciamento, em que é posto como observador dos fatos, étambém um dos momentos de “se ver” nos crimes, nos riscos, na punição,balanceando sucessivamente o papel de transgressor e inocente”.(10)Evidências empíricas de estudos como o de Antonio Serra levam àconclusão de que existe uma relação entre a maneira como a mídia noticiaum fato e o modo como é recebido e usado pelos públicos. Em estudosobre o papel da mídia na construção das representações sociais da violênciaLília Junqueira afirma que na medida em que o fato se torna notícia e queum grande número de pessoas tomam consciência de um determinado fato,torna-se impossível separar o real de sua representação.(11) Dessa maneira ojornal ajuda os acontecimentos a assumirem uma determinada direção.Referindo-se à relação do jornal com a disseminação da violência, Junqueiraafirma que os jornais não geram necessariamente a violência mas elesnoticiam, relatam e representam a violência, o que na sua opinião podedesencadear dois processos: ações contra a violência e a banalização daviolência.(12)Sérgio Adorno, estudioso da temática que envolve a mídia e a violência,chama a atenção para aspectos que considera fundamentais à compreensãodas relações que envolvem o jornal, a violência criminal e a recepção em

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contextos populares. O primeiro é que a imprensa não explora adramatização do crime por sua livre e espontânea vontade “ela é a expressãode profundos sentimentos populares, que de certo modo dramatizam acriminalidade, e tem certa relação de identidade com o modo como acriminalidade é veiculada”.(13)O segundo aspecto considera a relação mídia e violência no espaço darecepção. Esta abordagem permite a compreensão integral do processocomunicativo pois permite, sem perder de vista o emissor, apreender ouniverso do receptor que é o espaço privilegiado onde as mensagensadquirem sentido. Nessa perspectiva para compreender a relação da mídia eos seus usos é necessário considerar que a recepção parte de um contratoque se estabelece entre a mídia e o receptor, no caso da Folha dePernambuco, um contrato de leitura do Jornal com os leitores. Este contratoé mediatizado pela cultura do receptor, no caso dos feirantes, uma culturapopular. De um lado porque, como lembra Adorno(14), o receptorconstitui um universo cultural complexo que é explorado não apenas pelosveículos de comunicação de massa, como pelas diferentes agências desocialização às quais está exposto no cotidiano. Por outro lado, existe acompreensão de que o receptor faz uma releitura das mensagens dos meiosde comunicação de massa em função das suas experiências individuais. Asmediações podem portanto ser compreendidas como sendo um conjunto defatores que estruturam, organizam e reorganizam a percepção e aapropriação da realidade social por parte do receptor. Assim, as mediaçõesfuncionam como balizas do contrato que se estabelece entre a mídia e osreceptores.O contrato de leitura é para Eliseo Verón(15), um elo fundamental que seestabelece entre um jornal e seus leitores, baseado naquilo que ele chama de“invariantes referenciais”, categorias a partir das quais deve-se observar odiscurso do jornal. Estas categorias seriam a regularidade das propriedadesdescritas, em outras palavras é pela recorrência que o assunto aparece que ojornal vai construindo a sua identidade. Outra categoria seria a diferençaobtida pela comparação entre os jornais, significa dizer que são as diferençasregulares que constróem a identidade do jornal, é a partir delas que seestabelece o contrato da leitura. A sistematização das propriedades exibidaspor cada jornal constitui uma terceira e última categoria a partir da qual éselado o contrato de leitura entre o jornal e os seus leitores.A proposta de Verón possibilita a compreensão de como os jornaisconstróem de forma duradoura as suas matérias significantes a partir dosaspectos lingüísticos do discurso e também dos não lingüísticos como asilustrações e a diagramação. Cada jornal estabelece, portanto, uma relaçãocom os seus leitores, compatibilizando as propriedades do seu discurso àaceitação e ao consumo desses receptores. No caso da Folha dePernambuco a violência criminal seria uma dessas invariantes que o jornal

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lança mão para facilitar o contrato de leitura do jornal com leitores decontextos populares.Essa compreensão vem do encontro da teoria de Néstor García Canclinisobre as relações que se estabelecem entre a cultura massiva hegemônica e asculturas populares. Para Canclini a cultura hegemônica não atua de formaimpositiva nem unidirecional. As classes hegemônicas para serem eficazesnão podem limitarem-se a impor. Desde o momento da produção, devemincluir nas propostas, nos objetos, nos desenhos, na função e no sentido,não apenas os seus interesses setoriais como também parte da culturasubalterna, popular, que torna esses produtos úteis e significativos para amaioria.(16)Por outro lado, como lembra Canclini, o povo não pode ser pensado comouma massa submissa que se deixa iludir sempre a respeito do que quer. Se opovo admite a ação hegemônica é que encontra nessa ação algo útil para assuas necessidades. Assim, os bens e as mensagens da cultura massivahegemônica interagem com os códigos perceptivos e os hábitos cotidianosdas culturas populares condicionando as opções dessas culturas, entretanto,por seu turno, as culturas populares selecionam, combinam e reprocessamos materiais recebidos, na percepção e no uso e assim constróem outrossistemas “que nunca é o eco automático da oferta hegemônica”.(17)Aproximando a teoria ao nosso objeto de estudo, a recepção da Folha pelosfeirantes de Casa Amarela podemos considerar inicialmente que a Folhaescolheu como proposta mercadológica fazer um jornalismo voltado para oscontextos populares. Esta opção implica em identificar e estabelecer basesque possibilitasse um contrato. É necessário construir os “invariantesreferenciais” no dizer de Verón(18), ou seja, aqueles elementos que oreceptor identifica como sendo a característica do jornal, aquilo que odistingue dos demais jornais e o assemelha aos leitores. A Folha construiu asua proposta gráfica e editorial para ser reconhecida como um jornalpopular. Popular pelo uso: para ser lido e apreciado pelo ambulante, pelotaxista, pelo feirante, pela empregada doméstica. Neste afã como acontececom todas as propostas hegemônicas que pretendem realmente serhegemônicas, a Folha incluiu na sua proposta editorial elementos que vemao encontro do gosto, das aspirações, do sonho das necessidades cotidianasimediatas das pessoas de contextos populares. Essas estratégias, comoanalisaremos adiante, variam desde o preço do exemplar, 50% mais baratodo que os jornais concorrentes, ouso de cores e imagens fortes e um texto claro e didático.O caráter popular e a Folha resulta de uma combinação do apelo forte àviolência criminal que pela recorrência chega a caracterizar a identidade dojornal, a uma preocupação em reportar os acontecimentos políticos, sociais eeconômicos a partir da maneira de pensar e agir das pessoas de contextospopulares.

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Aliado à estratégia de traduzir para os contextos populares a complexidadedo que se passa fora desses contextos, faz parte do contrato da Folha com opopular reportar a maneira como nesses contextos as pessoas vivem nocotidiano. Dessa maneira a Folha reporta o futebol do bairro, o pagode daesquina, o artista do morro, a organização popular. Assim, o itinerário daanálise segue em dois sentidos: o primeiro em demonstrar que a Folhacombina a violência criminal procedimentos que vão ao encontro damaneira de pensar e agir das culturas populares, o que favorece o contratode leitura com os contextos populares.A compreensão de que as culturas populares reprocessam as propostas dacultura hegemônica na percepção e no uso para adaptá-las às suasnecessidades cotidianas alimenta o segundo sentido da análise demonstrandoque a violência criminal constitui o elemento mais visível do contrato deleitura da Folha com os leitores populares, mas que no espaço da recepçãoesses leitores, no caso os feirantes, constróem um sentido para a violênciaque nunca é o eco da proposta do jornal.Antes de analisarmos a proposta popular da Folha e os usos do noticiário daviolência criminal pelos feirantes de Casa Amarela, é necessário situar essasanálises no escopo mais amplo que constitui a pesquisa de recepção daFolha de Pernambuco. O ponto de partida foi o desejo de compreenderporque pessoas de contextos populares que historicamente não tinham ohábito de ler jornais passaram a ler a Folha. Mais que isso, qual era o uso quefaziam da leitura de um jornal criado, segundo o seu próprio marketing, paraser indispensável ao operário, ao líder comunitário e ao jovem do subúrbio,mas, cuja face mais visível é a exploração da violência criminal.Os estudos de recepção nasceram dentro da proposta de considerar acomunicação enquanto questão de cultura. É sobretudo dentro da temáticadas culturas populares que começa a ser desenvolvida nos anos 80 naAmérica Latina a pesquisa de recepção da mídia.A recepção é uma perspectiva de investigação e não uma área de pesquisasobre um dos componentes do processo de comunicação. É uma tentativa,como afirma Immacolata V. Lopes, de estudar o processo da comunicaçãode forma integrada articulado a partir das mediações culturais. (19)Martín-Barbero define as mediações como “o lugar de onde é possívelcompreender a interação entre o espaço da produção e o da recepção”.(20)Para Martín-Barbero não é possível compreender os processos decomunicação se não os colocarmos dentro das dinâmicas culturais. Ou seja,não se considerando apenas a cultura que passa pelos meios masconsiderando como os meios são englobados pelas dinâmicas culturais quevão muito além deles.(21)A partir desta compreensão, Guillermo Orozco propõe um modelo teóricometodológico de mediação múltipla, direcionado ao estudo de recepção apartir de cinco mediações principais: 1. Individuais “as que provêm de nossaindividualidade como sujeitos cognoscentes e comunicativos, são esquemas

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mentais mediante os quais as pessoas percebem, prestam atenção, assimilam,avaliam, memorizam ou inclusive se expressam; 2. Institucionais: aprodução de significados resulta da participação dos indivíduos nas diversasinstituições; 3. massmediáticas: as diferentes tecnologias, linguagens egêneros de cada meio; 4. situacionais: referem-se à situação e modos derecepção; 5. de referência: características como a idade, o gênero, a etnia, araça ou a classe social.(22)A partir da perspectiva das mediações e considerando que a recepção éapenas o lugar para analisar o processo da comunicação por inteiro,iniciamos os estudos exploratórios, procurando de um lado conhecer melhoro projeto editorial da Folha, através de entrevistas com jornalistas dasdiferentes editorias e de outro lado, entrevistando pessoas de contextospopulares apontados pela pesquisa da Marplan como leitores padrão:ganham até 3 salários mínimos e são motoristas, empregados, domésticas,vendedores, vigilantes.Concluído o estudo exploratório optamos por estudar a recepção da Folhapelos feirantes de Casa Amarela, um bairro tradicionalmente popular quecresceu em função do mercado.A população de feirantes de Casa Amarela, acha-se classificada, segundocritério da Companhia de Serviços Urbanos do Recife-CSURB, em duascategorias: os arrendatários, que pagam à Prefeitura o aluguel dos boxesonde mantém o estabelecimento e os feirantes simplesmente, que pagamapenas o aluguel do banco que ocupam na feira. A escolha da amostra paraestudo obedeceu os critérios de intencionalidade, 5% de cada categoria masque comprasse e lesse o jornal. Era fundamental que além de leitores fossemcompradores do jornal para caracterizar o contrato de leitura.Foram construídos dois roteiros para entrevistas estruturadas: o primeirodestinado aos jornalistas da Folha, composto de 6 questões abertas com opropósito de obter informações e opiniões sobre o caráter popular da Folha,as estratégias editoriais e mercadológicas utilizadas pela Folha para tornar-seum jornal popular; o papel do Jornal como mediador das questões“populares”, além de questão sobre como reage o comerciante à propostaeditorial da Folha.O segundo roteiro de entrevista estruturada destinou-se aos 34 feirantes e 8locatários da feira de Casa Amarela. O roteiro foi dividido em 8 partescontendo questões que contemplavam as mediações culturais quesupostamente poderiam influenciar os modos de ler e usar as mensagens daFolha. Assim, constaram da entrevista questões referentes às mediações dereferência, idade e sexo; às mediações institucionais que contemplam aparticipação de instituições e no trabalho. O trabalho despontou como umamediação “por excelência”, isto é, o espaço da cultura daquela populaçãoque se revela como interveniente no processo de recepção. Trata-se de umapopulação que vive no ambiente de trabalho, na feira, doze horas por dia, ossete dias da semana.

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A construção das mediações “por excelência” é o momento em que opesquisador utilizando ferramentas metodológicas possibilita ao objetorevelar-se. Os modelos oferecem pistas importantes, porém se o pesquisadordeseja escapar de uma abordagem funcionalista tem que considerar que oobjeto é constituído de elementos empíricos e teóricos diversos e como tal éele quem deve revelar ao pesquisador as mediações e não o contrário.(23)A mediação massmediática revelou-se igualmente como “mediação porexcelência” em relação à população em estudo. A trama engendrada pelaFolha de Pernambuco, como observaremos adiante, não deixa dúvidas queinfluenciam os modos de ver e os usos.As demais questões referiam-se aos hábitos de consumo das mídias eparticularmente à leitura da Folha: preferências, reações, lembranças de fatosnoticiados, além da solicitação de conselhos à Folha.Ainda que considerando o caráter provisório e incompleto das análises, osdados disponíveis permitem fazer algumas inferências na direção dashipóteses que norteiam este trabalho. Primeiro as estratégias da folha paraselar o contrato de leitura com o popular. Em seguida, a violência criminalcomo invariante do contrato de leitura e os seus usos pelos feirantes.O POPULAR COMO PONTO DE PARTIDAO popular informa Néstor García Canclini, não pode definir-se por umasérie de características internas ou um repertório de conteúdos tradicionais,pré-massivos e sim através da posição que constrói frente aohegemônico.(24) Nesse sentido, a popularidade deve ser estabelecida nodizer de Cirese “como fato e não como essência, como posição relacional enão como substância.”.(25)Jorge Gonzalez traz o pensamento de Gramsci sobre o popular quanto,citando Rubieri define os cantos populares em: 1. Cantos compostos pelopovo e para o povo; 2. Cantos compostos que não são compostos pelopovo e sim compostos para ele; 3. Cantos que não são compostos nem pelopovo nem para o povo, mas que o povo se apropria porque são coerentescom o seu modo de pensar e de sentir. Para Gramsci, todos os cantospopulares pertencem a esta última categoria porque o que distingue o cantopopular não é o fato artístico, nem a sua origem histórica, senão o modocomo esses cantos concebem o mundo e a vida.(26)No sentido gramsciano, portanto, o popular se define pelo seu uso, ao queGonzalez acrescenta: “o popular deve definir-se pelo acatamento oureinterpretação dos esquemas de percepção, ação e valoração que o povo fazem virtude da sua posição numa sociedade de classes”.(27)As culturas populares, portanto, devem ser entendidas, como toda cultura“não apenas pelos seus conteúdos práticos e desempenhados, senão comouma “competência cultural”, como uma “gramática” cultural socialmenteproduzida”.(28) Um conjunto de produção simbólica que o povo constróiface ao hegemônico. As relações das culturas populares com a cultura

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hegemônica entretanto nem sempre são conflitivas, elas são muitas vezesadaptativas e se combinam, muitas vezes, no massivo.A partir dessas compreensões fomos buscar na Folha, através das entrevistascom os seus jornalistas e da análise do seu plano editorial e da propostagráfica, as estratégias utilizadas pelo Jornal para construir um temainvariante: o caráter popular da Folha.

FOLHA: as estratégias do contrato com o popularEntrevistamos os jornalistas responsáveis pelas principais editorias da Folha:Geral; Economia; Política; Esporte; Grande Recife, responsável pelacobertura de polícia; Social; Interior; Brasil/Planeta; Veículos; Fotografia ePrograma, além de repórteres da editoria de polícia.Passo a passo os jornalistas foram compondo o projeto “Folha” à medidaem que iam respondendo às questões chaves: Você acha que a Folha seidentifica como um jornal popular? Por que? Quais as evidências?O projeto gráficoPara Adriana Coutinho, o caráter popular da Folha deve-se prioritariamentea uma opção mercadológica. Como editora de arte criou para a Folha umprojeto gráfico que levou os jornais concorrentes a mudarem o visual. Oponto de partida foi a utilização do amarelo e do preto e em menor escala overmelho e o azul sob a alegação de que a vida do povo é colorida: o jornalse apresenta com cores fortes, vibrantes como em todas as manifestações dearte da cultura popular pernambucana: maracatu, frevo, côco, nos pratos daculinária, nas paisagens litorâneas e áridas do sertão.A proposta editorialPaula Louzada, editora geral, explica que a opção da Folha em se voltar paraos contextos populares deve-se à constatação de que é escasso o noticiáriosobre esse meio: “a Folha veio para mostrar o que essas pessoas estãovivendo no bairro delas”.A fim de explicar o que na prática significa esta opção, Louzada compara aproposta da Folha a dos outros jornais: “enquanto os outros começam coma política, a Folha dá ênfase ao Grande Recife a partir dos grandes temas deinteresse popular: educação, saúde e segurança”.Perfil do leitorSegundo pesquisa da Marplan, 42% dos leitores da Folha estão na Classe C,moram nos morros ou na periferia das cidades. O desafio do jornal é,segundo sua editora geral, criar uma estrutura para chegar a essas pessoas jáque a proposta do jornal é a venda avulsa na banca e no gazeteiro: “o leitorda Folha está indo para o trabalho, ele compra na parada do ônibus o jornale vai lendo no caminho.”Linguagem e interesse popularSe existe um ponto que os editores da Folha estão de acordo, é quanto àbusca de uma linguagem acessível na forma:

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“A preocupação é fazer uma linguagem cada vez mais fácil porque você temcomo leitor o motorista de taxi, o policial, a empregada doméstica que temdificuldade de ler. As pessoas estão lendo a Folha mesmo com dificuldade.Vejo a minha empregada, se a notícia interessa, ela vai e lê.”(Paula Louzada)“Os títulos são feitos sem verbo para dar força às manchetes: “Crimebarato”, “real despenca.”(Paula Louzada)Como também na busca para identificar as temáticas de interesse popular noâmbito de cada editoria do Jornal:“Em economia a gente privilegia a questão do consumidor. A questão doaumento do crediário. Não adiante falar que está inaugurando uma fábrica, oque interessa ao nosso público é se aquela fábrica vai gerar empregos.”(LuizHerrison, editor de economia)“O caderno de economia das segundas-feiras é voltado para a questão doemprego e pequenos negócios. As vezes são pequenos negocinhos mesmo.”(Luiz Herrison)Mesmo quando o assunto é economia a linguagem é coloquial, simples edireta.“A gente passou a semana dando manchete de economia, sempre numalinguagempopular: “real despenca”, “cuidado com o seu bolso.” (Paula Louzada)As matérias políticas começam na comunidade:“Política, a gente tem que tomar os fatos e ir ouvir as pessoas nacomunidade. Informação política elas trazem para o universo imediato delas.O exemplo disso: fomos perguntar a um homem se sabia o significado deimpechment, ele respondeu que não sabia mas se fosse para tirar as kombisele não queria.” (Paula Louzada)Na política, o interesse popular como referência:“Um artigo sobre política do Estado, a Folha faz logo uma abordagemsobre o vilão da situação que é o desemprego.” (Paula Louzada)A presença do repórter na comunidade para estreitar os laços decumplicidade da Folha com os contextos populares:“Toda manhã tem um repórter nas comunidades. Vão atender aoschamados pela central de atendimentos: cano estourado, buraco na rua, faltade iluminação. Quando não dá matéria, a gente bota uma notinha, mas nãodeixa de atender.” (Paula Louzada)No esporte e na cultura a Folha desenvolve um trabalho interativo com ascomunidades legitimando, muitas vezes as ações populares:“A Folha é assim um intermediador, por exemplo, as pessoas fazem umtrabalho de esporte na comunidade mas o problema é arrumar patrocínio. Agente divulga mostrando que é um trabalho sério, a empresa patrocinadoravai atrás.”(Beto Lago, editor de esportes)Incentivando os artistas locais:“O movimento de cultura nos bairros está muito forte. Em Prazeres tem ummovimento Hippe-Rock que a gente publicou na capa do Caderno

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Programas. A gente coloca artistas de TV, que o povo gosta, mas também oartista local.” (Sebastião Araújo, colunista)A janela mais visível, entretanto, que a Folha abre para a população doscontextos populares, é a linha direta com o leitor. No afã de penetrar nouniverso popular a Folha cria estratégias que acaba gerando umacumplicidade que os leitores a elegem como mediadora dos seus conflitos edas suas misérias. É no campo da violência criminal que a Folha sela o seucontrato com o popular.A VIOLÊNCIA NO CONTRATONão é por acaso que esse espaço é ocupado pelo leitor, notadamente paradenunciar crimes:“No Jornal funciona uma central de atendimento com telefonistas queanotam as queixas. A questão da segurança foi aparecendo cada vez mais. Aspessoas ligavam para a redação e diziam: olha, meu filho foi morto; meusobrinho foi arrastado de casa. Como a proposta do jornal era mostrar oque estava acontecendo, a gente foi mostrando, e as pessoas denunciandocada vez mais.”(Aníbal Alexandre, editor)“Os repórteres de polícia saem à rua com um rádio no carro e um celular.Várias pessoas já têm o celular da ronda e ligam a cobrar passandoinformações.” (Guillermo Antoniolli, repórter policial)“Quando acontece um atropelamento ou assassinato em bairro popular, afamília do morto espera a Folha chegar para fazer as fotos, depois botar olençol e acender as velas.” (Paula Louzada)A abordagem da violência criminal na Folha é explícita através da coberturafotográfica que mostra cenas em cores, num realismo impressionante. AnaClarice, a repórter fotográfica explica que o seu trabalho destina-se ao povo“e que o povo está acostumado e aguenta: se depender de mim eu não vouamenizar, eu não tenho o direito de amenizar uma foto de uma pessoamorta com vinte tiros ou um tiro de doze no meio da testa.”A partir da análise dos depoimentos dos jornalistas da Folha, ficaevidenciado que existe uma mobilização no sentido de fazer reforçar ocontrato da Folha com o popular através da ênfase no noticiário policial.Para esse fato, Aníbal Alexandre, então editor da Folha deu uma explicaçãointeressante, em sua entrevista:“O sucesso da cobertura de polícia é porque fala daquele problema dobairro. As pessoas compram o jornal para ver polícia, não é só para ver osangue, é para ver o vizinho. Fulaninho que mora ali perto que morreu. Euvejo empregada no meu prédio, a empregada da minha casa compra a Folhae leva para casa. Ela mora numa área de morro, numa área violenta e querver essa notícia do que está ocorrendo perto dela. Não é tanto o desejo dever sangue, claro que existe um lado mórbido da população que é forte. Maseu acho que por trás da reportagem de polícia tem a realidade da periferia doRecife que é violenta.”OS USOS POPULARES DA VIOLÊNCIA

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Das 18 questões propostas na entrevista aos feirantes sobre o uso da Folha,selecionamos 4 que possibilitassem analisar o contrato de leitura, segundo ainvariante da violência criminal no espaço da recepção.Convém salientar que para os objetivos dessa análise não foram levadas emconta as mediações de gênero e idade, apenas a mediação ocupação comoniveladora da população estudada: os feirantes.Considerando que os feirantes entrevistados compram e lêem a Folhacomeçamos pela primeira questão: você acha a Folha diferente dos outrosjornais que conhece?As respostas a essa questão evidenciam as bases do contrato. As imagensexplícitas da violência criminal conferem credibilidade, fundamental emqualquer contrato. Ao escancarar as imagens explícitas da violência a Folhamais que os outros jornais fala a “pura verdade”:“A Folha é diferente porque mosta o que acontece, os outros jornais sómostram boniteza... “ (José Cândido)

“Porque mostra a foto das pessoas mortas colorida...´ (Andréia)“Mostra onde está a violência mostra tudo: (Margarida)“Pelo menos a Folha mostra a verdade”. (Carlos Otávio)O que você mais gosta de ler na Folha?A violência criminal aparece nas respostas da maioria dos entrevistados.Entretanto é aí que começamos a perceber os sentidos diversos que osfeirantes emprestam aos usos dessas mensagens.Para alguns leitores lê a violência é uma maneira de se proteger:“Assim a gente vê os lugares mais violentos. Vê com quem estáconvivendo”. (José Cândido)“Fico prevenido, sei como me defender, evitar as violências”. (José Xavier)

Para outros o noticiário policial funciona como a crônica do seu bairro, dasua comunidade. A violência criminal faz parte do seu cotidiano de formaquase familiar que por curiosidade ou por medo é sempre útil consumir, jáque a crônica da violência funciona como uma espécie de crônica social doscontextos populares das grandes cidades.“Gosto de ver notícias de crimes prá ver se tem algum conhecido ouparente”. (Antonieta)“Gosto. Há pessoas que a gente conhecia e não sabia que era marginal”.(José Cândido)“Acho ruim. Mas é a realidade que a gente vive”. (José Xavier)“Gosto de ver, porque me preocupo com a minha família”. (Arnaldo)“Prá ficar informado e evitar que aconteça comigo ”. (Margarida)O consumo da violência criminal da Folha não constitui mero acaso na vidados cidadãos feirantes de Casa Amarela. É aí o espaço onde o contrato sematerializa, pois violência criminal está na Folha e está na vida cotidianadessas pessoas. Quando indagadas se já haviam lido notícias sobre pessoas

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conhecidas a maioria respondeu que sim e reportou fatos ligados à crônicapolicial.“Sim, um colega que foi assassinado”. (Carlos Otávio)“Um vigilante daqui que mataram”. (Joaquim José)“Um vizinho que se matou com roleta russa”. (Ana Lúcia)Quando foi pedido aos entrevistados que lembrassem algum fato noticiadopela Folha e que tocou o sentimento deles, novamente vem à memóriacenas ligadas à violência criminal.“Uma das coisas que mais me chama atenção é tanta mortandade! Gentenova morrendo ”. (Antonieta)“O espancamento de cinco mulheres ”. (Lídio)“O filho que matou a mãe”. (José Cândido)“A criança de 2 anos que a mãe deixou morrer desnutrida”. (Ana Lúcia)Muitos outros sentidos terão ainda que ser analisados. No contrato dosfeirantes com a Folha a violência criminal é apenas a ponta visível doiceberg. Falta o sentido da luta e do sonho.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sobre imprensa alternativa v. FESTA, Regina e SILVA, Carlos E. L. Com.Popular e Alternativa no Brasil. São Paulo, Paulinas, 1986. Rede dos Jornais Populares do Estado de Pernambuco, E-MAIL:[email protected]. SODRÉ, Muniz. Prefácio do livro. SERRA, Antonio. O desvio nosso decada dia. Rio de Janeiro : Achiamé Ltda., 1979. CHAUÍ, Marilena. Uma ideologia perversa. Folha de São Paulo, Dom.14/3/99, Cad. 5. MAIS! Id., ibid. Idem, ibid. Idem, ibid. SERRA, Antonio. O desvio nosso de cada dia. Rio de Janeiro : AchiaméLtda. 1979. Idem, ibid.Id. Ibid., p. 26.(11) JUNQUEIRA, Lília. O papel da mídia na construção dasrepresentações sociais da violência. INTERCOM, GT-Comunicação eRecepção, Recife, 1998.(12) Id., ibid.(13) ADORNO, Sérgio. Violência, ficção e realidade. IN: SOUSA, MauroWilton (org.). Sujeito o lado oculto do receptor. São Paulo : ECA/USP :Brasiliense, 1994.(14) _____ . Violência e o mundo da recepção televisiva. IN: Novosolhares. Ano 1, v. 1º. Sem. 1998. São Paulo : ECA/USP, 1998.

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(15) VERÓ N, E. L’analyse du contrat de lecture: pour une nouvelleméthode pour les études de positionement des supports press. IN: Lesmédias, expériences, recherches actuelles aplications. Paris, IREP, 1983.(16) CANCLINI, Néstor García. Cultura Transnacional y CulturasPopulares: Bases Teóricas Metodológicas para la Investigación. IN:CANCLINI, N. G.; RONCAGLIOLO, R. (Ed.). Cultura Transnacional yCulturas Populares. Lima, IPAL, 1988.ibid., p. 23.VERÓ N, E. Vide nota 15.LOPES, M. Immacolata V. de. Uma metodologia para a pesquisa dasmediações. I Colóquio Brasil-Grã Bretanha de Comunicação e EstudosCulturais. XXII INTERCOM, Rio, 1999.(20) MARTÍN-BARBERO, Jesus e MUNHOZ, Sonia (Coord.). Televisiony Melodrama. Bogotá, Tercer Mundo ed., 1992.(21) MARTÍN-BARBERO, Jesus. Pre-textos: conversaciones sobre lacomunicacion y sus contextos. Colombia : Centro Editorial, Universidad delValle, 1995.(22) OROZCO, Guillermo. La investigacion en comunicacion desde laperspectiva qualitativa. Mexico, INDEC, 1997.(23) Ver a esse respeito: SANTOS, M. Salett e NASCIMENTO, Marta R.Desvendando o mapa noturno: análise da perspectiva das mediações nosestudos de recepção. GT de Com. e Recepção. Rio, XXII INTERCOM,1999.(24) CANCLINI, Néstor García. Cultura transnacional y Culturaspopulares. Lima, IPAL, 1988, p. 41.(25) CIRESE, Alberto. Ensayos sobre as culturas subalternas, apudCANCLINI, Néstor García. Vide nota 16.(26) GONZALEZ, Jorge A. Sociologia das Culturas Subalterna. Comala :Universidad Autónoma de Baja, Califórnia, 1990, p. 65.(27) Id. Ibid., p. 66.(28) Id. Ibid., p. 66.

(*) Doutora em Ciências da Comunicação. Professora do Programa deMestrado em Administração Rural e Comunicação Rural da UFRPE.

XXIII Congresso INTERCOMGT-Comunicação e RecepçãoManaus (AM), 5-6 de setembro de 2000

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