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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho - DF (61) 3233-2527 www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 02 08 de Abril de 2012 As sete igrejas da Ásia Texto Áureo “O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas”. Ap 1.20 Verdade Aplicada Qualquer organização cristã que não corresponder ao perfil das sete igrejas, pelo menos em algumas das suas características, não pode ser considerada Igreja. Objetivos da Lição Ressaltar a importância das cartas para que os crentes individualmente sejam santos. Conduzir a igreja à apropriação tanto das reprimendas quanto das promessas de Jesus. Ensinar que nossos dias são os dias imediatamente anteriores “às coisas que em breve devem acontecer”. Textos de Referência Ap 1.4 João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete Espíritos que estão diante do seu trono; Ap 1.5 E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da Terra. Àquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados,

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho - DF (61) 3233-2527

www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa

Lição 02

08 de Abril de 2012

As sete igrejas da Ásia Texto Áureo “O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As

sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete

igrejas”. Ap 1.20

Verdade Aplicada

Qualquer organização cristã que não corresponder ao perfil das sete igrejas, pelo menos

em algumas das suas características, não pode ser considerada Igreja.

Objetivos da Lição

► Ressaltar a importância das cartas para que os crentes individualmente sejam

santos.

► Conduzir a igreja à apropriação tanto das reprimendas quanto das promessas de

Jesus.

► Ensinar que nossos dias são os dias imediatamente anteriores “às coisas que em

breve devem acontecer”.

Textos de Referência

Ap 1.4 João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte

daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete Espíritos que estão diante do seu

trono;

Ap 1.5 E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos

e o príncipe dos reis da Terra. Àquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos

pecados,

Ap 1.6 E nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai, a Ele, glória e poder para

todo sempre amém.

Ap 1.10 Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma

grande voz, como de trombeta.

Ap 1.11 Que dizia: o que vês, escreve-o num livro e envia-o as sete igrejas que estão

na Ásia: A Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a

Laodicéia.

Igreja no Mundo Ap 1:9—3:22

Sete cartas são ditadas

A cena de abertura do drama é uma estupenda visão do Cristo vivo, que dita a João uma série de cartas individuais dirigidas às sete igrejas para as quais o livro inteiro está sendo escrito. O que é dito será considerado em seguida. Primeiro vamos notar a forma como as

coisas são ditas:

Antes já tínhamos vislumbrado a repetição de modelos do Antigo Testamento, onde os ensinos de Balaão e de Jezabel estão novamente se manifestando na vida da igreja nos tempos do cristianismo do Novo Testamento. Agora que a cena toda se desenrola diante

de nossos olhos, vemos quão rica é em tais repetições. Um modelo é adicionado a outro em forma de um intrincado poema, que positivamente rima.

Muitas dessas adições podem ser compreendidas sem que seja necessário ter nenhum conhecimento anterior. Cada carta começa com uma descrição de Cristo repetindo a

descrição total do Senhor no começo da cena. As cartas têm muitas semelhanças entre si. Cada uma delas é iniciada com a indicação dos nomes dos remetentes e dos destinatários, continuando com declarações acerca destes últimos e contendo mensagens a eles. Cada

uma das cartas termina com um mandamento e uma promessa. Apesar de João não ter declarado ser sua intenção, é quase impossível ler estas cartas sem perceber um ritmo

cadenciado de sete batidas. Dessa forma, temos na primeira carta o seguinte: (1) À igreja em Éfeso; (2) Estas coisas diz o que segura na mão direita as sete estrelas; (3) Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança; (4) Tenho porém contra ti; (5)

Arrepende-te; (6) Ouça o que o Espírito diz; (7) Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida.

Para os leitores familiarizados com outras partes da Bíblia, ressoa um eco mais profundo. A promessa aos vencedores será repetida em outras cenas mais adiante: A árvore da vida

(2:7), no capítulo 22; o escape da segunda morte (2:11), no capítulo 20; e assim sucessiva-mente. O retrato de Cristo já foi mostrado em outras passagens da Bíblia; a glória que Cristo demonstra aqui no Apocalipse é a mesma que ele demonstrou no monte da

transfiguração (Mc 9:2-3). Se o autor é realmente o apóstolo João, a visão não seria novidade, pois estaria vendo em Patmos o que tinha visto antes em um monte na

Palestina. A grande voz e o som como de trombeta (1:10) também é conhecido de passagens do Antigo Testamento, como Êxodo 19:6; Ezequiel 1:7; 43:2 e Daniel 7:9. O título de Filho do Homem, e a descrição geral que o acompanha, também podem ser

encontrados no Antigo Testamento (Dn 7:13; 10:5ss). Não são apenas as palavras e as frases encontradas nessas cartas que são repetidas. As

advertências feitas às igrejas de Cristo correspondem, em muitos aspectos, às advertências feitas aos discípulos em Mateus 24 (por ex. 2:4 e Mt 24:12). A solene

declaração “darei a cada um, segundo as suas obras” (2:23) está “invariavelmente

presente nos ensinos de Cristo”, bem como nos de seus apóstolos.

Quem começar a procurar indícios deste tipo de ensino repetitivo em outros lugares, ficará surpreso com a quantidade de material existente. A repetição é um método comum pelo qual os salmistas “rimam” suas poesias. Muitas vezes o que ecoa de linha para linha

não é tanto o som, mas o sentido:” ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Fundou-a Ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu” (Sl 24:1-2). É a repetição que dá força às vozes dos profetas: “Por

três transgressões de Damasco, e por quatro,... por três transgressões de Gaza, e por quatro... por três transgressões de Tiro, e por quatro, não suscitarei o castigo” (Am 1:3, 6,

9). Este método de repetição pode também ser encontrado em grande escala nos tipos ou modelos da história bíblica que como grandes pilares ajudam a compreender a estrutura do todo e são apresentados de forma magnífica na carta aos Hebreus. São igualmente

encontrados em alguns dos menores tijolos que formam o edifício - frases minúsculas, a maioria escondida atrás do reboco das traduções, embora pelo menos uma ou outra

permaneça visível. Muitas vezes as traduções eliminam repetições de palavras que existem no original porque

os tradutores as consideram desnecessárias ou uma forma de expressão idiomática que não se traduz literalmente. Assim, por exemplo, Lucas 22:15, na ERC, diz: “...desejei

muito comer convosco... ” e a ERAB, na tentativa de dar o sentido completo do texto grego, diz: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco... ” Porém, o que Lucas escreveu, no grego, seria literalmente “com desejo eu tenho desejado”. Em Gênesis 31:30

há o mesmo tipo de frase: A ERAB, diz: “...tens saudade de casa... ” ao passo que o hebraico repete a palavra principal: “com saudades tens saudade de casa... ”.

Um dos objetivos da repetição, como vimos antes, é mostrar quão relevante é a Bíblia. Se o que aconteceu no tempo de Balaão aconteceu novamente na época de João, a

advertência é que há a possibilidade de acontecer hoje também. Mas a repetição tem outro propósito. Repetições deste tipo passaram do Antigo Testamento hebraico, onde esta era uma maneira comum de expressar ênfase, para o Novo Testamento grego. Dizer algo duas

vezes intensifica a ideia. A repetição, para os antigos, tinha o mesmo sentido que sublinhar para nós hoje.

É isso que Deus está fazendo constantemente. Deus tem básicamente apenas uma mensagem para o homem, a saber, as boas novas da salvação. Mas na intenção de

comunicar isso ao homem, Deus sabe que a afirmação feita somente uma vez não será suficiente. “Uma vez falou Deus”, diz o salmista, mas “duas vezes ouvi isto” (Sl 62:11). É por esta mesma razão, creio eu, que são dados ao faraó dois sonhos diferentes com a

mesma mensagem. Isso o impressionaria e concorreria para a validade da interpretação (Gn 41:32). Aos discípulos também foram mostrados dois milagres diferentes que

continham a mesma mensagem básica para ensinar-lhes uma lição particular (Mt 16:5-12). O propósito de se martelar um mesmo prego muitas vezes é óbvio: queremos cravá-lo.

Deus utiliza-se fartamente deste método para nos ensinar, e com razão. A mente do homem é irremediavelmente centrífuga e em termos de pensamentos está sempre saindo

pela tangente. Precisa ser trazido de volta às mesmas grandes verdades centrais — deve ser obrigado, literalmente, a concentrar-se. Deus enfatiza essas verdades muitas e muitas vezes, às vezes em forma de rascunhos, outras vezes em forma de um detalhado trabalho

de bico de pena e outras ainda como um explosivo quadro multicolorido. É provável, portanto, que ele faça o mesmo no Apocalipse. E a menos que tenhamos boas razões para

discordar, devemos convir que as verdades propagadas no Apocalipse são muito mais intensivas do que extensivas. Em outras palavras, o que nos é mostrado pelo Apocalipse

assemelha-se muito mais a um trabalho de colorir um quadro cujo rascunho é bem

conhecido por nós, do que a uma colagem feita sobre o quadro original.

A Igreja Centrada em Cristo (1:9-20) Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim grande voz, como de trombeta, dizendo: O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro, e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido como que refinado numa fornalha; a voz como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mais eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve, pois, as cousas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igre-jas, e os sete candeeiros são as sete igrejas. Até o dia em que ouviu a voz como que de trombeta, João experimentou, no banimento,

muito mais as tribulações de Cristo do que o esplendor do reino do Senhor. As montanhas e as minas da ilha de Patmos eram ambiente próprio para causar depressão e não encorajamento. Mas apesar de João estar fisicamente em Patmos (en Patmô), naquele dia

do Senhor achou-se também em espírito (en Pneumati), da mesma forma que Jacó muito tempo antes, para quem o travesseiro de pedra do exílio tornou-se o próprio portal do céu.

A voz ecoou. João voltou-se: a cena daquela ilha mediterrânea sumiu nas suas costas e diante dele surgiu a visão de uma outra realidade.

Foi o círculo de sete candeeiros que primeiro lhe chamou a atenção. Os candeeiros representavam as igrejas, é a explicação que logo se segue. Mesmo que o versículo 20 não

existisse, poderíamos chegar a esta conclusão através de outras passagens, tais como Filipenses 2:15-16. Aqueles que resplandecem como luzeiros no mundo, diz o apóstolo, são os que preservam a palavra da vida. Assim Cristo, que é a luz do mundo (Jo 8:12), dá

aos discípulos o mesmo título (Mt 5:14).

O significado do outro conjunto de luzes, as estrelas, não é tão fácil de entender. As sugestões de que os anjos são os líderes das igrejas, ou mensageiros delas, ou que

representam o seu espírito, no sentido moderno de caráter ou etnia, levantam uma série de dificuldades. Parece que o melhor a fazer é tomar as palavras pelo que elas valem no seu sentido básico. As Escrituras demonstram (e não somente os escritos apocalípticos)

que, tanto indivíduos (Mt 18:10; At 12:15), como nações (Dn 10:13; 12:1), podem ter um anjo, um parceiro espiritual no nível celestial. Presumivelmente o mesmo poderia aconte-

cer em relação às igrejas. De qualquer forma o anjo e sua igreja estão intimamente relacionados; a mensagem de Cristo é dirigida a ele ou à igreja indiscriminadamente; e tanto as estrelas como os candeeiros, embora de formas diferentes, iluminam o mundo.

Mas as luzes de menor intensidade, tanto no céu como na terra, empalidecem diante do

resplendor do Sol. Esta cena de abertura é dominada pela “glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2:13). Sabemos, de acordo com o versículo 18, que a descrição não pode ser de nenhum outro. A visão de João (v.17) é realmente muito impressionante.

João certamente o vê como Deus. E lhe atribui as características divinas usando a mesma

linguagem que Ezequiel e Daniel usaram para descrever Deus, e certamente João teria relembrado a reivindicação de Cristo em João 14:9: “...quem me vê a mim, vê o Pai... ”.

Deste ponto em diante a centralidade de Cristo é o tema principal do Apocalipse. Todas as coisas dependem do relacionamento com Ele.

Isso pode explicar um fato curioso. Os sete candeeiros certamente nos trazem à mente um outro candeeiro: o que foi colocado no tabernáculo de Moisés. Moisés, tal como João, teve uma visão da realidade espiritual, na qual lhe foi ordenado que construísse uma réplica

do que vira. Entre as coisas que ele diligentemente construiu estavam as sete lâmpadas unidas em um único candeeiro. Os candeeiros de João, no entanto, estão separados.

Talvez devamos ver neles a igreja, seja assim para nós exatamente como ela aparece no mundo, isto é, congregações locais aqui e ali, que podem ser completamente isoladas e até destruídas (2:5). Mas no nível celestial a igreja está unida e é indestrutível porque está

centralizada em Cristo. Os candeeiros estão espalhados pela terra; mas as estrelas estão seguras na mão de Cristo.

Assim também deve ser para todo o seu povo. A tribulação, a realeza e a perseverança que Jesus conheceu, João também conheceu, e se queremos verdadeiramente ser seus

companheiros, precisamos estar dispostos a compartilhar as mesmas experiências. En Patmô nós sofremos; mas en Pneumati nós reinamos. O objetivo prático, para o qual a

revelação divina aponta, é fazer-nos ver o primeiro à luz do segundo. Mesmo a progressão iniciada na primeira cena, que se passa inteiramente neste mundo, até a oitava cena, que se passa inteiramente no futuro, serve para ilustrar o mesmo propósito. O cristão conhece

este mundo porque nele habita. Mas quanto ao significado do mundo, para onde ele caminha, e por que o trata com tanto desprezo, são questões para as quais ele não

consegue encontrar resposta. Ele começa a entender somente quando o fato é relacionado àquele mundo. Ele chega a ver um plano da História, a realmente entender o que está acontecendo, a perceber o seu próprio lugar no quadro, e como tudo irá terminar. Percebe

o grande desenho do lado direito da tapeçaria, que explica o entrelaçamento de fios e as pontas soltas que estão do lado que lhe é mais familiar. Assim ele aprende a relacionar em

sua mente a igreja, como ele a vê, lâmpadas que brilham aqui e ali em um mundo mergulhado em trevas; lâmpadas constantemente ameaçadas de extinção, e a igreja como Cristo a apresenta, um conjunto de estrelas inextinguíveis na mão do seu criador. Está

pronto a enfrentar a tribulação, por causa do que ele conhece acerca do reino: está pronto a enfrentar a tempestade porque sabe que suas fundações estão profundamente enraizadas na rocha. “A tribulação e o reino” produzem “a paciente perseverança”. Este é

o objetivo do livro do Apocalipse que veremos em ebdareiabranca.com durante todo o trimestre.

A Primeira Carta: À Igreja em Éfeso (2:1-7)

Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro. 2Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos; e tens perseverança, e suportastes provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. 4Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas6. Tens, contudo, a teu favor, que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.

Se a tradição que diz que João foi bispo na cidade de Éfeso é correta, sua pulsação deve

ter acelerado quando ouviu que a primeira das sete cartas destinava-se exatamente à igreja em Éfeso. Como é de se esperar, uma igreja sempre reflete o caráter do seu líder. As

duas faces do João do Novo Testamento — o apóstolo do amor e “filho do trovão” — são vistas novamente em duas histórias que a tradição legou, pertinentes aos últimos anos de João em Éfeso: de um lado sua recusa em ficar sob o mesmo teto (de um banheiro

público) com um famoso herético da época chamado Cerinthus, e, do outro lado, a re-dução de toda a sua mensagem a uma única sentença, a qual, em extrema velhice, costumava repetir em todas as reuniões de que participava: “Meus filhinhos, amai-vos

uns aos outros”. Podemos ver nos livros de Atos e Efésios que a igreja do Novo Testamento era caracterizada tanto pelo amor como pelo zelo. Como a cidade de Éfeso tinha a

pretensão de ser a “metrópole”, ou “cidade mãe” de toda a Ásia, dava à igreja em Éfeso, pelas suas atividades evangelísticas e cuidado pastoral, o direito de pretender o título de igreja mãe da província. É por isso que o apóstolo Paulo pôde escrever acerca”... do amor

para com todos os santos”, manifesto pela igreja de Éfeso (Ef 1:15).

Na época em que João escreve, alguns anos já se passaram. Como estaria a igreja? O zelo parece não ter diminuído. As obras, o labor e a perseverança são louvados e, em especial, o valor que a igreja dava à sã doutrina. Embora a igreja suporte o sofrimento, é patente

que não pode suportar o ensino falso, venha ele de homens perversos, pseudoapóstolos, ou de nicolaítas em particular. De acordo com a carta escrita aos Efésios, não muito depois desta, por Inácio, bispo de Antioquia, a igreja estava tão solidamente firmada na

verdade do evangelho que nenhuma seita despertaria sequer o interesse de ser examinada pelos seus membros. Éfeso era uma igreja que tinha levado a sério as advertências de

Paulo quando do seu último encontro com seus líderes. Da mesma forma, a mensagem de Cristo não menospreza o cuidado deles pela pureza e o amor pela verdade. Oh! pudesse o povo do Senhor ter uma visão correta para saber quando e como dizer como o salmista:

“Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem?” (Sl 139:21a.)

Mas, na busca constante pela preservação da verdade, a igreja em Éfeso tinha perdido o amor, “qualidade sem a qual todas as outras não têm sentido”. É digno de nota o fato de que somente na primeira e na última das sete cartas as igrejas são ameaçadas de

completa destruição, pela desanimadora, e puramente negativa, razão que é a falta de fervente devoção. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”, diz

Cristo. Vê se me compreendes: “...odeias as obras dos nicolaítas as quais eu também odeio”; a teu favor tens teu zelo. Mas onde está o teu amor? Fica sabendo que do amor depende a tua própria existência como igreja.

Este tipo de erro é muito fácil de acontecer. Deve ser confessado por todos os cristãos que

aceitaram o papel de bravos senhores defensores da verdade, e esqueceram-se de que deles se espera que sejam senhores de coração grande também. À igreja (de Éfeso), Cristo mostra-se zeloso pelo que é certo. Demonstra poder e vigilância — mas é a igreja que ele

tem nas mãos e vigia (v. l). Também tem olhos perspicazes para identificar o mal, mas é na igreja que ele o identifica. Também não pode suportar o mal, porém o mal que ele

ameaça destruir é a própria igreja, se ela não se arrepender. E, de fato, a primeira lâmpada do candelabro foi removida. Tanto a igreja como a cidade

foram destruídas; a única coisa que restou foi um lugar chamado Agasalute, e isso, ironicamente, honra a memória de João e não de Éfeso. Permanece ainda a promessa de vida no paraíso a todo indivíduo que, lembrando-se de onde caiu, arrepende-se e volta à

prática das primeiras obras e do primeiro amor. Fica o alerta às igrejas que não amam: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência;

ainda que eu tenha tamanha fé, ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Co 13:12).

A Segunda Carta: à Igreja em Esmirna (2:8-11)

Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver; 9Conheço a tua tributação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás. 10Não temas as cousas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. 11Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor; de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte.

Ninguém precisa conhecer a história da cidade de Esmirna para compreender a mensagem destinada a essa igreja, mas creio que é elucidativo o fato de que a beleza dessa cidade, que até rivalizava com Éfeso, era, por assim dizer, a beleza da ressurreição.

Setecentos anos antes a velha cidade de Esmirna fora completamente destruída, permanecendo em ruínas durante três séculos. A cidade que existia nos dias de João era,

por assim dizer, uma cidade que havia ressuscitado. Em flagrante contraste com os campos existentes hoje no local onde Éfeso existia,

Esmirna permanece até hoje com o nome de Izmir, sendo a segunda cidade da Turquia asiática. A ressurreição, que caracterizava a cidade, haveria de marcar a igreja também.

O futuro imediato era de sofrimento e morte. Isso era uma certeza; um fato que envolve inúmeras lições para nós que vivemos de modo relativamente fácil nos dias de hoje. Como

reagiríamos se amanhã a perseguição batesse à nossa porta? Muitas igrejas aprenderam a viver debaixo desta perspectiva e creio que devemos fazer o mesmo. A grande tribulação, vista por João como o acontecimento final desta época, a qual ele próprio vê em

miniatura, aparecia como uma constante na experiência do povo de Deus. É uma provação. É a ação do diabo, mas serve aos propósitos e intenções de Deus.

A perseguição em Esmirna foi especialmente intensa devido ao fato de que a comunidade judaica local era o maior dos inimigos. Os judeus eram o povo de Deus do ponto de vista

racial, mas não real (Rm 2:28), e de fato blasfemavam contra Deus quando perseguiam a igreja sob a alegação de estarem prestando culto a Deus (Jo 16:2). Foram talvez as

pressões econômicas, exercidas por esses judeus, que levaram a igreja à pobreza. Talvez fossem as acusações difamatórias dos judeus (note-se o jogo de palavras, pois Satanás significa “difamador”) que conduziram os cristãos à prisão e à morte.

Mas os cristãos não devem desanimar. O Cristo que desvenda esta possibilidade

desanimadora passou por uma experiência semelhante. Como Esmirna, o Senhor “...esteve morto e tornou a viver” para garantir que eles também tornariam a viver. Por trás daqueles judeus estava Satanás; seu pai espiritual é o diabo e não Abraão (Jo

8:33,44). Mas Deus está por trás de tudo e é ele que controla todas as coisas. Uma grande lição é que o sofrimento é certo; outra, é que ele é limitado. Para a igreja de Esmirna a perseguição seria por “dez dias”, em um futuro não muito distante. Mas, pela bondade de

Deus, haveria o décimo primeiro dia e aí tudo estaria terminado. O fato de Deus estar no controle não quer dizer que Satanás esteja impedido de infringir dor. Não há uma só

passagem no Novo Testamento que prometa uma vida isenta de sofrimentos, aliás, como é notório, sem cruz não há coroa. Mas o que Deus garante é que, mesmo que a igreja venha a morrer no sentido físico, jamais sofrerá o dano da segunda morte. É assim que Paulo,

tendo aprendido dupla lição, demonstra uma atitude verdadeiramente cristã face à tribulação: “porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não

são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós” (Rm 8:18).

A mensagem, portanto, é que os crentes de Esmirna não devem ser medrosos, mas fiéis. Não devem olhar para o sofrimento, mas para Deus que tudo tem sob controle.

A Terceira Carta: à Igreja em Pérgamo (2:12-17) Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes: 13Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. 14Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. 15Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas. 16Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem demora, e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. 17Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe. Éfeso era a principal cidade da Ásia, mas Pérgamo era a capital, pois era lá a sede do

governo imperial. Lá também havia o mais antigo templo dedicado à prática da religião patrocinada pelo estado, a saber, a adoração do imperador. Não sabemos com certeza se

Cristo se referia a isso quando falou do “trono de Satanás”, mas sabemos o tipo de dificuldade que os cristãos em Pérgamo tinham que enfrentar. Para eles, Satanás não era, como em Esmirna, um mero caluniador trabalhando por intermédio de um grupo de

judeus mal intencionados. Satanás aparece como o “príncipe do mundo” segundo a ex-pressão literal do Evangelho de João (Jo 14:30); o que a primeira carta de João chama de “o mundo” (1 Jo 2:15ss) é, de fato, o grande inimigo da igreja em Pérgamo.

“O mundo” inclui o poder de outras instituições além da máquina do Estado. Há a enorme

biblioteca de Pérgamo (a cidade devia o seu nome à palavra “pergaminho”), o ministério de cura executado pelos sacerdotes de Esculápio e, servindo como coroa à acrópole da cida-de, o altar grego asiático de Zeus, o salvador. Toda essa parafernália de uma “sociedade

alternativa” orientada para as necessidades da mente, do corpo e do espírito, é acrescentada às demandas do próprio estado romano. Da mesma forma encontraremos

na quarta cena a besta que sai da terra junto com a besta que sai do mar, oferecendo ao homem um sistema de vida viável, fora do reino de Deus. Mas esta é outra história. Antecipar o que João diz adiante é a maneira mais eficiente de confundir as coisas.

Resumindo, Satanás trabalha em Pérgamo através das pressões de uma sociedade pagã. Satanás persegue; o sofrimento que viria sobre os cristãos de Esmirna já pairava sobre os

de Pérgamo, e pelo menos um cristão já havia sido martirizado (v. l3b). Ele segue; os nicolaítas que foram mencionados na carta aos cristãos em Éfeso acham-se aqui

novamente e, apesar de não sabermos muita coisa a respeito deles, o seu ensino parece ser do mesmo tipo do de Balaão, o qual havia conduzido o povo de Deus para o pecado em épocas passadas (Nm 31:16; 25:1-3). Creio que os dois pecados mencionados no versículo

14 podem ser entendidos literalmente. Ambos aparecem nos dias de Balaão e reaparecem nos dias do Novo Testamento (1 Co 5 e 8). O caminho que conduz à prática desses

pecados é o tipo de tentação típica do mundanismo de todas as épocas: “que mal há nisso? Todo o mundo faz, por que não você?”.

Sedução ou perseguição é a dupla perversão que o mundo oferece à igreja. Uma sociedade altamente permissiva pode ser estranhamente severa para com todos os que se recusam a acompanhá-la. “Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mes-

mo excesso de devassidão” (1 Pe 4:4). As ruas alegres da Feira da Vaidade ainda podem

conduzir à prisão ou à fogueira: ou você compra, ou é queimado. Antipas, ao que parece,

foi o único membro da igreja em Pérgamo a sofrer o martírio. Mas o que o Senhor diz é importante: “Não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas”. Negar a fé era uma

tentação constante, especialmente quando a outra opção era ser martirizado. Para alguns a tentação é forte demais e por isso cedem. O compromisso com o mundo se

estabelece quase sem sentir. A distinção entre a igreja e o mundo torna-se obscurecida. Há muita tolerância e pouca disciplina. “A culpa de Pérgamo residia no oposto da culpa de Éfeso; e quão tênue é a linha entre o pecado da tolerância e o pecado da intolerância. ”

De qualquer forma, no fim, é com Cristo que eles terão que prestar contas. O poder da

espada não está com os governantes romanos, nem com o príncipe deste mundo, mas com Cristo (v.12). A espada de dois gumes certamente refere-se ao outro juízo que é necessário: discernir a verdade (Hb 4:12) e punir o mal (Rm 13:4). O Senhor está pronto a

usar a espada contra aqueles que, mesmo na igreja, não se arrependam.

O Senhor faz, entretanto, uma promessa àqueles que se arrependem e vencem. Não é fácil entender especialmente o significado das pedrinhas brancas (v.17), apesar de haver várias opiniões a respeito. Desde que o contexto fala de festas com carne sacrificada aos ídolos e

da festa do maná que Deus espalhou no deserto para Israel, a menção das pedrinhas pode se referir ao antigo costume de utilizar pequenas pedras quadradas como ingresso nos espetáculos públicos. A promessa de vida eterna feita no final das duas cartas

anteriores é repetida aqui em termos apropriados ao cristão que não se conforma com os prazeres do mundo, nem com os banquetes da carne sacrificada aos ídolos. Cristo faz ao

vencedor um convite pessoal para participar de um banquete no céu, que consiste na comunhão com o próprio Cristo: “porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim”; e ele é o único e verdadeiro maná, o pão da vida que desceu do céu (2 Co

1:20; Jo 6:31-35).

A Quarta Carta: aos Cristãos de Tiatira (2:18-29) Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao bronze polido: 19Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. 20Tenho, porém, contra ti, o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. 21Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. 22Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. 23Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras. 24Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; 25tão somente conservai o que tendes, até que eu venha. 26Ao vencedor, e ao que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, 27e com cetro de ferro as regerá, e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; 28assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. 29Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Os pecados da igreja de Tiatira, assim como os de Pérgamo, eram a imoralidade e a

tolerância para com a adoração de ídolos. Tanto nesta, como naquela igreja, podemos interpretar literalmente esses pecados, se bem que eles caracterizam o adultério espiritual no qual o povo de Deus incorria constantemente. De acordo com a metáfora bíblica, o

verdadeiro Deus é o esposo de Israel, e os falsos deuses são os amantes de Israel (Jr 3; Ez

16; Os 2). Tanto Jezabel como Balaão foram estrangeiros que seduziram a noiva de Deus

à prática desse tipo de infidelidade (1 Rs 16:31; 2 Rs 9:22).

Há, no entanto, distinções entre as duas situações. Contra os cristãos cercados de Pérgamo, Satanás usa a pressão do mundo tentando comprimir os crentes “nos seus próprios moldes” (Rm 12:2 CIN). Mas onde a igreja já se faz notar pelo crescimento e pelo

vigor (v.19) ele sabe que pode causar um prejuízo maior envenenando o interior, do que pressionando o exterior. Em Tiatira uma mulher assumia, ao mesmo tempo, o perverso caráter de Jezabel e a atividade profética de Balaão, e ensinava, como se fosse da parte de

Deus mesmo, coisas novas e profundas que muitos membros daquela igreja forte e dinâ-mica já estavam predispostos a explorar.

As acusações que João Wesley sofreu de estar “buscando revelações extraordinárias e dons do Espírito Santo”, feitas pelo Bispo Butler, são injustas. A verdade é que muitos

tiveram essa tensão; e essas “revelações”, quando divorciadas daquilo que as Escrituras de fato revelaram, são coisas verdadeiramente horrendas. Essas vozes sinistras

geralmente ecoam no meio de um entusiasmo espiritual subitamente despertado. Mal a Reforma tinha começado a criar impacto, João de Leyden proclamou-se messias em Münster. Ao mesmo tempo em que o grupo “Os meninos de Deus” apela à lealdade da

juventude moderna, os pais cristãos ficam chocados ao descobrir que seus filhos estão sendo incentivados a romper os laços familiares. “Não terás outros deuses diante de mim” e “Honra a teu pai e a tua mãe”, são mandamentos tradicionalistas enfadonhos quando

comparados com a dinâmica voz desses novos profetas.

O fato de que vozes deste tipo são inevitáveis em uma igreja viva, não é desculpa para que sejam deixadas à vontade; pelo contrário. Quanto mais dinâmica a voz, mais severamente será julgada. O Cristo que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao

bronze polido virá julgá-la como o sol brilhante do meio dia (1:16), de modo infinitamente mais terrível do que o deus pagão, Apolo, cujo templo em Tiatira era famoso. A glória de

Cristo sonda a mente e o coração de “Jezabel”, e “nada refoge ao seu calor” (v.23; Sl 19:6). Aqueles que não se arrependerem são ameaçados com tribulações e morte, certamente de cunho espiritual e, possivelmente (tanto nestas punições como na punição pelos pecados

descritos nos versículos 20-21), com a morte física também. Àqueles que se arrependerem ele promete que, uma vez removida a barreira do pecado, eles se transformarão na maravilhosa igreja missionária que está dentro de si mesmos. O versículo 27 é uma

adaptação grega do hebraico do Salmo 2:9. A primeira metade do versículo é ambígua em ambas as línguas, mas o curioso vocabulário empregado expressa de forma clara o duplo

efeito resultante da pregação do evangelho. Digo isso porque a “autoridade sobre as nações”, que é dada a Cristo no Salmo 2, e à igreja de Tiatira, é a autoridade para proclamar o reino de Deus. Quem rejeitar entrar no reino será destruído, mas quem

aceitar viverá (2 Co 2:15-16; Jo 20:23; Lc 24:47). E o que é mais importante, à igreja, fiel propagadora da luz do evangelho nas trevas deste mundo, Cristo promete a si mesmo como a “brilhante estrela da manhã” (22:16), a certeza de que a aurora chegará quando

então a luz das lâmpadas será tragada completamente pela luz da eternidade.

A Quinta Carta: à Igreja em Sardes (3:1-6) Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. 2Sê vigilante, e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. 3Lembra-te, pois, de como tens recebido e ouvido, guarda-o, e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. 4Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras, e andarão de branco junto comigo, pois são

dignas. 5O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. 6Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apesar das falhas, Cristo reconheceu as coisas boas existentes em todas as igrejas às quais se dirigiu. O que ele encontrou que recomendasse Sardes? Nada. A única coisa boa

que a igreja possuía era uma boa reputação para a qual não existia, de fato, razão alguma. O veredito de Cristo sobre a condição da igreja é breve e devastador: “Tens nome

de que vives e estás morto”. Não nos enganemos acerca de Sardes. Ela não é o que o mundo chamaria de igreja morta.

Talvez ela seja considerada viva até mesmo pelas suas igrejas irmãs. De fato, desde que Cristo determina a igreja a ser “vigilante” e a adverte de que a sua vinda para julgá-la será

inesperada, quer me parecer que nem a própria igreja tinha consciência do estado espiritual em que se encontrava. Todos a reputavam como igreja florescente, ativa e bem sucedida; todos, com exceção de Cristo. Suas obras não atingiam o padrão estabelecido

por Cristo. Ninguém naquela igreja tinha atingido a integridade necessária (v.2). Se Cristo ameaça não confessá-la diante de Deus a razão é que, apesar de todo o seu ativismo, ela

não está, de fato, confessando a Cristo (v. 5; Mt 10:32). Falha na integridade? Falha na confissão? Ninguém ficaria mais surpreso face às

acusações do que a própria igreja. Mas “quando nos lembrarmos do que a palavra integridade significava, no sentido da vida cristã, aos cristãos em Esmirna, poderemos

entender melhor o que João requeria da igreja em Sardes”: segura, contemplativa como a cidade de Sardes, não sofria nem perseguições, nem heresias. “Ela tinha imposto a si mesma a tarefa de evitar problemas, seguindo uma política baseada na conveniência e na

circunspecção ao invés de no zelo fervoroso. ”

Talvez não seja correto dizer que a sua reputação é a única coisa boa que a igreja tem. Há

algumas pessoas na igreja que ainda não estão mortas embora estejam morrendo (v.2). Umas poucas pessoas na igreja ainda não se contaminaram (v.4). Acima de tudo é

mencionada a primeira reação ao evangelho, “de como o tens recebido e ouvido” (v.3). A palavra importante é “como” e não “o que”. Oh! Se ela tão somente pudesse recuperar o espírito de santidade e consagração, “o como” daqueles primeiros dias! Do contrário Cristo

ameaça vir de surpresa para julgá-la, como o ladrão na noite. O que ele descreve nestes versículos pode ser entendido como sua vinda no fim dos tempos, como em Mateus 24:36-44, mas pode referir-se a uma punição mais imediata. João “esperava que a vinda final de

Cristo seria antecipada em menores, mas não menos decisivas aparições”. A experiência da igreja em Sardes será igual à da cidade, a qual nunca fora tomada de assalto e se

julgava impugnável, porém mais de uma vez fora capturada em surdina. Mesmo a promessa do versículo 5 contém uma advertência. Não há menção do reino e do

poder e da glória contidos nas outras cartas como prêmio aos cristãos vitoriosos. Tudo o que Cristo promete aos vitoriosos de Sardes é que o nome do vencedor não será apagado

do livro da vida, de modo nenhum, e que ele será vestido com as vestes brancas da justiça. Em outras palavras, tudo o que é garantido aos cristãos em Sardes, é que eles serão aceitos por Deus, como para sublinhar a possibilidade de que a igreja, como um to-

do, poderia até perder esse privilégio. Se Cristo é o único que pode ver e expor a verdadeira condição da igreja em Sardes, ele é

certamente o único que pode lidar com ela. E ele está pronto para fazê-lo. Ele é “aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas”; e quando ele menciona juntas as

estrelas, que são os anjos representativos das igrejas, e os sete espíritos, duas coisas podem acontecer. Os sete espíritos são os olhos de Deus de quem nada se pode ocultar

(5:6); daí procede a mensagem tão severa que acabamos de ouvir. Eles, os espíritos, são

também o poder vivificador da parte de Deus e, em Sardes, como em todas as sete igrejas, Cristo tem nas mãos tanto a igreja necessitada, como o espírito vivificador. Ele pode

reconciliá-los, não somente para fazer diagnóstico da situação mas para revificar os mortos. Precisamos estar certos de que se Sardes se lembrar, e der ouvidos, e se arrepender, ele a revificará.

A Sexta Carta: à Igreja em Filadélfia (3:7-13)

Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abre. 8Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome. 9Eis que farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei. 10Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. 11Venho sem demora. Conserva o que tens para que ninguém tome a tua coroa. 12Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome. 13Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Além de Esmirna, Filadélfia é a única igreja em que Cristo não encontra faltas. Qualquer austeridade que pareça demasiada da parte de Cristo não é motivada pelas faltas encontradas, e sim pelos fatos

que precisam ser enfrentados. Uma época de testes se aproxima, não certamente a última grande tribulação que João erradamente julgava iminente, nem uma perseguição local, o

que fica evidente pelas palavras: “hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro”. Este teste refere-se à perene perseguição, da qual todas as pequenas perseguições e, especialmente, a grande tribulação, são partes integrantes. E a igreja não tem grande

força para enfrentar esta batalha. Cristo não minimiza as dificuldades que deverão ser enfrentadas.

Ele encoraja a igreja. A igreja se defronta com uma oposição e (possivelmente) com oportunidades, e a intenção de Cristo é ajudar a igreja a vencer a primeira e a confirmar a

segunda. O paralelo ente Filadélfia e Esmirna pode ser novamente encontrado no fato de Filadélfia

ter que enfrentar a oposição dos da “sinagoga de Satanás” (2:9). Para entender bem a ideia da palavra “mentem”, no grego, devemos pensar nessas pessoas como sendo pseudo-

judeus. Eles reivindicam para si, falsamente, a glória de serem o povo santo de Deus. Em contraste, Cristo se apresenta como “o santo, o verdadeiro” (v.7). Ele menciona antigas profecias segundo as quais o povo de Deus será, um dia, justificado, e o resto da

humanidade se curvará diante desse povo. Cristo diz à igreja que o cumprimento dessas profecias será o contrário do que era esperado pelos judeus de Filadélfia: eles é que terão

de “prostrar-se aos teus pés” e reconhecer “que eu te amei”. Oh! Que os cristãos se ani-mem, pois são os favoritos do Senhor.

Frequentemente, no Apocalipse, João faz coro aos outros escritores apostólicos, ensinando que os privilégios e as promessas feitas aos judeus no Antigo Testamento

foram herdadas pela igreja cristã.12 Esta doutrina, bem como o seu aspecto histórico, encontra-se nestes mesmos versículos da carta aos cristãos de Filadélfia. Uma investigação acerca do significado da expressão “a chave de Davi” leva-nos até o livro de

Isaías. Interessante notar que encontraremos menções do livro de Isaías espalhadas por todo o capítulo 3 do Apocalipse. A “chave” aparece em Isaías 22:22, juntamente com a

promessa de que o responsável por ela, Eliaquim, encarregado da casa de Davi, teria a

mesma autoridade que Cristo tem de abrir e fechar. Mas abrir e fechar o quê? A entrada da casa de Davi. E com que propósito? Os portões estão abertos, diz Isaías, “para que

entre a nação justa que aguarda a fidelidade (26:2). Assim como o próprio Eliaquim é “fincado como estaca em lugar firme, e ele será como um trono de honra para a casa de seu pai” (22:23), da mesma forma, aos fracos, aos desprezados e aos estrangeiros, será

dada a “minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome melhor” (56:5). As nações também virão em submissão humilde (60:11); “todos os que te oprimiam, prostrar-se-ão até as plantas dos teus pés” (60:14 cf 49:22,23). Todas as ideias aqui dizem respeito

ao acesso à casa de Davi, ao reino, à cidade e ao templo de Deus. O que se segue pode ser acompanhado passo a passo. O Senhor condena o legalismo dos judeus (“Ai de vós,

escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, e não deixais entrar os que estão entrando” Mt 23:13) e transfere a autoridade de porteiro à igreja (“Dar-te-ei as chaves do reino dos céus” Mt 16:19). Dessa

forma Pedro e os outros cristãos têm o privilégio de dar as boas vindas não somente aos judeus, mas aos samaritanos e aos gentios como membros permanentes do reino (At 2,

8,10). Assim, todo conceito expresso nas palavras: chave, porta, cidade, templo e coluna torna-se cristão, e é a base para a transferência acima mencionada. Os judeus precisarão aprender “que eu te amei”.

Este favor não merecido é a raiz de todo o resto. Em certo sentido Cristo guarda (ou

preserva) o seu povo porque eles guardam (ou observam) a sua palavra (v.10) e o incentivo que ele dá, tanto a Filadélfia como a Esmirna, é dirigido a todos os que lhe são leais. Mas a cadeia de causa e efeito vai mais fundo; eles obedecem aos mandamentos porque ele os

amou primeiro. E vai mais fundo ainda: o resultado final do amor de Cristo pela igreja é que a igreja de “pouca força” será estabelecida como uma coluna irremovível no templo da Jerusalém Celestial (v.12). Esta igreja será selada de modo triplo: pertence a Deus,

pertence à cidade de Deus e pertence ao Filho de Deus. Sua terna promessa aos que se sentem dolorosamente cientes de suas próprias fraquezas e inseguranças, é que no final

eles pertencerão ao Senhor. Até que esse dia chegue, o Senhor os anima a suportarem as pressões e, como não

poderia deixar de ser, ao serviço. Em outras passagens do Novo Testamento a expressão “uma porta” é figura de oportunidade (1 Co 16:9; 2 Co 2:12); e, apesar disso, como vimos,

nestes versículos significa principalmente a segurança que eles tinham de entrar na Nova Jerusalém; essa porta também é o único caminho pelo qual os outros podem entrar no Reino. Invertendo a figura apresentada por Isaías, mesmo os judeus poderiam ser

convertidos da sinagoga de Satanás. Assim os cristãos são duplamente incentivados, pois o mesmo Cristo, que anula os opressores, amplia as oportunidades. A porta foi aberta por

ele e ninguém poderá fechá-la. É motivo para os cristãos se animarem e usarem a força que têm no serviço que ele lhes confiou.

A Sétima Carta: aos Cristãos em Laodicéia (3:14-22) Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: 15Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio, ou quente! 16Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; 17pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. 18Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas. 19Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. 20Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo. 21Ao vencedor, dar-

lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci, e me sentei com meu Pai no seu trono. 22Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

A arqueologia tem se encarregado de fornecer dados bastante interessantes acerca da história relacionada com esta carta. Laodicéia era um centro bancário e produzia artigos têxteis. Também era famosa por produzir uma espécie particular de colírio (ver v.18). Era

também uma estância hidromineral de águas mornas que vinham de fontes próximas à cidade (ver v.16). Assim as palavras de Cristo à igreja contêm uma confortável mensagem, bem apropriada. Mesmo que não tivéssemos o conhecimento arqueológico, ainda assim

não teríamos problemas em identificar o juízo que Cristo faz da igreja. “Quem dera fosses frio ou quente!” Que condenação pior poderia existir para uma igreja do que o Senhor

dizer que preferiria um cristianismo mais frio do que o encontrado efetivamente em Laodicéia.

Em outras cidades da Ásia temos observado que o estado da igreja geralmente corresponde ao estado da cidade. Em Laodicéia, entretanto, isso não se repete; há um

contraste entre a cidade e a igreja. A igreja é a imagem da cidade revertida como em um negativo. Financistas, médicos e fabricantes de tecidos se encontram entre os cidadãos mais notáveis da cidade; porém a igreja é considerada “miserável, pobre, cega e nua”.

“Laodicéia tinha falhado no propósito de encontrar em Cristo a fonte de toda a verdadeira riqueza, esplendor e visão. ”

A indiferença de Laodicéia é a pior condição em que uma igreja pode sucumbir. A situação de Laodicéia é pior que a de Sardes onde, pelo menos, existia um fio de vida. A única coisa

boa em Laodicéia é a opinião da igreja sobre si mesma e, ainda assim, completamente falsa. Ela tem a pretensão de ter todas as coisas, mas na realidade não tem nada. Devemos lembrar-nos de que em 1:16 há sete estrelas na mão de Cristo. Nós até podemos

duvidar se ela era uma igreja verdadeira. Será que a linguagem de Cristo deveria nos chocar? É difícil pensar assim, frente ao descrito no versículo 16: “Estou a ponto de

vomitar-te da minha boca”. É o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira que profere estas palavras, e elas são uma parte de todas as outras ameaçadoras escrituras que falam do Senhor, desgostoso com essa geração (Sl 95:10) e zombando dos homens (Sl 2:4).

Apesar disso Laodicéia tem uma chance. O fato de ser repreendida é uma prova de que o Senhor a ama (v.19); a ameaça de abandono total, caso ela não se arrependa, é

contrabalançada pela promessa de reestabelecimento total, caso ela se arrependa. Por causa dessa igreja desastrada, o Senhor se apresenta, no versículo 14, como “o princípio

da criação de Deus” (talvez a melhor tradução seja: a origem da criação de Deus), aquele que é capaz de descer até o caótico abismo do fracasso de Laodicéia e restaurá-la, assim como um dia ele fez com o mundo.

Isso só será possível se ela quiser. A soberania divina não é, de modo algum, prejudicada por isso. Cristo é o único que pode providenciar as riquezas, as roupas e o unguento; ele é

a voz persuasiva que aconselha Laodicéia a aceitar a oferta. Ele é o que vem, o que perma-nece, o que bate, o que chama. Sua soberania está implícita no fato de ele ser “a origem

da criação” de Deus, verdade esta que a igreja de Laodicéia já conhecia através da carta de Paulo aos Colossenses (Cl 1:15-18; 4:16). Mas a pergunta crucial para a igreja é se ela

abrirá a porta e deixará Cristo entrar. “Pois a única cura para a indiferença é a readmissão do Senhor excluído. ”

Mesmo que a igreja seja surda à chamada de Cristo, ele ainda assim se dirige a cada um dos membros individualmente, pois “quando Cristo diz: Eis que estou à porta e bato, se alguém... é clara a sua intenção de dirigir-se ao indivíduo. Mesmo que a igreja, como um todo, não dê ouvidos à sua advertência, pode ser que um indivíduo o faça. ” A todas as

pessoas de Laodicéia que apresentarem evidências de arrependimento, o Senhor promete,

nos versículos 20 e 21, uma majestosa recompensa: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci, e me sentei com meu Pai no seu trono.”

Bibliografia J. R. W. Stott

Historia das Sete Cidades

ÉFESO

Localização e Caracterização Geral

Éfeso era uma antiga cidade grega no território da Lídia, na Ásia Menor. Ficava localizada

na desembocadura do rio Caister, cerca de cinquenta e seis quilômetros a suleste de Izmir

(a antiga Esmirna mencionada no Novo Testamento). Ficava entre as duas antigas cidades

de Esmirna e Mileto. Era uma das mais importantes cidades da Ásia Menor, no que

atualmente é a Turquia. Na época do surgimento do cristianismo, Éfeso também estava

ficando mais importante do que as cidades vizinhas. Em parte, devia sua prosperidade

aos favores feitos por seus governantes. Lisímaco chamou a cidade de Arisone, em honra

à sua segunda esposa. Atalo Filadelfo construiu excelentes docas e instalações portuárias.

Éfeso tornou-se o grande empório da Ásia Menor, no lado ocidental das montanhas do

Taurus, conforme nos diz Estrabão (14.5.641,663). Era a capital da Ásia proconsular,

uma cidade rica e o principal porto da costa ocidental da Ásia Menor. Seu nome, mui

provavelmente, significa «desejável». Quanto ao aspecto religioso, era conhecida

mundialmente por causa de seu famoso templo de Ártemis. O lago antigo fica agora a onze

quilômetros da beira-mar, por causa do depósito de entulho, no processo de muitos

séculos.

História

Ao que parece, Éfeso foi fundada por gregos jônicos, em cerca de 1050 A.C.,

especificamente sob a direção de Androclus, filho do rei ateniense, Codro. Desde os dias

mais antigos, competia com Mileto e Esmirna, para ser o porto de exportação da Ásia

Menor. Creso, rei da Lídia, obteve o controle de Éfeso em cerca de 562 A.C., somente para

que os lídios perdessem esse controle para os persas, em 546 A.C. Os persas mantiveram

o domínio sobre Éfeso até que Alexandre, o Grande, devolveu a cidade aos domínios

gregos. Os macedônios (334-283 A.C.), os selêucidas (280-187 A.C.) e os pergamenes

(187-133 A.C.), foram os governantes da área, em sucessão. Então veio Atalo III, rei de

Pérgamo, que, em 133 A.C., doou a cidade aos romanos. Não foi muito tempo depois disso

que Éfeso tornou-se a capital da província romana da Ásia. Então ela cresceu de tal modo

em importância que chegou a rivalizar com Antioquia da Síria, com Alexandria e com

Constantinopla (atual Istambul, na Turquia Europeia).

Éfeso tornou-se um dos grandes centros do movimento cristão primitivo. De fato, depois

que Jerusalém foi destruída, no ano 70 D.C., tornou-se o centro cristão mais importante

da época. Paulo passou ali três anos, evangelizando a cidade e a região em derredor, de tal

modo que a Igreja cristã ficou bem estabelecida na Ásia Menor (na porção ocidental da

moderna Turquia). Ver Cl 1:7 e 2:1. Paulo usava essa cidade como sua sede de operações

na Ásia Menor. Durante esse tempo ele escreveu suas epístolas aos crentes de Corinto.

É bem possível que Paulo tenha lutado literalmente com feras, naquela cidade, onde pode

ter sofrido um período de detenção que não é mencionado. Ver I Co 15:32. Alguns

estudiosos supõem que as chamadas «cartas da prisão», de Paulo, ou, pelo menos, uma

parte delas, tenham sido escritas em Éfeso, e não em Roma, conforme tradicionalmente se

pensa. Mas, também pode tê-las escrito parcialmente em Éfeso e parcialmente em Roma.

Quando Paulo deixou a cidade, deixou Timóteo encarregado da igreja cristã local (I Tm

1:3). E não demorou muito para que a igreja fosse invadida, juntamente com outras, por

falsos ensinamentos, conforme Paulo havia predito que sucederia (At 20:29,30 e II Tm

4:3).

É possível que o décimo sexto capítulo da epístola aos Romanos na realidade tenha sido

uma carta enviada a Éfeso. Mas, como é claro, temos a epístola de Paulo aos Efésios, que

pode ter sido uma epístola «circular», e não especificamente enviada aos crentes de Éfeso,

visto que as palavras «em Éfeso», no primeiro versículo do primeiro capítulo dessa

epístola, não aparecem no original.

As tradições também fazem o apóstolo João ter vivido ali, como também Maria, mãe de

Jesus, que fora entregue por ele aos cuidados do discípulo amado, segundo se aprende

em João 19:27. João, pois, teria recebido jurisdição sobre as sete principais igrejas

daquela área. Mas há probabilidades de que não tenha sido ele o autor do livro de

Apocalipse, que foi dirigido a essas cidades (incluindo Éfeso). Antes, o autor do Apocalipse

teria sido João, o vidente, e não João, o apóstolo, embora ele também fizesse parte do

grupo joanino. Isso reflete a opinião de alguns eruditos, contra a opinião de outros, que

dizem precisamente o contrário. Em favor da associação de João com a cidade de Éfeso,

temos o testemunho de Irineu e Eusébio (3.21), dois pais da Igreja, que deixaram

registrados vários incidentes da vida do apóstolo João, que ocorreram ali. Mais tarde,

Inácio (Efésios 11) adicionou mais algumas informações sobre a questão.

Subsequentemente, Éfeso tomou-se um importante centro do cristianismo e um certo

número de concílios foi efetuado nessa cidade.

A cidade de Éfeso era vulnerável aos ataques, pelo que foi saqueada repetidas vezes por

invasores. Os godos atacaram-na e obtiveram controle sobre a mesma, em 262 D.C. Os

árabes, em 655 e 717 D.C. Os turcos, em 1090 e, por duas vezes, novamente, no século

XIV. Os mongóis, sob Tamerlão, completaram a destruição da cidade, em 1403.

Finalmente, o islamismo chegou a controlar toda aquela região, pondo fim ao poder do

cristianismo naquela região do mundo. Atualmente, uma pequena cidade turca, de nome

Ayasaluk, assinala o local antigo.

Religião

O décimo nono capítulo do livro de Atos fala sobre o conflito que o cristianismo precisou

enfrentar para estabelecer ali um centro de operações. Desde o começo de sua história,

Éfeso fora um centro forte do politeísmo. Diana (Ártemis) tornou-se a principal deusa da

cidade e um grande empreendimento comercial foi estabelecido em torno de seu nome.

Ártemis era o nome grego de Diana, conforme os romanos chamavam essa divindade. A

semelhança de Apolo, ela era representada armada de arco e flechas, que ela usava a fim

de subjugar monstros e gigantes. Era considerada uma divindade benéfica e ajudadora.

Apolo era tido como o deus luminoso do dia e ela, com sua tocha, era a deusa da luz, à

noite. Veio a ser identificada com a deusa da lua e da noite. Seu domínio era a natureza.

Todas as feras eram consagradas e ela, embora fosse considerada uma caçadora. Também

foi assumindo os aspectos da deusa da guerra, Minerva. O paganismo retrata deuses e

deusas sob muitos aspectos, pelo que ela também aparecia como a Deusa Virgem,

reverenciada pelas donzelas como sua protetora. No entanto, nos primeiros tempos de sua

história, foram-lhe oferecidos sacrifícios humanos.

O templo de Diana, em Éfeso, chegou a ser uma das maravilhas do mundo antigo. Foi

erigido em 550 A.C. Era uma obra magnificente da arquitetura jônica. Ficava em uma

plataforma com cerca de cento e trinta metros de comprimento por cerca de setenta e três

metros de largura. Dez degraus levavam ao pavimento dessa plataforma e mais três

degraus levavam ao nível do pavimento do próprio templo. O templo tinha cem metros de

comprimento por cinquenta metros de largura. Havia duas fileiras de oito colunas cada,

na frente e na parte de trás do edifício e duas fileiras de vinte colunas de cada lado do

santuário, totalizando cento e dezoito colunas. Cada coluna era um monólito de mármore,

com 16,75 m de altura; e dezoito dessas colunas, em cada extremidade, eram

elaboradamente esculpidas. O teto era coberto com grandes telhas de mármore branco. O

santuário interno era circundado por colunas, tendo trinta e dois metros de comprimento

por vinte e um metros de largura. Havia uma ornamentação interna de inigualável beleza,

muito intrincada. Havia obras de Fídias, de Praxíteles, de Scopas, de Parrásio e de Apeles,

grandes artistas plásticos do passado.

Juntamente com a própria cidade de Éfeso, o templo de Diana teve uma história muito

agitada. Sofreu vários saques e, pelo menos por duas vezes, foi incendiado. O incêndio

que ficou mais notório foi o de 336 A.C., ateado por um efésio de nome Herostrato, o que

ele teria feito apenas com o propósito de imortalizar o seu nome. Mas esse templo sempre

era reconstruído pelos efésios, após cada novo ataque sofrido. Todavia, em 262 D.C., os

bárbaros godos arrasaram-no e assim terminou a sua história.

Em Atos 19:36 nos é dada a informação de que a imagem que era adorada naquele templo

havia «caído do céu». Sem dúvida isso significa que algum meteorito foi recolhido e

amoldado para formar uma imagem. Somente em tempos modernos aceitou-se a queda de

meteoritos. Até bem recentemente, os céticos afirmavam que é impossível caírem rochas

do firmamento. O fato é que os santuários tornavam-se pontos de exploração comercial; e

questões econômicas causaram maiores dificuldades para Paulo em Éfeso (ver At 19:23

ss) do que as questões religiosas, em suas lutas contra o paganismo.

O culto idólatra em Éfeso tinha o apoio de livros sagrados chamados Ephesia grammata,

que eram numerosos livros que continham encantamentos, artes mágicas, etc. Quando o

evangelho lançou raízes em Éfeso, grande quantidade desse material foi queimado,

avaliado em cinquenta mil peças de prata (equivalentes cerca de cento e sessenta anos de

trabalho de um operário comum — At 19:19). Mediante essas artes mágicas, os homens

procuram empregar forças desconhecidas (ocultas), em seu benefício, ou, outras vezes,

para prejudicar seus inimigos. Essas artes são uma espécie de excursão pelas dimensões

dos poderes ocultos que os homens sempre pensam que os cercam, no mistério que é a

vida.

Nos dias do Novo Testamento havia uma numerosa colônia judaica em Éfeso. Assim, com

o vigoroso paganismo que ali medrava, com uma boa comunidade judaica e com um

cristianismo crescente, Éfeso veio a ser uma cidade cosmopolita quanto a questões

religiosas. E, em tempos de intolerância, isso sempre significará convite a dificuldades. O

cristianismo, porém, gradualmente foi ganhando terreno, só tendo sido suplantado,

séculos mais tarde, pelo islamismo, que conquistava territórios com a força da espada dos

fanáticos seguidores de Maomé. Mas, antes disso, Éfeso finalmente chegou a contar com

templos cristãos que procuravam copiar a majestade da adoração à deusa Diana. O

imperador Justiniano edificou um templo cristão em honra a João, no local do antigo

templo de Diana. É irônico que o quarto crescente do islamismo veio a rebrilhar sobre as

cúpulas das anteriores igrejas cristãs. E ainda mais irônico é que, ainda mais tarde, o

lugar tornou-se desolado, onde nem imagens pagãs, nem cruzes e nem quartos crescentes

eram exibidos. O próprio mar retirou-se do antigo porto de Éfeso, que agora fica a onze

quilômetros de distância da beira-mar. Atualmente há um pantanal cheio de canas onde,

antigamente, grandes navios traziam suas mercadorias, provenientes de todas as partes

do mundo antigo.

Em Éfeso esteve a igreja cristã que perdera seu primeiro amor (Ap 2:4) e que fora

advertida no sentido de que, se não se arrependesse, teria removido o seu candeeiro (Ap

2:5). Isso acabou acontecendo, embora no processo de vários séculos. Importantes

concílios cristãos foram efetuados ali, antes do triste fim da cidade.

Éfeso e a Arqueologia

Após muita pesquisa paciente, o arqueólogo J.T. Woods descobriu as minas do grande

templo de Diana. Isso ocorreu em 1870. Mostrou que era quatro vezes maior que o

Partenon de Atenas. As escavações demonstraram a grandiosidade da estrutura, descrita

na terceira seção, acima. O Instituto Austríaco de Arqueologia realizou notáveis

escavações nesse lugar, desde o ano de 1896; e os labores de vários outros estudiosos

vieram juntar-se a isso. Ficou demonstrado que Éfeso contava com muitos edifícios

públicos, típicos das cidades greco-romanas. A porção principal da cidade contava com

esplêndidos teatros, banhos, bibliotecas, a agorá (praça do mercado) e ruas pavimentadas

de mármore. A descoberta de muitas moedas e de artefatos conferem uma compreensão

ainda maior quanto à cultura e à história dessa cidade. Havia sobre o monte Piom um

grande teatro, com capacidade entre vinte e cinco mil a cinquenta mil espectadores.

A arqueologia tem provado que a cidade continuou a prosperar, mesmo quando o seu

porto diminuiu de importância. Sob o imperador Cláudio, foi remodelado o seu teatro

(meados do século I D.C.). Nos dias de Trajano (início do século II D.C.), houve novas

obras nesse teatro. Foi Cláudio quem mandou pavimentar com mármore certas ruas da

cidade. Nero conferiu à cidade um estádio. Domiciano alargou e embelezou a avenida

central. Outros melhoramentos foram realizados, antes do ataque dos bárbaros godos, em

262 D.C. (AM RAM UNA Z)

LAODICÉIA

O Nome

A forma grega dessa palavra é Laodikia (Laodikeia), que indicava a cidade da Ásia Menor

desse nome, e seus habitantes. Essa palavra significa «justiça do povo», dando a entender

alguma forma de governo democrático. Todavia, a referência poderia ser a algum juiz do

povo, conforme outros têm opinado. O adjetivo pátrio para os habitantes da cidade, no

grego, é laodikoi.

Várias Laodicéias na Antiguidade

Três eram as cidades desse nome, na antiguidade bíblica:

1. Laodicéia ad Mare, atual Lataquia, o principal porto de mar da Síria.

2. Laodicéia Combusta, atual Ladique, na Turquia, a cinquenta e três quilômetros a

sudoeste de Samsun.

3. A Laodicéia do Novo Testamento (ver Ap 3:14-22), onde havia uma das sete igrejas

para onde foram endereçadas as cartas do Apocalipse.

Havia ainda outras três cidades que tinham esse nome na antiguidade, mas que não se

revestem de qualquer interesse bíblico.

A Laodicéia do Novo Testamento

Essa cidade era chamada Laodicéia ad Lycum, e ficava próxima da moderna cidade de

Denizli, na atual Turquia ocidental. Ficava cerca de cento e oitenta quilômetros a suleste

de Esmirna, atual Izmir, na Turquia. Supõe-se que Laodicéia foi fundada em cerca de 250

A.C., por Antíoco II. Posteriormente, tornou-se a sede de uma das igrejas cristãs

primitivas da Ásia Menor. Seu nome lhe foi dado em honra a Laodice, esposa de Anfíoco

II.

A mensagem da carta aos laodicenses tem sido vista, tradicionalmente, como uma

advertência clássica contra uma igreja corrupta e míope, dotada de uma fé cristã

superficial. O desafio contido em Ap 3:20,21 não tem igual na literatura religiosa,

considerando-se a brevidade dessa passagem.

Ai pelo século IV D.C., essa cidade era a sede episcopal central da Frigia, porém, foi

destruída e abandonada durante as sangrentas guerras que houve entre os islamitas da

Idade Média. As ruínas chamadas Eski Hissar, são tudo o que resta da cidade de

Laodicéia, antes tão orgulhosa e autossuficiente. Eski Hissar, no turco, significa «castelo

antigo».

Descrições

Essa era uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte ocidental da moderna

Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no local, por Selêucida

Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de sua esposa,

«Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu desenvolvimento e

prosperidade. Jazia na importante intersecção de estradas principais da Ásia Menor, que

de Laodicéia ia para o ocidente, até os portos de Mileto e Éfeso, cerca de cento e sessenta

quilômetros de distância. Para o oriente, essa mesma estrada conduzia ao planalto central

e, dali, até à Síria. Uma outra estrada, que atravessava Laodicéia, corria para o norte,

para a capital principal, Pérgamo, e também para o sul, até às costas de Ataléia. Essas

estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se tornou um centro bancário e

comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a de tabletes medicinais e a de

fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários, aumentou mais ainda a

prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os dias da república, e nos dias

dos primeiros imperadores, já era uma das mais importantes e florescentes cidades da

Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade de cidade-mãe, veio a incorporar uma área onde

havia nada menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que era uma autêntica

«metrópole», conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que sobreviveram até nós.

A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, finalmente, forçou o seu

abandono. Atualmente, é um lugar desértico, mas muitas ruínas testificam sobre sua

antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de corridas, três

teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de diâmetro), além de numerosos

outros itens.

O trecho de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com

uma comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de evangelistas

enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um trabalho patrocinado pela

igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola chamada aos Efésios,

na realidade foi a carta mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses, mas

essa teoria não tem muita coisa que a recomende.

Já que Laodice era um nome feminino comum, nos tempos do N.T., seis cidades

receberam tal nome, nos período helenista. Por essa razão, a Laodicéia de Ap 3:14 era

chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme assevera Estrabão (578).

Ficava localizada na margem sul desse rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a

dezesseis quilômetros a oeste de Colossos.

PÊRGAMO

Esta palavra estava relacionada a purgos, isto é, «torre» ou «castelo», ou seja, «fortificada».

Pérgamo era a «cidadela» de Tróia. E, de fato, nos escritos clássicos, tal palavra era usada

para indicar a «cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua suposta significação de

«casada» não é apoiada nos dicionários. É verdade que aquela igreja entrou em

matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favor imperial, mas tal significado não é

ilustrado no nome da cidade.

Pérgamo era uma cidade da província romana da Ásia, nos dias neotestamentários, na

parte ocidental do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga capital de Atalo, a cidade-

estado doada ao império romano, em 133 A.C. Geograficamente, ocupava importante

posição, próxima do extremo marítimo do largo vale do rio Caico. Também tinha boa

importância comercial e politica, além de sua importância religiosa. Existia ali uma antiga

forma de adoração ao diabo. Também era a sede de um antigo culto de mágicas

babilônicas, e tornou-se importantíssimo centro da propagação do «culto ao imperador»,

que era apenas outra forma de religião falsa, usada pelas forças satânicas. Tornou-se a

sede de quatro dos maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus, de Atena, de Dionísio e de

Ásclépio. Também se estabeleceu ali o culto dos Magos, de origem babilônica. O sacerdote

desse culto era de Pontifex Maximus ou então de «Principal Construtor da Ponte», e sua

suposta tarefa era preencher o vácuo entre o homem e os poderes superiores, os quais se

tornavam objetos de adoração. Os habitantes de Pérgamo eram chamados de «principais

guardiães do templo» da Ásia.

Quando o «culto ao imperador» cresceu em importância, dentro do império romano,

Pérgamo se tornou um de seus centros principais, embora outros falsos cultos ali nunca

tivessem fenecido completamente. A alusão que temos ao «trono de Satanás», mui

provavelmente, diz respeito a esse culto (ver Ap 2:13). Satanás impulsionava homens a

adorarem um mero homem; esse era o seu «ardil», naqueles tempos.

Política e economicamente a cidade florescia, tendo sido chamada por Plínio de «a mais

ilustre de todas as cidades da Ásia». Todas as principais estradas da Ásia ocidental

convergiam para ali. Fabricava unguentos, vasos e pergaminho (que assumiu seu nome

dessa cidade). Esse tipo de «papel» (feito de peles de animais) chegou a ser chamado

«charta pergamena», por ser fabricado em Pérgamo, de onde era distribuído. Não foi a

cidade que derivou seu nome desse tipo de papel; deu-se exatamente o contrário.

Em 29 A.C. foi dedicado um templo a Augusto em Roma, por parte do sínodo provincial

(ver Tácito, Anais iv.37), e isso «oficializou» o culto ao imperador em Pérgamo, — que

naquele tempo, era a principal cidade da província da «Ásia». Um segundo templo foi ali

edificado, em honra a Trajano, e ainda um terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a

adoração religiosa pagã ali se centralizou e consolidou. Por detrás da cidade havia uma

colina em forma cônica, com cerca de trezentos metros de altura, a qual, desde tempos

antigos, vivia recoberta de templos e altares pagãos, o que fazia significativo contraste

com o «monte de Deus», referido em Is 14:13 e Ez 28:14,16. Este último foi chamado

também de «trono de Deus» (ver I Enoque 25:3). O culto ao imperador criou ali um «trono

de Satanás», talvez havendo nisso alusão à colina acima descrita. O grande e idólatra

culto ao imperador incorporava em si mesmo todo o paganismo que tornou Pérgamo

famosa, embora não houvesse eliminado totalmente todas as outras formas. E a igreja

cristã, que se recusava a participar desse «culto», automaticamente foi tachada de

«traidora», tendo de sofrer as consequências de sua recusa.

Hoje em dia não resta mais glória à antiquíssima cidade. Uma pequena aldeia, de nome

Bergama, ocupa o seu lugar, na planície abaixo do local da antiga Pérgamo.

A Igreja em Pérgamo

A paganização da igreja de Pérgamo (historicamente, nos fins do primeiro século, e no

segundo e terceiro séculos, especialmente mediante o gnosticismo libertino, e,

profeticamente, na época de Constantino, quando a igreja ficou sob o favor imperial)

exigiu que a mesma recebesse um severo julgamento. Isso salienta-o «imperativo moral»

do evangelho. A santificação é necessária à «salvação» (ver II Ts 2:13), e não meramente

para a «comunhão com o Senhor». É falso o evangelho que não envolve exigências morais,

ou que as subestima.

«Nessa igreja de Pérgamo, muita coisa havia que precisava de cirurgia moral. Era mister

alguma amputação e execução morais, para que tudo fosse corrigido — a separação de

coisas que não se harmonizavam entre si, bem como a destruição de males que se tinham

instaurado e estavam atuando de forma desfavorável... A exibição do cutelo prefigurava a

separação e a dissecação morais, no que não se poderia poupar qualquer erro, devendo

morrer tudo quanto fosse estranho e prejudicial à igreja... Uma das razões por que tantas

pessoas evitam e odeiam à verdade de Deus é que ela os fere, despertando os açoites da

consciência e destruindo totalmente as suas esperanças. E essa forma de ferimento agora

descera sobre aquela igreja». (Seiss, em Ap 2:12).

TIATIRA

No grego, Thuateíra. Tiatira ficava cerca de trinta e dois quilômetros a suleste de Pérgamo,

em uma estrada na planície aluvial entre os rios Hermo e Caico. Tanto nos dias da

liderança de Pérgamo sobre a Ásia Menor, como posteriormente, quando a política

internacional atraiu os romanos para a grande península, essa cidade derivava sua

riqueza e influência do fato de que era um ponto central de comunicações. Essa cidade foi

fundada por Seleuco I, um dos generais de Alexandre, o Grande. Foi Seleuco I quem, de

todos os seus herdeiros, herdou o território mais extenso. O reino de Seleuco ia desde

além de Antioquia da Síria até o vale do rio Hermo, onde suas fronteiras chegavam bem

perto das de Lisímaco, o qual mantinha nas mãos parte do antigo litoral jônico da Ásia

Menor. Seleuco implantou ali um grupo de veteranos desmobilizados de Alexandre. Esses

macedônios deveriam formar uma barreira contra todas as tentativas de perturbar as

suas fronteiras.

Em 282 A.C., rebelou-se Filetero, e foi fundado o dinâmico estado de Pérgamo, destinado a

perdurar por um século e meio. O novo estado era uma área tampão entre Seleuco e

Lisímaco. Porém, um estado fundado sob tais circunstâncias não podia ser militarmente

alerta; e Tiatira, um posto avançado na estrada para o oriente, impedia qualquer agressão

possível que partisse do leste. A história do lugar, alinhavada, precariamente, com base

em ruínas e moedas, sugere que Tiatira, em suas sempre flutuantes fronteiras, com

frequência, mudava de mãos, ao sabor da sorte nas armas das forças sírias ou de

Pérgamo, que faziam avançar ou recuar as fronteiras.

Tiatira, tendo de desempenhar permanentemente esse inevitável papel de posto militar

avançado, não contava com uma acrópole poderosa, como se dava com Sardes e com

Pérgamo. A cidade ficava em uma pequena colina. E só era valiosa, estrategicamente

falando, porque uma confiante força de defesa, ali postada, era capaz de quebrar o ímpeto

de qualquer assalto hostil, enquanto que uma defesa mais decisiva era organizada mais

atrás. Esse dever militar impunha sobre aquela vulnerável cidade um estado de

prontidão. Seus habitantes sabiam enfrentar o perigo e lutar, sem dependerem de

qualquer defesa natural, mas contando exclusivamente com a sua coragem pessoal. A

religiosidade refletia ali essa atitude de dever. Os soldados macedônios que a princípio

foram ali estabelecidos, adotaram a adoração a um certo herói local, que lhes servia de

patrono, e que aparece nas primeiras moedas cunhadas ali, representando um guerreiro

montado, armado de machado de guerra. E isso talvez explique o simbolismo do Cristo

ressurreto, na carta apocalíptica de João.

As tropas romanas apareceram com toda a sua força na Ásia Menor, após terem derrotado

a sírio Antíoco, em 189 A.C., quando então a região passou, permanentemente, para o

controle romano, quando o último dos monarcas de Pérgamo, intuindo os rumos da

história futura, doou o seu reino à nascente república, em 133 A.C. Juntamente com a

tranquilidade da «paz romana», houve a aceitação da cidadania romana. Sob o imperador

Cláudio, Tiatira começou a cunhar novamente as suas próprias moedas, após um lapso

de nada menos de dois séculos. A abundância dessas moedas cunhadas em Tiatira, que

continuaram sendo produzidas até o século III D.C., sugere um vigoroso comércio. A

primeira pessoa a se converter a Cristo, sob o ministério de Paulo, foi Lídia, uma mulher

de Tiatira, que vendia panos de púrpura em Filipos, a centenas de quilômetros longe de

sua terra natal. A tinta púrpura ou carmesim, dos tecidos vendidos por Lídia, era uma

manufatura local, extraída das raízes da planta chamada garança, um rival mais barato

que o corante fenício, extraído de um molusco, o murex.

A prosperidade comercial atraiu uma minoria judaica respeitável para Tiatira, pois os

judeus, antes dedicados às atividades agrícolas, começaram a se interessar pelo mundo

dos negócios e do comércio, no exílio. De fato, esse tipo de atividade haveria de tornar-se

uma das marcas registradas dos filhos de Israel, na dispersão. Famosos artigos de

exportação, de Tiatira, eram tecidos e vestes tingidos, além de armaduras de bronze. Uma

moeda de Tiatira exibe Hefesto, o ferreiro divino, a moldar um capacete na bigorna. E a

palavra grega chalcolibanos, «bronze polido» em nossa versão portuguesa (ver Ap 1:15 e

2:18), pode ter sido um nome comercial próprio de Tiatira, usado para emprestar certo

colorido local à carta do Senhor Jesus à igreja cristã ali localizada. Realmente, é possível

que as atividades comerciais fossem a questão crucial dos problemas dos cristãos da

cidade. Não têm sido encontradas inscrições em grande quantidade, mas as poucas que

ali têm sido descobertas falam em trabalhadores em lã, linho, couro e bronze, além de

oleiros, padeiros, tintureiros e comerciantes com escravos. Cada um dos grupos

profissionais contava com a sua guilda particular, como a dos ourives de Éfeso.

As epístolas de Paulo aos crentes de Corinto servem de clara indicação de que as guildas

comerciais, com sua exigente vida social, com seus ritos pagãos e com suas festas

periódicas, haveriam de ser problemas sérios para os cristãos fiéis que, por motivo de

consciência, quisessem repelir a licenciosidade do mundo ao redor deles.

Era difícil alguém se abster das festividades das guildas sem perder alguma coisa no

mundo dos negócios, em termos de aceitação e prestígio social. Por outro lado, ajustar-se

a tais costumes era expor-se à licenciosidade dos ritos pagãos, que assinalavam os

banquetes das guildas. Aquela seção da Igreja cristã, com ritos de sua pureza, buscava

alguma forma de transigência. Estamos falando sobre os nicoláitas. Parecem ter sido

liderados por uma habilidosa mulher, a quem João apodou de Jezabel. Esse apelido foi

escolhido deliberadamente, com base no casamento de Acabe, rei de Israel, com Jezabel,

filha do rei de Tiro. Esse casamento fora um compromisso, com o intuito de fomentar o

comércio entre Samaria e os fenícios. Tal matrimônio foi um grande desastre, conforme

Elias demonstrou. João, autor do Apocalipse, denunciou essa mulher, proferindo contra

ela uma horrível condenação: «Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação

os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os

seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações

e vos darei a cada um, segundo as vossas obras» (Ap 2:22,23).

Uma inscrição encontrada por Ramsay, em Tiatira, mostra que ali, nos festejos públicos, as

mulheres eram segregadas dos homens. Portanto, que as vítimas daquela pervertida

mulher a abandonassem, deixando-a cair na condenação que inevitavelmente lhe

sobreviria.

Essa forma de heresia estava destinada a tornar-se generalizada na Igreja antiga,

conforme a última carta de João, III João, o demonstra. Talvez esse tipo de heresia tivesse

começado em Tiatira. E a exortação da carta do Senhor Jesus aos crentes de Tiatira,

conclui como segue: «Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos

não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as cousas profundas de

Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente conservai o que tendes, até que

eu venha» (Ap 2:24,25).

O simbolismo existente nessa carta a Tiatira é local e muito chama à atenção. Em

Apocalipse 2:18, Cristo aparece como quem tinha «os pés semelhantes ao bronze polido».

Ora, o bronze era um dos produtos mais conhecidos de Tiatira. A promessa de Cristo, nos

versículos 26 e 27, também reflete a natureza militar dessa cidade. Jezabel é uma

personagem extremamente simbólica, desde o Antigo Testamento, falando em transigência

e apostasia, por amor ao comércio, devido a sociedade firmada com um poder pagão.

SARDES

No grego, Sárdeis. Aparece somente no Novo Testamento: Ap 1:11; 3:1,4. Era uma das

cidades para cuja Igreja cristã o Senhor Jesus enviou uma carta, dentro da revelação

dada a João. A cidade de Sardes ficava na junção das principais estradas que ligavam

Éfeso, Esmirna e Pérgamo com o platô montanhoso do interior da Ásia Menor. A Lídia, da

qual Sardes era a antiga capital e sede real, ficava bem no meio da rota de comunicações

entre a costa do mar Egeu e o interior do continente. Em consequência, era uma área

onde as culturas grega e nativa mesclaram-se de forma criativa. Nos dias de Croeso, cujo

nome tornou-se legendário como indicação de riqueza e prosperidade, bem como do

infortúnio que, da maneira mais chocante, ocasionalmente sobrevêm aos ricos e

afortunados, Sardes tornara-se famosa devido às suas riquezas. Moedas de ouro e de

prata foram cunhadas ali pela primeira vez; e o rio Pactolo tornou-se famoso devido ao

seu ouro de aluvião, bem perto da cidade.

A própria topografia do lugar contribuía para sua grandeza. Em um dos elevados

promontórios da região, uma extensão do monte Tmolo, dominando o vale plano do rio

Hermo, ficava a fortaleza de Sardes, em posição quase inexpugnável. À semelhança da

mais antiga Tróia, Sardes era uma cidadela e um lugar de refúgio, residência de reis e

cortesãos. Tornou-se localidade importante desde o começo do reino lídio, no século XIII

A.C.

Na época de Croeso, na idade áurea de Sardes, o poder lídio chegava até às costas do mar

Egeu e até às cidades dos gregos jônicos: Esmirna, Éfeso e as demais. O historiador

Heródoto dizia que o poder e as riquezas provocam a arrogância, e que a arrogância

termina em ruína. Até parece que ele conhecia Provérbios 11:28: «Quem confia nas suas

riquezas cairá...» Croeso via com apreensão o levantamento do poder persa, que mais e

mais se aproximava de Lídia. Uma de suas precauções foi consultar o oráculo de Delfos,

que, com a costumeira ambiguidade, respondeu: «Se cruzares o rio Halis, destruirás um

grande império». Foi o bastante para ele cruzar sua fronteira, a fim de combater os persas.

E um grande império foi destruído—o de Croeso!

Posteriormente, Alexandre, o Grande, destruiu o império persa, e Sardes foi passando de

mão em mão, sob sucessivos regimes. Primeiramente ficou com Antígono; depois, com os

Selêucidas da Síria; e, finalmente, com Pérgamo.

Em 133 A.C. chegaram os romanos, quando Átalo III, cônscio de que os romanos eram os

donos do mundo de então, entregou seu reino à república romana. Então Sardes tornou-

se um dos centros administrativos da Ásia romana. Quando, em 26 D.C., as cidades da

província contenderam pela honra de edificar um segundo templo para cultuar ao

imperador, os enviados falaram com eloquência acerca do passado de glória da cidade.

Conforme a carta do Apocalipse diz: «...tens nome de que vives, e estás morto...» (Ap 3:1).

Ao que parece, os cristãos que ali havia, na época da visão dada a João, tinham cedido à

complacência própria do lugar. Apenas alguns poucos não haviam contaminado «as suas

vestiduras», sendo dignas de andar de branco com o Senhor. Evidentemente, muitos deles

tinham transigido com a adoração a Cibele, aquele horrendo culto de histeria e mutilação,

de que falam os antigos historiadores. Algumas inscrições cristãs têm sido encontradas

em Sardes, embora coisa alguma se saiba a respeito das origens e do fim da comunidade

cristã do lugar. Ultimamente, têm estado a trabalhar em pesquisas arqueológicas equipes

das Universidades de Harvard e Cornell. O templo de Ártemis, cuja adoração acabou

absorvendo a de Cibele, naquela cidade, foi descoberto, juntamente com alguma evidência

de que tal templo fora transformado em igreja cristã.

ESMIRNA

No local ocupado por Esmirna, desde tempos remotos, havia uma cidade. Os gregos a

colonizaram em tempos recuados, tendo exercido a hegemonia sobre a região por longo

tempo. Foi destruída uma antiga cidade, ali existente, no princípio do século VI A.C. Foi

fundada uma nova cidade por Lisímaco (301—281 A.C.). Desse tempo em diante, tornou-

se uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor. Esmirna foi aliada fiel de Roma, desde

os tempos quando os romanos começaram a intervir nos negócios do Oriente Próximo, e

muito antes de ter-se estabelecido como um império mundial. Em 195 A.C. (de acordo

com Tácito, Anais iv.56), foi ali erigido um templo, em honra à deusa de Roma. Sua

grandiosidade comercial se devia ao fato de que jazia no fim de uma das grandes estradas

que atravessavam a Lídia para o leste, partindo da Frigia, servindo também de escoadouro

marítimo para a inteira área comercial do vale do rio Hermo. Competia com Éfeso e

Pérgamo pelo título de «Primeira (cidade) da Ásia». Em 26 D.C., foi-lhe permitido erigir um

templo dedicado a Tibério, Lívia e o senado romano. Por causa desse privilégio, pôde

reivindicar o direito ao Neocorato Imperial. E um segundo Neocorato lhe foi dado por

Adriano, e ainda um terceiro, por Severo. Sua aliança apertada com Roma, tornou-a um

forte centro de culto ao imperador, a adoração obrigatória ao imperador romano. Isso

deixou os cristãos dali em circunstâncias desesperadoras, e a perseguição e a morte

foram resultados apenas naturais para eles.

Esmirna foi a terra da fábula de Dionísio, um deus que supostamente fora assassinado,

mas que ressuscitara. Era o local da celebração dos jogos olímpicos, e contava com um

dos maiores anfiteatros de toda a Ásia, ruínas do qual existem até hoje. Atualmente, a

cidade que ocupa o local antigo se chama Izmir, é a maior cidade da Turquia Asiática.

O nome dessa cidade significa mirra, substância extraída de uma planta, por

esmagamento. — Era usada no fabrico de perfumes, mas também para

embalsamamentos. Esses fatos ilustram as condições que existiam na comunidade cristã

dali, quando o livro de Apocalipse foi escrito. Os crentes dali foram literalmente

esmagados, tornando-se um perfume de suave cheiro a Deus; mas, embora esmagados

até à morte, foram preservados em espírito, de modo a poderem viver de novo.

Esse nome vem do grego smúrna, «mirra». A cidade de Esmirna está situada no fundo do

golfo no qual flui o rio Hermus. Essa cidade é um porto bem protegido, bem como a saída

natural para o mar, das principais rotas comerciais que se internam na região, ao longo

do vale do rio Hermus. É possível que os primeiros povoadores da região tenham sido

gregos eólios, uma comunidade que veio a ser dominada pelos gregos jônicos, que ali

chegaram mais tarde e que eram militarmente mais poderosos. Contudo, os fatos

históricos são poucos e obscuros, quando retrocedemos até o primeiro milênio A.C.,

quando foram fundados aqueles povoados às margens do mar Egeu.

Quando a história torna-se melhor delineada, após esse período inicial, assinalado pelas

invasões dos povos dóricos, que foi a última onda de tribos helênicas que se infiltrou no

mundo miceno, Esmirna já aparece como uma robusta comunidade, preparada para

impor-se contra o poderoso reino vizinho da Lídia. Em poemas antigos aprendemos que

houve conflitos e tensões entre as cidades de Esmirna e de Sardis. Parece que Esmirna foi

destruída em 600 A.C., por Aliates, da Lídia; e o local ficou devastado pelo espaço de três

séculos. Foi dentre as cinzas que a cidade ressurgiu, o que talvez explique a frase que

achamos na carta apocalíptica de Apocalipse 2:8: «Estas cousas diz o primeiro e o último,

que esteve morto e tornou a viver». É evidente que a alusão primária é à morte e à

ressurreição de Cristo, mas alguns estudiosos pensam que também há uma referência ao

ressurgimento da cidade de Esmirna. Lisímaco, que governou a Trácia e a porção noroeste

da Ásia Menor, após a divisão do império de Alexandre, reconstruiu Esmirna, em 290 A.C.

E assim Esmirna tornou-se novamente uma cidade grega; e, graças à sua boa localização,

entrou em uma era de vitalidade e prosperidade, que até hoje tem prosseguimento. A

moderna cidade turca de Izmir é uma das mais fortes comunidades urbanas da Turquia

moderna. Esse progresso foi fomentado porque seus habitantes tiveram a intuição de

reconhecer o domínio de Roma sobre toda a região da Ásia Menor. Isso ocorreu em uma

época em que Antíoco, o Grande, da Síria (241—187 A.C.) pressionava para oeste,

querendo consolidar suas fronteiras. Mas os romanos, conscientes das ambições de

Antíoco, avançavam na direção leste. Ora, Esmirna era uma excelente cabeça de ponte em

uma grande península, que Roma vinha considerando cada vez mais uma região tampão.

Além disso, Esmirna servia de fortim romano contra a força marítima de Rodes, o que

significava assegurar o domínio romano sobre a porção oriental do mar Mediterrâneo.

Um dos fatos significantes da importância de Esmirna, dentro do império romano, é que

ela foi escolhida para tornar-se o local do segundo templo asiático dedicado à divindade

de Roma e do imperador, bem como a sede do sinistro culto ao imperador, que tanto

sofrimento haveria de causar aos cristãos, dentro de alguns séculos. Em Esmirna, como

em outros lugares do império, a política imperial de supressão foi efetuada

esporadicamente, e Domiciano, sem dúvida, foi a causa dessa explosão perseguidora, com

a ajuda de uma hostil sinagoga judaica, contra cujas maquinações João teve uma palavra

zombeteira a dizer, em Apocalipse 2:9: «Conheço a tua tribulação, a tua pobreza, mas tu

és rico, e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes

sinagoga de Satanás».

Esmirna vinha adorando ao espírito de Roma desde 195 A.C. E o templo construído por

Tibério aumentou ainda mais o orgulho que ela tinha em seu papel histórico. Portanto, a

exortação para que os crentes de Esmirna suportassem tudo e recebessem «a coroa da

vida», talvez tenha tido como pano de fundo um diadema de pórticos que circundava o

alto de sua colina, que foi descrita por Apolônio de Tiana (1—96 D.C.?). De fato, esse

diadema tornou-se tão famoso que «a coroa de Esmirna» passou a ser reconhecida como

uma imagem de retórica, conforme se vê nos escritos de dois escritores da época.

Precisamos ainda mencionar Policarpo, um dos discípulos do apóstolo João e bispo mártir

de Esmirna, — que faleceu em 155 D.C. Esse crente, pois, serviu de elo de ligação entre a

era apostólica e os meados do século II D.C.

Não se sabe como o cristianismo chegou a Esmirna. Provavelmente, ocorreu como

resultado das atividades de Paulo em Éfeso. Depois, João passou muitos e muitos anos

nesta cidade. Com base na epístola apocalíptica de Ap 2:8-11, parece que os cristãos de

Esmirna caminhavam bem no século I D.C. Na verdade, por ocasião das invasões

armadas islâmicas, Esmirna foi uma das cidades da Ásia Menor que por mais tempo

resistiu aos turcos. Essa resistência de Esmirna permitiu que os remanescentes do

Império Romano do Oriente tivessem tempo para recompor-se do golpe. Na verdade, os

cruzados, que estiveram naquelas regiões, trouxeram conhecimentos que, com o tempo,

produziram a renascença. Sabe-se que a renascença foi uma das causas da Reforma

Protestante, porquanto, durante o renascimento foram reestudados os escritos clássicos

gregos e latinos, incluindo o Novo Testamento grego. A história mesma tem comprovado

que o Senhor Jesus tinha razão para elogiar a igreja cristã de Esmirna, conforme fez

naquele trecho do Apocalipse.

FILADÉLFIA

Esse apelativo significa amor fraternal. No fim da era presente, quando a tribulação

ameaçar o mundo, Deus se dirigirá à humanidade em amor, o que beneficiará a

comunidade daqueles que derem lugar ao amor de Cristo em seus corações, assim

amando-se uns aos outros. Haverá um refúgio que nos abrigará de toda a contenda;

haverá calmaria para as águas agitadas; haverá um oásis no grande deserto espiritual do

fim. Isso se encontrará na comunidade da Igreja do Amor Fraternal, cujo Senhor será o

Cristo.

Filadélfia era uma cidade da província romana da Ásia, na porção ocidental do que agora

é a Turquia Asiática. Ficava localizada a cento e vinte quilômetros a suleste de Sardes.

Nos tempos do N.T., era a segunda cidade mais importante da Lídia. Originalmente, a

cidade foi fundada por Eumenes, rei de Pérgamo, no século II A.C., tendo recebido nome

de seu irmão, Atalo, cuja lealdade lhe ganhara o título de «Filadelfo». Filadélfia jazia perto

do limiar de um trecho fértil da região do planalto, o que lhe dava grande parte de sua

prosperidade. No ano de 17 D.C. a cidade foi destruída por um terremoto; mas uma

doação imperial ajudou em sua restauração. Então adquiriu o nome de Neokaisareia e,

posteriormente, sob o imperador Vespasiano, recebeu o nome imperial, Flávia.

Conforme se dava com a maioria das cidades daquela área, Filadélfia estava imersa na

idolatria e, mais tarde, mergulhou no «culto ao imperador». Era famosa pelo número e

grandiosidade de seus templos e de suas festividades religiosas.

Como é bem conhecido hoje em dia, a área geral onde estavam localizadas as sete igrejas

do Apocalipse, e que recebeu originalmente esse livro, não é mais uma área cristã. Porém,

dentre todas as sete igrejas, a de Filadélfia foi onde o cristianismo sobreviveu por mais

tempo.

A localidade é agora ocupada por uma aldeia turca, Allah Shehr, nome que significa

«Cidade de Deus». No dizer de Vincent (in loc.): «A situação é pitoresca, pois a aldeia ocupa

quatro ou cinco colinas, estando bem suprida de árvores, e o clima é saudável. Acredita-

se que uma das mesquitas ali existentes era o lugar das reuniões da igreja endereçada no

Apocalipse. Uma coluna solitária, de grande antiguidade, com frequência tem sido notada,

lembrando as pessoas sobre as palavras de Ap 3:12: „Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no

santuário do meu Deus...‟».

O geógrafo Estrabão (em 20 D.C.), observou a instabilidade geológica da região onde ficava

essa cidade, porquanto estava sujeita a muitos tremores de terra. No entanto, aquele que

é fiel, dentro da família de Deus, pode tornar-se como uma COLUNA que resiste

firmemente a todos os ataques e problemas. Ver Ap 3:12: «Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no

santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...»

Filadélfia ficava em uma área fronteiriça de cultura, como portão de entrada para a Ásia

Menor. Tinha um estilo cosmopolita de vida, não grego e não romano, ainda que, como é

óbvio, fosse influenciado por ambos. Essa maneira «aberta» e irrestrita de viver pode ter

inspirado o autor do livro de Apocalipse a falar sobre a «porta aberta» oferecida àquela

igreja local, no campo das atividades missionárias. Ver Ap 3:7,8.

Um versículo controvertido é Apocalipse 3:10. Alguns pensam que o mesmo é prova de

que a igreja de Filadélfia (que representaria a Igreja evangélica de nossos próprios dias) é

que será arrebatada, o que seria indicado pela expressão «...também eu te guardarei da

hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro...» Mas isso não precisa indicar

mais do que o fato de que o Senhor protegeria aqueles crentes, em meio à tribulação que

viria. A ideia é que o Senhor haveria de mantê-los na fidelidade ao Senhor. Todavia, penso

que a questão continua aberta à investigação. Não penso que alguém realmente saiba a

interpretação certa, com certeza. Nosso artigo sobre a Parousia presta maiores

informações sobre esse particular.

O nono versículo desse mesmo terceiro capítulo do Apocalipse é uma ácida alusão às

atividades dos judeus perseguidores. Os judeus dali tendiam por ser amargamente

nacionalistas e defensivos, em razão do que ocorriam abusos.

A cidade de Filadélfia teve uma longa história subsequente. No século XIV D.C., quando o

Império Romano do Ocidente perdeu aquelas terras da Ásia Menor, devido às pressões dos

islamitas, uma pequena comunidade cristã, representativa, resistiu em Filadélfia,

demonstrando que eles se tinham tornado colunas inabaláveis (Ap 3:12).

Bibliografia J. M. Bentes

O PRESENTE “As Que São”

Apocalipse 2.1—3.22

No capítulo 1, encontramos “as coisas que tens visto” (1.19) — o passado. No capítulo 2 e 3, são registradas “as que são” — o presente. É melhor entender essa seção como que

descrevendo condições prevalecentes nas sete igrejas da Ásia. Muitos estudiosos encontraram aqui sete períodos sucessivos da história da igreja. J. B.

Smith apresenta um bom resumo dessa interpretação. Éfeso retrata “o declínio primitivo do cristianismo vital no término do primeiro século”, a perda do seu primeiro amor.

Esmirna descreve o período da perseguição, nos segundo e terceiro séculos. Pérgamo re-presenta “a união de igreja e estado sob o império de Constantino” (quarto século) com sua consequente corrupção eclesiástica e moral. Tiatira descreve “o domínio da hierarquia

romana”, do quinto ao décimo quinto séculos. Sardes aponta para “os dias da Reforma”, no décimo sexto século, em que “algumas pessoas [...] não contaminaram suas vestes”

(3.4). Filadélfia fala de “um período de ortodoxia e evangelização por líderes tais como Wesley e Whitefield [século décimo oitavo], quando todas as nações do mundo estavam de

„portas abertas‟ para receber o Evangelho”. Laodicéia mostra “a apostasia do final dos tempos numa linguagem muito parecida com a que foi apresentada por Jesus e os

apóstolos Paulo, Tiago, Pedro, João e Judas, acerca dos últimos dias”. Essa apostasia

começou com a alta crítica germânica da Bíblia no décimo nono século e alcançou o

estágio alarmante representado pela posição da “morte de Deus” reivindicada por teólogos em 1965.

Inquestionavelmente, há uma coincidência marcante entre as sete cartas e a sequência dos períodos sugeridos. Mas provavelmente é mais correto afirmar que todas as cartas

reunidas constituem um quadro geral das condições não só nas sete igrejas da Ásia no fim do primeiro século, mas também em toda a trajetória do cristianismo durante toda a era da Igreja. Com isso não estamos negando que certas características descritas nessas

mensagens eram mais dominantes em um período do que em outro.

As cartas apresentam uma estrutura bastante equilibrada. Smith sugere uma divisão em sete partes para cada igreja:

1) Proclamação; 2) Apresentação;

3) Declaração; 4) Aprovação; 5) Censura;

6) Exortação; 7) Recompensa.

Nós adotamos um esboço semelhante.

Duas das igrejas, Esmirna e Filadélfia, não recebem uma palavra de desaprovação a respeito delas. Do lado oposto está Laodicéia, com nenhuma palavra de aprovação. Kiddle observa: Duas igrejas, a primeira e a última, são ameaçadas com a extinção completa,

uma vez que cada uma carece de qualidades essenciais para a confissão da fé cristã. Louvor inadequado é dado à segunda e sexta igrejas. As três igrejas centrais são elogiadas

e castigadas em diferentes graus, porque em cada uma delas existe uma mistura de elementos bons e maus; os fiéis recebem a promessa de recompensas e os infiéis são ameaçados com os mais severos castigos”. Assim, parece haver um plano propositado

elaborado ao apresentar essas sete igrejas como representantes das condições existentes em todas as igrejas.

CARTA À IGREJA DE ÉFESO, 2.1-7

1. Destino (2.1 a) A primeira carta foi escrita ao anjo (João é informado de que as sete estrelas representam os anjos

das sete igrejas. Uma vez que a palavra grega angelos significa “mensageiro” e é claramente usada para

mensageiros humanos em Lucas 7.24; 9.52 e Tiago 2.25, muitos acreditam que a referência aqui seja aos

mensageiros que seriam enviados com as cartas às sete igrejas — talvez delegados que vieram daqueles lugares para visitar João — ou mais simplesmente, os “pastores” das igrejas. Essa ideia é contestada, visto que nas mais de 60 vezes que a palavra angelos é usada nesse livro dissociada da conexão com as igrejas,

ela sempre se refere a seres sobre-humanos. Swete conclui: “Há, portanto, uma forte conjectura de que os angeloi ton ecclesion são „anjos‟ no sentido que a palavra tem em outras partes do livro”. Charles concorda

plenamente. Swete também não concorda em identificá-los como “anjos guardiões” das igrejas. Ele

finalmente chega a uma conclusão: “Consequentemente, a única interpretação que sobra é a que entende que esses anjos são duplicatas ou contrapartes celestiais das sete Igrejas, que, assim, vêm a ser

identificadas com as próprias Igrejas”. Provavelmente, mais aceitável é o ponto de vista de Erdman de que

“anjo” é “o espírito predominante” na igreja, “uma personificação do caráter, temperamento e conduta da

igreja”. - Parece que um ponto de vista melhor formulado é o de Alfred Plummer. Ele escreve: “A

identificação do anjo de cada igreja com a própria Igreja é mostrada de uma maneira marcante pelo fato de,

embora cada epístola ser dirigida ao anjo, ainda assim, a estrofe recorrente seja: “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, não “aos anjos das igrejas”. O anjo e a Igreja são os mesmos sob diferentes aspectos: um no seu

caráter espiritual personificado; o outro, na congregação dos crentes que coletivamente possuem esse

caráter. - Mas nos perguntamos se essa interpretação deixa espaço adequado para a distinção entre as

estrelas e os castiçais. Este comentarista é relutante em desistir da visão popular de que os anjos são os pastores das igrejas — um pensamento grandemente confortador: eles são guardados nas próprias mãos de

Cristo.) da igreja que está em Éfeso. Essa era a cidade principal da província da Ásia, do

lado oeste da Ásia Menor. Na época em que João a escreveu, essa cidade era um grande porto, situado perto da boca do rio Caister. Caravanas nas estradas romanas do norte, leste e sul convergiam aqui, para deixar suas cargas em navios que velejavam para o oeste

em direção a Corinto ou mesmo até a Itália. Éfeso era uma metrópole agitada. Essa cidade era a porta de entrada da Ásia. O pro cônsul precisava desembarcar aqui quando iniciava

o seu ofício como governador da Ásia. Ao mesmo tempo, ela era a estrada principal para Roma. No início do segundo século, quando os cristãos estavam sendo enviados por navio para Roma para alimentar os leões, Inácio chamou Éfeso de a Rota dos Mártires.

Politicamente, Éfeso era uma cidade livre. Isso significava que ela desfrutava de uma medida considerável de autonomia autônomo. Nessa cidade também ocorriam os famosos

jogos anuais.

Na área da religião, Éfeso era o centro de adoração de Ártemis. Seu templo era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Éfeso era chamada de “A Luz da Ásia”. Contudo, ela era uma cidade pagã, repleta de trevas da superstição pagã. Swete escreve: “A cidade era um

canteiro de rituais e superstições, um local de encontro do ocidente e do oriente, onde gregos, romanos e asiáticos se acotovelavam nas ruas”.

Por causa da sua importância estratégica, Paulo havia passado mais tempo aqui (perto de três anos, At 20.31) do que em qualquer outro lugar nas suas três viagens missionárias.

Ele fez muitos convertidos, tanto judeus quanto gentios (At 19.10) e construiu uma igreja forte. Nos anos 60 d.C., Timóteo foi colocado lá (1 Tm 1.3). A tradição da Igreja Primitiva afirma que João passou os últimos anos da sua vida nesse terceiro grande centro do

cristianismo (depois de Jerusalém e Antioquia).

Hoje essa metrópole poderosa do passado é um monte de ruínas. O rio Caister encheu o porto com lodo, de maneira que a cidade é somente um pântano de juncos. O mar fica a cerca de dez quilômetros de distância.

Há três razões lógicas para João escrever primeiro para a igreja de Éfeso. a) Ela era a

principal igreja na Ásia e estava situada na principal cidade da província, b) Ela era a cidade mais próxima de Patmos, a cerca de 100 quilômetros. Ela seria a primeira cidade a ser alcançada pelo mensageiro que levava essas cartas, c) Ela era a igreja-mãe de João.

Nesse domingo pela manhã, o idoso apóstolo estava indubitavelmente pensando acerca das necessidades e problemas dessa igreja, bem como das outras seis igrejas que podem

ter estado sob a sua jurisdição. 2. Autor (2.16)

O Autor divino dessas sete cartas é Jesus Cristo. No início de cada epístola, após a

saudação, Ele é descrito de uma maneira singular e que se ajusta à mensagem dessa carta. Cada vez o Autor é apresentado com as palavras: Isto diz. Então segue a descrição do Senhor glorificado. Swete diz o seguinte a respeito dessa fórmula introdutória: “Ela é

seguida em cada caso por uma descrição de um Locutor, em que Ele é caracterizado por um ou mais dos aspectos da visão do capítulo 1 [...] ou por um ou mais dos seus títulos

[...] os aspectos ou títulos escolhidos parecem corresponder com as circunstâncias da igreja a que a carta está sendo dirigida”. Mas, ele também observa: “Para a Igreja de Éfeso,

a mãe das igrejas da Ásia, o Senhor escreve debaixo de títulos que expressam sua relação

com as igrejas em geral”.

Nesse versículo, Ele é descrito da seguinte maneira: aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro. Isso nos leva de volta à descrição de Cristo em 1.12-20. Embora os castiçais (candelabros) sejam claramente

identificados por Jesus como que simbolizando as igrejas, a interpretação das estrelas como “anjos” é explicada de maneira variada (veja comentários azul acima). Devemos confessar que temos uma forte afinidade com o ponto de vista apresentado por

Richardson. Depois de identificar os “anjos” como mensageiros e sete como que signifi-cando “totalidade”, ele diz: “Todos os verdadeiros ministros de todas as igrejas estão nas

mãos de Cristo [...] À medida que Cristo se move no meio das igrejas, Ele segura os ministros nas suas mãos”. Se essa interpretação pode ser aceita, ela fornece grande consolo ao pastor sobrecarregado.

3. Aprovação (2.2-3, 6)

Deus nunca está desatento ao que fazemos por Ele. Jesus diz à igreja de Éfeso: Eu sei (2). Sempre é um conforto lembrar que nosso Senhor nos conhece corretamente.

A igreja de Éfeso é primeiramente elogiada por suas obras. Encontramos isso novamente

em 2.19; 3.1,8,15. Trabalho (kopos) é um termo forte. Barclay diz que ele descreve “trabalho até suar; trabalho até ficar exausto; o tipo de labuta que suga toda a energia e mente que um homem possui”.

Paciência dificilmente é uma tradução adequada para a palavra grega aqui, que significa

“persistência imperturbável”. Barclay comenta: “Hupomone não é a paciência inflexível que resignadamente aceita as coisas, e que curva sua cabeça quando preocupações aparecem. Hupomone é a bravura corajosa que aceita sofrimento, privação e perda e os

transforma em graça e glória”.

Smith faz uma observação interessante acerca desses três termos usados aqui. Ele escreve: “Fé, esperança e amor lamentavelmente estão faltando aqui. Contraste essa igreja com a de Tessalonicenses: Éfeso tinha obras, mas não obras de fé; trabalho, mas não

trabalho de amor; paciência, mas não paciência de amor” (1 Ts 1.3). Ele então torna essa declaração significativa: “Não é demais dizer que uma igreja pode ter todas essas virtudes

mencionadas e mesmo assim estar destituída de vida espiritual”. Poderíamos acrescentar o seguinte: e o mesmo vale para cada indivíduo.

A igreja de Éfeso não era apenas diligente, mas também cautelosa em termos de disciplina: ela não podia sofrer (“suportar”, ARA; “tolerar”, NVI) os maus. Diferentemente

de Corinto, ela não tolerava o pecado dentro da igreja. Ela havia colocado à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e os havia achado mentirosos. A íntima conexão dessas cláusulas sugere que os maus devem ser identificados com os falsos apóstolos.

Swete explica quem eram essas pessoas: “Os falsos mestres afirmavam ser apostoloi num sentido mais amplo, mestres itinerantes com uma missão que os colocava num nível mais

elevado do que os anciãos locais” (cf. 1 Co 12.28; Ef 4.11).

Esses apóstolos itinerantes se tornaram um verdadeiro problema na Igreja Primitiva.

Evidentemente, era requerido que levassem “cartas de recomendação” de alguma igreja estabelecida (2 Co 3.1). Em sua primeira epístola, João adverte: “provai [testai] se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 Jo

4.1). O Didaquê, escrita em meados do segundo século, relata como esses itinerantes deveriam ser testados: “E cada apóstolo que vem a vocês, que seja recebido como o Se-

nhor; mas ele não deverá permanecer mais do que um dia; se, no entanto, for necessário,

que fique mais um dia; mas se permanecer três dias, ele é falso profeta”. Em outras palavras, ele não deve se aproveitar da hospitalidade da igreja.

No melhor manuscrito grego, tens paciência (3) vem antes de sofreste, que está conectado com pelo meu nome; ou seja: “Vocês têm pacientemente sofrido por causa do

meu nome”. E trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste no grego significa sim-plesmente: “e vocês não têm desfalecido”. Os cristãos de Éfeso eram obreiros incansáveis.

Acerca da descrição da igreja em Éfeso, Ramsay escreve: “O melhor comentário disso é encontrado na carta de Inácio aos Efésios [...] As características que ele elogia na Igreja de

Éfeso são as mesmas que São João menciona [...] „Devo ser treinado para a disputa convosco na fé, na admoestação, na perseverança e na longanimidade‟ (v. 3): „porque todos vós viveis de acordo com a verdade e nenhuma heresia tem se alojado no meio de

vós‟ (v. 6)”.

A igreja em Éfeso é também aprovada porque aborrece as obras dos nicolaítas (6). Não se sabe ao certo quem eram essas pessoas (Eles são mencionados novamente no v. 15). Irineu (cerca de 180 d.C.) diz que eles foram estabelecidos por Nicolau de Antioquia,

mencionado em Atos 6.5. Mas Clemente de Alexandria questiona isso. Depois de discutir as várias teorias, Swete conclui: “Como um todo parece melhor aceitar a suposição de que um partido levando esse nome existia na Ásia quando o Apocalipse foi escrito, quer

devesse sua origem a Nicolau de Antioquia, que não é improvável [...] ou a algum outro falso mestre com esse nome”.

Na expressão as quais eu também aborreço, Swete faz esta observação pertinente: “Aborrecer obras más [...] é uma verdadeira contrapartida do amor ao bem e ambos são

divinos”.

4. Censura (2.4)

O grande Cabeça da Igreja viu apenas uma coisa errada na congregação em Éfeso.

Embora essa congregação fosse ortodoxa, perseverante e zelosa, ela carecia do amor. Sem isso, tudo o mais era em vão.

A tradução da KJV minimiza a seriedade da acusação ao inserir em itálico a palavra somewhat (depois substituída por something, que quer dizer “algo” ou “alguma coisa”).

Isso distorce a afirmação do original. O grego diz: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (cf. ARA). Isso não era um insignificante “alguma

coisa”. O texto seguinte mostra que a situação era uma completa tragédia, requerendo um remédio drástico.

Muitas vezes é dito que a igreja de Éfeso tinha “perdido” seu primeiro amor. Mas, não é isso que o texto diz. Lemos: que deixaste [o teu primeiro amor], O verbo é aphiemi, que

significa “deixar ir, mandar embora, desistir, abandonar”. Tudo isso sugere uma negligência voluntária. E por isso que se exigiu o arrependimento. Pecados de omissão podem ser tão fatais em suas consequências quanto que pecados de ação.

O que era essa primeira caridade que a igreja de Éfeso havia deixado? Quase todos os

comentaristas concordam que a palavra primeira precisa ser interpretada cro-nologicamente: esse era o amor da igreja primitiva em Éfeso, especialmente durante os dias do ministério de Paulo ali (cf. At 19.20; 20.37). A tentativa de alguns de interpretá-la

qualitativamente como que significando “amor de primeira classe” não parece encontrar

apoio adequado na palavra grega usada aqui. É verdade que ela pode significar

“principal” ou “superior”. Mas a ideia é de prioridade e não de qualidade.

O termo caridade (ou “amor”) é interpretado pela maioria como significando “amor fraternal”. Os Pais gregos da Igreja Primitiva acreditavam que a referência era à falta de cuidado pelos irmãos pobres. Outros associam essa passagem a Jeremias 2.2, em que

Deus acusa Israel de ter esquecido “do teu amor quando noiva”. Isto é, os Efésios haviam deixado o seu amor por Cristo. A melhor proposta é a posição inclusiva de Charles R. Erdman: “Esse era o amor por Cristo e o amor pelos companheiros cristãos. Os dois

aspectos são inseparáveis”.

Inevitavelmente aparece uma pergunta: Porventura, o zelo da igreja de Éfeso na sua defesa pela ortodoxia contribuiu para a perda do amor? Isso é bem provável. Ao defender a verdade e disciplinar membros instáveis, é fácil desenvolver um espírito severo e crítico

que acaba destruindo o amor. E, com frequência, quando o calor do amor divino desaparece, as pessoas tornam-se mais zelosas na luta por doutrinas e padrões

ortodoxos. Esse é um perigo contra o qual todos devem vigiar. 5. Exortação (2.5)

O primeiro passo de volta para Deus é: Lembra-te (5). Lembra-te dos dias passados de

bênção espiritual. Essa igreja tinha caído, não meramente tropeçado. Ela estava abatida. Esse era o caso do filho pródigo, de um modo geral. Mas ele lembrou-se (Lc 15.17) e voltou.

De que maneira essa igreja poderia se levantar outra vez? A resposta é: arrepende-te.

Isso significa “mude sua mente”. Então pratica as primeiras obras; isto é, creia e obedeça. Hebreus 6.1 fala do “fundamento do arrependimento [...] e de fé em Deus”. Essa é evidentemente a combinação aqui. Swete ressalta que lembra-te, arrepende-te e

pratica “obedecem aos três estágios na história da conversão”.

Se a igreja de Éfeso rejeitasse ou falhasse em se arrepender e praticar as primeiras

obras, Jesus advertiu: brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. Isto é, a igreja de Éfeso deixaria de existir como congregação cristã.

Isso finalmente ocorreu em uma época posterior, mas a advertência foi evidentemente anunciada naquela época. Cerca de 20 anos mais tarde Inácio escreveu aos Efésios: “Dei as boas-vindas à sua igreja que se tornou tão estimada entre nós por causa da sua

natureza honesta, marcada pela fé em Jesus Cristo, nosso Salvador, e pelo amor a Ele”.

A igreja teria uma oportunidade justificada de se arrepender. Swete observa que a palavra grega para tirarei pode ser entendida como indicando “ponderação e calma judicial; não haveria um extermínio em um momento de raiva, mas um movimento que acabaria na

perda do lugar que a Igreja tinha sido chamada a cumprir; a não ser que houvesse uma mudança para melhor, as primeiras sete lâmpadas da Ásia desapareceriam”.

6. Convite (2.7a)

A exortação Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas ocorre em cada uma das sete cartas. Nas três primeiras, a exortação precede a promessa ao vencedor. Nas últimas quatro, a exortação vem após a promessa. Veja também 13.9.

Esse é um eco das palavras de Jesus nos evangelhos, quando ele diz: “Quem tem ouvidos

para ouvir ouça” (Mt 11.15; 13.9, 43; Mc 4.9, 23; Lc 8.8; 14.35).

7. Recompensa (2.7b) Em cada carta há uma promessa para aquele que vence. O verbo ocorre frequentemente

no livro de Apocalipse, cujo tema principal é a Igreja, por meio de Cristo, vencendo todo mal. Swete diz que o termo indica “ „o vencedor‟, o membro vitorioso da Igreja, como tal, à parte de todas as circunstâncias”.

A promessa aqui para o vencedor é que ele terá o direito de comer da árvore da vida.

Adão falhou quando testado e perdeu esse direito. Agora esse direito é prometido àqueles que serão fiéis diante da tentação. Swete comenta: “Comer da árvore é desfrutar de tudo o que a vida futura tem a oferecer para a humanidade redimida”.

A palavra paraíso obviamente nos leva de volta ao Éden, onde a árvore da vida é mencionada primeiramente como estando “no meio do jardim” (Gn 2.9). Agora lemos que

ela está no meio do paraíso de Deus. Acerca do significado desse termo Swete observa: “O „Paraíso‟ do N.T. ou é o estado dos mortos abençoados (Lc 23.43) ou uma esfera

supramundana identificada com o terceiro céu para o qual as pessoas chegam em um êxtase (2 Co 12.2ss); ou, como aqui, a alegria final dos santos na presença de Deus e de Cristo”.

Na mensagem para Éfeso vemos: 1) A insuficiência das obras (vv. 2,3); 2) A necessidade

do amor (v. 4); 3) A natureza do arrependimento (v. 5). CARTA À IGREJA DE ESMIRNA, 2.8-11

1. Destino (2.8a)

Esmirna concorria com Éfeso pela honra de ser chamada “a principal cidade da Ásia” e a “metrópole”. Assim, ela logicamente vem em segundo lugar na lista aqui. A cidade,

chamada “a Beleza da Ásia”, estava situada na ponta do bem protegido golfo, com um excelente porto. Ela se aproximava de Éfeso no que tange ao volume do comércio de exportação. Ela continua sendo uma grande cidade, a única das sete que atualmente é

próspera. Hoje, “os figos de Esmirna” são vendidos em todo o mundo.

A igreja lá foi aparentemente fundada quando Paulo estava pregando em Éfeso (At 19.10).

Ela continuou sendo um forte centro eclesiástico por vários séculos. A Izmir (Veja

Aqui) moderna tem uma população de cerca de trezentos mil habitantes.

2. Autor (2.8b)

Cristo é aqui identificado como o Primeiro e o Último. Já encontramos essa expressão

em 1.17. Ele então é descrito como Aquele que foi morto e reviveu, ou “que esteve morto e tornou a viver” (ARA). Isso também lembra 1.18: “fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre”. A referência claramente é à crucificação e ressurreição de Cristo.

Mas essas palavras tinham uma relevância peculiar na carta à igreja de Esmirna. Porque

essa cidade havia morrido e tornou a viver. Strabo diz que os lídios destruíram o lugar e por cerca quatrocentos anos não houve cidade ali, apenas algumas vilas espalhadas. Ramsay observa: “Todos os leitores de Esmirna certamente seriam sensibilizados à

impressionante analogia com a história primitiva de sua própria cidade”. 3. Aprovação (2.9)

Mais uma vez Cristo diz: Eu sei. Essas palavras descrevem tanto conforto quanto

advertência.

A palavra obras não está no melhor manuscrito grego. Duas coisas são mencionadas: tribulação e pobreza. Aparentemente, tribulação gerou pobreza (cf. v. 10). Hebreus 10.34 diz: “Porque também vos compadecestes dos que estavam nas prisões e com gozo

permitistes a espoliação dos vossos bens, sabendo que, em vós mesmos, tendes nos céus uma possessão melhor e permanente”. Em uma situação semelhante em Esmirna, parece que bandos judeus e pagãos estavam saqueando a propriedade dos cristãos.

A palavra grega para tribulação (thlipsis) é forte, significando “pressionado” ou

“espremido”. Tribulação vem do latim tribulum, que significa uma debulhadora, usada para debulhar os grãos. Assim, temos duas figuras. A palavra grega sugere a figura de um

lagar, no qual o suco das uvas era espremido. A palavra latina transmite a figura do grão sendo batido com uma vara, para tirar os grãos da casca. Juntos, eles sugerem a natureza da tribulação. É uma questão de pressão e golpes.

Embora exteriormente a igreja em Esmirna fosse caracterizada pela pobreza, ela era, na

verdade, rica. Materialmente pobre, espiritualmente rica — essa combinação é observada mais de uma vez no Novo Testamento.

Jesus também conhecia a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são. Paulo escreveu aos Romanos: “Porque não é judeu o que o é exteriormente [...] Mas é judeu o que o é no interior” (Rm 2.28-29). Esses perseguidores em Esmirna eram judeus por raça

e religião, mas não eram verdadeiros filhos de Abraão. Que os judeus perseguiram os cristãos é amplamente evidenciado no livro de Atos, bem como nos escritos do segundo

século de Justino, o Mártir, e Tertuliano. Os judeus odiavam de uma maneira especial os convertidos do judaísmo ao cristianismo. Ao se opor ao evangelho, eles com frequência recorriam à blasfêmia (cf. At 13.45). A palavra grega blasphemia significava “difamação”

quando dirigida aos homens, mas blasfêmia quando dirigida a Deus. Aqui provavelmente significava as duas coisas.

A história do martírio de Policarpo em Esmirna é especialmente relevante. Os judeus chegaram a superar os pagãos em seu ódio e zelo. Eles acusaram Policarpo de hostilizar a

religião do estado. Esses inimigos, “com uma ira incontrolável gritavam em alta voz: „Esse é o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o demolidor dos nossos deuses, que ensina a muitos que não se deve sacrificar nem adorar‟ ”. Embora fosse num sábado, eles juntaram

madeira para queimar Policarpo vivo.

À luz dessa atitude hostil não é de surpreender que os judeus sejam chamados de a sinagoga de Satanás. Por causa da oposição dos judeus, os cristãos evitaram o uso da palavra sinagogue e preferiram ecclesia (gr., assembleia) para suas congregações. O único

texto no Novo Testamento em que sinagogue é usado para identificar uma assembleia cristã se encontra em Tiago 2.2. Isso pode ter sido escrito antes que a perseguição judaica

aos cristãos se tornasse generalizada.

É uma coincidência interessante que a expressão sinagoga de Satanás ocorra somente aqui e na carta à igreja de Filadélfia. Essas são as duas únicas cartas sem uma palavra de censura. Assim, na mensagem a essa igreja passamos diretamente da aprovação para a

exortação. 4. Exortação (2.10)

A igreja em Esmirna é admoestada: Nada temas das coisas que hás de padecer. Coisas

piores aguardavam essa congregação: Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados. Isso mostra que os judeus se uniriam às autoridades pagãs na

perseguição. Ambos seriam instigados pelo diabo. Era ele que, em última análise, lançava os cristãos na prisão. Tentados significa “testados”. O verbo grego era usado para testar metais no fogo, para certificar-se de que não apresentavam impurezas. Da mesma

maneira, as almas dos crentes seriam testadas na fornalha da aflição. A tribulação (perseguição) duraria dez dias. Essa expressão indica um breve período (cf.

Dn 1.12,14). Swete comenta: “O número dez provavelmente é escolhido porque, embora seja suficiente para sugerir a continuidade do sofrimento, ele aponta para um final que

está se aproximando”. Deus cuidaria para que não sofressem acima do que poderiam suportar. Se fossem fiéis até à morte — provavelmente uma alusão ao martírio — receberiam a coroa da vida. A palavra grega para coroa não é diadema, significando

coroa real, mas stephanos, a coroa do vitorioso. Apropriadamente, Estêvão (gr., Stephanos), o primeiro mártir cristão, tinha esse nome. Provavelmente, a frase coroa da

vida significa que a coroa é vida eterna (genitivo epexegético).

5. Convite (2.11a) Aqui novamente encontramos a exortação-convite: Quem tem ouvidos ouça o que o

Espírito diz às igrejas. A mensagem de advertência era necessária não só para os crentes em Esmirna, mas para todos os cristãos em todos os lugares.

6. Recompensa (2.116)

A promessa para o vencedor aqui, como no caso de todas as sete cartas, é apropriada para a mensagem visando a uma igreja em particular. Mesmo se esses fiéis de Esmirna

tivessem de sofrer morte física por causa de Cristo, eles nunca seriam feridos pela se-gunda morte — isto é, a morte espiritual. Essa expressão impressionante ocorre nova-mente em 20.6,14 e 21.8, onde ela é identificada como o lago de fogo, o lugar do castigo

eterno. A frase também é encontrada nos Targuns judaicos (paráfrases aramaicas do Hebraico do AT). Não receberá o dano é negativo duplo no grego: “de modo nenhum”.

Tem sido sugerido (Pulpit Bible) que essa carta transmite “Palavras de Regozijo de um Salvador Reinante para uma Igreja Sofredora”: 1) Um Salvador vivo acima de todos (v. 8);

2) Um Salvador vivo conhecendo tudo (v. 9a); 3) Um Salvador vivo avaliando a todos: tu és rico; 4) um Salvador vivo antevendo tudo (v. 10); 5) Um Salvador vivo limitando tudo: dez

dias; 6) Um Salvador vivo encorajando a todos (v. 10a); 7) Um Salvador prometendo vida no fim de tudo (v. 10b).

CARTA À IGREJA DE PÉRGAMO, 2.12-17 1. Destinatário (2.12a)

Esmirna ficava a cerca de 55 quilômetros de distância de Éfeso. A rota adiante é descrita

por Swete: “Depois de deixar Esmirna, a estrada de Éfeso seguia a costa por cerca de 65 quilômetros e então subia em direção ao nordeste para o vale de Caicus, por mais 25 quilômetros, onde ficava a cidade de Pérgamo”.

A localização física de Pérgamo era notória. Ramsay escreve: “Mais do que qualquer outro

lugar na Ásia Menor, essa cidade dá ao viajante a impressão de uma cidade majestosa, o lar da autoridade; o monte rochoso no qual se localiza é enorme e domina a imensa planície do Caicus de maneira orgulhosa e ousada”. Charles diz: “A cidade mais antiga foi

construída num monte, a 350 metros de altura, que se tornou o lugar da acrópole e de

muitas das principais construções da cidade posterior”.

No início do século terceiro a.C., foi fundado o reino de Pérgamo. Em 133 a.C., o rei Atalus III deixou seu reino para os romanos. Eles o transformaram na província da Ásia. Ramsay diz: “Pérgamo era a capital oficial da província por dois séculos e meio: a tal ponto que a

sua história como a base de autoridade suprema sobre um imenso país durou cerca de quatro séculos e não havia chegado ao fim quando as sete cartas foram escritas”.

2. Autor (2.12b)

Dessa vez Cristo é descrito como aquele que tem a espada aguda de dois fios (cf. 1.16). A razão dessa referência à espada é vista claramente em 1.16. Ela deve ser o instrumento de julgamento contra os hereges na igreja de Pérgamo.

Há também uma outra razão para essa identificação do autor. Ramsay observa: “Na

avaliação romana a espada era o símbolo da ordem mais elevada de autoridade oficial com a qual o pro cônsul da Ásia era investido. O „direito da espada‟ [...] podia ser equivalente ao que chamamos hoje de poder sobre a vida e a morte”.

3. Aprovação (2.13)

Mais uma vez (cf. v. 9) tuas obras não se encontra no melhor texto grego, que traz: “Eu sei onde habitas”. Lá ficava o trono de Satanás. A palavra grega para trono é thronos. Por que Pérgamo é chamado de lugar do trono de Satanás? A resposta é que era o centro

de adoração ao imperador da Ásia. Ramsay escreve: “O primeiro (e por um tempo considerável o único) templo provincial do culto imperial na Ásia foi construído em Pérgamo em honra a Roma e Augusto (provavelmente 29 a.C.). Um segundo templo foi

construído ali em honra a Trajano e um terceiro em honra a Severo. Assim, Pérgamo, foi a primeira cidade a ter a honra de ser a guardiã do templo uma ou duas vezes na religião do

Estado; e mesmo a terceira vez como guardiã do templo ocorreu alguns anos antes do que a vez de Éfeso”. Assim, aqui Satanás representa “o poder e a autoridade oficial que está em oposição com a Igreja”.

R. H. Charles resume bem a situação. Ele diz: “Atrás da cidade no primeiro século d.C. ergueu-se um enorme monte cuneiforme, com 350 metros de altura, coberto de templos e

altares pagãos, que, em contraste com o “monte de Deus”, de acordo com Isaías 14.13 e Ezequiel 28.14,16 e chamado de “o trono de Deus” em 1 Enoque 25.3, apareceu ao

vidente como o trono de Satanás, uma vez que era o lugar de muitos cultos idólatras, mas acima de todo o culto imperial, que ameaçava com aniquilação a própria existência da Igreja. Recusar-se a participar desse culto constituía uma séria traição ao Estado”.

O segundo item na aprovação ou louvor da igreja em Pérgamo é: e reténs o meu nome e

não negaste a minha fé. Quando as autoridades romanas exigiram que os cristãos proclamassem: “César é Senhor”, eles respondiam: “Jesus é Senhor” (cf. 1 Co 12.3). Eles permaneceram firmes, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha (martys, “meu

fiel mártir”, KJV). No segundo século, martys (genitivo, martyros) recebeu o significado técnico de “mártir”. Há uma discussão em torno do significado dessa palavra nesse texto.

Alguns entendem que martys deveria ser traduzido por mártir, ao passo que outros entendem que ela deveria significar testemunha. De qualquer forma, essa testemunha foi

morta. Apesar das lendas, nada se sabe ao certo a respeito de Antipas além do que é informado nessa passagem.

O qual foi morto entre vós não indica necessariamente que Antipas era um membro da

igreja de Pérgamo. Ramsay diz que “muitos mártires foram levados a juízo e condenados ali que não eram de Pérgamo. Prisioneiros eram trazidos de todas as partes da província

de Pérgamo para julgamento e condenação diante da autoridade que possuía o direito da espada [...] o poder da vida e da morte, a saber, o pro cônsul romano da Ásia”.

4. Censura (2.14,15)

O Cabeça da Igreja tem algumas coisas contra a congregação de Pérgamo. A primeira é: tens lá os que seguem a doutrina de Balaão (14). Como em todo o Novo Testamento, doutrina (didache) deveria ser traduzida por “ensinamento”.

Balaão é descrito como aquele que ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos

filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem. Essa declaração preenche um pequeno hiato no relato do Antigo Testamento. Lá lemos que Balaão foi chamado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar os israelitas, a quem

temia (Nm 22.1—24.25). Quando Deus não permitiu que o profeta amaldiçoasse seu povo, evidentemente Balaão sugeriu uma maneira indireta de trazer a maldição divina sobre

Israel. Isso é indicado em Números 21.16, em que Moisés disse às mulheres de Moabe: “Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de prevaricar contra o SENHOR, no negócio de Peor, pelo que houve aquela praga entre a

congregação do SENHOR”. O “negócio de Peor” era uma combinação de idolatria e imoralidade (Nm 25.1-9), como podemos ler em Apocalipse. O que o relato deixa mais claro aqui é o fato de Balaão ter aconselhado Balaque a fazer com que suas mulheres

seduzissem os homens israelitas nesses dois pecados. O esquema funcionou bem demais. Balaão também é mencionado em 2 Pedro 2.15 e Judas 11.

A palavra grega para tropeços (scandalon; cf. escândalo) foi primeiramente usada para a isca de uma armadilha e, em seguida, para a própria armadilha. Isso se encaixa

perfeitamente na figura aqui. Balaque preparou uma armadilha para os israelitas e eles foram apanhados nela. Swete comenta: “As mulheres de Moabe foram deliberadamente

lançadas no caminho dos homens israelitas, que não suspeitavam de nada, na esperança de causar a ruína deles”. Lenski traduziu a expressão aqui: “lançar uma armadilha diante dos filhos de Israel”.

Pelo que tudo indica, havia alguns membros na igreja em Pérgamo que procuraram convencer os membros a aceitar os costumes pagãos para evitar perseguição. Eles defen-

deram a ideia de comer nos templos pagãos e participar na adoração aos ídolos, o que incluía prostituir-se com as “virgens” do templo. É possível que tenham dito que o que

alguém faz com o corpo não afeta a sua alma. O fato de comer carne sacrificada aos ídolos já tinha se tornado um problema em Corinto, onde Paulo tratou disso (1 Co 8). Essa era uma questão vital no primeiro século.

Como em Éfeso, havia em Pérgamo alguns nicolaítas (15). Em relação à sua doutrina

(ensinamento). Smith acredita que nicolaítas significa “aliciadores dos leigos” e que a descrição de Pérgamo prefigura o surgimento da hierarquia papal na igreja católica romana.

A NATUREZA DA LITERATURA APOCALÍPTICA

DEFINIÇÃO

Uma classe inteira de literatura deve seu nome à primeira palavra do texto grego do último livro de

nossa Bíblia. A palavra é (apokálupsis). Este substantivo provém do verbo (apokalúptein), que

significa "desvendar", daí "revelar". O adjetivo "apocalíptico" é usado para qualificar escritos que

têm certas afinidades com o Apocalipse do Novo Testamento. Foram feitas associações entre o

Apocalipse e outras porções e livros da Bíblia, tais como Daniel e Ezequiel e estes são ditos

conterem material apocalíptico em sua natureza. Depois foram feitas associações com escritos

não-canônicos, tais como os Segredos de Enoque, e estes são também chamados "escritos

apocalípticos". Desta forma, como o termo foi considerado como descritivo de muitos escritos que

não poderiam ser classificados de outra maneira, o gênero literário recebeu seu nome.

Basicamente, "apocalíptica" é a literatura não diferente do Apocalipse.

Mas, o que caracteriza esta literatura? Muitos estudiosos a incluem nos "tratados para tempos

difíceis" (G.E. Ladd, A Commentary on the Revelation of John — Um Comentário Sobre o Apocalipse de

João — p.8). Esta literatura surgiu no período da história de Israel depois que a voz profética fora

silenciada. Durante tempos de severa perseguição, livros apocalípticos surgiram na ausência de

um profeta para responder à pergunta: "Porque o justo sofre?" Os livros apocalípticos pretendem

ser uma revelação divina, geralmente através de um intermediário celestial, a alguma pessoa

proeminente na história passada da nação, na qual Deus promete vingar seu povo sofredor,

destruir toda a impiedade e trazer paz duradoura. A diferença básica entre a profecia e o texto

apocalíptico é que a profecia lidava com as obrigações éticas do período em que o profeta escreveu,

ao passo que o texto apocalíptico centralizava-se num tempo no futuro, quando Deus iria intervir

catastroficamente, para julgar o mundo e estabelecer a justiça (Rist, Introduction and Exegesis of the

Revelation of St. John the Divine — Introdução e Exegese do Apocalipse de S. João, o Divino — p.

347).

Há cerca de tantas definições da natureza desta literatura quanto há escritores sobre os livros

deste gênero. Um método é definir o texto apocalíptico por três aspectos óbvios: forma, função e

conteúdo. A virtude deste método é que estes aspectos são bem evidentes. Cada um destes tem

cercas características, que precisam ser observadas. Estas são: 1) A forma, como tendo

pseudonímia (ou anonímia), simbolismo, mitologia, orientação cosmológica, numerologia (gematria),

experiências extáticas, alegações de inspiração, visões (esotéricas), drama, empréstimos de outros

apocalipses, alegoria e prosa. 2) A função (ou propósito), como respondendo às necessidades que

surgem das perseguições, resolvendo o problema colocado pela justiça de Deus e o sofrimento do

homem (teodicéia), e expondo os objetivos do nacionalismo. 3) O conteúdo inclui determinismo,

escatologia, transcendentalismo, uma filosofia pessimista da história, dualismo, divisão eônica

(Veja Aqui) do tempo e um mínimo de ensinos éticos e morais.

Naturalmente, é observável imediatamente que cada escrito apocalíptico não teria todas estas

características; alguns têm mais, outros menos. Mas os três aspectos são de importância na

definição deste gênero. É também evidente, ao ler-se o texto apocalíptico, que um aspecto pode ser

dominante sobre os outros dois. Geralmente, contudo, é o aspecto da forma que chama a atenção

para este tipo de literatura. As características destes aspectos foram desenvolvidas durante um

período de séculos, resultantes de crenças religiosas básicas (cf. P. Hanson, The Dawn of

Apocalyptic — A Alvorada do Apocalíptico). Foi sugerido, por Stanley B. Frost (Old Testament

Apocalyptic — O Apocalíptico do Velho Testamento — 1952, p. 6), que o apocalíptico surgiu quando

a escatologia judaica (conteúdo), mesclou-se com o mito semítico (forma), durante a perseguição

da nação judaica (função). Isto é verdadeiro quanto ao apocalíptico judaico. Muito do chamado

"apocalíptico neotestamentário" parece ser uma fusão do mito judaico e gentio, para propósitos

gnósticos: forma (mito judaico e gentio), conteúdo (escatologia), função (gnóstica ou do

conhecimento). Esta, em termos mínimos e elementares, é a definição do apocalíptico.

Algumas das literaturas não-canônicas que foram classificadas como "apocalípticas" são as

seguintes: Entre os textos apocalípticos do Velho Testamento, deve ser observado que nenhum

tem o título "Apocalipse", ao passo que os apocalípticos do Novo Testamento têm.

Os judaicos são:

1) O Livro de Enoque, também conhecido como Primeiro Enoque ou Enoque Etiópico; escrito por

volta de 164-64 a.C.

2) A Assunção de Moisés, escrita por volta de 50 a.C. — 25 d.C.

3) Os Segredos de Enoque, também chamado Segundo Enoque, escrito no início do primeiro

século.

4) O Livro de Baruque, ou Segundo Baruque, escrito no primeiro século.

5) IV Esdras foi escrito depois de 90 d.C.

Os "Apocalipses do Novo Testamento" são:

1) O Pastor de Hermas (apenas uma das visões, a quinta, é considerada apocalíptica), escrito por

volta do início do segundo século.

2) O Apócrifo de João, escrito por volta da metade do segundo século.

3) O Apocalipse de Pedro, escrito por volta da metade do segundo século.

4) O Apocalipse de Paulo, escrito no final do quarto século.

5) O Apocalipse de Tomé, do quinto século. O Apocalipse de Maria, depois que os acima foram

escritos.

6) O Apocalipse de Estevão, que é muito tardio.

CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA APOCALÍPTICA

A definição acima, de apocalíptico, precisa ser desmembrada em uma definição mais conveniente,

para caracterizar este tipo de literatura. Embora nem todos os estudiosos concordem quanto às

características elementares básicas, as seguintes são pelo menos mais evidentes:

1) Escatológica — Toda literatura apocalíptica é escatológica, mas as duas coisas não são

idênticas. São feitas, acertadamente, distinções entre as duas. A escatologia pode existir e

frequentemente existe nos escritos básicos, separada das seções apocalípticas. A própria natureza

contingente do pensamento escatológico faz com que a escatologia se preste à expressão

apocalíptica (mitológica). Por outro lado, o apocalíptico é sempre escatológico, seja explícita ou

implicitamente. A escatologia olha para um tempo futuro, quando Deus irromperá

catastroficamente no mundo do tempo e do espaço, para julgar sua criação. Há uma distinção a

ser feita entre profecia escatológica e o apocalíptico. Aquela predisse o futuro que deverá surgir do

presente, ao passo que os apocaliptistas predisseram o futuro que deverá irromper no presente (H.H.

Rowley, The Relevance of Apocalyptic — A Relevância do Apocalíptico — 1947, p. 38).

2) Significação Histórica — O apocalíptico mantém a tensão entre a história e o éschaton. O

apocaliptista escreve dentro de uma estrutura histórica para assegurar o leitor acerca da

intervenção divina. Isto é caracteristicamente feito retraçando-se a história na forma de profecia,

para falar às condições da época da escrita. Os elementos da situação histórica real são

representados pelas imagens do livro. O conhecimento da situação histórica auxilia a

interpretação da mensagem (Summers, op. cit.p. 30).

3) Uma Defesa Radical dos Justos — Uma das características mais óbvias do apocalíptico é vista

na defesa radical do grupo perseguido, sempre identificado com os escolhidos de Deus, e com os

quais sempre o escritor se identifica, como uma parte integrante. Surge a pergunta sobre por que

o povo de Deus sofre, e a resposta é encontrada no dualismo, que é temporal e histórico. Há duas

superpotências que se opõem, e ambas são sobrenaturais: Deus e Satanás. Com duas eras

distintas, a presente está sob o controle das forças da impiedade, e, consequentemente, há um

pessimismo acerca da presente situação histórica. É por esta razão que os justos sofrem. Existe

pouco ou nenhum ensino moral e ético; estar no grupo escolhido é o bastante, pois o pior membro

do grupo é muito melhor que a melhor pessoa que não é do grupo.

4) Pseudônimo — Com poucas exceções, os apocalipses são pseudônimos. Eles são escritos no

nome de algum predecessor ilustre que profetiza acerca dos eventos da época do escritor real. A

história passada torna-se reescrita, como profecia. Os eventos são bem facilmente determinados,

até a época do escritor real, e então a profecia perde sua clareza, pois o escritor real considera-se

como estando vivendo próximo ao fim do tempo. Várias razões são dadas para este uso de um

nome de um ancião digno. É sugerido que o escritor, escrevendo em tempos difíceis, desejou

esconder sua própria identidade e a do grupo perseguido (Kümmel, Introduction to the New

Testament — Introdução ao Novo Testamento — p. 317). Outros propõem que um escritor tinha que

escrever no nome de um homem preeminente do passado, a fim de obter audiência. Como a voz

profética havia sido silenciada em Israel, a mensagem tinha que vir dos lábios de uma pessoa

conhecida por uma leitura do Velho Testamento, pois o povo não iria aceitar um profeta novo de

seu próprio tempo (R. H. Charles, Religious Development Bettween the Old and New Testament —

Desenvolvimento Religioso Entre o Velho e o Novo Testamentos — p. 38-46). Seja qual for a razão,

o escritor realmente não pretendia enganar; seus leitores sabiam que a escrita era recente.

5) Visões — O uso de visões como um meio de revelação é outra característica clara dos

apocalipses. A visão altamente elaborada (esotérica) é o método principal usado para se receber a

mensagem (I.T. Beckwith, The Apocalypse of John — O Apocalipse de João, p. 169). Embora os

profetas do Velho Testamento tivessem visões, estas não passaram muito além de simples sonhos

quanto à forma. Os apocaliptistas se moveram além de simples visão para experiências esotéricas

altamente estruturadas e detalhadas. Geralmente um guia celestial está presente, para auxiliar no

discernimento da mensagem das figuras totalmente fantásticas, vistas nessas visões.

Frequentemente a interpretação do livro inteiro depende da clarificação da visão por parte do guia

(L. Morris, The Revelation of St. John — A Revelação de S. João — p. 24 e 25). A experiência

esotérica é uma forma de simbolismo, figuras grotescas e imagens fantásticas (Summers, op. cit,

p. 32 e 33).

6) Simbolismo — Provavelmente, a característica principal da literatura apocalíptica é o uso de

símbolos para apresentar a mensagem escatológica. Através de séculos de desenvolvimento, um

estoque comum de símbolos e figuras de discurso remarcáveis emergiram. Como pode alguém

colocar em termos inteligíveis uma experiência espiritual? A interpretação de ideias, princípios e

realidades espirituais é tornada fácil para aquele que sabe usar os símbolos. Para os não-

iniciados, a mensagem permanece sendo um mistério. Desta forma, o escritor faz uso de símbolos

para "revelar" a mensagem àqueles que estão familiarizados com o processo, e a mensagem é

ocultada àqueles que não estão (G.B. Caird, The Revelation of St. John the Divine — O Apocalipse de

S. João, o Divino — p. 6 e 7). Na linguagem do apocaliptista, os símbolos são muito significativos,

pretendidos a serem um instrumento de uma carreira definida e importante de pensamento. Estes

livros não foram escritos para amedrontar ou confundir o leitor; eles foram escritos para ajudá-lo

a entender a obra de Deus em levar esta era a um fim.

Entre as numerosas figuras simbólicas, aparece o uso de números. Desde os tempos mais

remotos, os homens associaram ideias com números, e vagarosamente desenvolveu-se a ciência

de numerologia, denominada gematria. Os números eram usados para expressar conceitos, ideias e

princípios (CF. Wishart, The Book of the Day — O Livro do Dia — p. 19-30). Os seguintes são de

importância para nós, porque ocorrem no Apocalipse ou são básicos para a compreensão daqueles

que ocorrem.

O número "1" veio a ser associado com o princípio de unidade ou de existência independente. Ele

forma a raiz para a palavra "unidade". Desta forma, Israel foi exortado a dizer: "O Senhor nosso

Deus é o único Senhor" (Dt 6:4).

O número "2" é a duplicação de "1" e representa força. No Velho Testamento, duas testemunhas

eram necessárias para confirmar qualquer fato. Jesus enviava seus discípulos de "dois em dois",

por razões óbvias. O número aparece no Apocalipse em referência às "duas testemunhas" (11:3-

12) e às duas "bestas" (13:1-18).

Sugestivo do círculo familiar completo é o número "3". A família representava a unidade social

ideal sobre a terra: amor de pai, amor de mãe e amor filial. Isto assumiu o conceito do amor divino

e finalmente de Deus mesmo, e isto se transportou à ideia da Trindade. Portanto, em gematria o

número "3" simboliza o divino.

O universo físico era simbolizado pelo número "4". Havia quatro ventos, quatro direções, quatro

cantos ou lados do mundo. "4" era o número cósmico. No Apocalipse, há as "quatro criaturas

viventes, os "quatro cavalos e cavaleiros", e "quatro anjos junto ao rio Eufrates". Os homens

viviam, trabalhavam e morriam num mundo simbolizado pelo número "4".

O número "5" é o número do próprio homem. Em cada mão estão cinco dedos, e em cada pé, cinco

dedos. Quando o número é dobrado para "10", este simboliza a inteireza humana. Um homem

perfeito tinha dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés; daí, sendo um homem perfeito. Dez

mandamentos foram dados como o dever total do homem para que ele fosse perfeito em sua

sociedade. O Apocalipse fala de "dez chifres" (poder humano completo) e "dez dias" (tempo humano

completo). Os múltiplos de dez também foram usados para mostrar inteireza: 10x10x10 * 1.000

(inteireza última); 12 x 12 x 10 x 10 x 10 * 144.000 (o número completo do povo de Deus sobre a

terra).

Para os povos antigos, "6" era o número do mal, porque estava aquém de "7", o número sagrado

da perfeição. Uma das palavras hebraicas básicas para "pecar" significa "errar o alvo". Isto é o que

o número "6" significa. Ele simboliza o mal, porque, como o pecado, erra o alvo da perfeição. O

próprio número, em sua pronúncia, tem o chiado da serpente.

Na gematria que se desenvolvia, o número divino "3" e o número cósmico "4" eram unidos para dar

"7", o número sagrado da perfeição. Isto era a terra coroada com o céu; o universo físico e o

espiritual unidos. O número "7" é muito usado no Apocalipse: sete espíritos, sete igrejas, sete

candelabros, sete estrelas, sete selos, etc. "7" multiplicado pelo número completo "10" produz "70".

Jesus enviou setenta homens preparados para uma obra especial. As Escrituras hebraicas foram

traduzidas para o grego e denominadas a Septuaginta (70).

Outro número usado no apocalíptico é o "12". Isto é, 3 x 4, e tornou-se o símbolo para o povo de

Deus: a religião organizada. Será lembrado que havia doze tribos em Israel, e Jesus escolheu doze

apóstolos. O número duplicado é "24" e no Apocalipse há "24" anciãos ao redor do trono,

representando o povo de Deus dos dias do Velho Testamento e os do movimento cristão. 12 x 12 x

10 x 10 * 144.000, o número completo, simbolizando a segurança perfeita do povo de Deus sobre

a terra.

Um outro número aparece no Apocalipse, um meio-número: "3 1/2". Isto é a metade de "7" e

significa um período de tempo curto e indefinido. No Apocalipse, este aparece com "3 1/2 anos",

"42 meses" e "1.260 dias". Representa instabilidade, confusão, insatisfação por um período de

tempo indefinido.

7) Dramático — A literatura apocalíptica possui o sentido de um drama iminente, a atmosfera do

dramático. Ela é dirigida à imaginação com sua vividez e, por vezes, figuras grotescas.

Frequentemente, os símbolos são empregados para o efeito dramático, para enfatizar a seriedade

da mensagem. Quando o leitor entende que o escritor está dirigindo sua mensagem à imitação,

encontra o significado de uma figura na perspectiva do livro inteiro. Neste sentido, o detalhe

diminuto não é importante; de fato, ele pode ser prejudicial à descoberta da mensagem real que o

escritor deseja transmitir ao leitor.

O APOCALIPSE E A LITERATURA APOCALÍPTICA

Após discutir a natureza desta classe de literatura, deve ser determinado se o último livro do Novo

Testamento deve ser considerado apocalíptico. Ao primeiro pensamento, isto pode parecer ilógico,

porque o gênero inteiro da literatura deve seu nome à primeira palavra de nosso Apocalipse

canônico. Também, na primeira definição dada acima, foi afirmado que esta classe não é

"diferente de nosso Apocalipse". No mínimo, a definição é que a forma (mito judaico ou gentio), o

conteúdo (escatologia) e a função (propósito) constituem a literatura apocalíptica. Assim sendo, o

último livro de nossa Bíblia é apocalíptico por definição.

Numa leitura do Apocalipse, pode-se encontrar várias características desta literatura mencionadas

acima. Há um uso extensivo dos símbolos, e as visões e a gematria desempenham uma parte

importante como veículos para a mensagem. A escatologia certamente é preponderante no que diz

respeito ao conteúdo, e o propósito básico foi o de encorajar o leitor cristão à fidelidade durante um

período difícil na história do cristianismo. João fez grande uso da forma (símbolos) e da função

(propósito) para apresentar sua mensagem escatológica (conteúdo). O que não é tão evidente, todavia,

são as dessemelhanças entre o Apocalipse e todos os outros livros deste gênero. João se libertou, de

muitas maneiras, do esquema normal do apocalíptico, e estas diferenças são importantes o bastante

para separar este livro de todos os outros desta classe, tanto que G.E. Ladd levantou uma pergunta

como título para um importante artigo: "Por Que Não Profético-apocalíptico? (Journal of Bíblical

Literature, LXXVI, 1957, p. 192-200). As seguintes são algumas das principais diferenças entre o

Apocalipse e outros escritos deste gênero:

1) O Apocalipse Não É Pseudônimo — Embora nem todos os estudiosos concordem quanto à

identidade do autor, há quase que acordo universal de que "João", quem quer que ele fosse, foi

uma pessoa real, que escreveu sob seu próprio nome (1:4,9; 22:8). Ele não escreve no nome de

uma figura proeminente do passado. Ele escreve com a convicção de que Deus lhe deu uma

mensagem pastoral às igrejas para as quais ele foi feito supervisor. A estrutura epistolar não é a

forma apocalíptica tradicional, e é evidente que este livro foi feito para ser lido em voz alta nas

igrejas às quais ele é endereçado (1:3,4; 22:16,18). R.H. Charles concluiu que as razões para a

pseudonímia já não mais eram válidas quando o Apocalipse foi escrito (A Critical and Exegetical Commentary

on the Revelation of St. John — Um Comentário Crítico e Exegético Sobre o Apocalipse de S. João — I,

pp. xxxviii-xxxix). João escreveu a cristãos que o conheciam, e ele usou seu próprio nome, ao escrever.

2) O Apocalipse É Profético — Uma das características do apocalíptico é uma defesa radical das

pessoas com que o autor se identifica. Isto não é inteiramente verdadeiro no que diz respeito ao

Apocalipse. O autor realmente se identifica com o grupo perseguido, mas não dá somenos

importância aos pecados dessas pessoas. Há uma repetida chamada à confissão e ao

arrependimento e ao viver moral e ético (2:5,16,21,22; 3:3, 19; 18:4; 20:12,13; etc). Por esta razão, o

escritor está mais em linha com os profetas do Velho Testamento do que com os apocaliptistas do

judaísmo. Ao passo que os apocalipses judaicos tinham uma visão muito pessimista dessa era, os

profetas do Velho Testamento e João interpretam a situação presente como estando sob o controle

de Deus, que está continuamente revelando-se, para efetuar a salvação de sua criação. A

vantagem que João desfrutou sobre os profetas do Velho Testamento é a Encarnação histórica

(Kümmel, op. cit., p. 321-324). A situação da qual João escreve não é como os apocaliptistas

proclamam, um prelúdio para uma intervenção escatológica, mas deve ser interpretada à luz dos

dois adventos do Cordeiro, pelos quais e nos quais todas as forças da impiedade que se opõem à

justiça serão destruídas (Mounce, The Book of Revelation — O Livro de Apocalipse — p. 24). O autor

do Apocalipse chama sua obra uma profecia (1:3; 10:11; 19:10; 22:7, 10, 18,19). A história não é

retraçada na forma de profecia; antes, João fala de sua própria época, olhando para o futuro,

quando a difícil perseguição que a Igreja enfrenta será destruída (cf. Caird, op. cit., p. 9-12).

3) A Interpretação das Visões — Há uma notável diferença no uso de visões pelo escritor de

nosso Apocalipse, em comparação com outros apocalípticos. O método usual é o escritor ter um

guia celestial para interpretar cada visão e símbolo para o vidente. No Apocalipse isto é raramente

feito (uma exceção observável é 17:7-18). Geralmente João apresenta apenas a visão ou símbolos e

deixa o leitor fazer a interpretação. Há uma abertura acerca da verdade escatológica, no

Apocalipse, que é reanimadora em sua novidade, a qual, no apocalíptico comum, é apenas

conhecimento esotérico secretamente preservado desde os tempos antigos. Para o leitor do

Apocalipse, a história atual é escatologicamente interpretada para encorajar o cristão em sua difícil

situação (Ladd, A Commentary on the Revelation of John — Um Comentário Sobre o Apocalipse de

João — p. 13).

Estas são apenas três das diferenças aparentes entre o Apocalipse de nossa Bíblia e outros

escritos apocalípticos. Há outras diferenças, que alguns estudiosos proporiam (cf. Morris, op. cit.,

p. 22-25; McDowell, O Apocalypse, p. 22-26). Alguns diriam que essas diferenças são bastantes para

classificar o Apocalipse como um livro de profecia e excluí-lo do gênero do apocalíptico. Sem

dúvida, o Apocalipse, por definição, pertence a esta classe. Contudo, igualmente importante são

as diferenças entre este livro e todos os outros desta classe. Talvez o termo proposto por Ladd,

"profético-apocalíptico", seria mais apropriado para o último livro de nossa Bíblia. João usou

muito do aparato tradicional do apocalíptico para apresentar uma mensagem profética. Ele foi

criativo o bastante para usar algumas das formas de apocalíptico para transmitir uma mensagem

dramática de teologia distintiva. Ele era um verdadeiro profeta cristão, usando termos

apocalípticos para oferecer a mensagem da "revelação de Jesus Cristo" (1:1).

Bibliografia Broadus David Hale

As Sete Cartas Às Sete Igrejas

Veja aqui a região das sete igrejas hoje

Éfeso, a Igreja do Amor Esquecido Se não voltarmos urgentemente ao primeiro amor, jamais viveremos o refrigério de um grande e poderoso avivamento. “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.5).

Uma característica marcante da igreja de Éfeso era a sua intolerância à heresia. Quanto à doutrina, era ortodoxa e implacável. Mas quanto à prática do amor, tornara-se heterodoxa, fria e seca. A carta à igreja dos efésios nos ensina que a ortodoxia uma vez praticada sem amor, esfria e mata a verdadeira espiritualidade. Não podemos, a pretexto de “zelar” pela verdade, desconsiderar o cultivo de uma profunda espiritualidade banhada em amor. A nossa mensagem deve tocar mentes e corações. Assim, como o Senhor requereu da igreja de Éfeso, devemos voltar ao primeiro amor e encharcarmo-nos do Evange1ho da Graça da Deus. O ensino sistemático da Bíblia (ortodoxia) requer de seus leitores uma ação concreta no caminho existencial da vida (ortopraxia). A igreja de Éfeso era poderosa nas Escrituras, mas atrofiada na prática do amor cristão. Jesus de Nazaré ensinou-nos que devemos ouvir e praticar a sua palavra. Então, seremos comparados ao homem que edificou a sua casa na rocha (Mt 7.24). Eis o nosso grande desafio: ouvir, aprender e agir segundo as Escrituras. Em toda a Ásia Menor, não havia igreja mais obreira, dinâmica e ortodoxa do que a de Éfeso. O seu preparo teológico era tão sólido, que o seu pastor capacitara-se, inclusive, a confrontar os que

se diziam apóstolos (Ap 2.2). Éfeso era a igreja apologética por excelência. Ela destacava-se também por seu testemunho, esforço e extenuante labor pela expansão do Reino de Deus. Até o próprio Cristo elogiou os efésios. Eles eram uma referência em toda aquela região. Apesar de todas as suas inegáveis virtudes e qualidades, havia um sério problema com Éfeso. Se ela, porém, se dispusesse a resolvê-lo seria uma igreja perfeita. ÉFESO, UMA IGREJA SINGULAR Paulo em Éfeso. O Evangelho chegou a Éfeso, a mais notável metrópole da Ásia Menor, durante a segunda viagem missionária de Paulo (At 18.19). Mas a igreja só viria a florescer entre os efésios a partir da terceira viagem do apóstolo. A chegada do Reino de Deus à cidade foi acompanhada por um grande avivamento. Houve batismos com o Espírito Santo, curas divinas e não poucas conversões (At 19). A solidez doutrinária de Éfeso. O preparo bíblico e teológico de Éfeso era singular. Afinal, tivera o privilégio de ter como pastor, durante três anos, o maior teólogo do Cristianismo (At 20.31). Durante esse tempo, Paulo lhe expôs todo o conselho de Deus (At 20.27). Pode haver um curso bíblico mais completo? E a epístola que o apóstolo lhes enviou? (Ef 1.1-5). Aqueles cristãos doutoraram-se na Palavra de Deus. Uma igreja de ministros excelentes. Além de Paulo, a igreja em Éfeso foi pastoreada, também, por Timóteo e Tíquico. Dizem alguns estudiosos que o seu púlpito teria sido ocupado, ainda, por João, o discípulo amado. Os obreiros que por lá passaram eram de comprovada excelência. Que outra igreja, excetuada a de Jerusalém, desfrutou de mais privilégios? No entanto, conforme já

dissemos, havia um sério problema com Éfeso. O PROBLEMA DE ÉFESO Um grave problema. Sim, havia um sério problema com a igreja em Éfeso. A sua lua de mel com o Senhor Jesus havia chegado ao fim. E ela não o percebera. Já não se lembrava do amor — pri-meiro e belo — que dedicara ao Cordeiro de Deus. Não agira assim Israel em relação a Jeová? (Jr 2.1-13). No entanto, não podemos evitar a pergunta: Se ela foi, de fato, pastoreada pelo discípulo do amor, como veio a esquecer-se, justamente, do primeiro amor? O primeiro amor. Não sei como definir o primeiro amor, mas posso senti-lo. Para mim, é a alegria da salvação que o salmista temia perder (Sl 51.12). Sim, uma alegria que nos impulsiona a declarar toda a nossa afeição a Deus: “Amo o Senhor” (Sl 116.1). O primeiro amor é o enlevo que, no início, fez com que os efésios vivessem nas regiões celestiais em Cristo Jesus (Ef 1.3). É também a disposição que leva o obreiro a semear, num misto de lágrimas e júbilo, a preciosa semente do Evangelho (Sl 1 26.5).

Amnésia do amor. Sendo o primeiro amor tão sublime e inefável, pode alguém vir a esquecê-lo? Apesar de Éfeso ainda entregar-se denodadamente à obra de Deus, não mais se entregava amorosamente ao Deus da obra. Embora teológica e biblicamente ortodoxa, já não conservava o ardor daquele sentimento que, um dia, fez a Sulamita palpitar pelo esposo: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele se alimenta entre os lírios” (Ct 6.3). Era-lhe, urgente, pois, voltar ao primeiro amor. VOLTANDO AO PRIMEIRO AMOR Esquecer o primeiro amor não é incidente teológico, é queda espiritual. Semelhante pecado demanda contrição e arrependimento. Por isso, o Senhor Jesus insta, junto ao pastor em Éfeso, a que volte de imediato ao primeiro amor. Rica em obras, pobre em amor. Apesar de já não se lembrar do primeiro amor, Éfeso ainda era rica em obras. Aliás, o próprio Cristo realçou lhe esta característica (Ap 2.2). No entanto, já não praticava as obras que a haviam distinguido no início da fé: o amor que santificara ao Senhor

Jesus. Sim, a igreja em Éfeso era rica em obras e paupérrima em amor. Se as obras sem a fé nada são, o que delas resta sem o amor? Até mesmo o auto sacrifício sem amor nada é, conforme destaca o apóstolo Paulo: “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria" (1 Co 13.3). Amar é a mais elevada das obras. Não há obra tão elevada como amar a Deus: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder.” (Dt 6.5). Há crentes que se limitam a amar as bênçãos. Há outros que, mesmo sem as bênçãos, amam o abençoador. Que belo exemplo temos em Habacuque (Hc 3.17,18). LEMBRANDO-SE DO PRIMEIRO AMOR Como voltar ao primeiro amor? A resposta vem do próprio Cristo: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres" (Ap 2.5). Lembrar-se de onde caiu. A Bíblia exorta-nos a lembrar-nos de Deus, porque Ele jamais se esquece de nós (Ec 12.1; Is 44.21; 49.15). O cristão, infelizmente, corre o risco de esquecer-se daquEle que se esquece somente de nossos pecados (Hb 8.12). Não é constrangedor esquecer o nome de um amigo? No entanto, se não formos diligentes, corremos o risco de não mais lembrarmos daquele amigo que é mais chegado que um irmão (Pv 18.24). Voltar à prática das primeiras obras. Se Éfeso já era rica nas segundas obras, por que voltar à

prática das primeiras? Nenhuma obra é completa e perfeita sem o amor. É o que poetiza o apóstolo Paulo no décimo terceiro capítulo de sua Primeira Epístola aos Coríntios. Leia atentamente esta passagem; medite nela e, através dela, afira o seu amor. Veja se você ainda ama o Cristo como Ele tem de ser amado. Ou será necessário que o próprio Senhor pergunte-lhe: “Amas-me mais do que estes?” (Jo 21.1 5). Se não devotarmos a Cristo o primeiro amor, como haveremos de ansiar por sua volta? Talvez, o anjo de Éfeso já não almejasse o retorno do Senhor. O ativismo acabara por matar-lhe o primeiro amor e o segundo também. Era-lhe urgente e necessário, pois, não somente amar a Cristo como antes, como também amar-lhe a vinda como nunca. Amar a vinda de Cristo. Assim como o Cristo ama a Noiva e suspira por sua chegada aos céus, também devemos nós,como o seu corpo místico, almejar por sua vinda: “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8). Você realmente ama a vinda de Cristo? Em breve Ele voltará. Amém. Ora vem Senhor Jesus!

Sem amor não pode haver Cristianismo. Sua base é o amor primeiro e belo do início de nossa fé. Um amor que jamais deve morrer, mas renovar-se a cada manhã. Se você já não ama a Cristo como antes, arrependa-se desse pecado grave e evite que as consequências se agravem. Voltar ao primeiro amor não significa voltar à imaturidade espiritual, mas ao ardor do início de nossa fé. Lembre-se de onde caiu. Volte imediatamente ao primeiro amor. Rogue ao Pai que o reconduza à sala do banquete, onde o Noivo está à nossa espera: “Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte em mim era o amor” (Ct 2.4). “Jesus exorta: 'Lembra-te de onde caíste'. Noutras palavras, lembre-se de quando aceitou a Jesus. Reviva

aquele sentimento inicial, quando você realmente amava a Jesus. Você pode lembrar-se de como amava a Jesus? De como era apaixonado por Ele?” Steven J. Lawson “Igrejas são como pessoas. Não ha duas iguais. Cada uma tem sua própria personalidade, forma e tamanho. Possuem suas próprias forças e fraquezas, vivendo também em lugares diferentes. Isto acontecia no primeiro século. Jesus endereçou-se às igrejas de Apocalipse 2 e 3, porque elas não eram iguais. Cada uma tinha sua identidade e personalidade. Consequentemente, o que Jesus tem a dizer a cada igreja é algo singular. Cada carta é feita sob medida; leva em conta as necessidades específicas, forças e fraquezas de cada congregação. Cada carta segue um padrão comum. O cenário. Em primeiro lugar, Jesus identifica cada igreja pela cidade em que se localiza. O remetente. Cada carta tem uma descrição única de Jesus Cristo, o remetente. Cada uma ajusta-se apropriadamente às necessidades de cada igreja. As virtudes. O Senhor elogia cada igreja - exceto Laodicéia - pelo serviço particular que lhe presta. O pecado. Cada igreja é admoestada, algumas vezes severamente, por causa de seu compromisso com o mundo. Há duas exceções, Esmirna e Filadélfia, as mais perseguidas” “O Cenário [da igreja de Éfeso] Uma viagem à velha Éfeso era como ir hoje a Nova Iorque ou Los Angeles. Era uma próspera metrópole, a mais proeminente cidade da Ásia Menor. Localizada no Rio Caster, a 4,8 Km do Mar Egeu, Éfeso era o maior centro comercial da Ásia. Aí, embarcavam-se as mercadorias através do Mediterrâneo, subindo o Caster, onde eram distribuídas ao mundo todo. Éfeso ficava na encruzilhada do mundo. Aqui, entrelaçavam-se quatro grandes estradas, trazendo negociantes e mercadores das mais importantes províncias romanas. Os efésios, por isso, eram mui avançados culturalmente. Eram cosmopolitas nas artes, dramas e urbanização. Éfeso era uma cidade livre. Por sua lealdade a Roma, estava autorizada a ter governo próprio. Nela, não havia guarnição romana. Nenhuma opressão pairava sobre a cidade. Era imune à influência e à tirania romanas. Éfeso era também o centro do paganismo. Uma das sete maravilhas do velho mundo está ali - o templo de Diana. Lugar de intensa idolatria, o templo era tão extenso quanto dois campos de futebol. Nele, floresciam a prostituição, as bebedeiras e as orgias. Não admira que tantos negócios viessem ao templo de Diana. No templo, criminosos achavam asilo. Era um céu para o perverso. Com suas prostitutas, eunucos, dançarinas e cantores, era o esgoto da iniquidade. Mas no meio dessa cidade, Deus plantara uma próspera igreja. É melhor desempenhar uma missão nas portas do inferno do que pregar ao coral dos anjos. Deus sempre constrói sua Igreja onde as circunstâncias parecem menos favoráveis. Esta é a graça de Deus.

O Remetente Para esta igreja, localizada em meio à tamanha idolatria e imoralidade, Jesus identifica-se da seguinte maneira: Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro:... (Ap 2.1) O Remetente não é nominado. Mas, obviamente, trata-se de Jesus Cristo. Ele é o mesmo que se revelara a João na estrondosa visão de Patmos. É o próprio Senhor ditando e elaborando a carta. Jesus dirige a carta ao anjo da igreja. A palavra anjo significa mensageiro. Refere-se ao que tem como ministério primordial levar a mensagem à congregação. Hoje, o chamaríamos de pastor ou ancião. É através dele que esta mensagem é trazida à igreja” Esmirna, a Igreja Confessante e Mártir Nada poderá calar a Igreja de Cristo, nem a própria morte. "Se fiei até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2.10c). Na igreja de Esmirna deparamo-nos com um paradoxo: a cidade era rica e opulenta, mas a igreja era pobre e padecia das mais sórdidas calúnias e perseguições. Diferentemente da igreja de Laodiceia, Esmirna era pobre materialmente, mas rica espiritualmente ("Mas tu és rico," - v.9). Era blasfemada e perseguida pelos que se diziam judeus, mas apreciada e elogiada pelo Rei dos judeus. A partir dessa igreja, Jesus de Nazaré nos ensina que as aparências podem enganar. Enquanto muitos, pela opulência exalada, pensam estar de pé aos olhos do mundo (mas não passam de caídos aos olhos divinos); outros, pela humildade e padecimento, estão em pé aos olhos de Deus. A Igreja de Cristo está sendo impiedosamente perseguida. Embora localmente pareça tranquila, universalmente está sob fogo cerrado. A perseguição não é apenas física. Os santos são pressionados tanto pela cultura, quanto pelas instituições de um século que, por jazer no maligno, repudia e odeia os que são luz do mundo e sal da terra. Esmirna é o emblema da igreja mártir. Se Laodiceia é a cara do mundo, Esmirna é o rosto do Cristo humilhado e ferido de Deus. Por isso, devota-lhe o mundo uma aversão insana e inexplicável. Mas como calar a voz daqueles, cujo sangue continua a clamar ao Juiz de toda a terra? Seu testemunho não será silenciado. Haverá de erguer-se tanto dos túmulos como dos lábios que se abrem com mansidão, para mostrar as razões da esperança cristã. Compartilhemos o testemunho de Esmirna Mesmo pressionada pelo inferno, soube como manter-se nas regiões celestiais em Cristo Jesus. ESMIRNA, UMA IGREJA MÁRTIR Esmirna, uma cidade soberba. A cidade de Esmirna, apesar de inferior a Éfeso e de não possuir os atrativos de Laodiceia, ufanava-se de ser a mais importante da região. Afinal, tinha lá as suas vantagens. Localizada na região sudoeste da Ásia Menor, era também afamada por seu porto e pela mirra que produzia. Utilizada na conservação de cadáveres, a essência era obtida espremendo-se a madeira da commiphora myrrha. Não é uma figura perfeita para uma igreja confessante e mártir? O PARADOXO DAS IGREJAS ESMIRNA (2.8 10) LAODICEIA (3.14-22) Fervorosa e espiritual (v.9). Pobre materialmente (v.9).

Morna (v. 16). Rica materialmente (v. l7).

Dependente de Deus (v. 10.) O Senhor Jesus disse: "Nada temas das coisas que hás de padecer"; “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”

(v. 10).

Autossuficiente (v. 17). O Senhor Jesus disse: “Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca";

“aconselho-te que de mim compres ouro

provado no fogo, para que te enriqueças,

e vestes brancas, para que te vistas, e

não apareça a vergonha da tua nudez; e

que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (vv. 16,18).

A igreja em Esmirna. Informa Lucas que, durante a estadia de Paulo em Éfeso, toda a Ásia Menor foi alcançada pelo Evangelho: “E durou isto por espaço de dois anos, de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos" (At 19.10). Infere-se, pois, tenha sido a igreja em Esmirna estabelecida nesse período. Conquanto plantada numa cidade opulenta, ela era pobre, mas ricamente florescia em Deus (Ap 2.9). Um dos mais notáveis bispos de Esmirna foi Policarpo (69-155 d.C.). Diante do carrasco romano, não negou a fé em Cristo. Esmirna, confessante e mártir. A igreja em Esmirna era confessional e mártir. Professando a Cristo, demonstrava estar disposta a sustentar lhe o testemunho até o fim; sua fidelidade ao Senhor era inegociável (Ap 2.10). Como está a nossa confissão nestes tempos difíceis e trabalhosos? APRESENTAÇÃO DO MISSIVISTA A uma igreja ameaçada no tempo, apresenta-se Jesus como a própria eternidade: “Isto diz o Primeiro e o Último, que foi morto e reviveu” (Ap 2.8). Nem a morte pode separar-nos do amor de Deus (Rm 8.35). O Primeiro e o Último. Sendo Jesus o Primeiro, todas as coisas foram criadas por seu intermédio. Sem Ele nada existiria, porque Ele é antes de todas as coisas (Jo 1.1-3). Por isso, o Senhor lembra ao anjo da Igreja em Esmirna que tudo estava sob o seu controle. Até mesmo os que lhe moviam aquela perseguição achavam-se lhe sujeitos; tudo era criação sua. Aliás, o próprio Diabo estava sob a sua soberania, pois também era criatura sua, apesar de reivindicar privilégios de criador (Ez 28.1 4,1 5). Sendo também o Último, Jesus estará na consumação de todas as coisas como o Supremo Juiz (Jo 5.27; Rm 2.16; 2 Tm 4.1). Portanto, os que se levantavam contra Esmirna já estavam julgados e condenados, a menos que se arrependessem de suas más obras. Esteve morto e tornou a viver (Ap 2.8). Conforme Jesus antecipara ao pastor de Esmirna, o Diabo estava para lançar algumas de suas ovelhas na prisão, onde seriam postas à prova (Ap 2.10). Todavia, nada deveriam temer, pois ao seu lado estaria Aquele que é a ressurreição e a vida (Jo 11.25). Somente Jesus tem autoridade para fazer-nos semelhante exortação, pois somente Ele venceu a morte e o inferno. Não desejava o Senhor Jesus que o anjo de Esmirna temesse aqueles, cujo poder limita-se a tirar-nos a vida física, mas aquele que, além de nos ceifar a vida terrena, tem suficiente autoridade para lançar-nos no lago de fogo (Mt 10.28). Por conseguinte, o martírio daqueles santos iria tão-somente antecipar-lhes a glorificação ao lado de Cristo. AS CONDIÇÕES DA IGREJA EM ESMIRNA Tribulação (Ap 2.9). O anjo da igreja em Esmirna sabia perfeitamente que a tribulação é um legado que recebemos do Senhor Jesus: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Tranquilizado por

essa promessa, o pastor de Esmirna refugiava-se na paz que excede todo o entendimento (Fp 4.7). Roguemos, pois, ao Senhor que console os que, neste momento de suprema provação, estão selando a fé com o próprio sangue. Oremos pelos mártires do século XXI. Pobreza. Se Laodiceia de nada tinha falta, Esmirna carecia de tudo. O próprio Senhor reconhece lhe a extrema pobreza: “Conheço a tua (...) pobreza” (Ap 2.9). Essa pobreza, todavia, era rica. Complementa o Cristo: “Mas tu és rico”. Sim, ela era rica, pois fora comprada por um elevadíssimo preço: o sangue de Jesus (1 Pe 1.18,19). Ataques dos falsos crentes. Além dos ataques externos, internamente a igreja em Esmirna era perseguida por falsos crentes a quem o Senhor Jesus desmascara: “Eu sei as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são a sinagoga de Satanás.” (Ap 2.9). O que buscava essa gente? Corromper a graça de Cristo através de artifícios humanos. Eles eram tão afoitos na disseminação de suas heresias e modismos, que se desfaziam em blasfêmias contra o pastor e a sua igreja. Mas na verdade estavam blasfemando de Cristo. Todavia, não haviam de ir adiante, pois em breve seriam julgados por aquele que sonda

mentes e corações (Ap 2.23). A Igreja de Cristo, nestes últimos dias, vem sendo atacada por falsos mestres e doutores. Disse-minando heresias e modismos em nossos redis, fazem comércio dos santos. E abertamente blasfemam o nosso bom nome. Não irão, porém, adiante; sobre os tais paira o juízo de Deus. Os crentes em prisão. Além dessas contrariedades, alguns membros da igreja em Esmirna (talvez os integrantes do ministério) seriam lançados na prisão, onde uma tribulação de dez dias aguardava-os (Ap 2.10). Foram eles executados? O que sabemos é que perseveraram até o fim, pois almejavam receber a coroa da vida. Não são poucos os crentes que, neste momento, acham-se presos pelo único crime de professar a fé em Cristo (Mt 24.9). Nossos irmãos são torturados e executados. Em nossas orações, não nos esqueçamos dos mártires. Oremos para que o nosso país jamais caia sob ideologias totalitárias e tirânicas como o nazismo e o comunismo. Somente os que conhecem a natureza da segunda morte não temem as angústias da primeira. Esta, posto que é morte física, termina uma jornada temporal; aquela, ainda que morte, não morre: inicia um suplício eterno. Eis porque Esmirna sujeitava-se à primeira, porque temia o dano da segunda. Mas a sua principal motivação não era o medo da segunda morte e, sim, o amor que tinha por aquele que é a ressurreição e a vida. Oremos pela igreja perseguida e mártir! As catacumbas de Roma não ficaram no passado. Num

século que se diz tolerante e democrático, acham-se catacumbas e covas tanto nas metrópoles do Oriente quanto nas megalópoles do Ocidente. "Não há repreensão para Esmirna. Nenhum membro é censurado. Embora não haja igreja perfeita aos olhos

de Cristo, diante de quem todas as coisas estão expostas e descobertas, Esmirna não apresenta nenhuma falha gritante." Steven J. Lawson “Os Vencedores Não Sofrerão o Dano da Segunda Morte (Ap 2.11) „Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte‟. Ao concluir esta carta, o Espírito relembra a todas as igrejas de que há alguma coisa pior do que a morte física. Há a „segunda morte', a separação final (Ap 20.11-15; 21.8). Esta morte implica numa eterna separação do plano, promessas, amor, misericórdia e graça de Deus. Fé, ou confiança, em Deus, não mais existirão; a salvação será impossível, e ninguém esperará por mudanças no futuro. A comunhão com Deus será para sempre perdida.

Por outro lado, os que são vitoriosos à medida que habitam no amor de Cristo pela fé, nunca terão medo da segunda morte, pois Deus tem lhes reservado um lugar na Nova Jerusalém, no novo céu e na nova terra. A implicação contida nesse versículo é que, se alguém não for vitorioso, sofrerá a segunda morte, no lago de fogo. Em Mateus 25.41, Jesus enfatiza que o fogo eterno não foi preparado para os homens, mas „para o diabo e seus anjos‟. Mas os que se recusarem a se arrepender, e se desviarem, ou descrerem no Filho de Deus, compartilharão do mesmo destino de Satanás” “Perseguição Governamental Esmirna sofria sob a tirania de Roma. Mais adiante, Jesus identifica tal tribulação como prisão ou encarceramento. A palavra tribulação (thlipsis, no grego) é muito radical. Literalmente, significa esmagar um objeto, comprimindo-o. Descreve a vítima sendo esmagada, e seu sangue, extraído. Descreve pessoas

esmagadas até a morte por uma enorme pedra. Também descreve a dor duma mulher ao dar à luz a filhos. Em Esmirna, os crentes eram dolorosamente esmagados sob as rígidas cláusulas da lei romana. Eram arrancados de suas casas, capturados nas feiras livres e levados cativos. César jogava toda a força de seu poderoso império sobre esta pequena igreja. E muitos desses santos já haviam selado seus testemunhos com o próprio sangue. Quando a igreja foi fundada em Jerusalém, era Israel quem lhe avultava como ameaça, e não Roma. Além do mais, vigorava naqueles dias a pax romana [...]. Embora cada país conquistado pudesse conservar seus próprios líderes e costumes, tinha de prestar cega obediência ao imperador. Aparentemente nada havia mudado. O povo ainda gozava certas liberdades políticas, religiosas e culturais, mas lá estava o Império Romano pronto a reprimir qualquer indisciplina. Mas tudo mudou repentinamente. Em 67 d.C., um louco chamado Nero subiu ao trono de Roma. Temendo perder o trono, Ele matou suas três primeiras esposas e a própria mãe. Sob sua insani-dade, as chamas da perseguição foram inflamadas contra a Igreja. Nero culpou os cristãos por muitos de seus erros políticos. Foi esta a perseguição mencionada nas duas epístolas de Pedro. Mas Nero morreu cedo, proporcionando momentâneo refrigério à Igreja. Em 81 d.C., porém, outro insano assume o poder. Domiciano era mais cruel que Nero. E logo uma segunda onda de perseguição levanta-se contra os cristãos. Esta é a perseguição a que Jesus se refere na carta à Esmirna. Ao expandir-se, Roma conquistou muitos territórios e países, gerando grande diversidade de

línguas e culturas no império. Como unificar tantas diversificações? [...] A adoração ao imperador foi a resposta. Uniria o império, pois obrigaria cada cidadão romano a prestar, uma vez por ano, pública lealdade diante do busto de César. Mas para os cristãos, adorar a César era uma traição ao Rei dos reis. [...] Ao invés de declarar: „César é Senhor‟, os primeiros cristãos bravamente confessavam: „Cristo é Senhor!‟ Como resultado, passou a Igreja a sofrer dolorosamente” Pérgamo, a Igreja Casada Com o Mundo Só há um modo de a Igreja de Cristo destronar a Satanás: manter a Deus no trono e combater a apostasia com a espada do Espírito. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo" (1 Jo 2.15,16).

A terceira carta de Jesus enviada ao pastor da igreja de Pérgamo. Esta encontrava-se inserida numa cidade marcada pela idolatria, onde o trono de Satanás estava estabelecido (Ap 2.12). Manter-se santo e fiel ao Senhor em meio aquela sociedade idólatra não era nada fácil. Porém, os crentes de Pérgamo eram fiéis e não negaram a fé em Jesus. Mesmo passando por muitas perseguições. Os crentes tinham fé, mas parece que lhes faltavam o discernimento bíblico e espiritual para combater os falsos ensinos. Havia um grupo de pessoas que tolerava os pseudomestres e práticas contrárias à Palavra de Deus. O povo do Senhor corrompia-se ao aceitar as doutrinas de Balaão. A Igreja do Altíssimo deve conhecer mais a Palavra de Deus a fim de que ensine a sã doutrina. Primeiro, vieram os discípulos de Balaão que, sob o manto de uma espiritualidade afetada e exótica, logo acharam guarida na igreja em Pérgamo. Depois, chegaram os nicolaítas que, embora atrevidos e afoitos, também não encontraram dificuldades para se acomodar entre as pobres e desprotegidas ovelhas. Quando o ministério local deu por si, já não havia mais nada a fazer: o terreno já estava tomado pelo inimigo. E o pastor da igreja? Ele sabia que a situação era grave, mas não ignorava o que acontecera ao seu antecessor. Ao reagir, o destemido Antipas foi

assassinado pelo grupo que sustentava o trono de Satanás naquela igreja. As coisas, porém, não haveriam de continuar daquele jeito. Já enojado, Jesus, através de João, envia uma carta ao anjo de Pérgamo, urgindo-o a retomar o cajado e apascentar o rebanho de conformidade com a sã doutrina. Caso contrário, o próprio Senhor batalharia contra aqueles iníquos com a espada que sai de sua boca. Como estão nossas igrejas? Será que, de alguma forma, não permitimos que o Diabo se entronizasse entre nós e não o percebemos? É hora de reagir contra o império das trevas. PÉRGAMO, O TRONO DE SATANÁS Pérgamo, a cidade dos livros e da ignorância espiritual. Situada às margens do Caíco e distante trinta quilômetros do Mar Egeu, Pérgamo era a mais importante metrópole da Mísia. Cidade antiga e rica, fizera-se afamada por sua biblioteca, cujo acervo chegou a ser estimado em duzentos mil volumes. De tal forma ela se achava ligada aos livros, que o seu nome tornou-se sinônimo destes: pergaminho. Seus operários sabiam como industriar a pele animal como suporte à escrita. Como uma cidade tão rica em livros podia ser tão pobre quanto ao conhecimento do verdadeiro Deus? Faltava-lhe a sabedoria do Livro dos livros (Pv 1.7). A Igreja em Pérgamo. Pérgamo, em grego, significa casado. É bem provável que a Igreja de Cristo haja sido implantada em Pérgamo quando da estadia de Paulo em Éfeso (At 20.31). Apesar de a cidade ser a guardiã do trono do próprio demônio, o Reino de Deus prevaleceu em seus termos. Se o trono era do Diabo, o cetro estava nas mãos de Cristo (Is 9.6). A ESPADA DE DOIS GUMES A espada afiada de dois gumes. A uma igreja casada com o mundo e que já se havia acomodado a duas ardilosas heresias, apresenta-se Jesus como “aquele que tem a espada aguda de dois fios” (Ap 2.1 2). Sim, contra as apostasias, só existe uma arma realmente poderosa: a Bíblia Sagrada — a espada do Espírito Santo (Ef 6.17; Hb 4.12). Manejando bem a espada do Espírito. Se temos semelhante arma, combatamos as mentiras que nos chegam aos arraiais como verdades. Cortemos pela raiz as heresias, misticismos e modismos que teimam brotar em nossos campos. Nessa luta, porém, saibamos como manejar a Palavra de Deus: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Guerreemos contra as inverdades doutrinárias que o Diabo, velada e abertamente, vem semeando na seara do Mestre (2 Pe 2.1).

"Contra as apostasias, só existe uma arma realmente poderosa: a Bíblia Sagrada a espada do Espirito

Santo." Claudionor de Andrade O DESTINATÁRIO Um anjo numa cidade infernal. Não era nada fácil ao anjo de Pérgamo habitar nessa cidade. Se por um lado, era coagido pelos pagãos a incensar o altar no qual César era divinizado; por outro, era constrangido a conviver com o paganismo que, a princípio sutil, ameaçava agora o remanescente fiel da igreja. Mas o Senhor Jesus estava de tudo ciente: “Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Ap 2.13). "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido

e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele

que o recebe”. Ap 2.17 Denota-se, pois, que os crentes infiéis e casados com o mundo, haviam entronizado Satanás na casa de Deus. Pérgamo era uma cidade infernal, mas o Senhor queria o seu anjo ali, para que ali fosse mani-festado o Reino dos Céus. O paganismo não ficou restrito a Pérgamo. Nestes últimos dias, o Diabo vem repaganizando o mundo através dos meios de comunicação. Há um panteão em cada praça. O testemunho e a perseverança de um anjo. Embora habitasse num lugar espiritual e moralmente hostil, o anjo da igreja em Pérgamo porfiava em manter o seu testemunho, como realça o próprio Senhor: “[...] reténs o meu nome e não negaste a minha fé” (Ap 2.1 3). Ele mantinha uma postura impecável como servo de Deus. Se parte de sua igreja achava-se casada com o mundo, ele e o remanescente fiel encontravam-se aliançados com o Cordeiro de Deus. Antipas, a fiel testemunha. Mui provavelmente, Antipas havia precedido o destinatário da carta no pastorado de Pérgamo. E pelo que depreendemos das palavras do Senhor, o fiel Antipas, cujo nome em grego significa “contra todos”, levantara-se para combater os apóstatas que haviam entronizado o Diabo naquela igreja. Por isso, ajuntaram-se todos para tirar-lhe a vida, conforme denuncia Jesus: “o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita” (Ap 2.13). Sim, Antipas não foi morto pelas autoridades romanas. Ele foi morto pelos que se diziam irmãos. Por conseguinte, caberia ao atual anjo de Pérgamo continuar a luta de Antipas. Levantar-se-ia ele contra os que detinham a doutrina de Balaão e sustentavam o ensino dos nicolaítas. AS HERESIAS DE PÉRGAMO Doutrina de Balaão. Ensino pseudobíblico que, torcendo as Sagradas Escrituras através de artifícios teológicos e hermenêuticos, corrompia a graça de Deus, apresentando aos santos uma teologia permissiva e eticamente tolerante (Jd 4). O objetivo dessa doutrina era levar o povo de Deus à prostituição e à idolatria, a fim de, enfraquecendo-os moral e espiritualmente, extorquir-lhes os bens materiais. Era a teologia dos ladrões. O patrono desta doutrina era Balaão, filho de Beor que, embora profeta e teólogo, utilizou-se da profecia e da teologia para levar a maldição ao arraial hebreu (Nm 25). Subornado por Balaque, rei de Moabe, ensinou-lhe como levar a maldição às tendas hebreias. Por isso, o apóstolo Pedro taxa-o de louco (2 Pe 2.15,16). E Judas acusa-o de venalidade (Jd 11). Balaão tinha os seus discípulos em Pérgamo. Estimulados pela ganância, utilizavam-se de sua influência teológica sobre a igreja, a fim de levá-la a noivar-se com o mundo. A doutrina dos nicolaítas. Não sabemos muita coisa acerca dos nicolaítas. O que sabemos é que a sua doutrina não destoava quase nada do ensino de Balaão. Pelo menos quanto ao conteúdo.

Se Balaão era dissimulado, sutil e teológico, os nicolaítas, fazendo abertamente comércio dos santos, publicamente apregoavam a repaganização da igreja, afirmando ser possível servir a Deus e aos ídolos. Utilizando-se de um linguajar bem elaborado, levaram muitos fiéis a se desviarem pelos caminhos da fornicação, do adultério e da idolatria. Escrevendo aos filipenses, o apóstolo Paulo afirmou: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Embora o cristão não tenha como evitar o lado “temporal” da vida, seu olhar deve fixar-se em sua redenção eterna. Jesus sabia da sedução que os bens; terrenos podem exercer sobre nós e por isso advertiu: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21). Por esse motivo, coloquemos o Senhor Jesus sempre em primeiro lugar. “Pérgamo é chamada ao arrependimento Apesar de a igreja em Pérgamo, como um todo, ser fiel a Cristo e às verdades do Evangelho, alguns dentre eles faziam-se passíveis da repreensão do Senhor. Os tais estavam comprometendo

sua fé com os baixos padrões morais e costumes pagãos daqueles dias. Tinham um comportamento idêntico aos dos israelitas nos dias de Moisés. Seguindo os conselhos de Balaão, um vidente e falso profeta, Balaque, rei de Moabe, usou belas jovens de seu reino para seduzir os israelitas, e induzi-los a participarem de suas festas idólatras, nas quais a imoralidade era praticada em nome da religião (ver Número 25.1-5; 31.15,16). Jesus chama a isto de prostituição (Ap 2.14). Deus não aceita ritos e cerimônias como desculpa para se quebrar os seus mandamentos. (Ver 2 Pe 2.15,16, onde por dinheiro, Balaão tenta manipular Deus para que amaldiçoasse a Israel.) Alguns estudiosos veem no nome hebreu de Balaão (Ap 2.14) um equivalente no grego Nikolaos, identificando os balaamitas como os nicolaítas do versículo 15. Entretanto, pelo contexto parecem ser dois a grupos diferentes. Pode ser que os nicolaítas encorajassem o mesmo tipo de desregramento desenfreado que os balaamitas, mas sem envolver idolatria. É claro que ambos os grupos possuíam perspectivas erradas acerca do amor e da liberdade do cristão" Tiatira, a Igreja Tolerante O verdadeiro amor tudo suporta, mas não pode tolerar o pecado, porque o amoroso Deus exige santidade e justiça de seus filhos. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (2 Co 6.14,15). Das sete cartas enviadas por Jesus às igrejas da Ásia Menor, a de Tiatira é a mais extensa. A

cidade de Tiatira não era política e religiosamente importante. Sua singularidade residia no aspecto comercial. Através da sua posição geográfica, o intercâmbio comercial da cidade se dava entre Europa e Ásia. Mas, no entanto, a idolatria estava presente nessa prática comercial. Os membros da igreja de Tiatira deveriam decidir o que fazer nessas circunstancias, já que muitos eram profissionais da área do comércio. Todavia, a igreja de Tiatira não sofria perseguição religiosa; o perigo estava dentro da própria igreja, e tinha um cognome: Jezabel; a mulher que sustentava o seguinte ensino: Não havia problema de os cristãos amalgamarem-se com o pecado. É nessa perspectiva cultural que se encontra a igreja de Tiatira. Ao contrário de Éfeso, a igreja em Tiatira fizera-se conhecida pelo amor. Mas se a primeira foi elogiada por odiar os maus, a segunda foi repreendida por tolerar o mal. Àquela faltava amor; a esta, o amor até sobejava. Mas nenhum dos dois amores era perfeito. O amor de Éfeso já não amava como antes; o amor de Tiatira amava mais do que antes, mas ainda não era capaz de repulsar o mal. Sim, Tiatira era amorosa. No entanto, fez-se réproba ao mostrar-se indulgente com uma profetisa que, à semelhança da mulher de Acabe, vinha induzindo os santos ao adultério e à idolatria. O

espírito de jezabel continua a rondar o rebanho do Senhor. Vigilância e oração. Nem tudo que parece espiritual vem do Espírito de Deus. A IGREJA EM TIATIRA A cidade de Tiatira. Embora rica, Tiatira não podia ostentar a riqueza de Éfeso nem era tão importante quanto Pérgamo. Mas sabia como usufruir do progresso que os romanos haviam trazido à região ao transformar a Ásia Menor numa província imperial. Sua produção de tecidos, principalmente o índigo, tornou-a famosa em todo o mundo. Tiatira fizera-se afamada também pelas guildas que agrupavam os profissionais das mais diversas áreas; eram uma espécie de sindicato. Hoje, quem visita a moderna Akhisar, na Turquia, depara-se com as ruínas de uma Tiatira que, outrora florescente, perdera todo o viço ao honrar mais a criatura do que ao Criador. A igreja em Tiatira. É bem provável que o Evangelho tenha chegado a Tiatira através de Lídia. Evangelizada por Paulo em Filipos, retornou à cidade natal como portadora das Boas Novas de Salvação (At 16.14). O apóstolo haveria de confirmar o trabalho ali estabelecido em sua terceira viagem missionária (At 19.10). A IDENTIFICAÇÃO DO DESTINATÁRIO Filho de Deus. Apresentando-se como o Filho de Deus, o Senhor torna bem patente, ao anjo da igreja em Tiatira, ser igual ao Pai (Jo 5.18; Fp 2.6; Ap 2.18). Implicitamente, declara-se o cabeça da Igreja. Sim, Jesus Cristo é o chefe supremo e incontestável tanto da igreja local quanto da Igreja Invisível, Militante e Universal. Portanto, peregrinemos de acordo com a sua vontade (1 Pe 1.1 7). Quando Deus Pai fez de Jesus Senhor e Cristo, estava aplicando o carimbo de aprovação total à vida e

ministério de Jesus." David R. Nochols Onisciente. Seus olhos são “como chama de fogo” (Ap 2.18). Sim, Jesus é onisciente. Ele tudo sabe, tudo conhece, tudo vê (Jo 2.25; 16.30). Sonda-nos as mentes e os corações (Ap 2.23). Portanto, o Senhor sabia muito bem o que se passava na igreja em Tiatira. O que ocorre em nossas igrejas não está oculto aos olhos do Filho de Deus. É tempo de conserto e avivamento. Supremo Juiz. O poder judiciário do Filho de Deus é simbolizado pelo bronze polido de seus pés. Ele é o Juiz Supremo de todas as coisas, porque todas as coisas foram-lhe confiadas pelo Pai (Jo 5.22; Ap 2.18). Em breve, pois, Jesus haveria de submeter a severo julgamento tanto Jezabel quanto os que com ela adulteraram. Deus não mudou. Continua a julgar os lobos que, em sua Igreja, vestem-se como cordeiros, a fim de levar as ovelhas ao pecado (Mt 7.15). UMA IGREJA RICA EM OBRAS Antes de o Senhor Jesus censurar o anjo da igreja em Tiatira, passa a destacar-lhe as qualidades. Aliás, Tiatira, conforme já adiantamos, era tão rica em obras quanto Éfeso. Além disso, fizera-se elogiável pelo amor que consagrava a Deus. No entanto, ainda não havia alcançado o padrão de Filadélfia. Amor. O amor de Tiatira era maior do que antes, mas ainda não era perfeito. Sua imperfeição não estava em amar os maus; residia no aquiescer ao mal (1 Co 13.6,7). O amor que tolera o erro, ainda desconhece o que é certo. Deus ama o pecador, mas odeia o pecado de Jezabel e a abominação dos que, com ela, fizeram-se repugnantes aos seus olhos. Serviço. Obreira incansável, Tiatira vinha notabilizando-se no serviço a Cristo em favor dos santos (Ap 2.19). Evangelizava, socorria os mais necessitados e tudo fazia por expandir o Reino de Deus.

Imitando a apostólica Jerusalém, erguia-se como exemplo para as demais igrejas. Todavia, seu amor carecia de perfeições (1 Co 13.1-13). Fé. Por suas obras, Tiatira demonstra a sua fé (Tg 2.18). Uma fé, aliás, que não se limitava a um mero assentimento intelectual (Tg 2.19). Sua confiança em Deus era bem fundamentada. Tinha forças não somente para realizar o impossível, mas para mostrar uma perseverança que ousava além dos limites humanos. Paciência. A paciência é a virtude que nos capacita a suportar o insuportável (Rm 5.4). Sabemos que, juntamente com a luta, o Senhor vem com o escape sempre oportuno (1 Co 10.13). É por isso que o anjo de Tiatira mantinha-se perseverante e calmo. Abundância em obras. O anjo da igreja em Tiatira jamais se mostrou remisso. Trabalhando e esforçando-se cada vez mais, foi elogiado por Cristo por serem as suas últimas obras mais abundantes do que as primeiras (Ap 2.19). Se as primeiras eram boas, as últimas tinham a marca da excelência. JEZABEL, E AS PROFUNDEZAS DE SATANÁS Não obstante suas inigualáveis virtudes, o anjo da igreja em Tiatira foi reprovado por Cristo por estar tolerando uma mulher que, dizendo-se profetisa, encontrava-se a desencaminhar os fiéis à idolatria e à prostituição. A Jezabel de Tiatira. Idólatra e adúltera. Assim era a mulher de Acabe conhecida entre as tribos hebreias. Por causa de sua reputação, ela serviu para nomear a profetisa que, em Tiatira, induzia os homens ao adultério e à apostasia. Curiosamente, Jezabel, em hebraico, significa casta, mas em nada diferia ela de uma rameira (2 Rs 9.22). O ministério de Jezabel. Jezabel apareceu em Tiatira com uma nova doutrina que, em essência, era a velha mentira do Diabo (Gn 3.1-5). Apresentou um ensino novo, uma unção nova e, quem sabe, até um método novo de crescimento da igreja. Nos bastidores, era tudo isso conhecido como as profundezas de Satanás (Ap 2.24). O que parecia uma nova revelação era, na verdade, o engano antigo e caduco que levou nossos pais à ruína (2 Co 11.3). Além de profetizar, Jezabel ascendera à categoria de mestra na igreja (Ap 2.20). Profetizando e ensinando, seduzia a todos com a sua doutrina. Como lhe fora possível tamanha ascensão sobre o ministério? Não havendo ninguém que lhe barrasse os passos, ela transtornou todo o redil e comprometeu a ortodoxia e a pureza da igreja. A obra de Jezabel. Através de seus ensinos e profecias, a perversa Jezabel induz alguns homens à

idolatria e ao adultério (Ap 2.20). Muita vigilância. Não são poucos os que, sob o manto de uma espiritualidade afetada e caricata, desviam os fiéis a práticas vergonhosas e abomináveis. Cuidado com o rebanho que o Senhor lhe confiou (At 20.28,29). Zele pela sã doutrina e pelos bons costumes. Jamais permita que o lobo lhe devore as ovelhas, utilizando-se de seu púlpito (1 Tm 1.3; 4.16). Em sua misericórdia, Deus concedeu um tempo de arrependimento a Jezabel e aos que com ela pecaram (Ap 2.21). Buscaram eles o favor do Senhor? Não temos o desfecho dessa história. Apesar de estarmos em plena era da graça, o Deus do Antigo Testamento não mudou. Se Ele puniu a Acã, não deixou impunes Ananias e Safira. Busquemos, pois, no Deus de amor, a perfeição de nosso amor. Não basta amar mais do que antes, é urgente amar como nunca: perfeita e integramente. O perfeito e íntegro amor, embora suporte os maus, não pode tolerar o mal; apesar de amar o pecador, não pode indultar o pecado.

"Jesus reconhece que nem todos na igreja de Tiatira haviam dado ouvidos às falsas profecias e aos ensinos sedutores desta Jezabel. Por isto, deixa uma palavra de conforto ao restante dos crentes: não imporá „outra carga‟ (ou responsabilidade) sobre eles." Stanley M. Horton “A carta à Igreja em Tiatira A cidade de Tiatira estava localizada a aproximadamente sessenta quilômetros a nordeste de Pérgamo. Era um importante centro industrial e comercial da região de Lídia. Na época em que o livro do Apocalipse foi elaborado, essa cidade estava em grande desenvolvimento e ainda viriam dias mais prósperos. Era também a sede de um grande número de associações de mercadores, in-clusive daqueles que trabalhavam com vários metais. O nome da cidade aparece apenas uma outra vez no Novo Testamento, como a cidade natal de Lídia, uma cristã vendedora de tecidos de púrpura na cidade de Filipos (At 16.14). A descrição de Jesus, com “os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao latão reluzente" (2.18) tem sido, há muito, entendida como referência à florescente indústria de metais de Tiatira.

Uma descrição semelhante aparece duas outras vezes no Apocalipse (1.14,15; 19.12; cf. Dn 7.9). Essa impressionante imagem lembra o quarto homem, “semelhante ao filho dos deuses” que se colocou no fogo, ao lado de Sadraque, Mesaque e Abedenego (Dn 3.25). O leitor se lembrará que esses três homens se recusaram a inclinar-se perante a estátua de um outro imperador com alusões à divindade - e que Deus os livrou” “Jezabel É Julgada Apesar de todas as coisas boas que Jesus disse sobre a igreja em Tiatira, Ele tem contudo outras contra ela. O problema em Pérgamo parece ter se originado de pressões vindas de forças pagãs („o trono de Satanás‟ 2.13), de fora da igreja. Mas o problema em Tiatira foi iniciado e fomentado por uma mulher apóstata, membro da igreja. No lugar de „aquela mulher‟, alguns antigos manuscritos trazem „sua mulher‟, que poderia significar „sua esposa‟, ou seja: esposa do pastor. Qualquer que seja o caso, o pastor e a igreja toleravam-na porque a consideravam profetisa. Jesus, entretanto, a chama Jezabel. Na realidade, ela é pior do que a jezabel do Antigo Testamento, esposa do rei Acabe, que tentou substituir a adoração ao Senhor, em Israel, pelo culto a Baal, buscando fazer deste um deus nacional. Esta Jezabel, que se diz profetisa, colocava suas palavras e ensinamentos acima dos de Cristo e dos apóstolos. Não somente ensinava que era lícito, aos olhos de Deus, cometer adultério espiritual - participar das adorações idólatras e imorais - como também seduzia, com muita perspicácia, os crentes que realmente procuravam servir ao Senhor, e que lhe eram fiéis. Note que Jesus chama a estes de „meus servos‟. As boas coisas que Jesus disse da igreja poderiam ser ditas sobre eles. Contudo, estavam agora sob a influência das profecias e ensinos desta Jezabel. Dando-lhe atenção, tornaram-se vítimas. As profecias devem ser testadas pelas Escrituras; não podem estar baseadas num único versículo, ou metade num versículo aqui e a outra noutro lugar. As profecias devem estar de acordo com os grandes ensinamentos da Bíblia. Os que pertencem ao corpo de Cristo devem julgá-las (1 Co 14.29). Assim, à medida que nos aprofundamos no conhecimento das Escrituras, o Senhor mesmo iluminará nossos corações e mentes, concedendo-nos sua maravilhosa luz. Jesus já havia tratado com esta Jezabel, e lhe dado um período de tempo („espaço‟) para que se arrependesse. Mas ela não se arrependeu de sua fornicação - o adultério moral e espiritual. Ela não mudou suas atitudes básicas, e ainda ensinava que a mistura da verdadeira adoração com práticas e adorações pagãs não constituíam qualquer pecado” Sardes, a Igreja Morta Somente o Espirito Santo pode reavivar a Igreja e levá-la a posicionar-se como a agencia por excelência da Remo de Deus "Desperta, o tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá" (Ef 5.14).

A igreja de Sardes se encontrava morta espiritualmente. Aparentemente estava bem, o seu exterior físico era excelente. No entanto, podemos definir essa igreja da mesma maneira que Cristo definiu os escribas e os fariseus: “Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mt 23.27). Mesmo sendo uma igreja morta espiritualmente, Sardes abarcava remanescentes fiéis ao Senhor. Atualmente há igrejas que se encontram como a de Sardes: mortas na vida espiritual. Mas, graças ao Senhor, há dentro dessas igrejas homens e mulheres que permanecem fiéis a Deus. A carta à Igreja de Sardes é um aviso de Cristo para que não nos descuidemos da comunhão com Ele. A igreja em Sardes foi morrendo aos poucos até esvaziar-se por completo do Espírito Santo. Agora, já não passava de um cadáver. Mas aos olhos humanos, parecia bem viva. Assemelhava-se aos defuntos preparados em ricas funerárias. Bem maquiada e vestida ricamente, impressionava por sua vida sem vida. Ela, porém, já começava a cheirar mal. Muitas igrejas, hoje, assemelham-se a Sardes. Morreram e não o sabem. Vivem do passado, pois já não existem no presente. Ao invés do registro do novo nascimento, o atestado de um óbito que poderia ter sido evitado. Era só angustiar-se por um avivamento. Todavia, o Senhor Jesus quer reavivá-las. O Espírito Santo haverá de soprar-lhes a vida, para que se reergam neste vale de ossos sequíssimos. Somente um reavivamento ressuscitará as igrejas que, apesar de terem história, já não fazem história. A IGREJA EM SARDES A cidade de Sardes. A cidade de Sardes, por estar situada a quinhentos metros acima do nível do mar, considerava-se inexpugnável. Ela orgulhava-se também de seus fabulosos tesouros. Suas abundancias vinham, em parte, do rio Pactolos, que lhe fornecia ouro e prata em grandes quantidades. Suas águas, de tão excelentes, eram tidas como indispensáveis a boa saúde. Sardes fazia parte do Reino da Lídia, cujos monarcas tornaram-se notórios por sua magnificência. Haja vista o fabuloso Creso. Ascendendo ao trono no sexto século a.C., este rei acumulou tantos bens, que o seu nome veio a tornar-se sinônimo de riqueza. No mundo antigo, este ditado era corrente: “Rico como Creso”. Quem visita, hoje, a Turquia, espanta-se com as ruínas de Sardes. Nem sombra há daquele reino que se elevava aos céus. A igreja em Sardes. Fundada provavelmente pelo apóstolo Paulo, a igreja em Sardes exalava

abundante vida. De um amontoado de gente oriunda de várias etnias, o Espírito Santo batizou a todos no corpo de Cristo (Rm 6.3). E apesar da diversidade cultural, todos agora achavam-se irmanados no Autor da vida (Nm 27.16; Jo 17.2; At 3.15). Mas, não demorou muito, e Sardes começou a necrosar-se; morria e não percebia que estava morrendo (Ap 3.1). Sardes, agora, vivia de aparências. Embora parecesse avivada, jazia sem vida. Sua liturgia até lembrava o cenáculo, mas não passava de uma bem ritmada marcha fúnebre. Este é o retrato de algumas igrejas. No exterior, a caiadura bela; no interior, o acúmulo de mortos (Mt 23.27). E os que ainda vivem já não suportam o mal cheiro dos que apodrecem moral e espiritualmente. A IDENTIFICAÇÃO DO MISSIVISTA À igreja em Sardes, apresenta-se Jesus como aquele que tem os sete Espíritos de Deus. Dessa forma, o Senhor realça a ação plena do Espírito Santo na Igreja de Cristo. Somente o Consolador pode vivificar uma igreja morta. Lembra-se do vale de ossos secos visto por Ezequiel? Se buscarmos a Deus, o Senhor Jesus assoprará sobre nós o seu Espírito. Cada osso com o seu osso

se ajuntará; os nervos e tendões aparecerão e as carnes vestirão todos os esqueletos, prontificando-os como o poderoso exército de Jeová (Ez 37). O que tem os sete Espíritos de Deus (Ap 3.1). Era urgente que Sardes soubesse: sem o Espírito Santo, a vida é impossível. Foi Ele quem transmitiu movimento e beleza a uma terra sem forma e vazia (Gn 1.1,2). No ventre da virgem de Nazaré, concebeu o Filho de Deus (Lc 1.35). E no Pentecostes, derramou-se sobre os discípulos (At 2.1-4). Sem o Espírito Santo, não há regeneração, pois o novo nascimento é operado por Ele (Jo 3.5). Se Sardes estava morta, carecia com urgência do Espírito da vida (Rm 8.2). Os sete Espíritos de Deus. Existe apenas um único Espírito Santo (Ef 4.4). Sua ação, todavia, é tão perfeita e eficaz, que Isaías setuplamente o descreve: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2). Através da sétupla ação do Espírito Santo, o Senhor Jesus traz novamente vida as igrejas que, à semelhança de Sardes, deixaram-se esvaziar de Deus. As sete estrelas. Apresenta-se Jesus, também, como o soberano da Igreja. Tanto local, quanto universalmente, Ele é a cabeça da Igreja, pois resgatou-a com o seu precioso sangue (Ef 5.23; 1 Pe 1.17-19). Eis porque os pastores, no Apocalipse, são representados como as estrelas que se acham na destra do Cordeiro (Ap 1.20; 3.1). Portanto, se alguém quer brilhar, que brilhe nas mãos do Senhor como luz de um mundo que jaz no maligno. A DOENÇA E A MORTE DE UMA IGREJA Aos olhos das demais igrejas, Sardes exibia-se bela e viva. Mas aos olhos de Cristo, não passava de um defunto bem produzido. Aliás, a sua certidão de óbito já estava lavrada com a explicitação da causa mortis. Perda de memória. A primeira doença a atingir a igreja em Sardes foi a perda de sua memória espiritual. Embora vivesse do passado, já não conseguia lembrar-se do que recebera de Deus. A exortação do Senhor é urgente: “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te” (Ap 3.3). A situação de Sardes era mais grave do que a de Éfeso. Esta igreja ainda podia lembrar-se do primeiro amor e voltar ao local onde caíra. Mas aquela, posto já estar morta, carecia de uma res-surreição; um grande e poderoso reavivamento. O Senhor Jesus, porém, tanto nos restaura a memória espiritual, como nos faz ressurgir dentre os mortos (Ef 5.14). Desleixo. Esta foi a segunda doença de Sardes: desleixo. Embora não sejamos perfeitos, nossas obras têm de primar pela excelência. A igreja em Sardes, todavia, desprezando o padrão divino,

fizera-se tão relapsa, que o Senhor já não a suportava: “Não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus” (Ap 3.2). No âmbito do Reino de Deus, a perfeição é o padrão mínimo aceitável, conforme recomenda o apóstolo: “se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria” (Rm 12.7.8). A perfeição na Igreja de Cristo só é possível se amarmos o Cristo da Igreja. De que forma tratamos a Obra de Deus? Lembremo-nos da advertência de Jeremias: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente!” (Jr 48.10). Descaso para com o remanescente fiel. No necrotério de Sardes, havia alguns crentes que ainda respiravam. E o Senhor estava preocupado com eles: “Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer, porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus” (Ap 3.2). Jesus queria preservar a vida daqueles poucos homens e mulheres que não haviam contraído as moléstias deste século: orgulho, rebelião, adultério, fornicação, heresias, roubo, cobiça, calúnias.

É hora de confirmar os que ainda respiram. Confirmemo-los através da Palavra de Deus, da oração, da comunhão dos santos e do serviço evangelístico e missionário. Quanto aos que já mor-reram, que ouçam a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5.14). Se o anjo da igreja em Sardes não cumprisse os seus deveres, teria o nome riscado do Livro da Vida: “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Ap 3.5). Sabe o que isso significa? Separação eterna de Deus. Sim, desempenhar o ministério cristão de forma relapsa e profana pode levar o obreiro a comprometer a própria salvação. Muito cuidado! Finalmente, irmãos, a Igreja de Cristo é lugar de vivos. Nosso Deus não é Deus de mortos (Mc 12.27). “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e

confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos' (Ap 3.5). Sabe o que isso significa? Separação eterna de Deus." Claudionor de Andrade “O que Tem os Sete Espíritos Jesus declara ser o que possui os sete Espíritos de Deus. Sete é o número da perfeição e da plenitude. Isto não significa que haja sete Espíritos Santos. Há apenas um Espírito de Deus. Mas quando o Espírito chega, vem pleno e com perfeição de poder. Apenas um espírito cheio de energia pode inflamar os corações, dar energia ao louvor, convencer do pecado, quebrantar, tirar o fardo e habilitar ministros. A chave para o reavivamento nesta - e em todas as igrejas mortas - está com Cristo. Apenas Jesus pode derramar o Espírito sobre uma congregação. E apenas o Espírito Santo pode reavivar a igreja. O reavivamento acontece apenas através da prerrogativa divina, jamais pela vontade humana. O profeta Zacarias disse: „Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos (Zc 4.6)‟”. Filadélfia, a Igreja do Amor Perfeito Amar não é suficiente. É urgente que o nosso amor seja perfeita como perfeito é o amor com que Deus nos amou. “Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele" (1 Jo 2.5). Essa igreja e a de Esmirna foram as únicas que receberam nenhum tipo de repreensão do Senhor. Sabemos que não existem igrejas ou pessoas perfeitos. Como ser humano, estamos sujeitos ao erro. Todavia, como servos de Cristo e igreja do Senhor, não amamos o pecado e não somos mais dominados por ele. Não temos mais prazer no erro. Devemos viver de modo santo, buscando sempre guardar a Palavra de Deus e exaltar o nome de Jesus, a fim de que no Dia do Senhor, que está bem próximo, possamos ouvir: "Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o Reino que está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.35). Filadélfia não era tão importante quanto Éfeso, nem tão rica como Laodiceia. No entanto, possuía um amor que tirava forças da fraqueza. E, de sua pobreza temporal, extraía bens eternos para enriquecer o mundo. Se a igreja em Filadélfia tinha algum segredo, era o amor que ela santificava a Cristo. A uma igreja amante como Filadélfia, o Amado abre uma porta que ninguém poderia fechar. Sim, Jesus escancara-lhe os portais da evangelização e da obra missionária, levando-a a avançar como Reino de Deus além de suas fronteiras. Quando a igreja local é amorosa, logo Deus a universaliza. FILADÉLFIA, A CIDADE DO AMOR FRATERNAL

A história de Filadélfia. Filadélfia foi estabelecida pelo rei Átalos Filadelfos II de Pérgamo em 189 a.C. Ao construir a cidade, tinha como objetivo helenizar a região que, até aquela época, usava como língua comum, o gálico. O território da bíblica Filadélfia é ocupado, hoje, pela cidade turca de Alasehir, situada a 130 quilômetros ao leste de Esmirna. A igreja em Filadélfia. À semelhança das demais igrejas da Ásia Menor, Filadélfia também foi estabelecida ou pelo apóstolo Paulo, ou por algum membro de sua equipe (At 19.10). Poucas in-formações temos dessa congregação, que passaria à história como a igreja do amor fraternal. A essa igreja, endereçou o Senhor Jesus uma carta carinhosa e terna. A IDENTIFICAÇÃO DO MISSIVISTA Ao anjo da igreja em Filadélfia, apresenta-se o Senhor Jesus como aquele que é Santo e

Verdadeiro (Ap 3.7). Somente alguém com essas credenciais far-se-ia digno de receber do Pai a chave da casa de Davi, para abrir-nos todas as portas da oportunidade (Is 22.22). Jesus, o Santo de Deus (Ap 3.7). A santidade é um dos principais atributos de Cristo. Embora separado do pecado, Ele não se separou dos pecadores, mas ofereceu-se, amorosa e sacrifical-mente, para salvar-nos de nossas iniquidades (Hb 2.14). Se Ele é santo, de sua Igreja requer santidade e pureza (1 Pe 1.16). Portanto, Filadélfia deveria fazer-se notória também pela santidade, pois sem esta ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Nossa igreja é santa? Ela segue a paz com todos? Verdadeiro (Ap 3.7). Apresentando-se também como verdadeiro, o Senhor Jesus demanda de sua Igreja uma postura verdadeira e confessante. Filadélfia tinha tais características. Por isso, estava disposta a professar o nome de Cristo até o fim. Ela não se conformava com este mundo. A chave da Casa de Davi. Jesus é o representante mais autorizado da casa de Davi, pois somente Ele reuniu as condições necessárias para exercer o tríplice ministério messiânico: profeta, sacerdote e rei (Sl 110.1-7). Dessa forma, ficou ao seu encargo a chave da Casa de Davi que, no Antigo Testamento, fora confiada a Eliaquim (Is 22.22-25). Apresentando-se assim a Filadélfia, Ele deixa bem claro que, na expansão do Reino de Deus, ne-nhuma porta haverá de prevalecer contra a Igreja, porque Ele as abrirá (Mt 16.13-19). Portanto, se nos dispusermos a alcançar os confins da terra, certamente seremos bem sucedidos. O que estamos esperando? Aleluia! Não há portas fechadas aos que se dispõem a ganhar o mundo para Cristo. UMA IGREJA AMOROSA, PACIENTE E CONFESSANTE Sendo rica em amor, Filadélfia era também abundante em obras e virtudes teológicas (Ap 3.8). Eis alguns traços da personalidade dessa igreja tão amorosa e tão amada: Amar é a maior das obras. Embora nenhuma de suas obras haja sido particularizada por Cristo, a igreja em Filadélfia cumpria zelosa, e perseverantemente, os termos da Grande Comissão (Mt 28.19,20; At 1.8). O que disso concluímos? Somente uma igreja amorosa se preocupa com a evangelização e com a obra missionária. Que exemplos temos nas igrejas da Macedônia (2 Co 8.1-6). Força na fraqueza. Filadélfia não era uma igreja forte (Ap 3.8). Mas pela fé, sabia como tirar forças da fraqueza (Hb 11.34). Portanto, não importa se a sua igreja é pequena: faça grandes coisas para Deus. Ela é pobre? Enriqueça os miseráveis com o Evangelho de Cristo. Ela é desconhecida? Leve os pecadores a serem conhecidos como filhos diante do Pai.

Amorosa perseverança. Em meio às perseguições, Filadélfia jamais negou o nome do Senhor (Ap 3.8). Ela não capitulou diante do Império Romano, pois estava compromissada com o Reino de Deus. Além das tribulações externas, a igreja em Filadélfia enfrentava, no âmbito doméstico, as investidas de um grupo denominado de sinagoga de Satanás (Ap 3.9). Tratava-se de uma gente herege e ímpia que, desfraldando impiamente a bandeira da Lei de Moisés, buscava anular a graça de Cristo. Paulo, aliás, tivera muitas dificuldades com esses indivíduos (Cl 1.1-7). As dificuldades que os falsos obreiros causavam à Filadélfia não eram pequenas. Todavia, haveriam eles de reconhecer que a igreja, embora fraca, contava com um forte defensor: “Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás (aos que se dizem judeus e não são, mas mentem), eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo" (Ap 3.9). Estejamos, pois, tranquilos. Jesus batalha nossas batalhas e guerreia nossas guerras. FILADÉLFIA NOS ÚLTIMOS DIAS Enquanto Laodiceia existia para o aqui e o agora, Filadélfia tinha uma perspectiva escatológica verdadeiramente bíblica. Ela encarava com seriedade a iminência da volta de Jesus Cristo. A iminência da volta de Jesus. Em sua carta à igreja em Filadélfia, o Senhor Jesus alerta-nos: “Eis que venho sem demora” (Ap 3.11). Nunca estas palavras fizeram-se tão urgentes quanto hoje. Basta ler os jornais, para se confirmar o cumprimento das profecias que preanunciam o arrebatamento da Igreja. Tenho certeza de que Filadélfia, ao receber tal exortação, alegrou-se muito, pois, amante como era, suspirava pelo Amado (2 Tm 4.8). E nós? Ama realmente a volta do Senhor? A Grande Tribulação. Muitas eram as tribulações que se abatiam sobre Filadélfia. De uma coisa, porém, sabia aquela amantíssima igreja: o Senhor não permitira viesse ela a ser alcançada pela Grande Tribulação. É o que nos promete Jesus: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap 3.10). Não tenha medo. Antes que chegue a angústia, Jesus virá arrebatarnos. E assim estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.13-17). A coroa de glória. A igreja em Filadélfia já havia recebido sua inteira aprovação do Senhor. No en-tanto, haveria ela de mostrar-se vigilante e cuidadosa para que ninguém lhe furtasse o galardão: "Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11). Estamos nós vigilantes e cuidadosos com o que nos confiou Jesus? Não permita que o Diabo lhe roube no tempo os bens que o Senhor lhe preparou na eternidade (Ap 2.10). Mantenhamo-nos fiéis. O Senhor Jesus não tarda. Em seu inconfundível amor, promete-nos: "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome" (Ap 3.12). Sabe você o que significa esta promessa? Além de termos o privilégio de morarmos nos céus por toda a eternidade, seremos lá tidos como ilustres. Sobre nós estará o nome de Deus, do Noivo e da Jerusalém Celeste. Quem tem ouvidos ouça o que o Espirito diz às Igrejas. “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome

do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e

também o meu novo nome." Ap 3.12

“Filadélfia Tinha sido fundada pelos cidadãos de Pérgamo, em uma região fronteiriça, como uma porta de entrada ao platô central da Ásia Menor. De Filadélfia, saíam rotas de comércio que levavam a Mísia, Lídia, e Frigia. A rota postal do império romano também passava por Filadélfia, e a cidade ganhou o nome „Porta para o Oriente‟. As planícies ao norte eram propícias para a plantação de uvas, de maneira que a economia de Filadélfia se baseava na agricultura e na indústria. O terremoto de 17 d.C., que tinha, destruído Sardes, também tinha sido particularmente devastador em Filadélfia, porque a cidade estava próxima a uma linha de falha geológica e sofreu muitos tremores de terra subsequentes. Isto fazia com que a população se preocupasse e levava muitos deles a viver fora do limites da cidade. Filadélfia era uma igreja pequena em uma área difícil, sem prestígio e sem riquezas, desencorajada porque tinha crescido. Mas Cristo não tinha palavras de repreensão para esta igreja pequena e aparentemente insignificante, e Ele descreveu-se à igreja de Filadélfia como o que é santo, o que é verdadeiro. Este era um título familiar de Deus (veja Is 40.24; Hc 3.3; Mc 1.24; Jo 6.69)” Laodiceia, uma Igreja Morna A igreja que não busca os interesses do Reino de Deus está fadada ao fracasso, ao esquecimento e á indigência espiritual. "Mas buscai primeiro o Remo de Deus. e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33). A igreja de Laodiceia recebe a sétima e última carta. Infelizmente a situação espiritual dessa igreja era miserável. Uma igreja em que os bens materiais sobejavam, mas desprovida espiritualmente. Nem quente, nem fria, uma igreja morna, indiferente a Palavra de Deus. Porém, o Senhor Jesus a amava e por isso aconselhou que buscasse um genuíno avivamento (Ap 3.18). O Senhor Jesus não quer que seus filhos se percam. Ele é aquele que traz o nosso pecado à tona, nos ensina como abandoná-lo e nos perdoa quando de coração sincero nos arrependemos. Laodiceia de nada tinha falta; possuía tudo em abundância. Aos olhos do Senhor, porém, não passava de uma igreja pobre, cega e miserável. O que lhe sobejava em riquezas temporais, faltava-lhe em bens eternos. Ela retrata as igrejas que, desconstruindo-se como Reino de Deus, reconstroem-se como impérios humanos. Jesus não mudou. Continua a zelar pela qualidade espiritual de sua Igreja. Ele requer sejamos fervorosos no espírito, porque não haverá de aturar crentes mornos e indiferentes às reivin-dicações de sua Palavra. A mornidão espiritual é repugnante ao Senhor. Observemos, pois, com reverência e temor, as advertências que nos reservou o Filho de Deus

nesta escola dominical. A IDENTIFICAÇÃO DE JESUS Tendo em vista a soberba e a presunção espiritual da igreja em Laodiceia, uma das principais ci-dades da Ásia Menor, apresenta-se o Senhor Jesus com irrecorríveis credenciais: “Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus" (Ap 3.14). A testemunha fiel e verdadeira. Se Laodiceia vive de mentiras e de aparências, Jesus não tem outra alternativa senão a de apresentar-se, ao seu pastor, como a Testemunha Fiel e Verdadeira. Conclui-se, pois, que a Igreja de Cristo tem a obrigação de sustentar a verdade evangélica neste século maligno e mentiroso (1 Tm 3.15). Mas como poderá uma igreja morna e que tem a cara do mundo levantar-se como a voz profética de Deus? O princípio da criação de Deus. O anjo da igreja em Laodiceia, ignorando a suficiência divina, extravasa-se em presunções: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta" (Ap 3.1 7).

Agora, porém, ele terá de saber que Jesus, como o princípio da criação de Deus, é o dono de todas as coisas, porque todas as coisas foram por Ele criadas (Jo 1.3). Sim, tudo quanto há no mundo existe por causa dele e para Ele (Rm 11.36). Igreja rica não é aquela que tem ouro e prata, mas aquela que ainda pode declarar no poder do Espírito Santo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda" (At 3.6). Sim, igreja abastada é aquela que, embora pobre, consagra ao Senhor preciosas almas. "Se Laodiceia fosse fria, buscaria o calor de um avivamento; se quente, espalharia esse mesmo avivamento

até aos confins da terra.” Claudionor de Andrade A SITUAÇÃO ESPIRITUAL DA IGREJA DE LAODICEIA Onisciente que é, conhecia o Senhor Jesus a real situação de Laodiceia. Esta igreja, que vivia uma vida de aparências e mentiras, é desmascarada pela Testemunha Fiel e Verdadeira. Mornidão espiritual. Se Laodiceia fosse fria, buscaria o calor de um avivamento; se quente, espalharia esse mesmo avivamento até aos confins da terra. Morna, porém, faz-se indiferente a Deus e à sua Palavra. Por isto, o Senhor repreende-a: "Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente!” (Ap 3.1 5). Arrogância espiritual. Além dessa indiferença doentia e crônica às coisas de Deus, o anjo da Igreja em Laodiceia era soberbo e arrogante. Supunha que, por ser rico e de nada ter falta, achava-se acima das providências divinas. A prosperidade levara-o ao orgulho fatal. Somente um tolo diria tal coisa: "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” (Ap 3.17). O que nos lembra esse discurso? A retórica do querubim ungido ao apostatar-se de sua posição junto ao trono do Altíssimo (Is 14.13,14). Comportam-se assim as igrejas que, por causa de sua prosperidade material, julgam-se ricas, mas espiritual e ministerialmente são paupérrimas. Falta de percepção do próprio eu. Apesar de todos os seus bens materiais, Laodiceia em nada diferia de um esmoler espiritual: "e não sabes que é um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3.17). Se Adão logo após a Queda percebeu-se nu, o pastor da igreja em Laodiceia julgava-se bem vestido e ornado. Se o primeiro homem teve os olhos abertos para enxergar a própria nudez, o anjo de Laodiceia achava-se, mesmo despido, em trajes de gala. E se Adão, reconhecendo a própria carência, coseu aventais da figueira, aquele obreiro, embora descoberto, desfilava toda a sua nudez diante das ovelhas. Infelizmente, ninguém tinha coragem de dizer que o pastor estava nu. Foi preciso que o Pastor dos pastores endereçasse-lhe uma enérgica carta apontando-lhe a nudez, a pobreza e a cegueira espiritual. Como estão as suas vestes espirituais? São ainda alvas? Ou anda você nu sem o saber? "Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça" (Ec 9.8). COMO REAVIVAR UMA IGREJA MORNA Temos a impressão de que Laodiceia era um caso perdido. Todavia, o Senhor Jesus não havia desistido dessa ainda amada e querida igreja. Juntamente com a reprimenda e a censura, envia-lhe Ele a receita de um grande e poderoso avivamento: “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3.18). O anjo daquela igreja deveria fazer, com a máxima urgência, as seguintes aquisições junto ao Cordeiro de Deus: Ouro refinado pelo fogo. A menos que o anjo da Igreja em Laodiceia adquirisse os tesouros da sabedoria e da ciência em Cristo, continuaria a levar uma vida miserável (Cl 2.2,3). Como adquirir

tais tesouros? Cristo no-los coloca à disposição. Não quer você apossar-se desses tesouros e ter uma comunhão mais íntima com o Senhor? Vestiduras brancas. Redimidos pelo sangue do Cordeiro, nossas vestes tornaram-se mais alvas que a neve (Is 1.18). Sim, Ele mudou-nos as vestiduras que, manchadas pela iniquidade, envergonhavam-nos diante de sua justiça e santidade (Zc 3.1-10). Como está você diante de Deus? Nu? Ou revestido da graça divina? Colírio. A cegueira espiritual era o grande problema da igreja em Laodiceia: não conseguia ver a própria miséria nem podia perceber a sua nudez. Por isso o Senhor Jesus aconselha o seu anjo: “aconselho-te que de mim compres [...] colírio, para que vejas” (Ap 3.18). Sabe onde poderá você encontrar o colírio recomendado pelo Senhor? Nas Sagradas Escrituras. Lendo-a, conseguimos ver todas as coisas perfeitamente (Sl 119.105). Embora abastada e próspera, a orgulhosa Laodiceia não era rica diante de Deus. Voltemos à manjedoura! Enriqueçamo-nos daquEle que se fez pobre por amor de nós. Vençamos a mornidão espiritual, pois o Senhor Jesus promete-nos uma grande e verdadeira recompensa: “Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21). „Haveria esperança aos laodicenses caso eles se arrependessem. Mas isto implicaria numa mudança de atitude, de coração; enfim: um retorno ao antigo fervor. Acontecendo isto, deveriam consagrar-se a si

mesmo num zelo contínuo." Stanley M. Horton "Laodiceia era um rico centro de comércio. A prosperidade era a causa da mornidão daquela igreja. Eles haviam se tornado ricos e cheios de bens materiais. Com o dinheiro que já tinham, multiplicavam ainda mais suas posses. Estavam, agora, tão envolvidos com a vida material que eram induzidos a negligenciar a espiritual (Mt 13.22). Esta igreja não havia sofrido nenhuma perseguição. Não havia sido invadida pelas falsas doutrinas nem pelos falsos apóstolos. Para as outras igrejas, sua situação era excelente, ideal. Os cristãos de Laodiceia haviam se tornado tão satisfeitos e eufóricos com as coisas que o dinheiro pode comprar, que foram levados a perder o desejo pelas coisas de Deus. Infelizmente , não haviam aprendido ainda a „viver em prosperidade' (Fp 4.12) Como resultado, sua satisfação era falsa por ignorarem as coisas de Deus” Bibliografia Claudionor de Andrade (ARRINCTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.). (Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal. ed. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.). (HORTON, Stanley M. Apocalipse: As coisas que brevemente devem acontecer. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD,

2001.). (LAWSON, Steven J. As Sele Igrejas do Apocalipse: O Alerta Final de Cristo para seu povo. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.).

http://www.ebdareiabranca.com/2012/2trimestre/licao02.html