pula catraca n09

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PULA CATRACA N09 JORNAL DO MOVIMENTO PASSE LIVRE OUTUBRO.2013 - JOINVILLE | SC DISTRIBUIÇÃO GRATUITA mpljoinville.blogspot.com /MovimentoPasseLivreJoinville @mpljoinville [email protected] p.03 TARIFA ZERO EM PAULÍNIA p.02 p.04 AS MANIFESTACOES DE JUNHO E A REALIDADE DE JOINVILLE LICITACAO: ILEGALIDADE E CONTINUIDADE DO MODELO PRIVADO

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Edição 09 (outubro.2013) do Jornal Pula Catraca, do Movimento Passe Livre de Joinville-SC-Brasil.

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Page 1: Pula Catraca N09

PULA CATRACAN09 JORNAL DO MOVIMENTO PASSE LIVRE

OUTUBRO.2013 - JOINVILLE | SCDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

mpljoinville.blogspot.com

/MovimentoPasseLivreJoinville

@mpljoinville

[email protected]

p.03

TARIFA ZERO EM PAULÍNIA

p.02

p.04

AS MANIFESTACOESDE JUNHO E A REALIDADE DE JOINVILLE

LICITACAO:ILEGALIDADE

E CONTINUIDADE DO MODELO PRIVADO

Page 2: Pula Catraca N09

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notas do zarcão

As manifestações que tomaram o Bra-sil no mês de junho mostraram que é só com o povo na rua que conquistaremos verdadeiras mudanças. Graças à mobi-lização popular, a população de mais de cem cidades, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Cuiabá, João Pessoa, Belo Horizonte, Recife, Vitória, entre outras, conseguiram reverter os aumentos de tarifa e agora está pagando um pouco menos pelo seu direito de ir e vir.

Reduçoes das tarifas no Brasil

PEC 90: Transporte como direitoA Proposta de Emenda Constitucional 90, iniciativa da Deputada Federeal Lui-za Erundina que define o transporte como um direito social, foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em 25 de junho. Esta PEC define que o transporte, cujo acesso a Constituição considera “deter-minante à própria emancipação social e ao bem-estar daqueles segmentos que não possuem meios próprios de loco-moção”, seja um direito que permita a todos acessarem outros direitos. Este é um passo importante em uma nova compreensão do transporte, não mais

Tarifa Zero em PaulíniaPaulínia (SP) é a primeira cidade brasileira a adotar a Tarifa Zero no transporte público após os recentes protestos que ocuparam o território nacional. A cidade, com 85 mil habitantes, se junta a Agudos e Potirenda-ba, ambas no interior paulista, Porto Real, no Rio de Janeiro, e Ivaiporã, no interior do Paraná, ao grupo de cidades onde o trans-porte coletivo funciona com Tarifa Zero.A prefeitura aponta que não há problema em subsidiar integralmente a passagem, já que o município é bastante rico: arrecada 80 milhões por mês e concentra um grande parque petroquímico (com refinarias e in-dústrias de processamento de petróleo). Porém, o serviço continuará a ser prestado por uma empresa privada, a Viação Pas-saredo, que atua desde a privatização do transporte coletivo no município.É evidente que a Tarifa Zero em Paulínia é uma vitória, contudo, ainda cabem dis-cussões quanto à forma em que ela foi apli-cada na cidade. Isto é, sem a criação de um fundo de transporte alimentado por im-postos progressivos, sem empresa pública e sem conselhos de usuários.

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como mercadoria, mas sim como algo público, gratuito e de qualidade, abrin-do espaço para a própria Tarifa Zero.

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matéria

As manifestaçoes de junho e a realidade de Joinville

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As manifestações que se iniciaram em junho – e se estenderam até julho – e to-maram conta do Brasil, tiveram como suas causas fundamentais problemas básicos enfrentados cotidianamente pelo povo brasileiro. A realidade das ci-dades brasileiras é de crise urbana, isto é, um conjunto de problemas que envolvem desde congestionamentos, baixa qualidade e preço exorbitante do transporte coletivo, especulação imobiliária desenfreada até a falta de recursos destinados à saúde e edu-cação. Esses fatores ainda devem ser soma-dos à descrença geral em torno da política institucional brasileira, cuja prioridade demonstrou ser a Copa do Mundo e o inter-esse das grandes empreiteiras.

Essa situação se tornou ainda mais precáriaao longo dos últimos anos, e fez com que esse ambiente potencialmente explosivo, encontrasse seu foco de indignação no au-mento de vinte centavos dos trens e ôni-bus em São Paulo. Para quem acreditava que tudo corria bem no país que alcançava altos índices de consumo, a população tra-balhadora demonstrou estar insatisfeita com a qualidade dos serviços públicos, so-bretudo o transporte coletivo.

As lutas que ocorreram em São Paulo e con-taram desde seu início com a truculência do governo municipal e estadual que atuaram juntos e decididos na tentativa de conter as manifestações por meio do aparato repressivo policial conseguiram, no en-tanto, rapidamente se espalhar por todo o país. Isso porque a situação de crise urbana é muito semelhante em todas as partes, de modo que o conteúdo político das mani-festações paulistas podia ser facilmente compreendido por todos aqueles que vi-venciam a situação de precariedade diária

no transporte coletivo. Rio de Janeiro, Por-to Alegre, Florianópolis e outras tantas ci-dades do país aderiram às manifestações. Em Joinville não foi diferente.

O instrumento político que expressou a revolta popular foi o Movimento Passe Livre. Nossa atuação nos últimos 8 anos culminou nos grandes atos de junho/julho. A preparação dessas grandes demonstra-ções foi feita a partir das milhares e quase anônimas panfletagens em terminais, nas aulas cedidas ao MPL por professores democráticos, nos debates públicos em universidades, no contato com lideranças comunitárias e em outras tantas atividades de pequeno e grande porte.

Em Joinville houve três manifestações. A primeira delas, no dia 20 de junho, é pre-ciso dizer, foi bastante “heterogênea”, nela compareceram várias lutas, inclusive con-traditórias entre si. As manifestações dos dias 26 de junho e 2 de julho, porém, foram mais consistentes do ponto de vista das rei-vindicações e chegaram a reunir até cinco mil pessoas. Ambas terminaram com ocu-pações massivas de terminais (o do centro e do norte) e instituíram, ainda que por um dia, o Tarifa Zero, ônibus gratuitos às cus-tas da diminuição dos lucros da Gidion/Transtusa. A prática de pular a catraca, o símbolo da exclusão, espalhou-se como um modelo de resistência à exploração privada e ilegal das empresas de transporte.

No dia 1º de julho, nós do MPL nos reuni-mos com o prefeito Udo Döhler a fim de rei-vindicar a Tarifa Zero no transporte de Join-ville. Como representante dos empresários, Udo respondeu às nossas reivindicações com o anúncio da continuidade da explora-

Manifestação - 02 de Julho de 2013.

O Atual Momento

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especial

Licitaçao - ilegalidade e continuidade do modelo privado

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Na edição 7 do “Pula Catraca”*, mostramos as insuficiências em torno do plano de lici-tação elaborado pela empresa Profuzzy a pedido da prefeitura de Joinville no gover-no Carlito. Naquele artigo, demonstramos que segundo as diretrizes recomendadas por essa empresa (cuja legitimidade é nula, afinal é empresa contratada tanto pela Gid-ion/Transtusa quanto pelo poder público, de modo que há um conflito de interesses) o transporte não sofreria nenhuma mudan-ça: aumentos de tarifa anuais, continuidade da tarifa embarcada, nenhum mecanismo de controle público do serviço. Tudo isso por mais 15 anos. Na ocasião, denuncia-mos que se tratava de um golpe que visava a permanência do atual transporte privado, caro e de qualidade baixa. A tão propagada “mudança” que seria feita com a licitação não mudava coisa alguma.

A situação nesse um ano de governo Udo Dohler, incrivelmente, conseguiu ser mais retrógrada que o futuro sombrio que se de-senhava no governo anterior. Isso porque, em que pese a licitação, tal como proposta pela prefeitura, não mudar significativa-mente nada, ainda sim o processo da licita-ção abriu uma brecha aos movimentos so-ciais para que pudessem disputar os rumos do transporte coletivo e tentar influenciar em como ele funcionaria pelos próximos anos. Afinal de contas os contratos das em-presas se encerram em janeiro de 2014 e as manifestações que ocorreram esse ano per-mitiriam que os movimentos exercessem mais pressão a fim de que o transporte se

tornasse realmente público.

O problema é que Udo Dohler não deu con-tinuidade ao processo licitatório. Em 1º de julho, quando nós do MPL estivemos reuni-dos com o prefeito, ele disse que pretendia renovar os atuais contratos das empresas. Vale lembrar: desde a Constituição Federal (1988) e da Lei de Concessões (1995) todo serviço público precisa passar por licita-ção. Portanto, como as atuais empresas não passaram por isso, são, na prática, ilegais e deviam ter seus contratos anulados. O ato de Udo Dohler, desse modo, foi seu consen-timento à continuidade da ilegalidade prati-cada há anos pelas empresas.

Por quanto tempo o contrato das atuais em-presas será renovado ainda não sabemos. Mas é um ato que mostra o nível de com-prometimento da prefeitura com a Gidion/Transtusa e com a exploração privada do transporte.

A população não será obrigada a escol-her o “menos pior”, isto é, entre um plano de licitação que não muda nada ou entre a não-licitação promovida por Udo Dohler. A população já deu mostras de sua força nas jornadas de luta de junho/julho. O novo es-topim de novas revoltas será a intransigên-cia dos dominantes que se recusam a apren-der a lição das ruas. O povo irá fazer valer sua força na luta pelo transporte coletivo fora da iniciativa privada, com controle popular, rumo à Tarifa Zero!

[*] Disponivel no Blog do MPL.

ção privada no transporte e a prorrogação de contrato das atuais concessionárias (os contratos da Gidion/Transtusa encerram-se em 8 de janeiro de 2014). Sobre a lici-tação que estava prevista, Udo não indicou nada de concreto sobre sua continuidade. As manifestações de junho/julho foram uma prova irrefutável do poder do povo unido, do poder popular. É necessário que continuemos com o mesmo espírito de luta se quisermos efetivar mudanças reais na sociedade. Nós do MPL continuamos nossa campanha em torno da Tarifa Zero (TZ), pela aprovação do IPTU progressivo (o meio de se obter recursos para o financia-

mento da TZ) e por um plebiscito popu-lar que pergunte à população se ela deseja continuar sendo explorada pelo transporte privado ou instituir o transporte público.

No dia 25 de outubro realizaremos uma manifestação na Praça da Bandeira, às 18h30, na semana de luta pelo transporte púbico em todo o Brasil. Essa manifestação é a continuação legítima das jornadas de junho/julho. É a lembrança que temos mui-to o que fazer nessa luta. Junho/julho foram apenas os primeiros passos da mudança que desejamos; ainda há muito o que se caminhar para se atingir a Tarifa Zero.

AVANTE OS QUE LUTAM!