pubvet , londrina, v. 7, n. 14, ed. 237, art. 1565, julho ... · marinho, p.v.t. et al....
TRANSCRIPT
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso
Paulo Vinícius Tertuliano Marinho1*, Natanael de Souza Silva2, Vanessa Lira de
Santana3, Davi Alves Lopes4, Tiago Barbalho Lima5, Carolina Camargo Zani1,
Raphael Nikolas Lira6, Pedro Isidro da Nóbrega Neto7
1 Mestrando do programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, PR.
2 Mestrando do programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária,
Universidade Federal de Campina Grande, Patos-PB
3Doutorando do programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária,
Universidade Federal de Campina Grande, Patos-PB
4 Médico Veterinário Autônomo, Consultório Veterinário e Pet Shop Saúde
Animal, Pombal-PB
5 Mestrando do Programa de Pós-graduação, Universidade Estadual Paulista
Julio de Mesquita Filho, Jaboticabal, SP.
6 Médico Veterinário, Setor de Ortopedia e Neurologia, Unid. Clin. Vet. LIRA,
Itajaí-SC. 7 Prof Dr, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal de
Campina Grande, Patos-PB
*Endereço para correspondência: [email protected]
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
Resumo
A anfetamina é um fármaco simpatomimético, que age estimulando a liberação
de catecolaminas nas fendas sinápticas e inibindo a sua recaptação,
potencializando assim a sua atuação. O presente trabalho objetivou relatar um
caso de intoxicação acidental por anfetamina em uma cadela, da raça Pinscher,
com um ano de idade e 4 kg. O animal manifestava quadro neurológico (andar
em círculo, olhar fixo) e histórico de existência de algumas cápsulas de Rebite®
próximo ao local onde o mesmo vivia. Ao exame físico o animal apresentou-se
hiperexcitado, com midríase e hipertermia. Com base no histórico e exame
físico suspeitou-se de intoxicação por anfetamina e o animal foi submetido à
terapia específica com benzodiazepínicos e fluidoterapia e vitamina B1. O
animal ficou sob terapia intensiva, com observação da regressão dos sinais
clínicos dois dias após o início do tratamento e completa recuperação após
quatro dias de terapia.
Palavras-chave: estimulação simpática; sintomatologia nervosa;
benzodiazepínicos
Amphetamine intoxication (Rivet ®) in a dog: Case report
Abstract
Amphetamine is a sympathomimetic drug, whose effect mimics all or part of
sympathetic stimulation. Actually it stimulates the release of catecholamines in
the synaptic clefts and inhibit its reuptake, thereby boosting its performance.
This study aimed to report a case of accidental poisoning by amphetamine in a
dog, Pinscher race, with one year of age. The animal showed neurological
symptoms (walking in a circle, staring) and historical existence of some
capsules of Ribite® next to the place where the animal lives. On physical
examination the animal presented overexcited, pupils in mydriasis and
hyperthermia. Based on history and physical examination was suspected of
poisoning by amphetamine and the animal was submitted to specific therapy
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
with benzodiazepines and vitamin B1. The animal had intensive care, for
observation of regression of clinical signs two days after starting treatment,
and complete recovery after four days of therapy.
Keywords: sympathetic stimulation; nervous symptoms; benzodiazepines
Introdução
A anfetamina é um fármaco psicoestimulador e simpatomimético, cujo
efeito imita total ou parcialmente a estimulação simpática. Seus efeitos finais
são mediados pelos adrenoceptores presentes nas células efetoras, possuindo
poderosas ações estimulantes no sistema nervoso central (SNC), além de
ações α e β periféricas comuns aos agentes simpaticomiméticos de ação
indireta, os quais provocam aumento da disponibilidade de noradrenalina na
fenda sináptica ou inibição da sua recaptação, o que provoca estimulação dos
adrenoceptores (ANDRADE, 2002).
No sistema cardiovascular provoca elevação das pressões sistólica e
diastólica, redução reflexa da freqüência cardíaca e podem ocorrer arritmias
cardíacas. No SNC, causa intensa estimulação, que no homem provoca estado
de vigília, aumento do estado de alerta, menor sensação de fadiga, maior
concentração, euforia e aumento da atividade motora (ANDRADE, 2002;
CEBRID, 2006).
Em virtude de haver poucos relatos relacionados à intoxicação por
anfetamina em caninos, tornou-se interessante descrever o caso de um cão
intoxicado acidentalmente por esta droga.
Relato de caso
Foi atendido no Consultório Veterinário e Pet Shop Saúde Animal, em
Pombal/PB, uma cadela da raça Pinscher com um ano de idade e 4 kg,
apresentando queixa de agitação, inquietude de início agudo, andando em
círculo e com olhar fixo para um único ponto da parede. Na anamnese foi
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
relatada existência de algumas cápsulas de rebite caídas no local onde o
animal vive, as quais, após avaliação da composição dos comprimidos vide
bula, foram confirmados como anfetaminas. Ao exame físico, o animal
apresentava-se com estado geral regular, hiperexcitado, midríase e
hipertermia.
Como tratamento prescreveu-se diazepam, na dose de 0,25 mg/kg, via
intravenosa (IV), a cada 2 horas, num total de quatro administrações;
fluidoterapia com solução de cloreto de sódio a 0,9%; e vitamina B1 (tiamina)
na dose de 12,5 mg/kg, via intramuscular, em dose única. O controle da
hipertermia foi realizado por meios físicos, como ambiente climatizado e
compressas frias.
Durante todo o período em que o paciente esteve internado, o mesmo foi
avaliado minuciosamente até completa remissão dos sinais clínicos e alta.
Discussão
As drogas usadas para estimulação do SNC são as chamadas
psicoestimuladoras e simpaticomiméticas, as quais exercem seus efeitos de
forma indireta, uma vez que essas drogas não agem diretamente nos
receptores de catecolaminas. Na verdade, os simpaticomiméticos estimulam a
liberação de catecolaminas nas fendas sinápticas e inibem a sua recaptação,
potencializando assim a sua atuação. A anfetamina é o mais potente dos
simpaticomiméticos devido à sua capacidade de atuar tanto no sistema
dopaminérgico quanto no sistema da norepinefrina (ANDRADE, 2002; PAPICH,
2009).
Algumas anfetaminas são capazes de atuar no sistema serotoninérgico,
aumentando a liberação do neurotransmissor na sinapse ou atuando como
agonista direto. Essa propriedade parece ser a responsável pelos efeitos
alucinógenos de algumas anfetaminas (CEBRID, 2006), fazendo com que o
animal fique com o olhar fixo em um ponto e/ou extremamente inquieto em
seu próprio ambiente.
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
Os sinais clínicos apresentados pelo animal eram característicos do
consumo de anfetamina, uma vez que o animal apresentou excitação,
hiperatividade, midríase e estado de vigília. Isto ocorre porque as anfetaminas
aumentam a resistência nervosa e muscular do usuário, aumentando também
a capacidade respiratória e a tensão arterial, deixando o animal em estado de
alerta constante (MURER, 2007).
Os parâmetros fisiológicos não foram totalmente avaliados devido à
hiperatividade e agressividade do animal. Segundo Murer (2007), doses
elevadas da droga intensificam seus efeitos e deixam o usuário mais agressivo
e irritado. Se as doses forem ainda maiores, pode provocar delírios e paranóia,
estado conhecido como psicose anfetamínica.
Segundo Murer (2007) e Laranjeira (1990), o uso de benzodiazepínicos
(BZD) é essencial para o controle das reações adversas proporcionadas pelas
anfetaminas. Isso se deve ao fato de os BZD agirem ligando-se a um local
regulador específico no receptor ácido gama-aminobutírico tipo A (GABAA),
exacerbando assim o efeito inibitório do GABA, causando redução da ansiedade
e da agressividade, sedação, relaxamento muscular e supressão das
convulsões (ANDRADE, 2002). Além disso, possuem ação hipnótica,
promovendo sono semelhante ao fisiológico. Esse efeito é decorrente da ação
dos BDZ sobre a formação reticular e o sistema límbico, estruturas
relacionadas com o ciclo vigília-sono (CORTOPASSI & FANTONI, 2009). No
caso em questão, o benzodiazepínico utilizado foi o diazepam, o qual contribuiu
consideravelmente para a estabilização do animal e posterior recuperação.
A tiamina, também conhecida como vitamina anti – neurítica, é
fundamental para o metabolismo dos carboidratos, proteínas e gorduras, pois
em combinação com o fósforo forma a coenzima tiaminapirofosfato (TPP) que
participa da reação de descarboxilação do piruvato a acetato e acetil CoA
(Coenzima A), substância doadora de energia no ciclo de Krebs (WINSTON,
2000). No caso relatado, por se tratar de uma intoxicação onde alterações no
SNC encontravam-se presentes, o emprego da tiamina é justificado pelo seu
MARINHO, P.V.T. et al. Intoxicação por Anfetamina (rebite) em um cão: Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 14, Ed. 237, Art. 1565, Julho, 2013.
papel indispensável no metabolismo energético dos neurônios e na
transmissão dos impulsos nervosos.
Conclusão
A intoxicação por anfetamina apresenta inúmeros sinais clínicos,
variando quanto à intensidade de acordo com a dose ingerida acidentalmente
pelo animal. A anamnese é de fundamental importância no diagnóstico da
intoxicação. O prognóstico para esta enfermidade é reservado, no entanto, o
tratamento com benzodiazepínicos contribui para estabilização do animal,
reduzindo de modo considerável a possibilidade de ocorrer convulsões e levar
o animal a maiores complicações. No relato em questão, o tratamento obteve
resultados satisfatórios, sendo tanto a terapia específica com
benzodiazepínicos como a terapia adjuvante, de fundamental importância para
a recuperação do estado de sanidade normal.
Referências
ANDRADE, S.F. Drogas que atuam no sistema nervoso periférico. In: ANDRADE, S. F. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 401 – 416. CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. 2006 – Nomes comerciais. Disponível em http://www.saude.inf.br/cebrid/canfet.htm. Acesso em: 18 jan. de 2010. CORTOPASSI, S.R.G.; FANTONI, D.T. Medicação pré-anestésica. Anestesia em cães e gatos. 2 ed. São Paulo: Roca, 2009. p. 221-222. LARANJEIRA, R.; DUNN, J.; RASSI, R. et al. “Êxtase” (3,4 metilenodioximetanfetamina- MDMA): uma droga velha e um problema novo. Revista ABP – APAL. 1990; 18: 77-81. MURER, E. Drogas, Anfetaminas e Remédios para Emagrecer. 2007. p. 183-190. PAPICH, M.G. Manual Saunders terapêutico veterinário. 2 ed. São Paulo: Medvet, 2009. WINSTON, A.P. et al. Prevalence of thiamin deficiency in anorexia nervosa. International Journal of Eating Disorders. 2000; 28: 451- 454.