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Público, Subjectividade e Intersubjectividade em Gabriel Tarde Comentário e análise crítica de Le publique et la foule in TARDE, Gabriel, L’ opinion et la foule (1901) Marco António Antunes * Índice 1 Introdução 3 2 Comentário 5 3 Análise Crítica 10 4 Conclusão 19 5 Bibliografia 21 6 Anexos 25 Resumo Tarde insiste primariamente na racio- nalidade crítica dos indivíduos no público (no sentido da invenção racionalmente esclarecida). Mas, secundariamente surge a actividade intermental 1 mediada pela co- * Universidade da Beira Interior. Trabalho reali- zado para a disciplina Sociedade e Comunicação I no ano lectivo 1999/2000. Reformulado entre Julho de 2000 e Fevereiro de 2001. [email protected] ou [email protected] 1 Actividade Intermental ou Interpsiquia. I – Tarde defende que o mais simples facto social liga-se não à esfera intrapsíquica, mas ao universo intermental. "A interpartilha entre dois indivíduos, onde um imita o outro, é a característica necessária para o modelo social. A sociedade copia e desenvolve-se do mais baixo [nível] para o mais alto através de um processo de imitação."(Enerstvedt, 2000:6). A base da activi- municação e sociabilidade. Subjectividade e intersubjectividade enquadram as duas dimensões da teoria do público de Tarde. O pensamento individual independente e dade intermental são os desejos e as crenças. Três linhas orientadoras comandam a interpsiquia: imita- ção, invenção e oposição. A imitação permite as con- tínuas mutações sociais e a produção de semelhanças na sociedade. A invenção é uma iniciativa de cada in- divíduo e depois está sujeita a um processo de comu- nicação mútua, permitindo uma aproximação às alte- rações do ambiente. Neste sentido, maior população implica maiores alterações entre os indivíduos e con- sequentemente maiores invenções. Para a invenção provocar mutação e progresso é necessário que exista, simultaneamente, imitação. Em terceiro lugar, surge a oposição ou conflito. Tarde distingue oposição psi- cológica (contraste de ideias na mente de um mesmo indivíduo) e oposição social (contraste de ideias entre vários indivíduos que defendem invenções divergen- tes). Toda a invenção provém, primeiramente, do gé- nio individual e a sociedade advém da difusão da imi- tação. Na sociedade, a invenção individual é imitada resultando secundariamente da troca comunicacional realizada no meio ambiente. Neste último caso, as relações interpsíquicas surgem secundariamente de- pendendo da imitação, invenção e oposição existentes entre os indivíduos. II – Tomado em sentido geral, o sistema da activi- dade intermental designa as relações comunicacionais [intersubjectivas] de transmissão do pensamento entre pelo menos dois indivíduos.

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Page 1: Público, Subjectividade e Intersubjectividade em Gabriel Tarde · 3 Análise Crítica 10 4 Conclusão 19 5 Bibliografia ... luz dos conceitos de subjectividade e inter- ... Filosofia

Público, Subjectividade e Intersubjectividadeem Gabriel Tarde

Comentário e análise crítica deLe publique et la foulein TARDE, Gabriel,L’ opinion et la foule(1901)

Marco António Antunes∗

Índice

1 Introdução 32 Comentário 53 Análise Crítica 104 Conclusão 195 Bibliografia 216 Anexos 25

Resumo

Tarde insiste primariamente na racio-nalidade crítica dos indivíduos no público(no sentido da invenção racionalmenteesclarecida). Mas, secundariamente surge aactividade intermental1 mediada pela co-

∗Universidade da Beira Interior. Trabalho reali-zado para a disciplina Sociedade e Comunicação I noano lectivo 1999/2000. Reformulado entre Julho de2000 e Fevereiro de 2001. [email protected] [email protected]

1Actividade Intermental ou Interpsiquia. I – Tardedefende que o mais simples facto social liga-se nãoà esfera intrapsíquica, mas ao universo intermental."A interpartilha entre dois indivíduos, onde um imitao outro, é a característica necessária para o modelosocial. A sociedade copia e desenvolve-se do maisbaixo [nível] para o mais alto através de um processode imitação."(Enerstvedt, 2000:6). A base da activi-

municação e sociabilidade. Subjectividadee intersubjectividade enquadram as duasdimensões da teoria do público de Tarde.O pensamento individual independente e

dade intermental são os desejos e as crenças. Trêslinhas orientadoras comandam a interpsiquia: imita-ção, invenção e oposição. A imitação permite as con-tínuas mutações sociais e a produção de semelhançasna sociedade. A invenção é uma iniciativa de cada in-divíduo e depois está sujeita a um processo de comu-nicação mútua, permitindo uma aproximação às alte-rações do ambiente. Neste sentido, maior populaçãoimplica maiores alterações entre os indivíduos e con-sequentemente maiores invenções. Para a invençãoprovocar mutação e progresso é necessário que exista,simultaneamente, imitação. Em terceiro lugar, surgea oposição ou conflito. Tarde distingue oposição psi-cológica (contraste de ideias na mente de um mesmoindivíduo) e oposição social (contraste de ideias entrevários indivíduos que defendem invenções divergen-tes). Toda a invenção provém, primeiramente, do gé-nio individual e a sociedade advém da difusão da imi-tação. Na sociedade, a invenção individual é imitadaresultando secundariamente da troca comunicacionalrealizada no meio ambiente. Neste último caso, asrelações interpsíquicas surgem secundariamente de-pendendo da imitação, invenção e oposição existentesentre os indivíduos.

II – Tomado em sentido geral, o sistema da activi-dade intermental designa as relações comunicacionais[intersubjectivas] de transmissão do pensamento entrepelo menos dois indivíduos.

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primariamente inventivo corresponde àsubjectividade. A actividade intermentalcomunicacional é o momento da intersubjec-tividade. EmLe publique et la foule, Tardenão esclarece se a troca comunicacionalque se verifica no decurso da actividadeintermental (ou em termos gerais na in-tersubjectividade) permite a subsistênciado pensamento individual independente.Esta aparente ambiguidade é, na verdade,resolvida emLes lois de l’ imitation, atravésde uma posição dialéctica que configura asociedade como um conjunto de leis lógicase extra-lógicas (sendo as primeiras as que sereferem, primordialmente, à inovação e assegundas que dizem respeito, especialmente,à herança cultural). Em ambas as leis daimitação estão dialecticamente presentes asubjectividade e a intersubjectividade.

Advertência

A presente dissertação é uma tentativa deenquadrar a noção de "público"de Tarde2 àluz dos conceitos de subjectividade e inter-subjectividade. O modelo de subjectividade,seguido por Tarde, representa a expressão daindividualidade através de um racionalismocrítico e da produção de iniciativas criado-ras. O problema da intersubjectividade co-nhece uma longa tradição onde podemos in-cluir Husserl e Dilthey, entre outros, sendoobjecto de uma apreciação muito clara nointeraccionismo de Mead e Cooley, na fe-nomenologia social de Schütz, no pragma-tismo de Dewey, na hermenêutica de Hei-degger e, após Heidegger, com Gadamer e

2Tarde nunca emprega a expressão "espaço pú-blico", no sentido corrente nas Ciências Sociais e naFilosofia consagrada por autores como Arendt, Ha-bermas e Mills.

Ricoeur. A intersubjectividade é concebida,sobretudo, como uma relação intercompre-ensiva entre dois ou mais indivíduos3. Osconceitos de "subjectividade"e "intersubjec-tividade"servem para enquadrar, respectiva-mente, o individualismo inventivo e a co-municação intermental, momentos matrici-ais na unidade dialéctica do público. Con-trariamente aos estudos que dão primazia aopensamento individual independente, comoponto único da teoria do público em Tarde,pretendemos provar que a comunicação re-cíproca intermental dos indivíduos é o pontosecundário e inevitável do público. Indivi-dualismo inventivo e comunicação intermen-tal estão também presentes emLes lois de l’imitation, no âmbito das influências lógicase extra-lógicas4.

3Wagner, partindo da análise dos termos empre-gues por Schütz (1979:316,313) define subjectividadee intersubjectividade. Quanto à subjectividade "Nosentido imediato, o termo se refere exclusivamente aexperiências, cogitações, motivos, etc. de um indiví-duo concreto. Em termos restritos osignificado sub-jectivoinerente à conduta é sempre o significado que apessoa que age atribui à sua própria conduta: consisteem seus motivos, isto é, suas razões para agir e seusobjectivos, seus planos imediatos ou a longo prazo,sua definição da situação de outras pessoas, sua con-cepção de seu próprio papel na situação dada etc. Aintersubjectividade é uma categoria que, em geral, serefere (especialmente em termos cognitivos) ao que écomum a vários indivíduos (...) O conjunto das expe-riências no decorrer da vida de uma pessoa confirmae reforça a convicção de que, em princípio, e em cir-cunstâncias normais, pessoas em contacto umas comas outras, pelo menos na medida em que são capazesde lidar umas com as outras com sucesso [se] ’com-preendem’ umas às outras.

4Cf. pp. 19-20 e notas 18, 19, 20 e 21.

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1 Introdução

O termo público nasce na Antiguidade. De-riva do latim publicus, o qual provém, prova-velmente, de poplicus ou populus (o povo).Existiam dois sentidos de povo presentes napalavra público. No primeiro sentido, a no-ção de público centra-se na ideia de acessi-bilidade. O público designava o acesso co-mum de vários indivíduos a um mesmo lugar- o lugar ou espaço público. Assim, na Gré-cia o espaço público era o lugar do reconhe-cimento da liberdade e da igualdade, condi-ções que permitiam intervir na vida políticada polis. Em Roma, a res publica era umadeterminada propriedade geralmente abertaà população. Na Idade Média, o espaço pú-blico era o local que proporcionava o acesso,em campo aberto, à fonte e à praça do mer-cado. No segundo sentido, predomina a ideiade bem comum ou interesse comum. Pú-blico referia-se a questões de interesse ge-ral e, concretamente, a matérias relaciona-das com a Administração e o Estado. NaIdade Média, senhorial e público eram sinó-nimos. Publicar significava, sobretudo, re-quisitar para o senhor. A partir de 1400,a Corte torna-se o espaço público onde ossenhores feudais e demais cortesãos adqui-rem a sua representatividade junto do Sobe-rano. Com o desenvolvimento da burgue-sia, o Estado assume-se como organizadordo mercantilismo. O interesse público é,neste caso, dar a conhecer os produtos e res-pectivos valores de circulação monetária. Noséculo XVII e mais tarde no século XVIIIcom o Iluminismo, o termo público signifi-cava a existência de um espaço de discus-são crítica operado nos salões, cafés, clubese na imprensa (consequentemente, assiste-se ao surgimento e tematização da opinião

pública). Durante o absolutismo, o rei eraconsiderado pessoa pública: um unificadordos diferentes membros da sociedade. Nosséculos XVIII e XIX, o termo público pas-sou a designar o Estado e também uma en-tidade com existência objectiva, que exercea sua vigilância sobre a pessoa que governa(Habermas, 1984:13-41, 110-168, 235-236,274-290), (Price, 1994:20-22), (Rodrigues,1985), (Correia, 1998:21-26).

As primeiras tentativas de configurar umtratamento científico sobre a questão do pú-blico, a conduta das multidões e das massasforam desenvolvidas por um grupo de teó-ricos da vida sócio-psicológica, entre elesBryce, Tarde, Dewey, James, Baldwin, LeBon, Park, Cooley e Ortega y Gasset. Es-tes autores problematizaram e tipificaram oscomportamentos colectivos que mais afecta-vam a vida social dos séculos XIX e XX, no-meadamente as multidões espontâneas, gre-ves, atitudes de massa e distúrbios. Estesfenómenos foram particularmente debatidospela imprensa que pretendia, de certo modo,regular e orientar o comportamento do pú-blico, das multidões e das massas (Price,1994:39-40), (Noelle-Neumann, 1995:282-283).

Nos finais do século XIX e inícios dos sé-culo XX, as teorias do público assinalavam aexistência de um fenómeno supra-individualintrinsecamente colectivo, que todavia se re-alizava através de agentes críticos empenha-dos na afirmação da sua racionalidade. EmFrança, Tarde foi um dos primeiros autores asistematizar a História do Público e as suasrelações com a multidão. Tarde, apesar deformular uma História do Público, está inte-ressado num estudo sincrónico do público,sobretudo, nas formas de interacção entrepúblico e imprensa. "É curioso que nem em

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latim nem em grego exista uma palavra quecorresponda ao que nós entendemos por pú-blico"(Tarde, 1986:46). Price (1994:42-47)cita Blumer (1946:189)5 o qual, clarificandoe ampliando as análises de Park (1904)6,propõe que o "o termo público se utilize parase referir a um grupo de gente que a) estãoconfrontados por um assunto, b) se encon-tram divididos na sua ideia de como pers-pectivar o assunto, e c) abordam a discussãodesse assunto".

O aparecimento da Mass CommunicationResearch, da Public Opinion Research e dosmétodos empíricos da Sociologia da Comu-nicação7 foram contributos importantes paraa teoria do público. Devido ao desenvol-vimento crescente dos mass media, o pú-blico passou a designar, simultaneamente,um meio de discussão crítica, mas também esobretudo um somatório de opiniões indivi-duais mensurável através de inquéritos, son-dagens e audiências. Na década de 60, Ha-

5BLUMER, Herbert, 1946,Collective behaviourin LEE, A., New Outlines of the principles of socio-logy, New York, Barnes and Noble.

6PARK, Robert, 1972, The crowd and the publicand others essays, Chicago, University of ChicagoPress (texto original editado em 1904).

7A Mass Communication Research inicia-se coma publicação de Lasswell (1927) -Propaganda te-chniques in the world war. Para Mattelart, a MassCommunication Research assentava em abordagensquantitativas e era sinónimo [nos seus primórdios] deuma "sociologia americana dos media". Entre os au-tores da Mass Communication Research sobressaem:Lasswell, Lazarsfeld, Katz, Lewin, Berelson e Ho-vland. Em 1937, funda-se a revistaThe Public Opi-nion Quarterly, orgão daAmerican Association forPublic Opinion Research. Esta revista procurava con-gregar os investigadores, o Estado, os publicitários,as relações públicas, a imprensa, a rádio e o cinemanos [múltiplos] processos de comunicação (Mattelart,1996:366-367). Surge, assim, um importante contri-buto para a investigação da opinião pública.

bermas afirma que no público paralelamentea uma publicidade crítica, herdeira da esferapública burguesa, existe também uma pu-blicidade manipuladora. Segundo as teoriasmais recentes, o público discursivo e críticorepresenta uma pequena fatia do eleitoradomoderno, assim se compreende a contínuaalienação dos cidadãos face à participaçãopolítica. (Mattelart, 1996:366-367), (Price,1994:20-22, 43-45), (AAVV, 1989),

Na Europa e no âmbito da Sociologia, ainfluência de Tarde foi, de certo modo, redu-zida devido à primazia do método socioló-gico de Durkheim8. No entanto, a influência

8Durkheim procura criar uma ciência objectiva,tal como as outras ciências, e cujo objecto de es-tudo é o facto social. A Sociologia de Durkheimé o estudo dos factos sociais e a explicação dessesfactos através do método sociológico. Deste modo,o objecto de estudo da Sociologia é específico - ofacto social - e deve ser distinto dos objectos das ou-tras ciências. Consequentemente, o facto social podeser explicado objectivamente, tal como as outras ci-ências explicam os seus factos. Durkheim procu-rava, assim, autonomizar a Sociologia dotando-a deum corpo teórico-metodológico próprio (o facto so-cial e o método sociológico), enquanto Tarde enca-rava a Sociologia, fundamentalmente, como uma psi-cologia social intermental. O método sociológico deDurkheim configurou-se como paradigma exemplarfundador da Sociologia. Contrariamente, poucos sãoos livros que incluem Tarde como fundador da So-ciologia. A influência de Tarde na Sociologia foireduzida. Segundo Lubek (1981:370-376), apoiadoem Clark (1973), Tarde é menos conhecido e menosaceite pela comunidade científica do que Durkheim,porque, ao longo da sua carreira, sempre esteve à mar-gem do sistema universitário. Este motivo explicao facto de Tarde não ter muitos discípulos. Tarde,ensinando fora das cadeiras universitárias clássicas,surge como um autodidacta membro de um grupo desociólogos isolados em relação ao positivismo, queinundava as ciências sociais, e reunido à volta daRe-vue internationale de sociologiecriada por Worms em1893.

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de Tarde manifesta-se em autores tais como:Eugène Dupréel, Jean Stoetzel e indirecta-mente Jürgen Habermas9. Nos Estados Uni-dos, Tarde influenciou, principalmente, a Es-cola de Chicago, a Escola de Columbia, a Es-cola do Sul da Califórnia e a Escola de Fila-délfia, embora, inicialmente, não tenha des-pertado muito interesse, ao ponto de consti-tuir um paradigma científico para os sociólo-gos americanos.

A obra de Gabriel TardeL’ opinion et lafoule, e em particular o texto em estudo,reveste-se de grande importância para a Fi-losofia, Psicologia, Ciências da Comunica-ção, Sociologia e Criminologia.Le publi-que et la foulefoi pela primeira vez publi-cado em 1898 nos números de 15 de Julho e1 de Outubro deLa Revue de Paris. Cons-titui uma análise sobre o público e a mul-tidão enquanto colectividades sociais, cujoslíderes de opinião são os publicistas, jorna-listas ou simples líderes inspiradores. Tarde

9Habermas, embora enfatize a oposição entre oespaço público e o espaço privado, segue, em cer-tos aspectos, a História do conceito público propostapor Tarde. Neste sentido, para Katz (1999) Tarde éprecursor de Habermas: "(...) concordo certamenteque Tarde é um precursor de Habermas. Para am-bos, a imprensa, a conversação e a opinião (pública)são centrais para a ’esfera pública’. Ambos estão in-teressados nos locais de conversação: salões, cafésetc."Para Tarde, as profundas transformações sociais,operadas pela imprensa, conduziram à "união e paci-ficação finais"(Tarde, 1986:76). Existem semelhançasentre esta posição e a ideia de consenso argumentati-vamente fundado, como princípio estruturante do Es-paço Público e do Agir Comunicacional. Contudo,Habermas (1984) cita Tarde uma só vez. Deste modo,a influência de Tarde sobre Habermas é indirecta epouco preponderante, embora existam semelhanças,nestes autores, no âmbito da esfera pública e por ana-logia na acção comunicativa.

explica a História do Público assinalando assemelhanças e diferenças com a multidão.

2 Comentário

No texto Le publique et la foule, GabrielTarde pretende analisar as origens, desenvol-vimento e variedades do conceito “público”;as relações entre público e multidão, públicoe corporações, público e Estados, públicoe dirigentes; os benefícios e malefícios dopúblico e as suas formas de actuar (Tarde,1986:43).

Tarde assume-se como o primeiro soció-logo que se ocupa dos conceitos “público”e “opinião pública” enquanto domínios deuma psicologia do público (ou em linhas ge-rais de uma psicologia social). O públicoconstitui, para Tarde, um modelo de soci-abilidade destinado a substituir o modelode descrição das relações sociais fundadona psicologia das multidões. Logo, o pú-blico, apesar de emergir das multidões, pres-supõe "uma evolução mental e social muitomais avançada que a formação de uma mul-tidão"(Tarde, 1986:46). A ideia de que opúblico emerge das multidões é reforçadapelo facto da possibilidade de se poder per-tencer a vários públicos num mesmo tempo,sem, contudo, ser possível pertencer a vá-rias multidões num mesmo contexto tempo-ral (Tarde, 1986:50). Tarde propõe uma de-finição simplificada de público: "uma co-lectividade puramente espiritual, como umadispersão de indivíduos fisicamente separa-dos e entre os quais existe uma coesão so-mente mental"(Tarde, 1986:43)10. A re-

10Mills (1956:303-304) contrapondo público amassa (formulação aproximada do conceito de multi-dão) refere que: "Num público (...) 1) podemos suporque pelo menos tantos indivíduos expressam opiniões

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lação que se estabelece num público con-siste, assim, numa relação social e espiri-tual. Tarde, embora não apresente uma de-finição definitiva de multidão, afirma que "amultidão apresenta algo de animal"(Tarde,1986:43)11, isto é, enquanto colectividade

quantas os recebem; 2) o sistema da comunicação au-toriza uma resposta imediata e efectiva a toda a opi-nião expressa no seio do público; 3) a opinião que re-sulta de um processo semelhante de discussão não en-contra qualquer dificuldade de esclarecimento sobre aacção concreta, e mesmo - ainda que seja necessário- se esta acção deva se opor ao poder; 4) (...) as insti-tuições do poder não intervêm no seio do público, quejoga assim de uma autonomia relativa.(...)"Na mesmaantinomia, Price (1994:48) assinala a seguinte tese:A concepção sociológica do público contempla estecomo uma colectividade imprecisamente organizadaque surge do decurso da discussão em torno a umaquestão. Em contraste com a massa, que se baseiaunicamente numa atenção comum face a algum as-sunto e que está formada por respostas idiossincráti-cas formadas longe de qualquer debate ou discussão,o público distingue-se por uma resolução de algumproblema por meio de argumentos e réplicas. (...)

11Martin e Campoy (1993:15-16), citados por Bai-gorri (1994), distinguem público e multidão: "Basica-mente diferenciar-se-iam pela extensão da acção destetipo de associações; pelo regime de pertença geral-mente vigente em ambas; pelos factores de motiva-ção; e pela sua homogeneidade e grau de capacidadede acção livre. Atendendo à extensão da acção, a acti-vidade da multidão termina quando o faz a [extensãoda acção] dos seus líderes, enquanto que a [extensãoda acção] do público cresce indefinidamente. Aten-dendo ao regime de pertença, pode dizer-se que é ex-clusivista na multidão (daí a sua intolerância), e nãoexclusivista no público (cada um pode pertencer a vá-rios públicos). Atendendo à motivação: os factoresque motivam a formação das multidões são em certomodo externos e primários (tempo, etnia...), enquantoque os dos públicos são internos (isto é, apoiados numestado de espírito preexistente). Quanto à sua relaçãocom a liberdade de acção, e com a própria homoge-neidade, a mútua aceitação entre o emissor e o recep-tor, que escolhe livremente a sua fonte de informa-ção/opinião, faz do público um grupo mais homogé-

amorfa e passiva encontra-se dominada porinteresses materiais (intolerância, egoísmo,irresponsabilidade, perda do sentimento dobom senso), que impedem a discussão crítica(Tarde, 1986:64).

Para Tarde, o público, que alimenta a im-prensa, está imbuído de um sentido de actu-alidade - "tudo o que inspira actualmente uminteresse geral e inclusivamente ainda que setrate de um facto antigo"(Tarde, 1986:45).Este autor considera como actualidade ocaso Dreyfus12. Por outro lado, para que o

neo que a multidão, a qual é alimentada por curiosos esemi-aderentes que, uma vez ganhos e assimilados (ecom poucas possibilidades desde então de mudar dedescrição) fazem muito difícil uma direcção comum(...)". Park, comentado por Price (1994:43-44), dis-tingue público e multidão: o público encontra-se numestádio de oposição e discurso racional entre agentescríticos sugerindo a capacidade de pensar com os ou-tros; a multidão está imersa na experiência emocio-nal requerendo "a capacidade de sentir e empatizar";quando o público abandona a discussão crítica desa-parece ou transforma-se em multidão.

12Martin e Campoy (1993:15-16), citados por Bai-gorri (1994), distinguem público e multidão: "Basica-mente diferenciar-se-iam pela extensão da acção destetipo de associações; pelo regime de pertença geral-mente vigente em ambas; pelos factores de motiva-ção; e pela sua homogeneidade e grau de capacidadede acção livre. Atendendo à extensão da acção, a acti-vidade da multidão termina quando o faz a [extensãoda acção] dos seus líderes, enquanto que a [extensãoda acção] do público cresce indefinidamente. Aten-dendo ao regime de pertença, pode dizer-se que é ex-clusivista na multidão (daí a sua intolerância), e nãoexclusivista no público (cada um pode pertencer a vá-rios públicos). Atendendo à motivação: os factoresque motivam a formação das multidões são em certomodo externos e primários (tempo, etnia...), enquantoque os dos públicos são internos (isto é, apoiados numestado de espírito preexistente). Quanto à sua relaçãocom a liberdade de acção, e com a própria homoge-neidade, a mútua aceitação entre o emissor e o recep-tor, que escolhe livremente a sua fonte de informa-ção/opinião, faz do público um grupo mais homogé-

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público partilhe a actualidade à distância daimprensa é necessário que exista uma suges-tão de proximidade, a qual resulta do "hábitoda vida social intensa"(Tarde, 1986:45).

Na tentativa de realizar uma História dopúblico, Tarde salienta que antes do séculoXVI não se pode falar de público. Na An-tiguidade, existiam colectividades que cor-respondiam aos auditórios dos filósofos ouque participavam nas actividades do Coliseu.Na Idade Média, existiam feiras e peregrina-ções, nas quais as multidões compartiam di-ferentes sentimentos. O conceito de públiconasceu no século XVI com o aparecimentoda tipografia, acontecimento que irá possi-bilitar, progressivamente, o debate dos maisvariados temas, por parte de públicos especi-alizados. Mas, o público surgiu com maiornotoriedade nos séculos XVII e XVIII. Ini-cialmente, o público era restrito, constituídopor um pequeno número de eruditos que liamas gazetas e se reuniam em salões, cafés eclubes. Paralelamente a este público, exis-tia uma multidão amorfa de pessoas que semanifestavam nos acontecimentos políticose socioeconómicos (por exemplo: coroações,revoltas, festas) (Tarde, 1986:46-48).

No decurso do século XVIII, a especiali-zação dos públicos é um facto: surge um pú-blico filosófico, a par de um público cientí-

neo que a multidão, a qual é alimentada por curiosos esemi-aderentes que, uma vez ganhos e assimilados (ecom poucas possibilidades desde então de mudar dedescrição) fazem muito difícil uma direcção comum(...)". Park, comentado por Price (1994:43-44), dis-tingue público e multidão: o público encontra-se numestádio de oposição e discurso racional entre agentescríticos sugerindo a capacidade de pensar com os ou-tros; a multidão está imersa na experiência emocio-nal requerendo "a capacidade de sentir e empatizar";quando o público abandona a discussão crítica desa-parece ou transforma-se em multidão.

fico e literário. Esta situação conduziu, nasegunda metade do século XVIII, ao surgi-mento de um público político que reúne to-dos os outros públicos. A Revolução de 1789contribuiu para o progresso do jornalismo,que se especializa na crítica ao novo regime,e dos publicistas que se afirmam como lí-deres [de público]. É de assinalar que, se-gundo Tarde, antes da Revolução os públicoseram o efeito dos salões, cafés e clubes, masapós a Revolução deu-se o inverso. Tal facto,compreende-se porque o movimento políticoe socioeconómico, então gerado, fez eclodira mudança de temáticas nos espaços de dis-cussão pública (Tarde, 1986:47-48).

No século XIX e princípios do século XX,o desenvolvimento da imprensa amplia ouniverso do publico e dos publicistas. To-davia, tal seria impossível sem a coexistên-cia de três grandes invenções: a tipografia, otelégrafo e o caminho-de-ferro. Neste con-texto, Tarde dirige uma crítica a Le Bon. Se-gundo Le Bon, assiste-se a uma ascensão im-parável e perigosa das multidões. Ora, paraTarde, as multidões são um reflexo do pas-sado constituindo a segunda forma mais an-tiga de colectividade13 e estão condenadasa ser substituídas pelos públicos, na medidaem que não promovem a discussão crítica.Valoriza-se, assim, o público que se situanum estádio evolutivamente superior em re-lação à multidão. Deste modo, vive-se naera dos públicos e não na era das multidõescomo defendia Le Bon (Tarde, 1986:48-49).

Tarde afirma que o público se pode tornar,embora raramente, numa multidão em potên-cia, isto é, de um público tumultuoso deri-variam "multidões fanáticas que se passeiam

13Para Tarde, a primeira forma mais antiga de co-lectividade é a família.

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pelas ruas gritando viva ou morra não im-porta o quê"(Tarde, 1986:50). Parece exis-tir, neste ponto, uma primeira contradiçãono pensamento de Tarde, pois se os públicospressupõem um espaço de discussão crítica,como se explica que se transformem em mul-tidões tumultuosas? Tarde procura resolveresta contradição, quando alude aos crimes dopúblico.

Uma das diferenças mais significativas en-tre público e multidão consiste no reconheci-mento de que a multidão está mais vulnerá-vel aos elementos físicos e étnicos. Contrari-amente, num público não existe uma unifor-midade de posições étnicas, nem a influênciadecisiva dos elementos físicos da natureza,mas a tentativa de uma reflexão, na qual cadaindivíduo se apresenta como agente crítico.Assim, num público assistimos à emergên-cia de uma individualidade crítica, enquantoque na multidão a individualidade étnica e ascondições físicas existentes no meio socialsão condição de pertença (Tarde, 1986:50).

Para Tarde, "(...) a influência que o publi-cista exerce sobre o público ainda que menosintensa num dado instante, pela sua continui-dade, é muitíssimo mais poderosa que a im-pulsão breve e passageira inculcada à mul-tidão pelo seu inspirador;"(Tarde, 1986:51).Tarde está consciente das possíveis objec-ções que lhe possam formular e refere: "Pre-cisamente, porque na composição de umamultidão, os indivíduos entram somente pe-las suas semelhanças étnicas, que se sumame constituem a massa, e não pelas suas di-ferenças próprias, que se neutralizam e queno movimento de uma multidão os ângu-los da individualidade se esbatem mutua-mente em benefício do tipo nacional, quedão como síntese. E é assim apesar da ac-ção [subjectiva] individual do manipulador

ou dos manipuladores, que se faz sentir sem-pre, mas sempre contrabalançados pela ac-ção recíproca da multidão"(Tarde, 1986:51).Ou seja, a acção do líder inspirador da mul-tidão está mais dependente da acção [inter-subjectiva] comunicacional recíproca do queno caso dos publicistas. Estes últimos, ex-primem melhor o seu pensamento individual,porque os membros do público exercem umainfluência mais fraca entre si.14.

Tarde realiza uma crítica do público aosublinhar que, apesar da discussão críticagerada, o público não passa de uma clien-tela comercial. Parece paradoxal esta ideiade Tarde: como conciliar um público quelê jornais e escuta os publicistas numa ati-tude crítica não passiva, com a convergên-cia material perante interesses economicis-tas? Tarde resolve esta aparente contradi-ção referindo que um público pode ser es-tável [admite a discussão crítica contínua] eflutuante [quando a crítica, por vezes, é mini-mizada por interesses economicistas] (Tarde,1986:54).

A imprensa, apesar de ter modificado aforça das antigas colectividades sociais (no-meadamente a família e a multidão) atravésde interesses ideológicos, contribuiu para osurgimento de um público crítico, nomeada-mente religioso e político. Daí que a im-prensa tenha conduzido à interpenetração e

14Na verdade, parece-nos que a relação entre publi-cista e público é uma relação poderosa no contexto deuma discussão crítica. Contudo, o poder tem uma ou-tra acepção: existe um maior poder de manipulação einstrumentalização na relação que um dado líder ins-pirador mantém com a multidão amorfa e receptiva-mente passiva. De facto, as respostas que os líderesinspiradores recebem contribuem para transformar amultidão, apesar de tumultuosa, numa colectividadeespectacularizada e sem racionalidade crítica.

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internacionalização dos partidos políticos edas seitas religiosas (Tarde, 1986:57).

Tarde estabelece uma relação inversa en-tre público e multidão, isto é, o público daUniversidade, dos salões, cafés, da imprensaetc. cresce mais rapidamente à medida quea multidão tumultuosa diminui; esta situa-ção explica-se porque o público, enquantoespaço de discussão crítica, é gerador de apa-ziguamento nas relações pouco racionais damultidão (Tarde, 1986:59).

Para Tarde, os públicos e as multidões po-dem ser classificados em função do sexo, daidade, dos fins e da fé que os anima, e aindapor critérios: étnicos, económicos, culturais,profissionais, políticos, religiosos, estéticose filosóficos.

Em relação à classificação por sexo, Tardeassinala uma certa semelhança entre os pú-blicos femininos que lêem novelas, jornaisde moda, revistas femininas etc. e as mul-tidões femininas. Tarde refere os exemplosde Jannsen e Taine15para confirmar o carác-ter violento de certas multidões femininas.

15Cornelius Jannsen, dito Jansénio, nasceu em Ac-quoy (perto de Amesterdão) no ano de 1585 e morreuem Ypres em 1638. Foi teólogo e bispo de Ypres.Na sua principal obra póstuma - Augustinus - expõeas doutrinas de Santo Agostinho sobre a predestina-ção, o livre arbítrio e a graça. Esta obra deu origem àcorrente conhecida por jansenismo. Hyppolite Tainenasceu, em Vouziers, em 1828 e morreu em Paris em1893. Foi filósofo, crítico e historiador. As suas prin-cipais obras são:Origines de la France contempo-raine, Essai sur les fables de La Fontainee Philo-sophes français du XIXème siècle. Procurou explicaras obras artísticas e os factos históricos a partir de trêsfactores matriciais: tempo, meio e raça. No âmbito damultidão, Jannsen refere a existência da bruxa e adivi-nha Hoffmann, que, em 1529, dirigia grupos de cam-poneses e camponesas insurrectas pelas pregações lu-teranas. Na mesma colectividade, Taine descreve ocomportamento das mulheres que, durante o período

Quanto à classificação por idade, ela é maisvisível nagerontocraciados públicos senis enaefebocraciadas multidões eleitorais. Pú-blicos e multidões não são distintos no quese refere aos fins e fé que os anima. As-sim, existem públicos e multidões de crentes,ambiciosos, convencidos, fanáticos, apaixo-nados, despóticos. Por critérios étnicos, ve-mos que a raça é mais importante nas multi-dões, pois nos públicos, pela natureza [uni-versal] da reflexão crítica, admite-se umamaior heterogeneidade étnica. A nível eco-nómico, existem multidões (industriais, ope-rários, agricultores) e públicos [elite críticaque acompanha a economia nacional e in-ternacional]. A nível cultural [cultura comosapiência], existe uma omnipresença do pú-blico, pois este afirma-se como espaço de di-vulgação crítica do saber. A nível profissio-nal, existem públicos e multidões. Tarde dáo exemplo das multidões esfomeadas, con-duzidas pelos sindicatos, e das corporações,que se configuram como públicos, na me-dida em que são grupos sociais organizados.A multidão pode também estar presente nacorporação. As multidões estéticas e religi-osas, as únicas verdadeiramente crentes, sãoas mais intolerantes. Existem também públi-cos religiosos [os crentes que questionam asverdades da fé: as várias seitas/Igrejas] e pú-blicos estéticos [os críticos e as escolas deArte]. A nível filosófico, Tarde assinala ape-nas a existência de público. No âmbito res-trito do sistema de crença, os públicos e asmultidões podem também subdividir-se ematentos(as) ou expectantes (estão atentos aoseventos) e manifestantes ou actuantes (rea-lizam uma acção contínua: jesuítas, irmãos

agitado da Revolução Francesa, defendiam a morte darainha Maria Antonieta.

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pontífices etc.). As multidões manifestantesainda se podem dividir em multidões inclina-das ao ódio, ao amor e à dor (Tarde, 1986:60-69).

Em seguida, Tarde constata que o público,apesar de ser um espaço de discussão críticasuperior à multidão, também possui males.Exemplo disso são os crimes e a intolerân-cia dos públicos. Será esta posição aparen-temente ambígua? Como conciliar uma re-flexão crítica racional existente nos salões,clubes, cafés etc. com a irracionalidade docrime? A resposta de Tarde situa-se na con-sideração de que públicos são colectividadesconstituídas por indivíduos, os quais tambémpodem tender para o mal. Neste sentido,para Tarde os crimes do público distinguem-se dos crimes das multidões pelos seguintesaspectos: "(...) 1) são menos repulsivos; 2)são menos vingativos e menos interessados;menos vingativos e mais astutos; 3) são du-rante mais tempo e mais extensamente opres-sivos, e 4) finalmente, estão mais seguros daimpunidade"(Tarde, 1986:71). Logo, os cri-mes do público são, aparentemente, menosviolentos que os crimes das multidões revol-tadas.

Tarde defende que existe uma partilha ecumplicidade de interesses entre o público eos seus representantes ou dirigentes. Esta si-tuação faz com que o público seja responsa-bilizado pelos erros e crimes cometidos pe-los seus líderes: "será que o público eleito-ral, que elegeu deputados sectários e fanáti-cos, não é também responsável das suas pre-varicações, dos seus atentados contra as li-berdades, contra os bens, contra as vidas doscidadãos?"(Tarde,

1986:75)16.

16 Esta questão, põe em causa a moralidade dos pú-

Tarde aceita a inevitabilidade da comuni-cação dos indivíduos no público chegandomesmo a afirmar que a imprensa pode con-duzir à união e pacificação finais. Mas,apressa-se a dizer que, em último caso, to-das as iniciativas criativas só podem advir deum "pensamento individual, independente evigoroso"(Tarde, 1986:76).

Por último, Tarde teme que as democra-cias modernas, na sua tentativa de uniformi-zação de direitos, anulem a capacidade crí-tica dos eruditos devido a uma massificaçãoda cultura. Os intelectuais devem, assim, in-tervir no intuito de garantir a singularidadecriativa dos indivíduos, que conduz invari-avelmente à discussão crítica num público(Tarde, 1986:77).

3 Análise Crítica

Um dos grandes objectivos de Tarde con-siste na tentativa de compreender a relaçãoentre o indivíduo e o social no contexto dainterpsiquia. Apesar dos males do indivi-dualismo, e ainda que a socialização dis-solva o carácter interpsíquico das interac-ções, Tarde refere que o indivíduo deve-seprivilegiar em relação ao social. Neste sen-tido, o público enquanto colectividade socialproporciona aos publicistas e jornalistas asmaiores facilidades de se imporem e "às opi-niões individuais originais as maiores facili-dades para se difundirem"(Tarde, 1986:55),isto é, o público constitui um espaço deafirmação e esclarecimento do indivíduo17.

blicos políticos que legitimaram os regimes contráriosao espírito democrático. A cumplicidade destes pú-blicos políticos perante líderes sectários e totalitáriosé mais um exemplo dos crimes do público.

17Esta tese é herdeira da singularidade racional crí-tica do Iluminismo. Existe, assim, um contraste quer

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Mas, Tarde também refere que o surgimentodo público explica-se pela crescente necessi-dade de sociabilidade dos seus agentes crí-ticos, os quais realizam uma comunicaçãoregular através de informações e sentimen-tos comuns: "A transformação de qualquerclasse de grupos em públicos explica-se poruma necessidade crescente de sociabilidade,

com as posições de Durkheim, o qual concede pri-mazia ao facto social empírico exterior e coercivo so-bre o indivíduo, quer com o materialismo histórico edialéctico que realça a função revolucionária do pro-letariado reunido na práxis social. No que se refereao debate entre Tarde e Durkheim, para Durkheim asociedade é uma unidade colectiva que submete osindivíduos através dos factos sociais. "(...) É factosocial toda a maneira de fazer, fixada ou não, sus-ceptível de exercer uma coerção exterior; ou aindaque é geral na extensão de uma sociedade dada, tendoao mesmo tempo uma existência própria [o todo so-cial], independentemente das suas manifestações in-dividuais"(Durkheim, 1983:14). Logo, não podemosfalar de subjectividade nem de intersubjectividade emDurkheim. Para Tarde, a realidade social advém dosindivíduos [subjectividade] e das relações intermen-tais entre eles [intersubjectividade]. Tarde situa-se nalinha de pensamento de autores como Spencer, Quete-let e Condorcet, os quais salientam a continuidade en-tre o indivíduo e a sociedade (colectivo). Deste modo,os factos sociais não são coisas exteriores coercivasindependentes das manifestações individuais (comoDurkheim defendia), mas laços sociais formados en-tre os indivíduos. A sociedade constituía, assim, umconjunto de relações interpsicológicas, em que cadaindivíduo exercia uma acção inventiva, imitativa e deoposição. Tarde valoriza, num primeiro grau de im-portância, as invenções do génio individual. Só se-cundariamente as invenções surgem como resultadodo meio ambiente. "T. N. Clark e, mais recentemente,I. Lubek distinguiram bem aquilo que torna as tesesde Tarde discordantes em relação àquelas que domi-navam na sua época (...). [Tarde] pertence a uma tradi-ção que colocando o acento na subjectividade, creditaas condutas individuais de uma real espontaneidadeface aos quadros institucionais e relaciona a existên-cia de valores colectivos à iniciativa e à invenção pes-soais"(AAVV, 1996:68).

que torna necessário que os associados sedisponham em comunicação regular medi-ante uma corrente contínua de informaçõese de excitações [sentimentos] comuns. Estatransformação é, por conseguinte inevitável.(...)"(Tarde, 1986:56)18.

Assim, o público assume-se, principal-mente, como espaço de emergência da esferaprivada. Os indivíduos racionalmente escla-

18Podemos afirmar que a comunicação de infor-mações e excitações [sentimentos] comuns, postu-lada por Tarde no público, é análoga, em Habermas(1987:416), às teorias sociológicas da acção, as quais"admitem a comunicação no meio da linguagem ouem todo o caso a troca de informações. (...) [as te-orias sociológicas] divergem (...) quanto à maneirade conceber a coordenação das acções; elas postu-lam ou bem oacordo, e logo um saberpartilhado[numa acção social não manipuladora orientada paraa intercompreensão - razão comunicacional], ou bemsomente umainfluênciaexterna que os actores exer-cem uns sobre os outros [numa acção social mani-puladora orientada para o sucesso - acção estraté-gica]. Tarde não esclarece, em definitivo, se a comu-nicação de informações e sentimentos comuns visa,em qualquer circunstância, atingir o acordo, emboraa imprensa caminhe "no sentido da união e da pa-cificação finais"(Tarde, 1986:76). E para Habermas(1987:436), "(...) nem toda a interacção mediatizadapela linguagem representa um caso de actividade in-tercompreensiva. O acto de fala elementar não podeservir de modelo à formação de um consenso (...) se-não numa única condição: é necessário que o uso dalinguagem a partir dos fins de intercompreensão possaser designado como o modo originário de todo o em-prego da linguagem (...)". Para Habermas, (1984:46-106) a discussão crítica existente na esfera públicaburguesa [salões, cafés, clubes, Assembleias políticasetc.] deve levar a vontade a uma razão "que se pro-duz na concorrência pública dos argumentos priva-dos como consenso sobre o praticamente necessáriono interesse geral."Todavia, Katz (1999) refere queHabermas não esclarece, totalmente, a passagem doscenários informais dos cafés, clubes e salões para ocampo discursivo estritamente racional e colectiva-mente orientado da esfera pública burguesa.

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recidos afirmam a sua subjectividade em vá-rios graus no público19. De facto, publicistascomo Marx, Kroptkin, e outros desenvolvema subjectividade através de um contínuo pro-cesso de invenção e inovação. Nestes publi-cistas, o espírito anarquista e socialista só foipossível porque "(...) a impressão individualdo génio do seu promotor [é] mais marcadasobre um público do que o génio da nacio-nalidade e que o inverso seja verdade paraa multidão"(Tarde, 1986:52). A subjectivi-dade dos indivíduos é primária e matricialno público. Hunter (2000) cita Clark (1969),o qual comentando Tarde refere: "A últimafonte para toda a invenção encontra-se nasassociações criativas originadas nas mentesdos indivíduos dotados."Em relação à sub-jectividade Tarde defende que "(...) em defi-nitivo, toda a iniciativa fecunda só pode ema-nar de um pensamento individual, indepen-dente e vigoroso;"(Tarde, 1986:76). Tardesegue a tese de Lamartine, segundo a qual,devemos afastarmo-nos da multidão e do pú-blico. A solução é a prática de uma raciona-lidade individual e independente, no intuitode impedir uma democracia massificadora.

Simultaneamente, o público constitui um

19Os jornalistas e publicistas têm um maior poten-cial de afirmação que os simples cidadãos, pois têmum controlo mais efectivo sobre os meios de comuni-cação social. Actualmente, os novos publicistas e osjornalistas servem-se de novas mediações - as novastecnologias da comunicação (por exemplo: multime-dia, internet e futuramente a rádio e televisão digitais)- para formarem a opinião pública. Desde o séculoXVII até ao século XX, o desenvolvimento da im-prensa conduziu à formação de uma opinião públicacrítica. Progressivamente, a mediação da opinião pú-blica é exercida nos jornais, na rádio, na televisão enas novas tecnologias da comunicação assistindo-sea uma simultaneidade da acção comunicativa (empe-nhada na discussão crítica) e da acção instrumental(manipulação dos media).

espaço propício para a comunicação regu-lar de informações e sentimentos comuns.Este é o momento da intersubjectividade,que surge secundariamente como resultadodas inevitáveis interacções comunicacionaisentre os indivíduos. A intersubjectividadesó surge depois de estabelecida primeira-mente a subjectividade. "(...) Tarde acre-dita que os grandes indivíduos constituirãoinicialmente um público, o qual, uma vezformado, tornar-se-á aberto à mútua comu-nicação e sociabilidade entre os seus mem-bros"(Hunter, 2000). A intersubjectividadedo público é, assim, consequência da na-tureza sócio-comunicativa dos indivíduos.A intersubjectividade surge também na im-prensa. Tarde acredita que a acção comuni-cativa e intersubjectiva operada na imprensapode conduzir à união e pacificação finais."(...) Apesar de tudo, inclino-me a crer queas profundas transformações de que somosdevedores à imprensa foram feitas no sen-tido da união e da pacificação finais."(Tarde,1986:76) Atendendo ao conceito de público(Tarde, 1986:43), os indivíduos com a suasubjectividade crítica partilham uma coesãosomente mental. Daí a importância da in-terpsiquia enquanto mediação intersubjec-tiva realizada através da comunicação e cujoefeito praxiológico é a existência de socia-bilidade. Secundariamente, após a subjec-tividade inventiva, a intersubjectividade é olaço social que une os indivíduos no público."Este laço é (...) a consciência possuída porcada um deles de que esta ideia ou esta von-tade é compartida num mesmo momento porum grande número de homens. (...)"(Tarde,1986:44). Neste sentido, as correntes de opi-nião são, para Tarde, comunicações de cons-ciência a consciência (interpsiquia) desliga-das do instinto físico.

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Tarde oscila entre um individualismo sub-jectivo, propício à invenção, sumamente va-lorizado e a inevitável aceitação da comu-nicação intersubjectiva regular de informa-ções/sentimentos comuns. Existe, assim,uma aparente ambiguidade. Porque motivoTarde valoriza o pensamento individual aoponto de o apelidar de independente, se atransformação dos grupos sociais em públi-cos implica a comunicação e sociabilidadede cariz inevitável? Será que a partir datroca comunicacional ainda é possível fa-lar de um pensamento individual e indepen-dente? Tendo as profundas transformaçõessociais, motivadas pela imprensa, conduzidoà união e pacificação finais, será que o pensa-mento individual independente corre o riscode ser absorvido pela partilha comunicacio-nal? Tarde não dá resposta a estas questõesemLe publique et la foule.

Na verdade, trata-se apenas de uma apa-rente ambiguidade. Atendendo ao conjuntoda obra de Tarde, o pensamento individualé privilegiado. Mas, a actividade comuni-cacional intermental, fonte de sociabilidade,imitação e herança cultural, surge secundari-amente. A prova desta tese encontra-se emLes lois de l’ imitation, estudo fundador dopensamento de Tarde. "(...) Assim, é bemcerto que o progresso da civilização tem porefeito tornar a sujeição à imitação cada vezmais pessoal e racional ao mesmo tempo.Nós estamos tão sujeitos como os nossos an-tepassados aos exemplos ambientais [socie-dade], mas apropriámo-los melhor pela es-colha lógica e individual que deles fazemos,mais adaptada aos nossos fins e à nossa natu-reza particular. Isto não impede, contudo, aparte das influências extra-lógicas e prestigi-osas de ser muito considerável. (...)"(Tarde,s.d.:109). Mais adiante, Tarde refere: "Para

inovar, para descobrir, para acordar um ins-tante do seu sonho familiar ou nacional, oindivíduo deve escapar momentaneamente[num primeiro estádio] à sua sociedade. Eleé supra-social, antes de social, (...)"(Tarde,s.d.:113).

Para Reynié, comentando Tarde(1989:10), a invenção não é um sim-ples acto individual. A invenção "atravessa oindivíduo, parece extrair-se do mundo socialgraças à mediação do sujeito que não é, semele saber, mais do que um instrumento deum misterioso desígnio". Para Tarde, existeprimazia do pensamento individual. Masas novas iniciativas não são o puro produtode uma razão particular, pois a influênciaexterior do meio ambiente, da discussão,da tradição e da educação estão tambémpresentes enquanto contágio imitativo. "(...)uma condição sem a qual dois seres nãosaberiam obrigar-se um para com o outro,é porque eles têm um fundo de ideias ede tradições comuns, uma língua ou umtradutor comum, semelhanças tão estreitasformadas pela educação, uma das formas datransmissão imitativa. (...) (Tarde, s.d.:86).

Para Tarde, a sociedade é a imitação. Eas causas sociais da imitação são lógicas eextra-lógicas (não-lógicas). As leis lógicasda imitação actuam quando uma inovaçãoé considerada por um homem (exercício desubjectividade) mais útil ou verdadeira queas outras. As leis lógicas da imitação propos-tas por Tarde, segundo Marsden (2000:3),foram as seguintes: "1. A origem de umainvenção envolve a recombinação de imita-ções existentes, e esta origem será influen-ciada pelo contexto social [comunicação in-termental e intersubjectiva] e pelas capaci-dades de todos os envolvidos na recombina-

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ção"[afirmação da subjectividade]20. 2. Osucesso de uma imitação em espalhar-se ge-ometricamente a partir do seu ponto de ori-gem será uma função da sua adaptação, istoé, compatibilidade, com o ambiente de imi-tações existentes21 3. A selecção, isto é, aadopção de uma imitação ocorre ou atravésde uma ’substituição’ envolvendo um ’du-elo lógico’ e ’luta’ entre duas alternativas ouatravés de ’acumulação’, um processo ligadoa uma união lógica de imitações"22.

20Tarde dá o exemplo da linguística. Por um lado,pequenas invenções linguísticas foram sugeridas aosprimeiros linguistas "(...) por imitação de si ou deoutrem", isto é, por contágio social imitativo (Tarde,s.d:169). Por outro lado, linguistas de renome criaramlogicamente, por imitação do latim, palavras que as-sociaram ao prestígio da sua pessoa conseguindo pô-las em circulação (Tarde, s.d:171).

21Neste sentido, para Tarde tudo aquilo que é imi-tado é sempre uma crença (ideia ou querer) e um de-sejo (opinião ou desígnio) que se manifesta no espí-rito de uma língua, nas orações de uma religião, nosartigos de um código, nos deveres morais, no trabalhoda indústria e nos processos da arte.

22 A adopção de uma imitação só é possível porqueexiste progresso. As revoluções sociais são a causado progresso. Mas o que é o progresso? "O progressoé então uma espécie de meditação colectiva e semcérebro próprio, mas tornado possível pela solidari-edade (graças à imitação) dos múltiplos cérebros deinventores, de sábios que permutam as suas descober-tas sucessivas (...)"(Tarde, s.d:176). Tarde esclareceque o progresso não tem cérebro próprio, isto é, re-sulta da solidariedade intermental [e intersubjectiva]dos vários inventores que realizam a troca (comuni-cacional) das suas descobertas ou invenções. O pen-samento individual de cada inventor continua a exis-tir, enquanto afirmação da subjectividade. Mas secun-dariamente surge uma permuta intermental de desco-bertas através de uma comunicação (solidária) inter-subjectiva. Em estádio final, as múltiplas invenções,originariamente individuais, são revistas em funçãode uma meditação colectiva e necessariamente imi-tativa. O progresso tem duas vertentes: progresso so-cial e progresso individual. Em ambos, surge ora a

Nas leis extra-lógicas, estão presentes des-cobertas antigas ou recentes, "abstraindo dequalquer prestígio ou de qualquer descré-dito relacionado com a pessoa dos seus pro-

substituição através de duelos lógicos, ora a acumu-lação a partir de uniões lógicas. O duelo lógico apa-rece quando a nova invenção vem substituir as antigasdescobertas provocando: um aumento de fé naquelesque aceitam as novas invenções; uma diminuição defé naqueles que rejeitam as antigas invenções. Con-sequentemente, para Tarde a história das sociedades éum conjunto de duelos lógicos. "Não existe institui-ção pacífica que não tenha a discórdia por mãe. - Umagramática, um código, uma constituição implícita ouescrita, uma indústria reinante, uma poética soberana,um catecismo: tudo isso, que é o fundo categórico dassociedades, é obra lenta e gradual da dialéctica social.(Neste ponto, Tarde aproxima-se de Marx. Os dueloslógicos de Tarde são, para Marx, a contínua luta declasses). Tarde assinala duelos linguísticos (quandouma língua tenta impor-se sobre um dialecto); duelosreligiosos (a luta entre o dogma oficial e o dogma he-rético); duelos jurídicos (a luta para a aprovação deuma lei ou a luta no tribunal entre um autor e um de-mandado); duelos industriais (entre uma invenção jáinstalada há algum tempo e as novas invenções quetentam espalhar-se); duelos artísticos (uma escola queafirma um género de beleza negado por outra escola).Quanto às uniões lógicas, nas quais há uma acumu-lação de invenções, Tarde dá o exemplo das línguas,das mais antigas organizações políticas, da religião eda ciência. Em todos estes momentos, a imitação re-sulta num esforço lógico de unidade [intersubjectiva],que pressupõe uma acumulação de invenções. "Aslínguas (...) começaram certamente por se formar poruma aquisição sucessiva de palavras, de formas ver-bais, que exprimindo ainda ideias não expressas, nãoencontraram qualquer rivalidade a vencer para se esta-belecerem; (...)"(Tarde, s.d:202). E noutra passagem:"(...) O ideal seria que cada ciência distintiva fosseredutível, como a astronomia moderna, a uma fór-mula única, e que essas fórmulas diferentes tivessemcomo ligação uma fórmula superior; que numa pala-vra, não houvesse ciências, mas ciência (...)"(Tarde,s.d:206) (Ora este é o projecto da modernidade, no-meadamente de Descartes e Leibniz: construir umaciência que fosse verdadeiramateries universalis).

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pagadores"ou com o espaço e tempo oriun-dos dessas descobertas (Tarde, s.d:168). Asleis extra-lógicas da imitação são: "o mo-vimento do interior (disposição do espírito)para o exterior (o comportamento que ele in-duz), do superior para o inferior (o funciona-mento dos modelos ligados à ’acção suges-tiva e contagiosa dos indivíduos da elite’),a alteração do costume e da moda"(AAVV,1996:68). Por exemplo, na passagem dosuperior para o inferior a hierarquia domi-nante afirma a sua subjectividade impondomodelos aos subordinados, mas consequen-temente existe um esforço de comunicaçãointersubjectiva/intermental recíproco23.

Na obra de Tarde, podemos encontrar asprimeiras tentativas sociológicas de encarar ainstrumentalização e manipulação dos massmedia. Este aspecto é visível, sobretudo,quando Tarde se refere à inconsciência gene-ralizada que os públicos têm face à influên-cia persuasiva dos jornais (Tarde, 1986:44)e quando analisa o fenómeno dos públicosflutuantes, nos quais se verifica um interesseeconomicista por parte da indústria jornalís-tica (Tarde, 1986:54). Por outro lado, paraTarde os jornalistas, que necessitam de um

23Deste modo, Tarde afirma: "(...) mesmo no casoem que a acção das leis lógicas não intervém, não ésomente o superior que se faz imitar pelo inferior, opatrício pelo plebeu, o nobre pelo vilão, o clérigo peloleigo, mais tarde o parisiense pelo provinciano, o ho-mem das cidades pelo camponês, etc.: é ainda o infe-rior que, numa certa medida, bem menor, é verdade, écopiado ou tende a ser copiado pelo superior. Quandodois homens estão em presença e em contacto pro-longado, por mais alto que seja um e por mais baixoque seja o outro, eles acabam sempre por se imitarreciprocamente, mas um muito mais e o outro muitomenos (...)"(Tarde, s.d:247). (Nesta passagem, é ní-tida a influência da dialéctica do senhor e do escravode Hegel no pensamento de Tarde).

enquadramento deontológico e legal, podemser manipuladores despóticos e mesmo for-madores da opinião: "(...) seguramente aimprensa submete cada vez mais o públicosubjugado ao despotismo dos grandes jorna-listas. Muito mais que os estadistas (inclu-sivamente os superiores), são os jornalistasaqueles que formam a opinião e dirigem omundo"(Tarde, 1986:54). Para Katz (2000),Tarde acredita que os líderes da opinião, eespecialmente os jornalistas, têm grande in-fluência sobre o público. Após os indiví-duos escolherem um dado jornal e após osjornais descobrirem os gostos dos seus leito-res, existe uma acomodação mútua, que per-mite aos jornalistas manipular o seu públicode leitores. Neste âmbito, as interacções en-tre os membros do público são mais fracasdo que a acção manipuladora dos jornalistas:"(...) a interacção dentro do público é fracaporque os membros do público são 1) auto-seleccionados e 2) são regularmente influen-ciados pelo jornal que partilham. Por outraspalavras, a deliberação do público simples-mente reforça, mas não muda a posição dojornalista"(Katz, 2000). A manipulação dosjornalistas sobre o público é, sem dúvida, umexemplo da importância prioritária da sub-jectividade. Os jornalistas manipulam o pú-blico e outras colectividades sociais desen-volvendo um individualismo inventivo. A1a geração da Escola de Frankfurt, nomea-damente Horkheimer e Adorno, analisaria opoder manipulador e instrumentalizador dosmass media enquanto reflexo de uma indús-tria cultural continuamente crescente.

Para Baigorri (1994), Tarde é precursor dadivisão entre apocalípticos e integrados pre-sente na obra de Umberto Eco. Reformu-lando a posição de Baigorri, podemos assi-nalar uma dialéctica entre, por um lado, o

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carácter apocalíptico da apreciação sobre asubjectividade e, por outro lado, o carácterintegrado e optimista da apreciação da inter-subjectividade. Em primeiro lugar, a críticaà decadência da singularidade criativa hu-mana, em virtude das democracias massifi-cadoras, e a necessidade de uma valorizaçãoda racionalidade subjectivista, como pontode partida para a inovação inventiva, indiciao carácter apocalíptico. Em segundo lugar,Tarde aproxima-se de uma posição de inte-grado e optimista sobre a cultura de massasquando afirma que as profundas transforma-ções sociais operadas pela imprensa e medi-adas por discussões comunicacionais inter-subjectivas levam à união e pacificação fi-nais. Todavia, Tarde refere, em definitivo,que só os indivíduos dotados de um pensa-mento independente podem aspirar à inven-ção de iniciativas criativas.

Para Lubek (1981:375), à excepção deClark (1969:16-18) e Karpf (1932:93-94)que salientam a interpsiquia como elementode interacção entre os indivíduos, a maio-ria dos autores, que comentam o debate en-tre Tarde e Durkheim, "ignoraram as posi-ções interpsicológicas de Tarde e não viramnos seus escritos mais do que o seu ’psi-cologismo’ e/ou o seu individualismo."Nopresente estudo procuramos contrariar estatendência. É evidente que Tarde enfatizanos seus primeiros escritos, sobretudo, o pri-mado do indivíduo. Mas nos escritos pos-teriores (por exemplo, emEtudes de Psycho-logie sociale, La psychologie inter-mentaleeL’ inter-psychologie)Tarde anuncia já aquiloque seria o propósito central deL’ opinion etla foule - analisar a interacção humana nasvárias formas de associação. Segundo Lubek(1981:374), Tarde pretende observar directa-mente "os efeitos da interacção no seio dos

grupos, seitas, públicos, multidões e entre asnacionalidades ou os sexos". Neste contexto,o debate entre Tarde e Durkheim conduziuo pensamento de Tarde para a aceitação deuma interpsicologia que parte do indivíduo eprocura compreender a lógica social.

A sociologia de Gabriel Tarde é, acima detudo, uma psicologia social. Para Tarde, aSociologia só pode ser compreendida a partirde uma "psicologia intermental", que estudea interacção das consciências individuais,nomeadamente as "acções intermentais"e os"efeitos intercerebrais", complementada poruma lógica social que estude as obras de ci-vilização. Contrariamente às teses corren-tes na época que encaravam a Sociologiacomo física social, biologia social ou ideolo-gia social, Tarde prefere a expressão "psico-logia social", que ele forjou completamente(Cuin; Gresle, 1995:66), (Lubek, 1981:368)24. Tarde (1898a:67) escreve: "A verdade

24Contudo, para Gurvitch (1977:74-75), não po-demos filiar, apesar das possíveis aparências, a obrade Tarde na escola psicológica. Tarde defende que,para além do aspecto (inter)psicológico, a sociedadeé constituída por uma riqueza de obras de civilização:língua, educação, instrução, moral, religião, direito,poder político, indústria, arte, e ainda lutas, assimi-lações, associações, usos, hábitos e modas (nas quaisexistem oposições e adaptações). A imitação é o prin-cípio central da sociologia de Tarde. O facto socialé, primeiramente, um facto de imitação: "(...) a ca-racterística invariável de qualquer facto social qual-quer que ele seja, é que ele é imitativo (...) (Tarde,2000:24). Tarde vai mais longe: "(...) esta relaçãoimitativa não foi, no seu início, tal como é frequen-temente no fim, uma conecção lançando um indiví-duo para uma massa confusa de homens, mas me-ramente uma relação entre dois indivíduos, um dosquais, a criança, está em vias de ser introduzida noprocesso da vida social, enquanto o outro, um adulto,há muito socializado, serve de modelo social para acriança (Tarde, 2000:25)."A imitação pode estar li-gada: 1) ao sonambulismo; 2) a uma influência; 3)

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é que uma coisa social qualquer, uma pa-lavra de uma língua, um rito de uma reli-gião, um segredo de um ofício, um procedi-mento de arte, um artigo de lei, uma máximamoral, se transmite e passa, não do gruposocial tomado colectivamente ao indivíduo,mas certamente de um indivíduo - parente,mãe, amigo, vizinho, camarada - a um outroindivíduo, e que, na passagem de um espíritonum outro espírito ela [a coisa social] se re-fracte"25. Ora, esta afirmação pressupõe, em

a um acto de decisão; 4) à simpatia. E está baseadaem hábitos (costumes) imitativos e nas modas imita-tivas. Chega-se, assim,a um círculo vicioso que con-siste em explicar a imitação pelas obras culturais eas obras culturais pela imitação"(Gurvitch, 1977:75).Durkheim, critica a primazia concedida por Tarde àimitação. Gurvitch (1977:75) cita a crítica formu-lada por Durkheim contra Tarde emLe Suicide: "Éimpossível designar pelo mesmo nome de imitaçãoo processo em virtude do qual, no seio de uma reu-nião de homens, um sentimento colectivo se elabora,o que nos leva aderir às regras comuns tradicionaisde conduta e, finalmente, o que levou os carneirosde Panurgo a deitarem-se à água porque um deleso fez. Uma coisa á sentirmos em comum, outra éinclinarmo-nos perante a autoridade da opinião, ou-tra, ainda é repetirmos automaticamente o que os ou-tros fizeram.

25Tarde critica o carácter coercivo, exterior e co-lectivamente orientado do facto social, pois autorescomo Durkheim não conseguem explicar como é queo colectivo social pode ser assimilado coercivamentepelos indivíduos sem que existam relações intermen-tais. "(...) Aqueles escritores imaginam que estão de-clarando uma verdade com grande peso quando elesafirmam, por exemplo, que as línguas e as religiõessão produções colectivas; que as multidões, sem umlíder, construíram o Grego, o Sanscrito e o Hebreu,tal como o Budismo e a Cristandade, e que as forma-ções e transformações das sociedades são sempre ex-plicadas pela acção coerciva do grupo sobre os seusmembros individuais. (...) este autores falham emperceber que postulando uma força colectiva, a qualimplica a conformidade de milhões de homens agindojuntos sob certas relações, eles não prestam atenção a

Tarde, a passagem da subjectividade para aintersubjectividade necessárias a uma com-preensão mútua entre os vários indivíduos.Primeiro temos o indivíduo e depois há ummovimento de comunicação de informaçõese sentimentos comuns que formam o laço so-cial.

Em suma, após a análise das teses deTarde, nomeadamente a ideia do pensamentoindividual inventivo como fonte de iniciati-vas fecundas e da sua tese consequente, ouseja, a existência no público de uma comu-nicação intermental de informações e senti-mentos comuns podemos enquadrar a teoriado público de Tarde à luz da subjectividadee da intersubjectividade. Deste modo, a sub-jectividade tem a primazia no público. Massecundariamente surge a intersubjectividade,através da comunicação intermental numaactividade mediadora inevitável. Logo, ficademonstrada a existência de duas dimensõesna teoria do público de Tarde, cujos vecto-res são: I) pensamento individual crítico e

uma grande dificuldade, nomeadamente, o problemade explicar como é que uma tal assimilação geral po-dia alguma vez ter lugar (...) se estendermos a análise[tal como Tarde faz] para a relação intercerebral deduas mentes, uma reflectindo a outra. Apenas, assim,podemos explicar os acordos parciais, o bater dos co-rações em uníssono e as comunhões de alma, as quaisuma vez ganhas sobre e depois, perpetuadas pela tra-dição e imitação dos nossos antecessores, exercem noindivíduo uma pressão que é frequentemente tirânica,mas saudável"(Tarde, 2000:25). Tarde também reco-nhece: "(...) À medida que avançamos na vida, éverdade, que somos frequentemente governados pormodelos colectivos e impessoais"(Tarde, 2000:25). A"pressão"sobre o indivíduo não é um fenómeno de co-erção exterior. Mas resulta do contágio imitativo in-termental perpetuado, por exemplo, pela tradição, in-fluência, educação, costumes e modas. Neste sentido,a invenção, fonte de iniciativas criativas, individuaise independentes, está dependente das leis da imitaçãoefectivadas na actividade intermental.

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independente (subjectividade); II) actividadeintermental comunicacional (intersubjectivi-dade).

Os trabalhos de Tarde, a par de Simmel26,no contexto da interpsiquia e das interacçõessociais foram decisivos para o estudo da ac-ção social quotidiana, por parte da sociolo-gia americana. Em relação a Tarde, para Lu-bek (1981:378) citando Hinkle (1960: 268,273), "à excepção de Giddings e Ross os so-ciólogos americanos ignoraram o debate queopunha Tarde a Durkheim". Os sociólogosamericanos aproveitaram em Tarde, princi-palmente, a teoria da imitação, enquanto quea interacção interpsíquica quase nunca é re-ferida.

26Em Simmel, a interpsiquia, tomada em sentidogeral como relação intersubjectiva, e as interacçõessociais são factores constituintes da unidade social."A unidade societária é realizada pelos seus elemen-tos [indivíduos] sem mediação adicional, e não neces-sita de um observador, porque estes elementos estãoconscientemente e sinteticamente activos (...) esta co-nexão societária como síntese, permanece algo pura-mente psíquico e sem paralelo com as estruturas deespaço e suas relações"(Simmel, s.d:1). A unidadeda sociedade (a que Tarde prefere chamar laço so-cial) configura a intersubjectividade enquanto sínteseintercompreensiva das diferenças individuais. "Aquitambém os elementos individuais são dados, os quais,num certo sentido, sempre permanecem na sua des-continuidade, como no caso das percepções senso-riais, e eles [os elementos individuais] submetem assuas sínteses numa unidade da sociedade apenas atra-vés de um processo de consciencialização, o qual põea existência individual dos vários elementos numa re-lação com os outros [elementos individuais] em for-mas definidas e de acordo com leis definidas [a queTarde chama leis da imitação]. Mas a subjectivi-dade também está presente na sociedade. Apesarde existirem relações recíprocas "(...) a difusão so-cial não dissolve completamente a nossa personali-dade (...)"(Simmel, s.d:8). Em suma, para Simmel"a sociedade é uma estrutura de diferentes elemen-tos."(Simmel, s.d:9)

Na Escola de Chicago, a imitação de Tardeserviu para definir o conceito de atitude, pre-sente nos estudos de Thomas e Znanieckisobre o camponês polaco nos Estados Uni-dos27. Park, partindo da noção de imitaçãode Tarde, das relações entre público, multi-dão e massa e dos estudos de Simmel, en-cara a opinião pública como um espaço deinteracção entre os mass media e a vida de-mocrática (Mattelart, 1996:317). Mas, se-gundo Lubek (1981:380) a obra de Tarde nãodespertou muita atenção na Escola de Chi-cago. Todavia, algumas teorias desta Escolaforam baseadas em Tarde. Ross, por exem-plo segue o pensamento original de Tardechegando mesmo a fazer uma tradução livrede algumas passagens deLes lois de l’ imita-tion (Lubek, 1981:381).

Na Escola de Columbia, o primeiro divul-gador de Tarde foi Giddings, que elogia aoriginalidade de Tarde emLes Lois de l’ imi-tation, embora considere que Tarde foi me-nos original emLa logique sociale. Giddingsfoi, contudo, incapaz de fomentar um para-digma de comunidade científica em torno deTarde. No entanto, Davis (1906)28, oriundoda mesma Escola, publica a sua tese de dou-toramento sobre Tarde.

Elihu Katz é, talvez, o maior divulgadorde Gabriel Tarde na actualidade. Elihu Katz,juntamente com alguns licenciados, desen-volveu um projecto de investigação sobreTarde, primeiramente, na Universidade doSul da Califórnia e mais, recentemente, naUniversidade da Pennsylvania (com a HyperTarde Project Homepage - uma fonte de in-

27THOMAS, William; ZNANIECKI, Florian,1918, The polish peasant in Europe and America,Boston, Badger.

28DAVIS, Michael, 1906,Gabriel Tarde: An Essayin sociological theory, Columbia University.

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vestigação sobreL’ opinion et la conversa-tion).

No âmbito da Psicologia, e em particularda Psicanálise, o texto em comentário, per-mite apurar um estádio de hipnose e sugestãonas multidões: "(...) uma multidão de ho-mens reunidos é muito mais crédula do quecada um deles em separado; porque o factode ter apenas a sua atenção concentrada so-bre um único objecto, numa espécie demo-noideísmo29 colectivo, acerca-os ao estadode sonho ou hipnose, onde o campo da cons-ciência, singularmente reduzido, é invadidopor inteiro pela primeira ideia que se lhesofereça"(Tarde, 1986:73). Tarde situa-se, as-sim, na esteira de autores como Ribot, Ber-nheim, Richet, Binet e Onwicz.

As formulações de Tarde emL’ opinionet la foule influenciaram Katz e Lazarsfeld(1955)30 na teoria do "two step flow of com-munication". Segundo esta teoria, a comuni-cação de massa é adaptada às circunstânciasindividuais, através dos líderes de opinião.Estes, produzem invenções (novas ideias),que são difundidas mediante um processo deimitação (AAVV, 1972:512). O conceito delíderes de opinião foi baseado nas teorias deTarde sobre a acção dos publicistas, das leisda imitação e da interpsiquia.

29Estado para o qual, segundo Ribot (psicólogofrancês 1839-1916) tende a actividade intelectual: aconsciência encontra-se concentrada e organizada emtorno de uma ideia dominante. Onwicz usa este vo-cábulo para indicar o estado psicológico no sonho, nosono hipnótico ou no êxtase em que tudo se centranuma ideia ou numa única ordem mental.

30KATZ, Elihu; LAZARSFELD, Paul, 1955,Per-sonal Influence: The Part Played by People in theFlow of Mass Communications, Glencoe, Free Press.

4 Conclusão

Tendo em conta a temática subjectividadee intersubjectividade, podemos estabeleceruma reflexão sobre as seguintes questões:

Será que a emergência do indivíduo no pú-blico, sem negar as suas potencialidades cri-ativas, não se constrói no contacto intersub-jectivo alimentado por uma discussão críticacomunitária, mas não massificadora, e contí-nua?

Será que alguma vez o pensamento sepode tornar verdadeiramente independente?

Será que o homem é o resultado de umamundividência historicamente situada na lin-guagem enquanto veículo unificador do so-cial?

Não será o público um conjunto de indiví-duos unidos por uma espiritualidade mentalno seu sistema de crenças, ainda que cada umprocure cultivar uma razão esclarecida?

Todas estas questões denotam uma dia-léctica entre subjectividade e intersubjectivi-dade, conceitos indissociáveis na práxis co-municacional. Cada individualidade é umanatureza crítica inventiva à luz da razão es-clarecida do Iluminismo. Mas, o indivíduoencontra-se inserido no mundo social numacomplexa rede de laços sociais mediados poruma comunicação de consciência a consci-ência (interpsiquia). O texto em análise su-gere a ideia de que é possível explicar asinteracções sociais, a partir da interpsiquiae da comunicação regular entre os indiví-duos. As interacções sociais verificadas nopúblico, na multidão e noutras formas de as-sociação pertencem à esfera da comunicaçãointerpsiquíca.

Finalmente, partindo dos conceitos depúblico, multidão e massa que relaçõespodemos estabelecer no âmbito da te-

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mática: "Comunicação e Sociedade comSímbolo"31? O público constitui, simul-taneamente, um espaço de afirmação daindividualidade crítica e uma colectividadede representação linguística intersubjecti-vamente fundada, pressupondo uma duplatécnica: a afirmação da singularidaderacional e a partilha de informações esentimentos comuns. A multidão consistenuma colectividade amorfa e receptivamentepassiva dominada por representações es-pectacularizadas, através de uma técnica: ainstrumentalização exercida por um dadolíder. A massa é o momento supremoda alienação do indivíduo, o qual nega ocriticismo individual (razão egocêntrica)e colectivo (razão intersubjectivamentefundada), em favor de uma técnica: a adesãoàs representações linguísticas dominadaspelo espectáculo mediático.

Biografia de Jean-Gabriel deTarde

Jean-Gabriel de Tarde, filósofo, sociólogo,psicólogo e criminologista francês nasceuem Sarlat a 12 de Março de 1843 e mor-reu em Paris a 12 de Maio de 1904. A fa-mília de Tarde era de origem nobre e vi-via na região de Sarlat, desde a Idade Mé-dia. Entre os seus antepassados conta-seJean Tarde (1561-1636), capelão particulardo rei de França Henrique IV, astrónomo eamigo de Galileu.

Gabriel Tarde tinha apenas sete anosquando o seu pai morre. A sua mãe con-

31Temática desenvolvida na disciplina de Socie-dade e Comunicação I e cujos vectores são: Subjecti-vidade e Intersubjectividade; Representação; Lingua-gem; Técnica; Público; Massa; Análise de um malestar.

fia a educação de Tarde aos jesuítas de Sar-lat, onde faz os estudos secundários. Porém,Tarde revolta-se diversas vezes contra o rigorexcessivo dos jesuítas tentando a fuga.

Em 1860, obtém o bacharelato em Letrascom a classificação de Muito Bom, seguidodo bacharelato em Ciências. Após os estudossecundários, começa a sofrer crises oftalmo-lógicas, que o obrigam a viver longos mesesem locais escuros.

Entretanto, inscreve-se na Faculdade deDireito de Toulouse, mas depois transfere-separa Paris. Numa tentativa de superar a suadoença, inicia uma devoção mística a SantaTeresa de Ávila, mas o rigor da meditação fá-lo regressar à vida laical. Nesses momentos,escreve poemas, faz longos percursos pedes-tres e tem as primeiras intuições filosóficasao ler os filósofos gregos, Hegel, Leibniz eCournot.

Em finais de 1866, termina o curso deDireito. Em 1867, inicia a sua carreira namagistratura: secretário do juiz de Sarlat,juiz suplente e finalmente juiz de instrução.Nessa época, os problemas oftalmológicostinham desaparecido quase totalmente.

Tarde começa a sua carreira de investi-gação primeiro na Criminologia publicandovários artigos, nos quais entra em polémicacom o criminologista italiano César Lom-broso. Para além da Criminologia, publicatambém artigos nas áreas da Sociologia, Fi-losofia, Psicologia Social e Economia. Em1894, é nomeado director da secção de esta-tística criminal do Ministério da Justiça emParis, cargo que conserva até à morte. Nestacidade, continua uma vida intensa ligada àinvestigação nas Ciências Sociais e Huma-nas: colóquios, congressos, artigos e polé-micas (desta vez com Émile Durkheim, aoqual se opõe na definição e metodologia da

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Sociologia). A partir de 1896, foi regente dedisciplinas na École Libre de Sciences Poli-tiques e deu lições no Collège Libre des Sci-ences Sociales. Em 1900, aceita a regênciada cátedra de Filosofia Moderna no Collègede France.

A vida intensa de Gabriel Tarde chega aofim na noite de 12 de Maio de 1904. Momen-tos antes de morrer, reordena as suas notaspara o seu próximo trabalho -La conversa-tion et son rôle social- e lê-as a um dos seusfilhos. Depois, parte para o reino da mortecom a idade de 61 anos.

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6 Anexos

Principais obras de Gabriel Tarde

TARDE, Gabriel, 1886,La criminalité com-parée, Paris, Félix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1890,Les lois de l’ imi-tation. Etude sociologique, Paris, FélixAlcan.

TARDE, Gabriel, 1890,La philosophie pé-nale, Lyon, A. Storck.

TARDE, Gabriel, 1892,Etudes pénales etsociales, Lyon, A. Storck.

TARDE, Gabriel, 1893,Les transformationsdu droit. Etude sociologique, Paris, Fé-lix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1895,Essais et mélangessociologiques, Lyon, A. Storck.

TARDE, Gabriel, 1895,Les transformationsdu pouvoir, Paris, Félix Alcan.

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26 Marco António Antunes

TARDE, Gabriel, 1895,La logique sociale,Paris, Félix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1896,Fragment d’ histoirefuture in Revue internationale de socio-logie.

TARDE, Gabriel, 1897,L’ opposition uni-verselle. Essai d’ une théorie des con-traires, Paris, Félix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1898a,Etudes de psy-chologie sociale, Paris, V. Giard & E.Brière.

TARDE, Gabriel, 1898b,Les lois sociales,esquisse d’ une sociologie, Paris, FélixAlcan.

TARDE, Gabriel, 1901, La psychologieinter-mentale in Revue internationalede sociologie, vol. 9.

TARDE, Gabriel, 1901,L’ opinion et lafoule, Paris, Félix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1902,L’ invention consi-dérée comme moteur de l’ évolution so-ciale, Paris, V. Briard & E. Brière.

TARDE, Gabriel, 1902,Psychologie écono-mique, Paris, Félix Alcan.

TARDE, Gabriel, 1903a, L’ inter-psychologiein Bulletin de l’ Institutgénéral psychologique, vol. 3.

TARDE, Gabriel, 1903b,Inter-psychology:the interplay of human mindsin Inter-national Quarterly,vol. 7.

TARDE, Gabriel, 1904b,L’ interpsychologiein Archives d’ anthropologie criminelle,de criminologie et de psychologie nor-male et pathologique, vol.19.

TARDE, Gabriel, 1909,Gabriel Tarde in-troduction et pages choisies par sesfils suivies de poèmes inédites, Paris,Louis-Michaud. (Obra Póstuma).

TARDE, Gabriel, 1909b,L’ interpsychologieinfantile in Archives d’

anthropologie criminelle, vol 24. (ObraPóstuma).

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BOUGLÉ, C., 1905,Un sociologue indivi-dualiste: Gabriel Tardein Revue de Pa-ris, XII, Paris

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DUPONT, A, 1910,Gabriel Tarde et l’ éco-nomie politique, Paris

ESPINAS, A., 1910,Notice sur la vie et lesoeuvres de Gabriel Tardein Séanceset travaux de l’ Académie des Sciencesmorales et politiques, LXXIV, Paris.

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Outras referências bibliográficas em:http://www.socsci.mcmaster.ca/∼econ/ugcm/3ll3/tarde

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