publicação bimestral n.º 257 janeiro-fevereiro 2019 · muitas vezes constata-se que as cele -...

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Publicação BIMESTRAL N.º 257 janeiro-fevereiro 2019 ISSN 0871-5688 O PREÇO - 0,10 (IVA incluído) P. e Dário Balula Chaves [email protected] DINAMISMO DOS JOVENS NA IGREJA O Sínodo dos Bispos sobre os jo- vens, que se realizou em Roma em outubro de 2018, e a Jor- nada Mundial da Juventude (JMJ), no Panamá, de 22 a 27 de janeiro de 2019, são dois acontecimentos importantes que estão a marcar a vida da Igreja na atualidade e que são um sinal claro do carinho com que a Igreja olha para a situação dos jovens de hoje. O sínodo, no qual participaram 240 representantes de todo o mundo, incluindo jovens de várias culturas, foi, acima de tudo, uma grande graça de Deus para toda a Igreja: um momento de escuta e de diálogo, um exercício eclesial de discernimento, em que cada um teve oportunidade de partilhar as suas ideias sobre a situação dos jovens com franqueza e toda a liberdade. O convite do Papa Francisco Logo no discurso de abertura do sínodo, o Papa Francisco fez um convite aos participantes: «Sejamos sinal de uma Igreja à escuta e em caminho. Só o diá- logo nos pode fazer crescer. Este sínodo tem o dever de ser sinal da Igreja que se coloca verdadeiramente à escuta e que se deixa interpelar. Uma Igreja que não escuta mostra-se fechada às surpresas de Deus, e não poderá ser credível, em especial para os jovens.» Os anseios dos jovens Partilho apenas alguns pontos concre- tos da análise geral que o sínodo faz sobre a situação e os anseios dos jovens na sociedade de hoje e na Igreja: Os jovens desejam ser escutados. No documento final, o sínodo diz clara- mente que os jovens «exprimem o de- sejo de serem escutados, reconhecidos, acompanhados» e que este desejo mui- tas vezes não recebe resposta positiva na Igreja. «Em vários contextos, regista-se uma fraca atenção aos seus gritos» (n.º 7); e que «prevalece ainda a tendência de fornecer respostas pré-fabricadas e receitas prontas» (n.º 8). Os jovens desejam participação e protagonismo. Perante as contradições da sociedade, muitos jovens desejam pôr a render os seus talentos, compe- tências e criatividade e estão disponíveis para assumirem responsabilidades (n.º 52). Os jovens católicos não são mera- mente destinatários da ação pastoral, mas membros vivos do corpo eclesial, batizados onde vive e age o Espírito do Senhor (n.º 54). Os jovens desejam uma liturgia viva. Em diversos contextos, os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de ins- pirar a sua vida quotidiana, através de uma liturgia fresca, autêntica e alegre. Muitas vezes constata-se que as cele- brações são monótonas e não ajudam a entrar na riqueza dos seus símbolos e dos seus ritos (n.º 51). Ano Missionário com entusiasmo juvenil O documento do sínodo é rico em conteúdo e merece uma leitura aprofun- dada. Ao longo deste Ano Missionário procuremos dar passos concretos para passar da teoria à prática no nosso re- lacionamento com os jovens e sermos sinal de uma Igreja em caminho, mais acolhedora, mais fraterna e mais mis- sionária. Votos de Ano Novo cheio de Paz e de dinamismo missionário.

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Page 1: Publicação BIMESTRAL N.º 257 janeiro-fevereiro 2019 · Muitas vezes constata-se que as cele - brações são monótonas e não ajudam ... (cf. Lou - vado Sejas , 111). Como arma

Publicação BIMESTRAL

N.º 257 janeiro-fevereiro 2019

ISSN 0871-5688 PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

P.e Dário Balula Chaves

[email protected]

DINAMISMO DOS JOVENS NA IGREJA

O Sínodo dos Bispos sobre os jo-

vens, que se realizou em Roma

em outubro de 2018, e a Jor-

nada Mundial da Juventude (JMJ), no

Panamá, de 22 a 27 de janeiro de 2019,

são dois acontecimentos importantes

que estão a marcar a vida da Igreja na

atualidade e que são um sinal claro do

carinho com que a Igreja olha para a

situação dos jovens de hoje.

O sínodo, no qual participaram

240 representantes de todo o mundo,

incluindo jovens de várias culturas, foi,

acima de tudo, uma grande graça de

Deus para toda a Igreja: um momento

de escuta e de diálogo, um exercício

eclesial de discernimento, em que cada

um teve oportunidade de partilhar as

suas ideias sobre a situação dos jovens

com franqueza e toda a liberdade.

O convite do Papa Francisco

Logo no discurso de abertura do sínodo,

o Papa Francisco fez um convite aos

participantes: «Sejamos sinal de uma

Igreja à escuta e em caminho. Só o diá-

logo nos pode fazer crescer. Este sínodo

tem o dever de ser sinal da Igreja que se

coloca verdadeiramente à escuta e que

se deixa interpelar. Uma Igreja que não

escuta mostra-se fechada às surpresas

de Deus, e não poderá ser credível, em

especial para os jovens.»

Os anseios dos jovens

Partilho apenas alguns pontos concre-

tos da análise geral que o sínodo faz

sobre a situação e os anseios dos jovens

na sociedade de hoje e na Igreja:

Os jovens desejam ser escutados. No

documento *nal, o sínodo diz clara-

mente que os jovens «exprimem o de-

sejo de serem escutados, reconhecidos,

acompanhados» e que este desejo mui-

tas vezes não recebe resposta positiva na

Igreja. «Em vários contextos, regista-se

uma fraca atenção aos seus gritos» (n.º

7); e que «prevalece ainda a tendência

de fornecer respostas pré-fabricadas e

receitas prontas» (n.º 8).

Os jovens desejam participação e

protagonismo. Perante as contradições

da sociedade, muitos jovens desejam

pôr a render os seus talentos, compe-

tências e criatividade e estão disponíveis

para assumirem responsabilidades (n.º

52). Os jovens católicos não são mera-

mente destinatários da ação pastoral,

mas membros vivos do corpo eclesial,

batizados onde vive e age o Espírito do

Senhor (n.º 54).

Os jovens desejam uma liturgia

viva. Em diversos contextos, os jovens

católicos pedem propostas de oração e

momentos sacramentais capazes de ins-

pirar a sua vida quotidiana, através de

uma liturgia fresca, autêntica e alegre.

Muitas vezes constata-se que as cele-

brações são monótonas e não ajudam

a entrar na riqueza dos seus símbolos e

dos seus ritos (n.º 51).

Ano Missionário com entusiasmo

juvenil

O documento do sínodo é rico em

conteúdo e merece uma leitura aprofun-

dada. Ao longo deste Ano Missionário

procuremos dar passos concretos para

passar da teoria à prática no nosso re-

lacionamento com os jovens e sermos

sinal de uma Igreja em caminho, mais

acolhedora, mais fraterna e mais mis-

sionária.

Votos de Ano Novo cheio de Paz e

de dinamismo missionário.

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2 FAMÍLIA COMBONIANA

justiça e paz

SÍNODO DA AMAZÓNIA

MISSÃO E ECOLOGIA INTEGRAL

Ir. Bernardino Frutuoso

Os bispos da América Latina reunir-se-ão em Roma para refletir sobre o tema Novos

caminhos para a Igreja e para uma eco-

logia integral. Procuram, assim, novos estilos e métodos para missão da Igreja naquele continente, que devem ser elaborados para e com o povo de Deus que habita nessa região: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, mi-grantes e deslocados e, especialmente, para e com os povos indígenas, «fre-quentemente esquecidos e sem perspe-tivas de um futuro sereno, também por causa da crise da &oresta amazónica», como sublinhou o papa ao convocar o Sínodo em outubro de 2017.

Procuram-se, igualmente, novos ca-minhos de preservação da Amazónia. A região pan-amazónica é constituída por mais de sete milhões e meio de quilómetros quadrados e estende-se pelo território de nove países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar). Possui uma rica biodiversi-dade (30 % a 50 % da &ora e fauna do mundo), 20 % da água doce não con-gelada de todo o planeta e mais de um terço das &orestas primárias da Terra. É uma região multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa (há, aproximadamente, três milhões indígenas, de 390 povos e nacionalidades diferentes).

Sínodo interessa à Igreja inteira

A &oresta amazónica é de vital im-portância para o planeta Terra, mas desencadeou-se uma profunda crise, devido a uma prolongada intervenção humana na qual predomina a «cultura

do descarte» (Louvado Sejas, 16) e a mentalidade extrativista. Nesse sen-tido, como nos recorda o documento preparatório, «as re&exões do Sínodo Especial superam o âmbito estrita-mente eclesial amazónico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta. Partimos de um território especí=co, do qual se quer fazer uma ponte para outros biomas essenciais do nosso mundo: bacia fluvial do Congo, corredor biológico mesoamericano, florestas tropicais da Ásia-Pací=co e aquífero Guarani, entre outros». Biomas e povos indígenas ameaçados e explorados, por «propostas de internacionalização da Amazónia que só servem aos interesses económicos das corporações interna-cionais» (Louvado Sejas, 38).

O Sínodo da Amazónia rea=rma nos discípulos de Jesus a necessidade

de uma conversão ecológica e do com-promisso com a construção de uma ecologia integral. Cada batizado está chamado a assumir um estilo de vida e uma espiritualidade que fomente o cuidado pela Casa Comum (cf. Lou-

vado Sejas, 111). Como a=rma o papa, «o meio ambiente é um bem coletivo, património de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para admi-nistrá-la em benefício de todos. Se não o =zermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros» (Louvado Sejas, 95).

O Sínodo para a Amazónia realizar-se-á em outubro. Procura-se um novo paradigma

de evangelização, constituindo uma Igreja com rosto amazónico,

e traçam-se caminhos para a construção de uma ecologia integral.

O Sínodo para a Amazónia procura constituir uma Igreja com rosto amazónico

Leia o documento preparatório do Sí-nodo para a Amazó-nia utilizando este código QR.

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FAMÍLIA COMBONIANA 3

espiritualidade missionária

No início do Ano Missionário, a Ir. Maria Teresa soube da importância decisiva que

S. Daniel Comboni atribui à oração missionária das pessoas em vida contemplativa. «Tenho», escreveu ele, «mais de 200 mosteiros e institutos» a rezar «para eu conseguir levar a luz da santa fé ao interior da África» (cf. Escritos, n.os 1928, 1888, 5284-5286). Esta freira carmelita relata como, no seu longo retiro espiritual, mergulhou nos Escritos do santo missionário:

«Impressionei-me muito com o que li dos Escritos de Comboni. E mais ainda por desconhecer o seu tão rico, profundo e ardente vigor missionário, visível nos combonianos que conheço. Ao ler algumas das suas belíssimas cartas, cheias de paixão pela Nigrícia, e aperceber-me de quão valiosa era para ele a oração feita nos mosteiros em favor do seu trabalho, senti-me... envergonhada, por viver tão pouco a dimensão missionária da minha vida contemplativa! E pensei: realmente, este Ano Missionário só pode ser uma grande graça para nós, consa-gradas contemplativas! Sim, porque a contemplação não se alimenta de utopias, sonhos, idealismos... mas da relação pessoal e amorosa com Jesus e simultaneamente com as dores, anseios e esperanças da Humanidade inteira! Meu Deus, disse, quantas vezes eu vivo no meu pequeno mundo, tão ‘longe’ dos meus irmãos e pouco atenta aos seus clamores!...

Decerto, Santa Teresa de Jesus, mi-nha Santa Madre, não se ofendeu por eu ter passado um bom bocado a ler Comboni, durante o retiro espiritual... De facto, não foi uma interrupção nas meditações do retiro, mas um alerta, uma tomada de consciência mais

profunda da minha vida contempla-tiva chamada a ser realmente mis-sionária! Pois, a=nal, tanto ela como a minha “mana” Santa Teresinha do Menino Jesus e outros santos(as) do Carmelo desejaram tão intensamente dar a conhecer Jesus e o Evangelho e entregar-se pela salvação das pessoas, que familiarizar-me com S. Daniel Comboni e os seus apelos à intensa oração pelo seu trabalho apostólico só me assemelhará mais aos que me precederam no Carmelo e manterá vivo em mim o ideal eclesial-apostólico de Santa Teresa.

Pensei também em Comboni e Teresinha. Esta quis «ser apóstola, mis-sionária, não apenas durante alguns anos, mas desde a criação do mundo (e) até ao =m dos séculos». Comboni disse que daria mil vidas pela missão, em resposta à sede de Jesus na Cruz.»

CONTEMPLATIVAS, PORTANTO MISSIONÁRIASA Irmã Maria Teresa é uma carmelita de 44 anos, no Carmelo em Braga. Inspira-se em

S. Daniel Comboni para ser missionária com a sua oração.

Todos, tudo e sempre em oração

S. João Paulo II uniu a carmelita Teresinha e Comboni e o missionário Comboni num único movimento es-piritual: «Esta sede de almas a salvar foi sempre fortemente sentida pelos santos: pensemos, por exemplo, em Santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões, e em D. Comboni, grande apóstolo da África» (Mensagem Dia

Mundial das Missões de 2004).Do Coração de Jesus, onde vivem,

Teresinha e Comboni urgem agora os Cenáculos de Oração Missionária e as famílias Carmelita e Comboniana a unirem empenho pela santidade, oração missionária em profunda co-munhão com o Senhor e inesgotável dedicação à evangelização.

A Irmã Maria Teresa da Imaculada Conceição, à esquerda do P.e Claudino, no aeroporto

de Lisboa

P.e Claudino Gomes [email protected]

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6 FAMÍLIA COMBONIANA

linha direta da missão

ESTATUTO EDITORIALO jornal Família Comboniana é uma publicação bi-

mestral de inspiração missionária. Pretende promover os valores da paz, da justiça, da solidariedade e do respeito pelo ambiente e os direitos humanos. Quer dar a conhecer os problemas mundiais (sociais, eclesiais, económicos e políticos), especialmente os dos países menos desenvol-vidos, informar sobre o trabalho dos missionários portu-gueses em Portugal e espalhados pelo mundo e alimentar a vocação histórica universalista e solidária. Deste modo, a Família Comboniana é um elo com todos os missioná-

rios e um instrumento de cooperação missionária.O jornal Família Comboniana é associado da Missão

Press e da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC). Não tem =ns lucrativos. É distribuído por assi-natura (não se vende nas bancas) no âmbito nacional a partir de Lisboa e das outras casas dos Missionários Combonianos em Portugal.

Como publicação jornalística, respeita os princípios deontológicos e a ética pro=ssional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores.

REABRIU O ESCOLASTICADO

ERITREIA

Justiça nos Trilhos é uma organização que trabalha com indígenas, cam-

poneses e afrodescendentes do Brasil, para travar os abusos sobre os direitos humanos e ambientais cometidos por companhias mineiras e empresas de si-derurgia. Os Missionários Combonia-nos são uma das dezenas de entidades que compõem esta organização.

Em 2018, a Fundação Human Ri-ghts and Business Award distinguiu o trabalho excecional da Justiça nos Trilhos, por enfrentar os impactos sobre os direitos humanos causados pelas empresas. No comunicado é sublinhado que «trabalha rigorosa e conscienciosmente desde há muitos

O regresso da paz à Eritreia e a es-perança da adoção da democracia

são bons sinais para os estudantes de Teologia naturais desta nação africana. Desde 2008, os jovens não podem sair do país, por imposição do Governo. Se as novas autoridades abrirem as fronteiras, os estudantes combonianos eritreus já poderão completar a sua formação no estrangeiro, como fazem os candidatos ao sacerdócio combonia-nos do resto do mundo. Neste cenário promissor, foi reaberto o escolasticado em Asmara, frequentado por três estu-dantes de Teologia, acompanhados por dois formadores.

ABERTURA DE NOVA MISSÃO

Os Missionários Combonianos abriram uma nova missão na

Etiópia. Situa-se na localidade de Galye Rogda, em Wolkite, onde vive um grupo da etnia gumuz, que se re-fugiou na zona há cerca de cem anos. Os combonianos atenderão mais de um milhar de pessoas que só recente-mente conheceram o Evangelho. Este grupo acolheu a fé graças às visitas dos catequistas católicos provenientes do resto da zona gumuz, acompanhada pelos Combonianos desde 1939.

JUSTIÇA NOS TRILHOS RECEBE PRÉMIO

ETIÓPIA

BRASIL

anos em circunstâncias difíceis, sempre em estreita colaboração com as comu-nidades locais».

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FAMÍLIA COMBONIANA 7

Certo dia, uns estudantes uni-versitários perguntaram-me: «Como podes arriscar toda a

tua vida neste projeto missionário? Nem sequer sabes se Deus existe.» Respondi-lhes: «Como pode ser que Deus não exista, se eu O encontrei e Ele tem, até ao dia de hoje, guiado e trans-formado toda a minha vida, dando-lhe um sentido muito especial e belo?»

Duas certezas ao partir em missão

Quando trabalhava exclusivamente na paróquia de Nossa Senhora da Assun-ção, em Acra, no Gana, sentia que o que fazia era muito mais do que dar doze anos da minha vida às missões como realização de um sonho nascido na minha infância, baseado no meu amor a Jesus e aos valores do Seu Reino. Esses anos de vida foram como que a apo-teose da minha atividade como jovem missionário: ser missionário na África.

Em 1994, quando fui destinado às Missões no Togo, apenas tinha duas certezas: a de que deixava tudo o que possuía no nosso Portugal e partia para um desconhecido que ultrapassava completamente todos os meus esque-mas e projetos; e a de que acreditava e con=ava na força do amor de Deus que deseja salvar toda a humanidade.

É certo que eu não tinha uma ideia muito clara da missão que Jesus me havia con=ado e da resposta que eu seria capaz de dar. No entanto, o meu coração estava motivado com uma profunda fé em Jesus e no Seu amor para com as pessoas que Ele me iria con=ar. Sim, a minha única certeza e segurança era o Seu amor e a promessa da Sua presença: «Ide e anunciai a Boa Nova e fazei discípulos de todos os po-vos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os

MISSÃO É VIVER O SONHO DA VIDA

a observar tudo o que eu lhes ensinei. Eis que estou contigo sempre até o =m do mundo.»

«Cumpre-se o que S. Comboni

profetizou»

Atualmente, confiaram-me a tarefa das duas etapas da formação de novos missionários: promoção vocacional e formação. Tento ajudar os jovens que se sentem desa=ados pela Palavra de Deus a deixarem tudo e a seguirem Jesus Cristo. Eles vêm bater às nossas portas para que os ajudemos a discer-nir e a responder a essa (pro)vocação. Graças a Deus, são vários os jovens que se sentem desafiados a escutar o convite do Senhor Jesus: «Vem e segue-Me!» São Daniel Comboni já havia profetizado há quase 150 anos: «Os africanos serão os missionários de seus próprios irmãos e irmãs e de

toda a Igreja.» Sim, como São Daniel Comboni, nós acreditamos neste con-vite de Deus e queremos colaborar na abertura de caminhos que facilitem e tornem possível o cumprimento dessa profecia.

Estes jovens são capazes de abrir os seus olhos a horizontes mais fasci-nantes e belos, embora mais vastos e exigentes. Estou a falar de jovens que, ao apaixonarem-se pela Boa Nova de Jesus Cristo, não têm medo de arriscar, de se comprometer pelos ideais do Reino de Deus numa doação completa à vida missionária, ao serviço da Hu-manidade. Estas pessoas não temem sair do seu conforto cego, egoísta e, por vezes, mesquinho e apostar numa vida de dedicação e entrega disponível e alegre. Esta dedicação total à missão é um verdadeiro caminho de felicidade e de realização pessoal plena.

P.e Francisco Machado, natural de Brito (Guimarães), em missão no Gana

Do Gana, o comboniano português P.e Francisco Machado, natural de Guimarães,

escreve sobre o seu trabalho como promotor vocacional e formador.

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Jovens em missão (JIM)

FAMÍLIA COMBONIANAPropriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa coletiva n.º 500139989Diretor: Bernardino Frutuoso (CP 6411 A)Redação: Fernando Félix (CP 1902 A)/Carlos Reis (CP 2790 A)Gra%smo: Luís Ferreira Arquivo: Amélia NevesRevisão: Helder Guégués

Sede do Editor, Administração e Redação: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedação: Tel. 213 955 286 E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 213 900 246E-mail: [email protected]

Registo na ERC com o n.o 104210Depósito legal: 7937/85Estatuto editorial: http://www.combonianos.pt/Impressão: Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 27 150 exemplares

Dizemos muitas vezes que a missão faz-se com os pés dos que partem, as mãos dos que

ajudam e os joelhos dos que rezam. Queremos que Cristo se sirva das nossas mãos, pés e joelhos e, por isso, o movimento JIM tem posto os jovens audazes e generosos a mexer, em busca de mais! Jovens que, a partir do Cen-tro Vocacional Juvenil, na Maia, saem à noite para distribuir alguns bens essenciais pelos sem-abrigo do Porto e, sobretudo, para estar, conversar e escutá-los. Jovens JIM que, a partir de Lisboa, se colocam ao serviço em vá-rias tarefas em Camarate (Fetais, Quin-ta das Mós…) e se reúnem para rezar e escutar testemunhos missionários.

E há sempre mais: de 20 a 23 de dezembro, mais de 30 jovens e anima-dores do JIM participaram no Natal+, atividade de voluntariado missionário na paróquia de Camarate, do Patriar-cado de Lisboa. Refletindo sobre o encontro com Jesus, no presépio, nos mais frágeis e no anúncio da missão que é a passagem do Senhor entre nós, fazendo o bem a todos (Atos 10, 38); partilhando e, ao mesmo tempo, per-cebendo melhor a mensagem do Natal com as crianças, famílias e idosos desta paróquia, pudemos viver e (re)desco-brir a alegria profunda da celebração natalícia: Deus que vem ter connosco, se faz menino, pobre, abraça a nossa fragilidade e a partir dela nos redime e nos convoca para a missão!

Depois, logo a seguir ao Natal, de 28 de dezembro de 2018 a 1 de janeiro

de 2019, oito jovens e animadores do JIM participaram no encontro europeu de Taizé, em Madrid. Esta atividade foi uma oportunidade de encontro íntimo com Jesus, na oração e no silêncio, ten-do presente todos os povos do mundo, rezando particularmente pelos que mais anseiam e precisam de paz.

Viver intensamente o Ano Missionário

O grupo Fé e Missão da zona norte tem-se reunido na Maia e o da zona sul, em Santarém e Lisboa!

Nos dias 30 e 31 de março, em Santarém, acontecerá o habitual retiro de Quaresma JIM, para o qual convi-damos todos os jovens a participar, a não perderem esta oportunidade de se encontrarem com Deus e consigo.

Participaram no Missão+ 32 jovens das equipas JIM nacionais e oito do JIM da Itália

Estamos empenhados em viver intensamente o Ano Missionário, colocando-nos em oração, doação e serviço. Somos e vivemos a missão que Jesus nos pede. Que o Senhor nos ajude enquanto movimento a caminhar na Sua direção, conforme a Sua vontade e abençoe e ilumine os jovens do JIM e do grupo Fé e Missão, para que conti-nuem animados na fé e serviço e sejam cada vez mais generosos, humildes e entusiastas testemunhas de Cristo.

E damos também graças a Deus pelo testemunho de alegria, proximi-dade, carinho e dedicação aos jovens que o P.e Carlos Nunes deu ao serviço do JIM nos últimos anos.

Filipe Oliveira

PONDO TODOS, TUDO E SEMPRE EM MISSÃO,SOMOS JIM – JOVENS EM MISSÃO