(pt 204-10 substitutivo c\363digo florestal)

60
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO Meio Ambiente e Patrimônio Cultural PARECER TÉCNICO Nº 204/2010-4ªCCR REFERÊNCIA P.A. n.º 1.00.000.006800/2010-69 UNIDADE SOLICITANTE 4a CCR EMENTA Meio Ambiente. Espaço territorial especialmente protegido. Área de Preservação Permanente e Reserva Legal. Proposta de alteração do Código Florestal que tramita na Câmara dos Deputados. 1 INTRODUÇÃO O presente Parecer Técnico foi solicitado pela Coordenação da 4a CCR, em virtude do Substitutivo ao Projeto de Lei nº 1.876/1999, apresentado pelo Deputado Aldo Rebelo à Comissão Especial destinada à proferir parecer sobre o referido PL, que altera o atual Código Florestal, Lei n.º 4.771/65. 2 ANÁLISE O Substitutivo ao Projeto de Lei 1.876/99 foi analisado pelos signatários do presente Parecer Técnico e os comentários, quando pertinentes, foram incluídos após o item da proposta gerando o Substitutivo Comentado apresentado em anexo. A partir dessa análise, as principais alterações propostas foram extraídas do Substitutivo Comentado e agrupadas nos temas Área Urbana, Área de Preservação Permanente, Reserva Legal, Programa de Regularização Ambiental e Cota de Reserva Ambiental, apresentados a seguir: 2.1 Área Urbana 1. O conceito de área urbana consolidada (art. 2º) tornará mais liberal a ocupação e o uso alternativo de APP, reduzindo a proteção. Os critérios de reconhecimento da área urbana consolidada, que não incluirão a exigência de que a área já seja habitada, permitem a criação de áreas urbanas “consolidadas” a qualquer tempo, independentemente da existência prévia da ocupação, possibilitando a abertura de novos assentamentos urbanos em APP. 2. As APP em área urbana serão interpretadas como diferentes das APP em área rural, o que é um grave equívoco. Deve-se ter em mente que são as funções ambientais que justificam a existência das APP, quer em área urbana, quer rural. O Substitutivo considera que as APP em área urbana não são, necessariamente, tão relevantes quanto em área rural e, portanto, poderiam ser dispensadas de proteção, podendo ser efetivamente ocupadas, independentemente de serem ocupações realmente já consolidadas ou novas.

Upload: vokiet

Post on 17-Dec-2016

218 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL4ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Meio Ambiente e Patrimônio Cultural

PARECER TÉCNICO Nº 204/2010-4ªCCRREFERÊNCIA P.A. n.º 1.00.000.006800/2010-69

UNIDADE SOLICITANTE 4a CCR

EMENTA

Meio Ambiente. Espaço territorial especialmenteprotegido. Área de Preservação Permanente eReserva Legal. Proposta de alteração do CódigoFlorestal que tramita na Câmara dos Deputados.

1 INTRODUÇÃO

O presente Parecer Técnico foi solicitado pela Coordenação da 4a CCR, em virtude do

Substitutivo ao Projeto de Lei nº 1.876/1999, apresentado pelo Deputado Aldo Rebelo à

Comissão Especial destinada à proferir parecer sobre o referido PL, que altera o atual Código

Florestal, Lei n.º 4.771/65.

2 ANÁLISE

O Substitutivo ao Projeto de Lei 1.876/99 foi analisado pelos signatários do presente

Parecer Técnico e os comentários, quando pertinentes, foram incluídos após o item da

proposta gerando o Substitutivo Comentado apresentado em anexo.

A partir dessa análise, as principais alterações propostas foram extraídas do Substitutivo

Comentado e agrupadas nos temas Área Urbana, Área de Preservação Permanente, Reserva

Legal, Programa de Regularização Ambiental e Cota de Reserva Ambiental, apresentados a

seguir:

2.1 Área Urbana

1. O conceito de área urbana consolidada (art. 2º) tornará mais liberal a ocupação e o

uso alternativo de APP, reduzindo a proteção. Os critérios de reconhecimento da área urbana

consolidada, que não incluirão a exigência de que a área já seja habitada, permitem a criação

de áreas urbanas “consolidadas” a qualquer tempo, independentemente da existência prévia da

ocupação, possibilitando a abertura de novos assentamentos urbanos em APP.

2. As APP em área urbana serão interpretadas como diferentes das APP em área rural, o

que é um grave equívoco. Deve-se ter em mente que são as funções ambientais que justificam

a existência das APP, quer em área urbana, quer rural. O Substitutivo considera que as APP

em área urbana não são, necessariamente, tão relevantes quanto em área rural e, portanto,

poderiam ser dispensadas de proteção, podendo ser efetivamente ocupadas,

independentemente de serem ocupações realmente já consolidadas ou novas.

Page 2: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

3. As APP em áreas urbanas consolidadas passarão a ser definidas nos Planos Diretores

e leis de uso do solo do município. Se o município desejar suprimi-las não haverá

impedimento, uma vez que não há previsão de um padrão mínimo de proteção.

4. O Substitutivo, se aprovado, permitirá a implantação de infraestrutura de esportes,

lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre, nas APP situadas em áreas urbanas

consolidadas, o que significará a supressão de APP para dar lugar, por exemplo, a estádios;

clubes esportivos ou recreativos; escolas; fundações culturais; etc. Não há sequer a previsão

da obrigatoriedade de inexistência de alternativa locacional para tais atividades. Note-se que

não se trata da regularização de equipamentos já implantados, mas da permissão para novos se

instalarem.

2.2 Área de Preservação Permanente

1. O referencial para demarcação da faixa de APP será alterado para o leito menor (art.

3º, inciso I),e não mais do leito maior, como é atualmente. Essa alteração reduzirá

consideravelmente a extensão da área protegida, podendo-se, em função de características

topográficas, chegar a uma redução maior que a própria faixa. A redefinição da APP como

faixa demarcada a partir do leito menor acarretará a possibilidade de ocupação do leito maior

de cursos d'água, sujeito a inundações no período de cheias, por atividades antrópicas e até

mesmo assentamentos humanos. Com isso, é de se esperar o aumento de casos de danos

materiais à lavouras, criações, benfeitorias e edificações, além do risco à vida humana.

2. As faixas de APP às margens de rios, cuja largura será 15m (art. 3º, inciso I, Alínea

a), ao invés dos 30m atualmente previstos como faixa mínima, poderão ser reduzidos em até

50% pelos Estados (art. 3º, § 1º). Com isso, na prática, a faixa mínima de proteção às margens

de rios poderá ser de 7,5m. Esse valor não tem uma justificativa técnica que forneça garantias

de que a proteção das margens será obtida com essa faixa de proteção. A redução da largura

da APP será ainda mais significativa por causa da proposta de alteração do referencial para a

demarcação da faixa APP, conforme item abaixo.

3. Será feita a distinção entre nascente e olho d'água (art. 2º, incisos XI e XII),

considerados sinônimos pelo Código Florestal vigente. A partir dessa distinção, será

permitida, em alguns casos, a interferência em APP ao redor de nascentes intermitentes.

Enquadram-se nesses casos as diversas restrições impostas à intervenção ou supressão em

APP de nascentes previstas na Resolução Conama 369/2006, tais como a vedação de

intervenção em nascente por atividades de interesse social, a vedação de intervenção para a

extração de rochas para uso direto na construção civil, o condicionamento da intervenção à

outorga do uso da água.

4. A definição de vereda adotado no Substitutivo (art. 2º, inciso XVII) reduzirá a

proteção atualmente vigente. Ao invés de caracterizar o espaço protegido, o Substitutivo

descreve a fitofisionomia, o que, para efeito da descrição de Áreas de Preservação

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 2/60

Page 3: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Permanente, não é o mais adequado, uma vez que tratam-se de espaços territoriais

especialmente protegidos. O conceito utilizado no Substitutivo parece ter sido adaptado de

Ribeiro e Walter (1998), no entanto, o Substitutivo deixou de observar que esses autores

fazem a distinção da fitofisionomia vereda de Palmeiral, no qual incluem o subtipo buritizal, o

que, se é pertinente em termos de fitofisionomia, não o é em termos de definição de espaços

protegidos, uma vez que a fisionomia buritizal, tal como fisionomia vereda, também ocorrem

associados a solos brejosos ou encharcados, em fundos de vale, porém apresentando dossel.

proteção a ser conferida aos buritizais e a esses espaços brejosos deve ser idêntica a das

veredas, uma vez que devem ser protegidos em toda a sua extensão, e não em faixas

marginais, dada a fragilidade e importância ecológica desses ecossistemas como um todo. O

conceito da Resolução Conama, descrevendo o espaço, e inclusive vinculando à ocorrência de

nascentes e cabeceiras de cursos d'água, é mais apropriado1.

5. As restingas, em uma faixa de 300 metros a partir da linha do preamar máximo,

deixarão de ser protegidas sob a forma de APP. Isso facilitará a ocupação, por

empreendimentos de turismo e demais equipamentos urbanos, dessa importante região para a

preservação da zona costeira. As restingas assumem importante papel na fixação do substrato

arenoso, sujeito à ação erosiva do vento evitando problemas de bloqueio de estradas e invasão

de habitações, além de atenuar o assoreamento de brejos, lagunas e canais. A cobertura

vegetal contribui ainda para manter o substrato permeável, permitindo que a água das chuvas

alimente o lençol freático, cujo nível, por sua vez, garante o fornecimento de água potável na

região e a manutenção do nível dos corpos d’água. A retirada da vegetação acarreta a lavagem

acelerada dos nutrientes, que são carreados para as profundezas do solo, fora do alcance das

raízes, num processo de empobrecimento gradual do sistema. Em estágios mais avançados de

degradação, o solo sofrerá intensa erosão pelos ventos, o que pode ocasionar a formação de

dunas móveis – um grave risco para o ambiente costeiro e, particularmente, para a população

da faixa litorânea. Hoje, no entanto, estão ameaçados de descaracterização definitiva: a

intensificação da atividade humana ao longo da zona costeira tem acarretado a progressiva

degradação – e mesmo destruição – de seus componentes biológicos e paisagísticos. Em meio

dessa devastação, espécies animais e vegetais são eliminadas, o que restringe a diversidade

biótica e põe em risco valioso patrimônio genético2.

6. Os topos de morros, montes, montanhas e serras deixarão de serem considerados APP

e perderão a proteção legal. Essas áreas são especialmente relevantes para garantir, por

exemplo, a estabilidade das encostas, o que torna-se de extrema importância para o bem-estar

da população tendo em vista os desastres envolvendo deslizamento de encostas em época de

chuvas.

1Vereda - espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d'água, onde háocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritiaflexuosa) e outras formas de vegetação típica.2 Ciência Hoje. Vol. 06 N.º 33

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 3/60

Page 4: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

7. Também perderão a proteção, as áreas com altitudes superiores a 1.800m. Nessas

áreas, é comum a ocorrência de espécies raras e endêmicas, fazendo com que sejam de

importância para a conservação biológica. Esses ambientes, quase sempre de grande beleza

cênica, são pouco comuns no Brasil. Em estimativa feita, com o uso do software ArcView, a

partir de dados da Base Cartográfica Digital do IBGE, escala 1:1.000.000, de 2003, chegou-se

a apenas 1.015 km² (101.548 hectares) de áreas com altitudes superiores a 1.800 metros, a

maior parte da área situada na serra da Mantiqueira, divisa dos estados de Minas Gerais, Rio

de Janeiro e São Paulo. Considerando que o Brasil continental possui área de 8.514.876,59

km² (851.487.659 hectares), as áreas com altitudes superiores a 1.800 metros representam

0,01% desse território. Não por acaso, mas sim em função da relevância ambiental e cênica, a

maior parte das áreas com altitudes superior a 1.800 metros do Brasil encontram-se também

protegidas por unidades de conservação federais. Nessa situação encontram-se áreas do

Parque Nacional de Itatiaia, do Parque Nacional Serra da Bocaina, do Parque Nacional Serra

dos Órgãos, do Parque Nacional do Caparaó, do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,

do Parque Nacional Pico da Neblina, do Parque Nacional Monte Roraima, da Área de

Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira e da APA de Petrópolis. A eliminação da

proteção das áreas com altitudes superiores a 1.800m, sob a forma de APP, possibilitará o uso

alternativo daquelas localizadas fora das UC de proteção integral.

8. A largura da faixa de APP no entorno de reservatórios de água artificiais passará a ser

definida pelo órgão ambiental no âmbito do licenciamento de cada empreendimento (art. 3º,

inciso III; art. 4º). As faixa mínimas propostas, de 30m em área rural e de 15m em área

urbana, são inferiores às faixas atualmente definidas na Resolução Conama 302/2002.

9. As acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 ha serão

dispensadas de possuírem faixa de APP no entorno (art.3º,§ 4º) . Diversas lagoas marginais

aos rios, de importância como berçário para diversas espécies, encontram-se nessa situação. O

Substitutivo, se aprovado, permitirá, por exemplo, o avanço de atividades antrópicas, aí

incluída a agricultura, todos os insumos que a acompanham, e a construção de edificações,

seus sistemas de disposição de resíduos, até o limite dessas acumulações, o que certamente

trará prejuízo a esses ambientes.

10. Será permitida a implantação de polos turísticos e de lazer no entorno de

reservatórios artificiais, de acordo com o que for definido no processo de licenciamento

ambiental (art. 4º, §2º), eliminando o limite máximo dessa ocupação em dez por cento da área

do entorno, conforme atualmente fixados na Resolução Conama 302/2002.

2.3 Reserva Legal

1. Será eliminada a exigência da Reserva Legal (RL) para imóveis rurais com área de até

quatro módulos fiscais (art. 14). Na Amazônia Legal, onde significativa área tem o módulo

fiscal definido em 100 hectares, propriedades com até 400 ha ficarão dispensadas da

averbação da Reserva Legal. Considerando a área como floresta, com Reserva Legal de 80%

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 4/60

Page 5: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

da área, seria possível o desmatamento de até 320 ha por propriedade com área igual ou

superior a 4 módulos fiscais. Nessas condições, como, propriedades rurais com área de até

400 hectares poderão ser totalmente desmatadas na Amazônia, um conjunto de pequenas

propriedades rurais, ocorrentes na mesma região, poderá levar a existência de extensas áreas

desmatadas, portanto, sem os benefícios propiciados pela Reserva Legal.

2. Será exigida Reserva Legal apenas para a porção do imóvel que exceder a quatro

módulos fiscais (art. 14, §1º). Assim, haveria a redução de Reserva Legal em área

correspondente a, no mínimo, 0,8 módulos fiscais (20% de 4 módulos fiscais) por propriedade

rural, podendo-se chegar a 3,2 módulos fiscais (80% de 4 módulos fiscais), para cada

propriedade rural localizada em área de floresta da Amazônia Legal. Multiplique-se a área de

redução da Reserva Legal, considerando os o percentuais de Reserva Legal e os módulos

fiscais para cada localidade, pelo número de propriedades ou posses existentes em todo o

Brasil e é possível obter uma estimativa área em que a proteção será reduzida e será passível

de ser convertida a partir da introdução desse dispositivo.

Apenas para os estados situados na região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará,Rondônia e Roraima) a introdução desse dispositivo será responsável pela redução de cerca de71.000.000 ha (setenta e um milhões de hectares) de área protegida3, área que é superior aosomatório de todas as unidades de conservação federais situadas na Amazônia Legal, deproteção Integral e Uso Sustentável (61.598.042 ha)4. Se considerada a possibilidade deexistência de uma infinidade de posses, não cadastradas pelo Incra, a redução da áreaprotegida poderá ser ainda maior.

O fato de a dimensão do módulo fiscal variar apenas no espaço, mas também no tempo,uma vez que a área do módulo de cada município pode ser alterada pelo INCRA em função dotipo de exploração predominante no município, da renda obtida com a exploraçãopredominante, de outras explorações existentes no município que, embora não predominantes,sejam significativas em função da renda ou da área utilizada, do conceito de agriculturafamiliar, levará a alterações constantes na área da Reserva Legal das propriedades. Seampliada a dimensão do módulo fiscal, novas áreas de Reserva Legal poderão ser convertidas;se reduzida a dimensão do módulo, haverá a necessidade de reposição da Reserva Legal. Atítulo de informação, existem hoje 28 categorias distintas de módulos fiscais, com áreavariando de 5 a 110 hectares. O módulo fiscal de maior frequência é o de 20 ha, atualmente

3Para essa estimativa foi considerado que os imóveis estão localizados em área com formações florestais, comReserva Legal de 80% da área, exceto para o estado de Roraima em que foi considerada a formação savânica eReserva Legal de 35%. O número de propriedades por área de módulo fiscal em cada estado foi obtido a partirde dados disponibilizados pelo Incra (http://www.incra.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=153&Itemid=182, acessado em 18 junho de 2010).Acre: 14.265 propriedades com módulo fiscal de 100 há e 7450 com módulo fiscal de 70 ha; Amazonas: 17.899propriedades com módulo fiscal de 100 há, 41.512 com módulo fiscal de 80 há e 2.899 com módulo fiscal de 10há; Amapá: 3.948 propriedades com módulo fiscal de 70 ha e 5.947 com módulo fiscal de 50 ha; Pará: 49.599propriedades com módulo fiscal de 75 ha, 42.426 com módulo fiscal de 70 ha, 7.084 com módulo fiscal de 65ha, 27.627 com módulo fiscal de 55 ha, 2.196 com módulo fiscal de 50 ha, 731 com módulo fiscal de 7 ha e 148com módulo fiscal de 5 ha; Rondônia: 77.396 propriedades com módulo fiscal de 60 há; Roraima: 16.522propriedades com módulo fiscal de 100 ha e 10.270 com módulo fiscal de 80 ha..4http://www.socioambiental.org/uc/quadro_geral , acessado em 18 de junho de 2010.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 5/60

Page 6: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

estabelecido para 815 municípios brasileiros, com destaque para a região Sul, com 447municípios. O de menor frequência é o de 110 ha, que vigora para apenas 2 municípiossituados no estado do Mato Grosso do Sul.

3. A localização da Reserva Legal no interior do imóvel será de livre escolha do

proprietário ou possuidor, salvo quando houver prévia determinação de sua localização pelo

órgão competente do Sisnama (art. 15), o que será muito difícil de acontecer na prática dada a

capacidade operacional dos órgãos de meio ambiente no país. O Código Florestal vigente

prevê que a localização da RL deve ser aprovada pelo órgão estadual competente, municipal

ou outra instituição habilitada devendo ser considerados no processo de aprovação a função

social da propriedade e os seguintes critérios e instrumentos, quando houver: plano de bacia

hidrográfica; plano diretor municipal; ZEE, outras categorias de zoneamento ambiental e a

proximidade com outra RL, APP UC ou outra área legalmente protegida.

4. Será permitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no percentual de

Reserva Legal (art. 16), podendo haver situação em que as áreas de APP existentes na

propriedade sejam suficientes ou próximas do percentual previsto para a região, não havendo

outra forma de proteção. O código atual admite esse benefício apenas para casos em que as

APP correspondiam a porção significativa da propriedade, quais sejam, quando a soma da

vegetação nativa em APP e da Reserva Legal excedesse a oitenta por cento da propriedade

rural localizada na Amazônia Legal; cinquenta por cento da propriedade rural localizada nas

demais regiões do País; vinte e cinco por cento da pequena propriedade assim considerada

aquela com 50 ha, se localizada no polígono das secas ou a leste do Meridiano de 44º W, do

Estado do Maranhão, ou 30 ha, se localizada em qualquer outra região do País.

5. Será permitida a compensação de Reserva Legal mediante a doação ao Poder Público

de área localizada no interior de Unidade de Conservação (art.25, III), promovendo uma

redução substancial da proteção de vegetação nativa. Cabe mencionar que o Ministério

Público Federal já impetrou a ADI 4367 contra dispositivo, previsto no § 6º do art. 44 da Lei

4.771/65, com a redação que lhe foi conferida pela Lei 11.428/2006, que permite aos

proprietários rurais a desoneração do dever de manter em sua propriedade reservas florestais

legais, mediante doação de área de terra localizada no interior de unidade de conservação,

pendente de regularização fundiária.

A esse propósito, é importante notar que as APP não são, no Código Florestal vigente,

computadas para o cálculo do percentual da Reserva Legal, de modo tão amplo.

O Código atual admitia esse benefício apenas para casos em que as APP correspondiam

à porção significativa da propriedade, quais sejam, quando a soma da vegetação nativa em

APP e da Reserva Legal excedesse a oitenta por cento da propriedade rural localizada na

Amazônia Legal; cinquenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do

País; vinte e cinco por cento da pequena propriedade assim considerada aquela com 50 ha, se

localizada no polígono das secas ou a leste do Meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão,

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 6/60

Page 7: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ou 30 ha, se localizada em qualquer outra região do País.

O procedimento é tecnicamente justificado porque os objetivos de APP e RL, embora

complementares, não se confundem5.

De acordo com Campos (2006b), as APP, as RL, e outras áreas legalmente protegidas,

além de contribuírem para a preservação de ecossistemas, são importantes para aumentar a

expressividade das Unidades de Conservação, sendo que o conjunto dessas áreas configura

uma estratégia “expandida” de valorização da biodiversidade.

Como é amplamente sabido (PRIMACK & RODRIGUES, 2001; PAGLIA et al, 2006;

PINTO et al, 2006 ROCHA et al, 2006; BENSUSAN, 2006), a conservação da biodiversidade

não se faz somente nos locais restritos das áreas protegidas pelas Unidades de Conservação.

Por essa razão, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) previu dois outros

conceitos relevantes para a gestão de UC. São eles: a zona de amortecimento e o corredor

ecológico, que representam um esforço para levar a conservação da biodiversidade para além

dos limites da UC.

A zona de amortecimento, prevista no SNUC, tem como ideia central o fato de que o

uso de recursos naturais no entorno da Unidade pode vir a comprometer os processos

ecológicos que geram e mantêm a biodiversidade que se quer conservar. Já os corredores

ecológicos procuram mitigar o efeito da fragmentação dos ambientes naturais a qual prejudica

ou mesmo inviabiliza a manutenção da biodiversidade em função da redução e isolamento dos

ecossistemas. Os corredores propiciam a conectividade6 entre as áreas conservadas e garantem

a variabilidade genética das populações silvestres, que permite a evolução e sobrevivência das

espécies (em última análise).

Portanto, a busca de conectividade entre fragmentos de vegetação traz os benefícios

necessários a uma proteção efetiva da biodiversidade. Deve ser levado em consideração que

os processos de isolamento dos remanescentes de ecossistemas, conhecidos como

fragmentação e insularização, produzem várias mudanças qualitativas fáceis de predizer,

conforme destacado por Bierregaard, et al. (1992), Campos & Agostinho (1997) e Primack &

Rodrigues (2001) apud Campos (2006a), entre as quais podem ser citadas:

i. acarreta a redução de populações silvestres, com consequências genéticas deletérias,

aumentando a probabilidade de extinção de espécies, devido à menor capacidade de

adaptação a mudanças naturais ou antropogênicas do ambiente;

5 O trecho a seguir foi retirado da IT n.º 76/09 – 4a CCR.6Conectividade pode ser definida como a capacidade da paisagem (ou das unidades da paisagem) de facilitar osfluxos biológicos. A conectividade depende da proximidade dos elementos de habitat, da densidade decorredores e “stepping stones” (pontos de ligação ou trampolins ecológicos que facilitam o fluxo gênico entrefragmentos de vegetação) e da permeabilidade da matriz ambiental (METZGER, 2001).

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 7/60

Page 8: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ii. considerando que a distribuição das populações não é homogênea; certas espécies

podem não estar presentes em determinados fragmentos ambientais simplesmente

porque não “acharam o caminho” (dispersão) antes dos ecossistemas serem isolados;

iii. a fragmentação de habitat aumenta a vulnerabilidade dos fragmentos de vegetação à

invasão de espécies exóticas e espécies nativas invasoras;

iv. espécies que requerem grandes habitats podem não sobreviver em pequenos

fragmentos.

Em resumo, a fragmentação e insularização de habitats diminuem a possibilidade de

áreas naturais se manterem como ecossistemas auto-regulados em sua complexidade natural,

podendo levar a um processo de extinção em cadeia (Campos, 2006a).

Um exemplo concreto do efeito da fragmentação é o da Estação Ecológica Aracuri, no

Estado do Rio Grande do Sul, a qual encontra-se praticamente isolada de outros fragmentos

florestais maiores, e que, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade/MMA (ICMBio, 2008), já sofreu perda de biodiversidade exatamente pelo

desmatamento de matas de araucária no entorno da unidade. No respectivo Plano de Manejo

(ICMBio, 2008) foi indicada claramente a necessidade de manter e criar “corredores

biológicos”7 mediante a averbação e recuperação das RL de propriedades lindeiras. Da mesma

forma, o Parque Nacional das Emas, em Goiás, sofre com o processo de insularização

decorrente da ocupação desordenada e ilegal das propriedades lindeiras, e uma das estratégias

encontradas por atores locais (empresa Bunge, ONGs e agricultores) é regularizar a situação

das RL (CI et al, s.d.; CAVALCANTI, 2006).

Essa análise permite concluir que os três instrumentos citados de proteção legal, as UC,

as RL e as APP, embora possuam objetivos ligeiramente diferenciados, são complementares e

fundamentais para a proteção da biodiversidade e geram inúmeros benefícios para a

população, para a manutenção da qualidade ambiental, assim como para a representatividade

dos ecossistemas nacionais8.

6. Aqueles que descumpriram o atual Código Florestal serão premiados com a redução

da Reserva Legal para fins de regularização ambiental, para até 50% da propriedade em área

de formação florestal na Amazônia Legal; para até 20% da propriedade em área de formação

savânica na Amazônia Legal (art. 18, inciso I e II). Com isso, haverá redução de significativa

área protegida.

7. A recomposição/regeneração natural da RL ou a sua compensação passam a serfacultativas (art. 25) e não obrigatórias. No Código Florestal vigente as medidas indicadasconstituem dever e não possibilidade.

7Há vários termos correlatos, conceitualmente distintos, mas que partem da mesma premissa básica (p. ex.: corredoresecológicos, corredores de fauna, corredores de hábitat, corredores de biodiversidade).8 Mais sobre o assunto ver METZGER (2010), em anexo.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 8/60

Page 9: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

8. Ficará assegurada a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreasrurais consolidadas, localizadas em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal,como também nas áreas de várzeas e de inclinação entre 25º e 45º, até a elaboração deProgramas de Recuperação Ambiental pela União ou pelos Estados (art. 27). O parágrafo 5ºdesse artigo estabelece um prazo de 5 anos para a elaboração dos PRA. Por sua vez, o art. 47,§ 1º e 3º, permite que os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estenderem oprazo de elaboração do PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10anos para o início do processo de recuperação da Reserva Legal, seguidos de outros 30 anospara a sua recuperação, a uma razão de 1/30 por ano. Com isso haverá o retardo no início doprocesso de recuperação da área de Reserva Legal, chegando-se a um limite de 40 anos. Aproposta analisada deixa de apresentar quaisquer mecanismos de monitoramento da execuçãoda recomposição e a penalização daqueles que deixarem de executar a sua reparação. Assim,não há garantias de que a recomposição será executada.

9. Será permitido o plantio de espécies exóticas na recomposição da reserva legal deacordo com critérios técnicos gerais estabelecidos em lei estadual ou do Distrito Federal (art.25, § 2º). Tal medida promoverá a descaracterização da vegetação nativa das Reserva Legaisassim recompostas. É preciso que uma Lei Federal estabeleça e unifique um padrão mínimode proteção, o que não está ocorrendo em diversos momentos do Substitutivo ora examinado.No Código atual, a recomposição da RL deve ser apenas com espécies nativas, possibilitandoo plantio de exóticas somente de modo temporário como pioneiras, visando a restauração doecossistema original.

2.4 Programa de Regularização Ambiental (PRA)

1. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais ficarão desobrigados de adotarem

qualquer medida de recomposição de vegetação suprimida sem autorização até que um

Programa de Regularização Ambiental, a ser elaborado pela União ou pelos Estados, assim o

determine (art. 24). Em síntese, a iniciativa da reparação do dano será retirada de quem

efetivamente degradou e transferida para o Estado. Nenhuma medida deverá ser adotada até

que os Estados elaborem e implementem os Programas de Regularização Ambiental.

2. Ao que parece, a proposta de regularização ambiental incumbirá o Poder Público da

recuperação das Áreas de Preservação Permanente (art. 24), enquanto os proprietários e

possuidores se responsabilizarão (?) pela recomposição da Reserva Legal (art. 25).

3.. Áreas de Preservação Permanente poderão não ser recuperadas, se assim definir o

PRA (art. 24, § 3º)

4. Até que os PRA sejam elaborados implementado, ficará assegurada a manutenção das

atividades agropecuárias e florestais em áreas rurais consolidadas, localizadas em APP e RL e

áreas com declividade entre 25º e 45º (art. 27). Entretanto, considerando que o PRA deverá

ser elaborado pelo poder público (a União, estados ou pelo Distrito Federal), e que essa

obrigação depende de previsão orçamentária, e, ainda, depende da elaboração prévia de

Zoneamento Ecológico-Econômico, de Planos de Recursos Hídricos, de inventários florestais

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 9/60

Page 10: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

e de estudos técnicos de órgãos de pesquisa e sabendo-se que a União e os Estados não

dispõem dos recursos e a estrutura necessários a elaboração de todos os estudos prévios e nem

o próprio PRA. Portanto, é factível prever que em determinadas situações os PRA nunca serão

elaborados e com isso a ocupação nas APP e RL será legalizada, independentemente da sua

relevância ecológica e dos serviços ambientais fundamentais para a manutenção da qualidade

de vida e do bem-estar da população brasileira. Em resumo, o Substitutivo criará uma forma

de desobrigar os proprietários e possuidores rurais da tarefa de recompor as APP e RL.

5. O Substitutivo não apresenta formas para garantir a adesão dos proprietários e

possuidores ao PRA, prevendo apenas que eles participarão e contribuirão na implementação

dos programas, sem estabelecer uma obrigação mínima. Não há previsão de penalidades para

a não-adesão ao PRA, o que poderá levar ao seu descumprimento, especialmente

considerando-se que implicará custos aos proprietários, bem como a exclusão de atividades

produtivas em APP. Não haverá incentivo, nem positivo, nem negativo para a adesão ao PRA.

6. Os TAC já firmados poderão ser suspensos, unilateralmente, pelos proprietários e

possuidores rurais, até a elaboração do PRA (art. 27 § 1º). A suspensão de termos de

compromisso já firmados, a critério exclusivo dos proprietários rurais, retardará a recuperação

de áreas de APP e Reserva Legal. Haverá casos em que a suspensão do acordo e da execução

das medidas, poderá levar a novos desmatamentos, com a conversão de áreas em processo de

recuperação outra vez em áreas de uso agropecuário, para uso por mais 5 ou 10 anos, até a

elaboração do PRA. Em outros, a possibilidade é possível que PRA nunca sejam elaborados

para determinadas bacias, uma vez que o Substitutivo não garante os recursos necessários para

tanto, levando a conversão de uso definitiva de áreas atualmente em processo de recuperação.

Além disso, tal medida é contraditória, uma vez que o Substitutivo por outro lado, prevê a

assinatura de TAC caso o estado não implemente o PRA (art. 27, § 5º). Melhor seria manter

os termos de compromisso assinados em vigor.

7. Os estados e o Distrito Federal poderão estender o prazo de elaboração do PRA em

até 5 anos (art. 47, §3º). Essa medida retardará a recuperação ambiental da áreas protegidas. A

elaboração do PRA deve ser antecedida da elaboração de Zoneamentos Ecológicas

Econômicos, Planos de Recursos Hídricos, inventários florestais e estudos técnicos de órgãos

de pesquisa. É possível casos em que os PRA nunca serão elaborados. O art. 47, § 1º e 3º,

estabelece que os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estender o prazo de

elaboração do PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10 anos para o

início do processo de recuperação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal,

seguidos de outros 30 anos para a recuperação da Reserva Legal, a uma razão de 1/30 por ano.

Com isso haverá o retardo no início do processo de recuperação da área de Reserva Legal,

chegando-se a um limite de 40 anos para a recuperação da área integral de Reserva Legal.

2.5 Cadastro Ambiental

1. Os termos de compromisso já assinados, no que tange às APP e Reserva Legal,

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 10/60

Page 11: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

poderão ser suspensos a critério do proprietário ou possuidor rural, até que o PRA. seja

elaborado.

2. A partir da data de realização do Cadastro Ambiental, o proprietário ou possuidor

não poderá ser autuado pelas infrações especificadas e ficam suspensas as multas decorrentes

das infrações especificadas, em ambos os casos quando cometidas antes de 22 de julho de

2008.

2.6 Cota de Reserva Ambiental (CRA)

Com a instituição de Cotas de Reserva Legal, títulos obtidos para áreas em que, por

características próprias de localização, nunca seriam desmatadas, poderão ser negociados para

a compensação de áreas em que a Reserva Legal não foi averbada. Com isso, ao final, tem-se

a redução da proteção ambiental, porque a aquisição da CRA não está vinculada à mesma

fitofisionomia, equivalência em importância ecológica, ou localização no mesmo estado e na

mesma bacia hidrográfica que a Reserva Legal que se deseja compensar. O Substitutivo

admite a CRA para a compensação de Reserva Legal de imóveis situados no mesmo bioma

(art. 41, parágrafo 3º). O conceito de bioma é muito amplo levando a situações em que CRA

de propriedade localizadas no bioma Mata Atlântica pode ser utilizada para compensar

Reserva Legal de outra localizada em qualquer um dos 15 estados da federação em que

ocorre Mata Atlântica, por exemplo.

3 CONCLUSÃO

A redução da proteção está clara no Substitutivo ao Projeto de Lei que altera o Código

Florestal de 1965. Não se pode ignorar que a redução da proteção certamente trará prejuízos

aos objetivos de conservação e de proteção da biodiversidade, do solo e dos recursos hídricos,

com reflexos sobre o bem-estar da população brasileira, se considerarmos os serviços

ambientais oferecidos pelas APP e Reserva Legal.

Um dos principais argumentos para a alteração do Código vigente reside no fato de

que ele não é cumprindo integralmente, levando à clandestinidade atividades econômicas

praticadas por diferentes setores produtivos. Todavia, não consta como fator motivador de

reforma política o fato de as mesmas não serem cumpridas por ineficiência do Estado. Não é

porque uma lei não é cumprida, que se deva alterá-la. Essa lógica é perversa e, no presente

caso, só traz prejuízos à proteção ambiental. O que está em jogo é o padrão de qualidade

ambiental que se deseja para o país. E esse fato sequer foi mencionado durante o processo de

discussão desse PL, que preocupou-se mais em atender às demandas de diferentes setores que

não conseguiram se adaptar a uma Lei vigente desde 1965.

Quando se pensa em gestão ambiental verifica-se que é papel das normas legais

estabelecer os padrões de qualidade ambiental, os padrões de emissão de poluentes ou ainda

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 11/60

Page 12: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

padrões tecnológicos que orientam as formas de produção9, bem como os instrumentos de

política para a sua consecução. No caso do Código Florestal vigente, estão ali presentes os

padrões mínimos que se quer resguardar para garantir a manutenção de uma qualidade

ambiental desejada. No momento em que essa norma é alterada, estamos alterando um padrão

de qualidade ambiental já definido para o Brasil, relativo às florestas e demais formas de

vegetação, com inequívocos reflexos sobre os recursos hídricos, a estabilidade geológica, a

manutenção dos solos, a biodiversidade, o fluxo gênico e, inclusive, com reflexo sobre o bem-

estar das populações, considerando-se uma visão utilitarista dos recursos naturais,

especialmente os riscos de enchentes associadas à ausência de vegetação em locais

estratégicos, como encostas, margens dos rios, topos de morros.

Não há, de fato, a necessidade de alteração do Código Florestal, tal como foi proposto.

Há, porém, a necessidade de se buscar instrumentos de gestão capazes de garantir o padrão

ambiental já definido. Por exemplo, sabe-se que é possível aumentar a produção agrícola por

meio do aumento na eficiência dos processo produtivos, sem a necessidade de se abrir novas

áreas de plantio, avançando-se sobre áreas protegidas pelo Código Florestal vigente.

Verifica-se que trata-se de um Projeto de Lei retrógrado que não inova nos

instrumentos de gestão ambiental, que poderiam ser utilizados para garantir o respeito às áreas

protegidas, sem a necessidade de alteração do padrão de qualidade estabelecido no Código de

1965.

Em resumo, a proposta reduz a proteção ambiental, em beneficio de setores

produtivos, notadamente o setor agrícola, com a anistia das infrações ambientais cometidas e a

garantia de continuidade das atividades desenvolvidas nas áreas protegidas até que a União e

os Estados elaborem um improvável Plano de Recuperação Ambiental. Não há, ao menos, a

previsão de mecanismos garantidores da implementação dos novos padrões propostos. Se

aprovado, é de se esperar que, em um futuro não tão distante, e provavelmente antes da

recuperação integral da Reservas Legais, o país se encontre rediscutindo a necessidade de

reformulação de seu Código Florestal, em virtude, mais uma vez, do descumprimento das

normas.

É o Parecer.

Brasília, 24 de junho de 2010.

Denise Christina de Rezende Nicolaidis Analista em Eng. Florestal/Perito

Marcos Cipriano Cardoso Garcia Analista em Eng. Florestal/Perito

9 Para Hussen (1999), os padrões ambientais são aqueles que visam a manter a qualidade do meio ambiente baseado naconcentração de poluente permitida e os padrões de emissão são definidos como a quantidade de resíduo por unidade detempo permitida para lançamento. Os padrões tecnológicos visam à obtenção do padrão de qualidade ambiental desejado pormeio de uma determinada tecnologia de produção ou tecnologia de controle das emissões, que deve ser adotada pelo agentepoluidor.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 12/60

Page 13: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Referências Bibliográficas

BENSUSAN, N. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas. Rio de Janeiro:

Editora FGV. 2006. 176p.

CAMPOS, J. B. A fragmentação de ecossistemas, efeitos decorrentes e corredores de

biodiversidade. In: CAMPOS, J.B.; TOSSULINO, M. de G.P.; MÜLLER, C.R.C. (Orgs.)

Unidades de Conservação: ações para valorização da biodiversidade. Curitiba: Instituto

Ambiental do Paraná. 2006. <www.uc.pr.gov.br/arquivos/File/Publicacoes/Livros/unidades_de_conservacao.pdf > .

Acesso em 02 abr. 2009.

________. A questão da apropriação e degradação de áreas estratégicas para a conservação da

biodiversidade. In: CAMPOS, J.B.; TOSSULINO, M. de G.P.; MÜLLER, C.R.C. (Orgs.)

Unidades de Conservação: ações para valorização da biodiversidade. Curitiba, Instituto

Ambiental do Paraná. 2006. <www.uc.pr.gov.br/arquivos/File/Publicacoes/Livros/unidades_de_conservacao.pdf > .

Acesso em 02 abr. 2009.

CAVALCANTI, Roberto B. Estratégias de conservação em nível regional: priorização de

áreas e corredores de biodiversidade. In : ROCHA, C. F. D. et al. (eds). Biologia da

Conservação: Essências. São Carlos: RiMa, 2006. p. 343-356.

CI - CONSERVATION INTERNATIONAL et al. Projeto Resgate do Cerrado. s.d.

Disponível em <www.conservacao.org/arquivos/Sumario%20Executivo-Projeto%20Resgate%20Cerrado.pdf

>. Acesso em 03 abr. 2009.

HUSSEN, Ahmed M. The economics of environmental regulation. Capítulo 11 de Principles

of Environmental Economics. Economics, Ecology and Public Policy. (Londres e Nova

York: Routledge, 1999) pp.223-244.

ICMBio - INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA

BIODIVERSIDADE/MMA. Estação Ecológica Aracuri: Plano de Manejo. Encarte 4.

Brasília: ICMBio, 2008. 150p.

METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens? Biota Neotropica, vol. 1, números 1 e 2 .

Campinas/SP. 2001.

METZGER, J. P. O Código Florestal tem base científica? Disponível em:

<http://www.institutoaf.org.br/wp-content/uploads/2010/05/O-Código-Florestal-tem-base-

ciêntà fica.pdf > Acesso em: 24 jun. 2010.

PAGLIA, A. P., FERNANDEZ, F. A. S., MARCO JR. P. Efeitos da fragmentação de habitats:

quantas espécies, quantas populações, quantos indivíduos e, serão eles suficientes? In : In :

ROCHA, C. F. D. et al. (eds). Biologia da Conservação: Essências. São Carlos: RiMa,

2006. p. 281-316.

PINTO, L. P. et al. Mata Atlântica Brasileira: os desafios para conservação da biodiversidade

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 13/60

Page 14: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

de um hotspot mundial. In : ROCHA, C. F. D. et al. (eds). Biologia da Conservação:

Essências. São Carlos: RiMa, 2006. p. 91-118.

PRIMACK, R. B.; RODIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina: E. Rodrigues, 2001.

328p.

RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M; T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.;

ALMEIDA, S. P. De; RIBEIRO, J.F. Cerrado: ecologia e flora. Embrapa Cerrados. - Brasília.

Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p. 151-212.

ROCHA, C. F. D. et al. Corredores ecológicos e conservação da biodiversidade: um estudo de

caso na Mata Atlântica. In : ROCHA, C. F. D. et al. (eds). Biologia da Conservação:

Essências. São Carlos: RiMa, 2006. p. 317-342.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 14/60

Page 15: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ANEXO I

Substitutivo ao PL 1.876/99 comentado

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 15/60

Page 16: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Substitutivo AO PROJETO DE LEI Nº 1.876, DE 1999

(Apensos os Projetos de Lei 4524/2004, 4091/2008, 4395/2008, 4619/2009, 5226/2009,5367/2009, 5898/2009, 6238/2009, 6313/2009, 6732/2010)

Dispõe sobre a proteção da vegetaçãonativa, revoga a Lei nº 4.771, de 15de setembro de 1965, e dá outrasprovidências

O Congresso Nacional decreta:

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 1.º Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, dispõe sobre as áreasde Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal, estabelece define regras gerais sobrea exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dosprodutos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentoseconômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.

Art. 2.º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I.- Amazônia Legal: área definida no art. 2º da Lei Complementar nº 124, de 3 de janeiro de2007;

II. - Área de Preservação Permanente: área protegida nos termos dos arts. 3.º, 5.º, 9.º 9.º e10 desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de conservar osrecursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxogênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

III. - área rural consolidada: ocupação antrópica consolidada até 22 de julho de 2008, comedificações, benfeitorias e atividades agrossilvipastoris, admitida neste último caso a adoçãodo regime de pousio;

Comentário: Conceito novo. Esse conceito será utilizado posteriormente para justificar aocupação de áreas de APP e Reserva Legal. O limite temporal é relativo à edição do últimodecreto que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, desconsiderando a existência deregulamentos anteriores dessa mesma lei.

IV. - área urbana consolidada: área integrante do perímetro urbano, definido pelo plano

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 16/60

Page 17: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

diretor municipal referido no art. 182, § 1º, da Constituição Federal ou pela lei municipal queestabelecer o zoneamento urbano, que, além de malha viária implantada, tenha, no mínimo,três dos seguintes elementos de infraestrutura urbana implantados:

a) drenagem de águas pluviais urbanas;

b) esgotamento sanitário;

c) abastecimento de água potável;

d) distribuição de energia elétrica; ou

e) limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos.

Comentário: O Substitutivo altera o conceito de área urbana consolidada estabelecido emResoluções Conama (302, 303 e 369), no sentido de tornar mais liberal a ocupação de APP. O conceito proposto não estabelece limite temporal para a consolidação da ocupação, aocontrário de área rural consolidada. Os critérios de reconhecimento, relativamente fáceis deserem implantados, permitem a criação de áreas urbanas consolidadas a qualquer tempo.Não estabelece densidade mínima de ocupação (ao contrário das resoluções Conama ou daLei 11.977/09). O Substitutivo sequer prevê a exigência que área seja habitada. Com isso,áreas urbanas consolidadas podem ser criadas a qualquer tempo, possibilitando a supressãode áreas protegidas.

V. - formação campestre: vegetação com predominância de cobertura herbácea, comeventual presença de árvores, arbustos e subarbustos, podendo apresentar-se sobre substratocomposto por afloramentos de rocha;

Comentário: Conceito novo. Abrange algumas formações de campo do cerrado, os campossulinos, as campinaras, os campos de altitude, possibilitando a aplicação do código nessasáreas.

VI. - formação florestal: vegetação com estrato superior apresentando predominância deespécies arbóreas e cobertura das copas das árvores formando dossel contínuo;

VII. - formação savânica: vegetação predominantemente herbáceo-arbustiva, com árvoresesparsas distribuídas aleatoriamente sobre o terreno em diferentes densidades, sem que seforme uma cobertura contínua;

Comentário: Conceito novo. Abrange algumas formações do cerrado (excluídos formaçõesde campo e florestais), além da Caatinga e formações savânicas da Amazônia, possibilitandoa aplicação do código nessas áreas.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 17/60

Page 18: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

VIII. - interesse social:

a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, nostermos do regulamento;

b) a exploração agroflorestal sustentável praticada por comunidades tradicionais ou napequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetalexistente;

c) a implantação de infraestrutura destinada a esportes, lazer e atividades educacionais eculturais ao ar livre em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidasnesta Lei;

Comentário: O Substitutivo introduz essas atividades como de interesse social. Acaracterização como de utilidade pública, possibilitará a intervenção e a supressão de APPpor essas atividades.

d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente porpopulação de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condiçõesestabelecidas na Lei 11.977, de 7 de julho de 2009;

Comentário: A regularização de assentamentos humanos ocupados por população de baixarenda em áreas urbanas consolidadas já era permitido. No entanto, o Substitutivo altera oconceito de área urbana consolidada até então em vigor. O conceito proposto peloSubstitutivo é mais flexível que o da Resolução Conama 369/2006e o da própria Lei11.977/2009.

e) as demais obras, planos, atividades ou empreendimentos definidos em regulamento.

Comentário: Se o regulamento for entendido como decreto, fica revogada a possibilidade doConama estabelecer as novas intervenções

IX. leito menor ou álveo: o canal por onde correm regularmente as águas do curso d’águadurante o ano;

Comentário: Conceito novo. Será utilizado posteriormente como referência parademarcação da faixa de APP. A utilização desse conceito irá reduzir consideravelmente aextensão da área protegida.

X. - manejo florestal sustentável: uso da floresta para fins econômicos, sociais eambientais, observados os mecanismos de sustentação do objeto do manejo, considerando-se,cumulativa ou alternativamente, a utilização de espécies madeireiras, de produtos esubprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens ou serviços de natureza

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 18/60

Page 19: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

florestal;

XI. - nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá inícioa um curso d’água;

Comentário: A proposta diferencia nascente de olho d'água, antes considerados sinônimos.O código atual considera as nascentes ainda que intermitentes. Aqui as nascentesintermitentes foram denominadas olho d'água. A partir da criação dessa distinção, permitirá,em alguns casos, a interferência em Áreas de Preservação Permanente ao redor de nascentesintermitentes. Enquadram-se nesse casos as diversas restrições impostas à intervenção ousupressão de vegetação em APP de nascentes pela Resolução Conama 369/2006, caso essaainda continue vigorando:

É vedada a intervenção ou supressão de vegetação em APP de nascentes, veredas,manguezais e dunas originalmente providas de vegetação, previstas nos incisos II, IV, X e XIdo art. 3o da Resolução CONAMA no 303, de 20 de março de 2002, salvo nos casos deutilidade pública dispostos no inciso I do art. 2o desta Resolução (Resolução Conama 369,art. 1º, § 1º)

A autorização para intervenção ou supressão de vegetação em APP de nascente, definida noinciso II do art. 3o da Resolução CONAMA no 303, de 2002, fica condicionada à outorga dodireito de uso de recurso hídrico, conforme o disposto no art. 12 da Lei no 9.433, de 8 dejaneiro de 1997 (Resolução Conama 369, art. 1º, § 3º)

Caso inexistam os instrumentos previstos no § 4o, ou se naqueles existentes não constar aextração de rochas para o uso direto para a construção civil, a autorização para intervençãoou supressão de vegetação em APP de nascente, para esta atividade estará vedada a partirde 36 meses da publicação desta Resolução (Resolução Conama 369, art. 7º, § 5º)

XII. - olho d’água: afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente;

Comentário: A proposta diferencia nascente de olho d'água, antes considerados sinônimos.O código atual considera as nascentes ainda que intermitentes. Aqui as nascentesintermitentes foram denominadas olho d'água. A partir da criação dessa distinção, permitirá,em alguns casos, a interferência em Áreas de Preservação Permanente ao redor de nascentesintermitentes. Enquadram-se nesse casos as diversas restrições impostas à intervenção ousupressão de vegetação em APP de nascentes pela Resolução Conama 369/2006.

XIII. - pousio: prática de interrupção temporária de atividades agrícolas, pecuárias ousilviculturais, para possibilitar a recuperação da capacidade de uso do solo;

XIV. - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,delimitada nos termos do art. 14., com a função de assegurar o uso econômico de modo

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 19/60

Page 20: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dosprocessos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, o abrigo e a proteção defauna silvestre e da flora nativa;

Comentário: Essa definição não excetua as APP como no código vigente. Isso possibilitaráo cômputo das APPs na porcentagem da área de RL, reduzindo a efetiva proteção de áreasverdes.

XV. - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações sucessoras poroutras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de geração etransmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formasde ocupação humana;

XVI. - utilidade pública:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

b) as obras de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamentoe energia;

c) demais atividades ou empreendimentos definidos em regulamento;

Comentário: O Substitutivo não abrange todas as atividades de utilidade públicamencionadas na Resolução Conama 369/2006. Não fica claro, portanto, se a proposta deCódigo Florestal recepcionará essa Resolução. Se revogada essa Resolução, as seguintesatividades deixarão de ser consideradas de utilidade pública para efeito de intervenção emAPP: as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais, outorgadas pelaautoridade competente, exceto areia, argila, saibro e cascalho; a implantação de área verdepública em área urbana; pesquisa arqueológica; obras públicas para implantação deinstalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados; implantaçãode instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados paraprojetos privados de aquicultura.

XVII. várzea ou leito maior: terrenos baixos às margens dos rios, relativamente planos esujeitos à inundação ;

Comentário: Conceito novo. No código atual, as faixas de APP são demarcadas a partir doleito maior sazonal. No Substitutivo, as várzeas ou leito maior não são consideradas APP.

XVIII. vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente coma palmeira arbórea Mauritia flexuosa (buriti) emergente, sem formar dossel, em meio aagrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 20/60

Page 21: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Comentário: Conceito novo. Altera o conceito da Resolução Conama 303/2002 e é maisrestritivo que esse, em relação ao enquadramento de áreas como veredas. Ao invés decaracterizar o espaço protegido, o Substitutivo descreve a fitofisionomia, o que, para efeitoda descrição de Áreas de Preservação Permanente, não é o mais adequado, uma vez quetratam-se de espaços territoriais especialmente protegidos. O conceito adotado parece tersido adaptado de Ribeiro e Walter (1998)10, no entanto, esses autores fazem distinção dafitofisionomia vereda de Palmeiral, no qual incluem o subtipo Buritizal, o que, se é pertinenteem termos de fitofisionomia, não o é em termos de definição de espaços protegidos, uma vezque os buritizais também ocorrem associados a solos brejosos ou encharcados, em fundos devale, porém apresentando dossel. O buritizal, em termos gerais, é um estágio mais avançadoda vereda. Os próprios autores informam que a distinção entre uma fitofisionomia e outra sedá pelo fato das veredas apresentarem necessariamente um estrato arbustivo-herbáceoacompanhando o buriti, sem a formação de dossel e sem um trecho de campo associado.Informam ainda que muitas vezes o buritizal tem sido referido como vereda. Destacam aindaque, em sentido puramente fisionômico, alguns trechos de buritizais, por formarem dossel,devem considerados como formações florestais. Outros autores classificam as fitofisionomiasflorestais de buritis como vereda, como é o de Eiten (1983)11. Há ainda as formaçõesbrejosas que ,apesar de abrigarem nascentes e cabeceiras de rios, ainda não evoluíram deforma suficiente para apresentarem a fitofisionomia adotada no conceito. Ora, a proteção aser conferida aos buritizais e a esses espaços brejosos deve ser idêntica a das veredas, umavez que devem ser protegidos em toda a sua extensão, e não em faixas marginais, dada afragilidade e importância ecológica desses ecossistemas como um todo. O conceito daResolução Conama, descrevendo o espaço, e inclusive vinculando à ocorrência de nascentese cabeceiras de cursos d'água, é mais apropriado12.

CAPÍTULO II

Das Áreas de Preservação Permanente

Seção 1

Da Delimitação das Áreas de Preservação Permanente

Art. 3.º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, pelo sóefeito desta Lei:

I – as faixas marginais de qualquer curso d'água natural, desde a borda do leito menor, em

10RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M; T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P.De; RIBEIRO, J.F. Cerrado: ecologia e flora. Embrapa Cerrados. - Brasília. Embrapa Informação Tecnológica,2008. p. 151-212.11EITEN, G. Classificação da Vegetação do Brasil. Brasília: CNPq/Coordenação Editorial, 1983. 305 p.12Vereda - espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d`água, onde háocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritiaflexuosa) e outras formas de vegetação típica.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 21/60

Page 22: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

largura mínima de:

Comentário: Redução da Proteção. O Código atual considera APP as faixas marginais decursos d'água, desde o curso mais alto, ou seja, o leito maior sazonal. Portanto, a mudançade referencial levará a significativa redução da área protegida. A redefinição da APP comofaixa demarcada a partir do leito menor acarretará a possibilidade de ocupação do leitomaior de cursos d'água, sujeito a inundações no período de cheias. Com isso, é de se esperaro aumento de casos de danos materiais à edificações, lavouras, criações e benfeitorias, alémdo risco à vida humana.

a) 15 (quinze) metros, para os cursos d'água de menos de 5 (cinco) metros de largura;

Comentário: Redução da Proteção. No Código atual, a largura de faixas marginais mínimaé de 30 metros a partir do leito maior sazonal. Não bastasse a redução para o leito menor, oque diminui consideravelmente a área protegida, dependendo da topografia das margens, oSubstitutivo reduz pela metade a largura da faixa mínima. Portanto, haverá significativaredução da área protegida. Para cada metro de extensão de curso d´água, serão reduzidos30 m2 de APP, sem considerar a alteração do referencial de início da faixa (leito maior paraleito menor).Uma das maiores críticas ao código vigente é o fato de que as faixas marginais foramdefinidas sem um critério técnico bem definido. Todavia, a presente proposta também sugereuma faixa de 15 metros, sem justificar essa largura mínima de proteção. Considerando queos Estados passarão a poder reduzir em 50% essa largura (conforme §1º), com base emestudos de ZEE e em Plano de Recursos Hídricos e estudos técnicos específicos de instituiçãopública especializada, poderá haver situações em que a APP nas margens de rio passará ater uma largura de 7,5 m.

b) 30 (trinta) metros, para os cursos d'água que tenham de 5 (cinco) a 10 (dez) metros delargura;

c) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)metros de largura;

d) 100 (cem) metros, para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200(duzentos) metros de largura;

e) 200 (duzentos) metros, para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600(seiscentos) metros de largura;

f) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d'água que tenham largura superior a 600(seiscentos) metros;

II – as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 22/60

Page 23: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III – as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, na faixa definida na licençaambiental do empreendimento, resguardado o disposto no § 4º;

Comentário: Redução da Proteção. O § 4 não define limites mínimos para as faixas de APPde reservatórios artificiais. Esses são definidos no Art. 4º, reduzindo as larguras das faixasestabelecidas em Resolução do Conama. Da forma em que se encontra, o Substitutivo eliminao limite mínimo para a faixa de APP, deixando a definição da largura a critério do órgãolicenciador. Atualmente, os limites mínimos de APP de reservatórios artificiais são fixadospela Resolução Conama 302/2002, apresentando as seguintes larguras de faixas, medidas apartir do nível máximo normal: I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados emáreas urbanas consolidadas e cem metros para áreas rurais; II - quinze metros, no mínimo,para os reservatórios artificiais de geração de energia elétrica com até dez hectares, semprejuízo da compensação ambiental; III - quinze metros, no mínimo, para reservatóriosartificiais não utilizados em abastecimento público ou geração de energia elétrica, com atévinte hectares de superfície e localizados em área rural.

IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água, qualquer que seja a sua situaçãotopográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V – as encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linhade maior declive;

VI – as dunas e os manguezais, em toda a sua extensão;

Comentário: Redução da Proteção. Apesar de confirmar e até estender a proteção às dunase manguezais, foi excluída a proteção às restingas, hoje consideradas APP em uma faixa de300 metros a partir da linha do preamar máximo.

VII – as veredas;

Comentário: Redução da Proteção. Ao conceituar vereda, o Substitutivo alterou o adefinição de área protegida para fitofisionomia protegida, excluindo algumas formaçõesatualmente consideradas como APP.

VIII – as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nuncainferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 23/60

Page 24: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Comentário: Redução da Proteção. Foram excluídas do Substitutivo as espécies de APP detopo de morro, montes, montanhas e serras e linha de cumeada. e áreas com altitudessuperiores a 1800 metros. Também foram excluídas de APP as áreas com altitudessuperiores a 1.800m. Nessas áreas, é comum a ocorrência de espécies raras e endêmicas,fazendo com que sejam de importância para a conservação biológica. Esses ambientes, quasesempre de grande beleza cênica, são pouco comuns no Brasil. Em estimativa feita, com o usodo software ArcView, a partir de dados da Base Cartográfica Digital do IBGE, escala1:1.000.000, de 2003, chegou-se a apenas 1.015 km² (101.548 hectares) de áreas comaltitudes superiores a 1.800 metros, a maior parte da área situada na serra da Mantiqueira,divisa dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Considerando que o Brasilcontinental possui área de 8.514.876,59 km² (851.487.659 hectares), as áreas com altitudessuperiores a 1.800 metros representam 0,01% desse território. Não por acaso, mas sim emfunção da relevância ambiental e cênica, a maior parte das áreas com altitudes superior a1.800 metros do Brasil encontram-se também protegidas por unidades de conservaçãofederais. Nessa situação encontram-se áreas do Parque Nacional de Itatiaia, do ParqueNacional Serra da Bocaina, do Parque Nacional Serra dos Órgãos, do Parque Nacional doCaparaó, do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, do Parque Nacional Pico daNeblina, do Parque Nacional Monte Roraima, da Área de Proteção Ambiental da Serra daMantiqueira e da APA de Petrópolis.

§ 1º Os estados e o Distrito Federal, poderão, por lei, aumentar ou reduzir em até 50%(cinquenta por cento) as faixas mínimas previstas nos incisos I, II, e IV do caput, desde quefundamentadas em recomendações do Zoneamento Ecológico Econômico, previsto no incisoII do art. 9º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, do Plano de Recursos Hídricoselaborado para a bacia hidrográfica e aprovado na forma do art. 7º da Lei nº 9.433, de 8 dejaneiro de 1997 ou de estudos técnicos específicos de instituição pública especializada.

Comentário: Redução da Proteção. Embora no voto o relator tenha afirmado (pág. 243) queas Áreas de Preservação Permanente atuais foram mantidas no Capítulo II, apenasacrescentando-se uma faixa inicial menor (quinze metros) para os cursos d’água com menosde cinco metros de largura, e retirando-se os topos de morros (atualmente consideradoscomo o terço superior de todos os morros do país) e as terras acima de 1.800 metros dealtitude, de fato a proposta estabelece faixas mínima com a metade da largura das atuais,uma vez que admite que os estados poderão fazer essa redução. A redução é ainda maissignificativa quando se considera que o Substitutivo também altera o referencial para ademarcação da faixa, de leito maior sazonal para leito menor.

A proposta não condicionou a redução das faixas à regularização de ocupações jáefetivadas, de forma que a previsão é que novas supressões ocorram nos espaçoscorrespondentes à redução da largura das faixas.

A adoção de estudos técnicos produzidos por instituição pública especializada para ademarcação das faixas é questionável. Estudos dessa natureza não possuem caráter

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 24/60

Page 25: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

normativo, além do que poderá haver diferença de entendimento de pesquisador parapesquisador e até mesmo de instituição para instituição.

§ 2º O redimensionamento previsto no § 1º levará em conta os atributos geomorfológicos,pedológicos e de cobertura vegetal que contribuam para a conservação dos recursos hídricos,do solo e da biodiversidade.

§ 3º Não é considerada Área de Preservação Permanente a várzea fora dos limites previstos noinciso I do art. 3.º, a menos que ato do Poder Público disponha em contrário.

Comentário: Redução da Proteção. Ao estabelecer o leito menor como referencial parademarcação das APP ao longo de cursos d'água (Inciso I, Art. 3º), a área protegida foireduzida. Dependendo da configuração topográfica do leito maior, a redução do referencialpode ser superior a própria largura da faixa

§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a um hectare ficadispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput.

Comentário: Redução da Proteção. Atualmente apenas as acumulações artificiais de águainferiores a cinco hectares de superfície, desde que não resultantes do barramento ourepresamento de cursos d'água e não localizadas em Área de Preservação Permanente, àexceção daquelas destinadas ao abastecimento público, são dispensadas do estabelecimentode faixa de APP.

O Substitutivo dispensa dessa obrigação tanto as acumulações naturais, como lagoasmarginais, de importância reconhecida como berçário para diversas espécies, comoartificiais, incluindo os destinados para abastecimento público. Com isso, permite-se oavanço de atividades antrópicas, aí incluída a agricultura, com a aplicação de todos osinsumos que a acompanham, construção de edificações e de seus sistemas de disposição deresíduos, até o limite desses reservatórios.

Art. 4.º Na implementação e funcionamento de reservatório d’água artificial, é obrigatória aaquisição, desapropriação ou remuneração por restrição de uso, pelo empreendedor, das Áreasde Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamentoambiental, observando-se a faixa mínima de 30 metros em área rural e 15 metros em áreaurbana.

Comentário: Redução da Proteção. O Substitutivo reduz os limites mínimos para as faixasde APP. Atualmente, os limites mínimos de APP de reservatórios artificiais são fixados pelaResolução Conama 302, apresentando as seguintes larguras de faixas, medidas a partir donível máximo normal: I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreasurbanas consolidadas e cem metros para áreas rurais. Limites inferiores somente são aceitospara reservatórios com área inferior a 20 hectares não utilizados em abastecimento público

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 25/60

Page 26: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ou geração de energia elétrica.

§ 1º Nos reservatórios d’água artificiais destinados a geração de energia ou abastecimentopúblico, o empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambientalde Conservação e Uso do Entorno do reservatório, em conformidade com termo de referênciaexpedido pelo órgão competente do Sisnama.

§ 2º O Plano previsto no § 1º poderá indicar áreas para implantação de polos turísticos e delazer no entorno do reservatório, de acordo com o que for definido nos termos dolicenciamento ambiental.

Comentário: Redução da Proteção. O Substitutivo elimina o limite máximo de ocupação porpolos turísticos, atualmente fixados pela Resolução Conama 302/2002 em dez por cento daárea de entorno de reservatórios artificiais.

§ 3º Os empreendimentos de interesse público previstos neste artigo e vinculados à concessãonão estão sujeitos a constituição de Reserva Legal.

Comentário: Redução da Proteção. Primeiro, parece haver um problema de redação ou delocalização do parágrafo. Enquanto o capítulo trata das áreas de preservação permanente, oparágrafo trata de Reserva Legal. Segundo, não está definido interesse público. OSubstitutivo define interesse social e utilidade pública. Terceiro, o artigo 4º não prevênenhum empreendimento. Caso seja entendido como utilidade pública, os reservatórios deusinas hidrelétricas, por exemplo, sujeitos à concessão, estariam dispensados da ReservaLegal. Caso interesse público abranja qualquer empreendimento promovido pelo Estado,esses estariam dispensados da Reserva Legal, a exemplo de assentamentos da reformaagrária.

Art. 5.º Além das Áreas de Preservação Permanente definidas no art. 3.º, consideram-se depreservação permanente, quando assim declaradas pelo Poder Público em ato específico, porinteresse social, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinada auma ou mais das seguintes finalidades:

I – conter a erosão do solo;

II – proteger as restingas;

Comentário: Redução da Proteção. Na situação atual as restingas são consideradas depreservação permanente em faixa de 300 m a contar da linha da preamar máxima,independente da declaração pelo poder público.III – proteger várzeas;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 26/60

Page 27: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Comentário: Redução da Proteção. Na situação atual as faixas de APP são demarcadas apartir do leito maior dos cursos d'água, incorporando as várzeas.III – abrigar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;

IV – proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;

V – formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

VI – assegurar condições de bem-estar público;

VII – auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

Parágrafo único. A criação de Área de Preservação Permanente na forma deste artigo demandaato específico do Poder Público federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, quedelimite a sua área de abrangência e especifique sua finalidade, consoante os incisos I a VII docaput.

Seção 2

Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente

Art. 6.º Toda vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantidapreservada pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física oujurídica, de direito público ou privado.

§ 1º Tendo ocorrido supressão não autorizada de vegetação situada em Área de PreservaçãoPermanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado apromover a recomposição da vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 24. e 27. desta Lei.

Comentário: Redução da Proteção. Ao vincular a recomposição à elaboração, pelo poderpúblico, do Programa de regularização Ambiental – PRA, o Substitutivo desobriga osproprietários da área ou possuidores de adotarem qualquer medida de reparação até que osPRA assim o determinem. Sem a elaboração do PRA fica assegurada a manutenção dasatividades agropecuárias e florestais desenvolvidas em APP (art. 27).

Art. 7.º A supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente poderá ser autorizadaem caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivadosem procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional aoempreendimento proposto.

Parágrafo único. A supressão de que trata o caput dependerá de autorização do órgãocompetente do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 27/60

Page 28: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Art. 8.º É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente paraobtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental.

Parágrafo único. O regulamento especificará as exceções ao que determina o caput.Comentário: O que será o regulamento? Decretos ou resoluções do Conama? Oregulamento deveria especificar os casos de baixo impacto ambiental e não “as exceções”,como está no parágrafo únicoSeção 3

Do Regime Especial das Áreas de Preservação Permanente Situadas em Área UrbanaConsolidada

Art. 9.º Nas áreas urbanas consolidadas, as Áreas de Preservação Permanente serão definidasnos planos diretores e leis de uso do solo do município.

Comentário: Redução da Proteção. Pelo Código atual, as APP em áreas urbanas é a mesmade áreas rurais. O Substitutivo delega a atribuição aos municípios. Deve ser observado que oSubstitutivo inclui todas as categorias de APP (ao longo de cursos d´água, nascentes, olhosd'água, áreas com declividade acentuada, dunas, mangues, veredas e bordas de tabuleiro).Se o município desejar suprimi-las, não haverá vedação, uma vez que não há previsão deestabelecimento de valores mínimos de proteção. Como agravante, o Substitutivo propõe aredução dos critérios para enquadramento em área urbana consolidada.

Parágrafo único. A partir da publicação desta Lei, qualquer redução dos limites da Área dePreservação Permanente em área urbana consolidada só poderá ocorrer mediante lei municipale compensação, na forma do regulamento.

Art. 10.º Observado o art. 9.º, fica admitida a implantação de infraestrutura destinada aesportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre nas Áreas de PreservaçãoPermanente situadas em áreas urbanas consolidadas, desde que a supressão de vegetaçãorequerida não descaracterize a função ambiental da área e observados os seguintes requisitos:

I – adequação ao plano diretor municipal de que trata o art. 182, § 1º, da Constituição Federal,bem como às normas sobre vegetação nativa ameaçada de extinção ou especialmenteprotegida em razão de sua inserção em bioma considerado patrimônio nacional;

II – licenciamento ambiental dos empreendimentos, se couber;

Comentário: Redução da Proteção. Pelo Código atual, essas atividades não sãoconsideradas de utilidade pública ou interesse social para o fim de intervenção ou supressãode vegetação em APP. Com isso, abre-se a possibilidade de interferência em APP, inclusivecom supressão de vegetação, para implantação de estruturas do tipo: estádios, clubesesportivos ou recreativos, escolas, fundações culturais. Note-se que não se trata da

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 28/60

Page 29: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

regularização de equipamentos já implantados, mas sim da admissão de novas ocupações,levando a supressão da vegetação. Ainda, para aceitação da intervenção não está prevista ainexistência de alternativa locacional para as atividades propostas.Art. 11. Nos processos de regularização fundiária de assentamentos humanos em áreasurbanas consolidadas, a eventual supressão de vegetação situada em Área de PreservaçãoPermanente reger-se-á pelo disposto na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, e seuregulamento.

Comentário: Redução da Proteção. A Lei 11.9977/09 dispõe sobre o Programa Minha Casa,Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreasurbanas. Essa Lei estabelece que na regularização fundiária de interesse social em APP, omunicípio poderá admitir a ocupação de APP, de todas as espécies, sem a observância alimites mínimos (art. 54 Lei 11.977/09).Art. 54. O projeto de regularização fundiária de interesse social deverá considerar ascaracterísticas da ocupação e da área ocupada para definir parâmetros urbanísticos eambientais específicos, além de identificar os lotes, as vias de circulação e as áreasdestinadas a uso público.

§ 1o O Município poderá, por decisão motivada, admitir a regularização fundiária deinteresse social em Áreas de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de dezembro de 2007e inseridas em área urbana consolidada, desde que estudo técnico comprove que estaintervenção implica a melhoria das condições ambientais em relação à situação de ocupaçãoirregular anterior.O mesmo não deverá ocorrer nas regularizações fundiárias de interesse específico, em quedeverão ser observados restrições de ocupações de APP (art. 62).Art. 61. A regularização fundiária de interesse específico depende da análise e da aprovaçãodo projeto de que trata o art. 51 pela autoridade licenciadora, bem como da emissão dasrespectivas licenças urbanística e ambiental.

§ 1o O projeto de que trata o caput deverá observar as restrições à ocupação de Áreas dePreservação Permanente e demais disposições previstas na legislação ambiental. Ressalta-se que o conceito de área urbana consolidada proposto no Substitutivo difere doestabelecido na Lei 11.977/09 (art. 47, Inciso II). A Lei 11.977 é mais restritiva, pois exige,acertadamente, uma ocupação demográfica mínima para a área. Ao adotar critério distinto emais flexível, o Substitutivo tornará mais fácil a implantação de novas ocupações, além daregularização daquelas já existente. Observe-se que o horizonte temporal proposto noSubstitutivo para a regularização de ocupações de APP em zona rural (22 de julho de 2008)também difere o estabelecido na Lei 11.977 (31 de dezembro de 2007).Art. 47. Para efeitos da regularização fundiária de assentamentos urbanos, consideram-se: II – área urbana consolidada: parcela da área urbana com densidade demográfica superiora 50 (cinquenta) habitantes por hectare e malha viária implantada e que tenha, no mínimo, 2(dois) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana implantados: a) drenagem de águas pluviais urbanas; b) esgotamento sanitário;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 29/60

Page 30: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

c) abastecimento de água potável; d) distribuição de energia elétrica; ou e) limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos;

CAPÍTULO III

Das Áreas de Uso Restrito

Art. 12. Nas várzeas, a supressão de vegetação nativa somente será permitida por lei estadualou do Distrito Federal que defina sistema de exploração sustentável, fundamentado emrecomendações técnicas do órgão competente do Sisnama, ouvidos os órgãos oficiais depesquisa agropecuária.

Comentário: Redução da Proteção. Pelo Código atual, as várzeas, por constituírem o leitomaior sazonal, estariam inseridas na APP. A previsão de oitiva dos órgãos oficiais depesquisa agropecuária indica forte influência do setor agropecuário na elaboração daproposta. O mais lógico, seria a realização de audiências públicas, precedendo a elaboraçãodas leis estaduais, possibilitando a participação de todos os setores da sociedade. Ointeressante é que o paralelo para a legislação federal parece não ter sido seguido. Não hánotícias que as alterações propostas para o Código Florestal tenham sido fundamentadas emrecomendações técnicas do órgão federal integrante do Sisnama.

Parágrafo único. No bioma Pantanal, a utilização das áreas sujeitas à inundação sazonal ficacondicionada à conservação da vegetação nativa e à manutenção da paisagem e do regimehidrológico, conforme determinarem leis estaduais.

Comentário: Redução da Proteção. Pelo Código atual, as várzeas, por constituírem o leitomaior sazonal, estariam inseridas na APP. O Substitutivo apresenta condições a seremobservadas na utilização do bioma Pantanal não conceituadas, como: conservação davegetação, manutenção da paisagem, manutenção do regime hidrológico. Qual a diferençaentre essas condicionantes e a exploração sustentável prevista para as utilização das demaisvárzeas?

Art. 13. Não é permitida a conversão de vegetação nativa situada em áreas de inclinação entre25º (vinte e cinco graus) e 45º (quarenta e cinco graus) para uso alternativo do solo, salvorecomendação dos órgãos oficiais de pesquisa agropecuária que fundamentem autorização doórgão competente do Sisnama.

Comentário: Redução da Proteção. O Código atual veda a derrubada de florestas nas áreascom declividade entre vinte e cinco e quarenta e cinco graus (Lei 4771, art 10). Em áreascom essa característica só é permitida a extração de toros em regime de utilização racional,visando a rendimentos permanentes (manejo florestal). Pelo Código atual, tais áreasapresentam as mesmas restrições de uso que as Reservas Legais. O Substitutivo excluí a

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 30/60

Page 31: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

vedação, permitindo a supressão de vegetação. Não é claro se uso alternativo que sepretende permitir será o agropecuário ou outros. A previsão de autorização de conversãofundamentada em recomendação de órgãos de pesquisa agropecuária soa esdrúxula. Porqual razão os órgãos de pesquisa agropecuária recomendariam a ocupação dessas áreas?Essa recomendação valeria para a conversão em usos diferentes do agropecuário? Em áreasnão rurais e para outros usos alternativos, a recomendação de outros órgãos poderia ser demaior valia.

CAPÍTULO IV

Da Área de Reserva Legal

Seção 1

Da Delimitação da Área de Reserva Legal

Art. 14. Todo imóvel rural com área superior a quatro módulos fiscais deve possuir área deReserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de PreservaçãoPermanente e ressalvadas as hipóteses de área de Reserva Legal em condomínio e decompensação previstas nesta Lei.

Comentário: Redução da Proteção. O Substitutivo propõe a eliminação da Reserva Legalpara imóveis rurais com área de até quatro módulos fiscais. Na Amazônia Legal, ondesignificativa área tem o módulo fiscal definido em 100 hectares, propriedades com até 400ha ficarão dispensadas da averbação da Reserva Legal. Considerando a área como floresta,com Reserva Legal de 80% da área, seria possível o desmatamento de até 320 ha porpropriedade com área igual ou superior a 4 módulos fiscais. Nessas condições, como,propriedades rurais com área de até 400 hectares poderão ser totalmente desmatadas naAmazônia, um conjunto de pequenas propriedades rurais, ocorrentes na mesma região,poderá levar a existência de extensas áreas desmatadas, portanto, sem os benefíciospropiciados pela Reserva Legal.

§ 1º A Reserva Legal exigida no caput observará os seguintes percentuais mínimos em relaçãoà área no imóvel que exceder a quatro módulos fiscais:

Comentário: Redução da Proteção. A proposta prevê a exigência da Reserva Legal apenaspara a porção do imóvel que exceder a quatro módulos fiscais. Assim, haveria a redução deReserva Legal em área correspondente a, no mínimo, 0,8 módulos fiscais (20% de 4 módulosfiscais) por propriedade rural, podendo-se chegar a 3,2 módulos fiscais (80% de 4 módulosfiscais), para cada propriedade rural localizada em área de floresta da Amazônia Legal.Multiplique-se a área de redução da Reserva Legal, considerando os o percentuais deReserva Legal e os módulos fiscais para cada localidade, pelo número de propriedades ou

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 31/60

Page 32: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

posses existentes em todo o Brasil e é possível obter uma estimativa área em que a proteçãoserá reduzida e será passível de ser convertida a partir da introdução desse dispositivo. Apenas para os estados situados na região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia eRoraima) a introdução desse dispositivo será responsável pela redução de cerca de71.000.000 ha (setenta e um milhões de hectares) de área protegida13, área que é superior aosomatório de todas as unidades de conservação federais situadas na Amazônia Legal, deproteção Integral e Uso Sustentável (61.598.042 ha)14. Se considerada a possibilidade deexistência de uma infinidade de posses, não cadastradas pelo Incra, a redução da áreaprotegida poderá ser ainda maior.O fato de a dimensão do módulo fiscal variar apenas no espaço, mas também no tempo, umavez que a área do módulo de cada município pode ser alterada pelo INCRA em função dotipo de exploração predominante no município, da renda obtida com a exploraçãopredominante, de outras explorações existentes no município que, embora nãopredominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada, do conceito deagricultura familiar, levará a alterações constantes na área da Reserva Legal daspropriedades. Se ampliada a dimensão do módulo fiscal, novas áreas de Reserva Legalpoderão ser convertidas; se reduzida a dimensão do módulo, haverá a necessidade dereposição da Reserva Legal. A título de informação, existem hoje 28 categorias distintas demódulos fiscais, com área variando de 5 a 110 hectares. O módulo fiscal de maior frequênciaé o de 20 ha, atualmente estabelecido para 815 municípios brasileiros, com destaque para aregião Sul, com 447 municípios. O de menor frequência é o de 110 ha, que vigora paraapenas 2 municípios situados no estado do Mato Grosso do Sul.

I – imóveis localizados na Amazônia Legal:

a) oitenta por cento, no imóvel situado em área de formações florestais;

b) trinta e cinco por cento, no imóvel situado em área de formações savânicas;

c) vinte por cento, no imóvel situado em área de formações campestres.Redução da Proteção. O Código atual, excluindo as áreas de cerrado, estipula uma ReservaLegal de 80% em propriedades rurais localizadas na Amazônia Legal, em área de floresta.Para as formações campestres de cerrado, o Código atual prevê uma Reserva Legal de 35%.

13Para essa estimativa foi considerado que os imóveis estão localizados em área com formações florestais, comReserva Legal de 80% da área, exceto para o estado de Roraima em que foi considerada a formação savânica eReserva Legal de 35%. O número de propriedades por área de módulo fiscal em cada estado foi obtido a partirde dados disponibilizados pelo Incra (http://www.incra.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=153&Itemid=182, acessado em 18 junho de 2010).Acre: 14.265 propriedades com módulo fiscal de 100 há e 7450 com módulo fiscal de 70 ha; Amazonas: 17.899propriedades com módulo fiscal de 100 há, 41.512 com módulo fiscal de 80 há e 2.899 com módulo fiscal de 10há; Amapá: 3.948 propriedades com módulo fiscal de 70 ha e 5.947 com módulo fiscal de 50 ha; Pará: 49.599propriedades com módulo fiscal de 75 ha, 42.426 com módulo fiscal de 70 ha, 7.084 com módulo fiscal de 65ha, 27.627 com módulo fiscal de 55 ha, 2.196 com módulo fiscal de 50 ha, 731 com módulo fiscal de 7 ha e 148com módulo fiscal de 5 ha; Rondônia: 77.396 propriedades com módulo fiscal de 60 há; Roraima: 16.522propriedades com módulo fiscal de 100 ha e 10.270 com módulo fiscal de 80 ha..14http://www.socioambiental.org/uc/quadro_geral , acessado em 18 de junho de 2010

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 32/60

Page 33: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

II – imóveis localizados nas demais regiões do País: vinte por cento.

§ 2º Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive paraassentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins do disposto no§ 1º, a área do imóvel antes do fracionamento.

§ 3º O percentual de Reserva Legal em imóvel situado em área de formações florestais,savânicas ou campestres na Amazônia Legal será definido considerando separadamente osíndices contidos nas alíneas “a” e “b” do inciso I do § 1º.

Art. 15. A localização da Reserva Legal no interior do imóvel será de livre escolha doproprietário ou possuidor, salvo quando houver prévia determinação de sua localização peloórgão competente do Sisnama, considerados os seguintes critérios e instrumentos, quandohouver:

I - o plano de bacia hidrográfica;

II - o zoneamento ecológico-econômico;

III - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade deconservação ou outra área legalmente protegida.

Comentário: Redução da Proteção. A localização da Reserva Legal deixará de obedecer acritérios técnicos adotados pelo órgão ambiental.O Código Florestal vigente prevê que a localização da RL deve ser aprovada pelo órgãoestadual competente, municipal ou outra instituição habilitada devendo ser considerados noprocesso de aprovação a função social da propriedade e os seguintes critérios einstrumentos, quando houver: plano de bacia hidrográfica; plano diretor municipal; ZEE,outras categorias de zoneamento ambiental e a proximidade com outra RL, APP UC ou outraárea legalmente protegida.

Art. 16. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo dopercentual da Reserva Legal do imóvel desde que:

Comentário: Redução da Proteção. Ao final, haverá a redução da área protegida. Poderáhaver situação em que as áreas de APPs existentes na propriedade sejam suficientes oupróximas do percentual de RL previsto para a região. O código atual admite esse benefícioapenas para casos em que as APP correspondiam a porção significativa da propriedade,quais sejam, quando a soma da vegetação nativa em APP e da Reserva Legal excedesse aoitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; cinquenta por centoda propriedade rural localizada nas demais regiões do País; vinte e cinco por cento dapequena propriedade assim considerada aquela com 50 ha, se localizada no polígono das

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 33/60

Page 34: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

secas ou a leste do Meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão, ou 30 ha, se localizada emqualquer outra região do País.

I - o benefício previsto nesse artigo não implique a conversão de novas áreas para o usoalternativo do solo;

II - a totalidade da vegetação nativa na Área de Preservação Permanente esteja preservada ouem processo de recuperação, conforme declaração do proprietário ao órgão competente doSisnama;

Comentário: O Substitutivo prevê apenas a declaração do proprietário, sem a necessidadede averiguação de que a vegetação esteja de fato preservada ou em processo de recuperação.E, mesmo nesse caso, haverá redução da proteção.

III - o proprietário ou possuidor do imóvel tenha requerido inclusão deste no cadastroambiental, nos termos do art. 27.

Comentário: O cadastro ambiental é previsto no art. 27. Além da comprovação dapropriedade ou posse, deverá ser apresentada planta e memorial descritivo, subscrito porprofissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica - ART,contendo a indicação das coordenadas geográficas ou memorial descritivo com pelo menosum ponto de amarração georreferenciado: a) do perímetro do imóvel; b) da localização deremanescentes de vegetação nativa; c) da localização da Reserva Legal; d) da localizaçãodas Áreas de Preservação Permanente; e e) da localização das áreas consolidadas.

§ 1º O regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se altera na hipóteseprevista neste artigo.

§ 2º O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e averbada, cujaárea ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei, poderá instituir servidão ambiental sobre a áreaexcedente, nos termos do art. 9º-A da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981.

Art. 17. Poderá ser instituída Reserva Legal em regime de condomínio entre propriedadesrurais, respeitado o percentual previsto no art. 14. em relação a cada imóvel, mediante aaprovação do órgão estadual do Sisnama e as devidas averbações referentes a todos osimóveis envolvidos.

Parágrafo único. O regime previsto no caput será também aplicado aos imóveis decorrentes domesmo parcelamento rural, caso em que será dispensada a aprovação prévia do órgãocompetente do Sisnama.

Art. 18. Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE, na forma do incisoII do art. 9º da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, o Poder Executivo Estadual poderá:

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 34/60

Page 35: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

I - reduzir, para fins de regularização ambiental, a Reserva Legal de imóveis situados em áreade formação florestal localizada na Amazônia Legal para até cinquenta por cento dapropriedade;

Comentário: Redução da Proteção. O Substitutivo possibilitará a premiação daqueles quedescumpriram o atual código florestal com a possibilidade de redução de cerca de 37% daárea de Reserva Legal.

II - reduzir, para fins de regularização ambiental, a Reserva Legal de imóveis situados em áreade formação savânica na Amazônia Legal para até vinte por cento da propriedade;

Comentário: Redução da Proteção. O Substitutivo possibilitará a premiação daqueles quedescumpriram o atual código florestal com a possibilidade de redução de cerca de 42% daárea de Reserva Legal.

III – ampliar as áreas de Reserva Legal, em até cinquenta por cento dos percentuais previstosnesta Lei nos imóveis situados fora da Amazônia Legal.

Comentário: A mesma possibilidade de ampliação poderia ser prevista para a AmazôniaLegal, em formações distintas da florestal.

Seção 2

Do Regime de Proteção da Reserva Legal

Art. 19. A Reserva Legal será mantida com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário doimóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direitopúblico ou privado.

Parágrafo único. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante plano demanejo florestal sustentável, na forma do art. 28., previamente aprovado pelo órgãocompetente do Sisnama.

Art. 20. A área de Reserva Legal será averbada na matrícula do imóvel no Registro de Imóveiscompetente, com indicação de suas coordenadas georreferenciadas ou memorial descritivocontendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado, sendo vedada a alteração desua destinação a qualquer título e seu desmembramento.

§ 1º No caso de desmembramento do imóvel rural, para a observância do disposto no caput, aárea de Reserva Legal original será averbada na matrícula de todos os imóveis resultantes.

§ 2º Na posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de compromisso firmado pelo

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 35/60

Page 36: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

possuidor com o órgão competente do Sisnama, com força de título executivo extrajudicial eque explicite, no mínimo, a localização da área de Reserva Legal, suas característicasecológicas e as obrigações assumidas pelo possuidor por força do previsto nesta Lei e emregulamento.

§ 3º A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal nãodesobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só serádesaverbada concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanosaprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de quetrata o art. 182, § 1º, da Constituição Federal.

CAPÍTULO V

Da Supressão de Vegetação para Uso Alternativo do Solo

Art. 21. A supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo somente será permitidamediante autorização expedida pelo órgão competente do Sisnama.

§ 1º O requerimento de autorização de supressão de que trata o caput conterá, no mínimo,informações sobre:

I – a localização georreferenciada do imóvel, das Áreas de Preservação Permanente e daReserva Legal;

II – a reposição florestal, quando couber;

III – a efetiva utilização das áreas já convertidas;

IV – o uso alternativo da área a ser desmatada.

§ 2º Nas áreas passíveis de uso alternativo do solo, a supressão de vegetação que abrigueespécie da flora ou da fauna ameaçada de extinção, segundo lista oficial publicada pelosórgãos federal ou estadual competentes do Sisnama, dependerá da adoção de medidascompensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação da espécie.

Art. 22. Não é permitida a conversão de vegetação nativa para uso alternativo do solo noimóvel rural que possuir área abandonada.

Comentário: O Código Florestal vigente define área abandonada como aquela nãoefetivamente utilizada, nos termos do § 3º do art. 6º da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de1993, ou que não atenda aos índices previstos no art. 6º da referida lei, ressalvadas as áreas

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 36/60

Page 37: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

de pousio na pequena propriedade ou posse rural familiar ou de população tradicional15.

Art. 23. Fica vedada, em área com formação florestal primária ou secundária em estágioavançado de regeneração, a implantação de projetos de assentamento humano ou decolonização para fim de reforma agrária, permitidos os empreendimentos agroextrativistas.Comentário: Redução de proteção. O Código vigente permite os projetos de assentamentosagroextrativistas e não os empreendimentos. Não está claro se o Substitutivo propõe avedação de assentamento de reforma agrária na forma de projetos agroextrativistas (PAE), oque até então é permitido, e abre para empreendimentos não necessariamente vinculados aprojetos de assentamentos, podendo ser também os empreendimentos de grandes produtores,de produção em larga escala.

CAPÍTULO VI

Da Regularização Ambiental

Art. 24. Programas de Regularização Ambiental – PRA elaborados pela União, nas áreas deseu respectivo domínio, pelos estados ou pelo Distrito Federal disporão sobre a adequação dosimóveis rurais à presente Lei.

Comentário: O Substitutivo retira de quem efetivamente degradou a obrigação da iniciativada reparação e a transfere para o Estado. Em resumo, como é verificado nos diversosparágrafos e incisos dos artigos relacionados à regularização ambiental, nada será feito atéque os Estados elaborem os Programas de Regularização Ambiental. Enquanto isso, ficamasseguradas as atividades produtivas nos espaços especialmente protegidos. Verifica-se queque proposta de regularização ambiental incumbirá o Poder Público pela recuperação dasÁreas de Preservação Permanente (Art. 24), enquanto os proprietários e possuidores seresponsabilizarão pela recomposição da Reserva Legal.

§ 1º Os Programas de Regularização Ambiental a que se refere o caput só poderão seraplicados às áreas que tiveram a vegetação nativa suprimida antes de 22 de julho de 2008.

§ 2º Os Programas de Regularização Ambiental deverão prever a recuperação das Áreas dePreservação Permanente, considerando:

15Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,

simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgãofederal competente. § 3º Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com produtos vegetais; II -as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado peloPoder Executivo; III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimentoestabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislaçãoambiental; IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condiçõesestabelecidas pelo órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperaçãode pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediantedocumentação e Anotação de Responsabilidade Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56,de 2001)

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 37/60

Page 38: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

I – as recomendações do Zoneamento Ecológico-Econômico, dos Planos de RecursosHídricos, ou os resultados dos inventários florestais e de estudos técnicos ou científicosrealizados por órgãos oficiais de pesquisa;

II – a necessidade de revitalização dos corpos d’água;

III – aspectos distintivos da bacia hidrográfica para conservação da biodiversidade e decorredores ecológicos;

IV – o histórico de ocupação e uso do solo, na bacia hidrográfica;

V – a ameaça à estabilidade das encostas;

VI – as necessidades e as opções disponíveis às populações ribeirinhas;

VII – as recomendações técnicas a respeito das espécies vegetais a serem introduzidas quandofor inviável a utilização das espécies nativas;

VIII – o uso do solo e as técnicas de exploração agropecuária na área da bacia hidrográfica.

Comentário: Redução da Proteção. A recuperação das APP não será obrigatória. Masdependente dos diversos considerandos do parágrafo.

§ 3º O PRA poderá eximir áreas rurais consolidadas das medidas previstas para recuperaçãode Áreas de Preservação Permanente, vedada a expansão de área ocupada, sem prejuízo dacontrapartida estabelecida pelo § 4º deste artigo.

Comentário: Redução da Proteção. A recuperação de APPs em áreas rurais, com ocupaçõesantrópicas ocorridas até julho de 2008, ficará a critério de cada Estado e de cada PRAelaborado. O parágrafo 4º não trata de contrapartidas.§ 4º Comporão os respectivos programas o orçamento dos investimentos recomendados,indicando, no mínimo, as fontes de recursos e o cronograma para sua implementação.

§ 5º O PRA definirá a forma de participação e as contribuições dos proprietários oupossuidores dos imóveis na implementação dos respectivos programas, devendo acontribuição ser tanto mais elevada quanto maior forem:

I – a área do imóvel;

II – as Áreas de Preservação Permanente pendentes de recuperação;

III – a extensão dos danos causados à vegetação nativa; e

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 38/60

Page 39: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

IV –a intensidade de processos erosivos.

Comentário: O Substitutivo não apresenta garantias para a adesão dos proprietários epossuidores ao PRA. Nenhuma penalidade é sugerida para o caso de descumprimento dasformas de participação e contribuições definidas no PRA. A adesão de proprietários epossuidores ao PRA, por envolver a disponibilização de recursos financeiros e a exclusão deatividades produtivas em APP, sem a previsão de penalidades poderá não ser concretizada.Ao que parece, o Estado, além da elaboração do PRA, poderá ser incumbido da suaexecução, uma vez que não fica claro se a forma de participação e contribuição dosproprietários e possuidores será a efetiva execução de medidas de reparação das APP ou osimples repasse de recursos ao Estado.

Art. 25. Sem prejuízo do que for previsto no PRA, o proprietário ou possuidor de imóvel ruralque tiver área de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no §1º do art. 14 podeadotar as seguintes medidas, isoladas ou conjuntamente:

Comentário: Redução da proteção. No Código vigente as medidas abaixo constituem devere não possibilidade.

I – recompor a Reserva Legal segundo projeto aprovado pelo órgão competente do Sisnama;

II – permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal; ou

III – compensar a Reserva Legal.

§ 1º A recomposição da Reserva Legal deverá atender aos critérios estipulados pelo órgãocompetente do Sisnama e ser concluído em prazo inferior a trinta anos, abrangendo, a cadatrês anos, no mínimo 1/10 da área total necessária à sua complementação.

Comentário: Retardamento da recuperação ambiental. O Substitutivo, no Art. 27, pretendeassegurar, até que a União ou os estados elaborarem Programas de Recuperação Ambiental,a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreas rurais consolidadaslocalizadas em Áreas de Preservação Permanente, em Reserva Legal, em várzeas e em áreascom inclinação entre 25º e 45º. No parágrafo 5º do mesmo Art. 27 é sugerido oestabelecimento de um prazo de 5 anos para a elaboração dos PRA. Por sua vez, o Art. 47, §1º e 3º, permite que os estados e o Distrito Federal estendam, por ato próprio, o prazo deelaboração do PRA em até 5 anos. Com isso, o início do processo de recuperação da ReservaLegal poderá ser retardado em até 10 anos. Como o Substitutivo prevê a recuperação daReserva Legal em 30 anos, a uma razão de 1/30 por ano, poderão ser necessários 40 anospara a recuperação da área integral de Reserva Legal. O Substitutivo não apresenta quaisquer mecanismos de monitoramento e comprovação daexecução da recomposição da Reserva Legal, bem como a penalização daqueles quedeixarem de executar a reparação. Assim, não há garantias de que a recomposição será

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 39/60

Page 40: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

executada.

§ 2º A recomposição poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas eexóticas, em sistema agroflorestal, de acordo com critérios técnicos gerais estabelecidos emregulamento da lei estadual ou do Distrito Federal.

Comentário: Descaracterização da vegetação nativa. No Código Atual a recomposição daRL deve ser apenas com espécies nativas, possibilitando o plantio de exóticas somente demodo temporário como pioneiras, visando a restauração do ecossistema original.

§ 3º A regeneração de que trata o caput será autorizada pelo órgão competente do Sisnamaquando sua viabilidade for comprovada por laudo técnico, podendo ser exigido o isolamentoda área.

§ 4º A compensação de que trata o caput poderá ser feita mediante:

I – aquisição de Cota de Reserva Ambiental – CRA, na forma do art. 37.38.;

Comentário: Adiamento da recomposição de Reserva Legal. Com a instituição de Cotas deReserva Legal, títulos obtidos para áreas em que, por características próprias delocalização, nunca seriam desmatadas, poderão ser negociados para a compensação deáreas em que a Reserva Legal não mantida. Com isso, ao final, tem-se a redução da proteçãoambiental. A aquisição de CRA não está vinculada à mesma fitofisionomia, equivalência emimportância ecológica, ou localização no mesmo estado e na mesma bacia hidrográfica que aReserva Legal que se deseja compensar. O Substitutivo admite a CRA para compensação deReserva Legal de imóveis situados no mesmo bioma (ar. 41, parágrafo 3º). O conceito debioma é muito amplo levando a situações em que CRA de propriedade localizadas no biomaMata Atlântica pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de outra localizada emqualquer um dos 15 estados da federação em que esse bioma ocorre, por exemplo.

II – arrendamento de área sob regime de Servidão Ambiental ou Reserva Legal equivalenteem importância ecológica e extensão, conforme critérios estabelecidos em regulamento; ou

Comentário: Redução da proteção. Para compensação da Reserva Legal serão aceitostítulos de Servidão Ambiental. Com isso, o excedente de vegetação de outras propriedadespodem ser utilizados para “compensar” o desmatamento efetuado em outra, ao invés daobrigatoriedade da recuperação. As Servidões Ambientais podem ter validade estabelecida,o que não significa que a proteção seja perpetuada. O previsão de arrendamento da ServidãoAmbiental para a compensação de Reserva Legal não está vinculada à mesma fitofisionomia,localização no mesmo estado e na mesma bacia hidrográfica.

III – doação ao Poder Público de área localizada no interior de unidade de conservação dogrupo de proteção integral pendente de regularização fundiária, ou contribuição para fundo

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 40/60

Page 41: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

público que tenha essa finalidade, respeitados os critérios estabelecidos em regulamento.

Comentário: Redução da Proteção. Reserva Legal e Unidades de Conservação, são espéciesde espaços territoriais especialmente protegidos. Compensar um pelo outro significa, aofinal, na redução da área protegida. Cabe mencionar que o Ministério Público Federal jáimpetrou a ADI 4367 contra dispositivo, previsto no § 6º do art. 44 da Lei 4.771/65, com aredação que lhe foi conferida pela Lei 11.428/2006, que permite aos proprietários rurais adesoneração do dever de manter em sua propriedade reservas florestais legais, mediantedoação de área de terra localizada no interior de unidade de conservação, pendente deregularização fundiária.

Art. 26. Os Programas de Regularização Ambiental poderão redefinir a localização das áreasde Reserva Legal em razão de peculiaridades regionais, inclusive na forma de Reserva Legalem condomínio como previsto no art. 17., desde que contribua para a conservação dosrecursos hídricos, do solo e da biodiversidade.

Comentário: O Substitutivo propõe, no Art. 25, que os proprietários ou possuidores deimóvel rural que tiverem áreas de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido adotemas seguintes medidas, isoladas ou conjuntamente, visando recompor, permitir a regeneraçãonatural ou a compensação da Reserva Legal. A escolha da medida adotada caberiaexclusivamente ao proprietário. No Art. 26 atribui aos estados, quando da elaboração doPRA, a possibilidade de redefinição da localização das áreas de Reserva Legal, gerandoconflito na definição das localização dessas áreas. Prevalecerá a medida escolhida pelosproprietários ou possuidores ou a redefinida pelos estado nos PRA? O Substitutivo nãotambém esclarece se o PRA poderá alterar a localização de áreas de Reserva Legal apenasdas áreas pendentes de regularização ou também das áreas já averbadas.

Art. 27. Até que o Programa de Regularização Ambiental – PRA seja implementado, erespeitados os termos de compromisso ou de ajustamento de conduta eventualmenteassinados, fica assegurada a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreasrurais consolidadas, localizadas em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal,como também nas áreas mencionadas nos arts. 12. e 13., vedada a expansão da área ocupada,e desde que:

Comentário: Redução da Proteção. Aqueles que suprimiram vegetação de áreas depreservação permanente, Reserva Legal e áreas com declividade entre 25 e 45º ficarãodispensados de iniciarem a recuperação até que o poder público implemente os PRA. Noentanto, os PRA deverão ser elaborados por Estado e por bacia hidrográfica, dependendo daelaboração prévia de Zoneamentos Ecológicas Econômicos, Planos de Recursos Hídricos,inventários florestais e estudos técnicos de órgãos de pesquisa. O Substitutivo não garante osrecursos e a estrutura necessária para que o Estado elabore a bateria de estudos prévios e opróprio PRA. É previsível que os PRA não sejam elaborados no prazo previsto e, para

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 41/60

Page 42: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

determinadas localidades, até mesmo nunca serão realizados e muito menos implementados.Com isso, a recuperação dessas áreas será retardada ou nunca realizada.A previsão de respeito aos Termos de Ajustamento de Conduta firmados é medida estéril, jáque o § 1º deste artigo prevê que os proprietários rurais e posseiros poderão, de maneiraunilateral, suspenderem a eficácia dos TAC já firmados.

I – a supressão da vegetação nativa tenha ocorrido antes de 22 de julho de 2008;

II – assegure-se a adoção de práticas que garantam a conservação do solo e dos recursoshídricos; e

III - o proprietário ou possuidor de imóvel rural faça seu cadastro ambiental no órgão estadualdo Sisnama.

§ 1º A critério do proprietário ou possuidor de imóvel rural, os termos de compromisso jáassinados poderão ficar suspensos, no que tange às Áreas de Preservação Permanente e àReserva Legal, até que o PRA seja implementado.

Comentário: Redução da Proteção ou Retardo da recuperação. A suspensão de termos decompromisso já firmados, a critério exclusivo dos proprietários rurais, retardará arecuperação de áreas de APP e Reserva Legal. Haverá casos em que a suspensão do acordoe da execução das medidas, poderá levar a novos desmatamentos, com a conversão de áreasem processo de recuperação outra vez em áreas de uso agropecuário, para uso por mais 5 ou10 anos, até a elaboração do PRA. Em outros, a possibilidade é possível que PRA nuncasejam elaborados para determinadas bacias, uma vez que o Substitutivo não garante osrecursos necessários para tanto, levando a conversão de uso definitiva de áreas atualmenteem processo de recuperação. A suspensão dos termos de compromisso explicita a pretensão do Substitutivo de deixarrecuperação das APP a cargo da União e dos estados, prevendo, desde a aprovação da lei, adesoneração dos proprietários e possuidores rurais. § 2º Para o cadastro ambiental será exigido:

I - identificação do proprietário ou possuidor rural;

II - comprovação da propriedade ou posse;

III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, subscrito porprofissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica - ART,contendo a indicação das coordenadas geográficas ou memorial descritivo com pelo menosum ponto de amarração georreferenciado:

a) do perímetro do imóvel;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 42/60

Page 43: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

b) da localização de remanescentes de vegetação nativa;

c) da localização da Reserva Legal;

d) da localização das Áreas de Preservação Permanente; e

e) da localização das áreas consolidadas.

§ 3º A partir da data da realização do cadastro ambiental, o proprietário ou possuidor nãopoderá ser autuado por infrações aos arts. 2º, 3º, 4º, 10, 16, 19, 37-A e 44 e das alíneas a, b e gdo art. 26 da Lei nº 4.771, 15 de setembro de 1965, cometidas na respectiva propriedade ouposse antes de 22 de julho de 2008, desde que cumpra as obrigações previstas no caput e no §1º.

Comentário: O Substitutivo propõe a anistia das infrações ambientais cometidas em dataanterior a 22 de julho de 2008. Antecedendo essa data, vigorava outras regulamentações daLei de Crimes Ambientais. Não estão claras as obrigações do caput e do parágrafo primeiroa serem cumpridas. O Caput assegura a manutenção das atividades agropecuárias situadasem APP e Reserva Legal até que o PRA seja elaborado. Parágrafo primeiro submete aocritério exclusivo do proprietário ou possuidor rural a suspensão dos termos de compromissojá assinados no que tange às APP e Reserva Legal.

§ 4º A partir da data da realização do cadastro ambiental, ficam suspensas as multasdecorrentes de infrações aos arts. 2º, 3º, 4º, 10, 16, 19, 26 (alíneas a, b, g), 37-A e 44 da Lei nº4.771, de 1965, cometidas na respectiva propriedade ou posse antes de 22 de julho de 2008,desde que cumpra as obrigações previstas no caput e no § 2º.

Comentário: O Substitutivo propõe a anistia das infrações ambientais cometidas em dataanterior a 22 de julho de 2008. O caput e o parágrafo segundo não contemplam arecuperação da área. O Caput assegura a manutenção das atividades agropecuárias situadasem APP e Reserva Legal até que PRA seja elaborado. Parágrafo segundo prevê o cadastroambiental do imóvel o qual deverá conter, além da comprovação da propriedade ou posse,planta e memorial descritivo, subscrito por profissional habilitado e com a devida Anotaçãode Responsabilidade Técnica - ART, contendo a indicação das coordenadas geográficas oumemorial descritivo com pelo menos um ponto de amarração georreferenciado: a) doperímetro do imóvel; b) da localização de remanescentes de vegetação nativa; c) dalocalização da Reserva Legal; d) da localização das Áreas de Preservação Permanente; e e)da localização das áreas consolidadas..

§ 5º Caso o estado não implemente o PRA em até cinco anos, a contar da data da publicaçãodesta Lei, o proprietário ou possuidor rural terá de firmar termo de compromisso com o órgãoambiental e de averbar a Reserva Legal, visando à regularização ambiental dentro dos critérios

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 43/60

Page 44: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

e limites estabelecidos nesta Lei.

Comentário: Retardamento da recuperação ambiental. A elaboração do PRA deve serantecedida da elaboração de Zoneamentos Ecológicas Econômicos, Planos de RecursosHídricos, inventários florestais e estudos técnicos de órgãos de pesquisa. É possível havercasos em que nunca serão elaborados. O Art. 47, Parágrafos primeiro e terceiro estabeleceque os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estender o prazo de elaboraçãodo PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10 anos para o início doprocesso de recuperação da Reserva Legal, seguidos de outros 30 anos para a suarecuperação, a uma razão de 1/30 por ano. Com isso haverá o retardo no início do processode recuperação da área de Reserva Legal, chegando-se a um limite de 40 anos.O Substitutivo é contraditório ao prever no § 1º a suspensão unilateral, pelos proprietários epossuidores rurais, dos TAC já firmados, até a elaboração do PRA e, por outro lado,estipular a assinatura de TAC caso o estado não implemente o PRA. Melhor seria manter ostermos de compromisso assinados em vigor. O parágrafo deveria explicitar, além da Reserva Legal, que a recuperação das APP estãoincluídas na regularização ambiental, devendo constar dos termos de ajustamento.

§ 6º Cumpridas as obrigações previstas no Programa de Regularização Ambiental ou notermo de compromisso nos prazos e condições estabelecidos, as multas aplicadas emdecorrência das infrações ambientais serão consideradas como convertidas em serviços depreservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.

Comentário: Parágrafo de redação confusa e de difícil compreensão. O Programa deRegularização Ambiental, elaborado pela União e Estados, deverão tratar propriedade porpropriedade? As multas são aplicadas caso a caso. Qualquer infração ambiental seráconvertida, ou apenas aquelas relativas a danos em APP e Reserva Legal? As multas serãoconvertidas sem a limitação de data de aplicação?

§ 7º O disposto no § 3º não impede a aplicação das sanções administrativas de apreensão eembargo nas hipóteses previstas na legislação, excetuados os casos em processo deregularização ambiental.

§ 8º O cadastramento previsto no § 2º deste artigo não elimina a necessidade de cumprimentodo disposto no art. 2º da Lei nº10.267, de 28 de agosto de 2001.

§ 9º Na aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as normas específicas sobreproteção da vegetação de bioma considerado patrimônio nacional ou de espécie ameaçada deextinção.

§ 10º Enquanto o PRA não for implementado, a averbação da Reserva Legal será voluntária.

Comentário: Retardamento da averbação da Reserva Legal. A elaboração do PRA deve ser

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 44/60

Page 45: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

antecedida da elaboração de Zoneamentos Ecológicas Econômicos, Planos de RecursosHídricos, inventários florestais e estudos técnicos de órgãos de pesquisa. É possível casos emque nunca serão elaborados. Com isso haverá o retardo nos processos de averbação deReserva Legal. Nos casos em esses planos nunca forem elaborados e o PBA nuncaimplementado, a averbação da Reserva Legal ficará a critério dos proprietários e posseiros.Esse parágrafo é contraditório com o § 5º que estabelece que, caso o estado não implementeo PRA em até cinco anos, a contar da data da publicação desta Lei, o proprietário oupossuidor rural terá de firmar termo de compromisso com o órgão ambiental e de averbar aReserva Legal, visando à regularização ambiental dentro dos critérios e limites estabelecidosnesta Lei.

§ 11 A adesão ao PRA substitui termo firmado com o Poder Público anteriormente,ressalvadas as obrigações já cumpridas.

Comentário: Sobre o PRA, não ficam claras as responsabilidades do estado e doproprietário, uma vez que a tarefa do Estado, que seria de promover a recuperação dasAPPS não está associada à nenhuma fonte orçamentária, o que nos leva a inferir que nãoserá executado. Já a contribuição do proprietário para a recomposição da RL, também nãoestá bem definida de que forma se daria.

CAPÍTULO VII

Da Exploração Florestal

Art. 28. A exploração de florestas e formações sucessoras, de domínio público ou privado,dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama, mediante aprovação prévia dePlano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) que contemple técnicas de condução,exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que acobertura arbórea forme.

§ 1º O PMFS atenderá aos seguintes fundamentos técnicos e científicos:

I – caracterização dos meios físico e biológico;

II – determinação do estoque existente;

III – intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte ambiental da floresta;

IV – ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de produtoextraído da floresta;

V – promoção da regeneração natural da floresta;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 45/60

Page 46: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

VI – adoção de sistema silvicultural adequado;

VII – adoção de sistema de exploração adequado;

VIII – monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;

IX – adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.

§ 2º A aprovação do PMFS pelo órgão competente do Sisnama confere ao seu detentor alicença ambiental para a prática do manejo florestal sustentável, não se aplicando outrasetapas de licenciamento ambiental.

§ 3º A cada cinco anos, ou em prazo menor se exigido na licença ambiental, o detentor doPMFS encaminhará relatório ao órgão ambiental competente com as informações sobre toda aárea de manejo florestal sustentável e a descrição das atividades realizadas.

§ 4º O PMFS será submetido a vistorias técnicas para fiscalizar as operações e atividadesdesenvolvidas na área de manejo.

§ 5º Serão estabelecidos em regulamento procedimentos simplificados para o manejoexclusivo de produtos florestais não-madeireiros.

§ 6º Respeitado o disposto neste artigo, serão estabelecidas em regulamento disposiçõesespecíficas sobre os Planos de Manejo Florestal Sustentável em escala empresarial, depequena escala e comunitário, bem como sobre outras modalidades consideradas relevantesem razão de sua especificidade.

Art. 29. Estão isentos de PMFS:

I – a supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do solo;

II – o manejo de florestas plantadas localizadas fora da área de Reserva Legal;

III – a exploração florestal não comercial realizada em imóveis de menos de quatro módulosfiscais ou por populações tradicionais.

Parágrafo único. Serão estabelecidos em regulamento requisitos para o plano de exploração deflorestas plantadas, tendo em vista assegurar o equilíbrio ambiental e controle da origem dosprodutos florestais pelos órgãos competentes do Sisnama.

CAPÍTULO VIII

Do Suprimento por Matéria-Prima Florestal

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 46/60

Page 47: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Art. 30. As pessoas físicas ou jurídicas que utilizam matéria-prima florestal em suasatividades podem suprir-se de recursos oriundos de:

I – florestas plantadas;

II – PMFS de floresta nativa aprovado pelo órgão competente do SisnamaIII – supressão de vegetação nativa autorizada, na forma da lei, pelo órgão competente doSisnama;

IV – outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão competente do Sisnama.

§ 1º As disposições do caput não elidem a aplicação de disposições mais restritivas previstasem lei ou regulamento, licença ambiental ou Plano de Suprimento Sustentável aprovado peloórgão competente do Sisnama.

§ 2º Na forma do regulamento, são obrigadas à reposição florestal as pessoas físicas oujurídicas que utilizam matéria-prima florestal oriunda de supressão de vegetação nativa oudetenham autorização para supressão de vegetação nativa.

§ 3º Fica isento da obrigatoriedade da reposição florestal aquele que utilize:

I – costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da atividade industrial;

II – matéria-prima florestal:

a) oriunda de PMFS;

b) oriunda de floresta plantada;

c) não-madeireira, salvo disposição contrária estabelecida em regulamento;

d) sem valor de mercado.

Comentário: O conceito de matéria prima “sem valor de mercado” não está vinculado àsustentabilidade ambiental ou à sustentabilidade da própria atividade, presente nos demaiscasos em que o Substitutivo prevê a dispensa de reposição. Nem sempre o que não tem valorde mercado, não tem importância ambiental.

§ 4º A isenção da obrigatoriedade da reposição florestal não desobriga o interessado dacomprovação junto à autoridade competente da origem do recurso florestal utilizado.

§ 5º A reposição florestal será efetivada no Estado de origem da matéria-prima utilizada,

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 47/60

Page 48: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

mediante o plantio de espécies preferencialmente nativas, conforme determinações do órgãocompetente do Sisnama.

§ 6º A pequena propriedade ou posse rural fica desobrigada da reposição florestal se amatéria-prima florestal for utilizada para consumo próprio.

Art. 31. As empresas industriais que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestalsão obrigadas a elaborar e implementar Plano de Suprimento Sustentável (PSS), a sersubmetido à aprovação do órgão competente do Sisnama.

§ 1º O PSS assegurará produção equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pelaatividade industrial.

§ 2º O PSS incluirá, no mínimo:

I – programação de suprimento de matéria-prima florestal;II – indicação das áreas de origem da matéria-prima florestal georreferenciadas;

III – cópia do contrato entre os particulares envolvidos, quando o PSS incluir suprimento dematéria-prima florestal oriunda de terras pertencentes a terceiros.

§ 3º Admite-se o suprimento mediante produtos em oferta no mercado somente na fase inicialde instalação da atividade industrial, nas condições e durante o período, não superior a 10(dez) anos, previsto no PSS, ressalvados os contratos de suprimento mencionados no inciso IIIdo § 2º.

§ 4º O PSS de empresas siderúrgicas, metalúrgicas ou outras que consumam grandesquantidades de carvão vegetal ou lenha estabelecerá a utilização exclusiva de matéria-primaoriunda de florestas plantadas e será parte integrante do processo de licenciamento ambientaldo empreendimento.

§ 5º Além do previsto no § 4º, podem ser estabelecidos em regulamento outros casos em quese aplica a obrigação de utilização exclusiva de matéria-prima oriunda de florestas plantadas.

§ 6º Serão estabelecidos em regulamento os parâmetros de utilização de matéria-primaflorestal para fins de enquadramento das empresas industriais ao disposto no caput.

CAPÍTULO IX

Do Controle da Origem dos Produtos Florestais

Art. 32. O controle da origem da madeira, do carvão e de outros produtos ou subprodutosflorestais incluirá sistema que integre os dados dos diferentes entes federativos, coordenado

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 48/60

Page 49: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

pelo órgão federal competente do Sisnama.

Parágrafo único. Os dados do sistema referido no caput serão disponibilizados para acessopúblico por meio da Rede Mundial de Computadores.

Art. 33. O transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, lenha, carvão eoutros produtos ou subprodutos florestais, para fins comerciais ou industriais, requeremlicença do órgão competente do Sisnama, observado o disposto no art. 28..

§ 1º A licença prevista no caput será formalizada por meio da emissão do Documento deOrigem Florestal (DOF), que deverá acompanhar o material até o beneficiamento final.

§ 2º Para a emissão do DOF, a pessoa física ou jurídica responsável deverá estar registrada noCadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras deRecursos Ambientais, previsto no art. 17 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.

§ 3º Todo aquele que recebe ou adquire, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha,carvão e outros produtos ou subprodutos florestais fica obrigado a exigir a apresentação doDOF e munir-se da via que deverá acompanhar o material até o beneficiamento final.

§ 4º No DOF, sem prejuízo de requisitos adicionais previstos em regulamento, deverãoconstar a especificação do material, sua volumetria e dados sobre sua origem e destino.

§ 5º Regulamento apresentará procedimentos simplificados para a emissão e o controle doDOF relativo a produtos e subprodutos com origem em florestas plantadas.

Art. 34. O comércio de plantas vivas e outros produtos ou subprodutos oriundos da floranativa dependerá de licença do órgão estadual competente do Sisnama e de registro noCadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras deRecursos Ambientais, previsto no art. 17 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, semprejuízo de outras exigências cabíveis.

Parágrafo único. O controle do comércio realizado por estabelecimentos de pequeno porte oupessoas físicas será atribuição do órgão municipal do Sisnama, sem prejuízo da obrigação deregistro na forma do caput.

CAPÍTULO X

Do Controle dos Incêndios

Art. 35. Fica proibido o uso de fogo na vegetação.

§ 1º Se peculiaridades locais ou regionais justificarem o emprego do fogo em práticas

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 49/60

Page 50: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

agropastoris ou florestais, a autorização será estabelecida em ato do órgão estadualcompetente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, estabelecendonormas de precaução.

§ 2º Na situação prevista no § 1º, o órgão estadual competente do Sisnama poderá exigir queos estudos demandados para o licenciamento da atividade rural contenham planejamentoespecífico sobre o emprego do fogo e o controle dos incêndios.

§ 3º Excetuam-se da proibição do caput as práticas de prevenção e combate aos incêndios.

CAPÍTULO XI

Dos Instrumentos Econômicos para a Conservação da Vegetação

Art. 36. Assegurado o devido controle dos órgãos ambientais competentes dos respectivosplanos ou projetos, o Poder Público instituirá medidas indutoras e linhas de financiamentopara atender, prioritariamente, às iniciativas de:

I – preservação voluntária de vegetação nativa;

II – proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção;

III – manejo florestal e agroflorestal sustentável realizados na propriedade ou posse rural;

IV – recuperação ambiental de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal;

V – recuperação de áreas degradadas.

§ 1º Além do disposto no caput, o Poder Público manterá programas de pagamento porserviços ambientais em razão de captura e retenção de carbono, proteção da biodiversidade,proteção hídrica, beleza cênica ou outro fundamento previsto na legislação específica.

§ 2º A preservação voluntária de vegetação nativa configura serviço ambiental, a serremunerado nos casos, formas e condições estabelecidos na legislação específica.

Art. 37. Fica instituída a Cota de Reserva Ambiental (CRA), título nominativo representativode área com vegetação nativa:I – sob regime de servidão ambiental, instituída na forma do art. 9º-A da Lei nº 6.938, de 31de agosto de 1981;

II – correspondente à área de Reserva Legal instituída voluntariamente sobre a vegetação queexceder os percentuais exigidos no art. 14. desta Lei;

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 50/60

Page 51: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

III – protegida na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), nos termos doart. 21 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000;

IV – localizada no interior de unidade de conservação da natureza do grupo de proteçãointegral, nos termos do art. 8º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, pendente deregularização fundiária.

§ 1º A emissão de Cota de Reserva Ambiental será feita mediante requerimento doproprietário e após laudo comprobatório emitido pelo próprio órgão ambiental ou por entidadecredenciada, assegurado o controle do órgão federal competente do Sisnama, na forma doregulamento.

§ 2º O regulamento disporá sobre as características, a natureza e o prazo de validade do títulode que trata este artigo, assim como os mecanismos que assegurem ao seu adquirente aexistência e a conservação da vegetação objeto do título.

§ 3º A Cota de Reserva Ambiental não pode ser emitida com base em vegetação nativalocalizada em área de RPPN instituída em sobreposição à Reserva Legal do imóvel.

Comentário: Redução da proteção. As sobreposições de RPPN com Áreas de PreservaçãoPermanente também deveriam ser excluídas da Cota de Reserva Ambiental. Como a CRApode ser utilizada para a compensação da Reserva Legal, caso não excluídas as APP, essasserão utilizadas na compensação, reduzindo, ao final, a área protegida.

§ 4º A Cota de Reserva Florestal emitida nos termos do art. 44-B da Lei nº 4.771, de 1965,passa a ser considerada, pelo efeito desta Lei, como Cota de Reserva Ambiental.

Art. 38. A CRA será emitida pelo órgão competente do Sisnama em favor de proprietário quemantenha área nas condições previstas no art. 37.38..

§ 1º O proprietário interessado na emissão da CRA deve apresentar ao órgão referido no caputproposta acompanhada de:

I – certidão atualizada da matrícula do imóvel expedida pelo Registro de Imóveis competente;

II – cédula de identidade do proprietário, quando se tratar de pessoa física;

III – ato de designação de responsável, quando se tratar de pessoa jurídica;

IV – certidão negativa de débitos do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);

V – memorial descritivo do imóvel, com a indicação da área a ser vinculada ao título,contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado relativo ao perímetro do

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 51/60

Page 52: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

imóvel e um ponto de amarração georreferenciado relativo à Reserva Legal.

§ 2º Aprovada a proposta, o órgão referido no caput emitirá a CRA correspondente,identificando:

I – o número da CRA no sistema único de controle;

II – o nome do proprietário rural da área vinculada ao título;

III – a dimensão e a localização exata da área vinculada ao título, com memorial descritivocontendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado;

IV – o bioma correspondente à área vinculada ao título;

V – a classificação da área em uma das quatro condições previstas no art. 37;

VI – outros itens previstos em regulamento.

§ 2º O vínculo de área à CRA será averbado na matrícula do respectivo imóvel no Registro deImóveis competente.

§ 3º O órgão federal referido no caput pode delegar ao órgão estadual competente atribuiçõesem termos de emissão, cancelamento e transferência da CRA, assegurada a implementação desistema único de controle.

Art. 39. A unidade de CRA será emitida com base em um hectare:

I – de área com vegetação nativa primária, ou vegetação secundária em qualquer estágio deregeneração ou recomposição; e

Comentário: Apenas áreas com vegetação nativa primária ou em estádio avançado e médiode regeneração deveriam ser admitidos para a emissão da Cota de Reserva Ambiental. Aredação proposta, admitindo qualquer estágio de regeneração ou recomposição, permitiráque até mesmo áreas em estágio inicial de regeneração da vegetação sejam admitidas,possibilitando a utilização de dessas áreas a compensação da Reserva Legal.

II – de áreas de recomposição mediante reflorestamento com espécies nativas.

§ 1º O estágio sucessional ou o tempo de recomposição ou regeneração da vegetação nativaserá avaliado pelo órgão ambiental estadual competente com base em declaração doproprietário e vistoria de campo.

§ 2º A CRA não poderá ser emitida pelo órgão ambiental competente quando a regeneração

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 52/60

Page 53: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ou recomposição da área forem improváveis ou inviáveis.

Art. 40. É obrigatório o registro da CRA na Central de Custódia e de Liquidação Financeira deTítulos – CETIP, pelo órgão emitente, no prazo de trinta dias, contatos da data da suaemissão.

Art. 41. A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa física ou a pessoajurídica de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e peloadquirente.

§ 1º A transferência da CRA só produz efeito uma vez registrado o termo previsto no caput nosistema único de controle.

§ 2º Admite-se a transferência de CRA para:

I – compensação da Reserva Legal;

II – proteção de áreas de servidão ambiental.

§ 3º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural situado nomesmo bioma da área à qual o título está vinculado.

Comentário: A aquisição de CRA para compensação de Reserva Legal não está vinculada àmesma fitofisionomia, equivalência em importância ecológica e extensão ou localização namesma bacia hidrográfica que a Reserva Legal que se deseja compensar. Admite-se a CRApara compensar Reserva Legal de imóveis situados no mesmo Bioma (ar. 41, parágrafo 3º).Com isso, CRA de Mata Atlântica podem ser utilizados em qualquer um dos 15 Estados daFederação em que esse bioma ocorre.

§ 4º A utilização de CRA para compensação da Reserva Legal será averbada na matrícula doimóvel no qual se situa a área vinculada ao título e do imóvel beneficiário da compensação.

Art. 42. Cabe ao proprietário do imóvel rural em que se situa a área vinculada à CRA aresponsabilidade plena pela manutenção das condições de conservação da vegetação nativa daárea que deu origem ao título.

§ 1º A área vinculada à emissão da CRA com base no art. 37.38., incisos I, II e III, desta Lei,poderá ser utilizada conforme Plano de Manejo Florestal Sustentável, atendidas as regras doart. 28. desta Lei.

Comentário: Redução da Proteção. O Inciso III, Art. 37, institui como Cota de ReservaAmbiental as RPPN instituídas voluntariamente. Por constituírem unidades de conservaçãodo grupo de proteção integral, as RPPN não admitem o implementação de Planos de Manejo

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 53/60

Page 54: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Florestal Sustentável, somente sendo nelas permitido a pesquisa científica ou a visitaçãocom objetivos turísticos, recreativos e educacionais.§ 2º A transmissão inter vivos ou causa mortis do imóvel não elimina nem altera o vínculo deárea contida no imóvel à CRA.

Art. 43. A CRA somente poderá ser cancelada nos seguintes casos:

I – por solicitação do proprietário rural, em caso de desistência de manter áreas nas condiçõesprevistas nos incisos I e II do art. 37;

II – automaticamente, em razão de término do prazo da servidão ambiental;

III – por decisão do órgão competente do Sisnama, no caso de degradação da vegetação nativada área vinculada à CRA cujos custos e prazo de recuperação ambiental inviabilizem acontinuidade do vínculo entre a área e o título.

§ 1º O cancelamento da CRA utilizada para fins de compensação de Reserva Legal só podeser efetivado se assegurada Reserva Legal para o imóvel no qual a compensação foi aplicada.

§ 2º O cancelamento da CRA nos termos do inciso III do caput independe da aplicação dasdevidas sanções administrativas e penais decorrentes de infração à legislação ambiental, nostermos da Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e seu regulamento.

§ 3º O cancelamento da CRA deve ser averbado na matrícula do imóvel no qual se situa a áreavinculada ao título e do imóvel no qual a compensação foi aplicada.

CAPÍTULO XII

Disposições Complementares, Transitórias e Finais

Art. 44. São obrigados a registro no órgão federal competente do Sisnama os estabelecimentoscomerciais responsáveis pela comercialização de motosserras, bem como aqueles que asadquirirem.

§ 1º A licença para o porte e uso de motosserras será renovada a cada 2 (dois) anos.

§ 2º Os fabricantes de motosserras são obrigados a imprimir, em local visível do equipamento,numeração cuja sequência será encaminhada ao órgão federal competente do Sisnama econstará nas correspondentes notas fiscais.

Art. 45. Além do disposto nesta Lei e sem prejuízo da criação de unidades de conservação danatureza, na forma da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e de outras ações cabíveis voltadasà proteção das florestas e outras formas de vegetação, o Poder Público federal, estadual ou

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 54/60

Page 55: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

municipal poderá:

I – proibir ou limitar o corte das espécies da flora raras, endêmicas, em perigo ou ameaçadasde extinção, bem como as espécies necessárias à subsistência das populações tradicionais,delimitando as áreas compreendidas no ato, fazendo depender de autorização prévia, nessasáreas, o corte de outras espécies;

II – declarar qualquer árvore imune de corte, por motivo de sua localização, raridade, belezaou condição de porta-sementes;

III – estabelecer exigências administrativas sobre o registro e outras formas de controle depessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à extração, indústria ou comércio de produtos ousubprodutos florestais.

Art. 46. As ações ou omissões que constituam infração às determinações desta Lei serãosancionadas penal e administrativamente na forma da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998e seu regulamento.

Art. 47. Pelo período de cinco anos contados da data de vigência desta Lei, não será permitidaa supressão de florestas nativas para estabelecimento de atividades agropastoris, assegurada amanutenção e consolidação das atividades agropecuárias existentes em áreas convertidas antesde 22 de julho de 2008 e todas as que receberam autorização de corte ou supressão devegetação até a publicação desta Lei.

Comentário: Mais uma vez, o Substitutivo, garante a anistia para todas a infraçõescometidas antes de 22 de julho de 2008. Aqui a garantia de manutenção e consolidação dasatividades agropecuárias não faz distinção entre áreas localizadas em espaços territoriaisespecialmente protegidos e as localizadas em outros espaços. A garantia de manutenção dasatividades oferecida por esse artigo é irrestrita, não havendo a previsão de nenhumapossibilidade de reversão de áreas para espaços protegidos.

§ 1º A proibição de que trata o caput tem por objetivo permitir que a União, os estados e oDistrito Federal se adaptem às exigências desta Lei, quais sejam:

I – elaboração de Zoneamento Ecológico-Econômico;

II – elaboração de planos de bacia e instalação dos comitês de bacia hidrográfica;

III – discriminação e georreferenciamento das propriedades rurais;

IV – elaboração de Programas de Regularização Ambiental.

§ 2º Excetuam-se da proibição do caput os imóveis com autorização de corte ou supressão de

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 55/60

Page 56: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

vegetação já emitidas e as que estão em fase de licenciamento, cujo protocolo se deu antes de22 de julho de 2008.

§ 3º Os estados e o Distrito Federal, por ato próprio, poderão ampliar o prazo a que se refere ocaput em até cinco anos.

Comentário: Retardamento da recuperação ambiental. A elaboração do PRA deve serantecedida da elaboração de Zoneamentos Ecológicas Econômicos, Planos de RecursosHídricos, inventários florestais e estudos técnicos de órgãos de pesquisa. É possível casos emque os PRA nunca serão elaborados. O Art. 47, Parágrafos primeiro e terceiro estabeleceque os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estender o prazo de elaboraçãodo PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10 anos para o início doprocesso de recuperação da Reserva Legal, seguidos de outros 30 anos para a suarecuperação, a uma razão de 1/30 por ano. Com isso haverá o retardo no início do processode recuperação da área de Reserva Legal, chegando-se a um limite de 40 anos para arecuperação da área integral de Reserva Legal.O Substitutivo não apresenta quaisquer mecanismos de garantia e monitoramento daelaboração dos PRA, bem como de sua execução.

Art. 48. O art. 9º-A da Lei nº 6.938, de 1981 passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 9º-A O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, porinstrumento público ou particular, ou por termo administrativo firmado perante órgãointegrante do Sisnama, limitar o uso de sua propriedade, em sua totalidade ou parte dela, parapreservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidãoambiental.

§ 1º O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir, no mínimo, osseguintes itens:

I – memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto deamarração georreferenciado;

II – objeto da servidão ambiental;

III – direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor;

IV – prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.

§ 2º A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à ReservaLegal mínima exigida.

§ 3º A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser,

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 56/60

Page 57: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.

§ 4º Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveiscompetente:I – o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental;

II – o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental.

§ 5º Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental deve ser averbadana matrícula de todos os imóveis envolvidos.

§ 6º É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação daárea, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou deretificação dos limites do imóvel.

§ 7º As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos termos do art. 44-A da Lei nº 4.771, de 1965, passam a ser consideradas, pelo efeito desta Lei, como deservidão ambiental.” (NR)

Art. 49. A Lei nº 6.938, de 1981 passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 9º-B, 9º- C e 9º-D:

“Art. 9º-B A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua.

§ 1º O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de quinze anos.

§ 2º A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aosrecursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, definida noart. 21 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000.

Comentário: A restrição ao uso da servidão ambiental pode ser idêntico ao da ReservaLegal, ou seja, admite o uso sustentado dos recursos. Por sua vez, a Reserva Particular doPatrimônio Natural classifica-se como unidade de conservação de proteção integral. Comisso, o proposta equipara para fins creditícios, tributários e de acesso a recursos de fundospúblicos espaços territoriais de com regime de uso distintos. Com isso, a criação de RPPN,que oferece maior proteção ambiental que servidões ambientais, torna-se menos atrativa.

§ 3º O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ouparcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário,ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social.Art. 9º-C O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental deve seraverbado na matrícula do imóvel.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 57/60

Page 58: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

§ 1º O contrato referido no caput deve conter, no mínimo, os seguintes itens:

I - a delimitação da área submetida à preservação, conservação ou recuperação ambiental;

II - o objeto da servidão ambiental;

II - os direitos e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes ou sucessores;

III - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental;

IV - os benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão ambiental;

V - a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusive medidas judiciais necessárias,em caso de ser descumprido.

§ 2º São deveres do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações estipuladas nocontrato:

I - manter a área sob servidão ambiental;

II - prestar contas ao detentor da servidão ambiental sobre as condições dos recursos naturaisou artificiais;

III - permitir a inspeção e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental;

IV - defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admitidos.

§ 3º São deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações estipuladas nocontrato:

I - documentar as características ambientais da propriedade;

II - monitorar periodicamente a propriedade para verificar se a servidão ambiental está sendomantida;

III - prestar informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos sucessoresda propriedade;

IV - manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da servidão;

V - defender judicialmente a servidão ambiental.

Art. 9º-D O poder público estimulará, por meio de leis específicas, a implantação de servidão

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 58/60

Page 59: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

ambiental mediante incentivos econômicos proporcionais à área constante na Cota de ReservaAmbiental, entre eles:

I – crédito rural facilitado com taxas de juros menores;

II – limite de financiamento maior;

III – redução da base de cálculo do Imposto de Renda em decorrência de investimentos naimplantação da servidão ambiental;

IV – redução do valor venal do imóvel alienado com servidão ambiental, para efeito depagamento de Imposto de Renda referente à ganho de capital;

V – isenção do Imposto de Renda decorrentes de sua cessão onerosa.”

Art. 50. A alínea d do inciso II do art. 10 da Lei nº 9.393, de 1996, passa a vigorar com aseguinte redação: “Art. 10. ..............................................................................

§ 1º .....................................................................................

II - .......................................................................................

.............................................................................................

d) sob regime de servidão ambiental;...........................................................................................”

(NR)”Art. 51. O caput do art. 35 da Lei nº 11.428, de 2006, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 35. A conservação, em imóvel rural ou urbano, da vegetação primária ou da vegetaçãosecundária em qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata Atlântica cumpre funçãosocial e é de interesse público, podendo, a critério do proprietário, as áreas sujeitas à restriçãode que trata esta Lei ser computadas para efeito da Reserva Legal e seu excedente utilizadopara fins de compensação ambiental ou instituição de cota de reserva ambiental....................................................................................” (NR)

Art. 52. Revogam-se a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, alterada pela MedidaProvisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, e a Lei nº 7.754, de 14 de abril de 1989.

Art. 53. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 59/60

Page 60: (PT 204-10 Substitutivo C\363digo Florestal)

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - 4ª CCR

Sala das Sessões, em 08 de junho de 2010.

Deputado Aldo Rebelo

Relator

PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 60/60