psm - quatro

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versos de carlos peres feio já publicados - entre 2003 e 2008 -

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Page 1: PSM - QUATRO

1

Page 2: PSM - QUATRO

2

Título: PSM – QUATRO

Autor : carlos peres feio

Capa: Chinesa do Norte – Produções sobre desenho de carlos peres feio

© carlos peres feio e chinesa do norte produções , Janeiro 2009

Composição, paginação, impressão: chinesa do norte – produções, lda Depósito nº : 0102806/09

Page 3: PSM - QUATRO

3

é simples e reconfortante

sentir que a luz do passado

ilumina este meu anoitecer

carlos peres feio

Page 4: PSM - QUATRO

4

anjos na praia

anjos na praia

do coral submerso

espera sem ponteiros

tédio no verso

asas sem voo

ouço e converso

rasto dos tempos

eco de lamentos

inesperada espera

fogo na noite

na maré cheia

sinais nas algas

sons nos rochedos

afastem os medos

anjos na praia 1998

Page 5: PSM - QUATRO

5

chita

como todos os gatos

o encanto tem dois pólos

um olhar único –

o movimento do corpo

quando marcha

como todas as crias

trazem o encanto da vida

desordem nos movimentos

quando trepam pela Mãe

como todos os seres

precisam de ter sorte

que no viver natural

nunca se cruzem com o Homem

na savana desta vida 2008

Page 6: PSM - QUATRO

6

Raiz do Tempo

o que procuro

esconde-se

levo já de vida o tempo suficiente

para ter vivido a realidade

e poder agora

procurar o que falta

ser microchip em viagem

pelo meu cérebro

ou turista pasmado

nas grutas do Dragão

nas entranhas da montanha

em busca de cristais

nesta viagem

pode-se estar no centro da Terra

e continuar a ouvir

um piano preto

nas harmonias sugeridas por um afinador

nas madeiras da estrutura

e no metal das cordas

a busca em liberdade

tem sempre o limite da mente

as grades da idade

a fragilidade dos tecidos

procuro hoje

um sinal de fim

os medos pressentidos

de tudo ou nada encontrar

quando me aproximo

deste sol interior

não há nuvens nem ventos

a paz é total

e sei que cheguei

à Raiz do Tempo 2008

Page 7: PSM - QUATRO

7

as coisas boas da vida

é na cabeça que tudo se passa

logo acima dos olhos

no córtex cerebral

é o aroma que fica no ar

o teu perfume de sempre

as sombras do teu corpo

sonhar contigo ausente

a minha vida é meu fado

e é fácil entender

que à janela do mundo

com o desgosto lá fora

a água do duche ser tépida

já é uma coisa boa

respirar sem esforço

comer na hora certa

saber que os que partem

vão por ordem natural

conhecer gente de esperança

quando em nós não mora

perceber que entre os outros

há pessoas de bem

sentir a língua quente

da cadela que lambe a mão

olhar no boletim

o sol que nos vai aquecer

há ainda a felicidade

do bico deste lápis

resistir às minhas fúrias 2008

Page 8: PSM - QUATRO

8

pintura

reinventar o mundo

nas cores que tem

nos contrastes apresentados

mas filtrados pelo nosso ser

condimentado pela filosofia

que fomos construindo

enquanto ele mundo

se transformava

e durante a nossa vida

a isso assistíamos

reinventar o mundo

é a minha pintura

2008

Page 9: PSM - QUATRO

9

A rapariga do pescoço doce

É isso, escrevo muito porque sou uma

solitária!

Escrever faz-me bem.

Dizia isto a moça de uma

escola nocturna qualquer,

sentindo a verdadeira dimensão

de parecer rapariga

e ser mulher.

1990

Page 10: PSM - QUATRO

10

a origem

o belo pode estar escondido

no amarelo-índia

pigmento feito

com mijo de vaca sagrada

alimentada em exclusivo

com mangas

o mundo lá fora

mostra o horror violento

no fundo

os nossos resíduos

felizmente

também eles escondem alguma beleza

a que resta

2008

Page 11: PSM - QUATRO

11

sinais do tempo - sinais do corpo

a tentativa humana de originalidade

falha

o esboço de um estilo próprio

está condenado

levantar o canto esquerdo da boca

ao rir

retorcer as duas mãos face ao incómodo

daquela maneira

é a memória de uma era antes de nós

são os avós a falar dentro do tempo

e nada mais a fazer

do que cumprir

2001

Page 12: PSM - QUATRO

12

urso na jaula

quando era menino

em visita ao zoológico

intrigava-me ver

as jaulas vazias

num segundo olhar

via o animal

a um canto

onde se enroscava

quando entram em minha casa

ouço vozes perguntarem

por mim

muitas vezes

no meu canto

― escondido

2008

Page 13: PSM - QUATRO

13

visão de amor

sou capaz de te descrever

todas as visões que tenho

e penso serem de amor

(se não forem

paciência)

metralha-me com estrelas

para que sinta teus

abismos

e no vislumbrar

de teu rosto

minha alma vibre

em sismo profundo

donde sai canto de Verdi

em si libertador

e a quimera do princípio

seja mesmo Amor 1991

Page 14: PSM - QUATRO

14

D. COXA

mulher a quem não davam crédito

dizia que o mar podia ser

metálico e ondulado

as ondas junto à praia, flocos de neve

reconheciam nela no entanto um dom

era única a entender

o canto das gaivotas 2008

Page 15: PSM - QUATRO

15

quando

quando és levado a definir

felicidade

ficas sem saber se é

pergunta sem resposta

ou auto de fé

qual a maior importância?

versos de Mallarmé

ou filme a preto e branco

na cor da tua

imaginação?

perplexo

imploras auxílio

aos sábios de antigamente

mas talvez

apenas te responda

um pc

que fala contigo

mesmo quando estás só. 1998

Page 16: PSM - QUATRO

16

VISITA

em sonhos recebi

a visita de mim próprio

vinha de um passado distante

onde o sofrimento me rodeava

sabia dele

não o conhecia

falo do meu país

português suave

amassado por indiferenças

por violências de violentos

escrevo sobre o sistema

brandos costumes

aparentes

a paz impossível

o inferno dos torturadores

o tormento da consciência

o ter de actuar

lembro-me que era

incómoda a minha apatia

decidi abandonar tudo

Pátria Família

quando a pressão apertou

e foi necessário assim fazer

dizem que tenho sorte

(assim foi toda a vida)

fui salvo de ser herói

por um Abril luminoso 2008

Page 17: PSM - QUATRO

17

ano lectivo

só agora começou

quando da vida prática

nos desligámos

durámos até que um dia

parámos de o fazer

para aprender a viver

foram muitas as tarefas

cumpridas falhadas

e hoje somos

libertos de quase tudo

sem qualquer aspiração

a paz é total

só agora começou

o nosso ano lectivo 2008

Page 18: PSM - QUATRO

18

Filha de Ryan

é preciso ver mais uma vez

a filha de Ryan

para sentir a doce agonia

do amor que assalta

toma

rasga-nos a alma

e mostra a seta

no teu sentido

2001

Page 19: PSM - QUATRO

19

magia

enorme ironia reconhecer

que a magia

não mora sempre ao lado

pode estar na casa

onde crescemos

onde vemos crescer

alguém

cuidado

não percas o endereço da magia

por teres mudado para outro espaço

crê

pode escapar-te

a menos

que dela tenhas levado

a semente

que baixinho

nas noites de agonia

te diz

não te abandono

serena

continuo aqui 2008

Page 20: PSM - QUATRO

20

crime

no começo roubamos

enciclopédias

mais à frente

dinheiro

é a ordem dita natural

das coisas

e das loisas

e das tragicomédias 1988

Page 21: PSM - QUATRO

21

escolher o mar

vem, desejo de navegar

da raiz do pensamento

provoca a reunião de tudo o que

recebi na arca dos avós

levo o gato de menino

representante dos bons olhos

que tinha

a perene vontade

do regaço de minha mãe

para minha desorientação

a bússola cor de ouro

comprada na rua do arsenal

e para sem vergonha

mostrar minha origem

meu lastro de cultura

a espada de cana

que não fere não fende

não mata

vou para o mar

água e céu

com tubos de guache

pastilhas de aguarela

escolhidas as cores

azul verde branco

e na arca nada mais

na cabeça a liberdade

o cheiro dos teus cabelos

a falta da tua mão 2008

Page 22: PSM - QUATRO

22

mundo perfeito

é o da dominação dos demónios

que convivem no nosso interior

com o leite que bebemos

o queijo de cabra comido

e as vibrações dos nossos tímpanos

quando Schubert nos entra na cabeça

ainda fica a dúvida

sobre a questão:

dominados

ou adormecidos? 2002

Page 23: PSM - QUATRO

23

oferta de café

na vitrina o açúcar condenado

prateleiras com guloseimas

chocolate mal parado

em suportes garrafas fortes

de líquidos ainda

mais fortes

em travesti de sandes

tostas mistas sandwichs

na mesa

oferecida

cabelo curto

fuma olha sonda

a clientela

ao lado

no banco do bar

siamesa colega

na oferta e procura

vida fácil vida dura

passa a vida no café

e eu

ao pé

1994

Page 24: PSM - QUATRO

24

Dedicatória

Foste ideia indefinida

Com arestas

Que não decifro.

Surges

Na noite renascida

Tornas-te nítida

e hesito.

No fim

A luz

Um foco nu.

Sinto-te

Reconheço-te

És tu. 1984

Page 25: PSM - QUATRO

25

Cabelo ao vento

Cabelo ao vento,

a liberdade.

No pensamento,

uma igualdade.

Corre comigo,

ave-surpresa.

Conduz-me a ti,

mãe-natureza.

A ti cheguei,

mas, crueldade,

tu não és mais

a felicidade.

1971

Page 26: PSM - QUATRO

26

o ciúme

o ciúme é um

cordão rastilho

onde o final é

explosivo

o bem estar

como é hoje

entendido

não é remédio

é só

adesivo

1988

Page 27: PSM - QUATRO

27

T.

só porque há nuvens

não há lua?

só por te vestires

não andas nua?

só por não te ver

te esqueci?

cuidado!

igual amor ao que te tenho

e o desejo em si

também um dia

pode crescer

em ti. 1989

Page 28: PSM - QUATRO

28

zona fabril

zona fabril bem

demarcada

foto no peito

já desbotada.

fato macaco

com zipes

cara feia de porteiro

com tiques.

ar esverdeado

poluição

homem com pulmão

na mão.

ouve-se calão

homens trabalham perto

morre o número dez

avança o onze, decerto.

tu, homem de tasco,

que o ar contamina,

serás teu carrasco

e tua guilhotina. 1980

Page 29: PSM - QUATRO

29

Tchaikowsky

homem aparecido para a música

com o condão de nos mostrar

novo caminhar

para um belo, já conhecido.

vida torturada pelo desejo

que o impelia

para as relações

que ele próprio

achava serem notas dissonantes

na partitura desses tempos.

esqueçam os terrores e os amores

por que passou

e lembrem as melodias

que do seu sofrimento

brotaram

belas, únicas, inesquecíveis. 2002

Page 30: PSM - QUATRO

30

receber

ao dizer meus versos aos outros

no dar minha escrita a quem passa

não sou muito diferente

do pedinte que nos aborda

que nos diz que não tem fome

mas insiste numa moeda

para o cafezinho

quando me ouvem

me referem a leitura

ao darem-me a palmada

nas costas

já me cheira a café

se sinto o olhar atento

então saboreio a bebida

em chávena aquecida

2008

Page 31: PSM - QUATRO

31

à estrada

aconteceu não ter dinheiro

e as dores que vieram

só tinham um nome

paragem

um magnífico automóvel negro

feito para a estrada

pedindo viagem

mas com o tanque quase vazio

para voltas ao quarteirão

tinha o tédio dos marinheiros

em terra

Biarritz St Malo Bayeux

esperem por mim

ainda há esperança. 2002

Page 32: PSM - QUATRO

32

negro mão de obra

chegada.

o branco é branco

o medo é preto

o pé pisa pisa

o pé é esqueleto

coqueiro está longe

mulher não tem rosto

o mar está no meio

voltar

é o meu gosto

mas há a aventura

existe a procura

mão de obra sou eu

mão de obra gemeu

- - - - - - - - - - - - - - - - - -

eu gosto daqui

(tem branca bem feita)

eu gosto daqui

(comigo não deita) 1972

Page 33: PSM - QUATRO

33

alto da serra

ex pastor

volta para teu pastoreio

e controla os teus desejos

protege teus pensamentos

dos lobos da inveja

alto da serra

prepara músculos para trabalho

enche peito para subida

eleva braços para recepção

une os nervos num feixe

concentra tudo num ponto

sente frio nas narinas

afasta instintos de guerra

e chega ao alto da serra

2001

Page 34: PSM - QUATRO

34

grande mentira

no princípio era o dia luminoso

numa estrada sem fim

não me prometeram nada

a promessa era o que via

nem sequer me apercebi

que tinha o rio aos meus pés

cedo aprendi a estar bem

a encher os olhos da vista aérea

das plantas alinhadas

que faziam pela vida

a minha azul existência

quando descobri o mar

fui por ele rodeado

sei o que é o mar alto

antes de conhecer a praia

não chegou a ser dor

mas somente uma marca

a saudade na mão esquerda

na direita o novo mundo novo 2008

Page 35: PSM - QUATRO

35

mãos

quero ir de mãos dadas

contigo

por todos os palácios edifícios

jardins e lugares

esplêndidos deste mundo.

a tua mão será a doce ligação

ao mundo do irreal

da pintura

dos livros

dos instrumentos musicais raros

mas o tempo foge

então

como já vi muitos desses lugares

sagrados

museus, museus, museus

e contigo já não irei a muitos

resta-me a tua mão

a tua imaginação

para de mão dada

fazer a viagem imaginada

de dar a volta ao mundo

sem limites

e encontrar nas tuas veias

o caminho para o sonho

e conseguir levar-te

a ligar

o teu pensamento aos nervos

dos meus olhos

e transferir de mim

antes que a memória esgote

as viagens armazenadas

para que delas desfrutes

e sejas

o meu duplicado

em amor autenticado. 1998

Page 36: PSM - QUATRO

36

se me lembro?

estremeceu e parou

sentiu uma luz forte em cima

ouviu perguntar

lembras-te dela?

deviam estar a gozar

queriam o seu embaraço,

por certo.

cego pela luz

atordoado pela questão

repetiu

se me lembro?

e há algum minuto sem a ver

dentro da minha cabeça?

sua pele prometia sempre

seus olhos eram risadas

com o choro em fundo

seu corpo em geral

uma mistura de fêmea desejo e cor

seu andar

dramático ao afastar-se

ondulante à vinda

se me lembro?

sufocou, tudo andou à roda

e caiu, fulminado.

2001

Page 37: PSM - QUATRO

37

E com a certeza, a dúvida

Pergunto.

Quem me responde?

Amplificação de meu cérebro

Em agonia de fome?

Estás comigo?

Estás comigo?

Escuto.

Ritmos compassos silêncios

Tempo de meditação

Memórias sonoras em vão

Estás comigo?

Estás comigo?

Digo.

Tens de estar.

Já te sinto. No espaço.

Na falta de tuas notícias

A certeza que caminhas

para mim.

E com a certeza, a dúvida:

Estás comigo?

Estás comigo? 1991

Page 38: PSM - QUATRO

38

Carcavelos agora

ruas estreitas abstractas

corredores na folhagem

casas com jardim

fora de época ou talvez não

local resignado

da calma em contra mão

aceitar que assim é

nada esperar do que já foi

em sonhos descobrir restos

de quintas já sem verdura

paraísos condenados

monumentos de amargura 2008

Page 39: PSM - QUATRO

39

responsabilidade do poeta

escreve sempre só

num acto único

pensa que um dia

alguém o ouve ou vê

essa folha essa voz

pode mudar a vida a outro

por isso se escreve de impulso

e depois se sofre

quem se expõe mais que o poeta?

só há uma poesia

a que transporta uma verdade

sem a impor

ao poeta por vezes são dadas

as ideias dentro da cabeça

mas pode acontecer

ter o palco por um minuto

e a mensagem fluir

daí a grande responsabilidade

de ser poeta 2008

Page 40: PSM - QUATRO

40

mensagem

quero dizer-te que compreendo a tua fúria

que arrasta escolhos como eu

e produz a espuma alva

de um branco exasperado e manso

ponho-me no teu lugar sofro o balanço

de uma ira ora contida ora explodida

de um vazio amargo que não satisfaz

de uma azia de borrasca com cascos

deixando passar águas envenenadas

de fins insondáveis

que nos surpreende no nosso próprio emissor

por terem ódio

quando devia haver amor

pensa que visto a tua pele dez minutos

na fase do tornado

do vendaval dos resolutos

acredita que me sinto placa de cobre

onde o estilete do teu desagrado

grava as marcas ditadas pelo momento

e de seguida

banhos ácidos me envolvem

fica a garganta asfixiada

a mente neutralizada

e tudo porque nesse instante

entendo o cristal do núcleo

do teu descontentamento 1988

Page 41: PSM - QUATRO

41

África na memória

a memória envolve e condena

volta em manhãs de coração frio

com feixes solares de luz

que no imediato me cegam

nos tornozelos o roçar das ervas

das canas dos ardores

nos olhos a confusão dos verdes

nas narinas o cheiro das queimadas

o interior da terra

longe do mar longe de tudo

deixa marcas africanas nos dias futuros

na tristeza de um não voltar

milagroso é o azul do Índico

tinta passando para outros mares

e nesta fronteira de Tejo Atlântico

revejo sinais mato saudades 2001

Page 42: PSM - QUATRO

42

Pedra

A pedra que cai,

Sem o saber,

Rola como eu,

Sem querer.

Sonha com o meteoro

Donde se desprendeu

Lembra o espaço sideral

Onde se conheceu.

A pedra,

Essa,

Sabe que se vai desintegrar.

Eu,

Que te amo,

Sei que é esse amor

O meu fim

O meu destino

O respirar

O expirar. 1984

Page 43: PSM - QUATRO

43

BEM-ME-QUER

odeio tratar-te mal

e mal tratar-te pode ser

não ter tempo para te dar

neste vaivém de emoções

vem sempre mais do que vai

e voltamos aos maus tratos

não precisamos mais da lua

nem das ondas longe da praia

para a condenação

de um destino

que não quis

este é um poema de amor

verdadeiro antídoto

para ter junto à cancela

parte iniciática do culto

aos vegetais

desta horta acolhedora

onde desejo que a minha

passagem

deixe um rasto de alfazema 2002

Page 44: PSM - QUATRO

44

locais

não é dividida a casa onde vivo

a visita guiada organiza sem

querer

vários quartos

diversos interiores

e também um céu aberto

o interior mais importante

qual gás acabado de

despressurizar

ávido de expansão

tudo contamina

e chama-se imaginação

percorrer a casa

é trilhar escadas soalhos

pisados pelos presentes

é sentir que os ausentes

a não abandonaram

e nem as ideias deles

Page 45: PSM - QUATRO

45

o céu aberto

começa no céu

desce à outra parte da casa

a rua

agora mais apetecível

o mesmo progresso

que a inundou de

comboios autocarros carros

determinou que as rotas do

necessário

se deslocassem quinhentos metros

e a vila voltou a ser vila

há ainda o armário

da divisão habitada

pelo sentimento

de que o que assim é

poderia ser diferente

mas este sentir sabe

que deve a sua existência

ao que foi acontecendo assim

e é numa das suas muitas

prateleiras que

quero arrumar-me

de vez

2oo8

Page 46: PSM - QUATRO

46

porque

no fundo

considero catástrofe

cada vez que te perco

– sejas tu quem fores

o desvario

em que entro

é a vertigem oposta

das horas em máscara

de segundos

indo a bailes

doutros mundos 1989

Page 47: PSM - QUATRO

47

registo

fica aqui escrito

num local sem referências

que tudo o que escrevo

não tem mais que reticências

o difícil é parar

a corrente que não vem

o fácil é conter

o que a vida não tem

registo no espaço curto

o que não quero dizer

pára a mente escreve a mão

com a força por reter

num repente de ilusão

o que a mente

mente à mão 1980

Page 48: PSM - QUATRO

48

percentagem

quando estou no escuro

vejo melhor

as fracções de mim

consigo detectar

parte importante do passado

arrumado em gavetas

se uma toma a forma

de álbum fotográfico

outra a de objectos diversos

há ainda o fragmento

puro campo magnético

entre um ente querido

e um livro de infância

para sempre

encastrado na mente

Page 49: PSM - QUATRO

49

que dizer daquela fatia

mais ausente que presente

responsável pelos filmes

que só correm na cabeça

feitos nos estúdios

do meu espaço mental

com filmagens exteriores

em todas as ruas e estradas

onde a mente se excede

e muito do décor interior

se passa em casas e hotéis

projectados para a felicidade

demolidos pela vida

mais um espaço é criado

pela vontade plena de viver

e esse não deixa ver o conteúdo

zonas há que adivinho importantes

com rótulos indecifráveis

mas sinto o seu peso

no chamamento das palavras

apagadas

estas as partes encontradas

― no meio delas

onde estou eu? 2002

Page 50: PSM - QUATRO

50

tu e ela (Tuela)

apronta-te pela manhã

e sobre o teu bonito eu

coloca outra que não tu.

tens o disfarce feito

só que não podes

estar

a jeito

porque aprontar pela manhã

um outro eu que não o teu

deve ser contrariar

um génio-deus

de grau três

que em discurso de sapiência

informou

não querer ser incomodado

outra vez. 1990

Page 51: PSM - QUATRO

51

garantia

garanto-te que quando me vires passar

no automóvel vermelho

lá dentro, pomposo, não vou eu.

juro-te que não.

eu seguia a pé

a olhar as folhas já caídas.

viste mal

não reparaste em mim

desculpo-te

não sou rancoroso. 1987

Page 52: PSM - QUATRO

52

resumo

os clássicos

não conheciam o rei

mas amavam-no

na idade média

ninguém era só padeiro

mas sim o padeiro da aldeia

durante a renascença

a mãe educava os filhos

sem livro de instruções

Napoleão abriu

e fechou a época

das guerras regionais

os novecentistas descobriram

que ligar os povos era bom

para o bem criaram

a máquina a vapor

e o telégrafo

nunca tanta gente junta

foi tão feliz

parecia possível

a felicidade

quando já eram vinte séculos

pagou-se a factura

o bendito desenvolvimento

foi a morte de milhões de seres

em guerras e depressões

Page 53: PSM - QUATRO

53

para onde vamos?

então onde estamos?

na época da mentira

da promessa feita e ouvida

sem ninguém acreditar

no tempo da eleição do líder

para o nomear inimigo

e o poder contestar

substituto de deus e ideais

agiganta-se novo mal

o contrato

guião apenas válido

quando assinado entre pais e filhos

clausulado no amor possível

e nos direitos do homem

cada indivíduo

não pertence à sociedade

só a si próprio pertence

e é sem esperança

que escrevo estas linhas

individualmente 2008

Page 54: PSM - QUATRO

54

motim na cadeia do meu corpo

tantos anos de prisão

os nervos a obedecerem ao director cérebro

este a comandar tudo

as veias sem outra hipótese

levando-lhe submissas o precioso sangue

os membros garantindo que esse cérebro

estivesse presente em reuniões

mesmo em locais distantes

para o comandante se encher de louros

os olhos comprados a troco de umas lágrimas

contando tudo o que vêem

sem pestanejar

e muitos outros

com formas de cordões tubos e sacos

na prisão de tantos anos

dentro do meu corpo

veio o dia da revolta

provocada pelos dedos

que deixaram de agarrar

mas isso sem importância

o grave é nunca mais

uma carícia ser o que era

foram os dedos que iniciaram o motim

agora receia-se a turbulência

a grande revolta está em marcha

de mim para mim

quem semeia o motim

colhe o nada 2008

Page 55: PSM - QUATRO

55

eu para escrever

eu para escrever

não devia trabalhar

no que dá trabalho

eu para escrever

devia concentrar

todo o meu ser

em ver

eu para escrever

como deve ser

terei de esperar

até

morrer 1997

Page 56: PSM - QUATRO

56

a ti que amo

deixa escrever

expresso para ti

o que toda a gente vê

e eu sempre

senti.

paixão por ti

que mesmo quando a sinto branda

queima em fusão

interior

e então eu chamo-lhe

amor, em estertor. 1989

Page 57: PSM - QUATRO

57

ponte do Freixo

novinha em folha

mais uma sobre o Douro

perguntaram ao Rio se a queria?

a ele que sonhava que

em cada uma das próximas décadas

lhe retirassem

uma a uma

todas as outras.

as pontes

normalmente são belas

mas o Rio era mais belo

e feliz

sem elas. 1995

Page 58: PSM - QUATRO

58

só posso fazer coisas que tenham

hipótese de me agradar

em pleno

se forem coisas de que também

me possa arrepender

de as fazer

que felicidade

ouço jazz! 1989

Page 59: PSM - QUATRO

59

NA MORTE DE UM POETA REVELADO

- antónio reis -

nas rugas de um olhar

preocupado

recebo vibrações da não existência

mas ao mesmo tempo

do nascimento do poeta-irmão

desconhecido.

de filmes retenho imagens

ar de outras paragens

das letras arrumadas

em poema

vejo o véu em rodapé

esvoaçar

ainda esboço

para se elevar

como só acontece

quando a poesia

move mentes

sentimentos

e ao quotidiano

ergue monumentos. 1991

Page 60: PSM - QUATRO

60

sem título

prazer porque hoje visto sobretudo

agonia pelo dia de ontem

graça na surpresa do que virá

inércia pelo que veio

sorrir não custa o que diziam

as rugas ocorreram de vez

a viagem pode durar

estaremos à chegada? 1997

Page 61: PSM - QUATRO

61

sobre o perfume

venham os ventos do Norte

as chuvas benéficas

as noites de lua e pensamentos

para que as flores

em botão se abram

de algumas é sina

não morarem em grinalda

botoeira ou bouquet

mas serem colhidas

para o supremo sacrifício

esmagadas combinadas depuradas

entram na grande roda

do fabrico das essências

pobres flores sem cor

perdidas do esplendor

em líquido convertidas

mas a história direita

nas tortas linhas escrita

vai a um final feliz

torna a ser bela a flor

quando espalha seu perfume

na pele de uma donzela 2008

Page 62: PSM - QUATRO

62

TEATRO 90

sabes que existe, supões…

pensas, ousas e, talvez,

as ideias que tiveste uma vez

em ti morram num pós-parto,

então,

surpresa da noite,

no teatro tu encontras

frente a frente

a tua ideia com a fala do actor

e noite fora

ouves em bom som

o que tinhas pensado

numa tarde,

mas agora noutro tom,

vindo da voz doutro dono

para te pôr sem sono

Rei Lear em fim de Outono,

muito feliz! 1990

Page 63: PSM - QUATRO

63

para um dia leres

és a quinta dimensão

numa vida de eixos dois

mas levas contigo o senão

de trazeres à vida

o bafo de fresco quente

que já tinha abandonado

num dia

de outros diferente

ditaste a esperança desesperada

e agora receio

como quem está em terra

e teme naufragar 1990

Page 64: PSM - QUATRO

64

és fácil – és difícil

pelas letras te conheço

nas imagens te completas

enches-me a cabeça

com o que me adoça a vida

passaste a ser o molde

do meu novo formato

esqueci o que era dantes

olho para mim

através dos teus olhos

sei que me proteges

e em mim soltas

o doce pássaro

da juventude

é difícil conter-te nos versos

é fácil amar-te 2008

Page 65: PSM - QUATRO

65

só a ti

amor é ter uma mulher

que, de chofre, te diz

passei as tuas calças a ferro

e, olha, fui feliz

é ter uma mulher

que te roga uma praga

mas por ti aspira, respira,

e anda magra

é ter uma mulher que, por chalaça,

diz à amiga: o meu homem

é quem me desgraça

porém só a ti garanto

que é o amor que está por trás

do meu pranto,

e que por ele sofro,

e sofri,

ah, mas isto só a ti digo 1990

Page 66: PSM - QUATRO

66

luzes verdes

quem te enviou

vinda de uma Atlântida

já com o destino vector

de teus versos esmeralda

me acertarem?

não bendigo nem amaldiçoo

o destino arco de tensa corda

que na volta do século disparou

verdes preciosas pedras

contra o meu sossegado desespero

aceito sim esse acaso

momento de pura luz

no fulgor das tuas palavras

suaves embatendo

no realismo feroz das frases

que eu sou. 2001

Page 67: PSM - QUATRO

67

ARQUITECTO

não me falem de estruturas

esqueçam as palas as torres

ou então

juntem tudo

e façam outra cidade

onde me sinta bem

um banco de jardim

um canteiro que promete

paragem de autocarro

para à noite

sob a chuva miudinha

regressar ao meu cartão

de sem-abrigo

arquitectura

é tudo o que acontece

entre um corpo

e outro 2008

Page 68: PSM - QUATRO

68

Hino

meu amor

quando te vou comparar

viras matriz sozinha

és bela se risonha

mais bela quando triste

pois em ti

o que deveras te ilumina

é teres descoberto o amor

e tarde

a tempo, dirás tu!

meu amor

esforço-me por transformar

o negro asfalto de todos os dias

as horas escorridas a custo

em tempo de repouso

longa caminhada

viagem de eternidade 1996

Page 69: PSM - QUATRO

69

ainda

ainda existe a cidade entre nós

onde a vida em rodagem continua

poderia procurar aqui avós

poderia procurar a verdade nua

rostos de um igual diferente

meu irmão meu igual

faces afinal de gente

onde parou o tradicional. 1971

Page 70: PSM - QUATRO

70

aparição

tu és a inesperada

aparição

que tudo altera alivia

revela

medida da grandeza

é a tua entrega

tu pelo Amor

tocada

tudo ultrapassas

eu fui agente infiltrado

por querer

mas sem saber

que te despertava

que te provocava

a entrega e fusão

e o teres-me reduzido

a estado de Paixão 1991

Page 71: PSM - QUATRO

71

de vez

de vez em quando sinto

a necessidade de olhar

um mapa, de ver em

riscos o mundo posto

em carta, de saber

que já estive ali e gostava

de ir aqui, de lembrar

que neste lugar deve estar

um amigo, recordar que

ao lado assinala um

ponto onde houve

encontro antigo

e, mais que tudo,

saber que há sítios

onde ir, onde voltar

ou puro sonhar.

voo, curvo ou navego

frente a um café

e em sossego. 1991

Page 72: PSM - QUATRO

72

PAVILHÃO DE PORTUGAL

aqui há de tudo

uma vala, comum

muito negro

zé ninguém

bandos de mirones

capacetes

aturadas inspecções

pouco muro

muito murete

uma ponte, que flutua

em edifício que é barco

e um barco

que foi falua

na rectaguarda, tanto barulho

que silêncio na beira Tejo!

pavilhão de Portugal

um avião margem sul

meu país bem escuro

meu horizonte

muito azul. 1997

Page 73: PSM - QUATRO

73

crise

com força, bate tuas pálpebras,

range teu esqueleto

na tempestade.

emana do teu cérebro o veneno

que paralisa

revolta-te, vomita, descansa.

a escolha é cíclica

mas abate-se em ti,

apontando o caminho − seguro,

e tu sonhas contigo

e sonhas com teus sonhos

estimulado por um ideal

que não existe,

que sentes real.

amaldiçoo a vida contabilizada

amaldiçoo a vida morta

amaldiçoo o esquema do dia a dia

o objectivo rasga, amputa, dilacera

mata.

acredito que mais felizes serão

chafurdando no sucesso

que antevejo

tento salvar a semente

que antes de tudo

está o fraterno beijo.

compilada com amarguras

de hoje − e já tão antigas,

editada por um desejo

de soprar

publico hoje a sombra

do meu estar

e sobre o destino

erijo

um marco-pilar. 1972

Page 74: PSM - QUATRO

74

ALTER-EGO contra AVATAR

foi um momento sublime

aquele em que me libertei de Avatar

e assisti ao nascimento de William

descobri dentro de mim

esquecidas

necessidades de viagem

quando varria no chão

restos de asas cortadas

mais razoável

recorri então

às minhas mãos

torcidas

cravadas na vara

tentei elevar-me

num salto em altura

tarde de mais

nada a fazer

foi então

que tudo se iluminou

só pude dizer

William,

toma o testemunho

vai tu por mim. 2008

Page 75: PSM - QUATRO

75

PÉS

Deixamos marcadas na areia

pisadas de desencanto

e, no entanto,

é nessa maravilha

do claro-escuro,

agora bem escuro,

que melhor apreciamos

a luz que nos fez

faz e fará vibrar,

salpicando o vindouro

tempo duro

de lembranças dos pés

na areia marcados.

Tomara que essas pegadas

não desapareçam nunca

para, num qualquer crepúsculo,

as poder comparar

com as marcas em mim

deixadas

e que me tornaram

tão diferente. 1990

Page 76: PSM - QUATRO

76

Tomai nota

Quero contar-vos a odisseia

de uma vontade súbita

olhar pela janela

esperar ver Berlim

e, ai de mim,

ser Badajoz.

Mas, alegria suprema,

lugar comum de

nós os dois,

seria tê-la, ainda,

a sós,

em Berlim e Badajoz. 1989

Page 77: PSM - QUATRO

77

VENENO

veneno

esperas por mim

sob muitas formas

és o trabalho que arrasta

és a bicicleta que não tive

veneno

bem podes esperar

disfarça-te de água ardente

bebo-te e sobrevivo

ébrio amaldiçoo-te

veneno

vejo-te como um touro

que avança em força

mas escondo-me no burladero

de mim mesmo

veneno

quantas vezes tenho de errar

até te convencer

que a dose fatal sou eu próprio

e sem antídoto

veneno

sai de teu covil

enfrenta-me

espera-me de frente

faz de mim um herói

veneno

tentemos tudo de novo

apaga rótulos

risca-te dos letais e parte

comigo à conquista do nada 2008

Page 78: PSM - QUATRO

78

1986

Sou o poeta que jamais

escreverá

o que hoje pensou

não escreveu,

não registou.

Paciência.

Poesia arrasta a vida,

e leva os anos.

O caminho tem uma ida.

Paciência.

Não voltamos.

Juro solenemente

não escrever o que

não sinto.

Minto descaradamente

ao jurar

que nunca minto. 1986

Page 79: PSM - QUATRO

79

Antilook

dedico estas linhas tortas para direito te dizer

que estares fora de

moda

é o teu maior encanto

e que devia haver em

cada freguesia

uma estátua a quem

como tu

fosse autêntico

genuíno

simples

até comecei já a recolher

fundos para a tua

pois sei que

como toda a gente

procuras a felicidade

mas a uma velocidade

sem pressa

o que já não se usa

quero-te garantir

que vais ser muito feliz

já és feliz

e o que te ajuda

nessa difícil arte

é seres ingénua

não te promoveres

acreditares no Pai Natal

emocionares-te

seres fiel aos bons

princípios

desejo-te do coração

o maior bem estar

bastante paz na Terra

sempre sempre

a ver o mar 2000

Page 80: PSM - QUATRO

80

Ter

pelo crivo da peneira

passo

minha vida

inteira

esgravato resíduos,

resultas tu.

talvez sejas destilação

fraccionada de um

percurso,

o éter mais fino,

um recurso.

se amor é descoberta

descobri-o em ti.

se entrega é dependência

dependo de ti.

o que se chama ter, só te tenho a ti.

1996

Page 81: PSM - QUATRO

81

tenta fazer hoje

cada boa acção vale por si

ser notada ou vista

não importa – é mais uma

em algum local desta galáxia

será registada como acto

único enorme

do tempo nada sabemos

dos princípios e dos fins

temos a magia do conforto

na crença num bem maior

uma cálida noção ―

serve o teu semelhante

pratica uma boa acção 2008

Page 82: PSM - QUATRO

82

TÁBUA:

Page 83: PSM - QUATRO

83

4 anjos na praia

5 chita

6 Raiz do Tempo

7 As coisas boas da vida

8 pintura

9 A rapariga do pescoço doce

10 origem

11 sinais do tempo – sinais do corpo

12 urso na jaula

13 visão de amor

14 D. Coxa

15 quando

16 visita

17 ano lectivo

18 Filha de Rayan

19 magia

20 crime

21 escolher o mar

22 mundo perfeito

23 oferta de café

24 Dedicatória

25 Cabelos ao vento

26 o ciúme

27 T.

28 zona fabril

29 Tchaikowsky

30 receber

31 á entrada

32 negro mão de obra

33 alto da serra

34 grande mentira

35 mãos

36 se me lembro?

37 E com a certeza, a dúvida

38 Carcavelos agora

39 responsabilidade do poeta

40 mensagem

41 África na memória

42 Pedra

43 BEM-ME-QUER

44 locais

46 porquê

47 registo

48 percentagem

Page 84: PSM - QUATRO

84

50 tu e ela (Tuela)

51 garantia

52 resumo

54 motim na cadeia do meu corpo

55 eu para escrever

56 a ti que amo

57 ponto do Freixo

58 só

59 NA MORTE DE UM POETA REVELADO

60 sem título

61 sobre o perfume

62 TEATRO 90

63 para um dia leres

64 és fácil – és difícil

65 só a ti

66 luzes verdes

67 ARQUITECTO

68 Hino

69 ainda

70 aparição

71 de vez

72 PAVILHÃO DE PORTUGAL

73 crise

74 ALTER-EGO contra AVATAR

75 PÉS

76 Tomai nota

77 VENENO

78 1986

79 Antilook

80 Ter

81 tenta fazer hoje

Page 85: PSM - QUATRO

85

Nota da editora

Com PSM-QUATRO, chega ao fim a organização dos versos de

carlos peres feio, publicados durante um pouco mais de cinco

anos, em http://podiamsermais.weblog.com.pt.

O Poeta, como sempre nos habituou, usará a sua zen-

benevolência e, perante as nossas eventuais falhas, sorrindo com

bonomia, murmurará: é o Destino!

Terminando, já prenhes de saudade, deu-nos vontade de reler a

tradução de C.H.Quevedo para citar, deformando, o final de

“Ítaca” de K. Kavafis

PSM não nos enganou.

Assim nos tornámos mais sábios, mais experientes,

teremos porventura percebido o que os PSMs significam.

Até sempre.

Lisboa, 6 de Janeiro de 2009.