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PSICOPATOLOGIAS GRAVES NA INFÂNCIA Profa. Silvana Rabello

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PSICOPATOLOGIAS GRAVES

NA INFÂNCIA

Profa. Silvana Rabello

•Movimento mundial de reformulação da concepção de saúde mental, em especial, da

criança: do critério nosológico para uma compreensão da constituição da

subjetividade humana.

PRESSUPOSTOS BÁSICOS

• Quanto menor Quanto menor for uma criança, mais mais indiferenciados indiferenciados estarão entre si os diferentes

aspectos instrumentais do seu desenvolvimento.

• Quanto antes incidir um problema, o obstáculo em uma área específica tenderá a

se generalizar às demais, levando ao que entendemos como transtorno global do transtorno global do desenvolvimentodesenvolvimento, alvo desta pesquisa.

• O transtorno global do desenvolvimento transtorno global do desenvolvimento se diferencia dos quadros de deficiência mental

que apresentam sua organicidade mais definida desde o início da vida do bebê, assim como o

plano de desenvolvimento geral.

• Estes sinais menos definidos que caracterizam o transtorno global do desenvolvimentotranstorno global do desenvolvimento

certamente são percebidos, mas nem sempre são oferecidos parâmetros seguros sobre os quais pautar tal percepção precocemente.

• Por vezes, espera-se pelo desenvolvimento da criança para que essas manifestações se

definam, para a necessária discriminação das contribuições orgânicas e subjetivas e seu

devido encaminhamento.

• Porém, o tempo pode determinar a instauração tempo pode determinar a instauração agravada e cronificada do funcionamento agravada e cronificada do funcionamento psicopatológico inicialpsicopatológico inicial, comprometendo

desenvolvimentos seqüenciais, que dependiam das funções ainda não devidamente

desenvolvidas.

É PRECISO…

… …construir indicadores de psicopatologias construir indicadores de psicopatologias graves da primeira infânciagraves da primeira infância, a serem

experimentados junto às equipes de saúde no cotidiano da

vida institucional.

PRETENDE-SE TAMBÉM:

Ampliar os critérios conhecidos, para Ampliar os critérios conhecidos, para alémalém dos dos parâmetros nosográficos conhecidos sobre as parâmetros nosográficos conhecidos sobre as psicopatologias graves psicopatologias graves na primeira infância,

incluindo uma compreensão sobre a constituição constituição da subjetividade humana.da subjetividade humana.

É NECESSÁRIO...

• Reduzir o número Reduzir o número de crianças e adultos, autistas e psicóticos, os transtornos globais do desenvolvimento, em estado agravado e cronificado;

• Estabelecer o novo paradigma na saúde mental da criançanovo paradigma na saúde mental da criança, que priorize a intervenção na qualidade dos laços humanos nos diferentes grupos, sejam familiares, institucionais ou outros;

• Revisar as políticas de saúde mental da criança e suas práticas, visando intervenções psicológicas precocesintervenções psicológicas precoces;

• Buscar maior efetividadeefetividade na utilização dos recursos públicos;

• Sustentar o compromisso entre pesquisapesquisa e saúde públicasaúde pública.

REFERÊNCIA TEÓRICO-TÉCNICA:

• O conhecimento acumulado pela psicanálisepsicanálise, no que diz respeito à

constituição da subjetividade humana, em especial a psicanálise

francesa - Lacan;

• Pesquisa inspirada no trabalho da psicanalista Marie-Christine

Laznik junto ao grupo PRÈ-AUT em Paris.

>Com o apoio do governo municipal de Paris, oficializou-se a

capacitação dos pediatras para a detecção de bebês com sinais de

autismo nos exames de rotina.

• “Nossos esforços para o próximo decênio, se quisermos avançar na compreensão e no

tratamento do autismo, parecem-me dever se pautar no diálogo entre os senhores, médicos

dessas crianças, e nós, psicanalistas interessados na primeira infância.” (Laznik,

2004)

Diferenciação necessária, portanto, entre a detecção precoce preventiva e a detecção precoce preditiva.

Fundamentação teórica para tal do ponto de vista genético, orgânico, neuronal e subjetivo, assim como o

respeito a singularidade nos rumos do desenvolvimento de cada criança e dos padrões de

parentalidade.

Problemas de Saúde Mental das Crianças – Abordagem na Atenção Básica

• Estudo realizado pela Dra. Edith Lauridsen-Ribeiro e Oswald Yoshimi Tanaka

• Entrevistas com pediatras que trabalham nas UBS, no período de julho a agosto de 2000

• Entre outras conclusões o estudo aponta a necessidade de uma maior aproximação e necessidade de uma maior aproximação e interlocução entre os pediatras e os interlocução entre os pediatras e os profissionais da saúde mental profissionais da saúde mental – parceria

UMA CONCEPÇÃO DE PSICOPATOLOGIA GRAVE NA PRIMEIRA INFÂNCIA

Autismo e psicose infantil

Modalidades subjetivas que se caracterizam Modalidades subjetivas que se caracterizam pela não organização das funções “eu” e pela não organização das funções “eu” e

“outro”, enquanto funções psíquicas “outro”, enquanto funções psíquicas reguladoras da vida psíquica da criança.reguladoras da vida psíquica da criança.

• A não organização dessas funções psíquicas “eu” e “outro” impede a organização de muitas outras funções como:

-organização visual, -auditiva, -psicomotora, -gestualidade social, -contenção psíquica, -auto controle,-cognição , -linguagem em toda a sua extensão.

SINAIS MAIS EVIDENTES

• A não organização psíquica dessas funções impede a organização linguageira conforme

concebemos, dando lugar a peculiares organizações linguísticas como:

linguagem ausente linguagem ausente

linguagem ecolálica linguagem ecolálica

ou em terceira pessoaem terceira pessoa

• Linguagem, pensamento, cognição Linguagem, pensamento, cognição – desenvolvimentos determinados na

lógica “eu” e “outro”

• Características lógico simbólicas peculiares decorrentes da não tomada em consideração de diferentes pontos de vista:

“eu” e “outro” - alteridadealteridade

SINAIS TAMBÉM EVIDENTES

• Distúrbios de sono• Distúrbios de alimentação• Hiperatividade• Falta de limites• Não aprendizagem de ações auto calmantes

Todas as funções psíquicas que se organizam Todas as funções psíquicas que se organizam na relação com o outro materno.na relação com o outro materno.

SINAIS DE AUTISMO

A não inscrição ou não construção simbólica “eu” e “outro” fica evidenciada na ausência do ausência do

olhar humanizado.olhar humanizado.

>>Diferenciar evitamento do olhar e não inscrição do “outro” como elemento psíquico

organizador

-Ex.: Inibição - evitamento

Presença do olhar:

Ausência do olhar:

DOIS SINAIS DE DETECÇÃO PRECOCE (entre 3 meses e 3 anos)

• 1. ausência do olharausência do olhar na relação mãe-bebê;

• 2. ausência do terceiro tempo do circuito terceiro tempo do circuito pulsionalpulsional;

(critérios definidos pelo grupo PRÈAUT para a detecção do autismo)

SINAIS DE AUTISMOAusência do terceiro tempo Ausência do terceiro tempo

do circuito pulsionaldo circuito pulsional

1. Ativo – SIM - o bebê busca o seio ou a mamadeira (objeto) para apoderar-se

2. Reflexivo – SIM - o bebê é capaz de chupar sua mão, seu dedo ou a chupeta, alucinando satisfação

3. Ativamente passivo – NÃO – Tempo do “se fazer objeto” “se fazer objeto” - a criança oferece seu corpo, mãozinhas e pezinhos, à boca de sua mãe, segura de ser o objeto de seu desejo

Presença do terceiro tempo do circuito pulsional:

SINAIS DEPSICOSE INFANTIL

• Na psicose, encontramos o olharolhar e o terceiro tempo terceiro tempo do circuito pulsionaldo circuito pulsional, o que revela certa construção

simbólica de “outro”, porém, é preciso construir certa distância entre a criança e a mãe, para que este símbolo possa se construir em toda a sua extensão e complexidade, caso contrário, apesar de existir uma inscrição do “outro” na criança, esta se refere ainda

a uma experiência não simbolizável, conforme concebemos e reconhecemos em nosso cotidiano.

SINAIS DE PSICOSE INFANTIL

• Pobreza da extensão simbólicaextensão simbólica, pobreza lingüísticalingüística e

cognitivacognitiva, ecolaliasecolalias, pobreza lúdicalúdica, movimentosmovimentos

esteriotipadosesteriotipados - achatamento subjetivo.

• Num momento posterior, as ecolalias e esteriotipias, enquanto repetições imperiosas, acusam a evolução destas situações clínicas

• Acusam o fracasso linguístico fracasso linguístico e, portanto, do “outro” enquanto interlocutor e o fracasso da fracasso da construção de símbolos construção de símbolos na vida psíquica da criança

SINAIS DE PSICOSE INFANTIL

SINAISPSICOSE INFANTIL

• Uso da linguagem na lógica da terceira terceira pessoapessoa

• Não consegue alternar pontos de vistaalternar pontos de vista, seu e do outro

• Falta de contenção psíquica contenção psíquica - hiperatividade

• Sofre frente ao adiamento das satisfaçõesadiamento das satisfações

• Assim, entendemos a detecção de psicopatologias graves enquanto detecção detecção

de ausência ou dificuldade na de ausência ou dificuldade na construção psíquica de alteridade na construção psíquica de alteridade na montagem das relações mãe-bebê e, montagem das relações mãe-bebê e,

conseqüentemente, no mundo psíquico conseqüentemente, no mundo psíquico do bebê.do bebê.

Retomando...DOIS SINAIS DE DETECÇÃO PRECOCE

(entre 3 meses e 3 anos)

• 1. ausência do olhar na relação mãe-bebê;

• 2. ausência do terceiro tempo do circuito pulsional;

(critérios definidos por Marie Christine Laznik para detecção do autismo)

TERCEIRO SINAL DETECÇÃO - PSICOSE INFANTIL

• 3. Qualidade do discurso construído entre mãe e bebê e os sinais de “eu” e “outro”

- Sinais de Alteridade

Qualidades discursivas mãe-bebê:

a. Discurso que inclui o bebê como interlocutor relevante

A mãe:

-buscabusca seus sinais

-buscabusca dicas de seus desejos

-deixa-se surpreender deixa-se surpreender pelo bebê

-negocianegocia pontos de vista com o bebê

Trata-se aí da idéia de “eu” e “outro” em constituição simbólica na

experiência do bebê

Constituição da experiência de alteridade entre mãe e bebê

Fabiano – cena de alimentação:

b.Discurso que não inclui o bebê enquanto interlocutor relevante:

• b1. Discurso materno que se pretende profundamente conhecedor profundamente conhecedor do mundo interno de seu bebê, autorizando-se decisões decisões autocentradasautocentradas

• b2. Discurso materno onde não há o não há o reconhecimento de sinais ou evidências reconhecimento de sinais ou evidências do mundo interno de seu bebê a ponto de desistir de interagir com ele e, também, de tomar decisões autocentradasdecisões autocentradas

b3. Discurso materno onde há atribuição de uma significação ao bebê a partir de um diagnósticodiagnóstico

*Os significados dados aos sinais que o bebê *Os significados dados aos sinais que o bebê apresenta decorrem de um quadro clínico a ele apresenta decorrem de um quadro clínico a ele atribuídoatribuído

*A mãe não o reconhece na linhagem simbólica *A mãe não o reconhece na linhagem simbólica familiar, nem através de seus sinais, mas como familiar, nem através de seus sinais, mas como evidência do quadro clínicoevidência do quadro clínico

RESULTADOS QUANTITATIVOS INICIAIS:

Distribuição das crianças que m ereceriam um olhar m ais cuidadoso.

90,2%

9,8%crianças saudáveis

crianças quemereceriam um olharmais extenso

Discussão dos achados quantitativos horizontais:

• Muitas duplas apresentaram sinais próximos (ambíguosambíguos), porém não tão definidos (9,8%)

• Raros achados indiscutíveis de psicopatologias graves

No caso dos raros achados indiscutíveis de psicopatologias graves:

• Encaminhamento cuidadosocuidadoso, mas imediatoimediato

• Esboço de folder indicativo folder indicativo dos sinais indiscutíves aos profissionais da primeira infância, a ser testado e aprimorado e seus problemas

Nele, apresentamos os sinais e os cuidados a serem tomados ao encontrarem duplas de risco

psicopatológico grave

Cuidados a serem tomados ao encontrarem duplas de risco psicopatológico grave:

• Cuidados na apresentação do diagnóstico à Cuidados na apresentação do diagnóstico à famíliafamília, ou indicação de avaliação frente a sinais de risco;

• Evitar que a relação mãe-bebê se torne ainda menos menos saudável saudável e mais frustrantemais frustrante

• Buscar parceriaparceria, se preciso, para esse cuidado e encaminhamento

Sinais próximos, porém não tão definidos encontrados em muitas duplas (ambíguosambíguos) indicaram:

• Necessário estudo longitudinalestudo longitudinal

• Avaliação de novos sinais novos sinais de sofrimento subjetivo que mereçam identificação precoce, para além dos já definidos

Gestantes e recém- nascidosGestantes e recém- nascidos

• Pesquisa procurando identificar sinais sinais ainda mais precoces ainda mais precoces de risco psicopatológico, na criança ou no laço parental.

Por fim, pretende-se…

• Discutir concepções de saúde mental com os diferentes profissionais ligados à saúde da criança

• Acumular conhecimentos sobre essa população e sobre os dispositivos de saúde de nosso município para orientar nossas condutas e

possibilitar capacitação dos profissionais e troca de experiências com os mesmos

• Pesquisa sobre a história diagnóstica das crianças já atendidas nos CAPS Infantis.

• Análise de prontuáriosprontuários de crianças diagnosticadas com autismo ou psicose para entender como se dá a história do diagnóstico e tratamento, visando localizar possíveis falhas nesse percurso;

Estudo Videográfico Estudo Videográfico

Produção de material videográfico informativo a respeito das primeiras relações entre pais e bebês primeiras relações entre pais e bebês e os sinais de risco psicopatológico os sinais de risco psicopatológico , direcionado a profissionais que atendem a primeira infância.

Neurociências Neurociências

Traçar um panorama do ponto em que se encontram os estudos das neurociências no campo do autismoautismo e da psicose;psicose;

CapacitaçãoCapacitação para a Detecção Precoce de Psicopatologias Graves a profissionais da saúde da Prefeitura do Município de São Paulo

Outros sinais

• Contamos com importantes referências de outros autores que se dedicaram a estudos e observações de bebês e que nos contemplam com critérioscritérios de grande valia para a detecção de sinais de risco psicopatológico.

• 1952 - “Sobre a Observação do Comportamento de Bebês”

• Muitos comportamentos que antes eram tidos como sem significados ou profundamente obscuros, puderam ser melhor compreendidos e dotados de sentido a partir de estudosestudos e observações de bebêsobservações de bebês.

MELANIE KLEIN

MELANIE KLEIN

• Sugere que o melhor critério para o estudo dos bebês é seu comportamento em relação à alimentaçãoalimentação

• O estudo dos padrões fundamentais de padrões fundamentais de atitudes em relação ao alimento atitudes em relação ao alimento poderiam dizer sobre a capacidade capacidade e a qualidade do qualidade do estabelecimento da relação com a mãeestabelecimento da relação com a mãe e, por conseguinte, com os objetos em geralos objetos em geral

Destaque para o comportamento do bebê em relação à alimentação:

• Avidez / falta de avidezAvidez / falta de avidez

• Voracidade excessivaVoracidade excessiva

• DificuldadeDificuldade de ser alimentado (lentidão na admissão, falta de prazer)

• RecusaRecusa pronunciadapronunciada de alimentos aponta para distúrbio grave

MELANIE KLEIN• O cuidado oferecido pela mãe ao bebê cuidado oferecido pela mãe ao bebê deve ser

levado em conta minuciosamente

• “A gratificação está tão relacionada com o objeto que dá o alimento, como com o próprio alimento. As indicações acentuadas de uma relação objetal num estágio primitivo, a par do prazer na comida, constituem um bom augúrio, creio eu, para as relações futuras com as pessoas e para o desenvolvimento emocional como um todo.” (Klein, 1952)

MELANIE KLEIN

• Alimentação x frustração

• Também é importante observar as atitudes do atitudes do bebê frente à frustraçãobebê frente à frustração, no que diz respeito a sua alimentação

• Crianças que parecem “satisfeitas e boas”, fáceis de serem alimentadas, podem ser apáticas. Isto é diferente de crianças realmente satisfeitas.

Sinais Positivos (para as relações futuras e

desenvolvimento emocional como um todo):

• Indicações acentuadas de uma relação objetal num estágio Indicações acentuadas de uma relação objetal num estágio primitivo primitivo (mesmo com poucas semanas os bebês olham para a mãe, escutam sua voz, respondem a ela pelas expressões faciais, brincam com o seio materno – “conversa amorosa entre mãe e bebê”)

• Prazer na comidaPrazer na comida

• Capacidade de brincar Capacidade de brincar – capacidade simbólica/ repetição de brincadeiras

ESTHER BICK (1902-1983)

• Elaborou a teoria sobre a função psíquica da função psíquica da pelepele na estruturação do ego – contenção

• A função de contenção função de contenção da pele proporciona ao bebê a sensação de limites, bordassensação de limites, bordas, o que o tranqüiliza e possibilita uma constituição psíquica saudável

ESTHER BICK

• Na ausência ou falha na função de contenção da pele, o bebê recorreria à identificação adesivaidentificação adesiva

• Identificação adesiva: um mecanismo de adesão a mecanismo de adesão a um ponto sensorial de concentraçãoum ponto sensorial de concentração (ponto de luz, som, cheiro...)para manutenção da integridade para manutenção da integridade psíquica psíquica – esperado que ocorra, em alguns momentos, também no desenvolvimento sadio

ESTHER BICK

• O uso excessivo desse mecanismouso excessivo desse mecanismo, levaria à formação da SEGUNDA PELE SEGUNDA PELE – uma carapaça mental e somática

• Relaciona-se com a formação de estruturas de estruturas rígidas autísticas rígidas autísticas ou à constituição de estruturas psicóticasestruturas psicóticas

ESTHER BICK

• Manifestações musculares Manifestações musculares típicas da SEGUNDA PELE:

- Movimentos desorganizados

- Tremores

- Musculatura rígida

- Fixação em um ponto sensorial (tátil, visual, auditivo)

WILFRED BION

• Bebê não possui estrutura psíquica suficiente para dar conta das emoções e tensões que vivencia

– dados sensoriais e emocionais

• ProjeçãoProjeção das emoções na mãe através do mecanismo de identificação projetiva identificação projetiva realistarealista

WILFRED BION

• Rêverie materno:

Capacidade da mãe de receber, conter e Capacidade da mãe de receber, conter e transformar as experiências de transformar as experiências de

tensões/emoções do bebê e trabalhá-las, tensões/emoções do bebê e trabalhá-las, metabolizá-las e devolvê-las a ele, de modo a metabolizá-las e devolvê-las a ele, de modo a

minimizar a intensidade das mesmasminimizar a intensidade das mesmas

WILFRED BION Reação à frustraçãoReação à frustração como indicador da como indicador da

atividade simbólica do bebêatividade simbólica do bebê

• Respostas possíveis à frustração:

- Tentativa de solucionarsolucionar

- EvitaçãoEvitação

- NegaçãoNegação – mais grave

Indicador de bebês com desenvolvimento do pensamento e da capacidade simbólica comprometidos – incapacidade de simbolizar e admitir a ausência do objeto (autismo e psicose)

A palavra do profissional A palavra do profissional e seus efeitose seus efeitos

• A clínica pediátrica clínica pediátrica é um espaço espaço privilegiado privilegiado para a observação dos primeiros laços, já que é onde rotineiramente circulam as famílias com seus bebês.

• Os profissionais da primeira infância profissionais da primeira infância são os primeiros a se depararem com possíveis dificuldades e impasses que se coloquem nesses laços.

• Donald Winnicott, pediatra e psicanalista, já enfatizava a importância do papel dos médicos pediatras na detecção dos problemas mentais.

“A profilaxia da psicose é, portanto, da responsabilidade dos pediatras, do que eles devem ter conhecimento”

(Winnicott, 1952)

• É preciso que haja parceriaparceria entre os profissionais da primeira infância e os da área psi.

“Penso que é sobre este diálogo que devem ser calcados os nossos esforços no próximo decênio, se queremos

avançar na prevenção de doenças tais como o autismo.”

(Laznik,2004)

O “olhar” dos pais

• Os pais criam uma história em relação ao seu bebê atribuindo-lhe um lugar na família, imaginando como esse bebê vai ser.

• ““Olhar” dos pais como fundador do corpo da Olhar” dos pais como fundador do corpo da criança: criança: olhar que antecipa, olhar que deseja e que atribui uma significação ao corpo da criança.

• O real do corpo e essa representação antecipadora vão constituindo a imagem corporal originária imagem corporal originária que o bebê tem de si e passa a reafirmá-la a partir de suas condutas.

• Nesse olhar os pais são capazes de ver o que ainda não está ali – representação representação antecipadora antecipadora – para que o sujeito possa advir.

• “Loucura normal da mães” (Winnicott).

Esquema óptico:

Lacan Laznik

• Algumas mães não têm nenhuma imagem antecipadora e vêem apenas o próprio real do real do corpo.corpo.

• Outras vezes, a imagem antecipadora materna existente pode ser perturbada por um diagnósticodiagnóstico, mesmo por uma hipótese hipótese diagnósticadiagnóstica, ou ainda, pelo comentáriocomentário de alguém considerado mais sábio da família.

• O luto psíquico, determinado pela “morte” da criança sonhada antecipatoriamente, exige o desligamento afetivo daquela criança que não comporta mais o sonho dos pais, provocando uma falta de expectativa e de investimento afetivo que, em si impedirá, o desenvolvimento subjetivo e consequentemente objetivo dessa criança.

• No entanto, a palavra do profissional pode cumprir com a função de abrir ou fechar abrir ou fechar possibilidades possibilidades para a criança, dependendo do modo como a hipótese é apresentada.

• O pediatra e os demais profissionais, nesse sentido, podem ajudar a modificar o “olhar” dos pais sobre o bebê quando um impasse se coloca

“A óptica parental pode ser instaurada, ou mesmo modificada pelo olhar que o próprio médico tem sobre o bebê. Eis que se supõe um certo número de condições como estas que permitam ao médico se deixar surpreender pelo ‘reizinho’ que há no bebê e aos pais de vir a se identificar com esse olhar do médico.” (Laznik,1999)

• Vale ressaltar a importância dos profissionais que lidam com a primeira

infância quanto a sua tarefa de reassegurar a potência dos paisreassegurar a potência dos pais e não não

desautorizá-los de seus saberes desautorizá-los de seus saberes subjetivossubjetivos.

Encaminhamentos

• Freqüentemente, as crianças que apresentam psicopatologias chegam tardiamente aos serviços especializados e, em geral, após muitos descaminhos.

• No caso das psicopatologias graves, luta-se contra o tempo já que

“(...) a não instauração das estruturas psíquicas lesa rapidamente o órgão que as suporta.”

(Laznik, 1997)

• A pesquisa realizada no CAPS Infantil da Mooca constatou que:

- 78% dos pais de crianças diagnosticadas com autismoautismo - 45% dos pais de crianças diagnosticadas com psicose psicose

já percebiam algo de errado com a criança anos antes do pediatra reconhecer a presença de uma

psicopatologia e realizar o devido encaminhamento

Na mesma pesquisa, verificou-se que:

- 85,7%85,7% das crianças passaram por de 1 a 5 profissionais e ou instituições até receberem o diagnóstico formal de autismoautismo

- no caso da psicosepsicose, 100%100% das crianças passaram por de 1 a 4 profissionais e ou instituições

Outro dado importante é quanto à idade que se dá o início do tratamento:

-No autismoautismo, 85% das crianças iniciam o tratamento a partir dos 4 anos

-Na psicosepsicose, a mesma porcentagem, a partir dos 7 anos

Vale ressaltar que essas idades são consideradas tardias, já que operações fundamentais da constituição do psiquismo se dão em idade bastante precoce

• O encaminhamento deve ser cuidadoso, já que o momento de adaptação e criação de

vínculos entre o bebê e sua família é bastante delicado.

Como fazer o encaminhamento:

• É importante não desautorizar os pais de seus saberes e de seus sonhos sobre o bebê.

• Se alguma orientação for necessária, que seja feita de maneira a envolver prazerosamente os pais no trato do bebê e nunca de maneira a desanimá-los desta tarefa - encantamento

Como fazer o encaminhamento:

•Pode-se recorrer a uma analogia com a puericultura, só que em relação aos aspectos emocionais

• Nunca temos certeza dos efeitos de uma patologia sobre o desenvolvimento da criança, logo não podemos perturbar

negativamente o laço pais-criança por conta de um porvir imprevisível em parte.

• Afirmar a existência de um problema pode ser alarmante e desestruturante para a família, o que pode criar dificuldades

adicionais na construção de uma relação saudável com o bebê, porém negar as

dificuldades também.

• Enquanto profissionais da área psi e apoiados na teoria psicanalítica, nossa especificidade de trabalho é a intervenção sobre a (re)constituição do laço da dupla mãe-bebê. Por que?

• O contato com os encaminhantes e com demais profissionais envolvidos acontecerá todo o tempo, como conduta habitual.

• Devido à complexidade desses casos, é necessária uma intervenção em que os diferentes profissionais envolvidos possam contribuir com os conhecimentos de sua área.

• Destacamos a importância de que esse trabalho se desenvolva de modo afinado entre os profissionais envolvidos.

A importância da rede:

A importância da rede

No estudo da Dra. Edith Lauridsen, observou-se que os profissionais da atenção básica, no que diz respeito ao encaminhamento para serviços especializados em saúde mental, têm dificuldades devido a um descrédito tanto em relação ao pequeno número de serviços existentes, quanto pelo pouco conhecimento do trabalho realizado lá, gerando, em muitos casos, um sentimento de “perda do paciente”.

Uma intervenção precoce tem maiores possibilidades de produzir bons e duradouros

resultados, num breve espaço de tempo, além de acarretar baixo custo econômico para o Estado e

para a família.

Agradecimentos:CNPq – financiador dos pesquisadores em

iniciação científica

A Marie Christine Laznik que cedeu gentilmente essas imagens

A todos os pesquisadores dessa equipe: graduandos, aprimorandos e colaboradores

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