psicopatologia da aprendizagem

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PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM

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Este livro, bastante didático e de fácil entendimento, trata da psicopatologia e a escola, abordando a psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas, da linguagem e das condutas agressivas e distúrbios de comportamento.

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Page 1: Psicopatologia da Aprendizagem

PSICOPATOLOGIADA APRENDIZAGEM

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PSICOPATOLOGIADA APRENDIZAGEM

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Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.

Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina.

A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado.

Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosida-des bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustra-tivos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras- -chaveemnegrito,oleitorserálevadoaoGlossário,parateracessoàdefiniçãodapalavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.

Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

Apresentação

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7Prefácio

PrefácioO ser humano é complexo. É através do indivíduo que as emoções se traduzem, queassensaçõesassumemforma,queaspalavrassepersonificam.É,portanto,no âmbito dessa complexidade, que cada ciência e cada instituição deve orientar a dinâmica de seu trabalho.

Ajudar o indivíduo quando ele sente raiva ou quando está frustrado, apaixonado, deslumbrado,vazioouincompletonãoétarefafácil.Oprofissionalquelidacomoser humano nessas condições assume papel de extrema importância, porque será ele a peça fundamental que vai ajudar o indivíduo a equilibrar as emoções e tudo o que tem relação com sua vida: família, amigos e escola.

Mas qual é a incumbência da instituição educadora? O que cabe a ela adminis-trar? Neste e-book,procuramosidentificaressespontose,paraisso,elaboramosum estudo abrangente.

Na Unidade 1, o leitor terá acesso a um conteúdo que vai explorar os principais conceitosdapsicopatologiaeosdéficitsrelacionadosacadaproblemapassíveldeser enfrentado pelo educador.

Na Unidade 2, o foco é voltado para a estrutura motora: suas principais vertentes edificuldades.

Na Unidade 3, falamos sobre os aspectos relacionados à linguagem e toda a pro-blemática que a envolve.

E,finalmente,naUnidade4,algunscomportamentossãoanalisados,comoosvio-lentos, os amenos, os homicidas e as consequências que causam cada um deles.

O conteúdo oferecido neste e-book traz respostas a perguntas que permanecem du-rantemuitotemponamentedoeducadoreratificaquestõesqueprecisamsercui-dadosamente ponderadas por todos aqueles que estão envolvidos com a educação.

Este é um conteúdo essencial a você, professor, e tem por objetivo auxiliar sua trajetória como educador.

Boa leitura!

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9Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

UNIDADE 1A PSICOPATOLOGIA E A ESCOLA

Capítulo 1 Apresentação, 11

Capítulo 2 O que é psicopatologia?, 11

Capítulo 3 O conceito de normalidade em psicopatologia, 12

Capítulo 4 Breve história da psicopatologia, 14

Capítulo 5 A educação inclusiva e a psicopatologia, 16

Capítulo 6 Identificandoasprincipaispsicopatologiasda aprendizagem, 20

Capítulo 7 Entendendo a psicopatologia, 23

Capítulo 8 Principais psicopatologias detectadas nos alunos em contexto escolar, 25

Capítulo 9 Transtornododéficitdeatençãoehiperatividade,26

Capítulo 10 Transtornoespecíficodeaprendizagem,27

Capítulo 11 Transtornodeoposiçãodesafiante,28

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10 Psicopatologia da aprendizagem

Capítulo 12 Transtorno do espectro autista, 29

Capítulo 13 Transtornos do desenvolvimento intelectual, 30

Conclusão, 31

Glossário, 32

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11Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

1. ApresentaçãoA disciplina de Psicopatologia da Aprendizagem trata de quatro assuntos rela-cionados ao tema em questão: (1) A psicopatologia e a Escola; (2) Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas; (3) Psicopatologia da linguagem; e (4) Psicopatologia das condutas agressivas e distúrbios de comportamento.

Esta primeira unidade contempla discussões acerca da “Psicopatologia e a Escola”.

Muitos já devem ter lido ou escutado que a escola deve garantir, de fato, os di-reitos dos alunos que apresentam alguma demanda relacionada à saúde men-tal, ou seja, uma psicopatologia. Devem,também,terrefletidosobrecomoapsicopatologia pode interferir no aproveitamento e desempenho do aluno. Por se tratar de um campo vasto, o estudo da psicopatologia e sua relação com a escolaabrangemdiversasreflexões,taiscomo:oqueépsicopatologia;comoidentificá-la;comoasuahistóriaseconstruiu;ecomoévistaaeducaçãoin-clusiva neste campo.

Estaprimeiraunidadebuscaseaprofundarnessasreflexões,comoobjetivodecompreender e construir um pensar crítico sobre o assunto.

2. O que é a psicopatologia?Psicopatologia é o estudo das causas e da natureza dos transtornos psíquicos, isto é, analisa os problemas relacionados ao funcionamento das funções men-tais, bem como os componentes psicológicos das perturbações somáticas. Trata da natureza essencial da doença mental, suas causas, mudanças estruturais e formas de manifestação. Condutas psicopatológicas consistem em sintomas deconfiguraçãoeduraçãovariadas,queincidememdoistiposdetranstornosmentais: (1) orgânicos, que são aqueles que apresentam causas físicas eviden-tes; e (2) funcionais, que significampadrões comportamentaisatípicos, sem claros indícios de alterações orgânicas cerebrais. A investigação da psicopato-logia é a vida psíquica compreendida, que se manifesta por meio de condutas sensorialmente percebidas e nas exteriorizações das diferentes formas de lin-guagem. Para isso, é necessário interpretar qualquer forma de manifestação da pessoa, como expressões, gestos e comportamentos (PAIM, 2008).

Para identificar a existência de casos de psicopatologia, deve-se investigar ahistória clínica de forma minuciosa e fazer um resumo detalhado dos fatores sociais, psicológicos e biológicos que podem contribuir para o surgimento de umtranstornomentalparticular.Portanto,apsicopatologiapodeseridentifi-cada por sinais comportamentais, vivências subjetivas e queixas relatadas pela pessoa e sua família.

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12 Psicopatologia da aprendizagem

F IQUE ATENTO! A psicopatologia é uma área de conhecimento interdisciplinar que visa se aprofundar nos estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental.

CURIOSIDADE! A psicopatologia é uma área de conhecimento multidisciplinar, que envolve um conjunto de discursos com variados objetivos, métodos e questões.

Este campo tem como principal base a Psiquiatria. Porém, também envolve o conhecimento de outros áreas, como: Biologia, Neurociência, Psicologia, Antro-pologia,Sociologia,Filosofia,LinguísticaeHistória.

3. O conceito de normalidade em psicopatologia O conceito de saúde e de normalidade na psicopatologia são questões comple-xas, uma vez que cada ser humano está inserido em crenças e culturas distintas.

É claro que, ao tratar de situações em que as alterações mentais e comporta-mentais são acentuadas e de longa duração, a diferenciação entre o normal

e o patológico não é tão comple-xa (DALGALARRONDO, 2008). Porém, existem casos limítrofes que oscilam entre a constatação do “saudável” e do “patológico”, oquetornadifícilaidentificaçãoe compreensão de ambos os es-tados. Tal condição viabiliza di-lemas como: o que é considera-do normal? o que é patológico? onde termina a saúde e inicia a doença?

Uma forma de responder a tais questionamentos é através da identificaçãodoconceitodenor-malidade na psicopatologia, por meiodedefiniçõesacercadoqueé saúde e o que é doença mental.

Desta forma, no Quadro 1, serão apresentados alguns exemplos de definições sobre os critériosde normalidade.

O que é considerado normal e o que é considerado patológico?

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13Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Quadro 1 - Critérios de normalidade

Saúde pela ausência da doençaÉ a presença da saúde pela ausência da doença, ou seja, não há sinais e sintomas de alterações mentais exacerbadas.

Saúde idealNeste caso, a normalidade se estabelece por uma norma ideal que é socialmente cons-truída e referendada.

Saúde pelo critério estatísticoA normalidade consiste em características (peso, comportamento, sono etc.) observa-das com mais frequência. Embasada em determinadas distribuições estatísticas na população em que se vive.

Saúde pelo bem-estarÉ a normalidade não apenas como ausência de doença, mas sim considerando o bem--estar físico, social e mental do indivíduo.

Saúde funcional É baseada em aspectos funcionais, não necessariamente quantitativos. É considerado patológico quando o sofrimento pode interferir na harmonia biológica do indivíduo e/ou atingir seu grupo social.

Saúde pelo processoConsidera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial de acordo com as mudanças em cada período etário.

Saúde subjetivaA normalidade se dá pela percepção subjetiva do próprio indivíduo sobre o seu estado de saúde e bem-estar.

Saúde como liberdadeA normalidade, neste caso, é vista pela possibilidade de liberdade existencial. Caso esta liberdade não esteja presente, considera-se a chegada da doença.

Saúde operacionalNestecritérioprocura-setrabalharoperacionalmentecomasdefiniçõessobreoqueénormal e patológico.

*Nota-se:Todooconteúdodestatabelafoiadaptadoparaestelivroeobtevecomobaseossignifi-cados dos critérios por Dalgalarrondo (2008).

Como mostra o quadro, há diversos critérios adotados para normalidade e anor-malidadenapsicopatologia.Porém,aescolhadeumsignificadoparataiscri-tériosdependedeopçõesfilosóficas,ideológicasepragmáticasdoprofissional.

Anormalidade,emsuasdiversasconstituições,setranspõedeformaflexível,demonstrandoqueseusignificadosetransformadeacordocomascondiçõesindividuais.Portanto,pode-seafirmarqueolimiteentreonormaleopatológicoé impreciso. Por exemplo: duas pessoas podem se submeter a situações de ris-co, semelhantes ou iguais, porém o que vai determinar o normal e o patológico é a reação que cada uma delas terá diante da sua realidade.

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Portanto, é para além do corpo que se deve olhar, pois o que adoecerá não são apenas partes ou totalidades anatômicas. O adoecimento vai além dos limites do corpo, envolvendo um mal-estar que pode, também, estar inserido nos diver-soscontextossociais(CANGUILHEM,2010).

Os critérios de normalidade e patologia variam de acordo com a função dos fe-nômenosespecíficoscomosquaissetrabalha,etambémdeacordocomaopçãoteóricadoprofissional.Portanto,ocampodapsicopatologiapermiteousoeaassociação de vários critérios de normalidade, desde que se mantenha uma pos-turacríticaereflexivasobrecomoutilizá-losparacompreenderoserhumano.

4. Breve história da psicopatologia A história da doença mental enquanto fenômeno psicossocial caminha junto com a trajetória do homem. Em diferentes tempos, em vários séculos e décadas, encontram-se indícios de pessoas que sofreram alteração comportamental no que se refere ao descontrole emocional, a ponto de causar estranheza em seus semelhantes.

A psicopatologia surgiu nos hospícios, com a institucionalização e segregação de pessoas ditas loucas, que apresentavam comportamentos atípicos, atitudes estranhas, personalidades desagradáveis ou incomuns e, até mesmo, “posses-sões demoníacas”.

Na Idade Média, a loucura era considerada uma espécie de “possessão demonía-ca” e, na Modernidade, época do Racionalismo, passa a ser vista como perda da consciência de si.

Ilustração de 1868 de um antigo prédio psiquiátrico em Paris.

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15Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Com os cuidados médicos e uma visão mais humanizada sobre a doença men-tal, a “loucura” passa a ser considerada psicopatologia, e não mais “possessão” ou perda da razão.

Embora o surgimento da psicopatologia tenha se dado nos hospícios de alienados, aos poucos, este ramo da ciência foi ganhando autonomia, tornando-se um conhe-cimento independente da psiquiatria. Sendo assim, oferece indispensável cola-boraçãoaosprofissionaisdetodososgruposdeciênciashumanasedasaúde.

Cada época histórica, no entanto, trata de maneira única os fenômenos carac-terizados, avaliando aspectos culturais, sociais e políticos do período.

CURIOSIDADE! A psicopatologia é um fenômeno de caráter único do ser humano. Nos animais, pode haver alteração de comportamento, mas isso não é derivado de uma

psicopatologia, pois o animal não põe em questão seu ser, ou seja, não há sentimentos como a culpa, o inconformismo, a raiva, o vazio, portanto, não há sofrimento psíquico.

A história da psicopatologia é determinada por fatores biológicos e sociais, tendo o seu desenvolvimento durante a primeira metade do século XIX.

No início do século XIX, a psicopatologia se baseava em informações obtidas a partir da observação da manifestação do comportamento, atuando na interface entreafilosofiaeapsiquiatriaclínica.

Institucionalização/segregação de pessoas com transtornos mentais.

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16 Psicopatologia da aprendizagem

Partindo para o século XX, houve o encontro da psicopatologia com a fenomeno-logia, havendo uma aliança entre os campos. Com sua ênfase na subjetividade e descrições neutras, a fenomenologia tornou-se a parceira ideal para a psicopa-tologia. A contribuição deste campo levou a uma pluralidade de pontos de vista psicopatológicos,que tiveram fortes influências dosmétodosdeKarlJasper(1883 – 1969) e Ludwig Binswanger (1881 – 1966).

Assim,a influênciada fenomenologia fez comqueapsicopatologia evoluíssepara além de meras descrições de sintomas.

ATENÇÃO! A psicopatologia é o campo que descreve, define e classifica sinais e sinto-mas de doenças mentais. Esse campo prosperou no século XIX e, no início do século

XX, com fundamental contribuição de Karl Jaspers e sua abordagem fenomenológica.

5. A educação inclusiva e a psicopatologiaPara falar de inclusão, é importante entender a trajetória desde o início deste movimento até os dias de hoje.

O movimento mundial denominado de educação inclusiva teve grande visibili-dadenofinaldadécadade1970,ganhandoforçasapartirde1980.Obteveam-plo crescimento, no entanto, no início do ano de 1990, por meio do documento elaborado durante a conferência mundial de educação para todos, na cidade de Jomtien,naTailândia(Unesco,1990).

Na luta para que os direitos da educação se estabelecessem a todos, concebeu--se na Conferência Mundial de Educação Especial de Salamanca, em 1994, a resolução da Organização das Nações Unidas – Declaração de Salamanca (Unesco, 1994).

Com a Declaração de Salamanca de 1994, todo aluno passou a ter direito à edu-cação, com a garantia ao oferecimento de um nível adequado de aprendizagem. Ao destacar a valorização da individualidade de cada educando, independente de apresentar necessidades especiais ou não, a Declaração de Salamanca obte-veavançossignificativos.

A história sobre o movimento da educação inclusiva mostra que alguns países buscam atender alunos com alguma necessidade especial nos sistemas educa-tivos em geral. Esta ideia vem evoluindo com a extensão da educação inclusiva como uma reforma que visa responder à diversidade entre todos os estudantes.

Países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, Canadá, Espanha e Itália foram os pioneiros na implantação de escolas e classes inclusivas.

Na década de 70, em países escandinavos, a Europa iniciou o processo de edu-cação inclusiva, gerando classes e escolas para esse propósito.

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17Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Movimentos mais radicais para inclusão ocorreram na Itália. Na Espanha, en-tretanto, o processo foi mais gradual.

Nos Estados Unidos e Canadá, ocorreram alguns movimentos que deram início àeducação inclusiva.Emrelaçãoaoutrospaíses comoAlemanha,Holanda,Luxemburgo e França, as experiências para a prática inclusiva foram criadas de maneira isolada.

Os movimentos a favor de práticas inclusivas na educação obtiveram força a partirdofinaldosanos80,ganhandodestaquenadécadade90eexpandindoaté os dias de hoje.

O Brasil ganhou visibilidade no século XIX ao inspirar-se na experiência Euro-peia. Embora iniciativas isoladas e precursoras tenham ocorrido anteriormente à década de 90, apenas nesta época a educação inclusiva obteve marcos impor-tantes que, de fato, colaboraram para sua evolução.

No século XVIII e em meados do século XIX, os indivíduos que apresenta-vam qualquer necessidade especial, como deficiência ou doença de saúde mental, eram protegidos em instituições residenciais e segregados social-mente. Em razão da preocupação com o desenvolvimento educacional, sur-ge, no final do século XIX e meados do século XX, a inserção de classes especiais dentro de escolas regulares, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação segregada.

Com o objetivo de garantir o acesso e permanência de pessoas com qualquer tipo de necessidade especial no ensino regular, o Ministério da Educação (MEC) passou a fomentar a política de construção de sistemas educacionais inclusivos.

Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, garante a oferta de atendimento educacional especializado(AEE)narederegulardeensinoàquelesdetentoresdedeficiência(BRASIL, 1990).

NofinaldoséculoXX,houveummovimentocujoobjetivoeraintegrarindivíduosportadoresdedeficiênciaemambientesescolares,comapreocupaçãodeofere-cer subsídios educacionais os mais próximos possíveis daqueles garantidos às pessoas “normais”. Porém, nesta fase, a educação se baseava no fato de que o aluno deveria ser alfabetizado até o limite de sua capacidade.

Ainda que, na década de 90, as discussões fossem ampliadas, nota-se, pelas descrições históricas, que existiram poucos avanços no que se refere à efetiva-ção da construção dos contextos educacionais inclusivos.

Em 2001, o Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei no 10.172, de 9dejaneirodaqueleano,reafirmouaimportânciadagarantiadevagasemes-tabelecimentos de ensino regular para alunos com diferentes tipos e níveis de

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18 Psicopatologia da aprendizagem

necessidades especiais e assegurou a Educação Especial como modalidade de educação escolar (BRASIL, 2001).

Noanode2006,surgiuoPlanoNacionaldeEducaçãoeDireitosHumanose, posteriormente, em 2007, chega o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). No primeiro documento, existem temas relacionados às pessoas com deficiênciaecurrículosescolares,tendoestesidoelaboradopeloMEC,Mi-nistériodaJustiça,UnescoeSecretariaEspecialdosDireitosHumanos.OPDE aborda questões pautadas na infraestrutura das escolas, no que diz respeitoasalascomrecursosmultifuncionais,acessibilidadedasedificaçõesescolares e formação docente.

O Decreto no 6.571, em 2008, dispõe que o AEE deve estar integrado ao projeto pedagógicodoensinoregulareobrigaaUniãoaprestarapoiotécnicoefinan-ceiro aos sistemas públicos de ensino no oferecimento da modalidade (BRASIL, 2008). Como complemento, a Resolução no 4 CNE/CEB, de 2009, orientou o estabelecimento do AEE no sistema regular de ensino no contraturno e, prefe-rencialmente, nas salas de recursos multifuncionais.

A Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, instituiu a Política Nacional de Pro-teção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (BRASIL, 2012).

O último Plano Nacional de Educação, vindo com a Lei nº 13.005, de 25 de junhode2014,definiuasbasesdapolíticaeducacionalbrasileiraparaospró-ximos 10 anos. Com relação à educação inclusiva, ele busca universalizar (pre-

ferencialmente no sistema regular de ensino) o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especia-lizado para crianças e adolescentes de4a17anoscomdeficiência,trans-tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. As limitações encontradas nestes docu-mentos dizem respeito ao termo “pre-ferencialmente”, que surge, na maior parte, sobre a educação inclusiva, e abre brechas para que pessoas com alguma necessidade especial perma-neçam, muitas vezes, matriculadas apenas em escolas especiais.

Vivenciamos um momento em que se fala, mundialmente, sobre inclusão escolar na rede regular de ensino. A legislação é explícita quanto à obri-

Aluno com necessidade especial.

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19Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

gatoriedadeemacolherematriculartodososalunos.Porém,nãoésuficienteapenas esse acolhimento.

Oaluno comalgumanecessidade especial,mais especificamente comalgumtipo de psicopatologia, que é a população investigada nesta unidade, deve ter condições efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades.

Os sistemas de ensino devem se organizar para que, além de garantir essas ma-trículas, assegurem, também, a permanência de todos os alunos, sem perder de vista a intencionalidade pedagógica e a qualidade do ensino.

Os fundamentos teórico-metodológicos da Educação Inclusiva baseiam-se na concepção de educação de qualidade para todos e no respeito à diversidade dos educandos.Paraisso,éimprescindívelumaparticipaçãomaisqualificadadosedu-cadores para o avanço desta importante reforma educacional, que objetiva o atendimento das necessidades educativas de todos os alunos, com ou sem ne-cessidades especiais.

ÉumgrandedesafiofazercomqueaInclusãoocorrasemseperderdevistaque, além das oportunidades, é preciso garantir o avanço na aprendizagem, bem como o desenvolvimento integral desta população.

P ARA SABER MAIS! Quer se aprofundar nos documentos e leis relacionados à Educação Especial? Consulte os links:

• Declaração de Salamanca: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/sala-manca.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• MEC/SEESP: <http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_espe-cial.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• Lei 8.069: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• Lei 10.172: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• Decreto 6.571: <http://www.ebc.com.br/decreto-no-6571-de-17-de-setembro-de-2008- dispoe-sobre-o-atendimento-educacional-especializado>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• Lei 12.764: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764. htm>. Acesso em: 18 abr. 2015.

• Lei 13.005: <http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/125099097/lei-13005-14>. Acesso em: 18 abr. 2015.

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20 Psicopatologia da aprendizagem

6.Identificandoasprincipaispsicopatologias da aprendizagem Por uma série de circunstâncias relacionadas às questões biopsicossociais, mi-lhares de crianças, adolescentes e jovens precisam de uma atenção educacional específica,adaptadaàsuanecessidadepessoalesocial.Aquelescujasrespos-tas psicoeducacionais e sociais exigidas por sua situação não são respondidas devidoàfaltadeprofissionaisqualificados,ouemrazãodemeiosinadequados,entre outros fatores, acabam, com frequência, não evoluindo em questões so-cioeducativas.

Aescolaéumambientequeultrapassaseupapelacadêmico,influenciandonopleno desenvolvimento e bem-estar do aluno. Os sintomas advindos da psicopa-tologia exercem considerável impacto ao indivíduo, não só pelo fato da presença característica do distúrbio, mas, também, pela virtude da discriminação, que muitas vezes os impedem de participar de atividades escolares.

Aspsicopatologiaspodeminterferirnoambienteescolar,dificultandoodesem-penhodaquelesqueapossuem.Essadificuldadepodesurgirdevidoaoscrité-rios e diagnósticos não tratados, que em grande parte possibilitam déficits psí-quicos em: (1) comunicação, e (2) aspectos motores, (3) sociais, (4) emocionais e (5) comportamentais.

Problemáticasadvindasdapsicopatologia,muitasvezes,dificultamoacompa-nhamento do ritmo normal de ensino-aprendizagem por parte do aluno, o que tornamnecessáriasintervençõeseducacionaisespecíficas.

Mas,comopodemosidentificarqueoalunopossuialgumtipodepsicopatologiaqueinterfere na aprendizagem sem que exista um laudo com o diagnóstico concreto?

Cada pessoa possui um ritmo di-ferenciado de desenvolvimento e amadurecimento da aprendiza-gem, que devem ser respeitados. Porém, aqueles alunos que apre-sentam não só ritmos distintos de aprendizagem, mas, também, características sintomáticas, que podem afetar as questões acadê-micas (de ensino e aprendizado), e interferir no campo social, de interação e de necessidades mais elementares da vida cotidiana, devem ser observados e receber a atenção necessária. Além disso, é Diversas psicopatologias envolvem a aprendizagem.

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21Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

muito importante trocar informações com a família sobre aspectos fenomenoló-gicos observados.

Em relação às psicopatologias que envolvem a aprendizagem, há uma série de especificidadesquenecessitamserlevadasemconsideração.Paramelhorcom-preender, vamos listar, a seguir, algumas queixas e características advindas de possíveis psicopatologias, como: (1) agitação; (2) ansiedade; (3) teimosia; (4) mentiras; (5) agressividades; (6) expressão de sentimentos de maneira inade-quada;(7)dificuldadedeinteração/relacionamento;(8)déficitsacadêmicos;(9)medos; (10) angústia; (11) falta de apetite; (12) problemas com sono e vigília. Essas são apenas algumas características que podem ser observadas em uma suposta doença mental.

O campo da psicopatologia inclui um vasto número de fenômenos humanos diferenciados, associados a um diagnóstico de doença mental.

Aoidentificarsintomascaracterísticosdapsicopatologia,doisaspectosbásicosdevem ser considerados (DALGALORONDO, 2008):

• As características dos sintomas – São as estruturas básicas dos sinais e sintomas. Essas estruturas são semelhantes em problemáticas da mesma classe.

• Conteúdo – É a consistência da alteração estrutural dos sinais e sintomas. Este aspecto, geralmente, é individual e depende da vivência de cada um.

Portanto, a característica é a forma dos sintomas (alucinação, ideia obsessiva, labilidade afetiva etc.), e o conteúdo é o que pode ser utilizado para preencher a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição etc.).

ATENÇÃO! Para memorizar, observe o exemplo: um escolar de família muito religiosa possui grande ansiedade e medos constantes e exacerbados de novas situações,

chegando a desmaiar algumas vezes. Para lidar com seus temores, procura a religião, rezando sempre antes de alguns atos. Características dos sintomas – ansiedade, medo e desmaios. Conteúdo – Consistência do medo, da ansiedade, religião e crenças.

Ainda de acordo com Dalgalarrondo (2008), é importante observar além das características e conteúdo, o aspecto global do escolar, considerando sua pos-tura,expressãocorporaleatitudespsicológicasespecíficasegerais.Paraquenão haja consequências devido a precipitações errôneas, é necessário observar ocasodeformadetalhadaetrocarinformaçõescomprofissionaisrelacionadosda área.

As observações globais do indivíduo são necessárias e importantes, pois a pes-soa adoece na sua totalidade. As funções psíquicas não funcionam de forma

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96 Psicopatologia da aprendizagem

Este livro, bastante didático e de fácil entendimento, trata da psicopatologia e a escola, abordando a psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas, da linguagem e das condutas agressivas e distúrbios de comportamento.

PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM