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    CAPTULO XII

    l S (S ( oo XEROX DO {CAPSI / CACO

    ORIGINAL _O_L42.PASTA N0^

    Identidade sociale relaes intergrupais

    l. Introduo

    As teorias das relaes intergrupos represen-tam, na histria da Psicologia Social, uma deslo-cao do interesse por objectos de anliseraicrossocial, como as interaces no seio depequenos grupos ou entre indivduos, paraobjectos de anlise mais macrossociai, como asinteraces reais ou simblicas entre grupossociais (Doise, 1972). Embora este interesse jfosse manifestado por alguns autores na dcadade 50 (LaViolette e Silvert, 1951), os movimen-tos sociais que tiveram lugar na Europa e nosEstados Unidos no final dos anos 60 e no incioda dcada de 70 contriburam, sem dvida, paraa consolidao do interesse por esta rea deinvestigao em Psicologia Social (Caddick,1982).

    O desenvolvimento das teorias das relaesintergrupos processou-se, no entanto, por suces-sivas rupturas que nem sempre se traduzirampor uma melhoria no alcance explicativo dosmodelos e s recentemente a Psicologia Socialeuropia, em particular, procedeu a um esforocumulativo ao integrar o conhecimento produ-zido de forma dispersa, ao longo de vrios anos,

    Lgia Amncio

    em novos quadros de referncia terica. Pro-curaremos, neste captulo, apresentar a irre-gularidade desta evoluo, dando particularateno ao modelo que mais contribuiu para arelevncia do conceito de identidade social e ter-minando com as produes mais recentes nestedomnio do conhecimento psicossociolgico, afim de mostrar que as transformaes recentesse traduzem numa maior complexidade dosmodelos das relaes intergrupos, atravs daarticulao das variveis ideolgicas, situa-cionais e cognitivas (Doise, 1984) e que estaarticulao se repercute no maior alcanceexplicativo daqueles modelos.

    O captulo encontra-se organizado em trspartes. Na primeira, apresentamos brevemente aevoluo do conhecimento produzido pela Psi-cologia Social sobre uma problemtica que temsido central nesta disciplina ao longo da sua his-tria - a questo da diferenciao e da discri-minao sociais. Nesta apresentao daremosparticular ateno s noes de grupo e deidentidade social, recorrendo s principais con-tribuies da Psicologia Social e da Sociologia.A segunda parte dedicada ao modelo maisimportante, a nosso ver, no quadro actual das

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    teorias cs relaes intergrupc L rodeie,-Oii & i:ci i por isso ir . opii.

    t:_:.a exp,. _c _^s seus cone. ..sicoicategorizao social, identidade sociul e coui-parao social, baseada na histria do pensa-mento dos seus autores, assinalando as rupturase contradies que permitem elucidar o reducio-nismo psicolgico que lhes freqentementeatribudo (Doise, 1987, 1988), assim como osaspectos que os autores deixaram inexplorados.Na terceira parte, apresentamos as contribuiesda escola de Genebra, que, pelo facto de teremprocurado, por um lado, a articulao entre pen-samento e comportamento e, por outro lado, aintegrao e articulao das variveis estruturaise situacionais nas teorias das relaes inter-grupos, mais contriburam para uma perspectivapsicossociolgica na anlise das relaes reaisou simblicas entre grupos sociais.

    2. Perspectivas nos modelosdas relaes intrgrupos

    2. l. Contextos e tipos de relaesintrgrupos - o conceito de grupo

    A anlise dos processos de discriminaosocial, tanto ao nvel dos juzos e das avaliaescomo ao nvel dos comportamentos, ocupa umlugar central nas teorias das relaes intrgrupose a prpria noo de grupo , neste mbito,conceptualizada em ruptura com algumasconcepes anteriores. No quadro dos modelosinterindividuais da dinmica de grupos, porexemplo, o conceito de grupo estava associado interaco entre os seus membros, interde-pendncia de funes na prossecuo de umobjectivo comum e a um limite quantitativo dosseus membos (Cartwright e Zander, 1953).Embora a interdependncia de papis e de rela-

    es ;rre ; seus mer.bros, num cado me -n-liac- f .i_-i: (li 57), qv -

    dei. s i. . jcs c. ; grupos irfici.. _;ecriados, e ^.j-ne da Jiao de grupo, n^,. ..osmodelos das relaes intrgrupos a definioquantitativa interactiva do grupo torna-se irrele-vante, antes se acentuando o seu caracter abs-tracto e simblico e uma emergncia externaaos seus prprios membros, enquanto o seumbito de aplicao ultrapassa as categoriassituacionais e passa a abranger tambm amplascategorias sociais.

    Para Zavalloni (1972), o conceito de grupoest associado a um conjunto de elementos queparticipam na identificao dos seus membros,enquanto Tajfel (1972 a) situa o grupo numquadro de interdependncia, visto que as carac-tersticas que permitem a identificao dosmembros dos grupos adquirem o seu significadoatravs da comparao social. Deschamps (1982a), por sua vez, no considera que esta interde-pendncia seja equivalente ou simtrica no qua-dro das relaes entre grupos sociais, antes a situaem relao a um universo simblico comum, quedefine as posies relativas dos grupos. Estasconcepes do grupo revelam, desde logo, dife-rentes abordagens das relaes intrgrupos, masuma exposio mais detalhada de alguns mode-los permitir salientar melhor as diferenas nasexplicaes (Doise, 1982) procuradas para os pro-cessos de discriminao nas interaces sociais.

    Uma das primeiras reflexes tericas sobre aquesto da discriminao social encontra-senuma obra que rene um conjunto de ensaiosescritos por Kurt Lewin (1948) nos anos 30 e 40,a partir da observao dos acontecimentos naEuropa dessa poca, assim como da situao dosnegros e da luta das mulheres pelo direito devoto nos Estados Unidos, pas para onde emi-grara em 1932 O prprio ndice desta obra apre-senta os ensaios sobre conflitos em pequenosgrupos em situao de face a face separada-

    dos ensaios sobre conflitos intrgrupos.O p ; .c do : r.lo L ...

    j mar extrapolao do plar iaterinis icz._;..a o plano intergrupal.

    Ao analisar uma das formas mais dramticasde discriminao social da poca, o anti-semi-tismo, o autor salienta a sua origem socialsituando-a em foras externas ao grupo discri-minado e independentes do comportamento oudas caractersticas dos seus membros. Estamesma idia surge no ensaio de Sartre (1954)sobre o mesmo tema, quando afirma que o ver-dadeiro judeu s existe na mente do anti-semita.Mais do que produzir um modelo de relaesintrgrupos, o pensamento de Kurt Lewin eraorientado pela preocupao de ajudar os judeusa enfrentar a discriminao, nomeadamenteatravs de prticas de socializao que desen-volvessem a conscincia do destino comum aque estavam sujeitos e da afirmao de que obom comportamento dos membros individuaisdo grupo em nada afectava a condio colectivadeste, antes representava a aceitao de umaforma de pensamento social para a qual os indi-vduos no haviam participado.

    Apesar desta orientao aplicada, o pensa-mento de Kurt Lewin representa uma perspec-tiva e avanou alguns conceitos fundamentaispara a anlise das relaes intrgrupos que, noentanto, s viriam a ganhar dignidade cientficamuitos anos mais tarde. As interaces sociaisanalisadas por este autor constituem, como afirmaApfelbaum (1979), relaes de dominao,baseadas numa diferena de poder simblico.O grupo dominado , neste caso, uma entidadesubjectivamente construda, que rene os seusmembros sob um destino comum, comoafirma Lewin (1948, p. 165), no quadro de umadefinio categoria! que transforma os indiv-duos abrangidos por ela em invisveis (Apfel-baum, 1979, p. 169) quanto sua distintividadeindividual. Esta assimetria entre os grupos no

    389

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    -o.^jtiva da nu.. .grupo dominado.

    Perspectiva bem diferente a que dominou osestudos sobre o etnocentrismo, noo que surgenuma obra etnogrfica de Sumner em 1906, talcomo as de endogrupo (grupo prprio ou depertena) e de exogrupo (grupo dos outros).Numa reviso de literatura sobre as teorias doetnocentrismo, LeVine e Campbell (1972) defi-nem-no como uma sndroma que se caracterizapela percepo e avaliao da realidade centradano grupo de pertena e que serve de ponto dereferncia para a classificao e avaliao dosoutros grupos. O estudo sobre a personalidadeautoritria (Adorno et ai., 1950) mostrara, defacto, que a adeso aos valores religiosos emorais do grupo de pertena estava associada rejeio das minorias, com base nas suas dife-renas tnicas, religiosas e morais.

    A noo de sndroma remete-nos para oconceito de atitude, utilizado por Thomas eZnaniecki na sua obra de 1918, The Polish Pea-sant, sobre a integrao dos polacos na socie-dade americana. Na sua primeira definio, oconceito de atitude permitia estabelecer umaligao entre o psicolgico e o cultural, consti-tuindo, por isso mesmo, um objecto de anliseespecfico da Psicologia Social. Definies pos-teriores do conceito, como a de Allport, em1935 (Allport, 1966), negligenciaram a vsrtentecultura] ao considerar a atitude um estado deprontido mental, e esta psicologizao do con-ceito dominou a Psicologia Social durante lar-gos anos, como mostram Jaspars e Fraser (1984)(ver o captulo sobre Atitudes, para uma an-lise mais pormenorizada). Esta a perspectivaadoptada pelo prprio Allport (1954) numa obrasobre o preconceito, escrita no perodo da lutados negros americanos pelos direitos cvicos e

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  • yjoor.de c

    ' :.is s_i .~3s c.ir.~ns3s: a c. q~_i-exprime nos esteretipos, a avaiia , que coi::,titui o preconceito, e a influncia destas duasdimenses na predisposio para os comporta-mentos hostis em relao s minorias. Os este-retipos constituem para este autor idias fixas ergidas que resultam da ignorncia e da falta deinformao. Por isso mesmo, o autor propea educao e o contacto entre os grupos comoformas de reduzir o etnocentrismo e a hostili-dade em relao s minorias.

    O etnocentrismo resulta, assim, de uma rigi-dez na viso da realidade social que se explicapela ignorncia, segundo Allport, ou pela perso-nalidade autoritria, segundo Adorno e os seuscolaboradores, o que no permite compreender,por exemplo, a persistncia da discriminaodas minorias emigrantes nas sociedades daEuropa ocidental, onde ela coexiste com normasdemocrticas e de tolerncia, como salientaBillig (1984). A anlise do etnocentrismo noperodo ureo dos modelos das atitudes em Psi-cologia Social ficou, portanto, limitada a extra-polaes do nvel psicolgico para as relaesintergrupos, pois, como mostrava a reviso deLeVine e Campbell (1972), os estudos que inte-gravam as variveis situacionais e estruturaisprovinham da antropologia e da sociologia, oque levava os autores a apelar a uma inte-grao entre as cincias sociais para o desen-volvimento dos estudos das relaes inter-grupos. Uma abordagem mais recente do etno-centrismo (Brewer, 1979) procura situar estefenmeno no mbito dos processos de diferen-ciao entre os grupos e, nesta perspectiva, oque importa analisar so as dimenses de dife-renciao entre os grupos e as condies deemergncia dessas dimenses. Deste modo, aexplicao do etnocentrismo desloca-se doplano da personalidade para o plano das relaesintergrupos.

    w_r_".':i ,os 6G> ^.elo c__ cc.-- .'aexcepo _., quadro explicativo das re,Lv^csintergrupos que acabmos de apresentar. O mo-delo de Sherif (Sherif et ai., 1961; Sherif, 1967;Sherif e Sherif, 1979) sobre o conflito intergru-pos visava justamente uma integrao entre opsicolgico e o sociolgico (Sherif, 1967,p. 376) a fim de ultrapassar a tendncia paraextrapolar do nvel de anlise individual ouinterindividual para o nvel de anlise intergru-pal. Este modelo construdo a partir da criaoexperimental de situaes de competio ecooperao entre dois grupos (ver o captulosobre Conflito e cooperao nas relaes inter-grupais) e permite evidenciar que os comporta-mentos hostis entre guapos, assim como osjuzos e avaliaes que favorecem o grupo depertena em detrimento do outro grupo, resul-tam da situao de conflito e no das carac-tersticas dos membros do grupo ou da estruturainterna deste. Mas esta mesma perspectiva quecoloca, desde logo, a questo da identidade nomago das relaes intergrupos, porque:

    ...sempre que membros individuais de um grupo inte-ragem colectiva ou individualmente com outro grupo oumembros dele em termos da sua identificao grupai,temos uma instncia de relaes intergrupos (Sherif, 1967,p. 426).

    2.2. O ns e o eu nas relaesintergrupos - o conceitode identidade social

    De salientar que naquela afirmao a identi-dade aparece integrada no quadro das prpriasrelaes intergrupos, mas o facto de Sherif teranalisado um padro especfico de relaesintergrupos, o do conflito de interesses, serve defundamento para a crtica de que a sua noo deidentidade corresponde a um epitenmeno do

    . .. _ , . - -

    poaer fazer-se a estes autores por terem icicodepender a sua anlise da identidade de umoutro padro especfico de relaes intergrupos;no a integrao da identidade no quadro dasrelaes intergrupos que criticvel, mas sima restrio destas a determinados padres.E, alis, pela integrao da identidade em dife-rentes tipos de relaes intergrupos que a suaabordagem mais recente na Psicologia Socialrompe com tradies anteriores.

    De facto, a noo de identidade estabeleceuma ligao entre o psicolgico e o sociolgico(Zavalloni, 1972), aspecto que salientado tantopor psiclogos sociais como por socilogos,visto que receber uma identidade um fen-meno que deriva da dialctica entre o indivduoe a sociedade (Berger Luckmann, 1966-76,p. 230), mas a dimenso social da identidadetem sido objecto d diferentes conceptualiza-es. Para Mead (1934), o eu emerge da interac-o entre um elemento-sujeito criativo de ordempsicofisiolgica e um elemento-objecto que cons-titui a intemalizao das atitudes dos outros, e setraduz, nas interaces sociais, pela capacidadede assumir a posio do outro. No quadro dointeraccionismo simblico da escola de Chicago,o contexto ou as situaes sociais especficasconstituem o mbito preferencial da dimensosocial na definio dos indivduos (Goffman,1963-82). As teorias do papel em PsicologiaSocial, que sofreram influncias tanto do interac-cionismo simblico como do funcionalismo(Rocheblave-Spenl, 1962), abordam ainda aidentidade numa perspectiva situacional, namedida em que a noo de eu resulta do conhe-cimento das normas e valores associados sposies ocupadas num determinado contexto(Sarbn e Allen, 1968) e este conhecimentocorresponde tambm a uma forma de adaptaoda aco individual ao contexto.

    39!

    'jm Zav.i o psicc... z s

  • ( ( ( ( ( C C ( ( ( C ( C ( ( ( ( C C C ( (l392

    intergrupos, atribuindo-lhe uma posio expli-cativa da diferenciao e da discriminaosociais, para alm de pretender proporcionar psicologia social instrumentos tericos e empri-cos para a anlise de fenmenos macrossociais.No entanto, ao fazer depender a identidade dapertena aos grupos, sem considerar quer aposio objectiva destes, quer os contedosdefinidores da prpria identidade, tornou-sedifcil generalizar aquele modelo a outros tiposde relaes intergrupos diferentes das que foramoperacionalizadas nos estudos de Bristol. A in-tegrao dos contedos da identidade e das posi-es objectivas dos grupos permite analisar osprocessos que participam na construo socialda identidade, mas esta perspectiva est parti-cularmente associada aos estudos efectuadospela escola de Genebra, que sero abordados nosubcaptulo seguinte.

    3. Categorizao social, identidadesocial e comparao social- o modelo da identidade socialda escola de Bristol

    3.1. Origens do modelo

    O modelo de Bristol refere-se a uma perspec-tiva no quadro das relaes intergrupos que pre-tende no s ultrapassar as extrapolaes donvel individual e interindividual para o nveldas relaes intergrupos, que caracterizaram osestudos sobre-o etnocentrismo (Tajfel, 1978),como questionar a relevncia do conflitoenquanto determinante da discriminao entregrupos sociais (Turner, 1981), salientada pelosestudos de Sherif. Mas se o modelo freqente-mente associado aos nomes de Tajfel e Turner,atravs do artigo que talvez mais tenha con-

    tribudo para a sua divulgao, sobretudo nosEstados Unidos (Tajfel e Turner, 1979), a con-tribuio destes dois autores foi muito diferente,tanto ao nvel da investigao emprica como aonvel da produo terica.

    De facto, os primeiros estudos da escola deBristol resultam, sobretudo, do percurso cient-fico de Henri Tajfel, em particular, dos estudosque efectuara nos anos 60 sobre a percepo,como ele prprio salienta numa entrevista(Cohen, 1977-81) e numa das suas ltimas obras(Tajfel, 1981-83). Da sua colaborao comJerome Bruner, nos uios 50, resultar uma cr-tica viso mecanicista da percepo, que pres-supunha que as pessoas apreendiam a realidadede forma objectiva e que as excepes a estaforma de apreenso da realidade constituamerros tpicos de personalidades autoritrias oude pessoas incultas. Os juzo perceptivos tmpor funo, segundo Tajfel (1957), acentuar adiferena aparente numa dimenso, mesmofsica, sempre que a esta dimenso esteja asso-ciada uma dimenso valorativa, e assentam numprocesso cognitivo universal, a categorizao,que se aplica tanto a estmulos fsicos como aestmulos sociais, e que no depende nem dapersonalidade nem do grau de informao dosindivduos; constitui, antes, um processo cogni-tivo necessrio para a organizao e seleco dainformao complexa.

    Os estudos efectuados para analisar os efeitosdo processo de categorizao na percepo deestmulos fsicos (Tajfel e Wilkes, 1963)mostraram que a introduo de um conceitobinrio de classificao, como as letras A e B,era suficiente para que os sujeitos sobresti-massem a semelhana na dimenso de grandezaentre elementos de uma mesma categoria esobrestimassem as diferenas entre os elemen-tos da categoria A e os da categoria B, embora aco-ocorrncia daqueles efeitos de sobres-tima no ficasse comprovada. A experincia de

    Tajfel, Sheikh e Gardner (1964) procurou gene-ralizar o processo da categorizao, e conse-qentes efeitos da sobrestimativa perceptiva,aos estmulos sociais, que neste caso eram ascategorias dos Canadianos e dos Indianos. Osresultados mostraram que os sujeitos, todos elescanadianos, sobrestimavam a semelhana dosdois sujeitos-estmulo indianos nos traos maistpicos do esteretipo do indiano. A recolha dosesteretipos do indiano e do canadiano, tambmefectuada junto de sujeitos canadianos, revelarauma maior incidncia de traos positivos noesteretipo do grupo de pertena e de traosnegativos no esteretipo do outro grupo. Noentanto, e em contradio com a hiptese dauniversalidade dos efeitos da categorizao, ossujeitos no sobrestimaram a semelhana dossujeitos-estmulo canadianos nos traos maistpicos do seu esteretipo, embora o tenhamfeito no caso dos indianos, o que evidenciavamodos de funcionamento diferente do processode categorizao em funo da categoria social--estmulo.

    Estes estudos permitiram, apesar de tudo, queTajfel propusesse uma nova abordagem da dife-renciao perceptiva e avaliativa entre grupossociais (Tajfel, 1969 a, b), segundo a qual a cate-gorizao constitua um poderoso processoorganizador e simplificador da realidade social,tanto mais forte quanto esto associadas dimen-ses avaliativas s categorias sociais, seja aonvel dos critrios classificatrios, seja ao nveldos contedos descritivos. Por isso mesmo, apreservao do sistema de categorizao e dasconotaes valorativas que lhe esto associadas,e que so transmitidas pela cultura e pelos valo-res dos grupos de pertena, conseguida atravsdo tratamento dos critrios classificatrios,como homem-mulher, branco-negro, ingls-francs, enquanto dimenses descontnuas,atravs da seleco nas interaces sociais dascaractersticas que confirmam o efeito preditivo

    393

    da categoria e que validam um conhecimentosubjectivo da realidade facilitador da inte-grao dos indivduos; e, finalmente, atravs dainstrumentalidade dos contedos categoriais,sob a forma de esteretipos, nas interacessociais, visto que a identificao da categoriade pertena dos indivduos facilitada pelavisibilidade do critrio que a define, sobretudoquando esses critrios so fsicos, como o sexoou a cor da pele.

    Os esteretipos sociais constituem, nestaperspectiva, formas especficas de organizaosubjectiva da realidade social, reguladas pormecanismos sociocognitivos, que permitemcompreender a sua incidncia e resistncia nasinteraces sociais, ao contrrio das explicaesque os associavam a desvios individuais,como a falta de informao e a rigidez dopensamento.

    3.2. O paradigmados grupos mnimos

    Se, ao nvel dos juzos, os estudos mostravamque uma categorizao provocava uma dife-renciao entre as categorias sociais que setraduzia numa avaliao positiva da categoria depertena em detrimento da outra, tomava-senecessrio analisar se a categorizao tambmse traduzia em discriminao intergrupos, isto ,num comportamento de favoritismo pelo endo-grupo em detrimento do exogrupo (Tajfel,1978, p. 439). Foi este objectvo que orientou aconstruo do chamado paradigma dos gruposmnimos (ver na caixa seguinte a descrio deuma destas experincias), que se integrava numprojecto de investigao sobre as condies deemergncia da discriminao intergrupos (Brown,1986), e atravs do qual se pretendia estudar ascondies mnimas do efeito da categorizaona discriminao intergrupos.

    XEROX DOCAPSI /CACOSDATA / yORIGINALRAS7AAI0

  • -( c c c c c c ( ( c c c ( c c394

    ( (. (, (395

    A EXPERINCIA DOS GRUPOS MNIMOSNa primeira pane da experincia, sujeitos adolescentes do sexo masculino so convidados a manifestar a sua

    preferncia esttica por um de dois quadros que lhes so apresentados numa srie de diapositivos. Os sujeitos soseguidamente informados de que serio repartidos em dois grupos, em funo das suas preferncias pelos quadros deKlee ou pelos de Kandinsky. Ao mesmo tempo, um segundo experimentador procede, supostamente-, ao tratamentodas respostas dos^sujeitos, mas est de facto a proceder sua distribuio aleatria pelos dois grupos.

    Na segunda parte da experincia pedida a colaborao dos sujeitos para participarem num estudo sobre osprocessos de tomada de deciso e -lhes distribudo um caderno cuja primeira pgina apresenta o nome do pintorsupostamente preferido pelo sujeito para designar o seu grupo de pertena. No interior, cada folha apresenta umamatriz de nmeros que representam um valor em dinheiro e que os sujeitos tm de repartir entre um membro do seugrupo de pertena, designado por um nmero, e um membro do outro grupo, tambm designado por um nmero,pelo que a categorizao dos receptores dos pontos era a nica informao saliente. A experincia termina aps estatarefa.

    (Tajfel et ai, 1971)

    AS MATRIZES DE TAJFEL

    O procedimento utilizado no paradigma dosgrupos mnimos, em que se inscreve a expe-rincia que acabmos de descrever e outrassemelhantes efectuadas pela equipa de Bristol,caracteriza-se fundamentalmente pela criao deuma situao socialmente vazia, a fim de iso-lar a categorizao enquanto condio mnima daemergncia da discriminao intergrupos. Por issomesmo, os sujeitos pertenciam todos ao mesmosexo e mesma faixa etria, no havia interac-o entre eles em nenhuma das fases da expe-rincia e a categorizao era induzida atravs deum critrio inteiramente abstracto e sem qualquersignificado, visto que no havia contedos asso-ciados ao grupo Klee ou ao grupo Kan-dinsky. Por outro lado, as variveis dependentes(ver nas duas pgs. seguintes as caixas com aexplicao das matrizes e da tcnica de cotao)proporcionavam vrias possib! ': Jes de r ;-posta aos sujeitos e constituai; ;ina medi Iaracional de comportamento discriminatrio,visto que a escolha de uma resposta favorecendoo endogrupo em detrimento do oi;;ro grupo c. r-respondia a u^ma opo consciente c deliberamdos sujeitos, entre as vrias respostas possveis,

    sem qualquer presso exterior seno a que foracriada pelas condies experimentais.

    O resultado mais surpreendente destas expe-rincias era, justamente, o facto de os sujeitosmanifestarem uma clara preferncia pelas estra-tgias de diferenciao, em particular o autofa-voritismo relativo, mesmo perdendo em valoresabsolutos relativamente s outras possibilidadesde resposta. A explicao para este slido efeitodiscriminatrio do outro grupo, que estava asso-ciado ao favoritismo pelo endogrupo e que semanifestava em todos os grupos de forma sim-trica, no se encontrava em nenhum dos mode-los anteriores das relaes intergrupos. De facto,a ausncia de interaco entre os sujeitos, antesou durante a experincia, assim como a ausnciade qualquer induo de competio, eliminava apossibilidade de conflito e tambm no era anoo de ('estino comum que permitia explicaros resultados. De facto, o paradigma dos gruposmnimos inspirara-se, precisamente, na con-dio controlo da experincia de Rabbie eHorwitz (! 969), em que os autores haviamoperacionalizado .a noo de destino comumatravs da possibilidade de os grupos experi-

    Matriz tipo l

    19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7

    l 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

    Quando os nmeros da linha de cima so para o grupo prprio (GP) e os da linha de baixo para o outro grupo(GO), a recompensa mxima comum (RMC) encontra-se direita da matriz, e a recompensa mxima para o grupoprprio (GPM), assim como a mxima diferena entre ele e outro (DM), encontra-se esquerda. Quando os nmerosda linha de cima se destinam ao outro grupo (GO) e os de baixo ao grupo prprio (GP), RMC, DM e GPM esto direita da matriz.

    Matriz tipo 27

    i8 9

    3 5

    107

    11

    91211

    1313

    14

    151517

    1619

    17

    2118

    231925

    Quando os nmeros da linha de cima so para o grupo prprio (GP) e os da linha de baixo para o outro grupo(GO), a recompensa mxima comum (RMC) e a recompensa mxima para o grupo prprio (GPM) encontram-se direita da matriz, e a diferena mxima entre o grupo prprio e o outro grupo (DM) encontra-se esquerda. Quandoos nmeros da linha de cima so para o outro grupo (GO) e os da linha de baixo para o grupo prprio (GP), RMC,GPM e DM esto direita da matriz.

    Cada uma destas matrizes possui uma verso invertida. Na matriz tipo l, essa verso comea na coluna 7/25e termina na coluna 19/1. Na matriz tipo 2. ela comea na coluna 19/25 e termina na coluna 7/1. Em todos os casos,o posicionamento das medidas exactamente o contrrio do que acabmos de descrever para cada matriz.

    Estas matrizes permitem medir estratgias de resposta que se dividem em indicadores de diferenciao e indi-cadores de indifsrenciao. So indicadores de diferenciao:

    - a preferncia por GPM+DM (o nmero mximo possvel para o grupo prprio e a mxima diferena entreo seu grupo e outro) sobre RMC (recompensa mxima comum) na matriz tipo l, que traduz uma respostade autofavoritismo absoluto;

    - a preferncia por DM (diferena mxima entre o grupo prprio e o outro grupo) sobre GPM+RMC(recompensa mxima para o grupo prprio e mxima comum) na matriz tipo 2, que traduz uma resposta deautofavoritismo relativo.

    Os indicadores de indiferenciao so os seguintes:- a preferncia por RMC (recompensa mxima comum) sobre GPM+DM (o nmero mximo possvel para o

    grupo prprio e a mxima diferena entre os dois grupos) na matriz tipo 1;- a preferncia por GPM+RMC (recompensa mxima para o grupo prprio e mximo comum) sobre DM

    (diferena mxima entre o grupo prprio e o outro grupo) na matriz tipo 2.

    (T U et aL, 1971)

    mentalmente criados, neste caso os azuis e osverdes, virem a ganhar uma recompensa pordeciso do experimentador. Esta experinciamostrara uma diferenciao perccptiva nos ju-

    zos do endogrupo em relao ao outro gruponas ondies d inipulao da percepodo uostino comui ms no na condio con-trolo.

    XEROX DOCAPSI /CACOS

    ORIGINAL L.PASTA N

  • ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( C ( ( ( (39C

    A TCNICA DE COTAO DAS MATRIZESPara a cotao das matrizes, de acordo com Turner (1978 a), necessrio considerar que em cada tipo de

    matriz as diferentes estratgias de resposta possveis (variveis dependentes), ou coincidem todas num extremo damatriz ou situam-se dos dois lados, consoante o alvo dos pontos de cada linha da matriz Suponhamos que queramosmedir a preferncia por GPM+DM, ou autofavoritismo, sobre RMC, ou recompensa mxima comum, na matriz tipo i.Quando os nmeros da linha de cima se destinam ao outro grupo e os da linha de baixo ao grupo prprio, GPM.DMe RMC coincidem todas do lado direito da matriz, por isso atribui-se O ao elemento 7/25, que se encontra desse lado,e 12 ao elemento 19/1, que se encontra do lado oposto, e os restantes elementos da matriz so cotados com os valoresque se situam entre 12 e 0. Se nesta apresentao da matriz o sujeito escolheu o elemento 10/19, a sua resposta sercotada 3, tanto para GPM+DM como para RMC. Quando os nmeros da linha de cima se destinam ao grupo prprioe os da Unha de baixo ao outro grupo, a escala anterior aplica-se a GPM+DM, que se deslocaram para o lado esquerdoda matriz, e inverte-se para RMC, que permanece do lado direito Se, neste caso, o sujeito deslocou a sua escolhapara o elemento 15/9 da matriz, cuja a>!.-;o 8 na tocaia de 12 a O, a cotaSo de autofavoritismo seria 5 (8-3=5) eo de RMC ser 1(4-3), visto que, na escala invertida uc a 12, o elemento 15/9 6 cotado 4. Portanto, numa mesmaresposta, o sujeito recebeu uma colao de 5 em GPM+DM e l em RMC, visto que a deslocao da suareposta exprime uma preferncia por GPM+DM em relao a RMC. Quando existe uma segunda verso (invertida)da mesma matriz, a cotao do sujeit -.sultar da s aia das respostas s duas verses dividida por 2. No exemploque estamos a dor, e supondo que o su> ao fizera as mesmas escolhas nas Juas verses da matriz, a sua cotao finalem GPMiDM seria 5 [(5+5)/2] e a cotao em RMC seria l [1(1+1)/2J.

    (Tumer, 1978 a)

    Uma primeira explicao situar ;e-ia na exis-tncia de uma norma scia' -aricafavoritismo pelo grupo prprio i.iajfel et

    t J . ;1971, p. 174), ou seja, uma norma de etnocen-trismo. Esta explicao seria, no entanto, ultra-passada num artigo em que Tajfel (1972 a) esta-belece uma ligao entre a categorizao sociale a identidade social. Uma vez que esta estassociada ao conhecimento da pertena, evo-cado pela categorizao, o significado emo-cional e avaliativo que resulta dessa pertenaexprimir-se-ia no favoritismo pelo endogrupoem detrimento do outro. Transpondo a teoria dacomparao social de Festinger (1954) do nvelinterindividual para o das relaes intergrupos,Tajfel considerava no mesmo artigo que os gru-pos sociais s podem contribuir para uma iden-tidade social positiva dos seus membros, namedida em que se distinguirem positivamentede outros grupos. A ligao entre categorizao

    social, identidade social e comparao socialestabelecihi por Tajfel constitui uma integraode processos cognitivos no quadro de uma din-mica intergrupal, mas esta ltima fica depen-dente dos indivduos enquanto fontes deavaliao positiva do grupo de pertena. Estasubalternizao compreende-se no quadro deum esforo de interpretao dos resultados daexperincia dos grupos mnimos, caracteri-zada precisamente por um total vazio social eonde os sujeitos teriam procurado introduzir umsignificado atravs de uma identificao posi-tiva com o grupo de pertena.

    ainda a procura de uma explicao para osresultados obtidos nas experincias dos gruposmnimos que leva Turner (1975) a introduziruma alterao naquele procedimento, queconsiste em dar. a possibilidade aos sujeitosde atriburem pontos tcmbm a si prprios e aoutros.

    Com este procedimento (ver descrio dasexperincias na caixa abaixo), o autor mostrouque o favoritismo pelo endogrupo e a discrimi-nao intergrupos aparecem em situaes decategorizao, independentemente de os pontosdas matrizes terem ou no valor monetrio (estavarivel s afecta as estratgias atravs dasquais se exprime o favoritismo pelo endogrupoe a discriminao intergrupos). No entanto, se asituao experimental o permitir, ou porque noexiste categorizao, ou porque os sujeitos come-aram por fazer escolhas entre eles prprios eoutros, ento o autofavoritismo substitui o favo-. ,iismo pelo endogrupo e a discriminao interin-dividual substitui a discriminao intergrupos.

    397

    Estes resultados evidenciariam o efeito da com-petio social por uma identidade pessoal posi-tiva que explicaria os resultados obtidos nasexperincias dos grupos mnimos. Nesta pers-pectiva, os processos intergrupais de categoriza-o e comparao sociais passam a ser regula-dos por uma motivao e o prprio grupo depertena torna-se uma entidade temporria earbitrria, que serve de mero subst juto funcio-nal satisfao da necessidade de um self posi-tivamente distintivo.

    Ao nvel da produo terica, e embora Tajfele Turner tenham n iociado as suas idias numnu-suio modelo uu identidade social (Tajfel eTurner, 1979), as reflexes dos dois autores

    A HIPTESE DA COMPK1O SOClAl.Turner efectuou duas experincias para validar esca hiptese, ambas inspiradas no procedimento dos grupos

    mnimos. Na primeira, os sujeitos, todos adolescentes do sexo masculino, comeam por exprimir as suas prefern-cias por um dos dois quadros que so apresentados em diapositi.os. Na segunda par.c da experincia, so distribu-dos aleatoriamente por trs condies experimentais, manipuladas atravs de instrues orais e escritas nos cadernosdas matrizes: na condio controlo, de no-categorizao e de retribuio indviih -lhes dito que os pontos dasmatrizes valem dinheiro e cada sujeito receber, no fim, o tou que lhe for :* ,io pelos ouii;s, enquanto aslastrues do caderno das matrizes indicam que os pontos se dt-:, .nam ao prpn :ito e a um outro, designadospor nmeros. Os sujeitos conhecem, apesar de tudo, as suas preferencias porque lhes dito que os nmeros na casados trinta se aplicam aos que preferiram os quadros de Kandinsky e os nmeros na casa dos cinqenta se apli-cam aos que escolheram os quadros de Klee. Na condio de categorizao e retribuio individual, as instruesso as mesmas quanto distribuio do dinheiro, mas as instrues dos cadernos das matrizes indicam que os pon-tos se destinam ao prprio, membro do grupo Klee ou Kandinsky, e a um outro, membro do grupo Klee ouKandiski, seguidos dos nmeros. Finalmente, na condio de categorizao e retribuio colectiva. a manipulaoda caegorizab igual da condio anterior, mas o experimemador diz aos sujeitos que eles recebero a parte quelhes corresponde do total de dinheiro que foi atribudo ao seu grupo de pertena.

    Na segunda experincia, efectuada com o mesmo tipo de sujeitos, o procedimento na primeira parte tambmigual. Na segunda parte, porm, todos os sujeitos foram categorizados em dois grupos e a todos foi dito que iriamreceber individualmente o total dos pontos das matrizes que os outros lhes atribussem. Mas metade dos sujeitoseram informados de que ps pontos valiam dinheiro, enquanto aos outros sujeitos era dito que os pontos das matrizesno tinham qualquer significado. Alm disso, metade dos sujeitos recebia, em primeiro lugar, um caderno dematrizes em que os pontos eram para ele prprio (designado por um nmero e pelo grupo de pertena) e para outro(designado do mesmo modo), e, em segundo lugar, um outro caderno em que os pontos eram para dois outros(designados tambm por nmeros e grupos de pertena), enquanto a outra metade de sujeitos comeava por atribuirpontos a dois outros e terminava com a atribuio de pontos a si prprio e a outro.

    (Tumer, 1975,1978 a)

    XEROX DOCAPS / CACOS .

    ORIGINALPASTA N0

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    tambm apresentam algumas diferenas. Tajfel(1978 a, b, c) situava o seu modelo da identidadesocial no mbito das relaes intergrupos,porque ele se referia s situaes que se encon-tram no plo intergrupal de um continuam inter-pessoal-intergrupo do comportamento social, ouseja, as situaes em que a pertena grupai setorna perceptiva e avaliativamente saliente paraos indivduos e em que a definio dessapertena resulta dum consenso externo e internosobre os contedos definidores da categoriasocial, atravs do qual uma categoria socialpassa a ser um grupo social. No entanto, o autorreconhecia que o extremo interpessoal destecontinuum era meramente terico, visto que setomava difcil encontrar exemplos de interac-es sociais que se baseassem, nica e exclusi-vamente, nas caractersticas individuais dosactores. Deste continuum resulta a predio deum continuum de variabilidade-uniformidadedo comportamento dos membros do grupo emrelao ao outro grupo, ligado percepoestereotipada ds membros dos grupos sociaisdefinidos por critrios de categorizao e que sebaseia numa hiptese central do modelo da cate-gorizao, segundo a qual os elementos de umamesma categoria sero percebidos de formasemelhante.

    Por outro lado, a relao entre uma pertenagrupai socialmente saliente e as crenas que osmembros do grupo tm sobre as caractersticasdo sistema social em que esto inseridos, e dalegitimidade ou ilegitimidade da posio socialdo seu grupo, que permite predizer o tipo deestratgias, individuais ou colectivas, que osmembros do grupo desenvolvero para mudar asua situao e que se traduziro, no primeirocaso, em formas de mobilidade psicolgica e,no segundo, em contribuies para a mudanasocial - como a tentativa de reinterpretar positi-vamente o contedo dos esteretipos associadosao grupo devpertena, ou mesmo de associar

    novos contedos ao grupo de pertena, a fim deobter uma identidade positiva. Alm disso,Tajfel (1978 c, 1981-83) procura afirmar anecessidade e a relevncia da contribuio daPsicologia Social para a anlise de fenmenosmacrossociais, como as situaes de discrimina-o nacional, tnica e lingstica, assim como osmovimentos sociais, largamente exemplificadosna sua obra, mas esta generalizao feita atra-vs de uma extrapolao dos grupos mnimospara os grupos sociais reais; isto leva-o a con-cluir (Tajfel, 1978 b) que a diferenciao cogni-tiva, avaliativa e comportamental resulta de umanecessidade de distintividade positiva do grupoem relao a outros grupos, introduzindo, assim,um reducionismo psicolgico na contribuiodo modelo da identidade social para a anlisedas relaes entre grupos sociais reais.

    Mas algumas destas idias sofrero aindauma radicalizao psicolgica na reinterpre-tao de Turner. O continuum interpessoal-inter-grupo transforma-se numa oposio entre o selfe o grupo (Turner, 982), qual correspondeuma oposio entre uma identidade pessoal,constituda por traos fsicos, de personalidade,intelectuais e idiossincrticos, e uma identidadesocial, que composta pelo conjunto dasautodefinies em termos de categorias depertena. Desde logo, os contedos da identi-dade social no so considerados, nem sequerno plano terico, visto que a definio desta quantitativa e no qualitativa, e o grupo surgeclaramente como um simples meio de satisfaoda necessidade psicolgica de uma distintivi-dade individual positiva. Uma relao intergru-pos envolve ainda, segundo Turner (1981), umahomogeneidade perceptiva e comportamentaldos membros dos grupos nela envolvidos, e estanoo constitui um alargamento a todos os gru-pos sociais, independentemente da natureza darelao intergrupos, da noo de despersonaliza-o que Tajfel (1978 a) definira e aplicara, tal

    como Kurt Lewin (1948), aos grupos inferioresou dominados. A importncia da dimenso psi-colgica mantm-se patente na mais recenteproposta de Turner (1987), a do modelo da cate-gorizao entre o eu e os outros, que se situa aonvel de uma teoria universal do eu, no quadroda qual a prpria categorizao j no organizaa realidade em termos de distintividade entregrupos, mas sim em termos de uma distintivi-dade entre o eu e os outros, incluindo os grupos.

    3.3. Contradies e limitesdo modelo de Bristol

    Para terminar a exposio do modelo deBristol procuraremos resumir algumas das suascontradies e limites, mas antes necessrioreferir as crticas ao modelo que surgiram, desdeo seu incio, no seio da prpria escola de Bristol.Billig (1976) foi, na verdade, o primeiro a prem dvida a generalizao a todos os grupossociais de uma necessidade de identidade socialpositiva que, segundo ele, no podia existirindependentemente da estrutura e ideologiasociais. Esta crtica salientava a necessidade decompreender as prprias condies sociais deemergncia de uma identidade social positiva,aspecto que Turner (1975), em particular, havianegligenciado e substitudo pela motivao paraa procura da distintividade.

    A investigao de Wetherell (1982) apontava,justamente, para as razes culturais de umaidentidade que se manifesta por uma distintivi-dade positiva. Ao comparar os resultados derplicas da experincia dos grupos mnimoscom adolescentes europeus e da Polinsia, aautora verificou que as estratgias escolhidaspor estes ltimos nas matrizes eram a recom-pensa mxima comum, o que permitia concluirque a norma de discriminao intergrupos,como expresso da procura de uma distintivi-

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    dade positiva, prpria de uma cultura ociden-tal, que valoriza a competio e a individuali-dade, mas no das culturas que promovem acooperao como norma de conduta.

    Breakwell (1978) questionou a relevncia daidentidade social enquanto varivel explicativada diferenciao e da discriminao intergrupospor considerar que os processos que lhe estoassociados so algo a explicar, num quadro derelaes interpessoais e de poder e no explica-tivo por si s. De facto, a modalidade de identi-dade social salientada pelo modelo de Bristolrevelava-se insuficiente para o estudo de deter-minadas relaes intergrupos, como as que en-volvem as categorias masculina e feminina(Williams, 1984), uma vez que a distintividadepositiva de si e do grupo correspondem mais aum padro perceptivo e comportamental do sexomasculino do que do sexo feminino.

    Comum a todas estas crticas encontramos aidia de que o modelo de Tajfel e Turner (1979)no considerou as determinantes sociais daidentidade social (Doise, 1987,1988). Esta limi-tao revela a dependncia de todo um modeloterico de um paradigma experimental social-mente vazio e do qual se passou a extrapolarpara as condies sociais reais.

    Aqui se revela tambm uma contradio naproduo terica de Henri Tajfel, que procurara,com os seus estudos sobre a diferenciao per-ceptiva entre os grupos (Tajfel, 1969 a, b), ultra-passar as extrapolaes do mbito psicolgicopara o das relaes intergrupo e pusera em causa(Tajfel, 1972 b) a tendncia da psicologia socialpara efectuar experincias num vcuo sccial,negligenciando os aspectos socialmente rele-vantes da realidade social. Porm, esta relevnciano se pode resumir a uma equivalncia formalentre as variveis operacionalizadas no labo-ratrio e as que existem na realidade social, talcomo aconteceu no paradigma dos grupos m-nimos. De facto, nos seus estudos sobre a cate-

    XEROX DOCAPS1 / CACOSDATA ( _{___ORIGINAL iPASTA N4_

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    gorizao social (ver ponto 2.1.) o autor salien-tara que tanto os critrios classificatrios comoos contedos das categorias possuem significa-dos avaliativos, e este aspecto retomado naintegrao da comparao social no seu modelo.No entanto, so muito raros os estudos que con-sideram dimenses relevantes de comparaoentre os grupos (Turner, 1978 b), ou os gruposcomparativamente relevantes (Turner, Brown eTajfel, 1979). Por outro lado, as predies da uni-formidade do comportamento e da homogenei-zao perceptiva dos membros dos grupos, comoresultado da categorizao social, tm a suaorigem na hiptese de que diferenciao entrecategorias est associada uma indiferenciao nointerior das categorias, mas a co-ocorrnciadestes dois processos perceptivos nunca foi con-firmada pelos estudos anteriores (Tajfel e Wilkes,1963; Tajfel, Sheikh e Gardner, 1964).

    Por todas estas razes, a identidade social, talcomo foi operacionalizada no modelo deBristol, , tambm ela, vazia de significadossociais, o que leva Rabbie e Horwitz (1988) aperguntarem ironicamente se possvel falar deum ser Klee ou de um ser Kandinski, almde que o modelo pretende explicar umaexpresso comportamental cujos fundamentosideolgicos no foram controlado Numa d;>ssuas ltimas publicaes, Tajfel (1982) pareciareconhecer o reducionismo psicolgico a que oparadigma dos grupos mnimos votara omodelo da identidade social, ao minimizar a cen-tralidade daquele paradigma relativamente aomodelo no seu conjunto e ao salientar a neces-sidade de desenvolver uma teoria sobre os este-retipos sociais centrada na anlise das funes dediferenciao, explicao e justificao que elesdesempenham no quadro da relao intergrupos(Tajfel, 1981-83), exemplificadas em varieisquadros reais de relaes intergri. . em queesteretipos apareciam como supoi.i,, ideolgii. ;de relaes d^poder entre grupos sociiiis.

    4. Identidade social, representaessociais e a natureza das relaesintergrupos - os estudosda escola de Genebra

    4. l. Identidade social e contedoscategoriais - o modeloda diferenciao categorial

    Contrariamente ao modelo de Bristol, omodelo da diferenciao categorial no pretenderomper com as perspectivas anteriores, antesprocura a integrao e articulao entre algunsmodelos (Doise, 1976-84), como o da catego-rizao (Tajfel, 1969 a, b), o de Sherif (Sherif etai, 1961; Sherif e Sherif, 1979) e o prprioparadigma dos grupos mnimos (Tajfel et ai,1971). Assim, o modelo da diferenciao cate-gorial considera a categorizao um processopsicolgico de estruturao do meio, mas inte-gra a anlise deste processo no quadro situa-cional ou estrutural das relaes intergrupos(Doise, 1976-84; Deschamps, 1984). Isto signi-fica que os contedos das categorias no podemser desligados dos seus critrios classificatrios,visto que, L- de acordo com o prprio modelo dacategorizao:

    Quando dois grupos se distinguem segundo um critrio, raro que ele no esteja ligado, pelo menos subjecva-mente, a outros critrios (Doise, 1972, p. 106).

    Uma experincia deste autor (Doise, 1969),descrita na caixa da pg. seguinte,salientara justa-mente que a discriminao intergrupos resulta deuma associao entre critrios classificatrios econtedos significantes.

    O tratamento diferenciado dos membros dogrupo de p rtena e dos membros do exogrupono dependia de uma mera categorizao clas-sificatria, tipo A e B, ou tipo Klee e Kandinsky,

    CONTEDOS CATEGORIAISE DIFERENCIAO INTERGRUPOS

    Os sujeitos, alemes e franceses, eram colocados em grupos que se distinguiam pela nacionalidade, o grupodos alemes e o grupo dos franceses, condio grupos heterogneos; em grupos que no se distinguiam pelanacionalidade, porque eram formados por sujeitos da mesma nacionalidade, condio grupos homogneos; e emgrupos onde as nacionalidades se encontravam misturadas, condio grupos mistos. A situao criada exigiadecises cooperativas no seio do grupo e entre os grupos, e os resultados mostraram que aquelas escolhas eramsignificativamente mais elevadas no interior do grupo do que para o exterior, nas condies em que um grupo desujeitos da mesma nacionalidade interagia com um grupo de sujeitos de outra nacionalidade.

    mas verificava-se sobretudo quando esta estavaassociada a uma dimenso que adquiria umsignificado subjectivo para os sujeitos, como anacionalidade, ou seja, quando A significavaalemo e B francs. Nesta perspectiva, as repre-sentaes, ou formas da sua actualizao nasdiferentes situaes de diferenciao entre osgrupos, no podem deixar de assumir um lugarcentral. Retomando um resultado particularmentesalientado pelos estudos de Sherif (Sherif, 1967)e por outros estudos sobre as relaes de conflito(Avigdor, 1953) - o de que a evoluo do con-flito entre os grupos acompanhada por umaevoluo nas imagens que cada grupo desen-volve de si prprio e do outro - Doise (1972,1976-84) mostra que as representaes desem-penham trs tipos de funes sociocognitivasnas interaces entre os grupos: seleco, justi-ficao e antecipao.

    - A funo selectiva traduz-se numa centra-lidade dos contedos relevantes para arelao intergrupos ao nvel das represen-taes mtuas relativamente aos contedosirrelevantes para a situao, o que significaque, embora a diferenciao perceptivarepouse numa dimenso uvaliativa queacentua a atribuio de traos negativos aooutro grupo, preservando uma imagempositiva do endogrupo, essa diferenciao

    (Doise, 1969)

    no se faz sobre quaisquer traos negativosmas sim naqueles que so relevantes nocontexto da relao intergrupos. A experin-cia de Avigdor (1953), em que dois gruposde adolescentes tm de competir por recur-sos comuns para levar a cabo a montagemde uma pea de teatro, evidenciou a funoselectiva no contedo dos esteretipos m-tuos, porque mostrava que a diferenciaoentre os grupos se estabelecia nos traos queeram relevantes para a situao mas nonaqueles que eram irrelevantes.

    - A funo justificativa revela-se tambm noscontedos das representaes que veiculamuma imagem do exogrupo que justifica quera sua posio no contexto da interacoentre os grupos, quer um comportamentohostil em relao a ele. Os resultados deSherif (1967) tambm mostram uraa acen-tuao negativa dos esteretipos mtuos nafase mais aguda do conflito intergrupos, aoMiesmo tempo ,je se observam agressesinterindividuais e ataques colectivos entreos dois grupos. Num estudo sobre as expli-caes para a discriminao da mulher norabalho (Am?- .o e Socz/a, 1988), veri-

    ficmos que, i os sujeitos do sexo mas-culino, o papei tradicional da mulher nafamlia e os tnv:>'>s do esteretipo feminino

    XEROX DOCAPSI / CACOO ATA

    PASTA N'.

  • c c c < c ( c c ( c c c ( c c c c c c c c c ( c c c c c ( ( c ( c x ( c c c c r r402 403

    A ASSIMETRIA NO PROCESSODE DIFERENCIAO CATEGORIAL

    Nesta experincia, a categorizacu baseava-se numa pertena real, a do grupo de alunos do liceu e a do grupode alunos de escolas tcnicas, e os sujeitos tinham de fazer auto- e heterodescries em condies de interaco dife-rentes. Os resultados mostraram que, nas situaes de acentuada categorizao imergmpul, quando dois membros ciecada grupo se encontravam frente a fr . ite, ou quand.-> '.-ia dito aos sujeitos desde o incio que tinham de descrever oseu grupo e depois o outro grupo, os alunos do liceu er.im mais discriminatrios, enquanto os das escolas tcnicasfavoreciam os do liceu e no o seu prprio grupo.

    (Doise e Sinclair, 1973)

    que lhe esto associados, como a submis-so e a orientao interpessoal do compor-tamento, constituem justificaes para adiscriminao da mulher no trabalho. Paraas mulheres, no entanto, s o papel tradicio-nal da mulher justifica a sua discriminaono trabalho, porque para elas esse papel noest associado a um perfil de personalidadeinadequado s exigncias do mundo dotrabalho.

    - A funo antecipatra, finalmente, orientao prprio desenvolvimento da relao entreos grupos, como mostra a experincia deDoise e Weinberger (1972-73). Nesta expe-rincia, sujeitos do sexo masculino so leva-dos a antecipar situaes de competio, decooperao ou de simples co-presena comduas parceiras do sexo feminino, comparsasdos experimentadores. Do conjunto de tra-os masculinos e femininos que os sujeitosrecebiam para se autodescreverem e descre-verem as parceiras, eles atribuam-lhes maistraos femininos quando antecipavam umacompetio com elas do que quando anteci-pavam os putros tipos de interaces.

    Esta ligao entre a realidade objectiva, ousimblica, dos grupos e a sua representaosubjectiva (Doise, 1984) permite inserir o pro-cesso da diferenciao categorial numa anlise

    psicossociolgica das relaes intergrupos, vistoque este processo:

    ...esclarece o modo ccmo, em variadas situaes, umarealidade social constituda por grupos se constri e afecta oscomportamentos dos indivduos que, por seu turno, intera-gem e corroboram esta realidade (Doise, 1976-84, p. 138).

    Mas tambm o pressuposto bsico de que osindivduos constrem, no plano cognitivo, asituao em que esto inseridos, reproduzindo-aou antecipando-a, que faz com que a diferen-ciao no possa ser universal na sua extenso,nem simtrica na sua expresso. A experinciarelatada na caixa acima salienta um contexto derelaes intergrupos em que h assimetria noprocesso de diferenciao categorial.

    Os resultados das duas ltimas experinciasmostram claramente que a estruturao cogni-tiva diferenciadora que resulta do processo dacategorizao no se constri sobre quaisquercontedos simblicos, nem do rnesmo modo emtodos os contextos intergrupais. Os traos maisnegativos do esteretipo feminino, os de sub-misso e dependncia, so particularmente teisaos sujeitos do sexo masculino para antecipar oseu sucesso sobre as parceiras do sexo oposto;na experincia com os alunos de dois ramos doensino secundrio (descrita na caixa anterior), ascondies experimentais traduziram-se, para am-bos os grupos, numa representao reprodutora

    INDIVEDUALIZAO, FUSO E A HIPTESE DA CO-VARIAONesta experincia, que utilizava um procedimento semelhante ao dos < s mnimos, as sujeitos eram

    informados, nas condies de individuao, de que iriam receber individualmente >,., pontos que lhes seriam atribu-dos pelos outros, enquanto nas condies de fuso se dizia aos sujeitos que eles iriam receber a mdia dos pontosatribudos ao seu grupo. De acordo com os resultados, verificou-se uma maior

  • ( C (. ( ( C C ( ( ( C C ( ( ( ( ( < ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( < ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( X ( ( . ( (' ( ( (404

    uma desindividuao dos membros do grupo emoposio individuao descategorizada, tal

    como tambm o demonstram os resultados dosestudos sobre o efeito de ovelha negra (Marques,1990). Perante estes resultados, a dicotomiaentre identidade pessoal diferenciada e identi-dade social homogeneizante torna-se inaceitvel,tanto terica como empiricamente (Deschamps,1987), visto que o comportamento do indivduo,no interior do grupo e em relao ao grupo com-parativamente refevante, no universalmenteorientado por uma motivao, mas sim por refe-rncias a normas e valores colectivos que a cate-gorizao intergrupos torna significantes.

    Uma dessas referncias colectivas so asideologias relativas estratificao dos grupossociais numa escala de poder que Deschamps(1982 a, p. 88) designa por um universo sim-blico comum de valores, que serve de refe-rncia posio relativa de todos os grupos e,consequentemente, sua interdependncia com-parativa. A definio dos grupos sociais numquadro de relaes de interdependncia simb-lica proposta nesta perspectiva implica tambmuma definio estrutural das formas de identifi-cao dos indivduos com e pelo seu grupo depertena, que apontam para mais de uma moda-lidade de identidade social:

    ... A identidade sodal pode variar fundamentalmente emfuno do capital material e simblico que os indivduos pos-suem... a identidade social dos dominantes ser definida emtermos de sujeitos e a dos dominados em termos de objec-tos. Os primeiros no se vem a si prprios como determi-nados pelo seu grupo de pertena ou pela sua afinao social.Vem-se, acima de tudo, como seres humanos individualiza-dos, singulares:, sujeitos, actores voluntrios, livres cautnomos. O seu ^/uj.oantesdetudouji.;, .ccode p^.soas. Tal n o caso dos dominados, que so definido^como elementos indiferenciados de uma coleco departculas impessoais e so mais vistos como objectos doque como sujeitos (Deschamps, 1982, p. 90).

    Os efeitos desta varivel estrutural sobre adiferenciao e a discriminao intergrupos tm

    405

    sido evidenciados em estudos era que a catego-rizao baseada no sexo emerge como um dosexemplos sociais de uma relao de dominao,visto que o comportamento dos sujeitos do sexofeminino no revela a procura de distintividadeou o favoritismo pelo grupo de pertena emsituaes de confrontao com o sexo oposto.De facto, a evocao de um concorrente do sexooposto para um lugar de prestgio leva os sujei-tos do sexo feminino a depreciarem as suas pr-prias competncias e a perder interesse pelo lugar,mas tal no acontece quando o suposto concor-rente do mesmo sexo (Deschamps, Lorenzi--Cioldi e Volpato, 1983). O mesmo efeito severifica nos sujeitos do sexo feminino quando ascomparaes entre os sexos se efectuam ao nvelde traos e dos pontos das matrizes, mas tal noacontece com os sujeitos do sexo masculino(Deschamps e Personnaz, 1979). A nica expe-rincia efectuada pela equipa de Bristol comsujeitos de ambos os sexos mostrara tambmque as raparigas preferiam a estratgia daequidade relativamente da diferenciao, maseste resultado no foi objecto de qualquer refle-xo particular pelos autores da experincia(Tumer, Brown e Tajfel, 1979).

    , no entanto, nos estudos de Lorenzi-Cioldi(1988) que a operacionalizao de uma relaode dominao intergrupos permite analisar ospadres de comportamento de diferenciaointerindividual e intergrupal que lhe esto as-sociados, definir o perfil das identidades domi-nante e dominada e mostrar a sua homologiacom os padres de comportamento masculino efeminino. As condies dominante e dominadaso operai, .nalizadas, numa das experii: 'iasdeste autor, atravs das noes de individuaoversws fuso do indivduo em relao ao grupo,que referimos atrs (ver descrio da experin-cia de Deschamps e Lorenzi-Cioldi, 1981), e deautonomia versas destino comum na prpriadefinio do grupo, num procedimento experi-

    A OPERACIONALIZAO DA RELAO DE DOMINAONuma primeira parte da experincia, apresentada como um estudo sobre as preferncias estticas, os sujeitos

    assinalam as suas preferncias por trechos musicais extrados de obras de dois autores contemporneos, Riley eKabelac. Para os sujeitos da condio grupo coleco, o experimentadqr analisa as preferncias de cada sujeito nofim da primeira parte da experincia, enquanto para os sujeitos da condio grupo agregado, as folhas de respostaindividual so atiradas para dentro de uma caixa no fim da sesso.

    Na segunda parte da experincia, o experimentador afirma pretender analisar os processos de tornada dedeciso e apresenta uma matriz de pontos aos sujeitos, como exemplo da tarefa que lhes ser pedida, mas que noser includa nas matrizes utilizadas na experincia. Nesta segunda parte, metade dos sujeitos so colocados nos gru-pos Riley e Kabelac supostamente em funo das preferncias que haviam exprimido anteriormente, mas na reali-dade aleatoriamente, enquanto para a outra metade dos sujeitos o experimentador afirma ir coloc-los ao acaso nosgrupos azul e vermelho. Com esta manipulao, o experimentador categoriza os sujeitos de acordo com um critriointerno, que so as suas prprias preferncias, no caso dos grupos coleco, e de acordo com um critrio ex-terno, que a deciso arbitrria do experimentador, no caso dos grupos agregados. Todos os sujeitos recebemem seguida os cadernos de matrizes onde se encontram os pontos a distribuir entre si prprio e um outro do mesmogrupo e entre si prprio e um outro do outro grupo. Metade dos sujeitos dos grupos coleco e metade dos dosgrupos agregados iro receber, de acordo com as instrues apresentadas na primeira pgina dos cadernos dasmatrizes, exactamente os pontos que os outros lhes derem, enquanto a outra metade ir receber a mdia dos pontosatribudos ao seu grupo. Esta manipulao induz o individualismo perante o grupo no desempenho da tarefa, ou afuso em relao ao grupo. Sujeitos de ambos os sexos participam em todas as condies experimentais.

    (Lorenzi-Cioldi, 1988)

    mental que, para alm destas diferenas e daintroduo da varivel sexo, se inspira no doparadigma dos grupos mnimos.

    Esta experincia permitiu, portanto, criarexperimentalmente um grupo dominante, paracuja definio os sujeitos participaram, suposta-mente, de uma forma autnoma e dentro do qualfoi induzida uma participao individual e distin-tiva, e um grupo dominado, que emergiu pordeciso arbitrria do experimentador e dentro doqual a participao dos sujeitos indiferenciada,assim como dois grupos onde no h corres-pondncia entre a definio interna ou externa dogrupo e a participao individual o. fusional dosseus membros. Por outro lado, o facto de todosestes grupos terem sujeitos de ambos os sexospermite analisar o grau de homologia entre aspertenas sociais e as experimentais.

    Os resultados mostraram, de facto, que a dife-renciao interindividual e intergrupal est

    associada a uma pertena dominante e no auma pertena dominada. No entanto, enquantoos rapazes manifestam um comportamento clara-mente dominante que se traduz na persistnciada diferenciao interindividual e intergrupal nasvrias condies experimentais, embora maisacentuado quando h homologia entre as perten-as sociais e experimentais, as raparigas diferen-ciam-se dos membros do grupo de pertenaquando este dominado, manifestando assima rejeio de uma pertena desfavorvel, comuma todos os sujeitos nesta condio, mas no sediferenciam do outr- -rupo nem mesmo quandocoloc ias num gr> Jominank >. Estes resul-tados permitem,

    ...repensar a oposio do pessoal e do colectivo sobre aqual se baseiam os modelos actuais da identidade social...O singular e o colectivo, o geral e o particular na identidadesocial emergiram, de facto, como aspectos diferentes, masapesar disso compatveis desde que os consideremos como

    XEROX DOCAPSI / CACOSDATA /. /.ORIGINAL.PASTA N_..

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    formas de expresso de si e do oulro numa relao dedominao entre grupos. nesta relao que surge umaidentidade pessoal - ocultando os contextos colectivos queparticipam para a sua emergncia -, assim como identi-dades mais especificamente colectivas que se inscrevemnos grupos de pertena (Lorenzi-Cioldi, 1988, p. 205).

    Esta perspectiva deu lugar ao desenvolvi-mento de uma linha de investigao que acentuao valor explicativo da posio relativa dos gru-pos, definidos atravs da interdependncia designificados das identidades, mais pessoais nocaso dos grupos dominantes ou mais colectivasno caso dos grupos dominados (Lorenzi-Cioldi,1993). O efeito destes significados tem sidodemonstrado ao nvel dos processos cognitivos,na medida em que determina e orienta os modosde tratamento da informao. Assim, Hurtig ePichevin (1990, 1995) verificaram que, apesar dea informao sobre as categorias sexuais serextremamente acessvel e informativa, a probabi-lidade de descrever um indivduo do sexo femi-nino como mulher mais elevada do que a dedescrever um indivduo do sexo masculino comohomem, uma vez que os significados associa-dos categoria feminina diferem na qualidade dainformao que veiculam, pois indicam uma

    identidade mais colectiva. Numa experincia re-cente sobre a homogeneidade do exogrupo,Lorenzi-Cioldi et. ai. (1995) mostraram que osmembros dos grupos dominados, neste caso asmulheres, eram percebidos como mais homo-gneos do que os membros dos grupos domi-nantes, neste caso os homens. A relevncia destaperspectiva terica reside no estatuto explicativoque concedido aos significados associados scategorias, ou seja, reside na dimenso de anliseideolgica, razo pela qual se estende a outrascategorias sociais. Os estudos desenvolvidos porCabecinhas (1994) visaram precisamente aextenso deste modelo de anlise s categoriasraciais e permitiram evidenciar a homogeneiza-o dos grupos dominados em relaes intergru-pais baseadas em diferenas de cor da pele (osnegros) e em diferenas de sexo (as mulheres).

    4.3. Identidade sociale representao de pessoa

    A relao intersexos constitui, sem dvida, umtipo de relao intergrupos onde o peso do uni-verso simblico se revela claramente. As dite-

    MODELOS DE PESSOA E MODALIDADES DE IDENTIDADE SOCIAL

    Esta experincia foi efectuada com sujeitos adultos, estudantes-trabalhadores de ambos os sexos, a quem pedi-mos que participassem num exerccio de comunicao. As instrues contidas no texto, que apresentava aos sujeitosa tarefa a desempenhar, salientavam caractersticas masculinas para o bom desempenho da tarefa, na condiodimenso masculina de comparao, caractersticas femininas, na condio dimenso feminina de comparao, ouno salientavam quaisquer caractersticas numa condio sem dimenso, tipo grupos mnimos. Depois de expli-cado o exerccio aos sujeitos pedia-se-lhes que fizessem uma estimativa do que iria ser o seu desempenho atravs daatribuio dos pontos das matrizes a si prprios e a um outro do mesmo sexo, e a si prprios e a um outro do sexooposto, que eram designados por nmeros seguidos da categorizao grupo dos homens ou grupo das mulheres.Alm destas variveis independentes, introduziu-se ainda uma outra de nvel interindividual, visto que numacondio os sujeitos respondiam isoladamente e noutra condio respondiam na presena de outra pessoa do mesmosexo e duas pessoas do sexo oposto.

    (Amncio, 1988,1989a)

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    rentes posies e funes sociais dos doissexos no so meramente situacionais, mas simhistricas, de modo que a salincia de uma cate-gorizao intersexos evoca a homens e mu-lheres, num contexto experimental ou outro,contedos categoriais sobre os quais se estabele-ceram noes de si e de comportamentos apro-priados (ver Doise, 1984, para uma discussodo papel das representaes na actualizaoexperimental da realidade social). De facto, oconsenso que envolve os esteretipos sexuaisem diferentes culturas e sociedades, evidenciadoao longo de vrios anos de investigao empsicologia social, assim como a sua estruturaodesde a socializao primria (ver Amncio,1989, para uma reviso desta literatura), permiteconsider-los no s um suporte simblico dasposies sociais objectivas dos dois grupos mastambm da construo da representao de sidos indivduos de ambos os sexos.

    Se, para alm da evidncia deste consenso,analisarmos o significado dos contedos asso-ciados ao masculino e ao feminino no quadro douniverso simblico comum da noo de pes-soa, verificamos que elas diferenciam os sexosatravs de uma representao de pessoa singu-lar, autnoma, independente dos contextos esocialmente referente, no caso do masculino, ede uma representao de pessoa que se definepor uma funo social e delimitada pelas fron-teiras do contexto em que essa funo exer-cida, no caso do feminino. Esta assimetria nasdefinies de pessoa masculina e femininatraduz-se ainda numa assimetria no significadonormativo assumido pelos esteretipos sexuaispara os actores homens e mulheres, comomostrmos numa experincia em que os traosdos esteretipos sexuais, assim como outrostraos sem conotao sexual, serviam para ossujeitos estabelecerem os seus juzos sobre osactores e os comportamentos (Amncio, 1992).De acordo com os resultados desta experincia,

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    os contedos do esteretipo feminino servempara caracterizar os actores do sexo feminino,assim como caracterizam os comportamentosfemininos, enquanto os traos do esteretipomasculino no caracterizam os actores do sexomasculino, nem nenhum tipo de comportamentoem particular, mas servem para caracterizar osactores do sexo feminino quando o seu compor-tamento no corresponde s orientaes norma-tivas definidas pelo esteretipo feminino.

    Assim, pela ausncia de uma funo ou con-texto especfico na definio do masculino que ocomportamento dos membros deste grupo revelauma aparente independncia de imposies nor-mativas e se apresenta individualmente diferen-ciado, imprimindo ele prprio um significadoaos contextos, mas tambm ele inserido numaideologia colectiva que os indivduos, homensou mulheres, no criaram, antes reproduzemou recriam nos processos sociocognitivos queorientam a sua percepo da realidade. O efeitodesta ideologia visvel na percepo do com-portamento dos outros, como vimos atrs, mastambm na procura da causalidade dos compor-tamentos, que orientada por uma norma deinternalidade para os membros do grupo domi-nante (Beauvois e Dubois, 1988), enquanto nocaso dos membros do grupo dominado ela visaprovar o seu conformismo a normas sociais econtextuais (Amncio, 1992). Finalmente,aquele efeito visvel na construo da imagemde si prprios, aparentemente liberta dosesteretipos para o grupo dominante e muitodependente destes para o grupo dominado(Lorenzi-Cioldi, 1991), e das modalidades decomportamento considerado adequado em dife-rentes contextos, como mostrou a experinciadescrita na caixa da pgina anterior.

    A co-ocorrncia da diferenciao interindivi-dual e intergrupal verificou-se nos resultadosdos homens, tanto na dimenso de comparaomasculina como na condio vazia de contedos

    XEROX DOCAPSI / CACOS

    /C "..,,'.ALPASTA N8.

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    comparativos, tipo grupos mnimos, mas nocaso das mulheres a diferenciao intergrupalverificava-se tambm na dimenso masculina,enquanto a diferenciao interindividual se vri-ficava se':/^i-wC :ia ausncia c'.= c" ns'compara:.., ca.ciOrialmente si-,.i.cantes, imostra que, paia o grupo dominado, a diferencia-o est sujeita dupla presso da referncia darepresentao dominante de pessoa e da repre-sentao do seu modo de ser especfico, fusionale indiferenciado. Assim, a dstintividade posi-tiva do seu grupo passa necessariamente, para asmulheres, pela adopo do modelo de compor-tamento masculino e socialmente referente,tanto mais tratando-se de sujeitos inseridos nomundo do trabalho e colocados numa situaode desempenho valorizado. No entanto, a distin-tividade individual procurada em contextosvazios de significados categoriais, nica formade se dif-saciar como indiv.'. .1 cm ror: ;rcom a identidade feminina e colecuva. De facto,os resultados daquela experincia mostram queos comportamentos de, diferenciao no estoassociados aos contedos femininos. No entanto,os homens utilizam-nos para se distinguirem deoutros homens? conferindo-lhes, deste modo, umsignificado individualizante.

    Na medida em que o esteretipo femininoveicula uma representao de pessoa associadaaos contextos especficos da interdependn-cia relacionai e sexual, esta desigualdade derecursos simblicos manifesta-se, no plano dadinmica identitria, num modelo de ser situa-cional, no caso das mulheres (e outros gruposdominados), uma vez que os seus modelos iden-titrios esto mais dependentes dos contextosconcretos. Foi esta hiptese que testmos numaexperincia com um paradigma experimentalsemelhante ao da experincia anterior, mas ondea dimenso de comparao co-variava com moda-lidades de competio entre os grupos (do sexomasculino e feminino), a fim de operacionalizar

    a articulao entre a dimenso ideolgica e adimenso interactiva da dinmica intergrupal(Amncio, 1997). A comparao dos resultadosdas duas experincias mostra claramente que alientit: 'os gnr:: dominados se ap: itasob a fe.~_. de m... de estar nos co:. .;osparticulares, distanciando-se, assim, do mona deser, aparentemente independente dos contextos(Amando, 1993, p. 219) que se observa nadinmica dos grupos dominantes.

    O conjunto de estudos que acabmos dereferir e que visavam evidenciar a assimetriasimblica nos modelos de ser masculino e femi-nino, socialmente consensuais (ver tambmAmncio, 1995, para uma reviso destes e ou-tros estudos da mesma linha de investigao),permitem-nos concluir que existem, pelo menos,trs nveis de expresso da posio social domi-nante de um grupo, no plano simblico. Aonvel da ic elogia, a identidade deste grupo cor-responde a um modelo de pessoa universal, queconstitui um referente tanto para os membros doseu grupo como para os membros do grupodominado. Por outro lado, este mesmo modelode pessoa contribui para uma auto-represen-tao dos membros do grupo dominante, em quea individualidade no incompatvel com umapertena categorial e se exprime com umaaparente naturalidade, ao contrrio do queacontece na representao de si dos membros dogrupo dominado, cuja irregularidade de compor-tamento revela as contradies a que esto sujei-tos. O grupo dominante , alm disso, aqueleque pode manipular os contedos simb-licos, conferindo-lhes um significado universalquando eles servem para salientar a sua distin-tividade, ou um significado categorial quandoservem para salientar as diferenas entre os gru-pos, ao contrrio do grupo dominado, para quemos contedos simblicos assumem uma funoclaramente normativa, que evidencia a externa-lidade da sua condio social.

    c f

    Resumo

    Enquanto conceito, a identidade social refere--se, segundo o modelo de Bristol, a um envolvi-mento emocional e cognitivc :s indivduos : ..eu grutjo de pertena e s c mentes ^ . .1es comportamentais desse envolvimento iioquadro da relao intergrupos. No entanto, omodelo de anlise das relaes de discriminaoentre grupos que conceptualizou a identidadesocial nestes termos limitou-se a estudar rela-es intergrupos vazias de significado social,pelo que o comportamento dos indivduos nes-sas condies no facilmente generalizvel aoutras situaes. Alguns dos pressupostos bsi-cos do modelo de Bristol, como o da procurada identidade social positiva, enquanto regu-lador universal do favoritismo pelo grupo depertena e da discriminao intergrupos, assimcomo o da oposio entre identidade pessoal esocial, remeteram fenmenos de ordem colec-tiva para os nveis de anlise intra-individual,ao salientarem explicaes motivacionais ecognitivas.

    O modelo terico recente que mais se desen-volveu no quadro daqueles pressupostos, a teo-ria da categorizao entre o eu e os outros, deTurner (1987), tem dado origem a estudos sobrea atraco, a coeso de grupo e o conformismo(Hogg e McGarty, 1990), que se situam no nvelde anlise interindividual, enquanto a sua con-tribuio para a anlise dos esteretipos sociaissalienta mais a vertente cognitiva daqueles doque os processos colectivos em queveles seinserem, nomeadamente os que se referem noo de pessoa e sobre os quais se constri aprpria noo de eu.

    Por outro lado, os estudos que integram onvel de anlise ideolgico, e, em especial, aarticulao entre os nveis de anlise interindi-vual, posicionai e ideolgico permitem ques-tionar a oposio entre o individual e o colectivo

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    subjacente que distingue a identidade pessoalda identidade social e a individuao da dis-criminao intergrupos (Lorenzi-Ciold e Doise,1990). Para estes autores precisamente a art-c. '.^o entre r:." 's de ae" - rv-'pede, fina'.

    ..e, concui- .:,_. teor.: . . -c_a;c.ss iait.k''ipos, integre. . . cas contradies anteriores.

    Mostrmos, neste captulo, que as modali-dades das relaes intergrupos podem variar, noplano objectivo, desde um quadro a-histrico eabstracto, ao qual os indivduos s conseguemdar sentido recorrendo a valores culturais,supra-ordenados em relao ao contexto, at aum quadro de relaes intergrupos em que avisibilidade da categoria de pertena perma-nente e evocativa de significados contidos numaideologia colectiv;, que imprimem sentido aoscontextos particulares e onde aquela dimensoestrutural da relao intergrupos interfere com as . conjuntura f. /cfica.

    Ao nvel su, ivo, as modalidades das rela-es intergrupos revelam-se nos significadosassociados s categorias sociais, nos modos deexpresso da identidade social e na relevnciadus contedos categoriais para a comparaosocial no seio do grupo e entre os grupos. Numarelao intergrupos meramente conjuntural, osgrupos constituem realidades concretas face squais os indivduos tm a possibilidade dedefinir modos de estar, cujo sentido delimi-tado pelas fronteiras espaciais e temporais deum contexto intergrupal especfico. Numarelao intergrupos estrutural, no entanto, osgrupos constituem entidades subjectivamenteconstrudas, que renem os seus membros sobum determinado modo de ser, predefinido numuniverso simblico-ideolgico, onde se encon-tram os prprios elementos da construo deuma representao de si, enquanto pessoa, ecujas modalidades elucidam a expresso docomportamento dos indivduos em diferentescontextos.

    ORlGiVALPASTA N