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Direito Constitucional

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

TJPR: 6. Direitos e garantias fundamentais: direito e deveres, individuais e coletivos, direitos

sociais e direito de nacionalidade.

TJRJ: 6. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres, individuais e coletivos, direitos

sociais e direito de nacionalidade.

TJMG: 8. Direitos e garantias fundamentais. Histórico. Conceito e distinção. Classificação.

Garantias constitucionais. Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Segurança. Tutela dos

direitos e deveres individuais, difusos e coletivos. 14. Direitos sociais. Dos direitos dos

trabalhadores. Da associação sindical, suas prerrogativas e poder de representação. Do direito

de greve. 15. Da Nacionalidade. Dos Direitos Políticos. Dos partidos políticos.

TJRS: 6. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres, individuais e coletivos, direitos sociais e direito de nacionalidade.

Direitos Fundamentais – Teoria Geral

1. Defina direitos fundamentais

Direitos fundamentais são o conjunto de estados, situações, relações e/ou posições jurídicas

de vantagem, concernentes às pessoas naturais e jurídicas, dotadas de fundamentalidade material

(circunstância de conterem decisões fundamentais sobre a estrutura do Estado e da sociedade, de

modo especial, porém, no que diz com a posição ocupada nestes pela pessoa humana) que, do

ponto de vista do Direito Constitucional positivo [fundamentalidade formal], foram, expressa ou

implicitamente, integradas à Constituição e retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes

constituídos, bem como todas as posições jurídicas que, por seu conteúdo e significado, possam

lhes ser equiparadas, tendo, ou não, assento na Constituição formal1.

2. O que é a expansividade do catálogo constitucional de direitos fundamentais?

De acordo com o art. 5º, § 2º, CF, os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Esta norma traduz o

entendimento de que, para além do conceito formal de Constituição, há um conceito material, no

sentido de existirem direitos que, por seu conteúdo, por sua substância, pertencem ao corpo

fundamental da Constituição de um Estado, mesmo não constando expressamente no catálogo

originalmente definido pelo constituinte.

Em princípio, com base no entendimento subjacente ao artigo 5º, § 2º da CF, pode-se cogitar

de duas espécies de direitos fundamentais: direitos formal e materialmente fundamentais e direitos

1 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional, 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

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apenas materialmente fundamentais, no sentido de direitos que não estão sediados no texto

constitucional2.

3. Quanto à sua positivação constitucional, como podem ser classificados os direitos

fundamentais?

É possível classificar os direitos fundamentais em dois grandes grupos: a) direitos

expressamente positivados, seja na Constituição, seja em outros diplomas jurídico-normativos de

natureza constitucional; b) direitos implicitamente positivados, no sentido de direitos

fundamentais decorrentes do regime e dos princípios constitucionais ou direitos subentendidos

nas normas de direitos fundamentais expressamente positivadas, em suma, direitos que não

encontram respaldo textual direto, podendo também ser designados de direitos não escritos.

Quanto aos direitos expressamente positivados, é preciso distinguir três subgrupos: a) os

direitos previstos no Título II da CF; b) os direitos sediados noutras partes do texto constitucional;

c) os direitos expressamente consagrados em tratados internacionais de direitos humanos

aprovados pelo rito do art. 5º, § 3º.

4. É viável a existência de direitos fundamentais sediados na legislação

infraconstitucional?

Ingo Sarlet3 defende que ao legislador infraconstitucional cabe, em primeira linha, o papel de

concretizar e regulamentar (eventualmente restringir) os direitos fundamentais positivados na

Constituição, de forma que, inicialmente, tem por inadmissível a criação de direitos materialmente

fundamentais por lei. Entretanto, leciona, ainda, que não parece de todo desarrazoada uma

interpretação de cunho extensivo que venha a admitir uma abertura ao catálogo dos direitos

fundamentais também para posições jurídicas reveladas pela legislação infraconstitucional. Por

sua vez, Jorge Miranda4 defende que existe a possibilidade de direitos fundamentais terem assento

formal em textos legais.

5. É viável a existência de direitos fundamentais sediados em tratados internacionais de

direitos humanos?

Prevalece na doutrina que é possível a existência de direitos fundamentais em qualquer tratado

sobre direitos humanos; ademais, defende-se que existe equiparação (em razão do art. 5º, § 2º, da

CF) entre os direitos humanos localizados em tratados internacionais e os direitos fundamentais

sediados na Constituição. Seria no mínimo questionável o fato de se poder cogitar de direitos

fundamentais de menor estatura normativa, por não estarem, no plano da hierarquia das normas,

ao mesmo nível dos direitos fundamentais positivados no texto constitucional ou mesmo dos

direitos implicitamente positivos ou decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Lei

Fundamental.

A despeito das manifestações doutrinárias, o STF, no julgamento do RE 466.343/SP, afastou

a hierarquia constitucional dos tratados internacionais. Embora alguns ministros tenham votado

em favor da hierarquia constitucional, esta foi afastada, em parte em virtude do argumento de que

tal hierarquia levaria a um indesejável e incontrolável processo de ampliação do bloco de

constitucionalidade, além do problema da adequada definição de quais são realmente os tratados

2 Ibid. 3 Ibid. 4 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. t. 6. Coimbra: Coimbra Editora, 2013.

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de direitos humanos e do que terá hierarquia constitucional – todo o tratado, ou apenas as

definições que consagram direitos. Onde também restou mantida a tese de que tratados, no

ordenamento interno, poderão ser declarados inconstitucionais, de modo que para tanto não

podem ter hierarquia igual à da Constituição. Assim, de acordo com o entendimento do STF, a

hierarquia dos tratados de direitos humanos na ordem jurídica interna brasileira é diferenciada de

acordo com a forma de incorporação – os tratados incorporados antes da inserção do § 3º ao artigo

5º possuem hierarquia supralegal, prevalecendo sobre qualquer norma infraconstitucional interna,

mas cedendo face à CF; por sua vez, os tratados aprovados pelo Congresso Nacional em dois

turnos de votação por 3/5 dos membros possuem hierarquia e força normativa equivalentes às

emendas constitucionais.

6. O que significa falar de direitos fundamentais como direitos subjetivos?

Quando nos referimos aos direitos fundamentais como direitos subjetivos, temos em mente a

noção de que ao titular de um direito fundamental é aberta a possibilidade de impor judicialmente

seus interesses juridicamente tutelados perante o destinatário.

Em princípio, pode integrar um direito fundamental na condição de direito subjetivo: a)

direitos a qualquer coisa (englobam os direitos a ações negativas e positivas do Estado ou

particulares e, portanto, os clássicos direitos defesa e os direitos a prestações); b) liberdades (no

sentido de negação de exigências e proibições); c) poderes (competências ou autorizações)5.

7. O que é a dimensão objetiva dos direitos fundamentais?

A dimensão objetiva dos direitos fundamentais significa que às normas que preveem direitos

subjetivos é outorgada uma função autônoma que transcende a perspectiva subjetiva, implicando,

além disso, o reconhecimento de conteúdos normativos e, portanto, de funções distintas aos

direitos fundamentais. Assim, representam decisões valorativas de natureza jurídico-objetiva da

Constituição, que se projetam em todo o ordenamento jurídico6.

Como um dos mais importantes desdobramentos da força jurídica objetiva dos direitos

fundamentais, costuma apontar-se para o que boa parte da doutrina e da jurisprudência

constitucional na Alemanha denominou de eficácia irradiante ou de efeito de irradiação dos

direitos fundamentais, no sentido de que estes, na sua condição de direito objetivo, fornecem

impulsos e diretrizes para aplicação e interpretação do direito infraconstitucional, implicando uma

interpretação conforme aos direitos fundamentais de todo o ordenamento jurídico

(constitucionalização do direito)7.

8. Pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos fundamentais?

A Constituição não outorga explicitamente às pessoas jurídicas a titularidade de direitos

fundamentais. Contudo, majoritariamente, a doutrina e jurisprudência defendem que pessoas

jurídicas podem ser titulares de direitos fundamentais, notadamente aqueles que são compatíveis

5 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008. 6 SARLET, op. cit. 7 SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2014.

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com a estrutura e finalidade do ente em comento (v.g. direito contra a não dissolução

compulsória8.

9. Pessoas jurídicas de direito público podem ser titulares de direitos fundamentais?

Ainda que os direitos fundamentais tenham sido inicialmente arquitetados para salvaguardar

os indivíduos em face do Estado, a feição atual pluralista dos direitos fundamentais permite que

– excepcionalmente – pessoas jurídicas de direito público sejam titulares de direitos fundamentais

(v.g. a União tem direito ao devido processo legal).

10. Pessoas naturais podem ser destinatárias de direitos fundamentais?

Além dos órgãos estatais, também os particulares, na condição de destinatários, estão sujeitos

à força vinculante dos direitos fundamentais, temática habitualmente versada sob o rótulo da

constitucionalização do direito privado ou, de modo mais preciso, da eficácia dos direitos

fundamentais na esfera das relações privadas9.

Ainda que exista controvérsia na doutrina e jurisprudência, é aceita a aplicabilidade dos

direitos fundamentais nas relações privadas. O que mais se discute é a forma de aplicação. Isto é,

como deve ocorrer a incidência dos direitos fundamentais – se de forma direta (imediata) ou

indireta (mediata). Ressaltando que há certas hipóteses em que a própria Constituição elenca casos

de aplicação direta dos direitos.

Constata-se que no direito constitucional brasileiro tem prevalecido a tese de que, em

princípio, os direitos fundamentais geram uma eficácia direta prima facie na esfera das relações

privadas, sem se deixar de reconhecer, todavia, que o modo pelo qual se opera aplicação dos

direitos fundamentais às relações jurídicas entre particulares não é uniforme, reclamando soluções

diferenciadas conforme o caso concreto em análise10.

11. O art. 5º, § 1º, da CF estabelece que as normas definidoras de direitos e garantias

fundamentais têm aplicação imediata. O que efetivamente significa essa aplicação

imediata?

Ingo Sarlet11 leciona que, basicamente, o art. 5º, § 1º, da CF representa: a) possibilidade de

extração de um dever de maximização (otimização) da eficácia e efetividade das normas de

direitos fundamentais, bem como uma regra impositiva de um dever de aplicação imediata de tais

normas, em dimensões que não se excluem; b) exclusão do caráter meramente programático das

normas de direitos fundamentais; c) presunção de eficácia plena, de forma que a ausência de lei

não poderá, em regra, operar como elemento impeditivo da aplicação da norma de direito

fundamental; d) a eficácia e aplicabilidade que de fato cada norma de direito fundamental

apresenta irão depender do exame de cada direito fundamental e das diversas posições jurídicas

que o integram, sejam de cunho negativo (defensivo), sejam de cunho positivo (prestacional); e)

a própria Constituição pode excepcionar normas de aplicabilidade imediata, ou eficácia plena

(v.g. que o trabalho seja livre, desde que atendidas as condições da lei.

8 NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. 9 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. 10 SARLET, op. cit. 11 Ibid.

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12. O que é o suporte fático de um direito fundamental?

O suporte fático deve ser compreendido como o conjunto das condições necessárias e

suficientes para que a consequência do preenchimento do antecedente fático de uma norma

jurídica ocorra12. Para que uma norma produza a(s) sua(s) consequência(s) jurídica(s), é preciso

que todas as suas condições sejam satisfeitas; o suporte fático de uma norma é, portanto, o

conjunto de condições que, quando preenchidas, autorizam a realização das consequências

jurídicas da norma13.

13. Quais são os elementos do suporte fático de um direito fundamental?

De acordo com Virgílio Afonso da Silva14, em adoção de um teoria ampla do suporte fático,

os elementos são: a) âmbito de incidência (aquilo que é protegido); b) intervenção (contra o quê

se protege); e, c) a (in)existência de fundamentação constitucional para a intervenção no âmbito

de proteção.

14. Em que consiste a teoria interna do âmbito de proteção?

Segundo a teoria interna, o direito fundamental existe desde sempre com seu conteúdo

determinado, afirmando-se mesmo que o direito já “nasce” com os seus limites. Neste sentido,

fala-se na existência de “limites imanentes”, que consistem em fronteiras implícitas, de natureza

apriorística. Assim, para a teoria interna, o processo de definição dos limites do direito é algo

interno a ele. Por outro lado, a ausência, por parte da teoria interna, de separação entre o âmbito

de proteção e os limites dos direitos fundamentais permite que sejam incluídas considerações

relativas a outros bens dignos de proteção (por exemplo, interesses coletivos ou estatais) no

próprio âmbito de proteção destes direitos, o que aumenta o risco de restrições arbitrárias da

liberdade15.

15. Em que consiste a teoria interna do âmbito de proteção?

A teoria externa distingue os direitos fundamentais das restrições a eles eventualmente

impostas, daí a necessidade de um precisa identificação dos contornos de cada direito. Ao

contrário da teoria interna, que pressupõe a existência de apenas um objeto e seus limites

(imanentes), a teoria externa divide este objeto em dois: há, em primeiro lugar, o direito em si, e,

destacadas dele, as suas intervenções. Assim, existem inicialmente um direito em si, ilimitado,

que, mediante a imposição de eventuais intervenções, se converte em um direito limitado16.

Tal construção parte do pressuposto de que existe uma distinção entre posição prima facie e

posição definitiva, a primeira correspondendo ao direito antes de sua limitação, a segunda

12 Marcelo Neves denomina este extrato da teoria da norma jurídica como “suporte fático abstrato” ou “hipótese normativa do fato”. Cf. NEVES, Marcelo. Entre Hidra e Hércules: princípios e regras constitucionais como diferença paradoxal do sistema jurídico. São Paulo: Martins Fontes, 2019. 13 ALEXY, op. cit. 14 SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos Fundamentais: conteúdo essencial, restrições e eficácia. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. 15 SARLET, op. cit. 16 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

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equivalente ao direito já limitado. Tal distinção, contudo, não afasta a possibilidade de direitos

sem restrições, visto não haver uma relação necessária entre o conceito de direito e o de restrição,

sendo tal relação estabelecida pela necessidade de compatibilizar diferentes bens jurídicos. Nesta

perspectiva, as limitações impostas a estes direitos deverão observar, por sua vez, outros limites,

que têm sido designados de limites dos limites17.

16. O que são limites aos direitos fundamentais?

Limites aos direitos fundamentais podem ser definidos como ações ou omissões dos poderes

públicos ou de particulares que dificultem, reduzam ou eliminem o acesso ao bem jurídico

protegido, afetando o seu exercício (aspecto subjetivo) e/ou diminuindo deveres estatais de

garantia e promoção (aspecto objetivo) que resultem dos direitos fundamentais18.

17. Existem limites aos limites dos direitos fundamentais? Se não, justifique; se sim,

exemplifique

Sim, existem limites aos limites. Eventuais limitações aos direitos fundamentais somente serão tidas como justificadas se guardarem compatibilidade formal e material com a Constituição. Sob perspectiva formal, parte-se da posição de primazia ocupada pela Constituição na estrutura do ordenamento jurídico, no sentido de que suas normas, qualidade de decisões do poder constituinte, representam atos de autovinculação fundamental-democrática que encabeçam a hierarquia normativa imanente ao sistema. No que diz com o viés material, parte-se da premissa de que a Constituição não se restringe a regulamentar formalmente uma série de competências, mas estabelece, paralelamente, uma ordem de princípios substanciais, calcados essencialmente nos valores da dignidade da pessoa humana e na proteção dos direitos fundamentais que lhe são inerentes19.

Como exemplo é possível falar do “núcleo essencial” de um direito fundamental, que trata

daquela conjunto mais básico de posições que não podem ser afetadas por limitações ao âmbito

de incidência. Há de se falar também do mínimo existencial como um limite ao limite de

restrição20.

18. Como estão positivamente classificados os direitos fundamentais na Constituição

Federal?

Eles estão classificados no texto constitucional em: a) direitos individuais e coletivos; b) direitos sociais; c) direitos de nacionalidade; d) direitos políticos; e, e) direitos de organização em

partidos políticos.

19. Como se classificam os direitos fundamentais de acordo com a teoria das

gerações/dimensões?

Esta concepção se baseia na formação/concretização histórica dos direitos fundamentais e os

divide, tradicionalmente em três gerações: a) primeira geração (direitos civis e políticos; vistos

como situações jurídicas ativas de resistência das pessoas em face do Estado); b) segunda

17 SILVA, op. cit. 18 SARLET, op. cit. 19 SARLET, op. cit. 20 MENDES; BRANCO, op. cit.

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geração (direitos sociais, culturais e econômicos; conferem ao titular a aptidão para demandar

prestações positivas do Estado, com a finalidade de atingir patamares de concretização da

igualdade); c) terceira geração (ligados ao vetor solidariedade/fraternidade, promove-se

consolidação de posições jurídicas difusas/coletivas, fala-se em direito ao desenvolvimento, à paz,

meio ambiente, comunicação etc.21).

Com o avanço da Globalização, Bonavides antecipa uma exigência normativa de

universalização dos direitos fundamentais para além do campo estatal, conectando-os a elementos

essenciais para a formação de uma sociedade aberta do futuro. Por isso mesmo, enuncia como

direitos de quarta geração (dimensão), o direito à democracia, o direito à informação e o direito

ao pluralismo22. Em síntese, diz-se que tais direitos alicerçam o futuro da cidadania e da liberdade de todos os povos em uma era de globalização político-econômica. É bom que se diga que, alguns

autores, reconhecem também na quarta geração (dimensão) o direito contra manipulações genéticas, o direito à mudança de sexo, ou seja, direitos relacionados à biotecnologia.

Acontece que já existem autores defendendo (ou pelo menos explicitando) uma quinta

geração de direitos, com múltiplas interpretações e concepções. Um deles é o próprio Bonavides

que acaba visualizando a “paz” como um direito de quinta geração (dimensão).

20. Como se classificam os direitos fundamentais em relação à sua função?

Eles podem ser classificados como: a) direitos de defesa (impõem abstenções ao Estado;

esferas individuais de proteção inatingíveis pelo poder público); b) de prestação (determinam

condutas positivas do Estado, para conferir – em regra – igualdade aos indivíduos); e, c) direitos

de participação (conferem ao titular a capacidade influenciar ativamente na formação da vontade

política do Estado e da sociedade)23.

É importante asseverar que um mesmo direito pode apresentar várias destas feições, de forma

que não há classificação estanque entre eles: um direito pode, numa perspectiva, impedir atuação

do Estado; noutra, determinar prestações positivas do poder público; e, ainda, demonstrar-se

como efetivação na participação de vontade do ser maior24. É o exemplo do direito ao voto: a)

impede que o Estado interfira nas escolhas do sufrágio; b) impõe os custos estatais com a

realização de eleições periódicas; e, c) ao cabo, se mostra como instrumento de consolidação da

vontade social.

21. Quais são as características dos direitos fundamentais?

A doutrina apresenta muitas características para os direitos fundamentais em geral, entre elas:

a) relatividade (os direitos fundamentais não podem ser entendidos como “absolutos”; os direitos

fundamentais também encontram limites na ordem jurídica); b) imprescritibilidade (não se

perde a titularidade de um direito fundamental pelo simples decurso do tempo, malgrado certas

repercussões econômicas possam ser afetadas – primordialmente em função do caráter relativo

deles); c) inalienabilidade (é inviável alienação irrestrita dos direitos fundamentais – certos

direitos admitem disposição, vetorizada por parâmetros jurídicos [v.g. posso ceder o direito à

21 VELOSO, Carlos Mário da Silva. A evolução da interpretação dos direitos fundamentais no Supremo Tribunal Federal. In: SAMPAIO, José Adércio Leite (coord.). Jurisdição constitucional e direitos fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. 22 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. 23 FERNANDES, op. cit. 24 HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. The Cost of Rights: why liberty depends o taxes. New York: W.W. Norton & Company, 1999.

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minha imagem, intimidade e liberdade de locomoção ao participar de reality show]); d)

irrenunciabilidade (a renúncia é uma espécie de disposição que também pode ser submetida a

limitações no que tange aos direitos fundamentais); e) inviolabilidade (não podem ser violados

por atos do Poder Público, sob pena de nulidade e nem mesmo por particulares na ótica da

aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas); f) universalidade (reconhece-se

como seu titular toda a coletividade jurídica); g) efetividade (o Poder Público em suas ações deve

sempre se voltar para o cumprimento dos direitos fundamentais); h) interdependência (direitos

fundamentais não podem ser vistos como elementos isolados, mas sim como um todo [bloco] que

apresenta interpenetrações e coligações); i) complementaridade (demandam um esforço de

conjugação em um só sistema de direitos coerentemente integrado); j) historicidade (são o

resultado de um processo histórico que conduz à sua afirmação e consolidação)25.

Direitos Fundamentais em Espécie

22. Qual o âmbito de proteção do direito à vida?

O conceito de vida, para fins de proteção constitucional, está relacionado à existência física

do ser humano. A inviolabilidade do direito à vida assegurada pela Constituição não se refere,

portanto, a toda e, qualquer forma de existência, mas tão somente à vida humana em seu sentido

biológico proteção, que começa antes mesmo do nascimento e termina com a morte26.

O direito à vida possui dupla acepção. Em sua acepção negativa, consiste no direito assegurado

a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo. A acepção positiva é associada ao direito à

existência digna, no sentido de ser assegurado ao indivíduo o acesso a bens e utilidades

indispensáveis para uma vida em condições minimamente dignas.

23. O direito à vida pode sofrer restrições?

Na Constituição de 1988, única restrição expressamente prevista. Há, no entanto, outras

hipóteses de intervenções que, apesar de não terem previsão expressa, são consideradas legítimas

por encontrarem justificação em princípios de hierarquia constitucional (cláusula de reserva

implícita), como, por exemplo: a) questões penais que atingem a imposição de pena para quem

comete delitos contra a vida (legítima defesa, estado de necessidade, aborto necessário etc.); b) utilização de células-tronco embrionárias para fins terapêuticos e de pesquisa27; c) atipicidade do

aborto de feto anencefálico28.

24. É lícito ao indivíduo alienar próprios órgãos ou membros em vida?

O art. 199, § 4°, da Constituição de 1988 dota de licitude a alienação a título gratuito, deixando

a cargo da legislação infraconstitucional a definição de condições e de requisitos para remoção

de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplantes. Mesmo assim, somente poderá

ser doado in vida para fins de transplante dos órgãos em duplicidade (rins, pulmão etc.) e de partes

de órgãos e tecidos, cuja retirada não impeça a manutenção da vida do indivíduo doador29.

25 FERNANDES, op. cit. 26 NOVELINO, op. cit. 27 ADPF nº 3.510/DF. 28 ADFP 54/DF. 29 FERNANDES, op. cit.

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25. Em que consiste a igualdade sob uma ótica constitucional?

A igualdade se configura como uma eficácia transcendente, de modo que toda situação de

desigualdade persistente à entrada em vigor da norma constitucional deve ser considerada não

recepcionada, se não demonstrar compatibilidade com os valores que a Constituição proclama.

Ela opera em dois planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio executivo, na

edição atos normativos, impedindo que possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a

pessoas que encontram-se em situações idênticas. Em outro plano, na obrigatoriedade ao

intérprete de aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de

diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça, classe social

etc30.

26. O que é a dimensão objetiva da igualdade constitucional?

Em sua dimensão objetiva, a igualdade pode ser compreendida como princípio material

estruturante do Estado brasileiro a impor aos poderes públicos deveres de naturezas distintas: I)

o de caráter negativo, os impede de estabelecer diferenciações injustificadas, odiosas ou

preconceituosas (proibição de arbítrio); e, II) o de caráter positivo, impõe tanto (II.a) a adoção de

tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais como medida de justiça, quanto (II.b)

a adoção de medidas voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais31.

27. A publicização de dados sensíveis através das certidões dos registros públicos pode ser

considerada uma intervenção no âmbito de proteção do direito fundamental à

privacidade?

Sim, entretanto, é uma intervenção legítima, sendo considerada como restrição válida à

pretensão prima facie de direito fundamental32. A privacidade congloba principalmente os direitos

à intimidade, vida privada, honra e imagem; os dados sensíveis podem afetar o âmbito de proteção

tutelado por estas normas, contudo, visto que os direitos fundamentais não são absolutos, esta

publicização de informações é balizada com a finalidade de concretizar outras normas

fundamentais, especialmente aquelas axiologicamente relacionadas à segurança jurídica33.

28. O direito à intimidade permite que seu titular proíba a publicação de biografias não

autorizadas sobre a sua própria pessoa?

Não. Conforme ficou assentado no julgamento da ADI 4.815/DF, que promoveu interpretação

conforme à Constituição dos arts. 20 e 21 do Código Civil, que o direito de informação,

constitucionalmente garantido, contém a liberdade de informar, de se informar e de ser informado; a biografia é vista como expressão da história e, assim, exigir autorização prévia para biografia

constitui censura prévia particular. Isto é, declarou-se inexigível autorização de pessoa biografada

relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária

autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas

falecidas ou ausentes).

30 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2016. 31 NOVELINO, op. cit. 32 Para uma melhor concepção acerca do âmbito de proteção e da intervenção como elementos do suporte fático dos direitos fundamentais, confira: SILVA, op. cit. 33 Um reforço argumentativo possível é dizer que há previsão deste tratamento de dados no art. 23, § 4º, da Lei Geral de Proteção de Dados.

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29. Em que consiste o direito à liberdade?

A liberdade jurídica é uma relação triádica, que envolve: a) o sujeito titular de uma liberdade

(ou, ao revés, de uma não-liberdade); b) um obstáculo à realização da liberdade; e, c) um objeto

de liberdade (alternativa de ação). Assim, a liberdade jurídica pode ser enunciada da seguinte

forma: x é livre (ou, não-livre) de y para fazer (ou não fazer) z; nesta formulação, x representa o

titular da liberdade (ou falta dela), y simboliza o obstáculo à liberdade e z traduz a ação cuja

realização (ou não-realização) é o objeto da própria liberdade jurídica. Está-se diante de uma

liberdade jurídica se tanto a ação quanto a omissão correspondente são permitidas. Esta permissão

pode ser veiculada por enunciado normativo expresso ou, em contrapartida, decorrer

fundamentadamente de proposição jurídica que se escore na inexistência de normas mandatórias

ou proibitivas sobre o âmbito de incidência analisado34.

30. A liberdade de culto permite que um tabelião coloque em local visível do cartório um

crucifixo da religião cristã?

Aqui não existe uma resposta certa, entretanto, é preciso que sejam abordadas duas

significações constitucionais que se confrontam antes do ingresso da proposição jurídica

definitiva no sistema. Por um lado, o dever de neutralidade do Estado (reconstruído com suporte

textual no art. 19, inciso I, da Constituição), aponta no sentido de que quem exerce poder público

(a exemplo dos delegatários) o faça apartado de um ambiente religioso, de modo que o Estado

não reflita escolhas desta estirpe dos seus agentes. Por outro lado, os agentes delegados são

titulares também da liberdade religiosa e, desde que a promovam sem discriminação exógena,

podem explicitar estas escolhas num ambiente privado, conquanto sujeito ao serviço público. Há

suportes jurídicos capazes de fundamentar tanto a resposta negativa quanto a positiva, os

contornos fáticos é que expressarão a consequência de uma conduta como esta35.

31. Lei federal pode condicionar o exercício da profissão de músico ao prévio registro no

órgão competente?

Não. As limitações ao livre exercício das profissões serão legítimas apenas quando o

inadequado exercício de determinada atividade possa vir a causar danos a terceiros e desde que

obedeçam a critérios de adequação e razoabilidade, o que não ocorre em relação ao exercício da

profissão de músico, ausente qualquer interesse público na sua restrição (ADPF 183).

Direitos Sociais

34 ALEXY, op. cit. 35 A presença de crucifixos nas dependências do Poder Judiciário foi questionada perante o Conselho Nacional de Justiça, por meio de quatro pedidos de providência (1.344, 1.345, 1.346 e 1.362). Com o argumento de que em um estado laico deve haver uma separação entre o privado e o público, sendo inadmissíveis, neste âmbito, demonstrações pessoais como o uso de símbolos religiosos, o relator votou a favor da retirada de tais símbolos das dependências do Judiciário. No entanto, todos os demais membros presentes no plenário entenderam que os crucifixos são "símbolos da cultura brasileira" e não interferem na imparcialidade e universalidade do Poder Judiciário, votando pelo indeferimento do pedido de retirada. Assim, o órgão considerou que a exposição dos símbolos religiosos nas dependências do Poder Judiciário, enquanto prática cultural e costumeira, não contraria nenhum dispositivo legal nem viola direitos ou discrimina os indivíduos, razão pela qual os tribunais possuem autonomia administrativa para decidir a respeito do assunto (NOVELINO, op. cit.).

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32. As normas de direitos sociais ostentam caráter meramente programático?

Não. Os direitos sociais podem ser compreendidos como direitos subjetivos, conquanto numas

perspectiva prima facie. No contexto constitucional contemporâneo, a controvérsia não gira em

torno da possibilidade de adjudicação, mas dos limites a serem observados por órgãos judiciais

quando da implementação desses direitos36.

33. O que é a reserva do possível em correlação com a efetivação dos direitos sociais?

A reserva do possível pode ser compreendida como uma limitação fática e jurídica oponível,

ainda que de forma relativa, à realização dos direitos fundamentais, sobretudo, os de cunho

prestacional. A expressão foi difundida a partir da decisão paradigmática proferida pelo Tribunal

Constitucional Federal da Alemanha em 1972, quando se discutiu o direito de acesso gratuito ao

ensino superior, cujo número de vagas era menor que o de candidatos (Caso numerus clausus).

Este limite deve ser analisado sob uma tríplice dimensão, que engloba: a) efetiva

disponibilidade fática dos recursos; b) disponibilidade jurídica sobre os recursos necessários; e,

c) razoabilidade da prestação37. O primeiro critério decorre da realidade econômica do

destinatário do dever fundamental. A disponibilidade jurídica destes recursos guarda íntima

conexão com a distribuição das receitas e competências tributárias, orçamentárias, legislativas e

administrativas. O terceiro parâmetro versa sobre a razoabilidade da exigência que o Estado eleja

a prestação de concurso como uma prioridade sobre outros assuntos democraticamente legítimos.

A razoabilidade é um exame de compatibilidade entre meio empregado e os fins perseguidos,

correspondendo à adequação como sub-regra da proporcionalidade.

34. Em que consiste o mínimo existencial relacionado aos direitos sociais?

A expressão mínimo existencial surgiu na Alemanha, em uma decisão do Tribunal Federal

Administrativo de 1953, sendo posteriormente incorporada na jurisprudência do Tribunal Federal

Constitucional daquele país. Deduzido a partir dos princípios da dignidade da pessoa humana, da

liberdade material e do Estado Social o termo designa um conjunto de bens e utilidades básicas

imprescindíveis a uma vida humana digna.

A possibilidade de se invocar a reserva do possível em relação aos direitos sociais que

compõem o mínimo existencial não encontra resposta homogênea na doutrina. De um lado, há

quem defenda não existir um direito definitivo ao mínimo existencial, mas sim a, necessidade de

um ônus argumentativo pelo Estado tanto maior quanto mais indispensável for o direito postulado.

De outro, há quem atribua caráter absoluto ao mínimo existencial, não o sujeitando à reserva do

possível38.

35. O que é a vedação ao retrocesso dos direitos sociais?

Também chamado de efeito cliquet, trata-se de limite material implícito, de forma que os

direitos fundamentais sociais já constitucionalmente assegurados e que alcançaram um grau de

36 NOVELINO, op. cit. 37 SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: algumas aproximações. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 24, jul. 2008. 38 RE 482.611/SC.

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densidade normativa adequado não poderão ser suprimidos por ato normativo posterior, a não ser

que se tenha prestações alternativas para os direitos em questão39.

Possui conteúdo negativo e positivo. O negativo refere-se à imposição ao legislador de, ao

elaborar os atos normativos, respeitar a não supressão ou a não redução do grau de densidade

normativa que os direitos fundamentais sociais já tenham alcançado por meio da normatividade

constitucional e infraconstitucional, salvo se forem desenvolvidas prestações alternativas para de

forma supletiva resguardarem direitos sociais já consolidados. Já o conteúdo positivo encontra-

se no dever dos Poderes Públicos de implementação dos direitos sociais através de efetiva

concretização dos direitos fundamentais sociais, para a constante redução das desigualdades

fático-sociais40.

36. É viável que ato normativo distinto de lei fixe o valor do salário mínimo?

O STF constitucional a veiculação dos valores por decreto quando, inexistente qualquer

margem de discricionariedade para a apuração do quantum, o ato regulamentar se restringir à

aplicação de critérios objetivos legalmente estabelecidos pelo Congresso Nacional41.

37. Os sindicatos precisam de autorização estatal para sua fundação?

Não. De acordo como art. 8º, inciso I, da CF: a lei não poderá exigir autorização do Estado

para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder

Público a interferência e a intervenção na organização sindical.

38. O que é a unicidade sindical?

A liberdade de fundação do sindicato é restringida pela unicidade sindical, sendo vedada

expressamente a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa

de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, a qual não pode ser inferior à

área de um Município.

39. Em que consiste o direito de greve?

A greve consiste em direito de autodefesa assegurado aos trabalhadores como meio de defesa

de certos interesses e de pressão em face do maior poder do empregador. O direito pode ser

exercido independentemente de regulamentação legal, cabendo-lhes decidir sobre a oportunidade

de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. O direito de greve pode ser

exercido pacificamente de variadas formas. Além do meio mais usual, consistente em não trabalhar, pode haver trabalho em ritmo lento ("operação tartaruga"), em período inferior à

jornada de trabalho, piquetes ou passeatas42.

Nacionalidade

40. Quais são os critérios de determinação da nacionalidade?

39 FERNANDES, op. cit. 40 Ibid. 41 ADl nº 4.568/DF. 42 NOVELINO, op. cit.

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Os critérios de determinação da nacionalidade variam entre jus soli, que considera nacional o

indivíduo nascido em território específico, seja qual for sua ascendência, e jus sanguinis, que

prioriza a filiação, os laços familiares.

41. Quem são os brasileiros natos?

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que

estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe

brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os

nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em

repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem,

em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.

42. Quais são os caros privativos brasileiros natos?

De acordo com o art. 12, § 3º, são privativos de brasileiro nato os cargos: I) de Presidente e

Vice-Presidente da República; II) de Presidente da Câmara dos Deputados; III) de Presidente do

Senado Federal; IV) de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V) da carreira diplomática; VI)

de oficial das Forças Armadas. VII) de Ministro de Estado da Defesa (EC 23/99).

Além do mais, o art. 89, inciso VII, da CF, prevê que seis membros do Conselho da República

serão escolhidos entre brasileiros natos.

O texto constitucional também impõe restrições em relação à propriedade de empresas

jornalísticas e de radiodifusão, que são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de

dez anos (art. 222, CF). Trata-se de previsão que objetiva garantir o controle e o domínio sobre

um setor considerado estratégico.

43. Em quais hipóteses um brasileiro pode perder a nacionalidade?

De acordo com o art. 12, § 4º, CF, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao

interesse nacional; II) adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de

nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma

estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em

seu território ou para o exercício de direitos civis;

A perda na nacionalidade poder atingir tanto o brasileiro nato como o naturalizado. A perda

somente pode ocorrer, nesta modalidade, quando a aquisição da outra nacionalidade decorrer de

conduta ativa do brasileiro (v.g., preencher formulário requisitando nacionalidade do país), não

sendo legítima a perda quando a nacionalidade estrangeira advier de conduta meramente inerte.

44. Em quais hipóteses um brasileiro pode ser extraditado?

De acordo com o art. 5º, inciso, LI, da CF, nenhum brasileiro será extraditado, salvo o

naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado

envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.

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A Constituição de 1988 não admite, em hipótese nenhuma, a extradição de brasileiro nato,

nem mesmo quando o extraditando é também nacional do Estado requerente.

A extradição de brasileiro naturalizado é admitida em duas hipóteses: I) nos casos de crime

comum praticado antes da naturalização; ou II) quando for comprovado envolvimento com tráfico

ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da Lei, independentemente de o crime ter sido

praticado antes ou depois da naturalização.

45. O Brasil pode extraditar um indivíduo estrangeiro pelo cometimento de crime político?

➔ A Constituição veda a extradição – mesmo de estrangeiro – quando o crime praticado for

político ou de opinião (Art. 5º, inciso LII, da CF).

Direitos Políticos e Partidos Políticos

46. O que são os direitos políticos?

Os direitos políticos são entendidos como um conjunto de regras que disciplina o exercício da

soberania popular. Nesse sentido, é um grupo de normas que envolvem a participação dos

indivíduos (cidadãos) nos processos de poder, ou seja, nas tomadas de decisões que envolvem a

vida pública do Estado e da sociedade. Esses direitos instrumentalizam a condição da cidadania

ativa enquanto meio de participação nos processos de formação do poder no Estado e na

sociedade, viabilizando o que podemos chamar de exercício da democracia participativa em um

Estado Democrático de Direito43.

47. Quais são as espécies de direitos políticos previstos no ordenamento constitucional

brasileiro?

a) direito de sufrágio (direito de votar e ser votado) com seus correlatos de alistabilidade

(direito de votar em eleições, plebiscitos e referendos) e elegibilidade (direito de ser votado); b)

iniciativa popular de lei; c) ação popular; d) direito de organização e participação de partidos

políticos44.

48. O que é o direito ao sufrágio?

É conceituado como direito público subjetivo de natureza política de elegermos e sermos

eleitos, ou seja, o direito de votarmos (alistabilidade) e sermos votados (elegibilidade), participando assim da vida política do Estado e da sociedade. Ele é considerado o núcleo dos

direitos políticos na medida em que, é a partir dele que nós viabilizamos o exercício da soberania

popular, que em nossa democracia semidireta (que também deve ser entendida como

participativa) é exercida, em regra, por meio da escolha de nossos representantes (parte da

democracia indireta de cunho representativo) e por meio de alguns institutos diretamente nos

termos da Constituição (institutos como o plebiscito e o referendo. Estes, inclusive, só podem ser

exercidos por quem detém o direito de sufrágio)45.

43 FERNANDES, op. cit. 44 Ibid. 45 Ibid.

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49. Em que consiste a inelegibilidade?

É um óbice jurídico à capacidade eleitoral passiva (aptidão para ser votado): impede-se que

um sujeito postule o exercício de algum cargo que demande eleição.

50. Quem é abarcado pela inelegibilidade reflexa?

A inelegibilidade em razão do parentesco torna inelegíveis no território de jurisdição do Chefe

do Poder Executivo o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por

adoção, salvo quando estes já forem detentores de mandato eletivo e candidatos à reeleição.

51. A inelegibilidade reflexa abrange os filhos socioafetivos ainda não registrados nesta

situação?

Sim. Tendo em vista que o escopo da vedação é impedir a manutenção indevida do poder

estatal num restrito grupo familiar, esta hipótese de inelegibilidade reflexa atinge também os

“filhos de criação”, como forma de interpretação extensiva do conceito “adoção”46.

52. O divórcio afasta a situação de inelegibilidade reflexa?

Não. De acordo com a Súmula Vinculante 18 do STF, dissolução da sociedade ou do vínculo

conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da

Constituição Federal.

53. Quais são as hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos?

As hipóteses estão previstas no art. 15 da Constituição Federal: I - cancelamento da

naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação

criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação

a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade

administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

54. Parlamentares federais têm seus direitos políticos suspensos no caso de condenação

criminal transitada em julgado?

Existem duas posições no STF acerca deste tema: a) depende – se o parlamentar for

condenado a mais de 120 dias em regime fechado, a perda do cargo será uma consequência lógica

da condenação (neste caso, caberá à Mesa da do órgão apenas declarar que houve a perda [sem

poder discordar da decisão do STF], nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88), por sua vez, se o

parlamentar for condenado a uma pena em regime aberto ou semiaberto: a condenação criminal

não gera a perda automática do cargo (o Plenário deliberará [art. 55, § 2º, da CF/88] se o

condenado deverá ou não perder o mandato); b) não – a perda não é automática, a Casa é

deliberará, o STF apenas comunica à Mesa informando sobre a condenação do parlamentar (a

Mesa irá decidir como entender de direito se o parlamentar perderá ou não o mandato eletivo)47.

46 Respe 5.410.103/PI. 47 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:

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55. O que é a norma da anterioridade/anualidade da legislação eleitoral?

Com suporte textual no art. 16, da Constituição, impõe que as regras e princípios que alterarem

o processo eleitoral entrarão em vigor com a publicação, entretanto, estas normas somente

produzirão fatos jurídicos eficazes às eleições que ocorrerem pelo menos um ano antes da

publicação do ato normativo.

56. Quais são os requisitos para que um partido político tenha direito a recursos do fundo

partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão?

De acordo com o art. 18, § 3º, da CF, somente terão direito a recursos do fundo partidário e

acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:

I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos

votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo

de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou II - tiverem elegido pelo menos

quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.

57. Para a proteção de seus congressistas, pode um partido político valer-se de organização

paramilitar?

Não. O próprio texto constitucional veda expressamente o uso de organizações paramilitares

pelos partidos políticos (art. 18, § 4º, CF).

Ações Constitucionais

58. Quais são os requisitos para a propositura de mandado de segurança?

a) conduta (comissiva ou omissiva) de autoridade pública ou de quem esteja em exercício de

função pública; b) ilegalidade ou abuso de poder; c) lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e

certo; d) não cabimento de habeas corpus ou habeas data.

59. O que é direito líquido e certo?

O direito líquido e certo é justamente aquele direito cuja existência e delimitação são claras e

passíveis de demonstração documental; é aquele que pode ser testificado mediante prova pré-

constituída48.

60. É possível que se discuta constitucionalidade de ato normativo em mandado de

segurança?

A despeito da Súmula nº 266 do STF49, é possível a discussão de (in)constitucionalidade em

mandado de segurança, desde que ela seja questão incidental na demanda. Ademais, é até mesmo

<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9715d04413f296eaf3c30c47cec3daa6>. Acesso em: 16 maio 2020. 48 BUENO, Cassio Scarpinella. Mandado de Segurança. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 49 Não cabe mandado de segurança contra lei em tese

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possível que parlamentar proponha ação de mandado de segurança para obstar o trâmite de projeto

de lei que fira cláusulas do devido processo legislativo.

61. É cabível mandado de segurança para se realizar cobrança de salários atrasados?

De acordo com a súmula nº 269 STF, o mandado de segurança não pode ser substitutivo de

ação de cobrança. Porém, já decidiu o STF que cabe mandado de segurança contra ato do Ministro

da Defesa que não efetua o pagamento dos valores atrasados decorrentes da reparação econômica

devida a anistiado político (art. 8° do ADCT da CR/88). Diferentemente de uma ação de cobrança,

que é proposta para o pagamento de valores atrasados, no caso em tela temos um mandado de

segurança impetrado para que seja cumprida norma editada pela própria Administração (Portaria

do Ministro da Justiça)50.

62. É cabível mandado de segurança contra ato de tabelião/registrador?

Sim. Como agentes públicos, os delegatários podem ser autoridades coatoras de mandado de

segurança, quando concretizarem atos inquinados de ilegalidade ou abuso de poder (v.g.

registrador de imóveis se negar e emitir certidão de inteiro teor de matrícula).

63. Quais são os requisitos para se aceitar a teoria da encampação no mandado de

segurança?

Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando

presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a

autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) manifestação

a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de modificação de competência

estabelecida na Constituição Federal.

64. Denegada a ordem em mandado de segurança, ainda é viável que o autor atinja sua

pretensão mediante propositura de ação comum?

Depende do motivo pelo qual a ordem foi denegada. Se foi denegada por falta de provas, por

exemplo, ainda seria legítimo ao autor propor nova demanda, suprindo esta falta. Por seu turno,

se o próprio mérito for julgado, a força da coisa julgada atinge eventual posterior ação comum.

65. O que é o habeas data?

É uma ação constitucional, de natureza civil e procedimento especial, que visa a viabilizar o

conhecimento, retificação ou a anotação de informações da pessoa do impetrante, constantes em

bancos de dados públicos ou bancos de dados privados de caráter público51.

66. Quem pode propor habeas data?

Qualquer pessoa, natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira e, além delas, certos órgãos

públicos e entidades.

67. Há reexame necessário no julgamento nas ações de habeas data?

50 RE 553.710/DF 51 FERNANDES, op. cit.

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Não. A previsão de reexame necessário/recurso de ofício deve ser introduzida mediante norma

jurídica de cunho legal; assim, inexistindo lei que determine esta prática processual, não é cabível

que submeta a eficácia ou validade da sentença de habeas data à reexame necessário.

68. O Ministério Público pode propor ação popular?

Não pode: somente cidadãos (quem detém capacidade eleitoral ativa) estão aptos à proposição

desta ação constitucional. Todavia, na hipótese de desistência do autor popular, o Parquet poderá

ocupar o polo ativo da relação processual para promover o prosseguimento da ação (art. 9.º da

Lei 4.717/1965).

69. Tabelião pode ser réu em ação popular?

Sim. Qualquer pessoa, natural ou jurídica, pública ou privada, que concretize dano ao

patrimônio público, à moralidade administrativo, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e

cultural, pode ser réu em ação popular.

70. Qual o prazo prescricional da ação popular?

O prazo prescricional na ação popular é de cinco anos (art. 21 da Lei 4.717/1965).

71. O autor pode pleitear indenização para si numa ação popular?

Não. Caso o autor postule indenização, deve a requerer para o ressarcimento do ato lesado, e

não diretamente a si, visto que não foi ele diretamente o receptáculo do dano52.

72. O que é o habeas corpus?

É uma ação constitucional de natureza penal e procedimento especial que visa a reparar ou

evitar violência ou coação à liberdade de locomoção em virtude da prática de ilegalidade ou abuso

de poder53.

73. Cabe habeas corpus em face de punições disciplinares militares?

O art. 142, § 2º, da CF veda o habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. A

construção normativa doutrinária é no sentido de que não cabe habeas corpus em relação ao mérito das punições disciplinares militares, não sendo a vedação absoluta. Portanto, a norma

constitucional ora citada não impede a análise pelo Poder Judiciário dos pressupostos de

legalidade, tais como: poder disciplinar, hierarquia, ato ligado à função, pena susceptível de ser

aplicada disciplinarmente (previsão legal para a punição), excesso de prazo da duração da medida

restritiva da liberdade etc. Nesses

termos, vícios de legalidade poderão ser sanados pela via do habeas corpus.

74. Quais direitos podem ser tutelados mediante ação civil pública?

52 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 53 FERNANDES, op. cit.

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Os direitos transindividuais, sejam difusos, coletivos ou individuais homogêneos.

75. Quem pode ser autor numa ação civil pública?

De acordo com o art. 5º da Lei Federal nº 7.347/85, podem propor esta demanda: a) Ministério

Público; b) Defensoria Pública; c) União, Estados, Distrito Federal e Municípios; d) autarquia,

empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; e) associação que,

concomitantemente, esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil, e inclua,

entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente,

ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos

ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

76. É possível que associações promovam de transação numa ação civil pública?

Sim. A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o réu e

pedir a extinção do processo, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. O art. 5º, § 6º da Lei nº

7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem fazer acordos nas ações

civis públicas em curso, não mencionando as associações privadas. Apesar disso, a ausência de

disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade

do acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos

diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes

privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Dizer o Direito).

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REFERÊNCIAS

ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva. São

Paulo: Malheiros, 2008.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

BUENO, Cassio Scarpinella. Mandado de Segurança. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang;

STRECK, Lenio Luiz (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:

Saraiva/Almedina, 2013.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2019

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação criminal transitada em julgado é

suficiente, por si só, para acarretar a perda automática do mandato eletivo de Deputado

Federal ou de Senador?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:

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