prova de direito canônico

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PROVA DE DIREITO CANÔNICO O capítulo II da Lumen Gentium apresenta a Igreja como Povo de Deus. A intenção de Deus foi sempre reunir a humanidade num povo; com a nova aliança, que Cristo realiza no seu sangue, nasce o novo Povo de Deus. Os batizados fazem parte desse povo e recebem a dignidade de filhos de Deus. A meta desse povo é o Reino de Deus que deve ser construído na comunhão, na caridade e na verdade. A marca distintiva do Povo de Deus é a comunhão de (serviço à) vida, caridade e verdade. O Povo de Deus é enviado ao mundo inteiro como luz das nações (LG 9). Fiel cristão é todo aquele que é batizado e incorporado a Igreja, exerce tanto o sacerdócio comum dos fiéis como o sacerdócio ministerial, que apesar de distintos são participação do mesmo sacerdócio de Cristo. A Igreja é constituída por três princípios constitucionais: princípio da igualdade, princípio da diversidade e princípio hierárquico. Princípio da igualdade: Existindo a distinção entre ministros ordenados, religiosos e leigos, congrega segundo a condição própria de cada um a unidade de filhos de Deus na vida da Igreja, pois os mesmos estão ligados a um vínculo ontológico através do batismo e este vínculo confere a unidade na diversidade de ministérios, atividades e carisma como também unidade quanto à dignidade e atuação (direitos e deveres) comum a todos os fiéis cristãos para a edificação da Igreja (vocação à santidade e missão de evangelizar). Princípio da diversidade: É o princípio da distinção de funções (hierárquico), diversidade de carismas e formas de vida e ministérios. Na universalidade do princípio da igualdade contém o princípio da diversidade que também é radicado no batismo. Entre os fiéis cristãos alguns serão chamados ao ministério ordenado, outros a vida religiosa consagrando a Deus sua vida peculiar de missão na Igreja ad intra e ad extra, outros vivendo secularmente dão testemunho de comunhão e vida na Igreja e no mundo. A diversidade não contradiz a igualdade fundamental que goza os fiéis cristãos, mas enriquece a comunhão eclesial.

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Page 1: Prova de Direito Canônico

PROVA DE DIREITO CANÔNICO

O capítulo II da Lumen Gentium apresenta a Igreja como Povo de Deus. A intenção de Deus foi sempre reunir a humanidade num povo; com a nova aliança, que Cristo realiza no seu sangue, nasce o novo Povo de Deus. Os batizados fazem parte desse povo e recebem a dignidade de filhos de Deus. A meta desse povo é o Reino de Deus que deve ser construído na comunhão, na caridade e na verdade. A marca distintiva do Povo de Deus é a comunhão de (serviço à) vida, caridade e verdade. O Povo de Deus é enviado ao mundo inteiro como luz das nações (LG 9). Fiel cristão é todo aquele que é batizado e incorporado a Igreja, exerce tanto o sacerdócio comum dos fiéis como o sacerdócio ministerial, que apesar de distintos são participação do mesmo sacerdócio de Cristo.

A Igreja é constituída por três princípios constitucionais: princípio da igualdade, princípio da diversidade e princípio hierárquico.

Princípio da igualdade: Existindo a distinção entre ministros ordenados, religiosos e leigos, congrega segundo a condição própria de cada um a unidade de filhos de Deus na vida da Igreja, pois os mesmos estão ligados a um vínculo ontológico através do batismo e este vínculo confere a unidade na diversidade de ministérios, atividades e carisma como também unidade quanto à dignidade e atuação (direitos e deveres) comum a todos os fiéis cristãos para a edificação da Igreja (vocação à santidade e missão de evangelizar).

Princípio da diversidade: É o princípio da distinção de funções (hierárquico), diversidade de carismas e formas de vida e ministérios. Na universalidade do princípio da igualdade contém o princípio da diversidade que também é radicado no batismo. Entre os fiéis cristãos alguns serão chamados ao ministério ordenado, outros a vida religiosa consagrando a Deus sua vida peculiar de missão na Igreja ad intra e ad extra, outros vivendo secularmente dão testemunho de comunhão e vida na Igreja e no mundo. A diversidade não contradiz a igualdade fundamental que goza os fiéis cristãos, mas enriquece a comunhão eclesial.

Princípio hierárquico: Por instituição divina há entre os fiéis cristãos os ministros sagrados. Estes pelo sacramento da Ordem exercem funções específicas na vida da Igreja, sobretudo, na administração dos sacramentos e no governo dela, como meios de santificação e salvação do Povo de Deus. Apascentam a Grei de Cristo e exercem por meio do poder dado por Ele seu ministério sacerdotal através do múnus de ensinar, do culto divino e do governo pastoral, servindo assim o Povo de Deus congregado na Igreja.

Os cânones 208-223 atribui deveres e direitos dos fieis cristãosÉ de notar que tal seção se refere tanto a clérigos como a leigos na medida em

que são todos membros do povo de Deus, iguais entre si pelo Batismo e a vocação à santidade. Tenha-se em vista o cânon 208, inicial deste título:

Cânon 208: “Entre todos osfiéis, pela sua regeneração em Cristo, vigora, no que se refere à dignidade e atividade, uma verdadeira igualdade, pela qual todos, segundo a condição e osdeveres próprios de cada um, cooperam na construção do Corpo de Cristo”.

Dito isto, são enumerados os deveres, os deveres-direitos e os direitos de todos.

Page 2: Prova de Direito Canônico

2.1. Deveres de todos os fiéis. O Código enuncia cinco tipos de dever:1) conservar sempre, no seu modo de agir, a comunhão com a Igreja e cumprir,

com grande diligência, os deveres a que estão obrigados segundo as prescrições do Direito (cânon 209);

2) levar uma vida santa e promover o incremento e a santificação da Igreja (cânon 210);

3) obedecer, com senso de responsabilidade, ao que os Pastores, como mestres, declaram e, como guias da Igreja, estabelecem (cânon 212, § 1);

4) atender às necessidades da Igreja de modo que esta possa dispor de tudo que seja preciso para o culto divino, para as obras de apostolado e caridade e para o sustento dos ministros (cânon 222, § 1º);

5) promover a justiça social e socorrer aos pobres com as suas rendas (cânon 222, § 2º).

Passemos agora ao enunciado dos deveres-direitos que são em número de dois:

1) Empenhar-se para que o anúncio da salvação chegue a todos os homens (cânon 211);

2) manifestar o seu modo de pensar aos pastores sobre o que diz respeito ao bem da Igreja, e divulgá-lo, levando sempre em conta a integridade da fé e dos costumes e o respeito para com os pastores, assim como a utilidade comum e a dignidade das pessoas (cânon 212, § 3º).

Há também Direitos de todos os fiéisO Código enumera os seguintes direitos:1) manifestar aos pastores as suas necessidades, especialmente as de ordem

espiritual, assim como os seus anseios (cânon 212, § 2º);2) receber dos seus pastores ajuda espiritual (cânon 213);3) dar culto a Deus segundo as prescrições do seu rito aprovado pelos legítimos

pastores da Igreja, e desenvolver a sua vida espiritual de maneira consentânea com a doutrina da Igreja (cânon 214);

4) fundar e dirigir associações para fins de caridade, de piedade e de missão (cânon 215);

5) promover e sustentar atividades apostólicas (cânon 216);6) receber educação cristã (cânon 217);7) exercer a liberdade de pesquisa e de prudente expressão nas ciências sagradas,

salvaguardando o obséquio devido ao magistério da Igreja (cânon 218);8) não ser coagido a abraçar algum estado de vida contra a vontade própria

(cânon 219);9) guardar a boa fama e defender a própria intimidade (cânon 220);10) reivindicar e defender direitos próprios no respectivo foro eclesiástico

(cânon 221, § 1º);11) ser julgado de acordo com as prescrições do Direito a serem aplicadas com

equidade (cânon 221, § 2º);12) não ser punido com penas canônicas a não ser em conformidade com a lei

(cânon 221, § 3º).O cânon 223, que encerra o título I (dos deveres e direitos dos fiéis em geral) dá

a chave de interpretação dos anteriores.

Page 3: Prova de Direito Canônico

O cânon quer dizer que no uso dos seus direitos os fiéis devem observar o princípio da responsabilidade pessoal e social, isto é, não devem apenas exigir que os seus direitos sejam reconhecidos dentro da comunidade da Igreja. Estejam, pois, atentos ao bem comum da Igreja, aos direitos dos outros fiéis e aos deveres que de tais direitos resultam para cada um. A fim de assegurar a boa ordem, as autoridades eclesiásticas moderam o exercício dos direitos.

Com outras palavras: o cânon significa que os direitos individuais a Igreja não são algo de absoluto. Sejam exercidos de maneira ética ou moral. Donde se segue que, se o exercício de algum direito pessoal acarreta dano a outra pessoa ou à comunidade, o fiel católico deve abster-se de tal exercício. Tal norma, enunciada pelo cânon 223, encontra aplicação, por exemplo, no caso enunciado pelo cânon 212, § 3º; cada fiel tem o direito de exprimir suas opiniões em matéria de fé dentro dos limites da integridade da fé e dos costumes, levando em conta o respeito aos pastores, a utilidade comum e a dignidade da pessoa humana. Outra aplicação ocorre no cânon 218, quando se reconhece a liberdade de pesquisa nas ciências sagradas, mas com a limitação imposta pelo respeito ao magistério.

Comentário dos cânones 208-223

O primeiro dever do fiel cristão é conservar a comunhão da Igreja onde a comunhão é o espaço teológico e jurídico em que se compreende e operam os direitos dos fieis cristãos. É dever do fiel cristão levar uma vida justa e solidária vivendo desta maneira a vocação universal à santidade que é antes de tudo um dever moral. Comunicar o Evangelho com a palavra e o testemunho é um dever e um direito do fiel cristão e deve contar com o auxílio necessário para isso da hierarquia eclesiástica através de apoio espiritual, ordenar seu exercício ao bem comum da Igreja e vigiar para que a doutrina da fé seja respeitada. O dever de obediência aos pastores forma parte do dever de comunhão e se fundamenta na constituição hierárquica da Igreja, já o direito de petição visa a hierarquia da Igreja em atender as necessidades, dificuldades ou os desejos dos fieis cristãos especialmente com relação a vocação universal à santidade e o direito de opinião deixa expressar a própria opinião do fiel cristão sobre o que afeta o bem da Igreja sem contradizer o Magistério da Igreja em matéria de fé e de moral. Receber dos Pastores sagrados os bens espirituais da Igreja, sobretudo, a Palavra de Deus e os sacramentos os fiéis cristãos alimenta a busca da vida de santidade e edifica a Igreja, segundo suas necessidades e conforme sua vocação. Todo o fiel cristão tem direito de prestar culto a Deus dentro de seu próprio rito e viver e professar sua fé em sua espiritualidade própria em conformidade com a doutrina da Igreja. Os fieis cristãos tem liberdade para construir associações na Igreja para fins de caridade ou para promover vocações cristãs no mundo em comunhão com a autoridade eclesiástica, promover e sustentar as iniciativas apostólicas como escolas e hospitais e de receber educação cristã fundamentada na doutrina católica. (parei no can. 218).