prova da existência de deus em anselmo de cantuária

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PEDRO HENRIQUE FERREIRA DE MELO 19.09. 2015 INSTITUTO AGOSTINIANO DE FILOSOFIA DISCIPLINA: TEODICEIA PROFESSOR: FREI AFONSO DE CARVALHO GARCIA, OAR CANTUÁRIA, Santo Anselmo de; Proslógio. Trad. e notas Ângelo Ricci. O FILÓSOFO: Anselmo (1033-1109) nasceu em Aosta (Itália) e faleceu em Canterbury (Inglaterra), por isso é identificado como de Anselmo de Aosta ou Anselmo de Cantuária. Apesar de ter nascido em uma família nobre, Anselmo - também conhecido como Anselmo de Aosta ou Anselmo de Cantuária - optou pela vida monástica. Antes de entrar para o mosteiro beneditino Sainte- Marie du Bec-Hellouin, em 1060, esteve em Lyon, Cluny e Avranches. Tomou votos monásticos em 1061 e tornou-se prior em 1066, transformando o monastério de Bec um importante centro de aprendizado monástico. Anselmo, aliás, foi um dos maiores latinistas de seu tempo. Movido pelos interesses que seu monastério tinha na Inglaterra, Anselmo visitou esse país inúmeras vezes, ganhando a simpatia dos reis Guilherme 1º, o Conquistador, e Guilherme 2º, o Ruivo. Instado pelos reis, aceitou a nomeação para o arcebispado de Canterbury (Cantuária), com o objetivo de reformar a Igreja na Inglaterra. No entanto, Anselmo recusou-se a ser consagrado até que Guilherme 2º reconhecesse o papa Urbano 2º, então contestado pelo antipapa Clemente 3º. Depois de consagrado, voltou a ter desavenças com o rei, que insistia novamente em não reconhecer o papa. Anselmo abandonou a Inglaterra, só retornando depois que o rei foi assassinado. Anselmo acreditava na capacidade da razão para investigar os mistérios divinos acreditava que usando-se apenas a razão era possível resolver debates teológicos. De forma específica:

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Este texto trata da prova ontológica, a priori, da existência de Deus defendida por Anselmo de Cantuária, santo da Igreja Católica.

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Page 1: Prova da Existência de Deus em Anselmo de Cantuária

PEDRO HENRIQUE FERREIRA DE MELO 19.09. 2015INSTITUTO AGOSTINIANO DE FILOSOFIADISCIPLINA: TEODICEIAPROFESSOR: FREI AFONSO DE CARVALHO GARCIA, OAR

CANTUÁRIA, Santo Anselmo de; Proslógio. Trad. e notas Ângelo Ricci.

O FILÓSOFO:Anselmo (1033-1109) nasceu em Aosta (Itália) e faleceu em Canterbury (Inglaterra), por isso é identificado como de Anselmo de Aosta ou Anselmo de Cantuária. Apesar de ter nascido em uma família nobre, Anselmo - também conhecido como Anselmo de Aosta ou Anselmo de Cantuária - optou pela vida monástica. Antes de entrar para o mosteiro beneditino Sainte-Marie du Bec-Hellouin, em 1060, esteve em Lyon, Cluny e Avranches. Tomou votos monásticos em 1061 e tornou-se prior em 1066, transformando o monastério de Bec um importante centro de aprendizado monástico. Anselmo, aliás, foi um dos maiores latinistas de seu tempo. Movido pelos interesses que seu monastério tinha na Inglaterra, Anselmo visitou esse país inúmeras vezes, ganhando a simpatia dos reis Guilherme 1º, o Conquistador, e Guilherme 2º, o Ruivo. Instado pelos reis, aceitou a nomeação para o arcebispado de Canterbury (Cantuária), com o objetivo de reformar a Igreja na Inglaterra. No entanto, Anselmo recusou-se a ser consagrado até que Guilherme 2º reconhecesse o papa Urbano 2º, então contestado pelo antipapa Clemente 3º. Depois de consagrado, voltou a ter desavenças com o rei, que insistia novamente em não reconhecer o papa. Anselmo abandonou a Inglaterra, só retornando depois que o rei foi assassinado. Anselmo acreditava na capacidade da razão para investigar os mistérios divinos acreditava que usando-se apenas a razão era possível resolver debates teológicos. De forma específica: para provar a existência de Deus; para estabelecer que ele tem uma natureza trina (Pai, Filho e Espírito Santo); para demonstrar que a alma humana é imortal; e para demonstrar que as escrituras são inerrantes. 1

Anselmo, no entanto, não pensava ser necessário alcançar um conhecimento racional de Deus para crer Nele. Ao contrário, isso acontece precisamente da forma oposta. ele pretendia fazer com que as vontades da revelação fossem  transparentes à razão. Anselmo mesmo afirmou: "A não ser que primeiro eu creia, não conseguirei entender". Anselmo é chamado de "pai da escolástica" por causa de suas colocações, defendidas posteriormente pelos filósofos escolásticos medievais. Foi canonizado em 1163 - e em 1720 foi declarado doutor da Igreja pelo papa Clemente 11º.2

1 O Pai da Escolástica. Disponível em: <http://gianepereirasoares.blogspot.com.br/2012/04/o-pai-da-escolastica.html>. Acesso em: 19/09/2015, às 16h30.

2 Santo Anselmo. Da Página 3 Pedagogia e Comunicação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-anselmo.jhtm>. Acesso em: 19/09/2015, às 16h20.

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O TEXTO:

Santo Anselmo de Cantuária dá início ao seu livro Proslógio justificando a escrita do mesmo. Ele busca encontrar um único argumento que demonstre a existência de Deus valendo por si mesmo, não necessitando de complementaridade. E mostra que somente conseguiu escrever tal obra depois que acolheu “com tanto entusiamos quanto empenho que colocara em rechaçá-la”, afinal tinha relutado, ao perceber que seria uma árdua tarefa, em sintetizar em somente um argumento algo complexo, como a existência de Deus.

No capítulo I “Exortação à contemplação de Deus” Anselmo inicia com uma linda oração, que irei transcrever breves trechos neste ensejo. “Quero teu rosto; busco com ardor teu rosto, ó Senhor. (...) Se tu (Deus) estás por toda parte, por que não te vejo aqui? Certamente habitas uma luz inacessível.” Neste capítulo podemos ver que o santo busca um contato íntimo com Deus, um contato transcendente, a ponto de não tocar explicitamente em nenhum argumento filosófico sobre Deus, mas somente a fé. Mas podemos perceber que o autor, talvez de modo não intencional, parte da fé para chegar a razão, e o início deste capítulo, com esta bonita oração, retrata justamente isso, e já ao término deste capítulo uma frase ilustra muito bem o ponto de partida através da fé adotado por Santo Anselmo: “Efetivamente creio, porque, se não cresse, não conseguiria compreender”.

Já no Capítulo II “Que Deus existe verdadeiramente” Anselmo diz que existe um “Ser do qual não é possível pensar nada maior”. Por mais que insensatos dirão o contrário, é fato que existe algo em nossa mente, um limite, de onde não conseguimos ultrapassá-lo, e a tal limite Anselmo atribui a uma prova ontológica da existência de Deus. Ter na ideia a existência de uma coisa, e tal coisa existir na realidade são conceitos diferentes, afinal temos a ideia de dinossauro e estes não existem, há coisas que existem somente, e tão só, como ser de razão. Mas ‘“o ser do qual não é possível pensar nada maior’ não pode existir somente na inteligência”. Se Ele existe somente na inteligência, logo seria necessário a existência de um Deus real, visto que este ficaria conhecido somente como Deus ideal, já que não sairia da mente humana, somente lá Ele teria existência. E se este existir somente na consciência humana e não existir na realidade, logo não será perfeito, se poderá pensar em coisas maiores do que Ele, pois o fato de não existir o torna incompleto, e como podemos pensar na incompletude das coisas, afinal o homem é incompleto, logo estaríamos associando a imperfeição à Deus e se existe um Deus real, que é imperfeito por estar somente na mente e outro Deus que é real, logo um deve ser maior que o outro, o que é ilógico, pois se um é maior que o outro, como podemos afirmar que Deus é Aquele “do qual não é possível pensar nada maior”? Então afirma Anselmo que “Aquele do qual não é possível pensar nada maior” existe na inteligência e na realidade.

No capítulo III “Que não é possível pensar que Deus não existe” Santo Anselmo nos mostra que se dizemos que o “ser do qual não é possível pensar nada maior” não existe, logo cairíamos em erro lógico, pois se afirmo não existir algo que eu não consiga pensar em nada maior eu negaria até mesmo meu conhecimento das coisas sensíveis, afinal temos que pensar em alguma coisa, e nestas pequenas coisas que consigo pensar existe um “Ser do qual não é possível pensar nada maior”, mesmo que eu não consiga me abstrair como

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requer este tipo de prova ontológica. Se a mente humana é capaz de negar a existência de tal Ser é porque ela mesma consegue conceber algo maior, o que é impossível, afinal nenhuma criatura consegue se elevar acima de seu criador e formular um juízo acerca deste.

E já ao fim do livro, no capítulo IV “Que o insipiente disse em seu coração aquilo que é impossível pensar”, o santo nos apresenta dois modos de pensar no “Ser do qual não é possível pensar nada maior”: 1- pensar na palavra que expressa a coisa; 2- compreender a própria coisa. Podemos cair em um equívoco ao afirmar somente a primeira parte, pois as palavras podem nos levar a ver duas coisas completamente destoantes e e colocá-las em pé de igualdade, e isso pode gerar um não acreditar no “Ser do qual não é possível pensar nada maior”, já a segunda parte nos leva imediatamente a constatação da existência, de modo racional, da existência de Deus, pois quando começo a compreender o que Deus é não consigo acreditar na sua inexistência, só conseguiria se acaso ficasse somente no primeiro aspecto e não levasse em consideração seus atributos. E Santo Anselmo termina dizendo que “Deus é um ser que não pode encontrar-se no pensamento”, afinal como vimos, Ele não está somente lá, podemos encontrá-lo na realidade e admitir de modo racional e não fideísta que Ele existe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O Pai da Escolástica. Disponível em: <http://gianepereirasoares.blogspot.com.br/2012/04/o-pai-da-escolastica.html>. Acesso em: 19/09/2015, às 16h30.

Santo Anselmo. Da Página 3 Pedagogia e Comunicação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-anselmo.jhtm>. Acesso em: 19/09/2015, às 16h20.