protetores solares

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Rev Bras Med 2011; 68:4-18.

Protetores solaresEmiro KhuryFarmacutico-Bioqumico pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista pela PUC do Paran

Edna BorgesBacharel em Qumica pela Universidade Mackenzie. Out 11 V 68 Especial Dermatologia e Cosmiatria 4 Unitermos: protetores solares

Resumo Mudanas na regulao dos protetores solares sugerem novas discusses sobre metodologias de avaliao da eficcia e como os novos filtros solares demonstram sua influncia no desempenho dos produtos. Neste artigo os autores iniciam uma discusso sobre a necessidade de proteo contra os raios infravermelhos e revisam os fundamentos de sustentao do desenvolvimento de protetores solares estveis e eficientes. Introduo Recentemente houve um aumento no volume de informao a respeito dos cuidados que devemos tomar quando nos expomos ao sol. Certamente est longe do ideal, mas podemos arriscar a dizer que atualmente maior o nmero de pessoas que se expem ao sol conscientes dos danos que esto causando ao seu organismo. Nosso clima, associado aos padres de sade e beleza atuais, torna difcil s pessoas acatar totalmente os conselhos dos especialistas. Apesar disso, percebemos que os fabricantes de protetores solares tm introduzido no mercado produtos com fatores de proteo solar maiores e com espectro de atividade mais amplo. Consultando os dados da indstria de dez anos atrs, buscando definir qual o fator de proteo solar mais representativo do mercado, encontramos o fator de proteo solar 8 como sendo o mais vendido. Podemos supor que se a pesquisa fosse hoje poderamos encontrar uma distribuio maior entre este fator e o FPS 30, demonstrando que as pessoas podem no ter deixado de apreciar o bronzeado decorrente da exposio ao sol, mas esto preferindo usar fatores maiores durante a exposio. De todo o espectro de radiao emitida pelo sol as faixas biologicamente mais importantes so o ultravioleta A, B, C e o infravermelho. A radiao ultravioleta (UV) O sol gera uma quantidade enorme de energia radiante. Esta radiao se propaga na forma de ondas: quanto mais curto o comprimento da onda, tanto mais alta a quantidade de energia. Os raios ultravioleta so responsveis pela maioria das mudanas fotocutneas provocadas na pele. A radiao UV dividida em trs categorias: UVC, UVB e UVA. Os comprimentos de onda mais curtos so os raios UVC que compreendem os comprimentos de onda entre 100 e 280 nm. Nenhuma radiao UV inferior a 288 nm atinge a superfcie da terra devido filtrao pela camada de oznio. No entanto, os comprimentos de onda maiores, entre 290 e 400 nm, chegam superfcie da terra e afetam os tecidos vivos. Estes comprimentos de onda so classificados como radiao UVB e UVA. Com exceo das clulas pigmentadas, as clulas vivas absorvem pouca luz visvel. A radiao infravermelha penetra profundamente os tecidos do corpo humano. A matria slida das clulas constituda na sua maioria por protenas e gua que representa 70% ou mais da clula. As protenas e a gua so o primeiro alvo de parte da radiao UV entre 260 e 280nm, embora ocorra a absoro tanto abaixo quanto acima dessa faixa, neste intervalo h uma forte absoro. Quando a luz incide sobre a pele, ela pode ser absorvida, espalhada ou refletida. Somente a luz absorvida produz mudanas na molcula que a absorve. Esse ponto de absoro

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chamado cromforo. Cada cromforo absorve luz numa determinada faixa de comprimento de onda e sofre alteraes em consequncia dessa absoro. A melanina o principal cromforo da pele e absorve desde 290 at 1.200 nm. As alteraes sofridas pelos cromforos so denominadas reaes fotoqumicas. So as reaes fotoqumicas que desencadeiam todas as outras reaes bioqumicas que resultam em danos pele. Boa parte dos efeitos fisiolgicos das radiaes consequncia das reaes de carter inflamatrio e oxidante, desencadeadas pelas reaes fotoqumicas. Alguns exemplos de cromforos so: cidos nucleicos, que formam o cido desoxirribonucleico (DNA); aminocidos, que formam as protenas; e cido urocnico. Esses cromforos absorvem fortemente comprimentos de onda da radiao UVB. Outras molculas tambm atuam como cromforos melanina, tirosina, queratina, triptofano, histidina, porfirinas, caroteno e hemoglobina. A interao da radiao UV com o DNA a principal causa de problemas associados a danos causados pele pelo sol, incluindo o cncer. Como j mencionado, a radiao ultravioleta a regio do espectro eletromagntico emitido pelo sol, compreendida entre os comprimentos de onda de 100 a 400 nm e pode ser divida em trs faixas, levando-se em conta suas caractersticas de propagao e efeitos fisiolgicos. Ultravioleta B (UVB) A faixa de UVB tem comprimentos de onda na regio intermediria do ultravioleta (290 - 320 nm). Os raios UVB atingem a superfcie da terra em diferentes graus de inclinao durante o dia, sendo mais fortes quando o sol est a pino. Alm disso, a radiao UVB fortemente absorvida pela camada de oznio e sua intensidade tambm dependente de sua integridade. A radiao UVB absorvida pela epiderme induzindo eritema e queimadura solar, podendo induzir outros danos mais graves pele dependendo do tipo e quantidade de raios solares aos quais a pessoa se expe durante a vida. A advertncia para evitar a exposio ao sol entre as 10 horas da manh e duas horas da tarde se deve principalmente aos efeitos nocivos da radiao UVB. A maior parte dos protetores solares formulada para bloquear a faixa de UVB. Como efeitos benficos da radiao UVB podemos citar a formao de novos pigmentos na pele, o que promove alguma proteo, e no ciclo da vitamina D, que promove a fixao de clcio no organismo. Ultravioleta A (UVA) Os raios UVA, compreendidos entre os comprimentos de onda de 320 a 400 nm, so os mais longos do espectro da radiao ultravioleta. A radiao UVA pode atingir a superfcie da terra e consequentemente a pele durante todas as horas do dia, do alvorecer ao crepsculo, pois no absorvida por nenhum dos constituintes atmosfricos. As radiaes neste intervalo de comprimentos de onda atravessam a maior parte dos vidros comuns. Dependendo da espessura da pele, podem atingir tecidos drmicos, o que a torna to perigosa quanto radiao de comprimentos de onda de maior energia (UVB). Recentemente vrios autores tm dividido a radiao UVA em dois grupos: UVA I (340 - 400 nm) e UVA II (315 - 340 nm), sendo que UVA II tem a energia mais elevada, devido aos seus comprimentos de onda mais curtos. Para induzir queimadura solar com UV precisamos de 1000 vezes mais energia do que com a radiao UVB. O UVA I o componente do UV capaz de causar a mutao no gene supressor de tumor p-53. Os danos na pele induzidos pelos raios UVA so oxidativos e so causados pela interao da radiao UVA com o oxignio que acabam formando os radicais livres (formas reativas do oxignio) que podem causar leses actnicas. Infravermelho A radiao infravermelha (IV) definida por comprimentos de onda de 800 a 3.000 nm e pode penetrar profundamente na pele at atingir os tecidos dos rgos. Recentemente o IV foi subdividido em IVA: 760 a 1.440 nm, IVB: 1.440 a 3.000 nm e IVC: 3000 nm a 1 mm. Fazendo parte da luz solar que atinge a Terra, a radiao IV percebida na forma de calor. Estudos experimentais demonstraram que os efeitos biolgicos da radiao IVA so predominantes (constituem 30% da energia solar) e contribuem para uma srie de efeitos. A radiao IV atua sinergeticamente com a radiao UV na desnaturao do DNA, podendo contribuir para o foto envelhecimento e fotocarcinognese. Estudos relacionam tambm o IVA ao desequilbrio das fibras de colgeno da matriz extracelular atravs do aumento da expresso da enzima metalloproteinase-1 (MMP-1) e formao de radicais livres (ROS) especialmente com ambiente mitocondrial. Exposio solar real Alm de conhecer os nveis de energia dos vrios intervalos da radiao solar, importante conhecer a quantidade de energia total recebida durante a exposio ao sol. Essa quantidade chamada dosagem e calculada pelo produto da intensidade pelo tempo de exposio:

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Dosagem (Joules) = intensidade (W/m2) x tempo (s) Existe tambm um parmetro chamado ndice Ultravioleta (IUV) criado para definir a intensidade da radiao a que o paciente est exposto. Foram definidos 15 nveis de intensidade (sendo que o ndice 15 corresponde ao pico do vero ao meio-dia). Para a determinao do IUV, o espectro da radiao solar ponderado pelo chamado espectro de ao eritematosa, que fornece a sensibilidade relativa da pele (determinada pela induo de eritema) radiao UV em funo do comprimento de onda incidente (INPE, 2006). O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), atravs do Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos (CPTEC), monitora continuamente o IUV via satlite. Na Tabela 1 so apresentados os valores de IUV agrupados em categorias, conforme recomendao da Organizao Mundial da Sade (OMS) (INPE, 2006). O fator que tem maior importncia na determinao da intensidade da radiao UV terrestre a altura do sol no cu, que depende da hora do dia, da estao e da latitude. A altitude, a cobertura de nuvens, o terreno, a quantidade de cu limpo so fatores de menor importncia. A maior densidade de radiao UV recebida nas quatro horas em torno do znite solar (isto , quando o sol est em seu ponto mais alto no cu), entre 11h e 15h em um dia claro de vero. Neste perodo, o ngulo dos raios solares em relao superfcie da Terra tal que a luz tem a menor distncia para atravessar a atmosfera e, portanto, menor oportunidade de ser absorvida ou refletida. Como resultado, cerca de um tero da radiao UV diria recebida entre 10h e 16h. Os nveis de UVB, em particular, variam significativamente durante o dia, sendo muito mais suscetveis aos fatores atmosfricos do que a UVA e a luz visvel; assim, no vero, a intensidade de UVB aumenta e diminui muitas vezes entre 10h e 16h.

Fonte: INPE (2006). Variaes sazonais na intensidade de radiao UV, particularmente de UVB, so mais pronunciadas em climas temperados como os do norte da Europa. Nessas regies a intensidade de UVB pode variar at 25 vezes entre o inverno e o vero. A intensidade de UVA mais constante sendo menos suscetvel reflexo, deflexo e ao consequente enfraquecimento durante uma passagem mais curta ou mais longa pela atmosfera. Prximo ao Equador os nveis de UV variam muito menos, sendo altos durante o ano todo. A radiao UV diminui medida que se afasta do Equador. Por exemplo, a mdia de exposio anual para uma pessoa vivendo no Hava (20N) aproximadamente quatro vezes maior do que a de outra vivendo no norte europeu. Ao atingir a pele humana, aproximadamente, 4% da luz refletida especularmente pela interface ar/estrato crneo, devido mudana no ndice de refrao. A radiao que penetra na epiderme sofre um pequeno espalhamento, sendo absorvida principalmente pela melanina presente. A radiao remanescente atravessa a camada basal atingindo a derme, em que fortemente espalhada pelas fibras de colgeno e absorvida pela hemoglobina, tanto por capilares como por veias e artrias superficiais. Da intensidade total incidente, entre 30% e 60% espalhada de volta para a superfcie da pele e novamente atenuada pelos cromforos que encontra (hemoglobina, melanina) espalhada pelas fibras de colgeno. A luz refletida pela pele constituda de duas componentes: uma delas, especular (4%), possui a mesma composio espectral da luz incidente; a outra a componente da luz incidente modificada pelas substncias da pele que absorvem ou espalham essa luz. As substncias que espalham a luz, dependendo de suas dimenses moleculares quando comparadas ao comprimento de onda da radiao incidente, podem produzir modificaes especficas em relao aos comprimentos de onda. O espalhamento sempre mais forte no azul que no vermelho.

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Est claramente estabelecido que os comprimentos de onda da radiao UV do sol so carcinognicos, contribuindo para a formao de cnceres do tipo carcinoma e melanoma das clulas basais e escamosas. H um consenso geral de que os carcinomas de clulas basais e escamosas so, predominantemente, um resultado do dano direto do DNA pela interao com a radiao UVB. O corpo possui mecanismos especializados para destruir as clulas que so alteradas pelos raios UV, se elas no forem reparadas. Um dos genes responsveis por essa ao o p53, que esta relacionado apoptose, destruio sistemtica do ncleo e do citoesqueleto da clula. Sabe-se que a exposio moderada aos raios UV pode danificar o DNA e o gene p53 de tal forma a bloquear o mecanismo natural de destruio das clulas danificadas. A radiao UVA pode causar a mutao no gene p53, que ento no conseguir mais controlar o ciclo celular e a apoptose. Sem a proteo do gene p53, essas clulas podem continuar a crescer e, eventualmente, tornar-se malignas. O envelhecimento da pele funo de fatores cronolgicos de danos de origem actnica e de influncias hormonais. A maioria das mudanas relacionadas ao envelhecimento, como rugas e sardas, devem-se ao foto envelhecimento e so reflexo da exposio solar cumulativa. Esse processo de envelhecimento precoce devido exposio radiao solar cumulativo e afeta preferencialmente indivduos que possuem pele mais clara. Durante os ltimos dez anos, progressos substanciais tm sido feitos para o entendimento dos mecanismos moleculares responsveis pelo foto envelhecimento da pele humana. Um deles que a radiao UV provoca uma complexa sequncia de respostas moleculares especficas que danificam os tecidos conectivos da pele. Esse processo molecular deriva da habilidade da radiao UV explorar o mecanismo celular que regula as respostas das clulas em estmulos fisiolgicos e ambientais. O mecanismo celular que media os danos causados pela radiao UV aos tecidos conectivos da pele inclui receptores celulares superficiais, sinais de caminhos de transduo de protena quinase, fatores de transcrio e enzimas que sintetizam e degradam protenas estruturais na derme, que conferem fora e resilincia pele. No mnimo 90% dos problemas cosmticos associados com envelhecimento, conhecidos como fotoenvelhecimento da pele, so devido exposio excessiva ao sol. Essas mudanas so o enrugamento da pele; descolorao e a presena de mltiplos pontos pigmentados; atrofia ou pele fina; uma rede de vasos dilatados ou veias; e hipopigmentao ou ausncia de cor. Protetores solares A exposio ao sol se tornou um assunto de sade. A linha de comunicao adotada pelos rgos de vigilncia sanitria, associaes mdicas e por empresas se alterou e o assunto comeou a ser tratado com maior seriedade. O cncer de pele passou a ser tema de artigos e o sol passou a ser percebido como uma condio de perigo. Assim, o uso dirio de protetores solares por recomendao mdica transformou esses produtos em artigos de consumo. A populao passou a ter acesso informao e, dessa maneira, passou a se preocupar mais com o assunto. Hoje, alm de se evitar a formao de eritemas, parte da populao j relaciona o envelhecimento aos efeitos do sol, a proteo solar foi assim incorporada ao cotidiano de algumas pessoas. Hoje j se sabe que 80% dos danos causados pelo sol ocorrem antes dos 18 anos e que o efeito do sol cumulativo.

* Designao de Categoria de Proteo (DCP). Portaria N 2.466, de 31 de agosto de 2010. Apesar do uso extensivo de protetores solares durante as duas ltimas dcadas, a incidncia de cncer de pele ainda est aumentando e o papel dos protetores solares na preveno dos cnceres de pele controverso. Demonstrou-se que o uso de protetores solares diminui a queratose actnica relacionada aos carcinomas das clulas escamosas. Experimentos com animais demonstram que os protetores solares diminuem a incidncia de tumores das clulas basais e escamosas, os quais so relacionados com UVB. No entanto, existem muitos estudos que sugerem que o uso de protetores solares est associado com o aumento do risco de melanoma. Isso pode refletir a aplicao de quantidade inadequada do produto, pouca durabilidade da aplicao (fixao do produto pele), a inadequao de filtros UVA nas preparaes de protetores solares ou

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a fotoinstabilidade dos filtros solares, combinados com banhos de sol prolongados. Os protetores solares so produtos formulados na forma de emulses, solues, gis, aerossis ou mousses destinados a diminuir a incidncia dos danos causados pele e ao organismo, reduzindo a quantidade de radiao UV que atinge a pele. A forma com que estes produtos so abordados pela legislao depende de cada pas. Nos Estados Unidos os protetores solares so considerados produtos OTC (Over-the-counter), um tipo de quase medicamento. Na Unio Europeia, como no Brasil, eles so regulamentados pela legislao de cosmticos complementada por resolues, recomendaes ou guidelines especficos. Os resultados destas diferenas so percebidos de forma mais clara quando observamos a eficincia com que as inovaes so introduzidas no mercado europeu. Como comparao destacamos que nos Estados Unidos somente no volume 62 do Federal Register de 30 de abril de 1997 foram publicadas as regras para o uso da Avobenzona em produtos protetores solares, enquanto que na Europa este filtro solar j era conhecido h dez anos. No Brasil seguimos as orientaes da resoluo RDC 47, de 16 de maro de 2006, que contm a lista de filtros ultravioleta permitidos para produtos de higiene pessoal, cosmticos e perfumes, a resoluo RDC 79 de 28 de agosto de 2000 e a RDC 237 de 22 de agosto de 2002, que definem normas de rotulagem para estes produtos. No momento da elaborao deste artigo recebemos a consulta pblica N 2.466, de 31 de agosto de 2010, que submete anlise do mercado o Regulamento Tcnico MERCOSUL sobre Protetores Solares em Cosmticos. Esta proposta contempla uma nova tabela de designao de categoria de proteo que considera os novos hbitos de uso deste tipo de produto pelos consumidores e os avanos tecnolgicos nas metodologias de determinao dos fatores de proteo solar, tanto no UVB como no UVA (Tabela 2). Outro acrscimo importante a determinao de que o menor nvel de proteo solar aceitvel ser o FPS 6 e o FPUVA 2. Para que um produto declare sua eficcia deve comprovar o seu FPS, conforme as metodologias citadas, como tambm proteo UVA correspondente a no mnimo um tero da proteo UVB e comprimento de onda crtico mnimo de 370 nanmetros. Mecanismo de ao A maioria das molculas usadas como protetores solares so compostos aromticos conjugados com um grupo carbonila e um radical nas posies orto ou para. Esta configurao deve absorver ftons de comprimentos de onda na faixa do ultravioleta. Nessa poro do espectro os comprimentos de onda mais interessantes esto em torno de 308 nm, que seria o ponto do espectro que apresenta maior potencial de dano fotobiolgico na superfcie do planeta. Estas molculas absorvem radiaes nesta faixa e as converte em outros comprimentos de onda cujo potencial fotobiolgico menos danoso ao organismo. Dependendo da quantidade e do comprimento de onda da energia absorvida ela pode ser transformada em radiao infravermelha ou em emisses de fluorescncia ou fosforescncia na faixa do visvel. Estas molculas so capazes de absorver e transformar esta radiao devido s propriedades especficas decorrentes de sua conformao estrutural e espacial que permite compartilhar eltrons ressonantes por quase toda a extenso da molcula. Se observarmos uma molcula atravs de seu perfil eletromagntico, podemos descrev-la como sendo um grupamento discreto oscilando em um comprimento de onda. Os filtros solares qumicos absorvem energia em forma de fton, passando de um estado bsico de baixa energia (h*) a outro de energia maior. A molcula excitada retorna para o estado bsico emitindo energia de menor intensidade que a energia de excitao. A capacidade de absoro de energia UV das molculas dada pela existncia de dois diferentes estados ou estruturas qumicas, j que a diferena nos nveis de energia entre duas estruturas moleculares correspondem exatamente mesma mudana eletrnica permissvel e coincide justamente com a energia do fton absorvido (Figura 1). Demonstrou-se que a energia da radiao presente na regio UVA e UVB est na mesma ordem de magnitude que a da energia de ressonncia de deslocamento do eltron em compostos aromticos. A energia absorvida da radiao UV correspondente a energia requerida para produzir uma excitao fotoqumica na molcula do filtro solar (Figura 2). O deslocamento do eltron pode diminuir a energia requerida para a transio eletrnica no espectro UV, observando-se um efeito batocrmico ou aumento no comprimento de onda mxima de absoro devido diminuio da energia requerida para deslocao eletrnica (Figura 3).

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Figura 1 - Mecanismos de absoro dos filtros solares na pele.

Figura 2 - Energia de ressonncia de deslocamento do eltron em compostos aromticos.

Figura 3 - O deslocamento do eltron numa molcula de aminobenzoato.

Figura 4 - Ismeros cetoenol em equilbrio trmico do butilmetoxidibenzoilmetano (BMBM). Os filtros solares em soluo, como o caso do butilmetoxidibenzoilmetano (BMBM), contm ismeros cetoenol em equilbrio trmico, estes apresentam diferentes nveis de absoro de energia UVA. O ismero enol tem sua maior absoro a 355 nm e o ismero ceto a 260 nm, chegando at a regio UVB (Figura 4). O salicilato de homometila outro filtro que se encontra comercialmente disponvel em mistura de ismero cistrans. A mistura tpica contm 15% de cis e 85% de trans ou 40% de cis e 60% de trans, absorvendo em 310 nm. Outros filtros que apresentam isomerizao so os derivados do cido 4-metilcinamato, muito estveis e seguros, e seus ismeros E e Z, que apresentam absoro mxima aos 300 nm. A energia transformada pode ser liberada em forma de radiao de baixa energia (comprimento de onda larga 800 - 900 nm) ou de muito baixa energia, na regio do infravermelho (acima de 900 nm), que se percebe um aquecimento na regio da pele. Os raios de energia intermediria (450 - 800 nm) na regio visvel produzem fluorescncia ou fosforescncia (comum em filtros do tipo de imidazol). Em alguns casos, devido radiao incidente ser muito intensa e muito energtica (baixos comprimentos de onda), estas molculas podem reagir fotoquimicamente causando sua fratura e perda da atividade protetora. No caso de molculas com propriedades de isomeria (cistrans ou ketoenol), relatou-se que juntamente com a mudana do estado isomrico pode ocorrer uma alterao no pico do espectro de absoro, acarretando modificaes no seu desempenho. Na prtica, isso pode ocorrer aps os primeiros minutos de exposio s radiaes solares alterando para

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mais ou para menos a eficcia do produto. Determinao do FPS A determinao do fator de proteo solar (FPS), nmero que deve constar em destaque na embalagem dos fotoprotetores comerciais, feita a partir de um estudo clnico, no qual utilizamos voluntrios com tipo de pele claro (Fototipos I, II e III segundo classificao de Fitzpatrick). So determinados locais especficos no dorso destes voluntrios e estes locais so expostos a uma srie de doses controladas de radiao UVB e UVA geradas atravs de uma fonte de radiao UV que simula o espectro do sol e que tem um espectro de emisso padronizado. O que se observa a partir dessa srie de exposies o aparecimento nos locais de prova, 24 horas aps a exposio, de graus variados de eritema nos voluntrios expostos. Conforme o grau de eritema gerado, medido atravs de um cromameter que determina o ngulo Tipolgico Individual (ITA), conforme descrito por Chardon et al. (1990) (espao de cor L*a*b CIE -1976), determinamos a dose mnima para produzir eritema (DEM). A partir dessa dose mnima de eritema se calcula uma nova srie de exposies com um nmero (n) vezes mais a dose de UV que usados inicialmente. Onde (n) o FPS esperado do produto testado. Irradiamos os voluntrios e observamos novamente o local irradiado 24 horas aps determinando a dose mnima de eritema com produto. A razo da dose de radiao mnima determinada com o produto e a dose mnima determinada inicialmente (sem produto) tem que ser prxima ou superior ao nmero (n) usado. Este procedimento repetido em vrios voluntrios. O nmero de voluntrios determinado em funo da metodologia que se utiliza no protocolo clinico. Se usarmos o protocolo FDA (Estados Unidos), deveremos medir o PFS deste produto em 20 voluntrios e o FPS do produto ser o FPS mdio destes voluntrios (respeitando os critrios de aprovao do Protocolo). Se usarmos o mtodo COLIPA (Europeu), deveremos repetir o teste para 10 voluntrios e utilizar os critrios de aprovao deste mtodo para determinar o FPS do produto que ir constar na embalagem. Existem tcnicas in vitro que procuram simular a resposta da pele humana e que so geralmente usadas por laboratrios na fase de desenvolvimento dos protetores solares e que guiam o formulador, fornecendo uma ideia do valor do FPS em humanos. Normalmente estas tcnicas utilizam um espectrofotmetro contendo uma esfera de integrao. A fonte, geralmente uma lmpada de gs xennio, gera um feixe de radiao que filtrado e corrigido para apresentar um perfil semelhante ao sol. A energia produzida pela fonte passa atravs de um substrato sinttico em que se aplica 2 ml/cm2 do produto a ser testado (mesma quantidade aplicada no protocolo em humanos). A esfera de integrao de fundamental importncia neste caso, pois consegue capturar e medir a luz espalhada pelos filtros inorgnicos. No incio do desenvolvimento deste tipo de teste se utilizava como substrato o Transpore tape (tape cirrgico da 3M) colado sobre um anteparo especial. Atualmente o tipo de substrato mais usado o Vitroskin (IMS Inc.) procura tambm simular os efeitos do microrrelevo cutneo sobre a pelcula formada pelo produto aplicado. Este tipo de equipamento mede a absoro ptica do fotoprotetor e a partir dos valores obtidos nos comprimentos de onda da faixa do UV-B se calcula matematicamente o FPS do produto. Como todo teste in vitro este mtodo tem suas limitaes e pode ser usado como ferramenta no desenvolvimento ou controle de qualidade de fotoprotetores. Estes equipamentos tambm podem ser utilizados para o clculo do desempenho de um protetor solar na faixa do UV-A. Mtodos, como a determinao do comprimento de onda crtico ou da relao UVA/B, entre outros, podem expressar seus resultados atravs de estrelas ou percentagem e so calculados automaticamente pelo software que acompanha os equipamentos. importante destacar a grande dificuldade de se correlacionar os resultados obtidos atravs das tcnicas in vitro com os obtidos atravs dos protocolos preconizados pelo FDA e COLIPA. Este fato se baseia em que o FPS de um produto se relaciona primeiramente produo de eritema e capacidade que um produto pode possuir de atenu-lo. Outro fator relaciona-se ao desempenho deste produto sobre a pele, sofrendo a influncia do grau de disperso dos ingredientes ativos no interior da pelcula formada sobre a pele e do impacto do microrrelevo cutneo sobre a espalhabilidade, entre outros. Um fato que bom lembrar quando tratamos destas tcnicas que dois produtos que contenham a mesma quantidade e tipo de filtros solares podero no exibir o mesmo Fator de Proteo Solar. Determinao do Fator de Proteo UV-A Atualmente existem diversos mtodos de avaliao da proteo UV-A, tanto in vivo (utilizando voluntrios humanos) como in vitro. Estes ltimos so normalmente questionados devido falta de correlao com resultados obtidos em humanos e a falta de reprodutibilidade interlaboratorial. O mtodo in vivo mais comumente utilizado o persistent pigment darkening (PPD). O princpio do mtodo se baseia na resposta de pigmentao tardia ou persistente a pele diante da radiao UVA. Primeiramente a pele de um voluntrio exposta radiao UVA e aps duas a quatro horas do trmino da exposio se avalia a sua resposta de pigmentao. O

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escurecimento da pele uma das respostas mais imediatas do nosso organismo diante da radiao UVA. A pigmentao observada entre 2 e 4 horas uma resposta estvel e reprodutvel. Esse mtodo recomendado pela Associao dasIndstrias Cosmticas do Japo (JCIA) e altamente utilizado naquele pas. Dentre os mtodos in vitro, podemos destacar: Comprimento de onda crtico: baseia-se na utilizao de espectrofotometria UV com esfera de integrao, onde inicialmente determinado o espectro de absorbncia do produto na faixa de 290 nm a 400 nm. O comprimento de onda crtico (lc) o comprimento que correspondente a 90% da integral da curva de absoro (rea sob a curva) entre os comprimentos de onda 290 a 400 nm (de acordo com a Equao 1). O resultado normalmente expresso em porcentagem.

Uma limitao do mtodo que essa forma de anlise relativa, ou seja, fornece informaes do nvel de absoro da regio UVA em relao a UVB. Entretanto, se houverem dois produtos com mesmo lc, no significa que eles apresentaro o mesmo espectro de absoro. Razo UVA/UVB: tambm conhecido como mtodo Boots Star Rating, pelo fato da empresa inglesa Boots ter apresentado uma forma de classificao em estrelas de acordo com o resultado obtido para esse teste. Por isso esse protocolo muito difundido nesse pas. O mtodo envolve a medida de absoro do produto na faixa de 290 nm a 400 nm, e depois o clculo da razo das reas sob a curva UVA (290 nm a 320 nm) em relao UVB (320 nm a 400 nm), de acordo com a Equao 2. O resultado normalmente expresso em porcentagem.

Da mesma forma que o comprimento de onda crtico, um mtodo relativo, ou seja, apresenta informaes sobre uma regio do ultravioleta em relao a outra. Isso significa que dois produtos com o mesmo resultado no necessariamente tero o mesmo perfil espectrofotomtrico. Norma Australiana: a Austrlia o nico pas que possui mtodo oficial para medio da proteo UV-A. O documento, denominado de Australian Standard ou AS/NZS 2604:1998, regula todas as anlises relativas eficcia de protetores solares, como medio de proteo solar UV-B (FPS), teste de resistncia gua e medio de proteo UV-A. A norma australiana para a regio UVA baseada em medidas espectrofotomtricas e composta de 3 tipos diferentes de procedimentos para atender a diferentes tipos de produtos. O resultado (independente do procedimento) expresso em porcentagem. UVA Balance: o UVA Balance foi desenvolvido na Alemanha e, como a norma australiana, foi normatizado sob o cdigo DIN 67502:2004. um mtodo que utiliza resultados in vivo e in vitro de medida relativa da proteo UVA de protetores solares. O resultado obtido pela relao de proteo UVA (PPD in vitro) e a proteo UVB (FPS in vivo), de acordo com Equao 3.

O valor do PPD in vitro obtido atravs da obteno da curva espectrofotomtrica do protetor solar. O FPS determinado pela metodologia in vitro comparado com a medio in vivo e, se os valores forem diferentes, deve-se ajustar a curva de absoro por uma constante (C) para que os resultados se igualem. Em seguida, a curva ajustada resultante utilizada para

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calcular o valor do PPD in vitro. O mtodo fornece um resultado em porcentagem (relao UVA/UVB), entretanto o mesmo no define como expressar os resultados na rotulagem dos produtos. O mtodo UVA Balance possui boa correlao com os valores obtidos in vivo; possui reprodutibilidade; aplicvel em todos os tipos de produtos para proteo solar; aplicvel em todos os sistemas de filtro UV; possibilita a diferenciao entre protetores solares, mas no leva em considerao se o filtro (ou o sistema de filtros) fotoestvel. Nos EUA o FDA ainda no definiu uma metodologia para a avaliao de produtos no UV-A. A Sunscreen Drug Products For Over-The-Counter Human Use; Final Monograph FDA 1999 no orienta qual metodologia deve ser utilizada para este tipo de teste. Contudo, destacamos a recomendao da Academia Americana de Dermatologia de utilizar-se das metodologias do Comprimento de onda crtico associado ao PPD in vivo para este fim. Na Europa se recomenda aos pases membros seguir as diretrizes para Avaliao de Performance de Protetores Solares. Nesse documento, o nvel mnimo de proteo aceito para um protetor solar FPS 6 com proteo UVA comprovada de, no mnimo, um tero do valor do FPS, atravs da metodologia PPD (ou equivalente) com comprimento de onda crtico mnimo de 370 nm. Apesar de ser uma recomendao, normalmente esse tipo de informao acatada como uma norma e muitas empresas europeias, norte-americanas e brasileiras j esto se adequando a esses critrios. Mtodo JCIA, COLIPA, CTFA Em novembro de 2006, a COLIPA publicou um guideline com uma metodologia para avaliao do fator de proteo UVA in vitro alternativa ao mtodo PPD (in vivo). Ela esta baseada num protocolo que foi validado internacionalmente e cujo princpio muito parecido com o UVA Balance. De acordo com este mtodo, aplica-se uma fina pelcula de protetor solar sobre placas com superfcie enrugada (simulando o microrrelevo da pele), em seguida, mede-se a transmitncia dessa amostra na regio do ultravioleta. Como normalmente os resultados obtidos de uma anlise in vitro no correlacionam numericamente de maneira direta com o resultado obtido in vivo, o mtodo preconiza o ajuste da curva espectrofotomtrica atravs de um fator de correo (C) at que o valor de FPS in vitro seja igual ao FPS obtido in vivo. Em seguida se calcula o valor do PPD in vitro inicial (PPD0). A amostra (ainda aplicada na placa) ento exposta a uma dose de radiao proporcional a 1,2 J.cm-2 (dose=PPD0 x 1,2 J.cm-2). Finalmente, registram-se mais um espectro de absoro na regio do ultravioleta, aplica-se novamente o fator de correo (C) e, com base nessa curva (exposta e ajustada), calcula-se o PPD in vitro exposto (PPDf). O fator de proteo UVA final calculado da seguinte forma:

Na monografia do mtodo so detalhados os equipamentos e apresentadas as equaes para todos os clculos, inclusive dos coeficientes de ajuste (C). O FPS-A do produto calculado a partir da mdia dos FPS-A de trs placas individuais, no mnimo. Se o coeficiente de variao entre os valores das placas exceder 20%, placas adicionais devem ser includas nas medidas at que este coeficiente seja atingido. Ainda no se tem notcias de como ser a receptividade desta metodologia pelos grandes mercados e somente a partir da publicao dos primeiros resultados da sua aplicao prtica poderemos avaliar o seu impacto na opinio das empresas e, principalmente, dos consumidores. Formulando protetores solares Formuladores tm desenvolvido uma grande variedade de protetores solares sob diversas formas cosmticas, como gis, leos, bastes, aerossis, pomadas, mousses ou emulses. Existem vrios fatores que determinam qual seria a melhor combinao de componentes para um protetor solar, dependendo inclusive dos critrios financeiros e de marketing do projeto. Considerando somente o ponto de vista tcnico, os componentes que merecem especial ateno para garantir o desenvolvimento de um bom produto seriam os filtros solares, os emolientes e os emulsificantes da formulao. Os outros componentes, como conservantes, umectantes ou fragrncias, tm tambm seu papel no resultado final do desenvolvimento, principalmente quando analisamos a relevncia com que deve ser considerada a cosmeticidade e a compatibilidade dermatolgica do produto. A escolha adequada de cada um destes componentes se torna mais complexa se consideramos a necessidade de contemplar

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no somente as caractersticas do produto em si, dentro da sua embalagem, mas sua performance durante e aps sua aplicao sobre a pele onde, de fato, ira revelar suas propriedades mais importantes. No que se refere ao produto em si, ainda dentro da embalagem, devemos considerar associaes de componentes que resultem na formao de um sistema estvel, resistente a variaes trmicas e choques mecnicos, com seu conjunto de propriedades especficas relativamente constantes e dentro dos parmetros estabelecidos pelo formulador durante o prazo de validade proposto para o produto. Devem produzir um produto visualmente agradvel, com aparncia compatvel com a forma cosmtica escolhida; se emulso pode apresentar superfcie brilhante e homognea, se leo deve apresentar-se homogneo e sem sedimentos, e compatvel com o material do qual composta a embalagem. Quando aplicado sobre a pele deve apresentar boa espalhabilidade permitindo a formao de um filme homogneo com ntimo contato com o micro relevo cutneo. Estes componentes devem combinar-se de forma a assegurar tambm uma boa disperso das partculas dos filtros solares. Os dois principais fatores relacionados boa performance de protetores solares altamente eficientes (que apresentam relativamente baixas concentraes de filtros solares e altos fatores de proteo) so a espessura e homogeneidade do filme formado sobre a pele e a boa disperso das partculas no interior deste filme, evitando-se a formao de aglomerados. Quanto maior a disperso das partculas maior a probabilidade de que ocorra a captura dos ftons de energia ultravioleta que incidem sobre elas. Quando mais ftons bloqueados pela malha de molculas dos filtros solares, menor seu nmero nas camadas profundas da pele, portanto maior o fator de proteo solar. Como podemos perceber fundamental para o formulador dominar corretamente estes materiais. Devido a isso muitos laboratrios de desenvolvimento preferem determinar uma relao especfica de componentes conhecidos pela sua equipe e somente empregar novos componentes aps dedicar o tempo necessrio para conhecer todas as suas caractersticas. No excluindo a importncia dos demais ingredientes destacamos, titulo de exemplo do que foi dito acima, os trs mais importantes para a performance dos protetores solares, os emolientes, os emulsionantes e os filtros solares.

Figura 5 - Protetores solares aplicados sobre o microrrelevo cutneo.

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Figura 6 - Formas de disperso dos filtros solares no interior do filme formado sobre a pele. Emolientes Existem vrias categorias de emolientes oleosos usados em protetores solares: steres, ceras, cidos e lcoois graxos, leos minerais, silicones etc. Para os steres existem algumas regras bsicas para seu uso que parecem merecer consenso entre os formuladores: a) Quando a cadeia oleosa aumenta: O ster mais viscoso Tornam-se mais difceis de emulsionar Produzem uma sensao mais oleosa ao tato Ficam menos polares, o que pode influenciar na efetividade dos filtros solares b) Quando a ramificao da cadeia aumenta: Quanto mais ramificado o ster, mais seca a sensao ao tato Ficam menos polares c) Quando h insaturao: Quanto mais insaturada a cadeia, menos polares Mais difcil de emulsionar Mais evanescentes durante o espalhamento Ceras e lcoois graxos interferem na viscosidade aparente do produto como tambm na sensao ao tato. Quanto maior o ponto de fuso, maior o impacto na viscosidade e mais ceroso o toque na pele. Os lcoois graxos so conhecidos formadores de cristais lquidos que so estruturas identificadas facilmente sob microscopia ptica e que esto relacionadas com a estabilidade das emulses, favorecendo a padronizao da performance do produto acabado durante seu prazo de validade. Os silicones formam um grande grupo de polmeros com caractersticas diversas devido heterogeneidade de tamanho e formato das cadeias. Aumentam a espalhabilidade, reduzem a oleosidade e implementam a resistncia gua dos protetores solares. Podem interferir negativamente na incorporao de alguns filtros solares na emulso competindo pela energia dos sistemas emulsionantes ou pelo espao nas micelas. Poucos silicones solubilizam os filtros solares. O ciclopentasiloxano (245) exemplo de um silicone voltil de peso molecular em torno de 371 empregado para implementar a espalhabilidade sem aumentar a oleosidade, o dimeticone (200/350) com peso molecular em torno de 10.000 tradicionalmente usado na formulao magistral. Ambos solubilizam muito fracamente a maioria dos filtros solares no contribuindo para o aumento da performance dos produtos. O ponto mais relevante do uso de silicones em protetores solares o fato de estes ingredientes

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serem excelentes modificadores sensoriais. Produtos modernos devem atender s exigncias cada vez maiores dos consumidores que exigem produtos com excelente aplicabilidade, espalhabilidade e after feeling e os silicones so quase insubstituveis como potencializadores destas qualidades num produto cosmtico para a pele. possvel fazer penetrar um filtro solar no interior das camadas superficiais da pele devido capacidade de alguns emolientes atuarem como promotores desta penetrao. No h consenso entre os pesquisadores se esta penetrao seria desejvel para os protetores solares. Uma possibilidade seria de que ao penetrarem mais profundamente na camada crnea poderiam aumentar sua estabilidade e durabilidade da atividade protetora. Por outro lado se invocamos a toxicologia podemos correlacionar a dificuldade em controlar esta penetrao a efeitos de intolerncia cutnea algumas vezes apresentados por estes produtos. De um modo geral os emolientes podem atuar de maneiras diferentes, dependendo do tamanho da sua molcula e da concentrao usada na formulao. Seu uso em protetores solares importante, pois esto diretamente ligados ao grau de espalhabilidade do produto na pele. A performance do protetor solar depende da forma com aplicado. Muitas pessoas, alm de empregar quantidade insuficiente, no tem pacincia (ou conhecimento) para espalh-lo corretamente, deixando reas desprotegidas comprometendo a performance do produto. O emprego de emolientes deve busca minimizar esta questo facilitando a aplicao, permitindo o fcil contato com as irregularidades do relevo cutneo e em determinadas condies, conseguindo homogeneizar o filme protetor custa de suas propriedades de capilaridade. O espalhamento do protetor solar sobre a pele ocorre em dois importantes momentos: enquanto a gua da emulso esta evaporando e sua presena facilita a aplicao e aps sua evaporao, quando a espalhabilidade depende do esfregamento aplicado pele pelo usurio e pelas caractersticas fsico-qumicas das interfaces leo/pele e leo/ar. Outro fator importante para a escolha dos emolientes resultado de estudos da estabilidade dos protetores solares com acompanhamento do FPS durante o prazo de validade do produto. Em algumas formulaes em que os filtros solares se encontram precariamente solubilizados, alguns deles, com o passar do tempo e sob condies normais de estocagem, podem precipitar no interior da emulso formando cristais e provocando a reduo do FPS do produto. Um bom procedimento neste caso o estudo da solubilidade dos filtros solares escolhidos, tanto sozinhos como associados, nos emolientes da formulao. Ingredientes como o Carbonato de Caprilila, Neopentyl Glycol Diheptanoate, Adipato de Dibutila ou Isononanoato de Cetoestearila podem facilitar a solubilizao dos alguns filtros solares aumentando sua estabilidade e incrementando sua performance devido boa distribuio das partculas dos filtros sobre a pele. Emulsionantes Estes componentes influenciam tanto na performance do produto quando aplicado sobre a pele como na estabilidade da formulao no interior da embalagem. Os emulsionantes so os principais responsveis pela rpida formao e estabilidade de emulses. Podem contribuir para uma boa distribuio das fases da emulso formando micelas regulares que assegurem estabilidade ao sistema e distribuio homognea para as partculas dos filtros solares. Relacionamos aos emulsionantes a aplicao de conceitos tecnolgicos clssicos que podem iniciar com Griffin e sua noo de Equilbrio Hidro Lipdico (EHL) at as micro ou nanoemulses e emulses produzidas segundo o processo de temperatura de inverso de fase (PIT). Um fator que deve ser considerado para a escolha do sistema emulsionante de que a maioria dos filtros solar apresenta valores de tenso superficial mais altos que dos emolientes geralmente usados neste tipo de produto. A energia requerida para estabilizar o sistema maior, conduzindo logicamente o formulador aparente necessidade de empregar maiores concentraes de emulsionantes de alto EHL. Este caminho pode resultar em formulaes relativamente boas e estveis, mas se considerarmos outros fatores importantes para os protetores solares como resistncia gua e compatibilidade cutnea se revela um dos desafios mais instigantes desta categoria de produtos. No h ainda soluo perfeita para este desafio, porm h excelentes caminhos relatados pela literatura para minimizar esta dificuldade. Uma delas o uso de aditivos reolgicos: carbmeros, crospolmero de acrilatos e acrilato de alquila C10-30, hidroxietilceluloses, gomas naturais: xantana, guar (Cyamopsis tetragonoloba), glucomananas, gelanas ou os amidos de batata e milho modificados minimizam a necessidade dos emulsionantes tradicionais, permitindo variar a viscosidade e incrementar a estabilidade destas emulses. Muitos deles conferem vantagens adicionais do ponto de vista sensorial, tornando as formulaes menos untuosas ao toque. Podem influenciar na espalhabilidade do produto, pois tambm atuam como reguladores da evaporao da gua da formulao e, ainda, em alguns casos, reduzindo a penetrao cutnea de alguns componentes mitigando o potencial irritante do produto.

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Como nos referimos logo acima, a resistncia gua um dos atributos que sofre influncia dos emulsionantes empregados na formulao. Para que um protetor solar que declara ser resistente gua seja efetivo evidente que deva se manter aderido pele por algum tempo quando em contato com gua ou mesmo quando ocorre transpirao. Sob estas condies desejvel que o filme formado sobre a pele no volte a emulsionar com facilidade. Para conseguir isso usamos emulsionantes lipdicos e/ou polmeros emulsionantes que aps sua deposio sobre a pele se tornam resistentes formao de uma nova emulso. Filtros solares Basicamente existem dois tipos de agentes que filtram a radiao ultravioleta: os filtros fsicos (ou inorgnicos) e os filtros qumicos (ou orgnicos). Uma nova categoria pode ser criada a partir do lanamento do filtro solar Methylene-bisbenzotriazolyl Tetramethylbutylphenol (Bisoctrizole, MBBT, TINOSORB M), a dos filtros orgnicos insolveis. Esta molcula se apresenta na forma de uma partcula microfina (200 nm), insolvel, dispersa num veculo a base de um emulsificante (Decyl glucoside), propilenoglicol. gua e goma xantana. Este filtro solar apresenta um mecanismo de proteo baseado na absoro, reflexo e difrao das radiaes UV B e UVA, agindo ao mesmo tempo como um filtro orgnico e micropigmento. Como citamos acima, os principais mecanismos de ao dos filtros solares so: absoro, reflexo e espalhamento da luz. No mecanismo de absoro a radiao UV absorvida por esses filtros e a energia UV e transformada em energia no danosa para a pele humana. Reflexo e espalhamento impedem que a radiao penetre na pele. Segundo a RDC 47 de 16 de maro de 2006, os formuladores brasileiros tm 33 molculas disponveis para uso em protetores solares tpicos. Estes componentes foram selecionados a partir das listas positivas adotadas pela Unio Europeia e pelo FDA dos Estados Unidos. Eles esto relacionados segundo um nmero de ordem, pelo seu nome qumico em portugus e pelo nome INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients) e apresentam a concentrao mxima autorizada no nosso pas para uso em protetores solares tpicos.

Figura 7 - Proteo UV por reflexo e espalhamento. Filtros fsicos Os filtros fsicos mais utilizados so dixido de titnio e xido de zinco. No passado eram utilizados na sua forma bruta que resultavam produtos opacos na pele, no sendo cosmeticamente aceitveis. Com o desenvolvimento de tecnologias de micronizao (diminuio do tamanho das partculas) passaram a ser transparentes na pele proporcionando filtragem da radiao UVA e UVB e tornando muito mais fcil formular produtos. Os filtros fsicos atuam na pele absorvendo, refletindo e espalhando a radiao UV da pele. Filtros qumicos So aqueles que absorvem a energia luminosa, convertendo-a em energia no danosa para a pele humana. Existem numerosos compostos aprovados para uso em protetores solares, cada qual com absoro em determinadas faixas de comprimentos de onda, UVB, UVA ou UVB e UVA. O mecanismo de ao dos filtros qumicos baseado nas caractersticas de absoro dos anis aromticos (molcula bsica dos filtros qumicos) e dos radicais ligados a estes anis que conferem diferentes intervalos de absoro. O fton de luz atinge a molcula do filtro, absorvido e imediatamente reemitido para o meio com seu comprimento de onda modificado, minimizando os efeitos danosos da radiao UV. Associao de filtros solares Diversos autores citam as vantagens da associao de filtros solares para uma boa performance do produto. As principais associaes empregam filtros lipossolveis e hidrossolveis ou filtros UV-B e UV-A. Segundo nossa experincia, as maiores vantagens esto em associar filtros solares que se complementam do ponto de vista de seu perfil de atividade espectrofotomtrica. Cada componente da associao deve ser considerado pelo seu perfil de atividade caracterstico e a

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melhor combinao ir ocorrer quando escolhemos componentes que, em seu conjunto, produzem o espectro que desejamos para o produto final. O perfil de atividade ideal deve considerar o FPS que desejamos que o produto apresente e a amplitude do espectro de ao, que geralmente deve se estender para alm da faixa do UV-B. O mximo rendimento de uma associao de filtros pode ser atingido quando evitamos misturar filtros com perfis espectrofotomtricos semelhantes. Quanto maiores forem as diferenas entre eles, melhor ser o rendimento da nossa associao de filtros. As diferenas mais desejveis so na intensidade com que estes filtros absorvem em determinados comprimentos de onda, e na amplitude do perfil, abrangendo reas diferentes do espectro ultravioleta. Como exemplo, a associao de octil triazone e salicilato de metila interessante, pois aproveita a alta performance a 314 nm do octil triazone com o perfil amplo e achatado da curva espectrofotomtrica do salicilato de metila produzindo um perfil alto (grande potencial de absoro) e amplo (o espectro pode se estender por vrios comprimentos de onda). Outra premissa a destacar que, alm dos perfis complementares necessrio que esta mistura leve em considerao as propores ideais de cada um dos componentes, nas quais suas caractersticas desejveis se manifestam de forma mais adequada. Uma associao de 5% de salicilato de metila e 2% de octil triazone ir apresentar um perfil de atividade diferente se inverter as concentraes dos filtros. sempre recomendvel o estudo dos perfis espectrofotomtricos dos filtros isolados e das associaes, experimentando-se diversas propores e concentraes para determinar o melhor conjunto antes de iniciar sua incorporao aos outros componentes da formulao. Para este estudo se pode usar tcnicas relativamente simples que empregam espectrofotmetros UV-Vis munidos de cmaras de quartzo em que so determinados os ndices de absorbncia e traados os perfis de atividade nos comprimentos de onda de 200 a 400 nm. Este tipo de anlise instrumental til somente na fase em que buscamos informaes sobre os ingredientes isolados, pois sofre a interferncia de diversas variveis da formulao o que a torna inadequada para o desenvolvimento do produto. Novos filtros solares, disponveis recentemente, podem oferecer alternativas realmente interessantes de associaes. O BisEthylhexyloxyphenol Methoxyphenyl Triazine (BEMT, Tinosorb S) pode ser aproveitado por sua eficincia tanto no UVB como no UVA, fotoestabilidade e como estabilizador de associaes com Avobenzona. Este filtro solar tem solubilidade limitada sendo possvel encontrar melhores resultados como o emprego de Isodecyl Salicylate, Methylene Dimethylether, Isoamyl pMethoxycinnamate (AMILOXATE, Neo Heliopan E 1000), Phenethyl Benzoate ou Dycaprylyl Carbonate, entre outros. Aps a aquisio da CIBA pela BASF, esta apresentou aos formuladores uma alternativa para facilitar o uso do Tinosorb S em alguns tipos de formulao: o Tinosorb S Aqua. Este ingrediente contm de 18% a 22% da molcula fotoativa em uma disperso polimrica que permite a incorporao na fase aquosa da formulao. O Disodium Phenyl Dibenzimidazole Tetrasulfonate (Bisdisulizole Disodium, Neo Heliopan AP) um filtro solar fotoestvel, hidrossolvel. Efetivo especialmente na faixa do UVAII oferece timas associaes com filtros lipossolveis, como tambm uma alternativa vantajosa para a substituio da avobenzona em algumas formulaes. Finalmente, um ingrediente desafiador o Polysilicone 15 (Dimethicodiethylbenzalmalonate, Parsol SLX). Segundo seu fabricante (DSM), o substituto ideal para o Ethylhexyl Methoxycinnamate (Octinoxate, Parsol MCX), pois estabiliza a avobenzona, pode ser usado em produtos capilares e ajuda na melhora do sensorial das formulaes.

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