proteger crianÇas e adolescentes: um trabalho em...

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Prezados amigos e amigas, Inspirado no Lema 2015 da Novamerica - - este número do está dedicado a debater as redes de proteção dos direitos das famílias, em especial das crianças e adolescentes. Quando a família está em risco social, as crianças e os adolescentes são os mais vulneráveis. Assim, é preciso pensar nas redes de proteção de direitos. Este é o convite do Boletim Cidadania em Rede. Inspirados em nosso compromisso institucional de educar em e para os direitos humanos, nosso objetivo é entender as atuais demandas que as famílias mais vulneráveis socialmente apresentam e como seria possível colaborar com as redes de proteção de seus direitos. Através de notícias, atividades, entrevistas, textos e imagens, queremos entender como funcionam algumas instituições importantes para garantia e proteção dos direitos humanos, com foco nas famílias em situação de vulnerabilidade social. Boa leitura e bom trabalho! “Família e escola: promover o diálogo e construir parcerias” Boletim Cidadania em Rede em em ede ede idadania idadania e Ano XII - Nº 3 / 2015 Apresentação Apresentação PROTEGER CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM TRABALHO EM REDE Proteger para Educar A ESCOLA E AS REDES DE PROTEÇÃO Com a Palavra... Com a Palavra... “Sempre acreditei que não adianta cuidar bem de uma criança se ela for maltratada em casa e passar fome. Eu diria que a participação comunitária é o principal fator do êxito do nosso trabalho na Pastoral da Criança, que é, na prática, altamente transformador, impulsionado pelo compromisso do Evangelho e da cidadania.” Zilda Arns (1934-2010) Médica, Pediatra e Sanitarista. Fundadora e Coordenadora Internacional da Pastoral da Criança. A Equipe. Zilda Arns

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Page 1: PROTEGER CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM TRABALHO EM REDEobservatorioedhemfoc.hospedagemdesites.ws/... · O Estatuto da Criança e do Adolescente tornou-se referência mundial. O Brasil

Prezados amigos e amigas,

Inspirado no Lema 2015 da Novamerica -- este número do

está dedicado a debater as redes deproteção dos direitos das famílias, em especial das crianças e

adolescentes. Quando a família está em risco social, as crianças eos adolescentes são os mais vulneráveis. Assim, é preciso pensarnas redes de proteção de direitos. Este é o convite do Boletim

Cidadania em Rede.

Inspirados em nosso compromisso institucional de educar em epara os direitos humanos, nosso objetivo é entender as atuais

demandas que as famílias mais vulneráveis socialmenteapresentam e como seria possível colaborar com as redes de

proteção de seus direitos.

Através de notícias, atividades, entrevistas, textos e imagens,queremos entender como funcionam algumas instituições

importantes para garantia e proteção dos direitos humanos, comfoco nas famílias em situação de vulnerabilidade social.

Boa leitura e bom trabalho!

“Família e escola:promover o diálogo e construir parcerias”

Boletim Cidadania em Rede

emem edeedeidadaniaidadania eAno XII - Nº 3 / 2015

ApresentaçãoApresentação

PROTEGER CRIANÇAS E ADOLESCENTES:UM TRABALHO EM REDE

Proteger para Educar

A ESCOLA EAS REDES DE PROTEÇÃO

Com a Palavra...Com a Palavra...

“Sempre acreditei que nãoadianta cuidar bem de uma

criança se ela for maltratada emcasa e passar fome. Eu diria que a

participação comunitária é oprincipal fator do êxito do nossotrabalho na Pastoral da Criança, que é, na prática,

altamente transformador, impulsionado pelo compromisso doEvangelho e da cidadania.”

ZildaArns (1934-2010)Médica, Pediatra e Sanitarista. Fundadora e CoordenadoraInternacional da Pastoral da Criança.

A Equipe.

Zilda Arns

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e

Ideias

Focoem

No entanto, esses preceitos legaisainda não foram devidamenteincorporados à vida cotidiana dasociedade brasi leira, comodemonstram os indicadoresrelativos à violência física epsicológica contra crianças eadolescentes. O elevado grau devulnerabilidade registrado paraesse grupo social, principalmentepara os mais pobres e não-brancos,evidencia que essa conquista dedireitos precisa ser respaldada porpráticas que estabeleçam novospadrões e atitudes no que dizrespeito à forma de tratar e lidarcom crianças e adolescentes, sejaem âmbito familiar, comunitário,social ou estatal.

Nesse contexto, a escola possui umpapel preponderante por ser umespaço de debate e difusão deinformações que pode influenciarpositivamente pais e comunidade.Ao mesmo tempo, ao se integrar aoSistema de Garantia de DireitosH u m a n o s d e C r i a n ç a s eAdolescentes, a escola passa a serum dos locais onde crianças,adolescentes e jovens podemcontatar pessoas capacitadas epreparadas para auxiliar nadenúncia e no enfrentamento daviolência. Para que isso aconteça, épreciso que a comunidade escolaresteja preparada para lidar com oscasos de violência, em parceriacom os demais atores das Redes deProteção Integral, participar dosprocessos de notificação eacompanhamento. Também éimprescindível capacitar gestores,professores e demais profissionaisde educação a fim de fortalecê-lospara lidar com situações e assuntos- na maioria das vezes, dolorosos,constrangedores e, em certoscasos, ameaçadores - que, pormuito tempo, foram silenciados enegligenciados pela sociedade.

1Texto adaptado de “Proteger para educar: aescola articulada com as redes de proteção decrianças e adolescentes”, de Ricardo Henriques,Leandro Fialho e Adelaide Chamusca (CadernosSECAD nº 5, Brasília, 2007).

Proteger para Educar1

da Proteção Integral, instituiu oSistema de Garantia dos Direitos daCriança e do Adolescente,posteriormente organizado peloEstatuto da Criança e doAdolescente (ECA).

Nesta concepção, ascompreendem

todas as políticas públicas,serviços, instituições, órgãos eatores voltados para a garantia dosd i re i to s da c r i ança e doadolescente. Em geral, é formadapor Ministério Público, Varas daIn fânc ia e da Juventude,Defensorias Públicas, Promotorias,Conselhos dos Direitos da Criança edo Adolescente, ConselhosTutelares, Conselhos Escolares,Conselhos de Saúde, Conselhos deAssistência Social, entre outros.

O artigo 227 da ConstituiçãoFederal sintetiza o Sistema deGarantia ao estabelecer comodever da família, da sociedade e doEstado, garantir à criança e aoadolescente, com absolutaprioridade, o direito à vida, àsaúde, à alimentação, à educação,ao lazer, à profissionalização, àcultura, à dignidade, ao respeito, àliberdade e à convivência familiar ecomunitária, além de colocá-los asalvo de toda forma de negligência,d i scr iminação, exploração,violência, crueldade e opressão.

A o d e t a l h a r o s d i r e i t o simprescindíveis e as violaçõesinaceitáveis, a Constituição criou abase de sustentação do ECA. Osd i r e i t o s d a s c r i a n ç a s eadolescentes expressos nesseEstatuto vinculam-se ao debatemais amplo dos Direitos Humanos eenvolvem os Poderes Legislativo,Executivo e Judiciário. Em seuartigo 86, estabelece que a políticade atendimento dos direitos deveser feita por meio de umconjunto articulado de açõesg o v e r n a m e n t a i s e n ã o -governamentais, da União, dosEstados, do Distrito Federal e dosmunicípios.

Redes deProteção Integral

É inegável reconhecerque a violência e os maus

tratos às criança e aosa d o l e s c e n t e s e s t ã o

p r e s e n t e s e m d i v e r s a ssociedades. Infelizmente, talviolência tem sido recorrented e s d e o s p r i m ó r d i o s d ahumanidade e se manifesta dediferentes formas.

Nesse contexto, a concepção decriança e de adolescente comosujeitos de direitos é, ainda, umaconquista recente.

Fruto de contribuições de diversasáreas do conhecimento e damobilização de diferentes atoresao longo do século XX, a adoção derecomendações de proteção egarantia dos direitos da criançapela comunidade internacional sedeu de forma gradativa.

A Declaração Universal dos DireitosHumanos, de 1948, reconheceu quea infância merecia cuidadosespeciais. Posteriormente, foireconhecido que essa condiçãopeculiar de vida exigia umadeclaração à parte e, em 1959, foiaprovada a Declaração dos Direitosda Criança. Porém, foi em 1989,com a realização da ConvençãoInternacional sobre os Direitos daCriança, que foi efetivado um novoparadigma internacional de defesados direitos desse grupo, a partir doqual os diversos países signatários,respaldados na chamada Doutrinada Proteção Integral, formularampolíticas públicas, em oposição àperspectiva de disciplinamento ed o m i n a ç ã o d e c r i a n ç a s ,perpetuada historicamente.

No Brasil, só na década de 80, apar t i r das t rans formaçõessocioculturais e da mobilização dediferentes grupos sociais, criançase adolescentes passaram a servistos como um grupo portador dedireitos e passível de proteçãoespecial. A Constituição de 1988,antecipando-se à ConvençãoInternacional sobre os Direitos daCriança e inspirada pela Doutrina

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1º momento:

2º momento:

SENSIBILIZAÇÃO

APROFUNDAMENTO

O/a animador/a apresenta algumas imagens paraintroduzir o tema e pede que os participantescomentem livremente.

Sugerimos imagens de rede: rede de pescadores; redede aranha; rede de proteção de artistas de circo; redesde dormir, etc.

Em seguida, o/a animador/a motiva o debate com asseguintes perguntas:

O animador distribui a todos os participantes uma cópiado texto (Seção

, do Boletim Cidadania em Rede).

Após a leitura, o/a animador/a pode guiar o debate comas seguintes questões:

O que estas imagens nos fazem pensar?

Para que servem as redes?

Como você relaciona as imagensapresentadas com o tema daproteção social dos direitos?

”“Proteger para Educar “Idéias emFoco”

Apresentamos um trecho da entrevista de Maria do Rosário Nunespublicada no site Maria do Rosário é deputada

federal pelo PT-RS e foi Ministra dos Direitos Humanos.Pro Menino.

O Estatuto da Criança e do Adolescente tornou-se referênciamundial. O Brasil foi o primeiro país a ter uma legislação específicapara crianças e adolescentes. Nestes 25 anos de ECA, o que temos a

comemorar?

Maria do Rosário:

estatuto de cidadania

O Estatuto é uma referência mundial, porque elesurgiu no bojo da democratização do Brasil. Ele surgiu a partir do

crescimento desse movimento democrático que resultou na Constituiçãode 1988. Ele também é parte de uma movimentação internacionalimportante, a mesma que resultou na Convenção dos Direitos dasCrianças das Nações Unidas. Então, é uma legislação de caráter

democrático e garantista, que inaugurou um conceito sobre direitos dacriança e do adolescente, superando a doutrina da situação irregular. É

um da infância e da adolescência brasileira,porque, assim como a Constituição Federal fez em 1988, abrindo

caminho para a igualdade e justiça entre homens e mulheres, dizendoque a lei tem um valor idêntico para todas as pessoas. Ao garantir a

condição de sujeito de direitos da criança e do adolescente e ao mesmotempo destacar sua condição de sujeitos que vivenciam uma condição

peculiar de desenvolvimento, o Estatuto foi além da própriaConstituição, interpretando-a positivamente para a infância. Ele

garantiu a igualdade entre todas as crianças e adolescentes brasileiroscomo direito, e ao mesmo tempo estabeleceu a distinção, que é a

responsabilidade diferenciada que a família, o estado e a sociedadedevem ter com as crianças e adolescentes, na medida em que são

crianças e adolescentes.

Que tipo de desafios há de se enfrentar para queas crianças e os adolescentes se tornem

prioridade?

Maria do Rosário: O grande desafio para que secumpra este princípio humanitário diante das

crianças e dos adolescentes previstos no Estatuto éjustamente o enfrentamento dessa cultura. Para uma

sociedade com valores democráticos e dereconhecimento dos direitos humanos de todas as

pessoas, em todas as idades, em qualquer etnia, emqualquer situação social, seria fundamental queconstruíssemos uma prática de escutarmos as

crianças e os adolescentes. No Brasil, nós não temosessa prática de escuta, elas estão desprovidas de

poder. Além disso, há uma incapacidade em geral decolocar-se no lugar de um adolescente, de uma

criança. Este colocar-se no lugar do outro requerpensar nas crianças em geral a partir daquela quefomos, a partir daquelas com as quais convivemos,

incluindo a nós mesmos. Hoje, vivemos uma situaçãode paradoxo no Brasil, no aniversário de 25 anos devigência do Estatuto da Criança e do Adolescente.Por um lado, nós temos uma legislação garantista,

uma legislação de direitos, e, por outro, uma culturade violência contra a infância.

O que mais chamou nossa atenção no texto?

Como entendemos as redes de proteçãosocial?

Qual seria nosso papel hoje para fazer daescola um elo (ou um nó) na rede deproteção dos direitos das crianças eadolescentes?

Como promover mais diálogo entre asfamílias e a escola?

Como fortalecer as redes de proteção dosdireitos das crianças e adolescentes?

COMPROMISSO

O/a animador/a inicia este momento lendopausadamente as palavras de Zilda Arns (Seção

) e os pontos da Seção .

Após estas leituras, propõe a seguinte tarefa para ogrupo:

Após um breve debate, o/a animador/a pode convidaros participantes a registrarem o compromisso assumidonum cartaz, sintetizando a conversa do grupo.

“Com aPalavra” “Você Sabia?”

3º momento:

Marcelo Andrade

A ESCOLA E AS REDES DE PROTEÇÃOFaça Acontecer!

Esta seção está aberta para sua opinião.Comunique-se conosco!

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sobre o tema discutido.

NOTÍCIA

Relator do ECA critica redução da maioridade:

"criança é futuro do país"Renata Tavares | UOL Notícias | 12/07/2015

ISSN 1677 - 4167 Rua Dezenove de Fevereiro, 160 - Botafogo - CEP : 22280 - 030 -Rio de Janeiro - R.J. - BRASILTel/fax: 2542 6244 - 2295 8033 - E-mail: [email protected] - http://www.novamerica.org.br

NOVAMERICA

Editora: Coordenação:Composição Gráfica:

Susana SacavinoCompañia Visual Manteca

Marcelo Andrade

Programa Direitos Humanos Educação e Cidadania

NOVAMERICA

Realização:

Prestes a completar 25 anos, o ECA (Estatuto daCriança e doAdolescente) já assumiu a maioridade faztempo. Mas ainda gera polêmica e tem sido altamentediscutido nos últimos meses por causa da PEC(Proposta de Emenda à Constituição) que prevê aredução da maioridade penal de 18 para 16 anosaprovada em primeiro turno pela Câmara dosDeputados.

O Estatuto foi criado e sancionado no dia 13 de julhode 1990 para proteger integralmente crianças de 0 a12 anos incompletos e adolescentes de 12 a 18 anos eassim assegurar que sejam acolhidos pela sociedade,a família e o Estado, recebendo todas asoportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar odesenvolvimento físico, mental, moral, espiritual esocial, em condições de liberdade e de dignidade.

O autor da lei é o ex-senador Ronan Tito (PMDB), 84anos, que mora em Belo Horizonte e vive uma "vida deaposentado". Tito foi deputado federal em 1978 e1982, atuou como secretário do Trabalho eAção Socialdo governo Tancredo Neves em Minas Gerais, entre1983 e 1984, e foi eleito senador em 1986.

Questionado sobre as mudanças que o Estatuto sofreuao longo dos anos, Tito respondeu que é "o Estatutotem mais artigos que a própria Constituição Federal".O ECA conta com 267 artigos, enquanto a Constituiçãotem 100. Mas o ex-senador não esconde o orgulho dotexto.

, declarouRonan Tito.

,

“Ele foi criado em uma época altamentedemocrática. Não conheço nenhum outro projetobrasileiro que foi condecorado pela ONU(Organização das Nações Unidas). Inclusive foicopiado por muitos países, que fizeram suas leisbaseadas nele. Ele sofreu alterações, mas o espíritocontinua o mesmo. Porque não é uma bíblia. É uma leie muitas vezes precisa ser adequada”

eNão!

www. http://amanhecer.strikingly.com

Você sabia que atualmentetramitam na Câmara dos Deputadosaproximadamente 500 projetos quetentam modificar o Estatuto daCriança e do Adolescente?

Que o mais radical desses projetosvoltou recentemente à tona: aProposta de Emenda Constitucional(PEC) 171/93, referente à reduçãoda maioridade penal de 18 para 16anos?

Que na madrugada do dia 2 dejulho, a PEC 171/93 foi aprovadapelos parlamentares, graças a umamanobra de seu presidente,Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Que a PEC 171/93 agora segue parao Senado, com a análise daComissão de Constituição e Justiçae de um grupo especial?

Que há uma ampla mobilização dosmovimentos sociais dos direitoshumanos contra a PEC 171/93 econtra a redução da maioridadepenal?

Para conhecer este movimento,você pode acessar o seguinte site: