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Protagonismo infantil: co-construindo significados em meio s prÆticas sociais Sergio Fernandes Senna Pires Angela Uchoa Branco Universidade de Braslia, Braslia-DF, Brasil Resumo: Neste artigo discutem-se as conceituaıes de protagonismo infantil e as possibilidades de participaªo das crianas na sociedade, diante das prÆticas sociais relacionadas institucionalizaªo da infncia e separaªo entre crianas e adultos. A partir da construªo social do conceito de infncia, baseado na pressuposiªo da incapacidade e da incompletude infantis, analisam-se os possveis nveis de participaªo infantil nos processos decisrios. Conclui- se que uma abordagem socio-histrico-cultural permite compreender como o desenvolvimento do conceito de infncia e a adoªo de outros critØrios poderªo promover maior aproximaªo entre crianas e adultos e suas formas de compartilhar projetos, responsabilidades e compromissos. Palavras-chave: Participaªo infantil. Protagonismo infantil. Conceito de infncia. Visibilidade infantil. Childrens participation: co-constructing meaning within social practices Abstract: In this article, the meaning of child participation and his/her effective possibility to take initiatives concerning social practices are discussed considering the institutionalization of childhood and childrens segregation from the adult world. Starting from the social construction of the childhood concept, based on the assumption of children inabilities and incapacities, follows a discussion concerning the possible different levels of children participation in decision making. From a sociocultural-historical approach, it is possible to understand how the development of the childhood concept and the adoption of different criteria may promote a closer approach between children and adults and the sharing of projects, responsibilities and commitments. Keywords: Children participation. Concept of childhood. Institutionalization of childhood. Child visibility. Protagonismo infantil: co-construyendo significados en el medio as prÆcticas sociales Resumen: En este artculo se discute los conceptos del protagonismo infantil y las posibilidades de participacin de los niæos en la sociedad, mediante las prÆcticas sociales relacionadas a institucionalizacin de la infancia y la separacin entre los niæos y los adultos. A partir de la construccin social del concepto de infancia, basado en la presuposicin de incapacidad e in complejidad infantil, se analizan los posibles niveles de la participacin infantil en los procesos decisorios. Concluye que un abordaje socio-cultural-histrico permite comprender como el desarrollo del concepto de infancia y la adopcin de otros criterios podrÆ promover mayor aproximacin entre los niæos y los adultos y sus formas de compartir proyectos, responsabilidades y compromisos. Palabras clave: Participacin infantil. Concepto de infancia. Institucionalizacin de la infancia. Visibilidad infantil.

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311Pires, S. F. S., & Branco, A. U. (2007). Protagonismo infantil, sociedade e significados

Protagonismo infantil: co-construindo significados em meio às práticas sociaisSergio Fernandes Senna Pires

Angela Uchoa BrancoUniversidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil

Resumo: Neste artigo discutem-se as conceituações de protagonismo infantil e as possibilidadesde participação das crianças na sociedade, diante das práticas sociais relacionadas àinstitucionalização da infância e à separação entre crianças e adultos. A partir da construçãosocial do conceito de infância, baseado na pressuposição da incapacidade e da incompletudeinfantis, analisam-se os possíveis níveis de participação infantil nos processos decisórios. Conclui-se que uma abordagem socio-histórico-cultural permite compreender como o desenvolvimentodo conceito de infância e a adoção de outros critérios poderão promover maior aproximaçãoentre crianças e adultos e suas formas de compartilhar projetos, responsabilidades e compromissos.

Palavras-chave: Participação infantil. Protagonismo infantil. Conceito de infância. Visibilidadeinfantil.

Children�s participation: co-constructing meaning within social practicesAbstract: In this article, the meaning of child participation and his/her effective possibility to takeinitiatives concerning social practices are discussed considering the institutionalization of childhoodand children�s segregation from the �adult world�. Starting from the social construction of thechildhood concept, based on the assumption of children inabilities and incapacities, follows adiscussion concerning the possible different levels of children participation in decision making.From a sociocultural-historical approach, it is possible to understand how the development of the�childhood� concept and the adoption of different criteria may promote a closer approach betweenchildren and adults and the sharing of projects, responsibilities and commitments.

Keywords: Children participation. Concept of childhood. Institutionalization of childhood. Childvisibility.

Protagonismo infantil: co-construyendo significados en el medio as prácticassociales

Resumen: En este artículo se discute los conceptos del protagonismo infantil y las posibilidadesde participación de los niños en la sociedad, mediante las prácticas sociales relacionadas ainstitucionalización de la infancia y la separación entre los niños y los adultos. A partir de laconstrucción social del concepto de infancia, basado en la presuposición de incapacidad e incomplejidad infantil, se analizan los posibles niveles de la participación infantil en los procesosdecisorios. Concluye que un abordaje socio-cultural-histórico permite comprender como eldesarrollo del concepto de infancia y la adopción de otros criterios podrá promover mayoraproximación entre los niños y los adultos y sus formas de compartir proyectos, responsabilidadesy compromisos.

Palabras clave: Participación infantil. Concepto de infancia. Institucionalización de la infancia.Visibilidad infantil.

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Protagonismo ou participação infantil?Processos decisórios e visibilidade em questão

Ao referir-se à forma como os adultos do iní-cio do século XX entendiam a infância, com toda apropriedade, Korczak (1919/1984, p. 95) aborda umdos elementos centrais quando se trata de assumirum papel de protagonismo em um contexto social:

E a nossa abordagem da infância, não seráreveladora do egocentrismo do adulto?Educados na escravatura, incapazes detransformar a vida, como poderíamos darliberdade aos nossos filhos? Deveríamos,em primeiro lugar, libertar-nos das nossaspróprias amarras.

O paradoxo com o qual iniciamos este artigo(como um servo pode conceder liberdade?) será abor-dado tomando-se em conta a necessidade de estu-darmos o protagonismo infantil, seus possíveis signi-ficados, níveis de exercício e as perspectivas que pro-movem ou restringem as suas possibilidades.

O que vem a ser protagonismo infantil? Exis-tem diferenças entre protagonismo e participação?Considerando-se as práticas sociais associadas à in-fância, sua institucionalização, separação do �mundoadulto�, será possível promover a participação real dascrianças? Que nível de participação é possível? Estassão questões que nortearam a elaboração deste artigo.

A origem etimológica do termo remete à pala-vra protagonistés que, no idioma grego, significavao ator principal de uma peça teatral, ou aquele queocupava o lugar principal em um acontecimento(Ferreira, 2004). As restrições mais comuns em rela-ção ao uso desse termo, no jargão sociológico, sedevem a fatores de ordem política, uma vez que autilização alternativa da palavra �participação� pare-ce sugerir �uma abordagem mais democrática na açãosocial, sem colocar em destaque um protagonista sin-gular� (Ferretti, Zibas & Tartuce, 2004, p. 3).

Entretanto, os autores enfatizam que, na revi-são bibliográfica realizada sobre o tema, encontra-ram diferentes interpretações dos termos protagonismoe participação, o que demonstra o verdadeiro caráterpolissêmico da expressão. Por ser um conceito pas-sível de diferentes interpretações e imbricado comoutros conceitos igualmente polissêmicos, como

participação, responsabilidade social, identidade, au-tonomia e cidadania, a argumentação acerca da im-propriedade de sua utilização perde o sentido. Afir-mam que nem mesmo a distinção conceitual entreparticipação e protagonismo ficou clara na bibliogra-fia que consultaram, concluindo que um autor podese referir ao protagonismo em contextos em que ou-tro falaria de participação, e vice-versa, havendo, ain-da, casos em que as duas expressões são usadas comosinônimos.

Apesar da polêmica em relação ao empregodos termos participação e protagonismo, parece ha-ver duas vantagens óbvias quanto à utilização prefe-rencial da palavra participação. A primeira se refereà facilidade do emprego do vocábulo por crianças,uma vez que, em uma primeira análise, a palavra par-ticipação é um termo de uso corrente na língua portu-guesa. A segunda vantagem se refere a maior facili-dade para explicar o que é participação (com o signi-ficado de protagonizar) para as crianças, no contextode programas ou campanhas que visem promover oseu envolvimento nos processos decisórios para trans-formações sociais.

Shier (2001) argumenta que a produção aca-dêmica sobre o assunto tomou um grande impulso apartir dos anos 1990 e que a participação infantil eseus desdobramentos teóricos vêm ganhando espaçonas práticas de sua promoção entre a população in-fantil ao redor do mundo (Adams & Ingham, 1998;Crowley, 1998; Hart, 1992; Save the Children, 1996;Shier, 1996; Treseder, 1997; Willow, 1997).

Destaca, ainda, o trabalho pioneiro de Hart(1992, 1997), que influenciou uma grande parte dostrabalhos ulteriores. Em seus estudos, Hart afirmaque não existem sociedades que ofereçam, o tempotodo, a máxima oportunidade de participação para ascrianças. Esta constatação não parece muito surpre-endente, tendo em vista que é virtualmente impossí-vel, considerando-se que o sistema político que servede contexto é um sistema democrático, que algumgrupo exerça o máximo de influência o tempo todo. Éesperado, portanto, que diversos grupos se revezemnos momentos nos quais são exigidos alguns tiposespecíficos de participação (Sinclair, 2004; Soares,Sarmento & Tomás, 2004).

Shier (2001) explica que Hart dividiu suas oitocategorias de participação em dois grupos: as três

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primeiras são aquelas em que não se pode consideraruma efetiva participação infantil. Consistem na ma-nipulação, na memorização e no envolvimento sim-bólico. As cinco categorias restantes agrupam os ele-mentos da participação e suas denominações, desta-cando a variação da iniciativa da proposta e da con-dução das ações. Na proposta de Hart (1997) estascategorias se encontram hierarquizadas em oito ní-veis progressivos de participação infantil. Toda a suaargumentação se desenvolve no sentido de que omaior grau de autonomia exercido pelas crianças é omais desejável e mais complexo.

Apesar de apresentar aspectos teóricos relevan-tes para a reflexão acerca da participação infantil, en-tendemos que a categorização hierárquica, necessaria-mente, não reflete a realidade do exercício da participa-ção por parte das crianças, o que já vem sendo aponta-do por diversos autores (Kirby, Lanyon, Cronin, &Sinclair, 2003; Shier, 2001; Sinclair, 2004). Além disso,confundir participação (em uma versão radicalmenteprotagônica) com predominância seria cometer errosemelhante ao de um sistema cujos processos decisóriossejam apoiados exclusivamente em adultos.

Partindo-se de um pressuposto de que as rela-ções se estabelecem de forma sistêmica ou ecológi-ca (Bronfenbrenner, 1986) existem diversas configu-rações possíveis para as relações que se estabele-cem entre crianças e adultos na execução de um pro-jeto ou mesmo durante o debate de idéias. Essas re-lações não são simétricas e acaba por existir algumgrupo que predomina ou detém o poder (Bourdieu,1989; Foucault, 1984; MacLaren, 1997). Observa-se,especialmente, que as relações de poder que se esta-belecem nos ambientes escolares poderão servir deambiente para a promoção da participação infantil,ou seja, o envolvimento ativo nos processos decisórioscoletivos de uma parcela da população que, histori-camente, por ter menor idade, foi segregada e afas-tada das práticas decisórias referentes à organizaçãoe dinâmica da vida social (Ariès, 1978; Kramer, 2003;Kramer & Leite, 1996). Além disso, existem práticassociais relativamente consolidadas que promovem umconjunto de interdições e de prescrições que sucessi-vamente negam ações, capacidades ou poderes àscrianças (Bujes, 2000; Sarmento, 2005), o que seráposteriormente detalhado.

Assumindo que se deseja promover a partici-pação infantil e considerando a complexidade dospossíveis arranjos de tarefas, decisões, níveis de abs-tração e estado desenvolvimental necessários para atomada de decisões, avaliação de conseqüências,exercício de competências técnicas, suprimento denecessidades econômicas, atendimento a aspectosjurídicos, entre tantos outros que poderiam ser levan-tados, a configuração mais provável é que haja dife-rentes arranjos complexos em relação à partilha deresponsabilidades, compromissos e, conseqüentemen-te, o desempenho de diferentes tarefas entre crian-ças e adultos.

O compartilhamento da responsabilidade, porapresentar soluções no contexto de um processodecisório cujo objetivo é lograr a ampla participaçãode todos, é bastante complexo (Escámes & Gil, 2003;Novaes, 2000). As propostas abstratas e a responsa-bilidade por disponibilizar os meios para a realizaçãodas ações concretas, de algum modo, precisam sercompatibilizadas. Por isso, hierarquizar os tipos departicipação, ainda que sob a alegação de catego-rização para fins acadêmicos, é impróprio. Uma vezque nos processos decisórios estão envolvidas com-petências distintas, recursos de diversas ordens, mo-tivos, conhecimentos, percepções, normas, é muitomais aceitável pensar que haverá um fluxo de com-promissos e propostas que se alternará entre crian-ças e adultos, conforme as possibilidades de contri-buição e cooperação dos diferentes grupos.

Diante disso, não há sentido em hierarquizar, apriori, níveis de participação tomando-se por base ainiciativa ou a responsabilidade pela condução dasações, pois o que realmente importa é como se reali-za o processo decisório e quais são os compromissosassumidos entre todos os atores. Sob o ponto de vistado processo decisório, interessa garantir a ampla par-ticipação, entendendo-se que, caso a caso, haverá li-mitações segundo as quais crianças ou adultos so-bressairão em determinado momento.

A apresentação da forma como diversos auto-res definem o protagonismo ou a participação servepara levar à conclusão de que a ação social, e a pre-paração para esse tipo de ação, se constituem nosprincipais elementos semânticos que os textos pre-tendem comunicar através das expressões que afir-mam: a criança como ser autônomo é capaz de

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incentivar ações e decisões importantes no con-texto de atividades relevantes. Mas será que as prá-ticas sociais atuais cooperam para que as crianças seafirmem como seres participativos no contexto social?

A construção histórico-cultural do conceito deinfância

Na segunda década do século XX, JanuszKorczak resolveu registrar a sua percepção acercada acentuada separação entre o mundo das criançase o mundo dos adultos. Nesta época já era possívelnotar os indicadores de uma nova forma de significare viver a infância.

Se dividíssemos a humanidade em criançase adultos, e a vida em dois períodos, o dainfância e o da maturidade, compre-enderíamos que as crianças ocupam umenorme espaço no mundo e na vida. Mas,demasiado absorvidos pelos nossos própriosproblemas, não as observamos, tal comoantigamente nós não nos apercebíamos daexistência da mulher, dos camponeses, dasclasses e dos povos oprimidos (Korczak,1919/1984, p. 88, grifos nossos).

Neste campo cabe ao trabalho pioneiro de Arièso mérito de ter inaugurado um estudo sistemáticoacerca da história da infância. Situada como um acon-tecimento caracteristicamente moderno, imerso emuma série de condições que se conjugam e que esta-belecem novas possibilidades de compreensão de umfenômeno que, apesar de apresentar uma dimensãobiológica, a infância é um fato cultural por excelên-cia (Ariès, 1978; Bujes, 2000).

Segundo Bujes (2000), o mérito de Ariès foidemonstrar que houve profundas mudanças nas ati-tudes e nos sentimentos das pessoas em relação àscrianças. Essas mudanças acabaram por serem in-corporadas às práticas sociais e à construção dos sig-nificados, fazendo emergir um conceito de infânciaque se consolidou a partir do século XVII e que in-fluiu decisivamente para que fosse dado um desta-que muito especial a esse momento da vida humana.

As fontes de dados utilizadas por Ariès inspi-ram cuidado quanto à generalização de conclusõesconstruídas a partir delas, uma vez que a maior parte,

como descreve o próprio autor, é de origem france-sa. Portanto, há que se ter especial cuidado, princi-palmente se o propósito é realizar uma análise sob oponto de vista histórico-cultural, uma vez que, nessaabordagem, não há categorias universais. É certo quea infância africana ou a infância asiática, ou mesmoa infância no semi-árido da Região Nordeste do Bra-sil poderá não se assemelhar ao argumentado por Ariès(1978). No entanto, esta constatação somente pode-rá ser analisada caso a caso, estudando-se a questãoda �infância� nas diferentes culturas.

A infância na Idade Média européia eravivenciada em um cenário bastante complexo e extre-mamente distinto do atual, em termos dos critérios depassagem para a idade adulta. Ariès (1978) argumen-ta que um dos temas prediletos do escritor medievaleram as �idades da vida�, segundo as quais o termoinfância se referia aos primeiros sete anos de vida.

Outro fenômeno que influenciava as práticassocioculturais medievais era a elevadíssima mortali-dade infantil, o que, segundo Ariès, estabelecia umarelação de causa e efeito entre o período crítico noqual a criança corria um maior risco de falecer e asua passagem para a vida adulta. Assim que supera-va esse período no qual a sua sobrevivência era im-provável, ela se confundia com os adultos.

Além disso, as idades da vida não corres-pondiam apenas a etapas biológicas, mas estavamintimamente relacionadas com a capacidade dascrianças se inserirem no trabalho, nas atividadesadultas e no exercício de funções sociais. A dura-ção da infância era reduzida apenas ao seu períodomais frágil. A partir do seu término, havia uma gran-de interação com os adultos e as crianças-em-transi-ção aprendiam as coisas que deviam saber ajudandoos adultos a fazê-las (Ariès, 1978; Gélis, 1991).

A alteração do cenário que existia na IdadeMédia e a constituição das práticas a partir das quaisse define modernamente a infância, se deu a partirda transição do século XVII para o XVIII e se pro-longou até o século XIX. Fundamentada em pressu-postos filosóficos de ordem moralista e religiosa, aconcepção de infância àquela época passou a enfatizara ingenuidade e fragilidade do ser humano (Ariès,1978; Gélis, 1991). Segundo os autores, a dinâmicadessa alteração iniciou-se em meio às práticas de

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mimar e paparicar as crianças, dando início a umafase em que o cuidado com esses pequenos seresseria crescentemente enfatizado até os dias atuais.Adultos e crianças se diferenciam cada vez mais como objetivo de garantir os mitos da inocência, daexcessiva vulnerabilidade, e da incapacidade,cujos efeitos se fazem sentir nos dias atuais, o que éapontado em estudos recentes (Checkoway,Kameshwari & Finn, 1995; Francis & Lorenzo, 2002;Hill, Davis, Prout & Tisdall, 2004; Matthews, Limb &Taylor, 1999).

O critério cronológico para caracterização dainfância surgiu a partir de duas necessidades: de uti-lizar um parâmetro preciso para identificar as pesso-as e pelo estabelecimento progressivo de uma rela-ção biunívoca entre a idade e a etapa de escolarização(Ariès, 1978). A idade se tornou uma quantidade juri-dicamente mensurável, com precisão de horas. Anecessidade em assumir uma personalidade jurídicaao longo da vida, transferir bens, sofrer sanções, en-tre outros aspectos legais reforçou a adoção dessecritério (Foucault, 1984; Gélis, 1991). Além disso, acriança começou a permanecer mais tempo na esco-la, deixando de conviver, nesse momento, com osadultos de sua família e de aprender a vida direta-mente por meio do trabalho ou da realização das ta-refas, que outrora serviam de parâmetro para passa-gem da infância à vida adulta.

Além disso, a crescente preocupação com o bemestar das crianças e o grande esforço realizado pelasfamílias em não aceitar a �fatalidade� da mortalidadeinfantil, passou a ser um objetivo dos pais, o que contri-buiu para a rápida difusão de elementos necessários àconstrução da nova concepção sobre a excessiva fra-gilidade da infância e dos conseqüentes cuidados es-peciais que seriam necessários (Gélis, 1991).

Com relação à necessidade da diferenciaçãoentre os indivíduos, Frones (conforme citado porMontandon, 2001) observa um curioso paradoxo re-lacionado à invasão da vida infantil por esse rigorosocontrole social e por uma regulamentação maciça nodomínio da educação e dos cuidados profissionais. Adinâmica social moderna exige que esse controle bu-rocrático (necessidade de identidade única a partirdo nascimento para o exercício do direito de possuir,por exemplo) se dê sobre o indivíduo, o que, hipoteti-

camente, promoveria a sua diferenciação e autono-mia. No entanto, esta suposta autonomia é acompa-nhada por um brutal controle social que é exercidosobre os seres humanos, entre eles as crianças. Estamesma constatação é confirmada pelo trabalho deCruz, Hillesheim e Guareschi (2005) e anteriormenteobservada por Foucault (1984).

A educação, então, se tornou o principal espa-ço institucional para organizar a vida das crianças.Esta influência institucional foi chamada por Ariès de�quarentena� e iniciou um �longo processo deenclausuramento das crianças (como dos loucos, dospobres e das prostitutas) que se estende até os nos-sos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização�(Aires, 1978, p. 11).

Sarmento (2004, 2005), com relação à disciplina,explica que as escolas impõem o que chamam de �ofí-cio de criança�. É um universo próprio de normas queservem para organizar o desempenho social das crian-ças, onde são conduzidos processos de socialização ver-tical, imposição de normas, idéias, crenças e valores quesão predominantemente construídos sob o ponto de vis-ta do adulto (McLaren, 1997; Sarmento, 2005).

Nesse contexto, o conceito sociológico atualde infância se constrói a partir da formação de umcorpo de especialistas, da institucionalização da es-cola, bem como do desenvolvimento de teorias e detécnicas específicas para lidar com as crianças. NosEstados nacionais europeus, surgidos a partir da que-da da sociedade feudal, foram estabelecidas regras,expectativas, possibilidades e limites para todos osindivíduos, que, de certa forma, serviram de contextopara essas transformações.

A formação de um corpo de especialistas sobrea criança é um aspecto relevante, uma vez que aumentao risco da ocorrência de uma separação mais evidenteentre crianças e adultos. Já que há alguém que sabetanto sobre ela, para que escutá-la diretamente?

Sarmento (2005) se refere à construção da in-fância, a partir de processos historicamente consoli-dados na negação de determinadas características oucondições, categoria ou aspecto da sociedade a umgrupo. Segundo sua argumentação, as crianças fo-ram pensadas e reguladas, na modernidade, a partirde um conjunto de interdições e de prescriçõesque sucessivamente negam ações, capacidades ou

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poderes às crianças e, como afirma Bujes (2000, p.28), �sobretudo inseri-las em processos de controle eregulação cada vez mais sofisticados, porque invisí-veis e consentidos�.

Tornando-se os corpos e mentes das criançasobjeto da ciência, proliferou o conhecimento acercadesses pequenos seres. Bujes (2000) afirma que osaber produzido com base nesse processo promovedois efeitos complementares que se reforçam mutu-amente: �descreve os processos pelos quais passamos sujeitos infantis no seu desenvolvimento (descre-vendo o que é normal e desejável neste desenvolvi-mento) e, ao mesmo tempo, serve de referência paraque tais processos sejam observados e avaliados�(Bujes, 2000, p. 29).

As crianças possuem características própriasao seu momento desenvolvimental, o que não as tor-nam menos competentes enquanto atores sociais nemseres incompletos ou imperfeitos, mas caracterizamelementos configuradores de um grupo singular naexistência humana (Qvortrup, 1991, 1995; Sarmento,2000, 2001, 2003).

No entanto, ainda que a concepção atual deinfância promova a invisibilidade e afonia infantis, ascrianças seguem participando ativamente da cons-trução cultural (Boto, 2002, p. 57).

Encontra-se um quê de silêncio, deseparação, de isolamento, e também deinvisibilidade. A criança é muda; em suaindividualidade, é espectador silencioso; ésilenciada em sua voz, que, pelo supostomoderno, não saberá falar por si. A criançadita pela razão moderna foi desencantada;sem dúvida. Foi secularizada e institu-cionalizada. (...) Ao separar a criança douniverso adulto, a modernidade cria ainfância como uma mônada � unidadesubstancial ativa e individual; presente, nolimite, em todos os seres infantis da espéciehumana: sempre a mesma; sempre igual,inquebrantável, inamovível, irredutível � ummínimo denominador comum. Não falamosmais das crianças, e sim da infância.

Expressam-se de formas diferenciadas a in-terpretação, simbolização e comunicação das suaspercepções do mundo. Ao interagirem com seus pa-

res e com adultos, se envolvem nas mais variadasações nos espaços público e privado. Oswald (1992),por exemplo, estudou a negociação e a criação decomplexos conjuntos de normas entre crianças, con-cluindo sobre a grande capacidade infantil em lidarcom elementos simbólicos. Estudos como este de-monstram que as culturas infantis, historicamenteposicionadas no tempo e no espaço, não são reprodu-ções, em verdadeira grandeza, de culturas adultas,nem são uma versão imperfeita ou em miniatura doque existe no ambiente social. São fruto de um com-plexo processo de co-construção para o qual as cri-anças estão mais do que preparadas para iniciar asua caminhada ao lado dos adultos.

No entanto, a institucionalização dos cuidadoscom a criança, bem como a grande quantidade detempo que passam envolvidas com a escola se torna-ram impedimentos para a participação infantil, tendoem vista o grau de controle exercido pelos adultos e apouca influência que as crianças possuem sob seuspróprios ambientes. Apesar disso, a escola poderiaser um espaço privilegiado para o exercício da parti-cipação e de tudo o que antes ocorria nos espaçossociais comuns e no trabalho. Procurando reagir aesse saber produzido durante o transcorrer do séculoXX, como lembra Sarmento (2005), as principais abor-dagens teóricas atuais sobre a infância desenvolvemsuas atividades de forma a pesquisar a competênciainfantil, considerando a sua legítima experiência, assuas oportunidades de vida e os seus ambientes. Umanova forma de significar a infância, apoiada nas pos-sibilidades, suas características particulares e sob oponto de vista do momento vivido é fundamental paraa superação dos estudos baseados na incapacidade eincompletude infantis.

Participação infantil, escolarização e controlesocial

Escolarização, controle social e os critériosmodernos de infância se imbricam. As revoluçõesdemográfica, econômica e social que ocorreram apartir do século XVII, serviram de contexto para quea escola se estabelecesse como um lugar de cuidadoda infância. As crianças, que antes aprendiam a rea-lizar as suas tarefas em um contexto laboral ao ladodos adultos, passaram a freqüentar a escola, esse novolocal de aprendizagem, que logo se tornou, no mundoocidental, um espaço para a imposição de disciplina.

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Estava então iniciada a separação do mundo adultodo mundo das crianças a que se refere JanuszKorczak e ao que Ariès (1978) chamou de �quaren-tena�, e Sarmento (2005), de �ofício de criança�.

Na sociedade ocidental, foi se difundindo apercepção de que a criança não estava madura paraa vida e que era um ser do futuro. Conseqüentemen-te, surgiu a compreensão de que as crianças precisa-vam de um regime especial de preparação para oingresso na vida adulta, o que auxiliou e agilizou oestabelecimento desse sistema de aprendizagem.Pouco a pouco, a partir do século XVIII até os diasatuais, foi se estabelecendo uma relação entre a ida-de das crianças e a série escolar que deveriam estarcursando.

A ênfase no critério cronológico para a passa-gem à vida adulta teve os seus primeiros momentosna confluência desse fenômeno com o surgimento danecessidade do gerenciamento da vida sob o pontode vista jurídico. O surgimento do Estado-nação, aadoção de sistemas republicanos e democráticos ne-cessitava da codificação de normas para o exercíciode direitos de um grande número de cidadãos. Semuma solução alternativa para a garantia de direitos,os países se lançaram numa produção legislativa de-senfreada. Para que essas leis tivessem a sua eficá-cia garantida, as pessoas precisavam ser diferencia-das umas das outras. A articulação entre os critérioscronológico, datiloscópico e, recentemente, os méto-dos de identificação genética constitui-se em estraté-gia metodológica utilizada nessa individuação. A ida-de cronológica é uma dimensão facilmente mensu-rável e extremamente útil para a aplicação de condi-ções jurídicas.

No entanto, observa-se um paradoxo nessecontexto. A necessidade de individuação das pessoaspara efeito do exercício de seus direitos coexiste comum forte controle social que oferece fortes sugestõesno sentido de promover imposição relativamente pa-dronizada de crenças e valores (Hardman, 2001;Qvortrup, 1995).

A par do processo de individuação e durante odecorrer do século XX, o tempo que a criança passa-va na escola foi aumentando, assim como tambémfoi incrementada a quantidade de anos que, obrigato-riamente, alguém deveria freqüentar o ensino funda-mental. Recentemente, no Brasil, aumentou-se de oito

para nove os anos escolares obrigatórios. Este con-texto, no qual as crianças passam, no mínimo, cincohoras diárias é ideal para a condução de estratégiasde disciplina e construção dirigida de significados. Eaí, este contexto torna-se capaz tanto de gerar impo-sições e canalizações de regras e valores, como tam-bém de promover a crítica, a flexibilidade simbólica ea criatividade entre os alunos. Entretanto, o controlesocial que se estabeleceu sobre as crianças, suas for-mas, seus níveis e suas articulações não lhes deixoumuito espaço.

A admissão do pressuposto que a criança nãoestá madura para a vida, e que é necessário submetê-la a um regime especial antes de permitir o seu in-gresso na vida adulta vem promovendo o conseqüen-te prolongamento da infância em sincronia com aduração da escolarização obrigatória. Não seria essauma forma indireta de também prolongar o períodoem que prevalece a concepção de inaptidão eincompletude da criança?

Os princípios que sustentam a participação in-fantil indicam que é necessário investir na autonomiainfantil, o que não significa incentivar o surgimentode pequenos tiranos, nem a submissão dos adultos àvontade das crianças. Pensar desta forma seria in-verter a situação que hoje se verifica sem nenhumganho desenvolvimental ou social. A verdadeira au-tonomia é regulada por um compromisso recíprocoentre os sujeitos (Rogoff, 1995).

É muito mais produtivo imaginar um sistemacomplexo de interações que se configura em tornoda iniciativa e das responsabilidades compartilhadasdurante a condução do processo decisório de realiza-ção das ações de um determinado projeto. Criançase adultos assumirão responsabilidades diferentes (nempor isso necessariamente menos importantes) ao lon-go de todos os momentos, desde o surgimento de umaidéia, sua discussão e realização. No entanto, é ne-cessário alertar que os critérios utilizados atualmentepara separar o mundo entre crianças e adultos nãofacilitam este tipo de configuração e compar-tilhamento de responsabilidade e compromissos.

Os estudos que tratam das relações entre pa-res e sobre as trocas e brincadeiras entre criançasforam os que promoveram uma tomada de consciên-cia sobre a debilidade dos paradigmas que concei-tuavam as crianças como objetos da ação dos adul-

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tos. Destacam-se, por exemplo, os trabalhos realiza-dos por Corsaro (Corsaro, 1979; Corsaro & Eder,1990; Corsaro & Miller, 1992). Em um de seus estu-dos, Corsaro (1986) concluiu que, quando as crian-ças interagem representando papéis e deixam a suaimaginação livre, por um lado tentam adquirir certocontrole sobre suas próprias vidas, e por outro com-partilham esse controle entre os pares.

A partir do interesse pelo papel que a lingua-gem desempenha na construção de significados(Bruner, 1997; Valsiner, 2005), Montandon (2001)apresenta o estudo de Maynard (1986) cuja principalconclusão é mostrar que as crianças são capazes derealizar interações complexas, progredindo da nega-ção e afirmação a formas de argumentação muitosofisticadas. A relevância do ponto de vista das pró-prias crianças é destacada por Passuth (1987), aodescrever as atitudes das crianças em relação à suaprópria idade e à idade dos outros, assim comoos privilégios e expectativas referentes aos com-portamentos que são associados ao fato das cri-anças serem grandes ou pequenas.

Ainda no sentido de reforçar a capacidade departicipação infantil, Sarmento (2004, 2005) argumen-ta que, a par das intensas mudanças por que passa omundo, as representações, idéias e conceitos sobreas crianças também vêm se modificando rapidamen-te. Montandon (2001), neste mesmo sentido, apontaque a valorização da criança na condição de agenteativo na construção cultural passa a ocorrer de for-ma mais intensa, o que é indicado pela quantidade detrabalhos que concluem sobre: (1) a grande influên-cia que as crianças têm nas vidas de seus pais oufamiliares(Alwin, 1988; Desalvo, Zurcher &Grotevant, 1986); (2) os efeitos que as instituiçõesescolares têm na organização da vida infantil (Frones,1994; Phadraig, 1994); e (3) a luta implícita e veladaentre educadores e alunos pelo poder e pelo direitode expressão, respectivamente (MacLaren, 1997).

Esses estudos servem para indicar que exis-tem critérios alternativos para definir a infância e asrelações deste momento desenvolvimental do ser hu-mano com a sociedade adulta. Tais critérios estãorelacionados às habilidades para o exercício das fun-ções necessárias, à capacidade individual para o exer-cício da autonomia e da iniciativa.

Uma abordagem sociocultural construtivistanos permite, assim, compreender o próprio desenvol-

vimento do conceito de infância no contexto das so-ciedades e valorizar a capacidade das crianças emparticipar dos processos decisórios. É necessário, pois,refletir de forma mais profunda em como a adoçãodos critérios de infância poderá promover maior apro-ximação entre crianças e adultos e suas formas decompartilhar projetos, responsabilidades e compromis-sos. Superar a concepção da incapacidade e daincompletude será fundamental aspecto para que aparticipação infantil se torne uma realidade social.

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Artigo recebido em 13/06/2007.Aceito para publicação em 22/08/2007.

Endereço para correspondência:Sergio Fernandes Senna Pires. SQN 202 Bl C,

apto 405. CEP: 70832-030, Brasília-DF, Brasil. E-mail: [email protected]

Sergio Fernandes Senna Pires é Doutor emPsicologia pela Universidade de Brasília, consultorlegislativo da Câmara dos Deputados.

Angela Uchoa Branco é Doutora em Psico-logia, Professora Adjunta do Instituto de Psicologiada Universidade de Brasília, coordenadora do Labo-ratório de Microgênese nas Interações Sociais, pes-quisadora do CNPq.