propriedade intelectual para uso no direito

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Livro sobre prorpiedade intelectual

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  • Propriedade Intelectual conceitos e procedimentos

    Braslia2010

    Publicaes da Escola da AGU

    AutoresLeslie de Oliveira Bocchino, Maria Cristina Cesar de Oliveira, Mauro Sodr Maia, Nilto Parma, Roberto Roberval Ritter Von Jelita, Rogrio Filomeno

    Machado, Rosa Maria Vidal Pena.

  • Os conceitos, as informaes, as indicaes de legislaes e as opinies expressas no contedo publicado, so de responsabilidade exclusiva de seus autores.

    Publicaes da Escola da AGUEscola da Advocacia-Geral da Unio

    Ficha catalogrfica: Ana Paula Soares de Araujo (Bibliotecria - CRB1/1176)

    P976 Publicaes da Escola da AGU: Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos/ BOCCHINO, Leslie de Oliveira...[et al]. -- Braslia: Advocacia-Geral da Unio, 2010. 316 p. -- (Srie Publicaes da Escola da AGU / Coordenao de Jefferson Cars Guedes [e] Juliana Sahione Mayrink Neiva ; 6)

    1.Propriedade intelectual Brasil I. Ttulo. II. SrieCDD 342.27

    SBN Quadra 01 Edifcio Palcio do Desenvolvimento 4 andar - CEP 70057-900 Braslia DF Telefones (61) 3105-9970 e 3105-9968

    e-mail: [email protected]

    ADVOGADO-GERAL DA UNIO Ministro Lus Incio Lucena Adams

    DIREO GERAL DA AGU Fernando Luiz Albuquerque Substituto do Advogado-Geral da Unio Hlia Maria Betero Procuradora-Geral da Unio Marcelo Siqueira Freitas Procurador-Geral Federal Adriana Queiroz de Carvalho Procuradora-Geral da Fazenda Nacional Ronaldo Jorge Arajo Vieira Junior Consultor-Geral da Unio Ademar Passos Veiga Corregedor-Geral da AGU Grace Maria Fernandes Mendona Secretaria-Geral de Contencioso

    ESCOLA DA AGU

    Jerfferson Cars Guedes Diretor Juliana Sahione Mayrink Neiva Coordenadora-Geral

    RevisoLuiz Henrique da Silva

    Luiz Antnio de Mello Lisboa

    Apoio Institucional: Escola da AGU Coordenao (Srie Publicaes da Escola da AGU): Jefferson Cars Guedes Juliana Sahione Mayrink Neiva Secretaria Editorial: Antonio Barbosa da Silva; Niuza G. B. Lima Diagramao: Niuza Gomes Barbosa de Lima Capa: Heitor ckeli

  • AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem s ilustres autoridades a seguir nominadas, pela valiosa e imprescindvel contribuio para a realizao deste trabalho:

    Excelentssimo Senhor Procurador-Geral Federal, Dr. MARCELO DE SIQUEIRA FREITAS, pela viso institucional e a iniciativa de constituir o Grupo de Trabalho com objetivo de desenvolver estudos relativamente transferncia de tecnologia, parcerias de pesquisa e desenvolvimento para a inovao;

    Ilustrssima Senhora Coordenadora do Frum de Procuradores-Chefes das Instituies de Ensino Superior, Dra. MARIA BEATRIZ SCARAVAGLIONE, pelo apoio incondicional aos membros da Comisso;

    Ilustrssimo Senhor JORGE DE PAULA COSTA VILA, Presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial INPI, e seu corpo tcnico, que propiciaram ao Grupo o conhecimento em propriedade intelectual necessrio para a elaborao desta obra.

    Prof. Dr. ALVARO TOUBES PRATA, Magnfico Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina;

    Prof. Dr. CARLOS EDILSON DE ALMEIDA MANESCHY, Magnfico Reitor da Universidade Federal do Par;

    Prof. Ms. CARLOS EDUARDO CANTARELLI, Magnfico Reitor da Universidade Tecnolgica Federal do Paran;

    Prof. Dra. CONSUELO APARECIDA SIELSKI SANTOS, Magnfica Reitora do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina.

    Os Reitores dessas Instituies no mediram esforos em colaborar com o apoio tcnico, financeiro e administrativo para a realizao deste trabalho.

    Prof Dra. ROSANGELA MAUZER CASAROTTO, Pr-Reitora de Administrao e Planejamento do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina;

    Bel. LUIZ HENRIQUE VIEIRA SILVA, Pr-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Os Pr-Reitores dessas Instituies empenharam-se na disponibilizao da estrutura administrativa e tcnica das IFES ao Grupo de Trabalho.

    Dr. LUIZ OTVIO PIMENTEL, Jurista e Professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pelos ricos ensinamentos, imprescindveis na formao intelectual dos integrantes do Grupo.

  • LUIZ HENRIQUE DA SILVA, Administrador da Universidade Federal de Santa Catarina;

    LUIZ ANTNIO DE MELLO LISBOA, Revisor de Textos da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Por fim, oferecemos este trabalho aos colegas da Procuradoria-Geral Federal e das Instituies Federais de Ensino Superior, no desejo de contribuir para o aperfeioamento profissional e desempenho de nossas funes.

    Nilto ParmaProcurador-Chefe/PF-UFSC

    (Coordenador)

    Leslie de Oliveira BocchinoProcuradora-Chefe/PF-UTFPR

    Maria Cristina Cesar de Oliveira Procuradora-Chefe/PF-UFPA

    Mauro Sodr MaiaProcurador-Chefe/PF-INPI

    Roberto Roberval Ritter Von JelitaProcurador-Chefe/PF-IFSC

    Rogrio Filomeno MachadoProcurador Federal/PF- IFSC

    Rosa Maria Vidal PenaProcuradora Federal/PF- UFPA

  • SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................................ 7PREFCIO ...................................................................................................... 9

    PARTE I - Propriedade Intelectual Conceitos ............................15

    1 INTRODUO .......................................................................................152 PROTEO DO CONHECIMENTO E ASPECTOS JURDICOS RELACIONADOS ........................................................153 PROPRIEDADE INTELECTUAL ....................................................17

    3.1 Patente ...........................................................................................19 3.1.1 Patente de Inveno .........................................................20 3.1.2 Patente de Modelo de Utilidade ....................................23 3.1.3 Diferenas entre Patente de Inveno e Modelo de

    Utilidade .........................................................................................243.2 Registros Propriedade Industrial .........................................25 3.2.1 Desenho Industrial ...........................................................25 3.2.2 Marcas .................................................................................26 3.2.3 Indicaes Geogrficas ....................................................30 3.2.4 Cultivares ............................................................................31 3.2.5 Direitos Autorais ..............................................................32 3.2.6 Software ..............................................................................35 3.2.7 Topografia de Circuitos Integrados .............................383.3 Quadro Resumo ............................................................................42

    PARTE II - Contratos ............................................................................43

    4 PRINCPIOS JURDICOS ...................................................................435 CONTRATOS ..........................................................................................47

    5.1 Contratos em Geral .....................................................................47 5.1.1 Aspectos Conceituais .......................................................47 5.1.2 Formao dos Contratos .................................................495.2 Contratos Administrativos ........................................................505.3 Tipos de Contratos Envolvendo Proteo do

    Conhecimento ...............................................................................535.4 Elaborao de Contratos Envolvendo Proteo do

    Conhecimento ...............................................................................58

    PARTE III Procedimentos ..................................................................67

    6 PROCEDIMENTOS NAS IFES E NAS PROCURADORIAS FEDERAIS ...............................................................................................67

  • 6.1 Contrato de Prestao de Servios ..........................................736.2 Acordo de Parceria ......................................................................75

    7 PROCEDIMENTOS PARA REGISTRO NO INPI ......................867.1 Patentes ..........................................................................................877.2 Marcas ............................................................................................887.3 Desenho Industrial ......................................................................897.4 Indicaes Geogrficas ...............................................................907.5 Programas de computador ........................................................917.6 Topografia de Circuitos Integrados ........................................927.7 Averbao e Registros de Contratos de Transferncia de

    Tecnologia no INPI .....................................................................92

    PARTE IV Modelos ...............................................................................95

    8 MODELOS DE CONTRATOS ..........................................................958.1 Contrato de Uso de Marca .........................................................958.2 Contrato de Licena para Explorao de Patente ................988.3 Contrato de Fornecimento de Tecnologia ...........................1028.4 Acordo de Cooperao Tcnico-Cientfica ...........................1058.5 Contrato de Prestao de Servios ........................................1088.6 Contrato de Licena para uso de material didtico ............1138.7 Termo de Compromisso de Confidencialidade ...................115

    LEGISLAO

    LEI N 9.279, DE 14 DE MAIO DE 1996. .........................................119

    LEI N 9.456, DE 25 DE ABRIL DE 1997. ........................................171

    LEI N 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. ............................193

    LEI N 10.973, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004. ............................217

    LEI N 11.196, DE 21 DE NOVEMBRO DE 2005. ..........................229

    LEI N 11.484, DE 31 DE MAIO DE 2007. .......................................289

    SITES RECOMENDADOS ....................................................................313

    REFERNCIAS .........................................................................................315

  • S17

    ApRESENTAO

    A excelncia da cincia brasileira fruto do esforo acumulado de geraes de pesquisadores. Compreender sua evoluo requer ter presentes as continuidades e rupturas que nos permitiram partir da iniciativa voluntarista dos talentosos fundadores das primeiras instituies dedicadas pesquisa agronmica, ainda no sculo XIX, para chegar ao trabalho meticulosamente planejado e internacionalmente articulado que vemos acontecer hoje em nossos mais avanados centros de pesquisa tecnolgica.

    Exemplo de continuidade, que se faz notar todo o tempo, encontramos na acumulao progressiva dos saberes que nos permitem transitar, nas diferentes reas, da capacidade de compreender e absorver, para a capacidade de criar. As rupturas esto tambm facilmente identificveis em todos os momentos dessa trajetria. So exemplos de ruptura cada transformao que ousamos implementar no arcabouo institucional que organiza o financiamento da pesquisa, o gerenciamento de sua execuo e a transferncia de seus resultados para os atores sociais que, com eles, podem gerar valor econmico e bem-estar social.

    No campo da execuo foram rupturas extremamente relevantes a criao da USP e das primeiras universidades brasileiras, ao que se seguiu, expresso de continuidade e aprendizagem cumulativa, a organizao de cada uma das demais universidades brasileiras, pblicas, confessionais ou privadas, assim como a criao de cada um dos centros ou institutos de pesquisas nacionais ou estaduais.

    Universidades e centros de pesquisa, como a EMBRAPA e a FIOCRUZ, permitiram a maior racionalizao e integrao de esforos de pesquisa antes pulverizados. O financiamento pblico da pesquisa, que outrora dependeu da capacidade de articulao poltica de pesquisadores individuais e instituies isoladas, experimentou importantes rupturas com a criao de um sistema consistente de financiamento pblico da pesquisa, materializado primeiramente no CNPq, depois novamente reinventado com a criao da FINEP e pouco a pouco tornado capilar e multicntrico, com a criao da FAPESP e, a partir dela, das demais fundaes estaduais de amparo pesquisa.

    A organizao da transferncia das tecnologias geradas nessas instituies, para empresas e outros atores sociais, representava um difcil desafio at muito pouco tempo em nosso Pas. Ainda nos primeiros anos deste sculo, a cada instituio cabia determinar uma norma que regulasse esse fluxo. A peculiaridade dessa atividade tornava a tarefa rdua, frente necessidade de escreverem-se tais normas sob a gide de

  • Publicaes da Escola da AGU S18

    um conjunto de leis desenhadas para atender a conjunto inteiramente distinto de fenmenos de interao entre a esfera pblica e a privada.

    Foi apenas em 2004, com a aprovao e promulgao da Lei que conhecemos como Lei da Inovao, que surgiu um quadro de orientaes especialmente dirigidas para regular a transferncia dos resultados da pesquisa publicamente financiada para empresas e outras naturezas de atores privados. A percepo de que a pesquisa realizada nas universidades e noutras instituies de pesquisa brasileiras possui valor econmico cada vez mais relevante estava a exigir o passo, que em boa hora, deram o Congresso Nacional e o Poder Executivo.

    A nova Lei representou ruptura organizacional e novidade jurdica. Ao acontecer j numa fase do processo de desenvolvimento brasileiro, na qual clara como nunca a nossa opo pela democracia e pela certeza jurdica que apenas ela permite construir, toda novidade jurdica requer interpretao e pacificao de entendimentos. E a este problema que esta obra se dirige. Tive a oportunidade de testemunhar o empenho dos Procuradores das Universidades Federais para buscar entender o universo de aplicao da nova Lei e estou seguro de que o esforo no foi em vo.

    O resultado, retratado nas pginas que compem esta obra, no oferece um caminho de fcil e de imediata e simples aplicao da Lei para todas as situaes concretas do dia a dia da proteo e da transferncia de conhecimentos oriundos da pesquisa pblica. Isso seria impossvel, em virtude da imensa diversidade das situaes e oportunidades que, felizmente, se apresentam a cada momento Universidade Brasileira. Mas oferece, sim, um estilo de pensar sobre o tema e sobre seu enquadramento legal, que permite traar uma via de enfrentamento das dificuldades e uma luz sobre o formato conveniente das possveis solues jurdicas para cada problema particular.

    Fruto de esforo cooperativo, obra de referncia obrigatria para os muitos de ns que teremos que atuar diretamente na criao de um ambiente dinmico de interao universidade empresa, ou apoiar quem o faz.

    Florianpolis, novembro de 2010

    Dr. Jorge de Paula Costa vilaPresidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)

    Engenheiro, Mestre em Administrao pela UFRJConcluiu estudos de Doutorado em Sade Pblica pela UFRJ.

    Ex-Diretor da Companhia de Desenvolvimento Industrialdo Estado do Rio de Janeiro (1995-1999

    Ex-Diretor Executivo da FINEP (1999-2003)Ex-Vice-Presidente do INPI (2004-2006)

  • S19

    pREfCIO

    A propriedade intelectual um dos temas mais proeminentes do marco regulatrio do comrcio global e da economia do conhecimento, tanto assim, que entre os trs acordos internacionais mais amplos que regem o comrcio multilateral, na Organizao Mundial do Comrcio, um deles trata do assunto deste livro, os outros tratam do comrcio de mercadorias e de servios. Observamos, tambm, que no mbito dos organismos especializados que compem as Naes Unidas (ONU) encontra-se a Organizao Mundial da Propriedade Intelectual.

    Embora a propriedade intelectual j tenha sido objeto do regime jurdico que visava animar o comrcio do Brasil colonial, foi somente na primeira dcada do sculo XXI que esse conjunto de institutos do Direito passou a ser tratado como um dos elementos mais estratgicos da poltica industrial, tecnolgica e de comrcio exterior do pas, incorporado como meta de governo na recente poltica de desenvolvimento produtivo inovar e investir para sustentar o crescimento.

    Nessa estratgia de apropriao do capital intelectual, observa-se a nfase que dada propriedade intelectual na Lei de Inovao, que visa incentivar a pesquisa cientfica e tecnolgica para o ambiente produtivo, com vistas capacitao e ao alcance da autonomia tecnolgica e ao desenvolvimento industrial do Brasil, nos termos da vigente Constituio Federal de 1988, artigos 218 e 219.

    Coerente com a poltica mencionada, as instituies cientficas e tecnolgicas, rgos ou entidades da administrao pblica com a misso institucional de executar atividades de pesquisa bsica ou aplicada de carter cientfico ou tecnolgico, foram obrigadas pela lei a institucionalizarem uma poltica e promoverem a gesto do patrimnio pblico, integrado pela propriedade intelectual, criando, as que no possuam, os seus ncleos de inovao tecnolgica, com a finalidade de gerir, nesse mister, suas polticas de apoio inovao.

    Nesse contexto, cabe louvar a iniciativa do grupo de alto nvel, integrado pelos ilustres advogados que subscreveram esta obra, buscando disseminar de modo pragmtico o seu estudo entre os procuradores das autarquias e fundaes pblicas, especialmente das instituies de cincia e tecnologia federais.

    Recordamos, brevemente, que foi atravs do Alvar de 1809 do Prncipe Regente portugus, que se inaugurou no territrio brasileiro a concesso do direito de exclusividade aos inventores, visando beneficiar a indstria e as artes. Depois da independncia, no Imprio, foram promulgadas a Lei de 1827, que criava os Cursos de Direito e concedia

  • Publicaes da Escola da AGU S110

    privilgio para os autores sobre as suas obras, a Lei de 1830, sobre propriedade industrial, a Lei Criminal de 1830, que previa pena aos crimes contra os direitos autorais, a Lei de 1875, sobre marcas, e a Lei de 1882, que regulava a concesso de patentes aos autores de inveno ou descoberta industrial.

    No Brasil republicano, a propriedade intelectual foi regulada sucessivamente pela Lei de 1898, dos direitos autorais, Cdigo Civil de 1916, direito de propriedade, Lei de 1923, sobre a propriedade industrial, Decreto de 1924, que redefiniu os direitos autorais, Leis de 1934, 1945, 1966, Decreto-Lei de 1969, Lei de 1971, que institua o Cdigo da Propriedade Industrial e a Lei de 1973, que regulava os direitos autorais.

    Hoje a propriedade intelectual, sentido amplo, est regulada pelas Leis n 9.279/1996, da propriedade industrial, Lei n 9.456/1997, das cultivares, Lei n 9.609/1998, do programa de computador, Lei n 9.610/1998, dos direitos autorais, Lei de n 10.603/2002, da proteo de informaes, resultados de testes e dados no divulgados de produtos farmacuticos de uso veterinrio, fertilizantes e agrotxicos, e pela Lei n 11.484/2007, da TV digital, que tambm trata da proteo das criaes de semicondutores ou topografias de circuito integrado.

    Cabe mencionar, inclusive, a questo patrimonial que envolve o instituto estudado. Porque o comrcio e o patrimnio das pessoas jurdicas, inclusive de direito pblico, incluem uma espcie de bem econmico, de natureza patrimonial, denominado genericamente de propriedade intelectual, classificado como incorpreo, imaterial ou intangvel.

    Esses bens amparados pela ordem jurdica tm um valor cada vez mais significativo no mercado, tutelados para permitirem a diferenciao entre organizaes, entre elas as empresas, e para evitarem a concorrncia desleal.

    Podemos inferir, do ponto de vista legal, que a propriedade intelectual constitui um conjunto de princpios e de regras que regulam a aquisio, o uso, o exerccio e a perda destes direitos de propriedade imaterial. Sendo a maior preocupao dos advogados e gestores pblicos o tratamento dado ao assunto durante a fase de verificao dos requisitos de patenteabilidade, registro ou certificado, para a expedio dos mencionados ttulos de propriedade, quando h uma expectativa de direitos e j se negocia a sua utilizao na indstria ou prestao de servios.

    Quando o processo de criao intelectual, cincia e tecnologia ocorre nas instituies de pesquisa e desenvolvimento pblico h

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos S111

    a necessidade de manuteno do segredo ou confidencialidade, que tambm visto como um problema, em funo dos critrios de verificao da produtividade acadmica e do costume de publicar tudo que existe neste ambiente no Brasil, o que se torna mais um desafio a ser entendido e cuidado no vasto mbito da administrao pblica.

    Fazem parte dos direitos de propriedade intelectual, em reas que so parcialmente sobrepostas, as criaes tcnicas (invenes, modelos de utilidade, novas cultivares, topografias de circuitos integrados e desenhos industriais), as criaes literrias, artsticas e cientficas, os sinais distintivos (como marcas de produtos e servios, de certificao e coletivas, indicaes geogrficas de procedncia e denominaes de origem) e as vantagens competitivas no-proprietrias (como a represso da concorrncia desleal por utilizao de segredos, dados de prova ou testes e o trade dress).

    Quando a propriedade intelectual integra o patrimnio intangvel das pessoas jurdicas de direitos pblico, como as autarquias e as fundaes pblicas, ela considerada um bem pblico.

    Com efeito, o Cdigo Civil brasileiro institui que so pblicos os bens do domnio nacional pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico interno (artigo 98); entre estes bens, aqueles que so objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades (artigo 99); que podem ser alienados se observadas as exigncias da lei (artigo 101).

    Neste aspecto podemos destacar a relevncia do estudo e manual ora publicado, que ser imprescindvel para todos aqueles que trabalham na assessoria de assuntos legais das instituies pblicas, especialmente na Procuradoria-Geral Federal, que representam as autarquias e fundaes pblicas, nas atividades de consultoria e assessoramento jurdicos de defesa do patrimnio pblico federal.

    Observamos que os relatrios mais recentes do Tribunal de Contas da Unio (TCU) tm destacado questes referentes propriedade intelectual. Por exemplo, no Acrdo 914/2006 do Plenrio do TCU, que verificava a conformidade da segurana e confiabilidade das informaes do Sistema do Financiamento Estudantil e a avaliao da atuao da Secretaria de Educao Superior do Ministrio da Educao junto a Comisses Permanentes de Seleo e Acompanhamento do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, determinava Secretaria e Caixa Econmica Federal que firmassem contrato com relao ao Programa do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, com clusula que dispusesse sobre a propriedade intelectual de programas de computador, documentao tcnica e dados do Sistema do Financiamento Estudantil.

  • Publicaes da Escola da AGU S112

    Entre outros importantes acrdos do TCU, cabe mencionar, tambm, o Acrdo 544/2008, do Plenrio do Tribunal, que versava sobre o relatrio de auditoria de natureza operacional feito no Fundo para o Desenvolvimento Tecnolgico das Telecomunicaes (Funttel), criado para fomentar a capacidade tecnolgica nacional, auditado com o objetivo de avaliar aspectos de legalidade e legitimidade da gesto dos responsveis, bem como de aferir os resultados alcanados pelos convnios e contratos firmados para aplicao dos recursos envolvidos.

    O Funttel, que um dos fundos setoriais mais importantes do Brasil, cabe recordar, tem por escopo estimular o processo de inovao tecnolgica, a capacitao de recursos humanos e a gerao de empregos e promover o acesso de pequenas e mdias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competitividade da indstria brasileira de telecomunicaes.

    Entre outras decises contidas no Acrdo 544/2008, determinou-se ao Conselho Gestor do Funttel que identificasse os produtos passveis de patenteamento e/ou proteo das criaes intelectuais para firmar os acordos cabveis referentes aos direitos de propriedade intelectual, licenciamento, comercializao e pagamentos de royalties, segundo as normas vigentes e as clusulas dos convnios e contratos celebrados (9.4.24.); recomendava ao Conselho Gestor do Funttel que normatizasse a questo de direitos de propriedade intelectual, licenciamento, comercializao e pagamento de royalties associados a produtos desenvolvidos com recursos do Funttel (9.8.3); e determinava Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que identificasse os produtos passveis de patenteamento e/ou proteo da criao intelectual para firmar os acordos cabveis referentes aos direitos de propriedade intelectual, licenciamento, comercializao e pagamentos de royalties, segundo as normas vigentes e as clusulas dos convnios e contratos celebrados (9.9.11).

    O presente livro foi estruturado de forma lgica, em relao ao contedo estudado, dividido em cinco partes: os conceitos gerais e especficos da propriedade intelectual e seus ramos, conforme o marco legal brasileiro, focando os dois principais ttulos de propriedade intelectual, patentes e registros; os contratos de licena de direitos de propriedade intelectual, com especial referncia aos contratos que envolvem a administrao pblica; os procedimentos respectivos, especialmente os procedimentos junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para o patenteamento e registros, incluindo a averbao de contratos exigidos pelas normas nacionais;

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos S113

    finalizando com a exemplificao dos modelos dos principais contratos de licena de direitos de propriedade intelectual, transferncia de tecnologia, servios de assistncia tcnica que envolvem conhecimentos especializados e licena de uso de material didtico.

    Por ser o assunto relacionado com bens pblicos dominiais, que guardam sensvel analogia com o regime da propriedade privada, alienveis por natureza, sendo a propriedade intelectual pblica, subordina-se, quando da sua utilizao por licenciamento ou disposio, aos requisitos das leis especiais, como as leis de inovao, informtica, biossegurana e aos requisitos gerais dos contratos da administrao pblica.

    Quando so bens que se integram no acervo da riqueza da instituio pblica, destinados utilizao pelos interessados, geralmente do chamado setor produtivo ou empresarial privado, a oportunidade e a forma de alienao so subordinadas disciplina distinta do mesmo comrcio realizado entre particulares.

    Razo pela qual recomendamos aos advogados, procuradores e assessores legais do setor pblico, principalmente quando tenham atribuies relacionadas propriedade intelectual, que leiam e estudem o presente livro e contribuam para o seu aperfeioamento.

    Saudamos e parabenizamos pela iniciativa inteligente e pelo incansvel labor em prol do interesse pblico os ilustrssimos procuradores, tambm pesquisadores e professores, Leslie de Oliveira Bocchino, Maria Cristina Csar de Oliveira, Mauro Sodr Maia, Nilto Parma, Roberto Roberval Ritter Von Jelita, Rogrio Filomeno Machado e Rosa Maria Vidal Pena, pela excelncia do livro editado.

    Florianpolis, novembro de 2010.

    Prof. Dr. Luiz Otvio PimentelProfessor dos Cursos de Direito e Engenharia e Gesto do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina

    Professor do Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Inovao na Academia de Inovao e Propriedade Intelectual do

    Instituto Nacional da Propriedade Industrial Ex-membro da Coordenao Nacional do Frum de Gestores de

    Inovao e Transferncia de Tecnologia (2006-2010)

  • S115

    pARTE I - pROpRIEDADE INTElECTUAl CONCEITOS

    1 INTRODUO

    A pesquisa e o desenvolvimento devem ser direcionados para atender s necessidades humanas e desta forma cumprir um importante papel no desenvolvimento social e tecnolgico do pas.

    As Instituies Federais de Ensino Superior - IFES procuram desenvolver estratgias de gesto para incentivar sua relao com o setor produtivo, atendendo necessidade de participao no processo de inovao tecnolgica nacional e, desta forma, dar retorno sociedade dos recursos investidos em P&D (AUDY e MOROSINI, 2006).

    Para as IFES estas atividades se tornam um valioso instrumento de articulao e negociao para a formao de parcerias e busca de recursos, contribuindo para a sustentabilidade da pesquisa acadmica e o reconhecimento da competncia institucional.

    Para garantir os direitos do conhecimento e da tecnologia desenvolvida, devem ser providenciadas aes de preveno desde a criao da ideia na fase inicial do projeto. A confidencialidade no processo da pesquisa e desenvolvimento deve ser praticada atravs de instrumentos jurdicos, envolvendo todos os participantes, pesquisadores, bolsistas, alunos, parceiros, etc. A novidade de um invento uma das exigncias para a proteo da patente.

    Para AMADEI e TORKOMIAN (2009), o fortalecimento das polticas internas das universidades relacionadas propriedade industrial acarretar maior ndice de proteo das invenes acadmicas, garantindo os direitos sobre a inveno, incentivando a realizao de novas pesquisas e, atravs de mecanismos efetivos, viabilizando a transferncia da tecnologia produzida nas universidades para o setor produtivo.

    A propriedade intelectual instrumento essencial na proteo do conhecimento e para sua transformao em benefcios sociais.

    Neste sentido surgem os contratos como uma importante forma de proteo dos direitos relacionados proteo do conhecimento individual e institucional.

    2 pROTEO DO CONHECIMENTO E ASpECTOS JURDICOS RElACIONADOS

    O conhecimento algo que est embutido no conjunto das estruturas de representao de um ser. As atitudes do ser permitem

  • Publicaes da Escola da AGU 16

    que o conhecimento seja reconhecido e se mostre atuante e interagente com elementos do meio ao qual est exposto. A capacidade de trabalhar com estas representaes permite, aos seres, projetar os resultados que podem ser alcanados com o repertrio conhecido de aes. Assim, possvel, ao ser, escolher as aes que sero executadas para a satisfao de uma necessidade ou de uma meta (SANTOS e SOUZA, 2010).

    As empresas vm atuando na gesto do conhecimento, adotando a mxima de que nada adianta possuir o conhecimento se este for mantido por apenas uma pessoa. Neste sentido, muitas empresas incentivam o compartilhamento de conhecimentos tcitos dos funcionrios e, em alguns casos, chegam a padroniz-los por meio de manuais (TARAPANOFF, 2009).

    Na gesto do conhecimento, convergindo diretrizes, tecnologias e habilidades, tem-se aparente o surgimento de novas informaes.

    GIRALDO (2005) identificou cinco estgios que definem o fluxo do conhecimento dentro de uma organizao:

    a) gerao/criao/aquisio, os quais so resumidos como identificao do conhecimento;

    b) validao do conhecimento; c) codificao do conhecimento; d) anlise e minerao, as quais so conhecidas como

    armazenamento do conhecimento; e e) transferir/compartilhar/disseminar, que se resumem em

    recobrar e compartilhar conhecimento.

    NONAKA & TAKEUCHI (1997) defendem a existncia de dois tipos de conhecimento, classificando-os como tcito e explcito. O primeiro aquele incorporado pelo indivduo por meio de suas experincias, envolvendo fatores como crenas pessoais e sistemas de valor. O conhecimento explcito seria aquele que pode ser articulado em linguagem formal, e, portanto, facilmente transmitido entre os indivduos.

    KIM & TRIMI (2007), ao fazerem um paralelo entre o conhecimento tcito e explcito existentes nas instituies, evidenciam o uso da tecnologia da informao para reduzir custos e aumentar a velocidade da informao e transmisso do conhecimento.

    Ao tratar da memria institucional, SENGE (2004) observa que esta deve depender de mecanismos institucionais e no individuais, sob pena de perder lies difceis de ganhar, quando pessoas migram de um emprego para o outro.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 17

    3 pROpRIEDADE INTElECTUAl

    Entende-se por propriedade intelectual o conjunto de direitos imateriais que incidem sobre o intelecto humano e que so possuidores de valor econmico. Ao se proteger tais direitos, pretende-se respeitar a autoria e incentivar a divulgao da ideia (BOCCHINO et al, 2010).

    O sistema internacional de propriedade intelectual foi criado com a assinatura da Conveno da Unio de Paris (CUP) em 1883. Diante das constantes alteraes no desenvolvimento econmico e tecnolgico dos pases e na dinmica do comrcio internacional, a referida Conveno j sofreu diversas transformaes.

    Cdigo de Hamurabi, 1750 a.C.: Lei n 188:Se um arteso tiver adotado uma criana e lhe tiver ensinado o seu ofcio, ele no pode ser tomado de volta. Lei n 189:Se ele no tiver ensinado o seu ofcio, esse filho adotado pode voltar casa do pai.

    O Brasil signatrio de instrumentos jurdicos que contemplam diversos pases, dando unificao a direitos relativos propriedade intelectual (TRIPs), dentre os quais importa citar a Conveno de Paris (Decreto n 75.572, de 1975; Decreto n 635, de 1992 e Decreto n 1.263, de 1994), a Conveno de Berna (Decreto n 75.699, de 1975), o Acordo sobre a classificao internacional de patentes (Decreto n 76.472, de 1975) e o Acordo sobre os aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao Comrcio da Organizao Mundial do Comrcio (Decreto n 1.355, de 1994), dentre outros.

    No Brasil a propriedade intelectual tem por base a legislao constante do Quadro 1.I Lei no 9.279, de 14.05.1996 Lei da Propriedade IndustrialII Lei no 9.456, de 25.04.1997 Lei dos Cultivares

    III Lei no 9.609, de 19.02.1998 Lei do Software

    IV Lei no 9.610, de 19.02.1998 Lei do Direito AutoralV Lei n 9.784, de 29.01.1999 Processo Administrativo

    VI Lei n 10.406, de 10.01.2002 Cdigo Civil Brasileiro

  • Publicaes da Escola da AGU 18

    VII Lei n 10.973, de 02.12.2004 Lei de InovaoVIII Lei n 11.196, de 21.11.2005 Lei do BemIX Lei no 11.484, de 31.05.2007 Topografia de circuitos

    integradosX Medida Provisria n 495, de

    19.07.2010Altera as leis de licitaes, das fundaes de apoio e da inovao

    Quadro 1: Legislao envolvendo propriedade intelectual.

    Como integrantes da propriedade intelectual esto os direitos relativos propriedade industrial, sendo que estes envolvem desenvolvimento tcnico utilizando atividade inventiva e possuem aplicao industrial.

    Distingue-se, portanto, a inveno industrial das demais criaes do esprito no s pelo fato de ela objetivar a utilidade como tambm por seu carter abstrato, que consiste na concepo de uma nova relao de causalidade no encontrvel na natureza (SILVEIRA, 2005).

    Dentre os bens imateriais abrangidos pela propriedade intelectual e possuidores de legislao existem atualmente no Brasil os seguintes:

    a) patente de inveno;

    b) patente de modelo de utilidade;

    c) registro de desenho industrial;

    d) registro de marcas;

    e) registro de indicaes geogrficas;

    f) registro de cultivares;

    g) registro de topografia de circuitos integrados;

    h) registro de direitos autorais;

    i) registro de softwares.

    Por meio do Quadro 2 possvel perceber a diferena entre a propriedade intelectual e a propriedade industrial, bem como o mbito de proteo de cada um destes bens, com a respectiva legislao brasileira em vigor.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 19

    Quadro 2 Propriedade Intelectual e Industrial, proteo e legislao brasileira em vigor (BOCCHINO e CONCEIO, 2008).

    3.1 patente

    A patente um ttulo de propriedade industrial sobre inveno ou modelo de utilidade. A concesso de patente garante ao inventor segurana nas negociaes entre ele e a parte interessada em comprar determinada tecnologia para que possa ser aplicada em algum setor industrial (AMADEI e TORKOMIAN, 2009).

    um ttulo de propriedade temporrio conferido como forma de estmulo inovao e recompensa pelos custos de pesquisa realizados. Durante o prazo de vigncia, o titular da patente possui direito de excluir terceiro da utilizao do conhecimento objeto da patente, salvo se licenciada pelo proprietrio.

    PROPRIEDADE INTELECTUAL

    Patente

    Inveno

    Modelo de Utilidade

    Registro

    Marca

    Indicaes Geogrficas

    Cultivares - Lei no 9.456, de 25.04.1997

    Direitos Autorais - Lei no 9.610, de 19.02.1998

    Softwares - Lei no 9.609, de 19.02.1998

    PROPRIEDADE INDUSTRIAL

    Lei no 9.279, de 14.05.1996

    Topografia de circuitos - integrados

    Lei no 11.484, de 31.05.2007

    Desenho

    Industrial Industrial

    Geogrficas

  • Publicaes da Escola da AGU 20

    Em se tratando de IFES, a garantia de concesso de patente beneficia a prpria instituio a qual est vinculado o inventor.

    As patentes no constituem a nica forma possvel de apropriao de rendimentos por fora das inovaes, sendo os segredos comerciais outra forma. Com relao apropriao desses rendimentos, preciso inicialmente considerar o fato de que a proteo oferecida pelas patentes no possui a mesma importncia para todos os setores da indstria. Com efeito, em determinados setores a engenharia reversa no parece ser capaz de fornecer as informaes necessrias para a apropriao da inovao por outros agentes. Esse ponto muitas vezes ofuscado pela adoo da hiptese implcita de que as patentes so sempre a melhor forma de proteger os direitos sobre uma inovao (FIANI, 2009).

    A palavra patente deriva do verbo latino patere, o qual, no passado, era empregado para qualificar cartas, abertas ao conhecimento de todos, pelas quais o soberano concedia um privilgio a seus sditos (MERGES et al, 1997).

    A patente concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial INPI. Poder ser patenteado uma inveno ou um modelo de utilidade.

    Aplica-se a reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes ao pedido de patente proveniente do exterior e depositado no pas por quem tenha proteo assegurada por tratado em vigor no Brasil, aos nacionais ou pessoas domiciliadas em pas que assegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil.

    3.1.1 patente de Inveno

    A inveno poder ser patenteada quando atender aos requisitos de novidade, possuir atividade inventiva, suficincia descritiva, aplicao industrial e no tiver impedimento legal.

    Serconsideradanovaainvenoquandonocompreendidono estado da tcnica, que tudo aquilo que conhecido pelo pblico antes da data do depsito, por qualquer forma de divulgao (art. 11 da Lei n 9.279/1996).

    Ainvenoprodutodeatividadeinventivaquando,paraumtcnico de mdio conhecimento no assunto, no decorrer de maneira bvia e evidente do estado da tcnica. E, considera-se estado da tcnica tudo aquilo que conhecido pelo pblico antes da data do depsito (art. 13 da Lei n 9.279/1996).

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 21

    Aplicaoindustrialseconstituinofatodeainvenopoderser utilizada ou produzida em qualquer tipo de indstria (art. 15 da Lei n 9.279/1996).

    Suficinciadescritiva,conformedispeocaput do art. 24 da Lei n 9.279, de 14.05.1996.

    Existem alguns impedimentos legais que impossibilitam oregistro da patente de inveno, os quais esto previstos nos artigos 10 e 18 da Lei n 9.279, de 14.05.1996:

    Art. 24. O relatrio dever descrever clara e suficientemente o objeto, de modo a possibilitar sua realizao por tcnico no assunto e indicar, quando for o caso, a melhor forma de execuo.

    Art. 10. No se considera inveno nem modelo de utilidade:

    I - descobertas, teorias cientficas e mtodos matemticos;

    II - concepes puramente abstratas;

    III - esquemas, planos, princpios ou mtodos comerciais, contbeis, financeiros, educativos, publicitrios, de sorteio e de fiscalizao;

    IV - as obras literrias, arquitetnicas, artsticas e cientficas ou qualquer criao esttica;

    V - programas de computador em si;

    VI - apresentao de informaes;

    VII - regras de jogo;

    VIII - tcnicas e mtodos operatrios ou cirrgicos, bem como mtodos teraputicos ou de diagnstico, para aplicao no corpo humano ou animal; e

    IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biolgicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biolgicos naturais.

  • Publicaes da Escola da AGU 22

    Art. 18. No so patenteveis:

    I - o que for contrrio moral, aos bons costumes e segurana, ordem e sade pblicas;

    II - as substncias, matrias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espcie, bem como a modificao de suas propriedades fsico-qumicas e os respectivos processos de obteno ou modificao, quando resultantes de transformao do ncleo atmico; e

    III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgnicos que atendam aos trs requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicao industrial - previstos no art. 8 e que no sejam mera descoberta.

    Pargrafo nico. Para os fins desta Lei, microorganismos transgnicos so organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante interveno humana direta em sua composio gentica, uma caracterstica normalmente no alcanvel pela espcie em condies naturais.

    Segundo o art. 40 da Lei n 9.279, de 14.05.1996, a patente de inveno vigora pelo prazo de 20 (vinte) anos contados da data do depsito, no sendo possvel a sua prorrogao.

    De acordo com o World of Apple, a patente de nmero 7.479.949 foi concedida em 20 de janeiro de 2009, tendo sido solicitada em 11 de abril de 2008. A documentao cobre a superfcie sensvel a mltiplos toques e gestos associados, como os utilizados para ampliar, navegar e rotacionar imagens no smartphone da Apple (figura 1). Informaes extradas do site: http://macmagazine.uol.com.br. Acessado em 24.11.2009.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 23

    Figura 1 Patente do Iphone.

    3.1.2. patente de Modelo de Utilidade

    Poder ser patenteado como modelo de utilidade o objeto de uso prtico, suscetvel de aplicao industrial que apresente nova forma ou disposio. Dever envolver ato inventivo que resulte em melhoria funcional no seu uso ou fabricao (art.9 da Lei n 9.279/1996).

    Utiliza-sequandoseaperfeioaumequipamentoquejexiste,dando-lhe praticidade e melhoria funcional (art. 9 da Lei n 9.279/1996).

    Ser considerado novo o modelo de utilidade quando nocompreendido no estado da tcnica, que tudo aquilo que conhecido pelo pblico antes da data do depsito (art.11 da Lei n 9.279/1996).

    Omodelodeutilidadeprodutodeatividadeinventivasempreque para um tcnico no decorra de maneira comum ou vulgar do estado da tcnica (art. 14 da Lei n 9.279/1996).

    Aplicao industrial constitui-se no fato de o modelo deutilidade poder ser utilizado ou produzido em qualquer tipo de indstria (art. 15 da Lei n 9.279/1996).

    Osimpedimentosqueimpossibilitamoregistrodomodelodeutilidade so aqueles constantes dos artigos. 10 e 18 da Lei n 9.279, de 14.05.1996.

    Para exemplificar, uma roadeira (mquina para carpir), se nela acoplarmos ou introduzirmos algo diferente, talvez uma nova disposio

  • Publicaes da Escola da AGU 24

    de seus elementos cortantes, de modo a lhe conferir melhor rendimento, estaremos diante de um modelo de utilidade (MAZZAFERA, 2003).

    Importa perceber que se utiliza o modelo de utilidade quando se aperfeioa um equipamento que j existe, dando-lhe praticidade e melhoria funcional. Neste tipo de patente, repetem-se as mesmas exigncias acima j aduzidas referentes inveno, inclusive no que tange aos impedimentos legais.

    A patente de modelo de utilidade vigora pelo prazo de 15 (quinze) anos, contados da data do depsito, no sendo possvel a sua prorrogao (art. 40 da Lei n 9.279/1996).

    3.1.3 Diferenas entre patente de Inveno e Modelo de Utilidade

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 25

    3.2 Registros propriedade Industrial

    3.2.1 Desenho Industrial

    Diferentemente das invenes e dos modelos de utilidade, o desenho industrial no patentevel, mas sim objeto de registro no INPI. Observe-se que o desenho industrial tambm pode ser objeto de proteo por direito autoral.

    Segundo o art. 95 da Lei da Propriedade Industrial, considera-se desenho industrial a forma plstica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configurao externa e que possa servir de tipo de fabricao industrial.

    Para que possa ser registrado, o desenho industrial dever ser considerado novo e original, no podendo ser objeto de registro qualquer obra de carter puramente artstico.

    Os desenhos industriais se reduzem a objetos de carter meramente ornamental, objetos de gosto, como se diria no passado. A proteo, no caso, restringe-se nova forma conferida ao produto, sem consideraes de utilidade, podendo achar-se aplicada a um objeto til ou no (SILVEIRA, 2005).

    Observe-se que a forma do objeto para fins de registro de desenho industrial deve achar-se desvinculada da funo tcnica, sob pena de se configurar um modelo de utilidade.

    Os impedimentos para registro de desenho industrial so aqueles constantes do art. 100 da Lei n 9.279, de 14.05.1996.

    Art. 100. No registrvel como desenho industrial:

    I - o que for contrrio moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra a liberdade de conscincia, crena, culto religioso ou idia e sentimentos dignos de respeito e venerao;

    II - a forma necessria comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essencialmente por consideraes tcnicas ou funcionais.

    O registro de desenho industrial vigorar pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data do depsito, prorrogvel por 3 (trs) perodos

  • Publicaes da Escola da AGU 26

    sucessivos de 5 (cinco) anos cada (art. 108 da Lei n 9.279/1996). Observe-se que o pedido de prorrogao dever ser formulado durante o ltimo ano de vigncia do registro.

    3.2.2 Marcas

    Podero ser registrados no INPI como marca os sinais distintivos visualmente perceptveis, com a finalidade de identificar produtos e servios (art. 122 da Lei n 9.279/1996).

    GARCIA (2005) conceituou as marcas como sendo titulos de propriedad de una persona jurdica que permiten el derecho exclusivo a utilizar una serie de signos entre los que se incluye su nombre, simbolos, diseos o combinaciones de los mismos para identificar bienes y servicios en el mercado, respaldando los atributos funcionales de los mismos y los beneficios que su uso o disfrute proporcionan y diferenciarlos de propuestas analogas de los competidores.

    Os requisitos para registro de uma marca so: novidade relativa e especializao. Os impedimentos para registro de uma marca so aqueles constantes do art. 124 da Lei n 9.279, de 14.05.1996.

    Art. 124. No so registrveis como marca:

    I - braso, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, pblicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designao, figura ou imitao;

    II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

    III - expresso, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrrio moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de conscincia, crena, culto religioso ou idia e sentimento dignos de respeito e venerao;

    IV - designao ou sigla de entidade ou rgo pblico, quando no requerido o registro pela prpria entidade ou rgo pblico;

    V - reproduo ou imitao de elemento caracterstico ou diferenciador de ttulo de estabelecimento ou nome de empresa

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 27

    de terceiros, suscetvel de causar confuso ou associao com estes sinais distintivos;

    VI - sinal de carter genrico, necessrio, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relao com o produto ou servio a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma caracterstica do produto ou servio, quanto natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e poca de produo ou de prestao do servio, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

    VII - sinal ou expresso empregada apenas como meio de propaganda;

    VIII - cores e suas denominaes, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo;

    IX - indicao geogrfica, sua imitao suscetvel de causar confuso ou sinal que possa falsamente induzir indicao geogrfica;

    X - sinal que induza falsa indicao quanto origem, procedncia, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou servio a que a marca se destina;

    XI - reproduo ou imitao de cunho oficial, regularmente adotada para garantia de padro de qualquer gnero ou natureza;

    XII - reproduo ou imitao de sinal que tenha sido registrado como marca coletiva ou de certificao por terceiro, observado o disposto no art. 154;

    XIII - nome, prmio ou smbolo de evento esportivo, artstico, cultural, social, poltico, econmico ou tcnico, oficial ou oficialmente reconhecido, bem como a imitao suscetvel de criar confuso, salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade promotora do evento;

    XIV - reproduo ou imitao de ttulo, aplice, moeda e cdula da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios, dos Municpios, ou de pas;

  • Publicaes da Escola da AGU 28

    XV - nome civil ou sua assinatura, nome de famlia ou patronmico e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

    XVI - pseudnimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artstico singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

    XVII - obra literria, artstica ou cientfica, assim como os ttulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetveis de causar confuso ou associao, salvo com consentimento do autor ou titular;

    XVIII - termo tcnico usado na indstria, na cincia e na arte, que tenha relao com o produto ou servio a distinguir;

    XIX - reproduo ou imitao, no todo ou em parte, ainda que com acrscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou servio idntico, semelhante ou afim, suscetvel de causar confuso ou associao com marca alheia;

    XX - dualidade de marcas de um s titular para o mesmo produto ou servio, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de suficiente forma distintiva;

    XXI - a forma necessria, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que no possa ser dissociada de efeito tcnico;

    XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de terceiro; e

    XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente evidentemente no poderia desconhecer em razo de sua atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em territrio nacional ou em pas com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou servio idntico, semelhante ou afim, suscetvel de causar confuso ou associao com aquela marca alheia.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 29

    As marcas podem ser registradas junto ao INPI em 3 (trs) espcies distintas (art. 123 da Lei n 9.279, de 14.05.1996):

    Marca de produto ou servio utilizada para distinguirproduto ou servio idntico, semelhante ou afim, de origem diversa;

    Marca de certificao usada para atestar conformidadede um produto ou servio com determinadas normas ou especificaes tcnicas;

    Marcacoletivausadaparaidentificarprodutosouserviosprovindos de membros de uma determinada entidade.

    O registro das marcas obedece ao princpio da especificidade. Por este princpio a marca do produto ou servio somente ter proteo dentro da espcie na qual foi solicitado o registro.

    Conforme COELHO (2006), a nica exceo regra da especificidade (limitao da tutela ao segmento dos produtos e servios suscetveis de confuso pelo consumidor) diz respeito marca de alto renome, cuja proteo extensiva a todos os ramos de atividade (art. 125 da Lei n 9.279, de 14.05.1996). Trata-se de uma situao especial em que se encontram certas marcas, amplamente conhecidas pelos consumidores.

    Quanto composio possvel distinguir as seguintes categorias de marcas (FAZZIO JUNIOR, 2003):

    Marcasdefantasia:soconstitudasporelementosnovosqueno possuem significado (Kodak, por exemplo);

    Marcasarbitrrias:soconstitudasporpalavrasexistentesque no guardam relao com o produto que distinguem (apple, por exemplo, para computador);

    Marcassugestivas:soconstitudasporpalavrasquesugeremalgum atributo ou benefcio dos produtos ou servios que distinguem, no descrevendo esses produtos (por exemplo, facci para cosmticos);

    Marcas descritivas: so constitudas por expresso quedescreve o produto, o servio ou uma caracterstica desse produto ou servio, desde que revestidas de suficiente forma distintiva (copo de leite, por exemplo, para laticnios).

    As marcas podem ainda ser nominativas (uma ou mais palavras, letras ou algarismos), figurativas (desenho, figura ou letra e nmero de forma estilizada), mistas (elementos nominativos e figurativos) e tridimensionais (cuja forma plstica capaz de distingui-la em si mesma).

    Para marcas de certificao o pedido dever, ainda, conter as caractersticas do produto ou servio objeto de certificao e as medidas de controle que sero adotadas pelo titular.

  • Publicaes da Escola da AGU 30

    O registro de marca vigorar pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concesso do registro, prorrogveis por perodos iguais e sucessivos (art.133 da Lei n 9.279, de 14.05.1996). Observe que o pedido de prorrogao dever ser formulado durante o ltimo ano de vigncia do registro.

    A legislao trata, ainda, sobre as marcas de prestgio, que so as marcas notoriamente conhecidas (art. 126), que obtm proteo somente no determinado ramo de sua atividade; as marcas de alto renome (art. 125), que necessitam ter registro anterior a 5 (cinco) anos, e as marcas evidentemente protegidas, nos termos constantes do art. 124, XXIII, todos da Lei n 9.279, de 1996.

    3.2.3 IndicaesGeogrficas

    O INPI tambm o responsvel pelos registros de indicaes geogrficas. Segundo o art. 176 da Lei n 9.279, de 1996, constitui indicao geogrfica a indicao de procedncia ou a denominao de origem.

    Porindicaodeprocednciaentende-seonomegeogrficoda localidade territorial que se tornou conhecida como centro de extrao, produo ou fabricao de determinado produto ou como prestadora de determinado servio (art. 177 da Lei n 9.279, de 14.05.1996).

    Denominao de origem o nome geogrfico da localidadeterritorial, que pode ser de um pas, cidade ou regio, cujas qualidades e ou caractersticas de seus produtos ou servios se devam essencialmente ao meio geogrfico, incluindo fatores naturais e humanos (art. 178 da Lei n 9.279, de 14.05.1996).

    Apenas os produtores e prestadores de servio estabelecidos no local podero fazer uso da indicao geogrfica, do qual se exige, ainda, em relao s denominaes de origem, o atendimento a requisitos de qualidade.

    As condies para registro das indicaes geogrficas so estabelecidas pelo INPI.

    O Vale dos Vinhedos, IG 200002, uma Indicao de Procedncia. A vitivinicultura no Brasil originou-se com a colonizao italiana no Rio Grande do Sul, conquistando notoriedade e prestgio do vinho fabricado na Serra Gacha.

    A Regio Mineira do Cerrado, IG 990001, outro caso de Indicao de Procedncia. O caf produzido por Minas Gerais representa 50% (cinquenta por cento) da produo total brasileira.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 31

    3.2.4 Cultivares

    A proteo dos cultivares foi instituda por meio da Lei n 9.456, de 25.04.1997, com o objetivo de obstar a livre utilizao de plantas ou de suas partes de reproduo ou de multiplicao vegetativa.

    DEL NERO (2007) esclarece que na hiptese da proteo de cultivares existe uma distino entre as categorias da proteo e do registro. A proteo assegura ao requerente os direitos de propriedade sobre a cultivar desenvolvida e sobre os royalties advindos de sua comercializao. O registro necessrio para a produo, beneficiamento e comercializao de sementes e mudas de cultivar. A autora destaca ainda que o registro e a proteo de cultivares diferem pelas caractersticas e direitos a serem reivindicados, sendo o primeiro referente propriedade e o segundo, intrnseco e referente comercializao.

    A semente um meio de produo de cultivar. No , porm, uma tecnologia, porque o maquinismo biolgico no est na cabea do ser humano, mas no interior da semente. No se transfere a tecnologia, mas a semente. (SILVEIRA, 2005).

    O direito ao cultivar ser do obtentor (pessoa que obtiver nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada no Pas), que poder ser uma pessoa fsica ou jurdica. A legislao aceita coobtentores, porm, no pedido devero ser nominados os melhoristas (a pessoa fsica que obtiver cultivar e estabelecer descritores que a diferenciem das demais).

    A proteo aos cultivares ser concedida pelo Servio Nacional de Proteo de Cultivares, criado no mbito do Ministrio da Agricultura e Abastecimento, por meio do Decreto n 2.366, de 05.11.1997.

    A proteo ao cultivar obriga o requerente ao pagamento de anuidades a partir do exerccio seguinte ao da data da concesso do Certificado de Proteo. O art.10 da Lei n 9.456/1997 pontua as aes que no ferem o direito de propriedade sobre a cultivar protegida.

    Art. 10. No fere o direito de propriedade sobre a cultivar protegida aquele que:

    I - reserva e planta sementes para uso prprio, em seu estabelecimento ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha;

    II - usa ou vende como alimento ou matria-prima o produto obtido do seu plantio, exceto para fins reprodutivos;

  • Publicaes da Escola da AGU 32

    III - utiliza a cultivar como fonte de variao no melhoramento gentico ou na pesquisa cientfica;

    IV - sendo pequeno produtor rural, multiplica sementes, para doao ou troca, exclusivamente para outros pequenos produtores rurais, no mbito de programas de financiamento ou de apoio a pequenos produtores rurais, conduzidos por rgos pblicos ou organizaes no-governamentais, autorizados pelo Poder Pblico.

    A vigncia da proteo do cultivar ser pelo prazo de quinze anos, a partir da data da concesso do Certificado Provisrio de Proteo, podendo chegar a 18 (dezoito) anos no caso de algumas rvores (art. 11 da Lei n 9.456/1997).

    Art. 11. A proteo da cultivar vigorar a partir da data da concesso do Certificado Provisrio de Proteo, pelo prazo de quinze anos, excetuadas as videiras, as rvores frutferas, as rvores florestais e as rvores ornamentais, inclusive, em cada caso, o seu porta-enxerto, para as quais a durao ser de dezoito anos.

    A proteo do cultivar recair sobre o material de reproduo ou de multiplicao vegetativa da planta inteira, porm a legislao estabelece situaes que no atingem os direitos do obtentor.

    3.2.5 Direitos Autorais

    Os direitos autorais so regulamentados por meio da Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e abrange os direitos de autor e os que lhe so conexos.

    Direito do autor: compositor, pintor, artista plstico,escritor.

    Direitos conexos: artistas intrpretes, ou executantes, dosprodutores fonogrficos e das empresas de radiodifuso.

    O art. 7 da Lei n 9.610, de 1998, traz alguns exemplos de obras intelectuais protegidas por fora da referida lei.

    Art. 7 So obras intelectuais protegidas as criaes do esprito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 33

    I - os textos de obras literrias, artsticas ou cientficas;

    II - as conferncias, alocues, sermes e outras obras da mesma natureza;

    III - as obras dramticas e dramtico-musicais;

    IV - as obras coreogrficas e pantommicas, cuja execuo cnica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma;

    V - as composies musicais, tenham ou no letra;

    VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou no, inclusive as cinematogrficas;

    VII - as obras fotogrficas e as produzidas por qualquer processo anlogo ao da fotografia;

    VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cintica;

    IX - as ilustraes, cartas geogrficas e outras obras da mesma natureza;

    X - os projetos, esboos e obras plsticas concernentes geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e cincia;

    XI - as adaptaes, tradues e outras transformaes de obras originais, apresentadas como criao intelectual nova;

    XII - os programas de computador;

    XIII - as coletneas ou compilaes, antologias, enciclopdias, dicionrios, bases de dados e outras obras, que, por sua seleo, organizao ou disposio de seu contedo, constituam uma criao intelectual.

    Os sujeitos dos direitos autorais so os criadores de obras destinadas sensibilizao ou transmisso de conhecimentos, aos

  • Publicaes da Escola da AGU 34

    quais se defere a exclusividade de explorao, fazendo depender de autorizao autoral qualquer uso pblico com intuito de lucro, direto ou indireto.

    Segundo o art. 18 da Lei n 9.610, de 1998, a proteo aos direitos autorais independe de registro, cabendo ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor de obra literria, artstica ou cientfica.

    Considerando o fato de a obra ser protegida independentemente de registro, este observa ao sistema declaratrio, isto , o direito nasce com a exteriorizao da criao.

    COSTA NETTO (1998) afirma que o crime de plgio representa o tipo de usurpao intelectual mais repudiado por todos: por sua malcia, sua dissimulao, por sua consciente e intencional m-f em se apropriar como se de sua autoria fosse de obra intelectual (normalmente j consagrada) que sabe no ser sua (do plagirio).

    No sero objeto de proteo como direitos autorais aqueles previstos no art. 8 da Lei n 9.610, de 1998.

    Art. 8 No so objeto de proteo como direitos autorais de que trata esta Lei:

    I - as idias, procedimentos normativos, sistemas, mtodos, projetos ou conceitos matemticos como tais;

    II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negcios;

    III - os formulrios em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informao, cientfica ou no, e suas instrues;

    IV - os textos de tratados ou convenes, leis, decretos, regulamentos, decises judiciais e demais atos oficiais;

    V - as informaes de uso comum tais como calendrios, agendas, cadastros ou legendas;

    VI - os nomes e ttulos isolados;

    VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idias contidas nas obras.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 35

    Os direitos patrimoniais do autor tero vigncia de setenta anos, contados a partir de 1 de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessria da legislao civil (art. 41 da Lei n9.610/1998). Em relao s obras annimas, este mesmo prazo ter incio a partir de 1 de janeiro do ano imediatamente posterior ao da primeira publicao. Quanto s obras audiovisuais e fotogrficas este mesmo prazo tambm ser contado a partir de 1 de janeiro do ano subsequente ao da publicao.

    Para DELLlISOLA (2009), os direitos decorrentes de criao desenvolvida por fora de contrato de encomenda, seja contrato de trabalho ou de prestao de servios, no sofrem qualquer alterao, ou seja, remanescem os direitos morais ao empregado ou contratado e, em contrapartida, os direitos patrimoniais so transferidos ao autor da encomenda nos limites autorizados pelo contratado.

    3.2.6 Software

    Na Parte Internacional da Revista Gewerblicher Rechtsschutz und Urheberrecht, segundo o decreto para a proteo do software na China, programas de computador so sequncias de comandos codificados que podem ser realizados para obteno de qualquer resultado por meio de computador ou construes semelhantes, capazes de processar informaes, ou seqncias simblicas de comandos, ou seqncias simblicas de frases que podem ser transformadas em seqncias de comandos automticos. (GRUR Int 1991, p. 727, art. 3).

    Conceituar software no uma tarefa fcil. A Lei n 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispe sobre a proteo da propriedade intelectual de programa de computador, definiu o software, em seu art. 1, como sendo a expresso de um conjunto organizado de instrues em linguagem natural ou codificada, contida em suporte fsico de qualquer natureza, de emprego necessrio em mquinas automticas de tratamento da informao, dispositivos, instrumentos ou equipamentos perifricos, baseados em tcnica digital ou anloga, para faz-los funcionar de modo e para fins determinados.

    Da mesma forma como so tratados os direitos autorais, a proteo aos direitos relativos a programa de computador independe de registro (art. 2, pargrafo 3, da Lei n 9.609/1998). A critrio dos titulares, os programas de computador podero ser registrados junto ao INPI, ficando a tutela de tais direitos assegurada pelo

  • Publicaes da Escola da AGU 36

    prazo de 50 (cinquenta) anos (art. 2, pargrafo 2, da Lei n 9.609/1998).

    O programa de computador est protegido, posto que obra intelectual de expresso lingustica. possvel dizer que um programa de computador , por sua natureza, um esquema para ao.

    Ao desenvolvedor importa refletir sobre algumas vantagens na proteo jurdica do software, dentre as quais possvel citar:

    Presuno de autoria daquele que efetuou o registro(providncia que deve ser adotada pela IFES);

    Impedimentodequeosconcorrentesutilizemoudesenvolvamsoftwares iguais ou similares;

    Obteno de lucro com a transferncia dos direitos aterceiros;

    Seguranajurdicaemaesdeabstenodeusoeindenizaopor perdas e danos contra concorrentes desleais;

    Garantiadousoedaexploraoexclusivospeloseutitular.Segundo DELLISOLA (2009), o programa de computador

    fruto do esforo criativo de algum que, com conhecimento tcnico, desenvolve a programao. O criador da obra de informtica tem direito sobre ela, que tutelado pelo ordenamento jurdico na esfera do direito autoral.

    Naquilo que for omissa a Lei n 9.609, de 1998, devem ser aplicadas, subsidiariamente, as regras gerais do direito autoral (Lei n 9.610, de 1998). Saliente-se que no existe na legislao uma regra engessada relacionada ao percentual da obra, para que seja reconhecida se houve ou no reproduo total ou parcial no autorizada do todo ou de parte do original.

    importante ficar atento s garantias aos usurios de programa de computador, observando o constante no art. 6, da Lei n 9.609, de 1998, que aponta os casos que no constituem ofensa aos direitos do titular de programa de computador.

    Art. 6. No constituem ofensa aos direitos do titular de programa de computador:

    I - a reproduo, em um s exemplar, de cpia legitimamente adquirida, desde que se destine cpia de salvaguarda ou armazenamento eletrnico, hiptese em que o exemplar original servir de salvaguarda;

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 37

    II - a citao parcial do programa, para fins didticos, desde que identificados o programa e o titular dos direitos respectivos;

    III - a ocorrncia de semelhana de programa a outro, preexistente, quando se der por fora das caractersticas funcionais de sua aplicao, da observncia de preceitos normativos e tcnicos, ou de limitao de forma alternativa para a sua expresso;

    IV - a integrao de um programa, mantendo-se suas caractersticas essenciais, a um sistema aplicativo ou operacional, tecnicamente indispensvel s necessidades do usurio, desde que para o uso exclusivo de quem a promoveu.

    O Quadro 4 traz uma breve comparao entre a Lei n 9.610 e Lei n 9.609, ambas de 1998.

    Lei de Direitos Autorais Lei do SoftwareDurao: 70 anos da morte do autor Durao: 50 anos da

    criaoAutor autoriza modificao da obra Titular autoriza

    modificao do programaMesmo com vnculo, o autor o titular Se h vnculo, titular o

    empregadorDireitos Morais: Reivindicar,aqualquertempo,a

    autoria da obra Terseunomeindicadocomoautor

    na utilizao da obra Conservaraobraindita AsseguraraintegridadedaobraModificaraobraaqualquer

    momento Retiraraobradecirculao Suspenderaformadeutilizaoj

    autorizada Teracessoaexemplarnico

    Direitos Morais: Paternidade Objeoamodificaes

    Quadro 4 - Comparativo entre a lei de direitos autorais e a lei de software.

  • Publicaes da Escola da AGU 38

    3.2.7 TopografiadeCircuitosIntegrados

    A Lei n 11.484, de 31.05.2007, dispe sobre a proteo propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados. Mencionada lei define um regime especial para proteo deste bem, aproveitando elementos do direito autoral e a sistemtica dos direitos referente propriedade industrial. Do direito autoral, o diploma legal aproveitou o critrio de originalidade; e dos direitos relacionados propriedade industrial, aproveitou o registro como sendo condio para proteo.

    SANTOS (2007) traduz com singular clareza a distino entre a proteo do software contido em chips ou microchips e a proteo da topografia dos circuitos integrados:

    Existem o produto semicondutor ou chip, que contm o circuito integrado, e o desenho (layout design) ou trama, que incorporado em uma mscara (mask), chamada topografia por sua caracterstica tridimensional (FRANCESCHELLI, 1988, p. 232; RISTUCCIA; ZENO-ZENCOVICH, 1993, p. 55; UNCTADICTSD, 2005, p. 506). Essa estrutura d suporte ao programa. A topografia pode ser copiada mediante a fotografia de cada camada (layer) do circuito integrado e a preparao de mscaras para a produo de chips com base nessas fotografias.

    O registro para proteo de tais direitos deve ser feito junto ao INPI, sendo que o art. 26, da Lei n 11.484, de 31.05.2007, adotou determinadas definies:

    Art. 26. Para os fins deste Captulo, adotam-se as seguintes definies:

    I circuito integrado significa um produto, em forma final ou intermediria, com elementos dos quais pelo menos um seja ativo e com algumas ou todas as interconexes integralmente formadas sobre uma pea de material ou em seu interior e cuja finalidade seja desempenhar uma funo eletrnica;

    II topografia de circuitos integrados significa uma srie de imagens relacionadas, construdas ou codificadas sob qualquer meio ou forma, que represente a configurao tridimensional

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 39

    das camadas que compem um circuito integrado, e na qual cada imagem represente, no todo ou em parte, a disposio geomtrica ou arranjos da superfcie do circuito integrado em qualquer estgio de sua concepo ou manufatura.

    Como requisitos para registro de topografia, deve esta ser original, resultante de ato inventivo e no decorrer de maneira bvia e evidente do estado da tcnica, que tudo aquilo que conhecido pelo pblico antes da data do depsito.

    Sendo objeto da tutela a configurao tridimensional do circuito, em qualquer estgio da sua concepo, a legislao no obriga a necessidade de sua incorporao a um produto semicondutor para que a mesma seja suscetvel de proteo (SANTOS, 2007).

    O art. 29, 2, da Lei n 11.484, de 2007, especifica os casos em que no ser concedida a proteo.

    Art. 29. A proteo prevista neste Captulo s se aplica topografia que seja original, no sentido de que resulte do esforo intelectual do seu criador ou criadores e que no seja comum ou vulgar para tcnicos, especialistas ou fabricantes de circuitos integrados, no momento de sua criao.

    1 Uma topografia que resulte de uma combinao de elementos e interconexes comuns ou que incorpore, com a devida autorizao, topografias protegidas de terceiros somente ser protegida se a combinao, considerada como um todo, atender ao disposto no caput deste artigo.

    2 A proteo no ser conferida aos conceitos, processos, sistemas ou tcnicas nas quais a topografia se baseie ou a qualquer informao armazenada pelo emprego da referida proteo.

    3 A proteo conferida neste Captulo independe da fixao da topografia.

    Observe-se que a titularidade do direito a ser protegido ser conferida ao criador da topografia do circuito integrado. Ainda em relao titularidade, o art. 28 da Lei n 11.484, de 2007, seguiu igual caminho ao da Lei n 9.279, de 1999.

    Art. 28. Salvo estipulao em contrrio, pertencero exclusivamente ao empregador, contratante de servios ou entidade geradora de vnculo estatutrio os direitos relativos

  • Publicaes da Escola da AGU 40

    topografia de circuito integrado desenvolvida durante a vigncia de contrato de trabalho, de prestao de servios ou de vnculo estatutrio, em que a atividade criativa decorra da prpria natureza dos encargos concernentes a esses vnculos ou quando houver utilizao de recursos, informaes tecnolgicas, segredos industriais ou de negcios, materiais, instalaes ou equipamentos do empregador, contratante de servios ou entidade geradora do vnculo.

    1 Ressalvado ajuste em contrrio, a compensao do trabalho ou servio prestado limitar-se- remunerao convencionada.

    2 Pertencero exclusivamente ao empregado, prestador de servios ou servidor pblico os direitos relativos topografia de circuito integrado desenvolvida sem relao com o contrato de trabalho ou de prestao de servios e sem a utilizao de recursos, informaes tecnolgicas, segredos industriais ou de negcios, materiais, instalaes ou equipamentos do empregador, contratante de servios ou entidade geradora de vnculo estatutrio.

    3 O disposto neste artigo tambm se aplica a bolsistas, estagirios e assemelhados.

    O registro da topografia de circuito integrado confere a seu titular a exclusividade de sua explorao econmica, o que lhe atribui contedo essencialmente patrimonial.

    A proteo da topografia ser concedida por 10 (dez) anos contados da data do depsito ou da 1a (primeira) explorao, o que tiver ocorrido primeiro (art. 35 da Lei n 11.484/2007).

    Importa ainda verificar os casos previstos no art. 37 da Lei em comento, o qual define os atos que no configuram ofensa aos direitos exclusivos do titular da topografia, dentre os quais se encontram os atos como finalidade de anlise, avaliao, ensino e pesquisa.

    Art. 37. Os efeitos da proteo prevista no art. 36 desta Lei no se aplicam:

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 41

    I aos atos praticados por terceiros no autorizados com finalidade de anlise, avaliao, ensino e pesquisa;

    II aos atos que consistam na criao ou explorao de uma topografia que resulte da anlise, avaliao e pesquisa de topografia protegida, desde que a topografia resultante no seja substancialmente idntica protegida;

    III aos atos que consistam na importao, venda ou distribuio por outros meios, para fins comerciais ou privados, de circuitos integrados ou de produtos que os incorporem, colocados em circulao pelo titular do registro de topografia de circuito integrado respectivo ou com seu consentimento; e

    IV aos atos descritos nos incisos II e III do caput do art. 36 desta Lei, praticados ou determinados por quem no sabia, por ocasio da obteno do circuito integrado ou do produto, ou no tinha base razovel para saber que o produto ou o circuito integrado incorpora uma topografia protegida, reproduzida ilicitamente.

    1 No caso do inciso IV do caput deste artigo, aps devidamente notificado, o responsvel pelos atos ou por sua determinao poder efetuar tais atos com relao aos produtos ou circuitos integrados em estoque ou previamente encomendados, desde que, com relao a esses produtos ou circuitos, pague ao titular do direito a remunerao equivalente que seria paga no caso de uma licena voluntria.

    2 O titular do registro de topografia de circuito integrado no poder exercer os seus direitos em relao a uma topografia original idntica que tiver sido criada de forma independente por um terceiro.

  • Publicaes da Escola da AGU 42

    3.3 Quadro Resumo

    Bem Imaterial

    Legislao Forma de proteo

    Vigncia

    Inveno Lei n 9.279/1996

    Patente INPI 20 anos, contados da data do depsito

    Modelo de Utilidade

    Lei n 9.279/1996

    Patente INPI 15 anos, contados da data do depsito

    Desenho Industrial

    Lei n 9.279/1996

    Registro INPI 10 anos, contados da data do depsito, prorrogveis por trs perodos sucessivos de 5 anos.

    Marca Lei n 9.279/1996

    Registro INPI 10 anos, prorrogveis por perodos iguais e sucessivos

    Indicaes Geogrficas

    Lei n 9.279/1996

    Registro INPI A lei no estabelece

    Cultivares Lei n 9.456/1997

    Registro Ministrio da Agricultura e Abastecimento

    15 anos, a partir da data de concesso do certificado provisrio de proteo (em alguns casos pode chegar a 18 anos)

    Topografia de Circuitos Integrados

    Lei n 11.484/2007

    Registro INPI 10 anos, da data do depsito ou da 1 explorao

    Direitos Autorais

    Lei n 9.610/1998

    Independe de registro (Biblioteca Nacional)

    70 anos, da morte do autor

    Software Lei n 9.609/1998

    Independe de registro (INPI)

    50 anos, da criao

  • 43

    pARTE II - CONTRATOS

    4 pRINCpIOS JURDICOS

    Os princpios jurdicos constitucionais, explicita ou implicitamente estabelecidos, conformadores e informadores de um dado sistema de direito, possuem funo fundamental na compreenso, interpretao e aplicao desse mesmo sistema.

    Conforme j escrito alhures: (CESAR DE OLIVEIRA, 2009)

    O sistema normativo do Direito composto por normas-princpio e normas-regra. Os princpios jurdicos se inserem no Direito como uma dimenso da moralidade que se reconhece da observao da prtica social, historicamente considerada. J as regras jurdicas funcionam, em geral, como instrumento de materializao dos princpios.

    Os princpios de Direito desempenham uma dupla funcionalidade: possuem funo metodolgica e funo teleolgica. No cumprimento da funo metodolgica, os princpios, como dados valiosos que fundamentam todo o conjunto de certo sistema jurdico, atuam como elo entre as regras, realizando uma verdadeira tarefa de costura entre elas, dando sentido s formulaes a contidas.

    Nesse contexto, a regra pela regra perde sentido de existir. Somente luz do princpio, que lhe induz o nascimento, que adquire razo de ser, no conjunto sistmico do Direito. Os princpios, portanto, indicam o caminho a percorrer, na tarefa interpretativa das regras jurdicas, dando sentido a elas e ao sistema como um todo.

    Por outro lado, os princpios jurdicos, tambm, cumprem uma funcionalidade teleolgica. Assim, como fundamento ou base do sistema jurdico, os princpios indicam, do ponto de vista jurdico, os fins que, definidos por dada sociedade, devem ser alcanados. Os princpios, pelo enfoque teleolgico, representam o norte de todo o sistema de direito, ou seja, os ideais de valor que dada sociedade elege como significativos para, efetivamente, vivenci-los e, por essa razo, os esculpe no sistema normativo de direito.

  • Publicaes da Escola da AGU 44

    No plano do direito positivo, a Constituio Federal de 1988 formula toda a malha principiolgica, base do direito brasileiro, a comear pelos art. 1, art. 3 e art. 4, nos quais j determina, como marco fundamental, os princpios da dignidade da pessoa humana, da supremacia do interesse pblico, visto que todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido, da solidariedade, da justia social, da igualdade, tanto formal quanto material, exaltando, expressamente, a prevalncia dos direitos humanos. Assim estabelece a Lei Maior:

    Art. 1. A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:

    I - a soberania;

    II - a cidadania;

    III - a dignidade da pessoa humana;

    IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

    V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.

    Art. 3. Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:

    I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;

    II - garantir o desenvolvimento nacional;

    III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

    IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    Art. 4. A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios:

    I - independncia nacional;

    II - prevalncia dos direitos humanos;

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 45

    III - autodeterminao dos povos;

    IV no interveno;

    V - igualdade entre os Estados;

    VI - defesa da paz;

    VII - soluo pacfica dos conflitos;

    VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;

    IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade;

    X - concesso de asilo poltico.

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.

    Apontando diretamente para a Administrao Pblica, a Constituio do Brasil, em seu art. 37, baliza a ao desse setor do Poder Pblico por meio dos princpios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia, dentre outros.

    Na esfera infraconstitucional, importante marco referencial a Lei n 9.784, de 29/01/1999, cujo art. 2 especialmente dedicado ao alicerce de princpios que devem, por fora do Direito, fundamentar as decises da Administrao Pblica Federal:

    Art. 2. A Administrao Pblica obedecer, dentre outros, aos princpios da legalidade, finalidade, motivao, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditrio, segurana jurdica, interesse pblico e eficincia.

    Pargrafo nico. Nos processos administrativos sero observados, entre outros, os critrios de:

    I - atuao conforme a lei e o Direito;

    II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renncia total ou parcial de poderes ou competncias, salvo autorizao em lei;

  • Publicaes da Escola da AGU 46

    III - objetividade no atendimento do interesse pblico, vedada a promoo pessoal de agentes ou autoridades;

    IV - atuao segundo padres ticos de probidade, decoro e boa-f;

    V - divulgao oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipteses de sigilo previstas na Constituio;

    VI - adequao entre meios e fins, vedada a imposio de obrigaes, restries e sanes em medida superior quelas estritamente necessrias ao atendimento do interesse pblico;

    VII - indicao dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a deciso;

    VIII observncia das formalidades essenciais garantia dos direitos dos administrados;

    IX - adoo de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurana e respeito aos direitos dos administrados;

    X - garantia dos direitos comunicao, apresentao de alegaes finais, produo de provas e interposio de recursos, nos processos de que possam resultar sanes e nas situaes de litgio;

    XI - proibio de cobrana de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;

    XII - impulso, de ofcio, do processo administrativo, sem prejuzo da atuao dos interessados;

    XIII - interpretao da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim pblico a que se dirige, vedada aplicao retroativa de nova interpretao.

    Em face de todo esse arsenal de princpios consagrados no direito ptrio, toda atuao da Administrao Pblica, por seus agentes, deve, necessariamente, demonstrar, de modo inequvoco, a sua pertinncia principiolgica e os princpios jurdicos que materializa.

  • Propriedade Intelectual - conceitos e procedimentos 47

    Por fim, tem-se que os princpios jurdicos possuem, alm da funo teleolgica ou finalstica, a metodolgica, pela qual as regras do sistema adquirem sentido e coerncia. Dessa forma, a interpretao dos contratos administrativos deve ser pautada na rede de princpios que fundamentam a lgica do sistema jurdico vigente.

    5 CONTRATOS

    5.1 Contratos em Geral

    5.1.1 Aspectos Conceituais

    Instituto jurdico de extrema importncia, o contrato tem sido interpretado e definido atravs dos sculos, tornando-se fonte de obrigaes e prtica usual na vida econmica atual.

    Segundo ROQUE (2003), o contrato o acordo de duas ou mais pessoas para estabelecer, regular ou terminar um vnculo jurdico.

    Os mecanismos de governana de confiana na competncia e contrato formal fornecem condies de facilitao nica para o aprendizado interorganizacional. Enquanto que a confiana na competncia do parceiro cria um contexto social colaborativo que conduz ao compartilhamento de informao e aprendizado, os contratos escritos formalmente atingem os objetivos de aprendizado pela especificao das obrigaes e deveres esperados das partes (LUI, 2009).

    O contrato encerra em sua essncia a fora da lei entre as partes envolvidas, constituindo-se como fonte de direitos e obrigaes no mbito do relacionamento (THEODORO JUNIOR, 1993).

    Assim sendo, contrato uma espcie de vnculo entre as pessoas onde so exigveis prestaes; uma das modalidades de obrigao. E obrigao a consequncia que o direito posto atribui a um determinado fato, e a vontade humana est entre os fatos que o direito entende como ensejadores de obrigao. O direito tem reconhecido eficcia ao desejo de uma pessoa que, por sua prpria determinao, quer se obrigar perante outra em funo, ou no, de uma contraprestao desta. Posto fica, disposio das partes, o aparelho estatal de coero com vistas a garantir a realizao da vontade manifestada (COELHO, 2006).

    Quando so normas jurdicas que as definem, a obrigao legal. Quando no h definio na disciplina legal, reservando-se vontade das pessoas envolvidas na relao a faculdade de participar desta definio, depara-se com uma categoria diversa de obrigao. Neste conjunto de obrigaes encontra-se o contrato ao lado das obrigaes

  • Publicaes da Escola da AGU 48

    de carter institucional, sendo o regime jurdico de sua constituio e dissoluo o que diferencia estes dois tipos de obrigaes (contratuais e institucionais).

    Estabelecido o acordo entre as partes contratantes, este resulta em obrigaes recprocas e direitos a cada uma delas e, atravs do vnculo jurdico estabelecido entre elas, est o contrato introduzido no mundo do direito. Cada parte fica obrigada ao cumprimento de uma prestao para com a outra, consagrando-se o princpio da obrigatoriedade do contrato, ou seja, os acordos devem ser cumpridos (pacta sunt servanda). Aos contratantes tambm fica a obrigao de manter, tanto na execuo quanto na concluso do contrato, os princpios de probidade e boa-f (BOCCHINO et al, 2010).

    O Cdigo Civil ao mencionar, em seus arts. 421 e 422, que a liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato, e a instigar os contratantes a se portarem com probidade e boa-f, abre toda uma nova perspectiva no universo contratual, embora os princpios j fossem plenamente conhecidos no passado (VENOSA, 2005).

    Outro aspecto importante da relao jurdica estabelecida no contrato se refere ao vnculo jurdico patrimonial, que resulta na obrigatoriedade de alterao do patrimnio de ambas as partes, vigorando-se, portanto, o princpio da economicidade. Cada parte enriquece e empobrece ao mesmo tempo.

    Em geral, o contrato gera efeitos apenas entre as partes vinculadas, no criando direitos e obrigaes a terceiros, vigorando-se o princpio da relatividade. Aqui tambm existem excees, onde alguns contratos beneficiam partes no participantes do acordo, como tambm exigem destas uma obrigao. Alm do aspecto relacionado aos sujeitos atingidos pelo contrato, este tambm no deve alcanar bens estranhos ao seu objeto, mencionado pela doutrina como um aspecto objetivo do princpio da relatividade (COELHO, 2006).

    O Cdigo Civil, nos arts. 421 a 853, regulamenta os elementos necessrios validao dos contratos, no que tange aos negcios jurdicos, e sendo o contrato um negcio jurdico, o mesmo deve ser praticado na observncia de certos pressupostos, e em algun