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  • Tese apresentada Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa do Instituto

    Tecnolgico de Aeronutica, como parte dos requisitos para obteno do

    ttulo de Doutor em Cincias no Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia Aeronutica e Mecnica, rea de Produo.

    Reinaldo Fagundes dos Santos

    PROPOSTA DE UM MODELO DE GESTO INTEGRADA DA

    CADEIA DE SUPRIMENTOS: APLICAO NO SEGMENTO

    DE ELETRODOMSTICOS

    Tese aprovada em sua verso final pelos abaixo assinados:

    Prof. Celso Massaki Hirata

    Pr-Reitor de Ps Graduao e Pesquisa

    Campo Montenegro

    So Jos dos Campos, SP Brasil

    2010

  • Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Diviso de Informao e Documentao

    REFERNCIA BIBLIOGRFICA

    SANTOS, Reinaldo Fagundes dos Santos. Proposta de um modelo de gesto integrada da

    cadeia de suprimentos: aplicao no segmento de eletrodomsticos. 2010. 202f. Tese de

    Doutorado - Instituto Tecnolgico de Aeronutica, So Jos dos Campos.

    CESSO DE DIREITOS

    NOME DO AUTOR: Reinaldo Fagundes dos Santos

    TTULO DO TRABALHO: Proposta de um modelo de gesto integrada da cadeia de

    suprimentos: aplicao no segmento de eletrodomsticos

    TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese de Doutorado / 2010.

    concedida ao Instituto Tecnolgico de Aeronutica permisso para reproduzir cpias desta

    dissertao e para emprestar ou vender cpias somente para propsitos acadmicos e

    cientficos. O autor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte desta dissertao

    pode ser reproduzida sem a autorizao do autor.

    SANTOS, Reinaldo Fagundes dos

    Proposta de um modelo de gesto integrada da cadeia de suprimentos: aplicao no segmento

    de eletrodomsticos / Reinaldo Fagundes dos Santos. So Jos dos Campos, 2010.

    202f.

    Tese de Doutorado Curso de Engenharia Aeronutica e Mecnica, rea de Produo -

    Instituto Tecnolgico de Aeronutica, 2010. Orientador: Prof. Dr. Joo Murta Alves.

    1. Administrao da cadeia de suprimentos. 2. Teoria das restries. 3. Aspectos organizacionais. I. Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial. Instituo Tecnolgico de

    Aeronutica. Diviso de Informao e Documentao. II. Ttulo

  • iii

    PROPOSTA DE UM MODELO DE GESTO INTEGRADA DA

    CADEIA DE SUPRIMENTOS: APLICAO NO SEGMENTO

    DE ELETRODOMSTICOS

    Reinaldo Fagundes dos Santos

    Composio da Banca Examinadora:

    Profa. Dra. Ligia Maria Soto Urbina Presidente - ITA

    Prof. Dr. Joo Murta Alves Orientador - ITA

    Prof. Dr. Jos Henrique de Souza Damiani Membro Interno - ITA

    Prof. Dr. Fernando Augusto Silva Marins Membro Externo - FEG / UNESP

    Prof. Dr. Slvio Roberto Igncio Pires Membro Externo - UNIMEP

    ITA

  • iv

    DEDICATRIA:

    Dedico este trabalho aos meus pais:

    Javel e Jeclia;

    minha esposa e amiga:

    Carmen;

    E aos meus filhos:

    Flvia e Bruno.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    A concretizao do doutorado no o resultado de um esforo individual. Este sonho

    se iniciou com o sacrifcio de meus pais, que garantiram minha formao universitria. Um

    esforo conjunto de minha esposa e filhos, que abdicaram de inmeros finais de semana e

    feriados para que eu pudesse me dedicar ao estudo. Portanto o mrito deste ideal deve ser

    compartilhado e agradeo imensamente pelo constante incentivo.

    Quero agradecer a imensurvel colaborao e pacincia de meu orientador e amigo,

    Professor Joo Murta Alves, sempre solicito e preciso em suas ponderaes e intervenes.

    Agradeo aos professores do ITA que sempre de forma amvel contriburam, desde

    meu mestrado, para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Agradeo tambm aos

    meus colegas de curso pelo apoio.

    Um agradecimento especial aos meus amigos das empresas, onde eu realizei a

    pesquisa ao. Eles, de forma atenciosa, sempre colaboraram para concluso deste intento.

    Tambm agradeo aos meus amigos: Agnaldo Martins Serra Jnior, pela gentil

    indicao de meu nome para o ingresso no programa de mestrado e posteriormente no

    doutorado do ITA e ao meu amigo e companheiro de doutorado, Arcione Ferreira Viagi, que

    sempre esteve presente nesta caminhada.

  • vi

    Aquele que mestre na arte de viver faz pouca

    distino entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre a

    sua mente e o seu corpo, entre a sua educao e a sua

    recreao, entre o seu amor e a religio. Distingue uma

    coisa da outra com dificuldade. Almeja simplesmente a

    excelncia em qualquer coisa que faa, deixando aos

    demais a tarefa de decidir se est trabalhando ou se

    divertindo. Ele acredita que est sempre fazendo as duas

    coisas ao mesmo tempo.

    Domenico de Masi, Socilogo Italiano

  • vii

    RESUMO

    A investigao da mais recente literatura revela que o espectro da competitividade

    entre as organizaes manufatureiras, numa economia cada vez mais globalizada, j no se

    limita a busca do desenvolvimento de vantagens competitivas pelo aprimoramento dos seus

    processos internos. Um novo cenrio se instala, um novo desafio se apresenta: a necessidade

    de integrao dos processos de negcio entre as organizaes de uma cadeia de suprimento

    visando o desenvolvimento de novos ganhos competitivos. Diante deste cenrio, a

    competitividade j no se limita ao jogo de foras entre as organizaes concorrentes, seus

    fornecedores e clientes imediatos, mas acontece de fato entre cadeias de suprimentos.

    Entretanto, os atuais modelos de Gesto da Cadeia de Suprimentos (SCM Supply Chain

    Management) no vm cumprindo seu papel, havendo grande disparidade entre os potenciais

    benefcios e a prtica. A presente tese tem como objetivo propor um modelo de SCM e seu

    mtodo de implementao, visando aumentar a capacidade de resposta ao mercado

    consumidor das empresas manufatureiras, atravs do foco nos processos de negcio e

    particularmente na gesto da demanda, com conseqente impacto na reduo de inventrio e

    lead time. O objetivo tambm inclui a preocupao com a sustentabilidade onde, em sintonia

    com o movimento Triple Bottom Line (3BL), busca o equilbrio entre o resultado das

    empresas, o respeito s pessoas e a preservao do meio ambiente. O modelo proposto utiliza

    os conceitos do Pensamento Enxuto (Lean Thinking), da Teoria das Restries (TOC

    Theory of Constraints) e do modelo SCOR (Supply-Chain Operations Reference), operando

    em um ambiente de Tecnologia da Informao e Comunicao (TIC). O modelo busca,

    minimizando as limitaes e maximizando as vantagens de cada um dos conceitos

    incorporados, gerar um sistema robusto de gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos.

    A avaliao de sua eficcia feita a partir de uma aplicao prtica na cadeia de suprimentos

    do segmento de eletrodomsticos, permitindo sugerir a ampliao do escopo de sua utilizao.

  • viii

    Palavras-Chave: Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM); Teoria das Restries

    (TOC); Pensamento Enxuto (Lean Thinking); Supply-Chain Operations Reference (SCOR);

    Tecnologia da Informao e Comunicao (TIC); VMI; Sustentabilidade, Triple Bottom Line

    (3BL).

  • ix

    ABSTRACT

    The latest research literature reveals that the spectrum of competitiveness among

    manufacturing organizations, in an economy increasingly global, no longer limited to the

    search of the development of competitive advantages by improving their internal processes. A

    new setting is installed, a new challenge sets in: the need for integration of business processes

    among organizations of a supply chain for the development of new competitive gains. Facing

    this background, competitiveness is no longer limited to the competition among the

    organizations, their immediate suppliers and customers, although it occurs between supply

    chains. However, the current generation of Supply Chain Management (SCM) are not

    fulfilling their role, there is great disparity between the potential benefits and practice. This

    thesis aims to propose a model of SCM and its method of implementation, in order to increase

    responsiveness to consumer market of the manufacturing companies, by focusing on business

    processes and particularly in the demand management, with consequent impact on inventory

    and lead time reduction. The goal also includes concern for the sustainability which, in line

    with the movement Triple Bottom Line (3BL), it seeks a balance between the companies

    profit, the respect for people and environmental protection. The proposed model uses the

    concepts of Lean Thinking, Theory of Constraints (TOC) and the SCOR model (Supply-

    Chain Operations Reference), operating in an environment of Information and

    Communication Technology (ICT) . The model aims, minimizing the limitations and

    maximizing the advantages of each incorporated concepts, to generate a robust supply chain

    management system. The evaluation of its effectiveness is made from a practical application

    in the supply chain of home appliances segment, which allows the expansion of the scope of

    their use.

  • x

    Keywords: Supply Chain Management (SCM); Theory of Constraints (TOC); Lean Thinking;

    Supply-Chain Operations Reference (SCOR); Information and Communication Technology

    (ICT); VMI; Sustainability, Triple Bottom Line (3BL).

  • xi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Proposta Metodolgica 27

    Figura 2 - Distribuio das Referncias por Tipo e Ano da Publicao 30

    Figura 3 - Exemplo da Estrutura da Cadeia de Suprimentos de um Segmento 36

    Figura 4 - Cadeia de Suprimentos da Empresa Focal 38

    Figura 5 - Matriz de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos 40

    Figura 6 - SCM: Integrando e Gerenciando os Processos de Negcio atravs da Cadeia

    de Suprimentos 42

    Figura 7 - Tipos Possveis de Relaes de Suprimento 44

    Figura 8 - Matriz de Resposta ao Risco 46

    Figura 9 - Amplificao da Demanda ou Efeito Chicote 49

    Figura 10- Ilustrao dos sistemas: Convencional, VMI e Consignao 53

    Figura 11- Ilustrao do 3BL (Triple Bottom Line) 57

    Figura 12- Processos de Negcios Bsicos do Modelo SCOR 64

    Figura 13- Os 7 Desperdcios (MUDAs) do Lean Thinking 71

    Figura 14- Exposio dos Problemas em um Processo Enxuto 73

    Figura 15- O Mapa do Estado Atual 75

    Figura 16- O Mapa do Estado Futuro 77

    Figura 17- Demanda Versus Capacidade de Produo do Produto A 85

    Figura 18- Demanda Versus Capacidade de Produo do Produto B 87

    Figura 19- Lgica TPC Destaque no RRC e Pulmo 90

    Figura 20- Lgica TPC Tambor, Pulmo e Corda 90

    Figura 21- Comparao entre os modelos TPC tradicional e TPC simplificado 93

    Figura 22- Evoluo histrica dos Sistemas de Gesto 101

    Figura 23- Mdulos de um ERP 103

    Figura 24- Arquitetura dos Sistemas de Comunicao entre Empresas com ERP 103

    Figura 25- Mdulos de um APS 105

    Figura 26- APS Integrando mltiplos ERPs 106

    Figura 27- Sistema Pblico de Escriturao Digital - SPED 107

    Figura 28- Cadeia de Suprimentos de Ventiladores de Mesa e Preparadores de Alimentos 113

    Figura 29- Cadeia de Suprimentos da Montadora SmallGoods 117

    Figura 30- Fluxo de informaes do ERP da SmallGoods 120

    Figura 31- Logstica da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos 121

    Figura 32- Matriz Estratgica para Segmentao de Fornecedores 122

    Figura 33- Logstica da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos 128

    Figura 34- Logstica da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos 132

    Figura 35- Logstica da MetalBase na Cadeia de Suprimentos 136

    Figura 36- Fluxo de Informaes e Produtos da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods 139

    Figura 37- Matriz Estratgica para Anlise de Risco de Fornecimento 145

    Figura 38- Estrutura do Modelo Proposto 147

    Figura 39- Operacionalidade do Modelo Proposto 149

    Figura 40- Lista de Figuras e Smbolos Utilizados 155

    Figura 41- Algoritmo para Identificao e Quebra das Restries 162

    Figura 42- Etapas Fsicas do Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods 171

    Figura 43- Mapa do Estado Atual da SC da SmallGoods 175

    Figura 44- Mapa do Estado Futuro da SC da SmallGoods 181

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Comparativo entre o Pensamento Enxuto e a Teoria das Restries 94

    Tabela 2 - Avaliao do Risco de Fornecimento na Empresa SmallGoods 123

    Tabela 3 - Interface entre Fases e Passos com os Pilares do Modelo Proposto 152

    Tabela 4 - Resumo das Etapas Fsicas 158

    Tabela 5 - Etapas Fsicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores 167

    Tabela 6 - Resumo das Etapas Fsicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores 170

    Tabela 7 - Etapas Fsicas para Criar 1.000 (mil) Liquidificadores Estado Futuro 177

    Tabela 8 - Resumo das Etapas Fsicas para Criar 1.000 Liquidificadores Estado Futuro 179

    Tabela 9 - Resumo dos Resultados Obtidos 182

  • xiii

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 - Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia Montante 198

    Anexo 2 - Perguntas balizadoras relacionadas com a Fabricao 200

    Anexo 3 - Perguntas balizadoras relacionadas com a cadeia Jusante 200

    Anexo 4 - Tabela com as Etapas Fsicas para criar um Produto 202

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    3BL Triple Bottom Line

    AA Account Ability

    ARF rvore da Realidade Futura

    APS Advanced Planning and Scheduling

    ARA rvore da Realidade Atual

    B2B Business to Business

    CD Centro de Distribuio

    CEPAA Council on Economic Priorities Accreditation Agency

    CPFR Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment

    CR Continuous Replenishment

    CRM Customer Relationship Management

    CSCMP Council of the Supply Chain Management Professionals

    eC Electronic Commerce

    ECR Efficient Consumer Response

    EDI Electronic Data Interchange

    EF Empresa Focal

    ERP Enterprise Resources Planning

    ETO Engineer to Order

    GRI Global Reporting Initiative

    ICT Information and Communication Technology

    ISO International Organization for Standardization

    JIT Just-in-Time

    MFV Mapeamento do Fluxo de Valor

    MRP Material Requirements Planning

    MRPII Manufacturing Resource Planning

    MTO Make-to-Order

    MTS Make-to-Stock

    NFe Nota Fiscal eletrnica

    OHSAS Occupational Health and Safety Management Systems

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    ONG Organizao No Governamental

    ONU Organizao das Naes Unidas

    http://www.iso.org/http://www.iso.org/http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_do_Trabalhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas

  • xv

    OPT Optimized Production Technology

    QR Quick Response

    OTIF On time in full

    PCP Planejamento e Controle da Produo

    PCS Planejamento e Controle de Suprimentos

    PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

    PVP Planejamento de Vendas Produtivo

    RRC Recurso com Restrio de Capacidade

    SC Supply Chain

    SCC Supply Chain Council

    SCM Supply Chain Management

    SCOR Supply-Chain Operations Reference

    SPED Sistema Pblico de Escriturao Digital

    SRM Supplier Relationship Management

    STP Sistema Toyota de Produo

    SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

    TIC Tecnologia da Informao e Comunicao

    TOC Theory of Constraints

    TPC Tambor-Pulmo e Corda

    TPCS Tambor-Pulmo e Corda Simplificado

    VMI Vendor-Managed Inventory

    WIP Work in Process

  • xvi

    SUMRIO

    1- INTRODUO 20

    1.1- Apresentao do Problema em Estudo 20

    1.2- Relevncia do Assunto 23

    1.3- Objetivos do Trabalho 25

    1.4- Delimitao do Trabalho 26

    1.5- Proposta Metodolgica 27

    1.5.1- Natureza da Pesquisa 28

    1.5.2- Abordagem da Pesquisa 28

    1.5.3- Objetivos da Pesquisa 28

    1.5.4- Questes da Pesquisa 29

    1.5.5- Procedimentos Tcnicos da Pesquisa 29

    1.5.5.1- Pela Pesquisa Bibliogrfica 30

    1.5.5.2- Pela Pesquisa Ao 30

    1.5.5.3- Pela Pesquisa Participante 31

    1.6- Contedo do Trabalho 32

    2- FUNDAMENTAO TERICA 33

    2.1- Gesto da Cadeia de Suprimentos (SCM) 33

    2.1.1- Panorama Histrico 33

    2.1.2- Definies da Gesto da Cadeia de Suprimentos (SCM) 34

    2.1.3- Pressupostos da Gesto da Cadeia de Suprimentos 36

    2.1.4- Objetivos da Gesto da Cadeia de Suprimentos 37

    2.1.5- O Projeto da Cadeia de Suprimentos 38

    2.1.6- Gesto dos Processos na Cadeia de Suprimentos 40

    2.1.6.1- Gesto de Relacionamento com os Clientes 42

    2.1.6.1.1- Gesto do Poder na Cadeia de Suprimentos 43

    2.1.6.1.2- Gesto do Risco de Desabastecimento na Cadeia de Suprimentos 43

    2.1.6.2- Gesto da Demanda na Cadeia de Suprimentos 46

    2.1.6.2.1- O Efeito Chicote 49

    2.1.6.2.2- Gesto do Estoque na Cadeia de Suprimentos 51

    2.1.7- Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos 54

    2.1.7.1- Triple Bottom Line - 3BL 56

    2.1.7.2- Poltica Nacional de Resduos Slidos 57

    2.1.7.3- Indicadores e Normas Associadas Sustentabilidade 59

    2.1.8- Consideraes Finais 61

    2.2- O Modelo de Referncia SCOR 62

    2.2.1- Panorama Histrico 62

    2.2.2- Definies e Princpios do Modelo SCOR 62

    2.2.3- Os Processos de Negcios do Modelo SCOR 63

    2.2.4- Consideraes Finais 68

    2.3- Manufatura Enxuta / Pensamento Enxuto 68

    2.3.1- Panorama Histrico 69

    2.3.2- Definies e Princpios do Pensamento Enxuto 70

    2.3.3- Objetivos e Prticas do Pensamento Enxuto 72

    2.3.4- O Fluxo de Valor 74

    2.3.4.1- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Atual) 75

    2.3.4.2- Mapeamento do Fluxo de Valor (Estado Futuro) 76

    2.3.5- O Mapeamento do Fluxo de Valor aplicado Cadeia de Suprimentos 77

  • xvii

    2.3.6- Consideraes Finais 79

    2.4- Teoria das Restries (TOC Theory of Constraints) 79

    2.4.1- Panorama Histrico 80

    2.4.2- Conceitos da Teoria das Restries (TOC) 81

    2.4.3- Aplicao dos Cinco Passos da Teoria das Restries (TOC) 83

    2.4.3.1- Existncia de gargalos e restries fsicas na empresa 84

    2.4.3.2- Quando a restrio est na demanda do mercado, no havendo gargalos 87

    2.4.4- Programao de Produo: Tambor, Pulmo e Corda (TPC) 89

    2.4.5- Indicadores Globais de Desempenho 91

    2.4.6- Extenso do Tambor, Pulmo e Corda para a Cadeia de Suprimentos 92

    2.4.7-Consideraes Finais 93

    2.5- Tecnologia da Informao e Comunicao (TIC) 95

    2.5.1- VMI e o uso de Ferramentas da TIC na Gesto da Demanda e Estoques 96

    2.5.1.1- Eletrnica de Dados (EDI - Electronic Data Interchange) 96

    2.5.1.2- Resposta Rpida (QR - Quick Response) 97

    2.5.1.3- Resposta Eficiente ao Consumidor (ECR - Efficient Consumer Response) 97

    2.5.1.4- Reabastecimento Contnuo (CR - Continuous Replenishment) 97

    2.5.1.5- Planejamento, Programao e Reabastecimento Contnuos (CPFR -

    Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment) 98

    2.5.2- Internet 98

    2.5.2.1- B2B (Business to Business) 99

    2.5.2.2- Segurana 99

    2.5.3- Evoluo da TIC e os Sistemas de Gesto 100

    2.5.3.1- Planejamento de Recursos Empresariais ERP (Enterprise Resources

    Planning) 101

    2.5.3.2- Planejamento e Programao Avanados (APS - Advanced Planning and

    Scheduling) 104

    2.5.4- Sistema Pblico de Escriturao Digital (SPED) 106

    2.5.5- Consideraes Finais 109

    3- O MERCADO DE ELETRODOMSTICOS 110

    3.1- O Mercado de Pequenos Eletrodomsticos Brasileiro 110

    3.2- Estudo da Cadeia de Suprimentos Escolhida 110

    3.2.1- Estruturao do Estudo de Caso 111

    3.2.1.1- As Entrevistas e os Questionrios 111

    3.2.1.2- Os Entrevistados 112

    3.2.2- Caractersticas Especficas dessa Cadeia 112

    3.2.3- Tipo e Complexidade dos Produtos 113

    3.2.4- Perfil do Mercado e Consumidor Final 115

    3.2.5- Cultura e Relaes Contratuais Predominantes 115

    3.2.6- Estrutura da Cadeia de Suprimentos 116

    3.2.7- Anlise SWOT desta Cadeia 117

    3.3- Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos da Empresa SmallGoods 118

    3.3.1- Linha de Produtos 118

    3.3.2- Gesto das Informaes do ERP da SmallGoods 118

    3.3.3- Logstica da SmallGoods na Cadeia de Suprimentos 120

    3.3.3.1- A Cadeia Jusante 121

    3.3.3.2- A Cadeia Montante 122

    3.3.3.3- A Previso da Demanda de Suprimentos 123

    3.3.3.4- Relacionamento com os Fornecedores 124

  • xviii

    3.3.3.5- Tecnologia da Informao e Comunicao 124

    3.3.3.6- Poltica de Estoques da Empresa 125

    3.3.3.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 125

    3.3.3.8- Fabricao 125

    3.3.3.9- Abastecimento do Cliente 126

    3.4 O Fornecedor de Primeira Camada, ElectroGoods 126

    3.4.1- Linha de Produtos 126

    3.4.2- Logstica da ElectroGoods na Cadeia de Suprimentos 127

    3.4.2.1- A Cadeia Jusante 129

    3.4.2.2- A Cadeia Montante 129

    3.4.2.3- A Previso da Demanda de Suprimentos 129

    3.4.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 130

    3.4.2.5- Tecnologia da Informao e Comunicao 130

    3.4.2.6- Poltica de Estoques da Empresa 130

    3.4.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 130

    3.4.2.8- Fabricao 130

    3.4.2.9- Abastecimento do Cliente 131

    3.5 O Fornecedor de Segunda Camada MetalGoods 131

    3.5.1- Linha de Produtos 131

    3.5.2- Logstica da MetalGoods na Cadeia de Suprimentos 132

    3.5.2.1- A Cadeia Jusante 132

    3.5.2.2- A Cadeia Montante 133

    3.5.2.3- A Previso da Demanda de Suprimentos 133

    3.5.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 133

    3.5.2.5- Tecnologia da Informao e Comunicao 133

    3.5.2.6- Poltica de Estoques da Empresa 134

    3.5.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 134

    3.5.2.8- Fabricao 134

    3.5.2.9- Abastecimento do Cliente 134

    3.6- O Fornecedor de Terceiro Nvel MetalBase 135

    3.6.1- Linha de Produtos 135

    3.6.2- Logstica da MetalBase na Cadeia de Suprimentos 135

    3.6.2.1- A Cadeia Jusante 136

    3.6.2.2- A Cadeia Montante 137

    3.6.2.3- A Previso da Demanda de Suprimentos 137

    3.6.2.4- Relacionamento com os Fornecedores 137

    3.6.2.5- Tecnologia da Informao e Comunicao 137

    3.6.2.6- Poltica de Estoques da Empresa 138

    3.6.2.7- Poder na Cadeia de Suprimentos 138

    3.6.2.8- Fabricao 138

    3.6.2.9- Abastecimento do Cliente 138

    3.7- Limitaes do Atual Modelo de Gesto da Cadeia de Suprimentos da SmallGoods 138

    3.8- Consideraes Finais 140

    4-O MODELO PROPOSTO E SUA OPERACIONALIDADE 141

    4.1- Critrios para a Estruturao do Modelo Proposto 141

    4.2- Estruturao do Modelo Proposto 146

    4.3- Operacionalidade do Modelo 148

    4.3.1- Interao entre a TOC, Lean e Cadeia de Suprimentos 149

    4.3.2- Interao entre o SCOR, Lean e Cadeia de Suprimentos 150

  • xix

    4.3.3- Interao entre a TOC, SCOR e Cadeia de Suprimentos 150

    4.3.4- Suporte da TIC no processo de integrao 151

    4.4- O Mtodo de Implementao 151

    4.4.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 152

    4.4.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 160

    4.4.3- Terceira Fase: Implantao do mapa do estado futuro do fluxo de valor 164

    4.5- Consideraes Finais 165

    5- APLICAO DO MODELO PROPOSTO 166

    5.1- Primeira Fase: O Estado Atual do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 166

    5.2- Segunda Fase: O Estado Futuro do Fluxo de Valor na Cadeia de Suprimentos 176

    5.3- Terceira Fase: O Processo de Melhoramento Contnuo 182

    5.4- Consideraes Finais 183

    6- CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS 184

    6.1- Concluses 184

    6.2- Respostas para as Questes da Pesquisa 185

    6.3- Recomendaes para Futuras Pesquisas 187

    REFERNCIAS 189

    ANEXOS 198

  • 20

    1- INTRODUO

    As organizaes so freqentemente impulsionadas pela necessidade de mudana de

    paradigma, porm, o novo desafio tem sido conseguir acompanhar estas transies que

    ocorrem a perodos cada vez mais curtos. A partir da Europa artesanal na Idade Mdia, os

    perodos de tempo entre essas mudanas esto diminuindo de forma cada vez mais acentuada.

    Na atualidade a economia influenciada pela comunicao, em que as empresas industriais, e

    no apenas estas, tm enfrentado um ambiente complexo e de competio acirrada. Operaes

    globalizadas onde as barreiras de entrada so reduzidas, tornando os clientes mais exigentes.

    Aliado a esses fatores, o processo de desverticalizao vem sendo ampliado, fazendo com que

    as empresas dependam cada vez mais dos outros membros de sua cadeia de suprimento

    (PIRES et al., 2004).

    1.1- Apresentao do Problema em Estudo

    O desenvolvimento da chamada nova economia" est mudando substancialmente os

    modos pelos quais a economia em geral e o mundo dos negcios operam (CORRA, 2008).

    Esta nova economia est relacionada diretamente ao problema dos baixos preos asiticos, o

    que tm imposto s empresas a necessidade de novas habilidades para gerir estes novos

    paradigmas (SRIVIDHYA e JAYARAMAN, 2007). Para Padilha e Marins (2005), a

    competio tem escalas globais, assim, acontecimentos em pases distantes podem trazer

    conseqncias instantneas para a indstria local. Sten (2006) afirma que, para manter a

    competitividade, empresas como a Volvo, Ericsson e Electrolux dentre outras da indstria

    Sueca, decidiram montar suas fbricas produtivas em regies de baixos valores de salrio

    como o leste Europeu e sia. Diante desse cenrio de crescentes desafios impostos pelo

    mercado, uma empresa j no concorre com outra individualmente, mas sim com as cadeias

    de suprimento de seus produtos ou de seus concorrentes (LUCENA e SILVA, 2008;

  • 21

    SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005; ALVES FILHO et al., 2004; PARRA e

    PIRES, 2003; GAZOLLA, 2002).

    A globalizao criou mais riscos na cadeia de suprimentos do que propriamente

    benefcios e estes riscos impem cada vez mais desafios estabilidade das organizaes

    (KUMAR e TEWARY, 2007). Gusmo (2004, p. 3) afirma que o esgotamento da criao de

    vantagens competitivas atravs da competio interfirmas criou a necessidade de novas

    formas de organizao e relacionamento, dentre as quais a mais evidente a Cadeia de

    Suprimentos.

    Como conseguir um resultado sustentvel para uma empresa sem uma boa integrao

    de sua cadeia de suprimentos? A busca de um trabalho mais coordenado e integrado dentro da

    cadeia de suprimento de qualquer setor reconhecida hoje como mandatria para a busca da

    competitividade necessria, alm do adequado atendimento ao consumidor final. Cresce a

    cada dia a conscincia de que a falta de coordenao e integrao na cadeia leva

    freqentemente a custos altos, ou baixo nvel de servio prestado ao cliente (GAZOLLA,

    2002).

    Simatupang, Wright e Sridharan (2004) afirmam que as empresas de uma cadeia de

    suprimentos devem dividir as responsabilidades e benefcios com seus parceiros jusante e

    montante, de forma a criar vantagens competitivas. Estas vantagens so conceituadas por

    Hansen e Mowen (2001) como sendo a criao de um valor mais adequado para o cliente, por

    um custo igual ou mais baixo do que aquele oferecido pelos competidores. Nesse cenrio, esta

    vantagem s ser obtida, de forma real e sustentvel por empresas que estejam realmente

    integradas aos seus clientes e fornecedores, gerando um conceito de gesto enxuta em toda

    cadeia de suprimentos. Segundo Flores e Primo (2008), com a evoluo dos sistemas

    produtivo e comercial, a preocupao com customizao de servios, reduo de estoques e

    satisfao dos clientes tem levado o processo logstico a se tornar mais complexo e com altos

  • 22

    nveis de exigncia, especialmente quando relacionado a alcanar uma vantagem competitiva.

    Pires et al. (2004) afirmam que a globalizao faz crescer consideravelmente o nmero de

    competidores capazes de introduzir rapidamente novos produtos e servios a preos cada vez

    menores e com melhor nvel de servio.

    Portanto, diante dos crescentes desafios impostos pelo mercado, torna-se premente a

    necessidade de aes que concorram para o incremento do grau de competitividade das

    organizaes (LUCENA e SILVA, 2008). O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos vem

    se apresentando como uma tendncia nesta busca, pois uma filosofia de gerenciamento que

    prope processos enxutos, eliminao de desperdcios e minimizao de estoque (STEN,

    2006). O SCM est em sintonia com o pensamento enxuto, que tem como meta a eliminao

    de qualquer perda na organizao (SAURIN e FERREIRA, 2008). Womack, Jones e Roos

    (2004), tambm citados por Saurin e Ferreira (2008), afirmam que a produo enxuta

    possibilita produtos e servios de alta qualidade, ao menor custo possvel e atendendo da

    melhor forma s necessidades dos clientes.

    Segundo Scheuffele e Kulshreshtha (2007), na atualidade a principal preocupao tem

    sido a reduo dos estoques, pois, eles conduzem a custos atravs dos fornecedores e redes de

    distribuio, porm a globalizao tem conduzido s empresas a necessidade de maiores

    estoques devido aos problemas logsticos relativo s maiores distncias entre fornecimento e

    consumo. Dentre os desafios para implantao dos princpios e prticas enxutas, o maior e

    mais importante deles se refere ao dilema de no permitir o excesso de estoque mantendo um

    excelente nvel de servio ao cliente. A eliminao desta perda (o excesso de estoque) no

    depende somente de uma boa gesto interna, e sim de um sincronismo entre a empresa, seus

    clientes e fornecedores (PIRES et al., 2004; SOUZA et al., 2004). Apesar das melhorias que

    vm ocorrendo no desempenho das cadeias de suprimentos, diversas empresas ainda no

    alcanaram um sincronismo adequado nas operaes, resultando em um nvel de eficincia

  • 23

    no satisfatrio. Na quebra de um paradigma podem-se criar novas oportunidades. Algumas

    empresas esto tendo dificuldade em se desenvolver partir do paradigma de que o

    gerenciamento interno da produo na busca da excelncia o nico caminho para atingir o

    sucesso. Na realidade, o projeto e anlise da cadeia de suprimentos como um todo

    fundamental para desenvolver o seu gerenciamento de forma eficiente (WANG, HUANG e

    DISMUKES, 2004), no bastando uma empresa adotar os melhores processos internos se os

    demais membros da cadeia no fizerem o mesmo.

    Desta forma, importante, para que as organizaes manufatureiras prosperem neste

    cenrio, a utilizao de um modelo que possibilite integrar as empresas participantes da

    cadeia de suprimentos, repensando os condicionantes que as auxiliem a enfrentar os desafios

    do dia-a-dia de forma eficiente e duradoura. Esta necessidade tambm se aplica, no se

    limitando a este segmento, realidade competitiva das empresas pertencentes ao mercado

    brasileiro de eletrodomsticos, que se vem na contingncia de aprimorar o seu modelo de

    gesto e integrao para suportar seus objetivos estratgicos de crescimento diante da

    concorrncia globalizada.

    1.2- Relevncia do Assunto

    A nica motivao que faz com que o investidor mantenha seu capital em uma

    determinada empresa a esperana de que o retorno seja pelo menos igual ao custo de

    oportunidade do capital (ANDIA, 2008). As empresas brasileiras que queiram prosperar nesse

    novo cenrio mundial, extremamente competitivo e fortemente influenciado pelos baixos

    preos asiticos, devem buscar a integrao de suas cadeias de suprimentos a fim de conservar

    os empregos locais e os investimentos por parte dos acionistas. Nesse cenrio, passa a ser

    importante nos negcios visar lucros justos, pois somente com lucro razovel nem grande,

    nem pequeno uma empresa pode expandir e tornar-se mais til a um maior nmero de

  • 24

    pessoas (MATSUSHITA, 1988). Esta relevncia tambm foi constatada por Hansen e Mowen

    (2001, p. 31) na afirmao de que:

    A grande melhoria no transporte e na comunicao levaram a um mercado global

    para muitas empresas de manufatura e de servios. Vrias dcadas atrs, as empresas

    no sabiam sobre, e nem se importavam com, o que empresas similares do Japo,

    Frana, Alemanha e Cingapura estavam fazendo. Estas empresas estrangeiras no

    eram concorrentes, j que os mercados eram separados por uma distncia geogrfica.

    Hoje, tanto as empresas grandes quanto as pequenas so afetadas pelas

    oportunidades oferecidas pela concorrncia global.

    Desta forma, pesquisas vm emergindo para propor novos modelos de gesto que

    possibilitem a integrao e fortalecimento das cadeias de suprimentos de forma a atender a

    necessidade e aclamao das indstrias e da sociedade. Esta integrao busca melhorar a

    resposta ao mercado consumidor, passa pela definio dos processos de negcio, com o foco

    particular na gesto da demanda, processo de negcio chave, com impacto direto na reduo

    de inventrio e lead time.

    A soluo deste problema se torna mais relevante na busca de um ciclo virtuoso, em

    que uma maior integrao da cadeia de suprimentos ir propiciar o surgimento de produtos

    melhores com preos mais atraentes. O aumento da satisfao do cliente aumentar o

    crescimento estratgico pela gerao adicional da demanda e crescimento da participao de

    mercado (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005). Para Saab Junior e Corra (2008, p.

    50), o gerenciamento da cadeia de suprimentos visa primariamente oferecer valor adequado

    ao consumidor e o mximo retorno sobre ativos para os seus participantes por meio da

    administrao efetiva do fluxo de materiais, informaes e recursos financeiros.

    A relevncia do assunto maximizada nesse cenrio de competio global, onde, os

    atuais modelos de SCM no vm cumprindo seu papel e freqentemente h uma grande

    disparidade entre os potenciais benefcios e a prtica (SIMATUPANG, WRIGHT e

    SRIDHARAN, 2004). Segundo Goldratt, Schragenhein e Ptak (2000) estes problemas

    ocorrem porque h muitas dificuldades relacionadas SC que precisam ser solucionadas por

    uma gesto mais eficiente. Algumas destas dificuldades so: lead times muito longos, pedidos

  • 25

    atendidos com atraso e com utilizao de horas-extras, alto nvel de estoques desnecessrios

    e/ou falta de material necessrio, mudana costumeira na priorizao dos pedidos, com

    conseqentes conflitos de programao de recursos e muito mais.

    A prosperidade da manufatura depende basicamente de adaptao constante,

    implicando neste momento na forma com que as empresas iro evoluir em suas estruturas de

    gerenciamento da cadeia de suprimentos de forma a aumentar a visibilidade da demanda e

    manter baixos nveis de inventrio (AZEVEDO, 2002). Neste cenrio, a capacidade de uma

    empresa mobilizar e explorar tudo o que representa o seu conhecimento e tecnologia (seus

    ativos intangveis) passou a ser mais decisiva do que investigar e controlar os ativos fsicos

    (CAMPOS, 1998). Neste ambiente, a Tecnologia da Informao assume papel relevante como

    fonte de vantagem competitiva, baixando os custos das atividades que agregam valor ao

    cliente e gerando diferenciao para a empresa (FERREIRA e LAURINDO, 2008).

    Diferentemente da tripulao de um barco, os membros de uma cadeia de suprimentos no

    esto sentados juntos. Eles esto em mltiplas empresas, algumas vezes a milhares de

    quilmetros e em diferentes fusos horrios (SRINIVASAN, SRINIVASAN e CHOI, 2005).

    Nesse contexto, dentre vrios mercados, tambm esto inseridas as empresas

    manufatureiras pertencentes ao segmento de eletrodomsticos, em que melhorias internas no

    proporcionaro as vantagens competitivas necessrias para o atual ambiente globalizado de

    competio. A empresa SmallGoods, multinacional de grande porte desse segmento, que foi

    uma das empresas objeto da Pesquisa Ao (MIGUEL et al., 2010) a ser descrita, se viu

    tambm na necessidade de buscar, atravs de uma melhor gerenciamento e integrao de sua

    cadeia de suprimentos, vantagens competitivas perante seus concorrentes.

    1.3- Objetivo do Trabalho

    O objetivo geral deste trabalho propor um modelo de SCM e seu mtodo de

    implementao visando aumentar a integrao entre as organizaes de uma cadeia de

  • 26

    suprimento. O objetivo tambm inclui a preocupao com a sustentabilidade onde, em

    sintonia com o movimento Triple Bottom Line (3BL), busca o equilbrio entre o resultado das

    empresas, o bem estar das pessoas e a preservao do meio ambiente.

    Para a consecuo deste objetivo foram estabelecidos trs objetivos especficos:

    Realizar uma investigao sobre os atuais modelos de Gerenciamento da Cadeia de

    Suprimentos (SCM), incluindo o modelo SCOR com suas vantagens e limitaes

    operacionais. Sero investigados os principais conceitos, vantagens e dificuldades que

    envolvem os sistemas de Manufatura Enxuta e da TOC. Esta anlise ser complementada

    com o estudo do atual estgio da utilizao de ferramentas de TIC no processo de

    integrao;

    Propor um modelo integrado de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos;

    Diagnosticar e aplicar o modelo proposto em um conjunto de empresas do segmento de

    pequenos eletrodomsticos brasileiro, abrindo um amplo campo de pesquisa para novos

    trabalhos.

    1.4- Delimitao do Trabalho

    Este trabalho procura apresentar uma viso bem delimitada quanto a sua abordagem.

    O primeiro limite colocado se deve a opo por no utilizar de outras ferramentas de

    gesto e de TIC para, em conjunto, suportar possveis mudanas culturais e os processos

    chaves de negcio.

    Um segundo limite se refere a no utilizao de sistemas de TI voltados simulao

    durante a implementao do modelo proposto.

    O terceiro limite colocado refere-se ao fato do modelo, ainda que concebido para o

    aprimoramento da cadeia como um todo, ter sido aplicado somente montante da empresa

    focal.

  • 27

    O quarto limite se deve ao uso limitado do modelo SCOR devido ao custo elevado do

    mesmo para sua utilizao plena.

    O quinto e ltimo limite se deve ao fato de organizaes de uma cadeia participar de

    outras cadeias de suprimento, at mesmo de cadeias concorrentes, gerando sistemas paralelos

    de gesto interna, incluindo o desafio de gerir conflitos culturais.

    Este trabalho se limita a apresentar um modelo de gerenciamento integrado para

    cadeia de suprimentos, dentre muitos outros possveis, com foco no aprimoramento da gesto

    da demanda, processo de gesto chave para melhorar a resposta ao mercado consumidor.

    1.5- Proposta Metodolgica

    Para atender os objetivos deste trabalho, a metodologia de pesquisa utilizada foi

    estruturada sobre quatro pilares: quanto a sua natureza, abordagem, objetivos e procedimentos

    tcnicos utilizados, como apresentado na Figura 1. A importncia da escolha adequada da

    metodologia de pesquisa a ser utilizada justificada pela necessidade de embasamento

    cientfico adequado, buscando a melhor abordagem de forma a enderear as questes da

    pesquisa, pois a cincia constituda da aplicao de tcnicas, seguindo um mtodo e

    apoiando-se em fundamentos epistemolgicos (MIGUEL, 2007).

    Figura 1 Proposta Metodolgica

    PESQUISA

    Abordagem

    Descritiva

    Objetivos Procedimentos

    Tcnicos

    Aplicada

    Natureza

    Exploratria

    Pesquisa

    Ao

    Pesquisa

    Bibliogrfica

    Qualitativa

    Pesquisa

    Participante

  • 28

    1.5.1- Natureza da Pesquisa

    Optou-se por um trabalho de natureza aplicada, buscando solucionar um problema real

    que surgiu recentemente nas organizaes industriais. Segundo Filippini (1997) tambm

    citado por Miguel (2007), a gesto de operaes uma disciplina de natureza aplicada,

    desenvolvida a partir da necessidade de solucionar problemas concretos que surgem nas

    organizaes industriais ou de servios.

    1.5.2- Abordagem da Pesquisa

    A diferena entre as abordagens quantitativa e qualitativa, segundo Miguel et al.

    (2010), que a primeira tem como foco a estrutura e os elementos da estrutura do objeto de

    estudo, enquanto a segunda tem como foco os processos do objeto de estudo.

    Devido ao cunho das necessidades do trabalho, a abordagem dever ser qualitativa e

    com a interao entre o pesquisador e seu objeto de pesquisa. Segundo Severino (2008), com

    a utilizao desta abordagem, o trabalho far referncia mais a seus fundamentos

    epistemolgicos do que propriamente a especificidades metodolgicas, ou seja, relacionados

    ao conhecimento e gesto. As interpretaes individuais so peas de um mosaico

    organizacional que o pesquisador qualitativo precisa capturar para entender a complexidade

    pesquisada (MIGUEL et al., 2010).

    1.5.3- Objetivos da Pesquisa

    Optou-se pelo objetivo exploratrio e descritivo para o desenvolvimento deste

    trabalho, de forma a balancear perspectivas baseadas em uma viso acadmica aliada a uma

    viso industrial alm da associao de uma perspectiva baseada no conhecimento gerado pelo

    autor e a partir da associao e anlise das duas perspectivas anteriores (PIRES et al., 2004).

    A pesquisa exploratria foi escolhida para a busca dos atuais modelos apresentados

    pela literatura e utilizados na empresas. Segundo Forza (2002), a pesquisa exploratria pode

  • 29

    ajudar a determinar os conceitos a serem medidos em relao ao fenmeno de interesse e

    tambm, como melhor medi-los, alm de possibilitar a descoberta de novas perspectivas do

    estudo.

    Segundo Cervo e Bervian (1983, p. 55), a pesquisa descritiva observa, registra,

    analisa e correlaciona fatos ou fenmenos (variveis) sem manipul-los. Optou-se pela

    utilizao dessa metodologia para aumentar a possibilidade de xito, pois possibilitar ao

    pesquisador entender a atual composio do mercado de pequenos eletrodomsticos, suas

    dificuldades e oportunidades a serem exploradas.

    1.5.4- Questes da Pesquisa

    Para direcionar a conduo da pesquisa, na busca dos objetivos estabelecidos, algumas

    questes mais especficas foram desdobradas:

    A) Contribuio terica

    1) Qual o atual estgio dos modelos de gerenciamento da cadeia de suprimentos?

    2) possvel conseguir um resultado sustentvel para uma empresa sem uma boa

    integrao de sua cadeia de suprimentos?

    B) Contribuio emprica

    3) A utilizao dos conceitos da Manufatura Enxuta, da TOC e do modelo SCOR,

    suportados por um ambiente de TIC, contribuir com o aumento da competitividade das

    empresas que optarem por sua utilizao, aumentando sua capacidade de resposta ao

    mercado consumidor?

    4) possvel contribuir para a obteno de um Planeta mais sustentvel atravs de um

    modelo de gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos?

    1.5.5- Procedimentos Tcnicos da Pesquisa

    Para os procedimentos tcnicos, optou-se inicialmente por uma pesquisa bibliogrfica,

    visita s empresas do setor estudado, seguida de pesquisa ao e pesquisa participante.

  • 30

    1.5.5.1- Pela Pesquisa Bibliogrfica

    Strauss e Corbin (2008), citados por Freires e Guedes (2008), afirmam que a cincia

    concebida como uma rede de jogos de idiomas, baseado em conceitos e regras subjetivamente

    determinadas, criadas e seguidas por cientistas. Atravs da pesquisa e leitura, ser possvel

    conhecer o valor estratgico da utilizao dos sistemas de gerenciamento da cadeia de

    suprimento e seu impacto no resultado das empresas. Esta pesquisa, sobre o estado da arte dos

    modelos disponveis na literatura, contribuir para o entendimento dos mecanismos utilizados

    pelos gestores na tomada de deciso, alm de propiciar a avaliao de suas vantagens e

    limitaes. Aps o estudo e verificao dos modelos existentes, ser proposto um novo

    modelo de gerenciamento da cadeia de suprimentos.

    Ao todo foram consultadas 185 referncias e foram citadas 134, sendo elas: 50

    peridicos internacionais, 17 teses, 19 peridicos nacionais, 10 congressos internacionais e 38

    referncias entre livros e acessos a Internet. Foram 37 das referncias publicadas aps 2008,

    48 entre 2004 e 2007, 22 entre 2000 e 2003 e 27 anteriores a 1999. A Figura 2 ilustra esta

    disperso.

    Figura 2 Distribuio das Referncias por Tipo e Ano da Publicao

    1.5.5.2- Pela Pesquisa Ao

    Segundo Severino (2008), a pesquisa ao aquela que, alm de compreender, visa

    intervir na situao, com vistas a modific-la. Para Miguel et al. (2010), a pesquisa ao pode

    Total

    134

    A

    C

    4 3

    2 1 E

    A - Peridicos Internacionais

    B Teses

    C - Peridicos Nacionais

    D - Congressos Internacionais

    E - Livros e Internet

    1 - de 2008 at 2010

    2 - de 2004 at 2007

    3 - de 2000 at 2003

    4 - at 1999

    B D

  • 31

    ser considerada uma variao do estudo de caso, porm no estudo de caso o pesquisador um

    observador que no interfere no objeto de estudo. Nesta pesquisa ao mesmo tempo em que foi

    feito o diagnstico e a anlise das empresas estudadas, foram propostas mudanas que buscam

    o aprimoramento das prticas analisadas e desta forma caracterizando o procedimento tcnico

    de pesquisa ao. Segundo Sampath (2007) identificar e eliminar enganos em uma atividade

    existente da cadeia de suprimentos pode resultar algumas vezes em grande melhoramento em

    um curto espao de tempo.

    H muitos desafios na conduo de uma pesquisa, pois ela consumir tempo e

    precisar de entrevistadores qualificados alm de ser necessrio cuidado ao se tirar

    concluses. Porm apesar destes desafios, a pesquisa ao pode ter um impacto muito positivo

    na comprovao do resultado. Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) comparam as habilidades

    necessrias dos entrevistadores com a de um reprter investigativo e sugerem algumas

    habilidades necessrias para o entrevistador durante uma pesquisa:

    Estar preparado para fazer boas perguntas e interpretar as respostas.

    Ser um bom ouvinte e no se antecipar a interpretao da resposta.

    Ser adaptvel e flexvel, para descobrir nas novas situaes encontradas uma

    oportunidade e no uma ameaa.

    Ter o domnio do assunto estudado.

    Ser imparcial atravs de conhecimento pr-concebidos, e assim receptivo e sensvel a

    evidncia contraditria.

    1.5.5.3- Pela Pesquisa Participante

    O Pesquisador ao observar os processos, durante a pesquisa, tambm compartilhou a

    vivncia dos pesquisados, participando, de forma permanente ao longo da pesquisa de todas

    as atividades, o que segundo Severino (2008) caracteriza uma pesquisa participante.

  • 32

    1.6- Contedo do Trabalho

    O presente trabalho est estruturado em seis Captulos, cujo contedo sucintamente

    apresentado a seguir:

    No Captulo 2 feita a fundamentao terica, com uma anlise sobre o estado da arte

    dos modelos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM Supply Chain

    Management), incluindo os atuais mecanismos de proteo ao meio ambiente. Tambm so

    apresentados os conceitos da Manufatura Enxuta bem como sua extenso para a cadeia de

    suprimentos, o modelo SCOR e os conceitos da TOC. Finalizando a fundamentao terica,

    so apresentados os conceitos da Tecnologia da Informao e Comunicao.

    O Captulo 3 apresenta a estrutura do mercado de pequenos eletrodomsticos no

    Brasil. Deste mercado foi escolhida, como empresa focal, uma empresa multinacional de

    grande porte montadora de pequenos eletrodomsticos e fornecedores a trs camadas

    montante. Nestas empresas, sero detalhadas suas cadeias de suprimentos e atual estrutura de

    gesto, apresentando seus pontos fortes, limitaes, oportunidades e riscos. Na empresa focal

    sero analisados, a luz da teoria, os possveis resultados com a implantao do modelo que

    ser proposto neste trabalho.

    No Captulo 4 proposto um modelo de Gerenciamento Integrado da Cadeia de

    Suprimentos na busca, de forma sustentvel, do aprimoramento e aumento da capacidade de

    resposta das empresas manufatureiras ao mercado consumidor. Um mtodo de implementao

    tambm detalhado neste Captulo.

    No Captulo 5 apresentada a aplicao do modelo proposto nas empresas estudadas,

    atravs de uma pesquisa ao.

    Finalmente, o Captulo 6 apresenta as concluses deste trabalho a partir da anlise dos

    resultados obtidos na aplicao do modelo proposto, destacando a contribuio deste trabalho

    e sugerindo pesquisas para a continuidade do aprimoramento de sistemas de SCM.

  • 33

    2- FUNDAMENTAO TERICA

    Este Captulo apresenta os atuais modelos de Gerenciamento da Cadeia de

    Suprimentos (SCM Supply Chain Management), a estrutura do modelo de referncia

    SCOR, o atual estgio de aplicao dos conceitos da Manufatura Enxuta na cadeia de

    suprimentos, a TOC e sua ferramenta de gerenciamento da produo: Tambor-Pulmo e

    Corda (TPC), alm das ferramentas disponveis da Tecnologia da Informao e

    Comunicao para gerenciamento da SC.

    2.1- Gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM)

    Em um cenrio de crescentes desafios impostos pelo mercado, uma empresa j no

    concorre com outra individualmente, mas sim com as Cadeias de Suprimento de seus

    produtos ou de seus concorrentes. Este ambiente de intensa competio exige das empresas

    uma clara definio do foco e das prioridades, como tambm o desenvolvimento e

    manuteno de competncias que a cadeia do produto exige (PIRES, 1998). Gusmo (2004, p.

    3) afirma ainda que o esgotamento da competio interfirmas criou a necessidade de novas

    formas de organizao e relacionamento, dentre as quais a mais evidente a Cadeia de

    Suprimentos.

    Na atualidade o SCM j considerado como um importante modelo para alcanar

    vantagens competitivas entre as empresas manufatureiras (PARRA e PIRES, 2003; SOARES,

    NAVARRO e LIMA, 2008).

    2.1.1- Panorama Histrico

    Aps os movimentos intensos de reorganizao interna que caracterizaram os anos

    1980 e 1990, os retornos decrescentes levaram as corporaes a voltar-se para o ambiente

    externo (SAAB JUNIOR e CORRA, 2008). Segundo Cooper, Lambert e Pagh (1997) o

    termo Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos relativamente novo, tendo sido proposto

  • 34

    pela primeira vez na literatura em 1982. Alves Filho et al. (2004) complementam que, apesar

    disto, apenas nos anos 90 apareceram os primeiros relatos de empresas que, superando os

    tradicionais paradigmas de orientao dos problemas internos, focalizaram a gesto de suas

    relaes com as demais empresas que compem sua cadeia de suprimentos. Segundo Soares,

    Navarro e Lima (2008), a partir dos anos 90, o ambiente industrial tm estado em profunda

    reflexo sobre os paradigmas referentes ao desenvolvimento dos sistemas produtivos. A

    lgica entre produo industrial, compras, relao entre empresas e pessoas tem sido revista,

    expondo mudanas significativas nas Cadeias de Suprimentos (SC Supply Chain) das

    indstrias. Neste contexto de gesto colaborativa e tecnolgica, surgem novos conceitos

    empresariais, destacando-se, entre eles, o conceito de Gerenciamento da Cadeia de

    Suprimentos.

    2.1.2- Definies do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM)

    Diversas pesquisas diferenciam o termo rede e cadeia para o processo de suprimentos.

    Como exemplo, para Pires (2009) o termo cadeia (chain) uma metfora imperfeita para

    tratar das questes deste contexto e sugerem o uso de redes (network), mas reconhece que o

    termo cadeia de suprimentos se tornou muito popular. Nesta tese, cadeia e rede de

    suprimentos tero o mesmo significado com uma tendncia para o uso da expresso mais

    popular na literatura Cadeia de Suprimentos (SC Supply Chain).

    O CSCMP (Council of the Supply Chain Management Professionals) bem detalhado

    em sua definio, onde o SCM tido como a incorporao do planejamento e gerenciamento

    de todas as atividades envolvidas desde a origem das aquisies, converso e todas as

    atividades da logstica. Ele ainda inclui a coordenao e colaborao entre os membros da

    cadeia, que podem ser fornecedores, empresas intermedirias, provedores de servios

    terceirizados at os clientes. Assim, o SCM integra o gerenciamento de fornecimento e

    demanda nas empresas de uma SC. Na essncia, o SCM integra o gerenciamento do

  • 35

    fornecimento e da demanda dentro e atravs das empresas (SOARES, NAVARRO e LIMA,

    2008).

    Pires et al. (2004), bem como Alves Filho et al. (2004), utilizam a definio de SCM

    adotada pelo Global Supply Chain Forum, ou seja, gerenciamento da cadeia de suprimentos

    a integrao dos principais processos de negcios que produzem produtos, servios e

    informaes atravs de uma cadeia de suprimentos que agrega valor para os clientes e as

    demais partes interessadas e envolvidas (stakeholders).

    Para Cooper e Ellram (1993), bem como para Sten (2006), a essncia do SCM que

    empresas independentes, ou parte de empresas, trabalham juntas para controlar, gerenciar e

    melhorar o fluxo de materiais, bem como dividem informaes importantes. De forma mais

    genrica, Queiroz (2009) utiliza a definio de redes de suprimentos como um tipo de

    relacionamento inter-organizacional, ou melhor, a forma pela qual as empresas esto ligadas

    entre si. Lummus e Vokurka (1999) catalogaram diversas definies para gerenciamento da

    cadeia de suprimentos de forma a montar um guia de estudo.

    Para Soares, Navarro e Lima (2008) a gesto da cadeia de suprimentos considerada

    uma importante maneira para se obter vantagem competitiva, porm, segundo Guarniere et al.

    (2006) sua execuo uma tarefa complexa que envolve alm do gerenciamento das

    atividades de forma integrada, estratgias de relacionamentos entre fornecedores e clientes

    atravs de parcerias baseadas na confiana e colaborao de forma a gerarem vantagens

    competitivas.

    Em suma, neste trabalho a Cadeia de Suprimentos estruturada a partir de um

    segmento, produto ou empresa e se ramifica desde o consumidor final at a matria-prima

    bsica, porm seu gerenciamento ocorre somente a partir de uma empresa denominada

    Empresa Focal. Segundo Gazolla (2002), da mesma forma que organizaes precisam de

    lderes, as cadeias de suprimento tambm precisam. Na prtica, a prerrogativa e mesmo a

  • 36

    obrigao de ser lder na iniciativa de cooperao cabe ao participante da cadeia de

    suprimento com maior poder relativo.

    O diagrama da Figura 3 ilustra um exemplo da cadeia de suprimentos de um

    segmento genrico. Outros exemplos poderiam ser apresentados onde, com a utilizao do

    mesmo raciocnio, a cadeia de suprimentos poderia ser mais restrita e exprimir a ramificao

    de um produto, ou ainda, de forma mais especfica, uma empresa, como ser apresentada na

    aplicao do modelo.

    Figura 3 Exemplo da Estrutura da Cadeia de Suprimentos de um Segmento

    (Adaptado de Santos e Alves, 2009)

    2.1.3- Pressupostos do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

    Segundo Alves Filho et al. (2004) a maior eficcia no Gerenciamento da Cadeia de

    Suprimentos ir propiciar que atividades, processos, fluxos de materiais e informaes

    estejam alinhados e integrados de modo a atender s necessidades de mercado, agregando

    valor aos produtos e servios oferecidos.

    Para Parra e Pires (2003) o gerenciamento da cadeia de suprimentos tem emergido

    como uma nova e promissora maneira de obter vantagens competitivas no mercado.

    Simatupang, Wright e Sridharan (2004) lembram que as empresas de uma SC dividem

    responsabilidades e benefcios com todos os seus parceiros de forma a criar esta vantagem

    F1 FFn1 FF1 CM

    1

    CF F2

    Fn

    FF2

    FFn

    FFn2

    FFnn

    Primeiro Nvel

    de Fornecedores

    Segundo Nvel:

    Fornecedores

    dos

    Fornecedores

    Ensimo Nvel:

    Fornecedores

    dos

    Fornecedores

    Comrcio:

    Atacadistas e

    Varejistas

    M2

    Mn

    Legenda:

    CMn

    CM

    21

    Montadores de

    Produtos

    M1

    Consumidor

    Final

  • 37

    competitiva. Quando todos os participantes de uma SC esto integrados e atuam como uma

    entidade nica, o desempenho global melhorado, havendo a conciliao entre fornecimentos

    e demandas por todos os elos da SC resultando na melhora do desempenho.

    Segundo Gazolla (2002) o processo inteiro de ressuprimento logstico est passando

    de uma postura "de empurrar" para uma postura "de puxar". S quando os consumidores

    compram produtos que o valor potencial da cadeia de suprimento se materializa.

    Outro pressuposto, apoiado por Alves Filho et al. (2004), que os fluxos de materiais,

    servios e informaes devem ser bidirecionais, ocorrendo entre todas as empresas

    pertencentes cadeia. Gazolla (2002) complementa afirmando que, na premissa bsica da

    gesto de relacionamentos, a cooperao entre todos os participantes resultar, em ltima

    instncia, em sinergia, que, conseqentemente, propiciar maior nvel de desempenho

    conjunto.

    2.1.4- Objetivos do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

    Soares, Navarro e Lima (2008) afirmam que o objetivo do SCM maximizar a

    sinergia entre todas as partes da cadeia para prover ao consumidor final mais efetividade, no

    somente reduzindo custo, mas tambm acrescentando mais valor ao produto. Saab Junior e

    Corra (2008) comentam que o gerenciamento da cadeia de suprimentos visa, primariamente,

    oferecer valor adequado ao consumidor e o mximo retorno sobre ativos para os seus

    participantes por meio da gesto efetiva do fluxo de materiais, informaes e recursos

    financeiros.

    O principal objetivo de um gerenciamento da cadeia de suprimentos colaborativa

    ganhar vantagem competitiva, melhorando o desempenho global atravs da escolha de uma

    perspectiva holstica para a cadeia de suprimentos (ANGERHOFER, B. J. e ANGELIDES,

    2006), ou seja, cada vez maior a convico de que a cooperao comercial entre clientes e

    fornecedores na cadeia de suprimento tem vantagens (GAZOLLA, 2002). Para viabilizar o

  • 38

    uso de uma perspectiva holstica, Vivaldini, Souza e Pires (2008a) complementam que as

    empresas tm reduzido o nmero de fornecedores e concentrado um crescente nmero de

    atividades em poucos fornecedores. Esta viso corroborada por Alves Filho et al. (2004, p.

    277) que afirmam que os fornecedores devem estar organizados hierarquicamente, com um

    nmero relativamente pequeno de fornecedores em cada nvel da cadeia.

    Segundo Aguilar (2004), o gerenciamento da cadeia de suprimentos compreende a

    utilizao de tecnologia de informao, orientao ao processo e planejamento avanado

    onde, os aplicativos para o gerenciamento da SC consistem de vrias aplicaes integradas

    destinadas a automatizar todos os processos da cadeia. Colaborao, processamento de

    transaes e informaes entre os participantes so elementos chave para a coordenao da

    cadeia de suprimentos.

    2.1.5- O Projeto da Cadeia de Suprimentos

    Para o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos necessrio o desenho da SC a partir

    de uma empresa focal (EF). Esta cadeia envolver somente os clientes e empresas ligados a

    EF. A Figura 4 ilustra a cadeia de suprimentos e evidencia a empresa focal escolhida (M1).

    O sentido a ser percorrido numa cadeia de suprimentos a partir da empresa focal em

    direo aos seus fornecedores denominado montante (upstream) e na direo dos clientes

    como jusante (downstream).

    Figura 4 Cadeia de Suprimentos da Empresa Focal

    (Adaptado de Santos e Alves, 2009)

    Empresa

    Focal

    Sentido Montante

    (Upstream)

    Sentido Jusante

    (Downstream)

    CM

    1

    CF F2

    Fn

    FF2

    FFn

    FFn2

    FFnn

    M1

    CMn

    CM

    21

  • 39

    Caso outra empresa da rede seja escolhida como focal, a partir dela ser identificada

    uma nova SC. Assim, a estruturao e o gerenciamento da cadeia de suprimentos sero

    sempre desenvolvidos a partir da Empresa Focal.

    No projeto da cadeia de suprimentos dever haver uma reestruturao com foco no

    aumento do desempenho. Por reestruturao entende-se a simplificao da cadeia de

    suprimentos, com o objetivo de melhorar principalmente sua eficincia. Na maioria das vezes,

    a reestruturao da cadeia de suprimentos acaba incorrendo na reduo do nmero de

    fornecedores e, eventualmente, do nmero de clientes (PARRA e PIRES, 2003).

    Queiroz (2009) afirma que os modelos de gerenciamento das cadeias de suprimentos

    ainda so vistos como sendo complexos, sem que se possa verificar com freqncia uma

    maior anlise do seu sistema de implantao. Por outro lado, Souza Filho, Martins e Pereira

    (2008) identificaram em seus estudos, no segmento automotivo, uma nova configurao nas

    cadeias de suprimentos, onde as montadoras introduziram a figura dos sistemistas. Os

    sistemistas passaram a fornecer no somente peas, mas sistemas completos gerando uma

    convergncia entre as montadoras e a primeira camada da cadeia de suprimentos.

    Se o projeto e gerenciamento da cadeia de suprimentos podem ser considerados

    competncias essenciais de uma organizao, cabe pesquisar ento quais so os elementos

    determinantes que norteiam as mudanas nas cadeias. Dentre os elementos transformadores

    das indstrias nas ltimas dcadas est presente a Tecnologia da Informao (SANTOS,

    2008).

    Taylor (2005) prope a reestruturao da cadeia de suprimentos atravs de uma matriz

    de gerenciamento como representado na Figura 5. A estruturao da cadeia, segundo o

    autor, est dividida em trs nveis atravessando trs grandes macro-processos da empresa:

    Suprimentos, Produo e Demanda. No nvel estratgico dever ocorrer o projeto do produto

    e simultaneamente, o projeto da cadeia de suprimentos. No nvel ttico sero executados os

  • 40

    planejamentos de materiais, de produo e distribuio partindo da gesto da demanda. Em

    um nvel intermedirio, entre planejamento e operao, ocorrer a gesto dos estoques.

    Finalmente, no nvel operacional ocorrero os processos de compras, recebimento, gesto da

    produo, das vendas e entregas.

    Figura 5 Matriz de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

    (Adaptado de TAYLOR, 2005, p.108)

    2.1.6- Gesto dos Processos na Cadeia de Suprimentos

    Nas dcadas de 1980 e 1990 as organizaes manufatureiras concentraram esforos na

    mudana de gesto departamental para a gesto por processos. Esta mudana foi impulsionada

    pelo fortalecimento e disseminao das certificaes ISO9000, que uma norma sistmica

    que prev a gesto por processos atravs da empresa, desde o recebimento da matria-prima

    at a expedio do produto acabado para o cliente. Segundo Pereira e Cruz (2007), O sistema

    de gesto da qualidade obteve grande reconhecimento atravs desta srie de normas, que

    proporciona certificao atravs da ISO9001, atualmente na verso 2008.

  • 41

    No final da dcada de 90 surgiu um novo paradigma onde, os processos de negcio

    passaram a ser os processos da cadeia de suprimentos e no mais somente da organizao.

    Para Pires et al. (2004) um SCM bem sucedido requer uma mudana do gerenciamento

    individual para a integrao das atividades em processos de negcio na cadeia de

    suprimentos. Cooper, Lambert e Pagh (1997) propuseram uma nova forma conceitual para o

    gerenciamento da cadeia de suprimentos, incluindo trs elementos: os processos de negcio, o

    gerenciamento dos componentes e a estrutura da cadeia de suprimentos. Para Cooper,

    Lambert e Pagh (1998), a sobrevivncia e prosperidade das empresas dependem delas

    operarem suas cadeias de suprimentos como uma extenso de suas empresas, com

    relacionamento que contemple os processos de negcio desde a matria-prima bsica at o

    ponto de consumo. Lambert (2010) afirma que os oito macro-processos de negcio, que so

    apresentados na Figura 6, correspondem a um longo processo de desenvolvimento do prprio

    autor, iniciado em 1992, com um grupo de pesquisadores em conjunto com executivos de 15

    empresas multinacionais participantes do Global Supply Chain Forum da universidade do

    Estado de Ohio. Em 1998 foi definida pelos membros do Global Supply Chain Forum que

    o gerenciamento da cadeia de suprimentos a integrao dos processos chaves desde o

    usurio final atravs dos fornecedores originais que fornecem produtos, servios e

    informaes que agregam valor para os clientes e outros stakeholders (COOPER, LAMBERT

    e PAGH, 1998). Destes processos, os relacionados com o cliente e com a sustentabilidade

    tm sido considerados como o cerne para um eficiente gerenciamento da cadeia de

    suprimentos.

  • 42

    Figura 6 SCM: Integrando e Gerenciando os Processos de Negcio atravs da Cadeia de Suprimentos

    (adaptado de Cooper, Lambert e Pagh, 1998, p. 2)

    2.1.6.1- Gesto de Relacionamento com os Clientes

    O gerenciamento do relacionamento com os clientes j um processo de negcio

    muito difundido entre as organizaes. Conhecido como CRM (Customer Relationship

    Management), ele definido como uma estratgia empresarial que permite s empresas

    selecionar e administrar seus clientes com a finalidade de maximizar seu valor a longo prazo

    (AZEVEDO, 2002).

    Na busca do conhecimento da demanda, o CRM vem se apresentando como um dos

    macro-processos chaves de grande importncia nas empresas manufatureiras em tempos de

    globalizao e competio acirrada, porm, segundo Azevedo (2002), muitas empresas ainda

    no conseguiram obter bons resultados do CRM, pois, restringiram seus esforos em

  • 43

    implantaes pontuais como Call Center, ou banco de dados para marketing, acreditando que

    esto aplicando o gerenciamento do relacionamento com os clientes.

    O CRM deve ser entendido como sendo um conceito mais amplo que um conceito

    multi departamental ou multi empresarial. Ele pode, de forma preditiva, planejar cada um dos

    stakeholders (funcionrios, acionistas, fornecedores, fornecedores dos fornecedores) de forma

    alinhada com a estratgia da empresa.

    Segundo os estudos de Azevedo et al. (2006), o processo CRM pode ser decisivo no

    suporte ao processo de Gesto da Demanda e, considerando o contexto apresentado,

    possvel notar o quo importante pode ser a compreenso de como estas novas ferramentas

    podem auxiliar as empresas nos seus processos de negcio.

    2.1.6.1.1- A Gesto do Poder na Cadeia de Suprimentos

    O poder sofre mutaes ao longo do tempo, como o exemplo citado por Gazolla

    (2002), onde na dcada passada, boa parte do poder passou dos fabricantes para os varejistas,

    em funo do exerccio de preferncia do consumidor.

    No que tange a este poder, Parra e Pires (2003) reconhecem a assimetria como um dos

    cinco pontos importantes no estabelecimento e na consolidao do relacionamento entre

    parceiros comerciais. A assimetria reflete a habilidade de uma organizao em exercer poder,

    influncia ou controle sobre outra. Para Alves Filho et al. (2004), a dependncia entre

    organizaes reflete a diferena de poder entre elas, pois uma organizao tem mais poder em

    relao s outras, medida que controla os recursos disponveis no mercado.

    Lucena e Silva (2008) destacam a importncia do relacionamento entre os parceiros

    comerciais no gerenciamento de uma cadeia de suprimentos e apresentam a proposta de

    Mallmann (1995) para a avaliao deste relacionamento, como mostra a Figura 7.

  • 44

    Figura 7 - Tipos Possveis de Relaes de Suprimento

    Fonte: Adaptado de Lucena e Silva (2008, p. 59)

    Nas relaes do tipo EXIT e IMPOSSVEL, onde o comprometimento baixo,

    Mallman (1995) sugere que, o conflito seja resolvido pela troca do fornecedor. A relao

    caracterizada por um alto comprometimento e baixa troca de informaes uma relao

    ESTAGNADA, pois, sem a troca de informaes, no pode haver sinergia e

    conseqentemente no haver potencial de melhoria. O tipo de relao mais promissor a

    VOICE, na qual existe ao mesmo tempo grande troca de informaes e grande

    comprometimento.

    2.1.6.1.2- A Gesto do Risco de Desabastecimento na Cadeia de Suprimentos

    Gazolla (2002) lembra que o varejista incorre em risco em conseqncia da

    armazenagem de produtos do fabricante. A prtica tradicional do atacadista compensar este

    risco oferecendo aos clientes um sortimento de produtos de vrios fabricantes, reduzindo,

    assim, a dependncia de qualquer destes fabricantes e desta forma aumentando seu poder na

    cadeia de suprimentos.

    J as indstrias so afetadas por diversos riscos de desabastecimento e interrupo que

    podem incorrer de vrias formas e serem influenciados por diversos fatores. Srividhya e

    Jayaraman (2007) apresentam uma variedade de fatores que podem contribuir para as

    interrupes de fornecimento, variando desde uma instabilidade geopoltica em uma regio

    fornecedora at fatores mais localizados como as greves nos fornecedores. Kumar e Tewary

    Troca de

    Informao

    IMPOSSVEL

    EXIT

    ESTAGNADO

    VOICE

    Comprometimento

    Baixo Alto

    Baixa

    Alta

  • 45

    (2007) acrescentam que, se a cadeia de suprimentos global, o potencial de interrupes da

    operao se amplifica e pode vir de outras formas: desastres naturais de larga escala, ataques

    terroristas, incndios nas fbricas, blackouts eltricos e desafios operacionais como embarcar

    uma mercadoria em portos pequenos que no comportam o volume necessrio. Guarnieri et

    al. (2006) afirmam que os membros da cadeia devem avaliar a probabilidade de eventos que

    possam interromper a produo e, at que ponto podem tolerar estes riscos. Desta forma,

    entender a distribuio do poder passa a ser pea fundamental para minimizar os riscos

    criados pela globalizao e, segundo Kumar e Tewary (2007), os riscos foram maiores que os

    prprios benefcios gerados nesta nova economia.

    Kumar e Tewary (2007) afirmam que, no atual ambiente dinmico de negcios, sero

    necessrios novos modelos de cadeia de suprimentos de forma a absorver os riscos globais

    impostos. Pires (2009) apresenta pelo menos trs alternativas a estes riscos das indstrias:

    passar a produzir o componente ou realizar o servio internamente, mudar para um fornecedor

    mais capacitado ou ajudar o fornecedor atual a melhorar sua capacidade. Srividhya e

    Jayaraman (2007) sugerem o gerenciamento do risco atravs da criao de um Perfil de Risco

    (PR) do fornecedor, apresentado na Figura 8. O PR a multiplicao de um fator relacionado

    ao impacto que o fornecedor tem sobre o negcio (caso haja algum problema) pela

    probabilidade de ocorrncia. [Ex.: Um fornecedor com alta probabilidade de interrupo e, no

    caso de ocorrncia da interrupo o impacto no negcio ser grande, o PR 15, ou seja, 5

    (alta probabilidade) multiplicado por 3 (impacto srio), PR= 5 * 3 = 15].

    Os autores segmentam o perfil de risco dos fornecedores em quatro grupos, sendo, os

    mais crticos os que obtiveram um PR superior a 15, seguido dos PRs entre 10 e 14, sendo

    mais brando o risco dos demais grupos com valores entre: 5 e 9, e 1 e 4.

  • 46

    Figura 8 - Matriz de Resposta ao Risco

    (adaptado de Srividhya e Jayaraman, 2007)

    Contratos formais e relaes cooperativas de longo prazo entre as empresas tambm

    so uma forma de amenizar os riscos. Segundo a pesquisa de Alves Filho et al. (2004), cerca

    de 69% das empresas mantm compromissos por perodos relativamente longos, apoiados por

    contratos formais estabelecidos por prazo maior do que 1 ano. Complementando, Corbett e

    Decroix (2001) estudaram a existncia de novos tipos de contratos entre fornecedor e cliente

    na cadeia de suprimento. Nestes novos contratos a base de pagamento muda da quantidade

    para o servio oferecido, porm estes novos contratos no mitigam o risco.

    Kumar e Tewary (2007) afirmam que o gerenciamento do risco tambm deve ocorrer

    atravs de cada processo chave para identificar vulnerabilidades, definir gatilhos para estas

    vulnerabilidades, analisar probabilidades de ocorrncia de forma a minimizar ou gerar

    atividades de transferncia destes riscos.

    2.1.6.2- Gesto da Demanda na Cadeia de Suprimentos

    Para Azevedo et al. (2006) a palavra demanda significa uma necessidade para um

    produto ou componente particular. Gesto da Demanda a funo de reconhecimento de

    todas as demandas por produtos e servios para atender o mercado. Segundo estudos de

    PR= 4

    PR= 3

    PR= 2

    PR= 1 PR= 4 PR= 2 PR= 3

    PR= 5 PR=20 PR=25 PR=10 PR=15

    PR=16 PR=20 PR= 8 PR=12

    PR=12 PR=15 PR= 6 PR= 9

    PR= 8 PR=10 PR= 4 PR= 6

    PR= 5

    Impacto no Negcio

    Marginal

    (2)

    Catastrfico

    (5)

    Srio

    (3)

    Crtico

    (4)

    Desprezvel

    (1)

    Ocasional (3)

    Alta Probabilidade (5)

    Provvel (4)

    Improvvel (1)

    Remoto (2)

  • 47

    Aguilar (2004), um dos objetivos da gesto da demanda melhorar as decises que afetam a

    acurcia da demanda e o clculo dos estoques de segurana necessrios para o nvel de

    servio predefinido.

    A gesto da demanda abordada pela literatura como um dos fatores de maior difi-

    culdade para a administrao da cadeia de suprimentos, pois sua gesto depende muito do

    envolvimento de todos os elos da cadeia (VIVALDINI, SOUZA e PIRES, 2008b). O processo

    de Gesto de Demanda assume uma importncia maior quando o ambiente de produo o de

    fabricao para estoque (MTS Make-to-Stock) (AZEVEDO et al., 2006).

    Para Azevedo (2002) a demanda pode ser classificada em duas categorias, demanda

    dependente e independente. Em uma cadeia de suprimentos, somente a demanda gerada pelos

    consumidores finais no ponto de vendas independente, ou seja, nenhum dos parceiros da

    cadeia de suprimentos tem controle sobre esses dados (KAIPIA e LAKERVI, 2005). Todas as

    demais demandas so consideradas dependentes, pois elas so derivadas da estrutura da lista

    de materiais dos produtos vendidos. Ao contrrio da demanda independente, a demanda

    dependente no necessita ser prevista, pois esta calculada atravs da previso do item do

    qual depende (AZEVEDO, 2002).

    Para poder haver o gerenciamento da demanda necessrio entender os padres de

    comportamento da mesma:

    Tendncia: movimento geral de aumento ou declnio do valor de uma varivel sob o

    tempo. A tendncia pode assumir os formatos linear, geomtrico ou exponencial;

    Sazonalidade: um padro repetitivo de demanda de ano a ano que est relacionado com

    as quatro estaes (primavera, vero, outono ou inverno). Como exemplo, a venda de

    ventiladores ocorre com mais intensidade no vero, portanto esta demanda sazonal;

    Variao randmica: ocorre quando vrios fatores afetam a demanda durante perodos

    especficos e tal ocorre em uma base randmica. A variao pode ser pequena, com a

  • 48

    demanda atual caindo dentro do padro, ou ela pode ser grande, com pontos largamente

    discrepantes;

    Cclico: sobre uma oscilao de vrios anos ou mesmo dcadas, os dados de demanda

    aumentam e diminuem em formato de ondas devido influncia de eventos. Como

    exemplo, a demanda tem um acrscimo no perodo Natalino, portanto este evento

    considerado cclico. Todo evento sazonal conseqentemente cclico, porm nem todo

    evento cclico pode ser considerado um evento sazonal (ligado as estaes do ano).

    Variabilidade e incerteza so endmicas em todos os sistemas, e certamente tambm

    so nas cadeias de suprimento (CHATFIELD, HARRISON e HAYYA, 2006). O principal

    foco do desenvolvimento da visibilidade na cadeia de suprimentos deveria estar no

    compartilhamento de informao de forma a aumentar o desempenho de todos os

    participantes da SC (KAIPIA e LAKERVI, 2005).

    Visibilidade completa muito difcil e mesmo desnecessria, visto que, segundo

    Kaipia e Lakervi (2005), para haver visibilidade no necessariamente significa dividir todas as

    informaes com todos os parceiros da cadeia de suprimentos, mas sim que o

    compartilhamento seja significante e til. Os benefcios da informao compartilhada incluem

    melhoria no gerenciamento de estoques, maiores vendas, e melhor entendimento da demanda.

    Com o aumento da visibilidade aumentar o desempenho da cadeia de suprimentos, porm,

    Kaipia e Lakervi (2005) afirmam que normalmente a informao que consta nos fornecedores

    muito diferente da demanda do consumidor final, pois existe uma associao entre a

    variabilidade da demanda final e uma carncia de visibilidade desta demanda entre os

    membros da SC. O estudo do Efeito Chicote, que ser abordado a seguir, busca analisar esta

    variabilidade.

  • 49

    2.1.6.2.1- O Efeito Chicote

    A tentativa de diminuir o impacto da variabilidade dos processos gera uma

    amplificao da demanda no sentido Montante (Upstream) do consumidor (LEE,

    PADMANABHAN e WHANG, 2004; DISNEY e TOWILL, 2003). Taylor (2005) ilustra o

    efeito chicote na Figura 9.

    Figura 9 Amplificao da Demanda ou Efeito Chicote

    (Adaptado de Taylor, 2005)

    O efeito chicote no um fenmeno novo na cadeia de suprimentos, Disney e Towill

    (2003) fornecem uma avaliao histrica do problema, incluindo uma discusso sobre a

    preocupao da Procter e Gamble com este tema na dcada de 90. Porm McCullen e Towill

    (2002) afirmam que a tendncia de amplificao dos sistemas de distribuio da produo foi

    descoberta inicialmente nos EUA por Forrester (1958).

    Cadeias de suprimentos tradicionais so extremamente propensas ao efeito chicote.

    Disney e Towill (2003) estudaram o Efeito Chicote em uma cadeia de suprimentos de

    vesturio. McCullen e Towill (2002) apresentam um histrico dos estudos feitos deste

    fenmeno nos ltimos 40 anos que incluem: segmento de produtos eletrnicos; automotivo;

    papel; produtos do varejo; mquinas ferramentas e embalagens alimentcias.

    Taylor (2005, p. 38) afirma que o exemplo clssico da amplificao da demanda um

    estudo realizado pela Procter & Gamble no incio da dcada de 90 para investigar as

    flutuaes caractersticas na demanda de matrias-primas utilizadas para fabricar as fraldas da

    Empresa

    Manufatureira 1 Atacadista

    Consumidor

    Final

    Empresa

    Manufatureira 2

    Demanda por

    Matria-Prima

  • 50

    marca Pampers. Este efeito foi ento apelidado pela P&G de bullwhip effect ou efeito

    chicote, que conforme Dias (2003) causa um impacto negativo, aumentando o nvel dos

    estoques de segurana e/ou um prejuzo no nvel de servio aumentando a falta de produtos.

    McCullen e Towill (2002) descrevem a tendncia geral de pequenas mudanas na

    demanda se amplifiquem em um sistema de distribuio de produo, por exemplo, 10% de

    aumento de vendas para o consumidor final pode gerar 40% de ampliao da produo

    montante.

    McCullen e Towill (2002) afirmam que a incerteza a maior causa do efeito chicote.

    Dias (2003), apoiado por Lee, Padmanabhan e Whang (1997), sugerem as principais causas

    do efeito chicote e reforam a necessidade do combate a estas causas:

    1- Processamento das variaes na demanda a distoro da demanda surge devido

    falta de visibilidade que os fornecedores e fabricantes tm do real consumo de seus

    produtos. Uma forma de reduzir esse aspecto compartilhando as informaes de

    consumo com as empresas que atuam na cadeia de distribuio. Mesmo assim, as

    diferentes metodologias de previso que so utilizadas entre as empresas vo manter o

    efeito chicote;

    2- Racionamento (compras de preveno falta) em situaes em que h falta de

    produtos, a tendncia que as empresas peam quantidades maiores do que sua real

    necessidade. Neste caso, a fim de evitar pedidos distorcidos, o fabricante deve

    compartilhar informaes de estoque e produo;

    3- Formao de lotes de compra e de produo as causas para a utilizao dos lotes so

    os custos fixos de pedido, produo e transporte e a utilizao de perodos de reviso

    dos estoques sem que o fabricante tenha informaes sobre o consumo de seu

    produto. Dessa forma, o combate ao efeito chicote se d atravs da reduo dos custos

    fixos de pedido;

  • 51

    4- Variaes de preo as distores no fluxo de materiais, causadas pelas estratgias de

    variaes no preo, devem ser evitadas com a utilizao de outras polticas comerciais

    como, por exemplo, a poltica de preo baixo todo dia (every day low price). Outra

    alternativa a desvinculao contratual entre a compra e a entrega dos produtos.

    Assim uma grande compra para obteno de descontos pode ser dividida em vrias

    entregas em perodos futuros.

    muito mais difcil quantificar o impacto do Efeito Chicote na rentabilidade de uma

    companhia. Disney e Towill (2003) apresentaram estudos desse problema com a utilizao de

    Programao Linear e afirmaram que a eliminao do Efeito de Chicote pode resultar em um

    aumento mnimo de 5% na rentabilidade das empresas.

    O Estoque Gerenciado pelo Fornecedor (VMI - Vendor-Managed Inventory)

    apontado por Lee, Padmanabhan e Whang (2004) como um dos principais vetores que atuam

    no sentido da reduo do efeito chicote e tem sido aplicado com sucesso neste sentido, porm

    sua difuso ocorreu somente entre as grandes redes varejistas. Em empresas manufatureiras

    sua implantao mais complexa e requer alguns ajustes no modelo devido maior

    complexidade da logstica interna neste tipo de organizao.

    2.1.6.2.2- Gesto do Estoque na Cadeia de Suprimentos

    Ballou (2005) afirma que o objetivo do gerenciamento de estoques assegurar que o

    produto esteja disponvel no tempo e nas quantidades desejadas. Por outro lado Saab Junior e

    Corra (2008) afirmam que existe sobre o distribuidor uma grande presso econmica para a

    reduo do seu Estoque Mdio. No somente os distribuidores sofrem esta presso, o esforo

    para manter estoques reduzidos um dos fenmenos mais pronunciados nos ltimos anos

    tambm no ambiente industrial. Sejam estoques de matrias-primas, de materiais em processo

    de produo, de componentes ou de produtos acabados, a presso tem sido para a liberao do

  • 52

    capital neles aplicado, o que, conseqentemente, reduz os custos de manuteno (PARRA e

    PIRES, 2003).

    Uma das principais preocupaes de uma organizao manufatureira na atualidade a

    reduo do inventrio, pois o estoque gera custos atravs da cadeia de suprimentos por meio

    dos seus fornecedores (SCHEUFFELE e KULSHRESHTHA, 2007). Quanto mais prximo ao

    consumidor final, maior a necessidade de manuteno de estoques. Segundo Parra e Pires

    (2003) nos mercados de consumo, os clientes escolhem entre as marcas disponveis no

    momento e, se a marca preferida no estiver no estoque, provavelmente ser adquirida uma

    substituta.

    Taylor (2005) lembra que os sistemas empresariais apresentam uma variabilidade

    natural dos atributos, mesmo quando bem administrados. Quanto maior a variabilidade destes

    valores, mais complicado se torna o gerenciamento da cadeia de suprimentos, com

    conseqente aumento dos estoques.

    Parra e Pires (2003) afirmam que no importa quo sofisticadas sejam as tcnicas de